domingo, 23 de agosto de 2015

DOMINGOS CUSTÓDIO GUIMARÃES, o Visconde do Rio Preto


Por Mário Pellegrini Cupello *


 
Aos 25 anos de criação do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto, a nossa homenagem à pessoa de seu Patrono, Domingos Custódio Guimarães, Visconde do Rio Preto, o são-joanense mais valenciano e de maior benemerência em toda a história de Valença-RJ. 
 
Seu coração magnânimo, que tanto ajudou a nossa cidade, permanecerá para sempre entre nós, repousando ad aeternum em seu imponente mausoléu, na cidade que ele tanto amou. 


Domingos Custódio Guimarães nasceu na Fazenda da Rocinha, na Serra das Carrancas, distrito de São João del-Rei, em 23 de agosto de 1802. Embora seja esta a sua data natalícia, ao longo de sua vida sempre comemorou o seu aniversário natalício em 07 de setembro, data de seu registro de batismo.

Movido desde cedo por seu crescimento pessoal, aos 21 anos de idade, deslocou-se para a cidade do Rio de Janeiro, onde constituiu uma firma de fornecimento de carnes, em sociedade com um rico empresário, o Sr. João Francisco Mesquita, que mais tarde se tornaria o Marquês de Bonfim.

Na década de 1820 a cidade do Rio de Janeiro encontrava-se em franco desenvolvimento com o aumento rápido de sua população, exigindo cada vez mais o fornecimento de alimentos, à época escassos. Por essa razão a firma "Mesquita & Guimarães" logo se tornou rentável, especialmente pelo empenho pessoal de Domingos Custódio nos negócios. Com isso, o futuro Visconde do Rio Preto amealhou uma grande fortuna que, inicialmente, aplicou em imóveis no Rio de Janeiro. No entanto, decorrido algum tempo e devido à forte concorrência no negócio de carnes, os sócios Mesquita e Domingos resolveram dissolver a sociedade, mantendo, no entanto, uma sólida amizade.

Já realizado econômica e financeiramente, resolveu investir sua fortuna na área rural, tornando-se fazendeiro, ao adquirir em 1836 duas fazendas vizinhas no então Município de Valença-RJ: a "Fazenda Barra das Flores", hoje "Fazenda Loanda", e a "Fazenda Flores do Paraízo", onde construiu um dos mais belos palacetes de toda a província fluminense, como sede para sua moradia. 

Nela, além do bom gosto em sua construção e no belíssimo mobiliário, introduziu na sede a iluminação a gás, pioneira em nosso País, além de um moderno maquinário para o beneficiamento do café.

Nessas duas fazendas dedicou-se ao plantio do café, à criação de gado para corte e ao plantio de produtos hortifrutigranjeiros. Em todas essas atividades foi tão bem sucedido que, além das fazendas de origem, acabou por adquirir mais quatro fazendas na Província de Minas Gerais e mais onze fazendas no Município de Valença. Formou um grande império, tendo sido o segundo maior produtor na região do Vale do Paraíba Fluminense na época do Ciclo do Café perdendo apenas para o Município de Campos.

De seu casamento com a Sra. Maria das Dores de Carvalho resultaram dois filhos: Maria Amélia Guimarães (1844-1899) e Domingos Custódio Guimarães Filho (1846-1876), o futuro 2º Barão do Rio Preto.

Paralelamente às suas atividades rurais, dedicou-se ao desenvolvimento da cidade de Valença, então nascente, participando ativamente de sua vida política e administrativa, chegando a ser Provedor da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Valença e Presidente da Câmara Municipal de Valença, entre outras atividades de grande importância para o Município.

Ao afastar-se da Presidência da Câmara, por falecimento, deixou um superávit de 2:103$000 (dois contos e cento e três mil réis) de dinheiro em caixa; 23 apólices no valor de 500$000 (quinhentos mil réis); 23 apólices de 1:000$000 (um conto de réis); 20:000$000 (vinte contos de réis) aplicados a juros de 11% ao ano, depositados na Casa Mesquita, no Rio de Janeiro, para cobrir as despesas mensais da instituição; além de 3 escravos e um terreno no centro da cidade, onde hoje se encontra instalada uma Clínica Médica, à Rua Dom André Arcoverde.

Homem de imensa generosidade, o Visconde ajudava famílias carentes e socorria financeiramente várias instituições valencianas. Só à Santa Casa da Misericórdia, no período compreeendido entre 1864 e 1867, doou uma quantia superior a 21:000$000 (vinte e um contos de réis), o equivalente, em moeda de hoje, a mais de dois milhões de reais. À época, 1$000 (1 mil réis) correspondia a 0,9 gramas de ouro.

Concluiu as obras de vários prédios na cidade, entregando-os, após, à administração pública, como o prédio onde hoje funciona a Câmara Municipal de Valença.

Utilizando recursos próprios, como sempre, abriu uma estrada de rodagem ligando Valença à localidade de Taboas; foi idealizador da construção de uma ferrovia ligando Valença ao distrito de Juparanã; com recursos próprios, instalou uma rede de abastecimento de água potável para o centro da cidade, além da construção de passeios em volta da então Praça D. Pedro II, hoje Praça XV de Novembro, entre outros melhoramentos.

Preocupou-se em projetar o nome da cidade de Valença, como fez no Rio de Janeiro ao contribuir financeiramente para a execução da estátua de D. Pedro I e a execução da estátua de José Bonifácio.

Impediu o desmembramento de Valença (Ipiabas, Santa Isabel e Conservatória); contribuiu para a viagem dos 144 Voluntários da Pátria para o Rio, em 1865; contribuiu para a campanha de "Arrecadação para a Guerra", com 12:460$000 (doze contos e quatrocentos e sessenta réis); contribuiu com 4:000$000 (quatro contos de réis) para a construção do Asilo para os Inválidos da Pátria, entre outras ações beneméritas.

Doou preciosos acervos bibliográficos para a Biblioteca Municipal e a Euterpe Valenciana. Em sua Fazenda do Paraízo, mantinha uma orquestra com instrumentos importados da Inglaterra, composta de 60 escravos, e um coral com 50 meninos cativos. Várias vezes se apresentaram em Valença.

Esse extraordinário são-joanense nascido na Serra das Carrancas, em Minas Gerais, deixou a marca indelével e generosa de sua passagem pela cidade de Valença, como um verdadeiro mecenas.

Domingos Custódio Guimarães, o Visconde do Rio Preto, foi sem dúvida o maior benfeitor da cidade de Valença. Até hoje, nenhum outro conseguiu ombrear-se a ele em benemerência e amor pela cidade de Valença.

Faleceu em sua Fazenda Flores do Paraízo, no então Município de Valença-RJ — hoje Município de Rio das Flores — em 1868, coincidentemente na data de 07 de setembro, durante a realização de uma festa sem precedentes em toda a Província fluminense, em comemoração ao seu aniversário e à inauguração de uma estrada que ligava a sua fazenda à recém-inaugurada Rodovia União e Indústria. Estavam presentes, na ocasião, convidados da mais alta aristocracia da época.

Seu corpo encontra-se sepultado no Cemitério Riachuelo, em Valença, no mausoléu de sua família, uma das mais belas obras de arte daquele Campo Santo. Os valencianos choraram a sua morte. A cidade de Valença sempre ficará a dever um enorme preito de gratidão a Domingos Custódio Guimarães, que, por amar o solo valenciano, o adotou como seu.

A Câmara Municipal de Valença, por sugestão e projeto do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto, criou a "Comenda Visconde do Rio Preto", como sendo a maior honraria que o Município concede às personalidades que tenham prestado relevantes serviços à cidade de Valença, nas áreas sócio-econômica ou cultural, ou que tenham contribuído de modo significativo para o engrandecimento da comunidade, fazendo juz ao Mérito.

O Instituto Cultural Visconde do Rio Preto, ao ser criado, prestou-lhe uma homenagem colocando-o como Patrono, perpetuando o seu nome. 


*  O autor é Presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto, instituição que criou juntamente com sua esposa Elizabeth Santos Cupello, em 07 de setembro de 1990. Ele é Membro da Academia Valenciana de Letras; Membro Correspondente do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei; Membro da Fundação Oscar Araripe, em Tiradentes-MG; e Membro da Academia de Letras Jurídicas de São João del-Rei e Tiradentes.

sábado, 8 de agosto de 2015

A NOSSA SINFÔNICA


Por Gentil Palhares

Sociedade de Concertos Sinfônicos - Crédito pela imagem: http://sinfonicapop.blogspot.com.br/

Uma das nossas mais caras tradições é a música, música que fala à nossa alma, música que prende e encanta a todos que a ouvem.

A nossa SINFÔNICA, parte integrante dessas belezas tôdas, vem há 39 anos engrandecendo e elevando o nosso nome na DIVINA ARTE, dando a São João del-Rei, lá fora, em terras outras, o título que ela verdadeiramente conquistou: TERRA DA MÚSICA! E isso constitui, para os são-joanenses, um orgulho e um ponto de honra, por isso que, sem falso bairrismo, podemos dizer que poucas, ou mesmo nenhuma cidade de Minas, possuem um conjunto sinfônico do nosso quilate. Sua vida faz parte de nossa própria história hodierna, porque participou, nos seus 196 concertos, de acontecimentos relevantes da terra são-joanense, homenageando vultos ou datas, acontecimentos nacionais e figuras de relêvo no cenário nacional.

Diversos foram os seus presidentes, alguns vivos e outros já desaparecidos, cada um e todos imortalizados em nossos corações, pelo que fizeram em prol de nossa arte musical-coral.
José Costa, saudoso presidente da Sinfônica

Vem-nos à lembrança tudo isso, ao assistir, entre comovido e embevecido, ao último concêrto realizado no Teatro Municipal, dia 1º do corrente, em homenagem à Colenda Câmara de Vereadores e ao nosso Prefeito Municipal, Dr. Milton de Resende Viegas, sensibilidade artística que, sem dúvida, deve ter sentido, como nós, as mesmas emoções daquela noite memorável, por isso que a SINFÔNICA, mais do que nunca, nos fêz evocar seus velhos tempos. Devemos tudo isso diga-se de passagem ao seu atual Presidente, José Costa ¹, alma jovem em plena vibração por tudo que é nosso, que nos toca o coração, amante que é êle das artes, aliando sempre a Música com o Teatro, para essa perpetuação sublime do BELO. José Costa, pelos méritos de que é possuidor e que tanto o recomendam, aflorando o seu sentimento profundamente sensível e entranhadamente humano, é uma figura evidentemente talhada para dirigir, em fase tão difícil, a nossa SOCIEDADE DE CONCERTOS SINFÔNICOS. Difícil, dizemos, porque o nosso público, em que pese a sua cultura, está como que deseducado, indiferente aos nossos concertos sinfônicos, como indiferente está ao nosso Teatro, não por culpa dêsse mesmo público, mas pela escassez de espetáculos, esmorecendo assim os amantes das duas artes. José Costa, temos certeza, vai movimentar a nossa SINFÔNICA, que possui elementos de excepcionais méritos, elevados dotes artísticos, valôres humanos de indiscutíveis méritos, êsses mesmos que, cultores do canto e da música, deram no passado e irão dar, no presente, todo o vigor dos seus conhecimentos artísticos, frutos da inspiração e do gênio, glória eterna desta eterna e gloriosa cidade. Mas, nada disso teríamos, justiça se faça, não tivéssemos à frente da regência da SINFÔNICA a figura ímpar de um Professor Pedro de Souza, capaz entre os mais capazes, filho do saudoso Maestro João Feliciano de Souza, dos meus tempos de menino, daí o estar êle honrando e dignificando a memória do velho Mestre e pai. Também nada teríamos de positivo se não contássemos com a capacidade de um Benigno Parreira, regente do coral, um Aluízio José Viegas, entre outros e entre tantos que, na SINFÔNICA, lhe dão o calor e a fartura dos seus conhecimentos artísticos, músicos e cantores, todos alicerçados num só ideal: engrandecer e elevar a SOCIEDADE, porque sem nenhuma remuneração pecuniária, sem nenhum interêsse, senão de colaborar e, não raro, sob imensos sacrifícios.
 
Maestro Benigno Parreira
 
Musicólogo, pesquisador e regente Aluízio José Viegas 
(☆ São João del-Rei, 26/03/1941 - ✞ Nova Lima, 27/07/2015) -
Crédito pela imagem: Wikipédia, verbete "Aluízio José Viegas"


 

















Dr. José Viegas



























O nosso atual Presidente da SINFÔNICA ainda vai me permitir uma observação: é que nada poderia fazer se não contasse, na sua diretoria, com vultos da estirpe de um Jorge Sade, Adherbal Malta, Onaldo Passos, Ênio Nascimento, Carmelo Viegas, entre outros que integram a sua diretoria. O Conselho Artístico possui homens da estatura de um José Viegas, José Américo da Costa, Maria do Carmo Hilário, Antônio Moura, Marcondes Neves, e Relações Públicas de elementos do quilate de um Mozart Novaes, Leda Zarur Neto e Célia Montrezor, formando essa plêiade de valôres que, não temos dúvida, escolhidos a dedo, saberão lutar ao lado do atual Presidente, colocando a nossa SINFÔNICA no seu devido lugar, nesta fase da vida em que a música e nela incluímos o canto, faz reviver sentimentos e alegrar as almas, nessa fuga ao materialismo dominante, ao puramente frívolo, convencional e exótico.

Concluindo o meu pensamento, presto, aqui, minha sincera homenagem à Terezinha Maria de Barros Gonçalves, êste soprano revelação, filha dileta do amigo Tenente Hélio Batista Gonçalves e fruto colhido pela inspiração sublime da professôra Jânice Mendonça de Almeida, a quem já tanto passou a dever esta São João del-Rei, Berço das Artes, das Lendas e da História, para ser, de todos nós, a cidade sempre querida e sempre venerada, porque nessa perpetuação de valôres autênticos, os quais se sucedem na dança dos anos, formando a teia do Tempo.


FonteA COMUNIDADE, órgão da Prefeitura Municipal de São João del-Rei, Ano II, abril de 1969, nº 8, p. 8



Nota Explicativa de Francisco José dos Santos Braga 



¹  José Raimundo Lobato Costa, ou simplesmente José Costa, era excelente tenor, um dos mais prestigiados pela comunidade são-joanense, que foi brindada com sua música até avançada idade. Seu filho, Dr. Luiz Rogério Vallim Costa, conhecido dentista, relatou-me emocionado que a última apresentação do seu pai se deu durante seu casamento com sua esposa Cíntia Moura Coelho Costa, em 30 de julho de 1994, na igreja de Nossa Senhora do Carmo, ocasião em que brindou todos os convidados com o "Panis Angelicus", de César Franck. José Costa participou, como tenor, de todas as operetas montadas e encenadas pela Sinfônica no seu período áureo, podendo ser citadas "A Viúva Alegre", "Sonho de Valsa", "A Princesa das Czardas" e "Conde de Luxemburgo". Grande amante da música são-joanense, dotado de enorme dinamismo e poder de comunicação, é ainda considerado por muitos — em que pese o trabalho realizado com grandes méritos pelos titulares, todos muito operosos, que o precederam ou que o seguiram  como o maior presidente da Sinfônica, porque, segundo aqueles, durante a gestão de José Costa, havia muita produção artística: concertos permanentes, exigindo grande aplicação e esforço por parte dos músicos e dos dois regentes (da orquestra e do orfeão). Prof. Abgar Campos Tirado, no histórico da entidade, menciona que 
"(...) No início de 1971, o então presidente Dr. José Raimundo Lobato Costa, deu início a grande reforma e ampliação da sede, a qual muito lucrou em matéria de espaço e conforto, sendo reinaugurada a 02 de março de 1973. Também foi criado o departamento de Recitais, inciando-se então a apresentação regular dos recitais na sede, denominados recitais-concertos, pela flexibilidade de sua constituição. (...)" 
Sobre a comemoração do evento noticiado acima, o historiador Sebastião de Oliveira Cintra se alonga na seguinte descrição da efeméride de 02/06/1973: 
"Realizam-se as solenidades de inauguração das ampliações e reformas da Sede Social da Sociedade de Concertos Sinfônicos de S. João del-Rei. A diretoria da entidade contou com a valiosa ajuda financeira do Conselho Federal de Cultura-MEC. Cumpriu-se um bem elaborado programa de festividades. Às 19 horas, na Igreja do Carmo, D. Delfim Ribeiro Guedes oficiou missa solene, com a participação do Coral e Orquestra da Sociedade, sendo executado o seguinte programa artístico: Giovanna D'Arco: abertura, de G. Verdi, regência de João Cavalcanti; Ecce Sacerdos Magnus, de Martiniano Ribeiro Bastos, regência de Pedro de Souza; Missa da Imaculada Conceição, de autoria do Maestro Jacinto de Almeida; Hino da Sociedade de Concertos Sinfônicos (1ª audição), música de João Américo da Costa e letra de Maria do Carmo Hilário, regência de João Américo da Costa. Logo após, procedeu-se à bênção da Bandeira da Sociedade, criação do Maestro Adhemar Campos Filho. Concluídos os Atos Litúrgicos, realizou-se a bênção das novas instalações e a inauguração da Galeria de Retratos dos ex-presidentes da entidade. Discursaram, na ocasião: Dr. Francisco Diomedes Garcia de Lima, o Pres. José Raimundo Lobato Costa e o Ten. Gentil Palhares, que falou em nome de Mozart Novaes."

Fonte das citações: 
1) TIRADO, A.C.: texto intitulado Histórico da Entidade, in Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei. Site São João del-Rei Transparente. Acesso em 08 de agosto de 2015.  Link: http://saojoaodelreitransparente.com.br/organizations/view/39
2) CINTRA, S.O.: EFEMÉRIDES DE SÃO JOÃO DEL-REI, vol. I, 2ª edição, 1982, pp.  237-8