tag:blogger.com,1999:blog-50905293152275600772024-03-18T18:11:53.312-03:00Blog de SÃO JOÃO DEL-REI: Turismo, Cultura, História, Tradição e muito maisSeja bem-vindo ao blog de <b>São João del-Rei</b>! Nesta página você encontrará história, tradições, informações, fotos, vídeos e curiosidades desta que é uma das mais importantes cidades históricas brasileiras.Sunseth Midnighthttp://www.blogger.com/profile/09241836140491425383noreply@blogger.comBlogger580125tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-43706468833836469012024-03-17T05:31:00.007-03:002024-03-17T09:15:54.879-03:00NÓS E NOSSAS COISAS<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-size: x-large;"><b>Por JOSÉ CIMINO *</b></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-size: x-large;"><b> </b></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“COISA” é uma palavra das mais comuns, mas que encerra certo mistério. O que é uma coisa? Por exemplo, o que é um copo? O que faz com que o copo seja copo e não outra coisa? O copo guarda em si a ideia de quem o concebeu e o fez, e isso é a sua essência que se revela no seu aparecer. Cada coisa é a efetivação concreta de uma ideia. Uma “coisa” é a “coisificação” de uma ideia. É cognoscível, porque fruto de uma ideia. Ao conhecê-la, entrevemos, nela, a ideia que ela é. Nossa vida é uma comunhão vital com as “coisas” e, de certo modo, de comunhão com as “ideias” de quem as fez. Ora, vejam que belas verdades as “coisas” nos revelam. Sem elas não vivemos. Entretanto, as “coisas” que entraram na roda da nossa existência, são aquelas que compramos com nosso dinheiro, com o suor do nosso rosto, e com as quais passamos a viver a nosso modo e segundo os nossos gostos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">As “COISAS” do pequeno universo da nossa existência, desde nosso automóvel, desde nossa casa e tudo que a guarnece, nossas roupas e tudo o mais, a partir do momento em que passaram a fazer parte das nossas vidas, não são mais meras “utilidades” ou simples apetrechos ao nosso redor. Ao contrário, o fato de se tornarem meios de nossa instalação no mundo faz com que elas entrem a compor toda a fisionomia do nosso acontecer histórico. Afinal, foram adquiridas com nosso trabalho, o que pressupõe um “domínio original” sobre elas, </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> a “posse”. A “coisa possuída” como que renasce da sua condição de apenas “apetrecho” para a de marca vital na orla da nossa interioridade. As “coisas” que compramos e que utilizamos no dia a dia adquirem, assim, forte relação vital conosco. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhygaRL6mcLvU-Icj25u9wtSCqUqLY1zZ4-6BPzrLK1zXOE9WcXUx-dM_5x1nrI3mDoplGQb1XbEf_qp_ugFSdEkwgPtD2UZ6ymIaSrC-RhjnxaXmwLxtwnCzi1PVPzqOQDtVVwtcJ48BTH-_OoCN8R_HXu_TmVvDXhzQDUGSg4ZUpJ2Cb3mnsGTlEWLo/s640/MARISE%20BARROS%20MEDIDA%2050X40%20.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="486" data-original-width="640" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhygaRL6mcLvU-Icj25u9wtSCqUqLY1zZ4-6BPzrLK1zXOE9WcXUx-dM_5x1nrI3mDoplGQb1XbEf_qp_ugFSdEkwgPtD2UZ6ymIaSrC-RhjnxaXmwLxtwnCzi1PVPzqOQDtVVwtcJ48BTH-_OoCN8R_HXu_TmVvDXhzQDUGSg4ZUpJ2Cb3mnsGTlEWLo/w400-h304/MARISE%20BARROS%20MEDIDA%2050X40%20.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Tela de Marise Barros ilustrando arte naïf brasileira<br /></b></span></td></tr></tbody></table><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Entre as “coisas” que, de algum modo, contribuem para nossa instalação no planeta Terra, merece particular atenção: a CASA. A casa, esse minúsculo ponto dentro do planeta, é o marco que assinala o lugar da instalação existencial do ser humano na paisagem do seu entorno. É na “casa” que o homem habita o Planeta e o deve habitar poeticamente. Johann Christian Friedrich Hölderlin (1770-1843), entre os poetas alemães um dos maiores, escreveu, em um dos seus poemas, que o homem é aquele que habita poeticamente, </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> tema, aliás, objeto de reflexão por Heidegger. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O que é o “habitar poético”? Com certeza isso acontece quando os ocupantes da casa vivem em harmonia, na paz e no amor, e tudo que a guarnece esteja de tal maneira organizado, que venha a gerar impacto de beleza harmônica e, por consequência, de felicidade. Quando isso ocorre, o homem habita na “verdade da casa”. Essa verdade evoca de novo o domínio original sobre ela, ou seja, a posse. Se a casa, se algo ou tudo que a compõe, ou por furto, ou por roubo ou por outro modo qualquer, mesmo que por força de um Direito equivocadamente aplicado por um juiz, sair da órbita do seu possuidor original, ali “o alheio passa a chorar o seu dono” </span><span style="font-size: medium;">, conforme nos ensina um dito popular. E esvai-se a “verdade da casa”. O vínculo existencial entre a coisa e seu dono se rompe de modo irremediável. Então, em tal lugar, não mais será possível o </span><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;">habitar poético</span><span style="font-size: medium;">”</span><span style="font-size: medium;">. Na casa usurpada e nos seus bens também usurpados ecoa, em cada canto e em cada coisa, o silencioso grito de “saudade” do seu possuidor original. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Se houver o “habitar poético</span><span style="font-size: medium;">”</span><span style="font-size: medium;"> na casa, a convivência, nela, se dará no envolvimento do amor. O homem é o ser da convivência. E a casa, por mais simples que o seja, é o palácio da convivência. Por isso, também as casas convivem. Convivem nas cidades, onde parecem rostos humanos enfileirados. Pela manhã, parecem sonhar: espirais de fumaça saindo das chaminés e o cheirinho do café fresco recendendo no espaço. Um sonho de comunhão imaginada. É o </span><span style="font-size: medium;">“habitar poético</span><span style="font-size: medium;">”</span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;"> acordando para as lides do dia. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Mas, se a casa, </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> insistimos, </span><span style="font-size: medium;">— </span><span style="font-size: medium;">de algum modo, for usurpada daquele que sobre ela exerce o “poder original”, nela, jamais será possível o “habitar poético”. E essa “casa”, ao olhar dos transeuntes, torna-se macambúzia, triste, tal como tácito arauto da injustiça. Em cada canto dela, quer seja um casebre, quer seja uma mansão, com tudo que a contém, ressoa a sábia advertência: “o alheio chora o seu dono” </span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span><span style="font-size: medium;">.</span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"><b>*</b> <i>Professor e filósofo-poeta, presidente da AMEF-Academia Mantiqueira de Estudos Filosóficos e da ABROL-Academia Brasileira Rotária de Letras-MG Leste, além de membro efetivo da ABL-Academia Barbacenense de Letras. <br /></i></span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>II. NOTA EXPLICATIVA DO GERENTE DO BLOG</b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹ </b></span></b></span><span style="font-size: medium;">Na sua versão latina, encontra-se o conhecido provérbio </span><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-family: "TimesNewRomanPS"; font-style: italic;"><span style="font-size: medium;">Res ubicumque sit pro domino suo clamat.</span></span><span style="font-size: medium;">” (Tradução literal: Onde quer que se encontre, clama a coisa pelo seu dono.) Sobre a procedência jurídica do provérbio, <b>[MONTEIRO</b>, 1965, 148-150<b>]</b> esclarece: </span><span style="font-size: medium;">“Dentre as várias ações que tutelam o direito de propriedade, a mais vigorosa e importante é, sem dúvida, a (ação) de reivindicação (ou ação reivindicatória). A ela refere-se o Código Civil, de modo específico, em seu artigo 524: a lei assegura ao proprietário o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de <i>reavê-los do poder de quem quer que injustamente os possua</i>. Nesse preceito se depara o preciso objeto da ação de reivindicação [...] que </span><span style="font-size: medium;">cabe, tão-somente, a quem tenha o domínio, a quem seja dono ou proprietário da coisa. Quem não tem <i>jus in re</i>, devidamente constituído, não pode reivindicar.</span><span style="font-size: medium;"> É a mais típica das ações reais. É a ação real por excelência, por intermédio da qual o proprietário segue a coisa onde quer que esteja, reclamando-a de qualquer possuidor, ou de qualquer pessoa, que não queira deixar livre o exercício do direito dominial. [...]</span><span style="font-size: medium;">”</span><span style="font-size: medium;"> <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>III. BIBLIOGRAFIA</b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>MONTEIRO</b>, Washington de Barros: <i>A ação de reivindicação</i>, São Paulo: Portal de Revistas da USP, 1965, vol. 60, nº 10, pp. 148-164.</span><span style="font-family: "TimesNewRomanPS"; font-style: italic;"></span>
</div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-35823438711638771382024-03-06T09:53:00.008-03:002024-03-06T15:27:52.699-03:00PELA HERMA DE FRANKLIN MAGALHÃES<div><br />
</div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: x-large;">Por OSWALDO H. CASTELLO BRANCO *</span></b></div><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaGl2dbwYXbFpTv1a0QuVtXBT6ERwd2fh0LEnUlYLzbAW_760PHX2EiOVy25ZiU5gyUR1fSPeEM8pGAmMWl_MMZJXb7-K33URwTq0yE7nFh86MmxoIkEDX4SsCVs2pzoM80kaIYoEXygUQz2KCNQm3N3MhCsbHxbLnT5q_uDF2no_pvAdiF_5ULbpiVbI/s867/FRANKLIN-DE-MAGALHAES.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="798" data-original-width="867" height="295" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaGl2dbwYXbFpTv1a0QuVtXBT6ERwd2fh0LEnUlYLzbAW_760PHX2EiOVy25ZiU5gyUR1fSPeEM8pGAmMWl_MMZJXb7-K33URwTq0yE7nFh86MmxoIkEDX4SsCVs2pzoM80kaIYoEXygUQz2KCNQm3N3MhCsbHxbLnT5q_uDF2no_pvAdiF_5ULbpiVbI/s320/FRANKLIN-DE-MAGALHAES.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Franklin de Almeida Magalhães (✰ São João del-Rei, 22/02/1879 - ✞ Rio de Janeiro, 21/09/1938), sócio fundador da Cadeira nº 20 (patrono Arthur Lobo) da Academia Mineira de Letras - Crédito pela foto: </b><a href="https://museuregionaldesaojoaodelrei.museus.gov.br/">https://museuregionaldesaojoaodelrei.museus.gov.br/<b><br /></b></a></span></td></tr></tbody></table><br /> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Estamos recebendo constantes aplausos à iniciativa que agitamos de uma herma de Franklin Magalhães, nesta cidade (Santos Dumont). </span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Dentre os recebidos na semana finda, temos a ufania de contar os de Ciro dos Anjos, ilustre Diretor da Imprensa Oficial do Estado. Enviando-nos o recorte da notícia publicada no "<b>Minas Gerais</b>" e que já transcrevemos em nossa passada edição. O festejado autor de "O amanuense Belmiro" assim nos escreveu: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;">Ao prezado confrade Oswaldo H. Castello Branco,
Ciro dos Anjos cumprimenta cordialmente e, apresentando felicitações pela louvável iniciativa de uma homenagem a Franklin Magalhães, tem o prazer de lhe enviar o recorte de notícia publicada a respeito, no "<b>Minas Gerais</b>".</span><span style="font-size: medium;">”</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;"> <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Os nossos caríssimos confrades de "<b>Cidade de Barbacena</b>" e "<b>O Correio</b>" de São João del-Rei, assim se referiram à iniciativa: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;">Nossos prezados confrades de <b>O SOL</b>, de Santos Dumont, aventaram a iniciativa da criação, num dos jardins dessa formosa cidade, da herma de Franklin Magalhães, o Poeta de "Plenilúnio" </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> e outras poesias, que o fizeram queridíssimo de quantos souberam compreender e admirar o seu estro magnífico.
Nada mais justo. Santos Dumont, onde Franklin Magalhães se fez admirado pela sua ação como professor e jornalista, deve ao saudoso escritor uma homenagem de gratidão, que será essa de perpetuar, no bronze, o busto do suave poeta, tão fino e gentil, sempre que em convívio com as musas.
A iniciativa vai ecoar com simpatia entre os admiradores e amigos do festejado vate mineiro, o que há de facilitar o empreendimento de nossos ilustres confrades de <b>O SOL</b>.</span><span style="font-size: medium;">”</span><span style="font-size: medium;"> <br /></span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">"<b>Cidade de Barbacena</b>" </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;">O nosso prezado colega de "<b>O SOL</b>", que se edita na próspera e culta cidade de Santos Dumont, sob a inteligência e criteriosa direção do festejado jornalista Oswaldo H. Castello Branco, considerando quanto "de beleza e bondade proporcionou à sua terra, pelo bem que lhe fez e pelo muito que lhe quis", justifica de maneira plena e louvável a ideia da ereção de uma herma ao grande lírico mineiro. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Depois de lembrar a vida do ilustre sanjoanense em Santos Dumont, como professor, poeta, jornalista e homem de letras, o "<b>O SOL</b>" faz um apelo aos membros da Academia Mineira de Letras, aos poetas e jornalistas, aos moços e intelectuais das duas cidades irmãs, em cujo patriotismo põe inteira confiança, seguro de que verá medrar uma das praças da terra do glorioso aeronauta brasileiro. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O "<b>O CORREIO</b>" aplaude calorosamente e abraça com vivo prazer e quente entusiasmo a louvável iniciativa de "<b>O SOL</b>", hipotecando-lhe decidida solidariedade.</span><span style="font-size: medium;">”</span><span style="font-size: medium;"> <br /></span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">"<b>O CORREIO</b>" </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Agostinho Azevedo, o notável cronista que orgulha S. João del-Rei, publicou no "<b>Diário do Comércio</b>" daquela culta e tradicional cidade, um magnífico artigo sobre a herma de Franklin, o qual publicaremos em nossa próxima edição. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"><b>*</b> Diretor e redator de "<b>O SOL</b>" e Membro da A.B.I., Matrícula 2.582, Carteira 699</span><span style="font-size: medium;"> <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGco45Ow_Y7UDBT6WTDJmxrHg0EloWmjSFDmS41KJDbTo3mabr-3k6g1rGdqwvqHfNdgiuAS7kh-6iWQJXcA4mkrVaRZFd-M9jXhtQx6caKX_H9gVwmO1DryHeHxGpAE6X_5nK5ePudbYmTFlIRTjj4UVpfaTucFIDyLVYwi-SC7GHC61SMA9DA-i4C7g/s357/barra.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="25" data-original-width="357" height="22" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGco45Ow_Y7UDBT6WTDJmxrHg0EloWmjSFDmS41KJDbTo3mabr-3k6g1rGdqwvqHfNdgiuAS7kh-6iWQJXcA4mkrVaRZFd-M9jXhtQx6caKX_H9gVwmO1DryHeHxGpAE6X_5nK5ePudbYmTFlIRTjj4UVpfaTucFIDyLVYwi-SC7GHC61SMA9DA-i4C7g/s320/barra.gif" width="320" /></a></div><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Ainda em "<b>O SOL</b>", na coluna <b><i>NA SOCIEDADE</i></b> da mesma data (16/04/1939), lê-se:
... <b><i>Falecimento</i></b>: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">HELDER </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> O nosso companheiro O.H.C. Branco e sua senhora D. Arminda Melo Castello Branco, passaram, terça-feira última pelo rude golpe de perderem seu interessante filhinho Helder, que contava apenas 2 anos de idade, e que, embora enfermo de algum tempo a esta parte, não aparentava o seu estado de saúde gravidade extrema, ocasionando, deste modo, o seu prematuro falecimento, surpresa e geral consternação. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O seu sepultamento realizado na tarde de quarta-feira última teve crescido acompanhamento.
Ao prezado companheiro e à sua família, nosso comovido abraço de solidariedade. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">E o periódico estampa ainda na sexta página uma homenagem à D. Arminda e ao diretor Oswaldo pelo poeta assinando com a iniciais O. F. o seguinte poema dolente: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>Coração de mãe </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">à Arminda e ao Castello </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Quando ele partiu no caixão de ouro, </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">todo enfeitado de flores, </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">os sinos tangeram mais alegres </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">em honra ao anjinho que ao céu subia... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A mãe, porém, não cria que o filho </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">fosse morto... Não, não! Ele não morreu!... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> Olhem! Ele até sorria </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">quando m'o arrancaram e m'o levaram!... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Vem, filhinho! Quero contar-te histórias bonitas, </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">de fadas, de castelos encantados! </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Vem ouvir-me! Olha, vou começar: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> Era uma vez... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O soluço estala: a pobre mãe </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">não quer reconhecer que o filho morreu... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> Não, Deus é caridoso e não há de querê-lo no céu... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">lá ele chorará de fome - não sabe falar!... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Pobre mãe! Não quer o filho anjinho... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Quer que ele viva para poder afagá-lo, </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">para poder beijá-lo... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Deus, nestes momentos, </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">ao ver tamanho amor, </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">sente ímpetos de arrancar de sua glória </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">a feliz criança </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">e entregá-la à pobre mãe </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">que continua a chamar pelo filho: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> Vem, filhinho! Quero contar-te histórias bonitas, </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">de fadas, de castelos encantados! </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Vem ouvir-me! Olha, vou começar: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> Era uma vez... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>II. NOTA EXPLICATIVA por Francisco José dos Santos Braga<br /></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹ </b></span></b></span><span style="font-size: medium;">Lamentavelmente, o projeto de ereção de uma herma em honra de Franklin Magalhães em uma das praças de Santos Dumont-MG não se tornou uma realidade, apesar dos esforços do diretor e redator de <b>O SOL</b> (informação que nos foi dada por seu filho Tomás em fevereiro de 2024 à minha correspondente Andreia). No entanto, esta matéria registra os esforços empreendidos por Oswaldo H. Castello Branco para o seu projeto, que mais tarde acabou por influenciar positivamente a cidade natal do escritor, São João del-Rei, que a 15/08/1962 inaugurou a herma de seu filho notável na Praça dos Expedicionários, posteriormente transferida para o pátio do Museu Tomé Portes del Rei e atualmente se encontra no interior da casa contígua que pertenceu ao Barão de São João del-Rei. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-nXEpSPL4yKyd-JJviwgmlsU81UM3Bvlrc_R0x8szvl0iccaB5xcqAIYXd2i7DMZYcvQjWABXS8uQppILT1j4IQAb-NjpqT_tsehxwhE9BFRw-tacRXMCItCcMY3k3yG2p6OVWSeOjVmRuiIU7MlCQtKWKZIYPBO5d_IePT_-V-qMLMV46S8_MG2ImLk/s640/IMG_3809.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="509" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-nXEpSPL4yKyd-JJviwgmlsU81UM3Bvlrc_R0x8szvl0iccaB5xcqAIYXd2i7DMZYcvQjWABXS8uQppILT1j4IQAb-NjpqT_tsehxwhE9BFRw-tacRXMCItCcMY3k3yG2p6OVWSeOjVmRuiIU7MlCQtKWKZIYPBO5d_IePT_-V-qMLMV46S8_MG2ImLk/s320/IMG_3809.jpg" width="255" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Busto de Franklin Magalhães, homenagem de São João del-Rei, sua cidade natal<br /></b></span></td></tr></tbody></table><br /> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrxgynj0yi65oQdq8KY2dU8_JcD_QKcbMvwC8u0LMAxldV61XuMJMjICzZ-lvk1ef6k6K8KNlhy_w_Bymra75oDKU6Q6lZ3tdxLgl6PfIi2nmgL45FAjs5PKm-lNAzSyJoIK3eY4WTGsxZ7AC38WQxdhL-jSuN3yUdTqQBo8oZ8kCZwjBgSoWgYH_sN4M/s640/IMG_3815.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="480" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrxgynj0yi65oQdq8KY2dU8_JcD_QKcbMvwC8u0LMAxldV61XuMJMjICzZ-lvk1ef6k6K8KNlhy_w_Bymra75oDKU6Q6lZ3tdxLgl6PfIi2nmgL45FAjs5PKm-lNAzSyJoIK3eY4WTGsxZ7AC38WQxdhL-jSuN3yUdTqQBo8oZ8kCZwjBgSoWgYH_sN4M/s320/IMG_3815.jpg" width="240" /></a></div><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b> <br /></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><div><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div><span style="font-size: large;"><b>III. AGRADECIMENTO</b></span> <br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span><span>O
gerente do Blog de São João del-Rei agradece à sua amada esposa Rute
Pardini Braga a formatação e edição das fotos utilizadas neste texto.</span></span></span></div><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>IV. BIBLIOGRAFIA</b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>CASTELLO BRANCO</b>, Oswaldo H.: <b>O SOL</b>, Ano XII, Santos Dumont-MG, edição nº 645 de 16/04/1939 </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>CASTELLO BRANCO</b>, Oswaldo H.: Resumo Autobiográfico <br /><i>Link</i>: <a href="https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2024/02/colaborador-oswaldo-h-castello-branco.html">https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2024/02/colaborador-oswaldo-h-castello-branco.html</a> 👈</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>VIVALDI</b>, Moreira: <b>Esboço Histórico da Academia Mineira de Letras</b>, texto extraído do site da Academia Mineira de Letras e reproduzido no Blog de São João del-Rei em 09/03/2023.<br /><i>Link</i>: <a href="https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2023/03/esboco-historico-da-academia-mineira-de.html">https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2023/03/esboco-historico-da-academia-mineira-de.html</a> </span><span style="font-size: medium;">👈</span></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-90743964181757922872024-03-04T16:37:00.005-03:002024-03-08T12:08:30.443-03:00SAMUEL RAWET NO SEU LABIRINTO<div><b><span style="font-size: x-large;">Por DANILO GOMES *</span></b> <br /></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><i>Crônica publicada originalmente pela Academia Mineira de Letras no seu site, em 7 de junho de 2021<br /></i></blockquote></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Há 37 anos morria em Brasília, dramaticamente, o escritor Samuel Rawet. Mais especificamente em Sobradinho. Solitário, de ataque cardíaco, aos 55 anos de idade. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Ele nasceu em 23 de julho de 1929, na aldeia de Klimontów, na Polônia, de pais judeus. Nome completo: Samuel Urys Rawet. Chegou ao Rio de Janeiro aos 7 anos de idade e foi morar com a família nos subúrbios (Ramos e depois Olaria), passando infância pobre. “Aprendeu português como poucos brasileiros”, escreveu Napoleão Valadares no seu <b>Dicionário de Escritores de Brasília</b>, já em 4ª edição. Formou-se em Engenharia. Integrou a equipe de Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Joaquim Cardozo (também poeta, e dos bons), Carlos Magalhães da Silveira (recentementre falecido em Brasília, aos 88 anos, ex-genro de Oscar Niemeyer). Trabalhando com o pernambucano Joaquim Cardozo, Samuel Rawet fez inúmeros cálculos para edifícios de Brasília. Assim, o engenheiro e já contista famoso ajudou a construir a nova capital do Brasil, saga comandada pelo Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Foi contista, novelista, teatrólogo e ensaísta. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Em 1956, Rawet publicou seu livro de maior sucesso, <b>Contos do imigrante</b>. Livro doloroso, angustiante, como foi e como seria a vida do autor, que rompeu com o judaísmo e a família. Há um clima de Dostoiévski e um travo de angústia de Kafka em seus contos e novelas. Aqui em Brasília ele se tornou “<i>O Solitário Caminhante do Planalto</i>”, título de uma entrevista que fiz com ele para o “<b>Suplemento Literário do Minas Gerais</b>” (então dirigido pelo saudoso Wilson Castelo Branco) e que depois publiquei no meu livro <b>Escritores brasileiros ao vivo</b>, entrevistas, vol. 1, Ed.Comunicação/ INL, 1979. Essa entrevista de 1976 está mencionada na bibliografia sobre o escritor, no livro <b>Contos e novelas reunidos</b>, de Samuel Rawet, editado e prefaciado por André Seffrin, com “orelhas” de Flávio Moreira da Costa. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Tive a honra de escrever um longo prefácio para o volume <b>Dez contos escolhidos de Samuel Rawet</b>, da Editora Horizonte, de Brasília, por recomendação do crítico literário Almeida Fischer. Esse volume é de 1982. Em 1997, Ézio Flavio Bazzo publicou um livro sobre o autor polaco-brasileiro, <b>Rapsódia a Samel Rawet</b>. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Samuel Rawet foi um escritor criativo, inovador, sensível, culto, eu diria mesmo genial, como o atestam os que se debruçaram sobre sua sofrida obra de “judeu errante”, sempre exilado, irrequieto. Flávio Moreira da Costa o incluiu na antologia <b>Os 100 melhores contos de crime e mistério da literatura universal</b> e Ronaldo Cagiano deu-lhe destaque na sua <b>Antologia do conto brasiliense</b>. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><b>***</b> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Conheci-o em Brasília quando aqui cheguei, em março de 1975, vindo de Belo Horizonte. Em 1976, meu filho mais velho, Rodrigo, tinha quatro anos de idade e frequentava o jardim de infância na SQS 303. Eu o levava à escola quando minha mulher não podia fazer isso. Ali, nas imediações, algumas vezes me encontrei com o escritor, naquelas claras manhãs, pois ele, de bermuda, passeava pelas quadras próximas, morador que era de uma delas, acho que a 105 Sul. Batíamos um rápido papo. Estava sempre alegre, risonho. E passava a mão, num gesto paternal, na cabeça do menino Rodrigo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Eu encontrava Rawet também nas reuniões da Associação Nacional de Escritores-ANE, então sediada na 415 Sul. Ele era associado. Cordiais conversas. Entrava na roda da cerveja. Em geral, Rawet não demonstrava amargura, tristeza aguda, isolamento. Ele tinha momentos de alegria, confraternização, convivência.Mas nós o sabíamos um prisioneiro da melancolia e mesmo da revolta. Ele devia sentir-se, talvez, um “poète maudit”, na sombria linha de Baudelaire, Mallarmé, Verlaine, Rimbaud. Gostava, sim, da solidão. No extinto caderno “Pensar”, do “Correio Braziliense”, de quase 20 anos atrás, li um ótimo ensaio que sobre o ficcionista escreveu Stefania Chiarelli, então doutoranda em Estudos de Literatura na PUC-Rio. Ela assim sintetizava a vida do famoso prosador: “errância, exílio, isolamento.” </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Num almoço na casa da escritora Branca Bakaj e seu marido, o arquiteto Mário Bakaj, em 2004, o poeta Cassiano Nunes nos disse: “Samuel Rawet foi uma figura trágica, vangoghiana.” Os dois eram muito amigos. E já não pertencem a este mundo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Ele buscou a solidão para morrer. Nos últimos anos de vida, apresentava sinais de distúrbios mentais, acentuados desequilíbrios de comportamento, mania de perseguição, procura de imaginários culpados para umas tantas mazelas. Entrou num mundo de paranóias. O “judeu errante”, o ser humano cheio de conflitos, o autor “maldito” e automarginalizado, rebelde, neurótico. Morreu em 25 de agosto de 1984. Foi encontrado depois de vários dias da ocorrência do óbito, em Sobradinho, DF. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">De sua bibliografia, constam estes livros: Contos do imigrante, Diálogo, Abama, Os sete sonhos, O terreno de uma polegada quadrada, Consciência e valor, Viagens de Ahasverus à terra alheia, Devaneios de um solitário aprendiz de ironia, Alienação e realidade, Eu, tu e ele, Angústia e conhecimento e, ainda, Que os mortos enterrem seus mortos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Prefiro me lembrar dele nas nossas animadas conversas regadas a cerveja, na então sede da ANE. Prefiro me lembrar dele de bermuda, alegre sob o sol brasiliano, nas manhãs daquele ano de 1976, afagando a cabeça do meu filho, hoje com 49 anos. Carinho que ele talvez não tivesse tido quando menino na sua Polônia natal. E no Rio. O que talvez tenha ajudado a marcar sua dolorosa angústia pela vida afora… </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"><b>*</b> Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras, ocupante da Cadeira nº 1. Igualmente, pertence às seguintes instituições: Associação Nacional de Escritores, Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, Academia Marianense de Letras, Academia Divinopolitana de Letras, Academia Mineira de Letras, Academia de Letras do Brasil, Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal e Academia Brasiliense de Letras. Finalmente, mas não menos importante, é Cidadão Honorário de Belo Horizonte. <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>II. BIBLIOGRAFIA <br /></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS</b>: <i><b>Samuel Rawet no seu Labirinto</b></i> por Danilo Gomes, 07/06/2021 <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://academiamineiradeletras.org.br/artigos-de-academicos/samuel-rawet-no-seu-labirinto/">https://academiamineiradeletras.org.br/artigos-de-academicos/samuel-rawet-no-seu-labirinto/</a> 👈</span></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: medium;"><br /></span></b></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>JORNAL DAS LETRAS</b>: <b><i>Samuel Rawet no seu Labirinto</i></b> por Danilo Gomes, edição nº 269 de julho de 2021.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Link: <a href="https://www.jornaldeletras.com.br/artigos/2021-07/artigos-samuel-rawet-no-seu-labirinto.html">https://www.jornaldeletras.com.br/artigos/2021-07/artigos-samuel-rawet-no-seu-labirinto.html</a> </span><span style="font-size: medium;">👈</span></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-29237440800682324042024-03-02T10:00:00.005-03:002024-03-04T07:01:46.669-03:00O SIGNIFICADO DE UMA TRAIÇÃO<div><b><span style="font-size: x-large;">Por ILYÁ EHRENBURG (1891-1967)</span></b><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: x-large;">Comentários pelo gerente do Blog</span></b></div><p style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: x-large;"></span></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><span style="font-size: x-large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdtIQc2PUcczYZSctaNzyNGCwM58NRusCkCcXXU6iPZlj4Ogfbh-35z-wQoUAsOFp7-gSKo3SHuzkTkjkKLwu_YgC_Yglct7lWISYtUDW-sfNsiZrFfJdYq4O5J8KWe6d4izhjaW9PYDO6nD7GUlvU_3UPA1JiU-mRZiWLK_DXnHhRhNhMX3D2f3_iVzM/s640/IMG_3974.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="420" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdtIQc2PUcczYZSctaNzyNGCwM58NRusCkCcXXU6iPZlj4Ogfbh-35z-wQoUAsOFp7-gSKo3SHuzkTkjkKLwu_YgC_Yglct7lWISYtUDW-sfNsiZrFfJdYq4O5J8KWe6d4izhjaW9PYDO6nD7GUlvU_3UPA1JiU-mRZiWLK_DXnHhRhNhMX3D2f3_iVzM/w263-h400/IMG_3974.jpg" width="263" /></a></span></b></div><b><span style="font-size: x-large;"> </span></b></div>
<div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Antigamente Knut Hamsun escrevia esplêndidos romances sobre tormentos de amor e corações mal compreendidos, entre rochedos e pinheiros. Na sua velhice o grande escritor transformou-se em politiqueiro. Traiu a Vitória por Hitler. Substituiu Pan, o deus da natureza, por Wotan, o deus da guerra dos antigos germanos, sedento de sangue para os sacrifícios. Este escritor, gozando de reputação mundial </span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;">, colocou-se na posição de um êmulo de Goebbels. Hamsun odeia a União Soviética, e a fim de denegrir nosso país, chega a ponto de glorificar até a Antiga Rússia. Mas Hamsun nunca conheceu ou compreendeu a Rússia. Muito antes da revolução, passou alguns dias em Moscou e uma semana no Cáucaso. Depois dessa viagem, publicou um livro absurdo: "No País das Fadas". O livro não conta nada sobre a Rússia, mas fala muito de Hamsun. </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Hoje Hamsun escreve: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">"Na antiga Rússia o povo divertia-se. Podia-se dizer que a vida transcorria serena como um sonho poético." </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Vejamos seu livro "No País das Fadas". </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Em Moscou, Hamsun conheceu especialmente os clubes noturnos. Nesses pontos de reunião, comeu muito e especialmente bebeu. Esta última observação explica o caráter fantástico de suas notas: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">"O restaurante... Inclino-me diante de todos e tiro meu enorme passaporte. Mas ninguém compreende isto... Os garçons tratam-me por "Vossa Excelência"...
De repente, sem razão alguma, dirijo-me ao ícone e faço o sinal da cruz... Começo a cantarolar..." </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Provavelmente foi esse o divertimento que Hamsun recordou quando escreveu: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">"Na antiga Rússia o povo divertia-se." </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Há também a seguinte cena no livro: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">"O oficial faz um gesto de comando com a mão - Alto! E os camponeses pararam. Aparentemente ele é o seu senhor. Pertencer-lhe-á esta aldeia?... Uma vez, quando a multidão ameaçadora perseguia Nicolau I através das ruas de Petersburgo, ele gritou enfurecido para o povo:
- Ajoelhem-se!
E a multidão caiu de joelhos." </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Partindo desse ponto, Hamsun tenta justificar a escravidão. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">"Napoleão era obedecido com entusiasmo. A obediência é um prazer. E o povo russo ainda é capaz disso." </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Hamsun satisfez-se com uma imitação de Napoleão. Experimenta um sentimento de "prazer" quando encontra a polícia germânica </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> com a idade de oitenta e dois anos, ainda cai de joelhos. Hamsun exaspera-se contra a Rússia. Por que razão o povo russo não suspende o passo quando o cabo tirolês grita: "Alto"? </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Hamsun glorifica a "nova ordem", isto é, a sujeição de todo o mundo à Alemanha. Chama a Inglaterra de "nação preguiçosa e covarde", e os Estados Unidos de "o país do bluff" </span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;">. O escritor Hamsun deixou de existir; em seu lugar surgiu um insignificante plagiário de Goebbels. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Todos os que visitaram a Noruega sabem das nobres qualidade do povo norueguês. A luta constante contra uma natureza hostil desenvolveu no povo o espírito da fortaleza. Lá os homens vivem a milhas de distância uns dos outros. Duas casas vizinhas são separadas por montanhas. Talvez seja por isso que os noruegueses respeitam os seus semelhantes. Dão valor à amizade e admiram a lealdade. Desde dias longínquos vêm cultivando o amor pelo mais caro de todos os bens: a liberdade. Os invasores não encontraram entre os noruegueses homens prontos a servi-los, corrompidos por uma vida fácil e prontos a qualquer "colaboração". O nome de Quisling vive coberto de desprezo. E agora este velho escritor, que deve sua fama ao seu país, à sua beleza, aos seus costumes, ao seu povo, vendeu-se a uma nação inimiga. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Os alemães condenaram os noruegueses à extinção. Basta lembrar que receberam menos de seis onças e meia de pão por dia. Antes da guerra, as prisões da Noruega viviam às moscas. Presentemente não há mais lugar para os encarcerados. Cortes militares condenam homens valorosos ao fuzilamento. Mas, apesar disso, os noruegueses não se dão por vencidos.
As ilhas Lofoten, antes apenas famosas pela pesca de bacalhau nas tempestades de verão, tornaram-se o núcleo nacional de resistência. Os guerrilheiros de Larsen estão exterminando os destacamentos germânicos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Hamsun, o mundialmente famoso escritor, e Larsen, o modesto norueguês, trilham diferentes caminhos. Um preferiu a traição, o louvor de Goebbels, à lealdade devida ao seu país natal. O outro escolheu o caminho de pedras, de luta e do heroísmo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Quando um gigolô de certos bairros de Marselha se alista na legião de Hitler, ninguém quebra a cabeça para compreender as razões que a isso o induziram; uma carabina resolve a questão. Mas como pode um escritor famoso, um velho, desmoralizar-se para justificar o saque, glorificar os carrascos, entregando-se ele próprio à traição? Achamos resposta para isso na biografia espiritual de Hamsun. Seu entusiasmo por Nicolau I não é acidental. Este revoltado há muito que se sente atraído à submissão e à genuflexão. Sempre odiou o progresso, e Hitler lhe apareceu como um policial místico, capaz de fazer parar a marcha da história. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Certamente, uma longa distância separa o encantamento de turista de Hamsun do fosso repleto de cadáveres perto de Kerch, ou do patíbulo em Volokolamsk. Mas o velho escritor considera os SS como seus sucessores. Abençoa-os quando partem para a pilhagem e para o crime. Que significa o fascismo para Hamsun? </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Antes de mais nada, <span style="background-color: #f4cccc;">a revolta contra o progresso, o reinado das forças das trevas contra a razão, a coalisão de homens que não possuem tradições verdadeiras e que com justiça podem ser chamados os bastardos da história.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #f4cccc;">Os fascistas surgiram na arena amaldiçoando o futuro. Costumavam falar sobre a beleza do passado, mas ao galgar o poder, destruíram as grandes tradições.</span> Que copiou Hitler do passado? Algumas superstições, o chapéu alto dos carrascos e os instrumentos de tortura de Nuremberg. <span style="background-color: #f4cccc;">Os fascistas não se limitam a matar os escritores; destróem-lhes também os livros.</span> Todos nos lembramos das fogueiras de Berlim, onde dezenas de milhares de volumes foram queimados. Em Paris os alemães incluíram dois mil livros na lista Otto de livros condenados. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Destruíram o monumento a Chopin em Cracóvia, puseram abaixo o monumento a Voltaire e Rousseau em Paris, profanaram Iásnaia Poliána </span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>³</b></span></span></span></span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;">. Não foram manifestações esporádicas da soldadesca; foram destruições sistemáticas do passado. Somente na França os hitleristas destruíram trezentos monumentos de arte, entre os quais monumentos arquitetônicos, como o castelo d'Amboise. Pode-se a isso acrescentar a biblioteca de Louvain, a catedral de Conventry, a Abadia de Westminster, os museus de Londres, os templos da Grécia, a nossa Istra, Smolensk, Novgorod. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Como se pode explicar esse vandalismo deliberado? Para aqueles que odeiam o futuro da humanidade, o passado da raça humana também é odioso. Os fascistas surgiram como a negação do século XIX. Os frequentadores das cervejarias de Berlim consideravam esse século como uma "decepção". Mas, recuando ainda, chegando ao século XVIII, também não podem deixar de considerá-lo uma "decepção", porque este foi o século dos Enciclopedistas e da Revolução Francesa. No século XVII há o trabalho dos humanistas que os perturba. Às vezes ouve-se dizer que o fascismo é a ressurreição da Idade Média. É uma afirmação errônea, um insulto aos nossos remotos ancestrais! Havia muitas coisas que os homens da era medieval ignoravam, mas que procuravam saber. Os poemas épicos e as catedrais góticas são a enciclopédia dessa época e evidenciam a sua sede de conhecimento do mundo. Contrastando com esse desejo de saber, o fascismo é uma negação do conhecimento e com isso coloca-se fora da história.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Por que estão todas as forças espirituais da humanidade unidas na luta contra o fascismo? O mundo ideado por Wells difere inteiramente do mundo ideado por um escritor soviético. Diferentes são os caminhos percorridos pelo filósofo católico Maritain e por Einstein. O físico Langevain e Hemingway vivem em mundos diferentes; mas nenhum deles concebe um progresso da humanidade que fuja às tradições, à herança cultural. Podemos dizer, sem o intuito de vangloriar-nos, que nossa pátria em muitos sentidos ultrapassou os outros países. Preocupamo-nos com o futuro; é o ar que respiramos. E é exatamente por isso que não renunciamos ao passado. Quem é que não bebeu nas fontes da Hélade, da Renascença, ou do século luz, que foi o século XIX? É o que nos aproxima de Wells, de Maritain, de Hemingway, de Langevain, de Einstein e de toda a humanidade pensante. Tudo que é grande exige continuação. Tendo compreendido a grandiosidade do passado, é impossível renunciar ao avanço criador. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Marx não poderia existir sem os Enciclopedistas; nem Rodin sem a Grécia; Shostakovich sem Beethoven; Hemingway sem Tolstói.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">É essa a razão por que <span style="background-color: #f4cccc;">os fascistas negam a inteligência</span>. Na gigantesca prisão criada por Hitler, as trevas são compulsórias. Os historiadores denominarão os anos das fáceis vitórias de Hitler de eclipse da Europa. <span style="background-color: #f4cccc;">Os fascistas temem os representantes do pensamento, sobre cujos rostos brilha a luz da inteligência</span> </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> seja do pensamento criador, ou do reflexo fosforescente do passado. Nem por um instante o fascismo se deteve ante uma inteligência real. No plano cultural o hitlerismo representou a rebelião da escória social, dos fracassados, dos sabichões, dos vagabundos intelectuais, dos filisteus que odeiam com alma todas as manifestações do pensamento vivo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Trágica foi a vida dos escritores da antiga geração que ingressaram no campo literário ao mesmo tempo que Hamsun. Eles foram ou atormentados pelo espectro da morte ou aniquilados pelo fascismo. Thomas Mann e Heinrich Mann estão no exílio. Stephan Zweig suicidou-se. Roman Rolland silenciou </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> cabos do exército alemão moram em sua casa </span><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴</b></span></span></span><span style="font-size: medium;">. Roger Martin du Gard também silenciou. Os alemães queimaram os livros de Duhamel e confiscaram seus manuscritos. Antonio Machado, grande poeta espanhol, morreu na fronteira, quando tentava fugir aos invasores fascistas. Unamuno amaldiçoou o fascismo no seu leito de morte. Os túmulos dos mortos, o silêncio forçado dos vivos </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> é esta a resposta a Hamsun. Ele não traiu somente seu país. Traiu também o mundo intelectual, o mundo do pensamento. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A geração de escritores que se seguiu também não aceitou o fascismo. Rot morreu em país estrangeiro. Toller matou-se. Remarque, Renn Deblin, Brecht, Werfel, Seegers e Frank estão no exílio. Maurois, Maritain e Bernanos deixaram a França corridos do hitlerismo. Malraux e Mauriac foram condenados ao silêncio. O poeta polonês Tuwim, o escritor espanhol Bergamín, e Alberto Moravia, o melhor romancista italiano, estão na América. Os escritores tchecos estão amordaçados. O escritor norueguês, Nordahl Grieg, está na Inglaterra com outros noruegueses, lutando contra a Alemanha. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Esta lista poderia alongar-se muito. Podia-se falar sobre o destino dos artistas e compositores. Descrever a angústia do famoso e já velho paisagista Marke, ou a do renomado químico Pérain, ambos vivendo na França ocupada. Mas como condensar a martirologia do pensamento europeu nas colunas de um jornal? </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Hitler apossou-se de mais de dez países e em toda a Europa só encontrou um apologista </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> o velho Hamsun. Nós, não queimaremos os romances de Hamsun. Não discutiremos o seu talento literário. O escritor Hamsun há muito deixou de viver. Quanto aos seus artigos fascistas, até mesmo Goebbels escreve melhor. Nem milhares de tanques, nem os cabelos brancos do ex-escritor, desgraçados pela sua traição, defenderão o fascismo. </span></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A apostasia de Hamsun servirá apenas para aproximar ainda mais os intelectuais progressistas </span><span style="font-size: large;"><b>⁵</b></span><span style="font-size: medium;"> em sua luta contra o fascismo. <span style="background-color: #f4cccc;">Compreendemos a razão pela qual os povos dos dois hemisférios volvem os olhos esperançados para o Exército Vermelho. Compreendemos os sentimentos que impelem os cientistas, os escritores, os artistas da Europa e da América, a saudar nosso povo </span></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: x-large;"><b><span style="background-color: #f4cccc;">⁶</span></b></span></span></span></span></span></span></span><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #f4cccc;">. Nos campos da Rússia defendemos os valores culturais, o passado da humanidade e seus poderes criadores. O progresso é uma corrida em que os corredores são gradualmente substituídos. Não é uma corrida fácil. A história conheceu a invasão dos vândalos, as fogueiras da Inquisição, o fanatismo estúpido e efêmero dos déspotas. Entretanto, em cada novo posto de substituição, a geração seguinte recebe a mensagem das mãos ensanguentadas dos homens de pensamento, mensagem de sabedoria e de luz. Avançamos sob o fogo e sob o fogo expulsamos a grande invasão das trevas. Muito perderemos nesta luta, mas havemos de salvaguardar para a nova geração a força do pensamento, a luz, a consciência da humanidade. </span></span></div><div style="text-align: left;"> </div><div style="text-align: left;">21 de março de 1942. </div><div style="text-align: right;"> Artigo no jornal "<b>Estrela Vermelha</b>" (Красная звезда)</div><div style="text-align: right;"> </div><div style="text-align: justify;"><i>Fonte</i>: <b>EHRENBURG</b>, Ilyá: <b>A EPOPEIA RUSSA: Diário de um jornalista junto ao Exército Soviético</b>, São Paulo: Editora Brasiliense Ltda (obra <span style="font-size: medium;">“</span>impressa nas oficinas da Empresa Gráfica da "Revista dos Tribunais" Ltda., à rua Conde de Sarzedas, 38<span style="font-size: medium;">”)</span>, 1946, 372 p. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>NOTAS EXPLICATIVAS por Francisco José dos Santos Braga<br /></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span><span style="font-size: medium;"> </span>Seu romance <span style="font-size: medium;">“</span><b>Os Frutos da Terra</b><span style="font-size: medium;">”</span> rendeu a Hamsun o Nobel de Literatura em 1920.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span><span style="font-size: medium;"> </span>Hamsun chama os EUA de "o país do blefe". </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>³</b></span></span></span></span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;"> </span>Casa de campo do escritor Leon Tolstói, localizada a 12 km sudoeste de Tula e 200 km de Moscou. Atualmente é patrimônio histórico (museu).<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴</b></span></span></span><span style="font-size: medium;"> </span>Em 1943, correu a notícia de que morrera num campo de concentração.<br /></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>⁵</b></span><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></span></span>Norberto Bobbio, <i>in</i> <b>Dicionário Político</b>, define o que entende sobre progresso: <span style="font-size: medium;">“</span><i>A ideia de progresso pode ser definida como ideia de que o curso das coisas, especialmente da civilização, conta desde o início com um gradual crescimento do bem-estar ou da felicidade, com uma melhora do indivíduo e da humanidade, constituindo um movimento em direção a um objetivo desejável.</i>”<br />O progresso é aí entendido como avanço científico, tecnológico, econômico e comunitário.<br />Portanto, para o filósofo e historiador do pensamento político, o que é Progressismo é a ideia de que a sociedade caminha constantemente em direção ao progresso material, moral e social. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: x-large;"><b>⁶ </b></span></span></span></span></span></span></span>Consta
que apenas a tomada de Berlim custou ao Exército Vermelho
aproximadamente 300.000 soldados, equivalente ao número de soldados
americanos mortos nas frentes europeia e japonesa, de 1941 a 1945.</div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-20175355918839644892024-03-02T09:22:00.006-03:002024-03-04T06:51:07.049-03:00Colaborador: ILYÁ EHRENBURG (1891-1967)<div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span>Por Francisco José dos Santos Braga</span></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><b><span> </span></b></span></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-m75g2vnLg7FHpiI3jXABCo4UVZzrykFxsvjdNmNJKOiuivpLgpmki5onQprmx9TOeNFIJTDFCZYT9ctEmz3fk4y_n6sgrZIhkCHHhFkWNgmlPHxW4Z6EYqyEx7Lz9JakzKTPeiP2VP-x9Uk19HXU-oQGlbiGchfi7CLachpt6FZHOSY68A2KX5Q1c6k/s868/lossy-page1-520px-Ilya_Ehrenburg_(1959).tif.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="868" data-original-width="520" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-m75g2vnLg7FHpiI3jXABCo4UVZzrykFxsvjdNmNJKOiuivpLgpmki5onQprmx9TOeNFIJTDFCZYT9ctEmz3fk4y_n6sgrZIhkCHHhFkWNgmlPHxW4Z6EYqyEx7Lz9JakzKTPeiP2VP-x9Uk19HXU-oQGlbiGchfi7CLachpt6FZHOSY68A2KX5Q1c6k/w240-h400/lossy-page1-520px-Ilya_Ehrenburg_(1959).tif.jpg" width="240" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Ilyá Ehrenburg<br /></b></span></td></tr></tbody></table>ILYÁ EHRENBURG</b> nasceu em Kiev (antigo Império Russo) em 1891. Foi um prolífico escritor e jornalista, um dos mais efetivos porta-vozes soviéticos para o Ocidente. Nascido dentro de uma família judia de classe média que mais tarde se mudou para Moscou, Ehrenburg, quando jovem, envolveu-se numa atividade revolucionária e foi preso. Emigrou para Paris, onde começou a publicar poesia em 1910. Durante a I Guerra Mundial era correspondente de guerra no front, retornando à Rússia em 1917. Vivenciou a guerra civil na Ucrânia e, entre 1917 e 1921, hesitou entre dar apoio e rejeitar os bolcheviques. Retornou à Europa, vivendo na França, Bélgica e Alemanha, e publicou sua primeira novela.<br />Em 1924, contudo, sua atitude tinha mudado de novo, e foi concedida permissão para seu retorno à União Soviética. Participou de encontros de escritores e de outras atividades literárias em Moscou, e logo depois foi reenviado à Europa, desta vez como editor estrangeiro de vários jornais soviéticos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Durante a maioria do período de 1936-40, Ehrenburg atuou na Espanha e França como correspondente de guerra para os jornal Izvestiya (trad. Notícias). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Em 1941 voltou à União Soviética, onde lançou <b>A Queda de Paris</b> - um amargo ataque ao Ocidente, ganhando em 1942 o Prêmio Stalin. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Logo após a morte de Stalin (1953), Ehrenburg lançou em 1954 a novela <b>O Degelo</b> (referindo-se ao período entre meado da década de 50 até princípio de 60, um novo tempo de liberalização política e cultural limitada). Essa obra provocou intensa controvérsia na imprensa soviética, e cujo título tornou-se descritivo daquele período na literatura soviética. Ela tratava da vida soviética de uma forma mais realista do que a literatura oficialmente aprovada do período anterior. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Nos anos seguintes, escreveu sua autobiografia no livro "<b>Pessoas, Anos, Vida</b>", onde discorreu sobre muitos tópicos (por exemplo, arte ocidental) e pessoas (por exemplo, escritores perdidos nos expurgos da década de 1930), material normalmente considerado impróprio para autores soviéticos. (No Brasil, essa obra autobiográfica foi publicada pela Editora Civilização Brasileira S.A. como <b>MEMÓRIAS</b>, em 6 tomos, com os seguintes títulos: I - Infância e Juventude; II - Os Primeiros Anos da Revolução; III - A Paz Armada: Os Primórdios do Nazismo; IV - A Europa Sob o Nazismo; V - A Guerra; VI - No entardecer da Vida.) Essa sua atitude acarretou censura oficial sobre ele em 1963, quando "o degelo" começou a reverter. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Mas Ehrenburg sobreviveu e continuou proeminente nos círculos literários soviéticos até sua morte em 1967.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><i>Fonte</i>: <a href="https://www.britannica.com/biography/Ilya-Grigoryevich-Ehrenburg">https://www.britannica.com/biography/Ilya-Grigoryevich-Ehrenburg</a> 👈<br /></span></div></div></div></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-81215597770781374342024-02-24T09:50:00.012-03:002024-03-02T05:08:13.842-03:00OS FILHOS DE CAIM<div><b><span style="font-size: x-large;">Por LUIZ RONCARI </span></b><p style="text-align: justify;"></p></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><blockquote> <br /></blockquote><blockquote><i>De forma explícita e direta será tratado um subtema que foi apenas esboçado na matéria anterior intitulada <b>A PALAVRA “JUDEU”</b>, por Rosetta Loy. Refiro-me ao poema "Abel e Caim", do capítulo Revolta, extraído de </i><b>As Flores do Mal</b><i>, por Baudelaire. O texto que aqui será reproduzido pode ser considerado uma recensão crítica (publicada originalmente na </i><b>Folha de São Paulo</b><i>, Caderno Especial, edição de 4/9/1995) do livro </i><b>OS FILHOS DE CAIM: Vagabundos e miseráveis na literatura europeia 1400-1700</b><i> por Bronisław Geremek (Tradução: Henryk Siewierski), São Paulo: Companhia das Letras, 1995, 372 p. Portanto, hoje damos continuidade à discussão iniciada no texto imediatamente anterior.<br /></i></blockquote><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj9C53WFnY7dRS6_tQzePJUuwb-HlSgOwOVfbCfQ6-oqrMDRU97dKT5581jGX5zjERBubWTdw8fxSEXX0WS9eFARdCo3t_51oiH35ryHQg5IIdOUsyp8-xkmKb2PNpa4ssL9S5Aj6TohGlFM13S26sIah8qXlCWrfjTabbq4cxoCwBEWpHY2Depw13KI0/s600/bartolom-esteban-murillo-the-young-beggar.JPG!Large.JPG" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="489" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj9C53WFnY7dRS6_tQzePJUuwb-HlSgOwOVfbCfQ6-oqrMDRU97dKT5581jGX5zjERBubWTdw8fxSEXX0WS9eFARdCo3t_51oiH35ryHQg5IIdOUsyp8-xkmKb2PNpa4ssL9S5Aj6TohGlFM13S26sIah8qXlCWrfjTabbq4cxoCwBEWpHY2Depw13KI0/w326-h400/bartolom-esteban-murillo-the-young-beggar.JPG!Large.JPG" width="326" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>O pequeno mendigo, de Bartolomé Esteban Murillo (1617-1682), óleo sobre painel, acervo do Museu do Louvre, Paris<br /></b></span></td></tr></tbody></table><br /><p> </p><div></div></div><p style="text-align: justify;">
<span style="font-size: medium;">No poema "Abel e Caim", do capítulo "Revolta" de "<b>As Flores do Mal</b>", Baudelaire expõe em dísticos, alternadamente, os destinos opostos das gerações de Abel e Caim. A raça abençoada de Abel goza de todos os benefícios materiais e morais da vida: dorme, come, bebe, tem as oferendas bem recebidas pelos anjos, é fecunda, produz e reproduz como os percevejos dos bosques, inclusive seu ouro, se aquece no lar patriarcal e até seus cadáveres são úteis, adubando o solo quente. A raça deserdada de Caim sofre todos os martírios dos malditos: chafurda no lodo, suas entranhas uivam de fome como um cachorro velho, treme de frio nas cavernas como o chacal, o coração queima de um amor perigoso e sua família se arrasta arquejada pelas estradas, condenada a um esforço infinito. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Nos dois últimos dísticos, o poeta para de descrever as situações contrastantes e passa a fazer projeções. Para a vergonha da raça de Abel, "Le fer est vaincu par l'épieu!", o ferro do arado da sua geração laboriosa é vencido pelo da espada dos nômades de Caim, invertendo a situação de ambos, como aparecem no "Gênese", Caim agricultor e Abel pastor. E a raça de Caim sobe ao céu "et sur la terre jette Dieu!". </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Seja nas exposições seja nos anseios, toda a simpatia e a solidariedade do poeta está com os deserdados de Caim, o que o aproxima dos românticos hugoanos, que enxergavam neles mais humanidade. Porém não é aí também que encontra identidade, os valores que lhe permitam a transcendência "d'un monde où l'action n'est pas la soeur du rêve". O poeta agora está só, o que o distancia deles. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Ao lado da dimensão simbólica dessa divisão dos homens, podemos enxergar também uma histórico-social, vendo na geração de Abel o burguês, o homem integrado e satisfeito: prolífico, virtuoso, honesto e, até possivelmente, belo; qualidades garantidas porém pela mesa farta e renda segura, tendo a posse como a base de sustentação das virtudes. A raça de Caim não se limita ao pobre destituído e explorado pelo novo sistema fabril, e a sua vitória final "o anúncio da vitória do proletariado revoltado", como interpreta o crítico </span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span><span style="font-size: medium;">. Seus deserdados são também prostitutas, criminosos, vagabundos e mendigos, mais próximos do lumpesinato <b>*</b> e da boêmia (os pobres "indignos" e "não-respeitáveis") do que do mundo do trabalho. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Para o poeta, a riqueza nas suas manifestações exteriores e morais divide e separa os homens, e o que o comove é o olhar da pobreza diante dela. Olhar inquietante e revelador, capaz de surpreender uma humanidade composta de seres tão diferentes e iguais ao mesmo tempo, como podemos observar em "Le Joujou du Pauvre", "Les Yeux des pauvres", "Assommons les Pauvres!" e outros, nos "Pequenos Poemas em Prosa". Seus "filhos de Caim" são aqueles que ficam de fora, à margem, na contramão da vida social corrente e não participam da festa e da hipocrisia comum do mundo burguês. Pertencer ou não ao universo do trabalho não é tão importante quanto afrontar e negar com seu modo de vida os termos da convivência postos pela modernidade. Nesse sentido, o dândi e o "flâneur" equivalem aos vagabundos e miseráveis. A atitude do poeta de solidarizar-se, colocar-se ao lado deles e acompanhá-los na recusa só foi possível no século 19, com as profundas repercussões que conhecemos para a poesia. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No período estudado por Geremek, de 1400 a 1700, o termo "filhos de Caim" não tem o sentido positivo, subjetivamente dado pelo poeta, invertendo-o segundo seus próprios critérios e a partir de uma visão muito pessoal do mundo (porém global, pois todos os homens participam de uma ou de outra categoria). <span style="background-color: #f4cccc;">"Filhos de Caim" é o nome que a tradição deu a um grupo relativamente definido de pessoas: vagabundos, mendigos, vigaristas, ladrões e bandidos, e o traço comum é o de não participarem de uma das duas pontas do processo de trabalho, a dos esforços da produção, embora sejam quase todos ávidos pela posse dos resultados e benefícios. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #f4cccc;">Não é à toa que se recorra muitas vezes aos ratos para a sua representação, não tanto pelo aspecto asqueroso dos bichinhos, como pelo lugar muito singular que ocupam no mundo animal. Nem permaneceram selvagens, mantendo-se afastados dos campos cultivados e cidades, nem se deixaram domesticar como cachorros e gatos, firmando um contrato de troca e convivência com o homem. Os ratos concentraram-se nas margens dos espaços ocupados, nem fora nem dentro, nos interstícios fronteiriços e subterrâneos, onde podiam se esconder e de onde podiam aproveitar os dejetos e os descuidos da civilização que os repelia. Desse modo, "o marginal" (sem o sentido pejorativo que a palavra tem para nós) não é aquele que se coloca fora de uma sociedade que recusa, mas o que se mantém nas bordas, numa posição que lhe permite participar da melhor maneira do que ela produz, contanto que não pelo trabalho.</span> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #f4cccc;">O objeto de estudo de Geremek não é portanto o pobre</span>: o camponês, o servo, o artesão ou as camadas ditas populares das sociedades tradicionais europeias, aqueles que representam as raízes de sustentação da sociedade, como aparecem no admirável sonho alegórico de Simplex, no "Simplicius Simplicissimus", do século 17, de Grimmelshausen: “A raiz da árvore era feita do povo miúdo, artesãos, mecânicos, camponeses sobretudo e outras pessoas negligenciáveis. E entretanto eram eles que comunicavam à árvore a força e a vida, e rejuvenesciam sua seiva, à medida que ela se consumia...” </span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span><span style="font-size: medium;">. <span style="background-color: #f4cccc;">O “marginal” de que trata o autor é também muito distinto dos excluídos da ordem atual.</span> Enquanto estes são resultantes de um desenvolvimento econômico e tecnológico perversos, que, ao invés de criar novos postos de trabalho permitindo a integração, reduzem e expelem para as periferias sociais cada vez mais pessoas, nas sociedades tradicionais estudadas por Geremek dá-se justamente o contrário: as determinações dos poderes estão sempre voltadas para a assistência caritativa e a coação ao trabalho; as legislações, como as Poor Laws inglesas, e as ações, como a marcação a ferro e a fustigação, têm sempre em vista reprimir “a vadiagem” do pobre e forçá-lo ao trabalho. São formações com orientações e dinâmicas opostas que criam deserdados de naturezas muito distintas: uma que desqualifica e desemprega, e outra que obriga e sujeita. Não tem sentido perguntar qual a pior. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Mas a preocupação do livro não é com a história social. Ele está mais voltado para uma história das representações, um estudo das imagens que produziram determinados grupos capazes de expressão de outros, que não gozaram das mesmas condições: aqueles que não tiveram voz nem meios na história. É esta perspectiva que leva o autor a se utilizar da literatura para o estudo da história, entendendo-se bem que sua preocupação não é com o fato social ou a verdade do fato, mas com a refração do objeto na representação e expressão de um sujeito pertencente a um outro campo social. De outro modo, <span style="background-color: #f4cccc;">como os filhos de Abel viram e representaram os filhos de Caim</span>, ou, nas palavras do autor: “...tais representações integravam a cultura e a literatura da elite, e que foram absorvidas pelas elites sociais como produtos das elites intelectuais” </span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>³</b></span></span></span></span><span style="font-size: medium;">. Segundo a representação feita por alguém estranho, quando não hostil, ao objeto representado, o preconceito contamina o meio onde a imagem se refrata, o que a deforma num alto grau. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A escolha do objeto e a orientação da pesquisa </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> as imagens literárias dos vagabundos e miseráveis </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> mereceriam uma discussão quanto a sua produção de sentido e ao resgate de valores (como o foi para Bakhtin estudar a cultura popular da Idade Média e do Renascimento, o sistema de imagens do baixo e do grotesco, na literatura de Rabelais, um dos trabalhos-guia do autor). Em “Os Filhos de Caim”, o leitor com frequência sente-se olhando para um vazio axiológico e fica se perguntando sobre suas motivações e o que extrair dali, já que Geremek trabalha apenas na reconstituição das imagens, sem revelar outra dimensão que pudesse alterar a visão a respeito do sujeito estudado. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Ele ainda enfrenta duas dificuldades que mereceriam ser discutidas, mas que só poderemos enunciar aqui. A primeira é quanto às fontes, que incluíam obras efetivamente literárias, como poemas, novelas e romances, e outras que só tinham algum valor literário, como crônicas e narrativas de observação </span><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴</b></span></span></span><span style="font-size: medium;">, ou eram simples relatórios, panfletos, documentos judiciais, éditos etc. São fontes onde a convenção e a observação, o preconceito e a informação nova se combinam de modos e com pesos muito distintos e dão às imagens naturezas também diversas. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Geremek porém tem o devido cuidado e mantém sempre muito discernimento nas interpretações e análises. É um dos melhores méritos do autor, para a satisfação do leitor alheio à área historiográfica, que espera sempre pegar o historiador na curva. A segunda, ligada à anterior, é quanto à relação e combinação dos estudos históricos com os literários, aproximação ao mesmo tempo fecunda e perigosa. É o modo de reunião desses dois campos no livro que parece mais problemático, gerando muitas vezes um sentimento de indefinição (e insatisfação): por um lado, é muito reduzido o seu olhar sobre o objeto histórico-social na realidade empírica, o que faz com que o referente perca em densidade </span><span style="font-size: large;"><b>⁵</b></span><span style="font-size: medium;"> e não se mostre com outras facetas que foram obscurecidas pelos contemporâneos; e, por outro, ao procurá-lo na literatura, “excelente espelho da consciência social” (pág. 10), “como num espelho côncavo” (pág. 8), não tem como não reduzir agora a literatura a essa função de espelhamento, na sua procura pela imagem </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> “spectrum”, dando muitas vezes a impressão do autor estar caçando fantasmas </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;">, sem compreendê-la integrada ao todo da forma literária. Dificuldades e perigos porém de que Geremek tem clareza e que o faz atravessar com habilidade os riscos das fronteiras. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>II. NOTAS EXPLICATIVAS</b></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span><span style="font-size: medium;"> <b>Baudelaire</b>, Charles. “Oeuvres Complètes”, Paris, Robert Laffont, 1980, pág. 957, nota à pág. 91 </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>*</b> <b>Nota do gerente do blog</b>: Para uma exposição do lumpesinato, o leitor pode servir-se da Wikipedia, por exemplo: <i>Link</i>: <a href="https://www.soescola.com/glossario/lumpesinato-o-que-e-significado">https://www.soescola.com/glossario/lumpesinato-o-que-e-significado</a> 👈 </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Além disso, há um trecho muito elucidativo na <b><i>Introdução</i></b> de <b>Os Filhos de Caim</b>..., por Geremek, que merece ser reproduzido aqui por sua importância (pp. 8 e 9): </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;"><i>Quando a</i> <b>Ópera dos mendigos</b><i>, de John Gay, foi apresentada nos palcos de Londres no século XVIII decifraram-se esses dois planos (o do pobre, por um lado, e o do marginal, por outro) e evidenciaram-se claras alusões aos governantes da Inglaterra.
Em 1927, quando a peça voltou aos palcos de Londres, as alusões haviam perdido todo o seu peso mas os dois planos continuavam funcionando: além do exótico, da brincadeira e dos dramas de amor reduzidos a uma dimensão caricatural e anã, o público captou também a imagem das forças ameaçadoras que cresciam nas classes sociais baixas, forças que rejeitavam os princípios da ética e anunciavam a queda da ordem social dominante. Nas vésperas da ascensão do nazismo ao poder, em 1928, Bertolt Brecht retomou a obra de Gay e a sua</i> <b>Ópera dos três vinténs</b> <i>começou a triunfar nos palcos alemães (depois o dramaturgo alemão fez uma adaptação romanceada e atualizada da peça). De acordo com a concepção de Brecht, Macheath na peça de John Gay</i> (<i>Mack the Knife</i> em inglês, <i>Mackie Messer</i> em alemão ou <i>Mackie, o Punhal</i> em português) <i>devia ser uma personagem burguesa. A obra tinha por objetivo atacar a complacência, para não dizer a simpatia, dos burgueses em relação aos bandidos, provando a falsidade da opinião de que estes nada têm a ver com aqueles e de que o burguês não pode ser bandido. Mas quando no final do segundo ato são pronunciadas as palavras de Mackie (abreviado para Mac): </i></span></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Pois de que vive o homem? Tão-somente </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">De maltratar, morder, matar como um animal insano, </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">E tendo se esquecido inteiramente </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">De que ele próprio é um ser humano </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: medium;">o público encontra nelas não apenas a acusação de que o domínio da burguesia se baseia na contravenção e a provoca, mas também uma negação do sistema vigente de normas e comportamentos. O coro final da Ópera dos três vinténs exprime isso diretamente: "Primeiro o pão, depois a moral". Numa atmosfera de grande expectativa, em que o clima tenso parecia anunciar uma catástrofe para o sistema social vigente, as classes baixas surgiam como algo ainda mais ameaçador; aparentemente eram elas que estavam destinadas a assumir o leme do futuro. Em termos de repercussão sobre o público, a </span></i><span style="font-size: medium;"><b>Ópera dos três vinténs</b></span><i><span style="font-size: medium;"> funcionava não só no plano da associação do mundo da contravenção à sociedade burguesa, mas também </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> e talvez sobretudo </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> no plano da identificação dos esfarrapados como a força que destruiria aquela sociedade e à qual pertencia o futuro. Na peça, um modo de vida anti-social se ligava a uma negação consciente da ordem social e das normas da convivência coletiva.</span></i><span style="font-size: medium;"> (...)”</span><span style="font-size: medium;"> <br /></span></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Finalmente, observe que </span><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;"><i>o texto da</i> <b>Ópera do Malandro</b> (1978) <i>de Chico Buarque é baseado na Ópera dos Mendigos (1728), de John Gay, e na Ópera dos Três Vinténs (1928), de Bertolt Brecht e Kurt Weil.</i> (...)</span><span style="font-size: medium;">”</span><span style="font-size: medium;">, conforme Nota (em que o próprio autor referencia a fonte do texto) no livro </span><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;">Ópera do malandro</span><span style="font-size: medium;">”</span><span style="font-size: medium;"> por Chico Buarque de Holanda, São Paulo: Círculo do Livro, 1978, p. 17.<br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span><span style="font-size: medium;"> <b>Grimmelshausen</b>, Johann Jacob. “<b>Les Aventures de Simplicius Simplicissimus</b>”, Alençon, Aubier, 1988, col. bilíngue, págs. 116 e 117 (t. do a.). Ou os círculos externos de cor preta, na alegoria da mesma família, de Gonçalves Dias, que representa a sociedade brasileira como as circunferências concêntricas provocadas por uma pedra lançada no lago, no diálogo “Meditação”, ficando no centro, como os círculos menores, “um punhado de homens” de cor branca </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>³</b></span></span></span></span><span style="font-size: medium;"> <b>Geremek</b>, Bronis</span><span style="font-size: medium;">ł</span><span style="font-size: medium;">aw, <i>op. cit.</i>, pág. 302. Sobre a relatividade desses pressupostos, ver a “Introdução” do livro de Gertrude Himmelfarb, “<b>La Idea de La Pobreza: Inglaterra a Principios de La Era Industrial</b>”, México, FCE, 1988, em especial pág. 25 </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴</b></span></span></span><span style="font-size: medium;"> Entre estes, para um estudo equivalente da mendicância e marginalidade no Brasil, é uma fonte interessante, não pelo que contém de observação, mas como visão “ilustre” do preconceito, que combina com piedade gosto pelo pitoresco e medidas repressivas, o livro de Mello Moraes Filho, “<b>Factos e Memórias - A Mendicidade do Rio de Janeiro. Ladrões de Rua. Quadrilhas de Ciganos...</b>”, Rio de Janeiro, H. Garnier, 1904 </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>⁵</b></span><span style="font-size: medium;"> Ver o livro notável de Gertrud Himmelfarb, acima citado, onde ela articula de modo exemplar a história social com a história das ideias no estudo do tema </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>III. BIBLIOGRAFIA</b></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b> </b></span></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>LOY</b>, Rosetta: </span><b>A PALAVRA “JUDEU”</b><span style="font-size: medium;">, correspondente ao primeiro capítulo traduzido pelo gerente do Blog do Braga e publicada em 22/02/2024</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://bragamusician.blogspot.com/2024/02/a-palavra-judeu.html">https://bragamusician.blogspot.com/2024/02/a-palavra-judeu.html</a> 👈 </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2024/02/colaboradora-rosetta-loy.html">https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2024/02/colaboradora-rosetta-loy.html</a> </span><span style="font-size: medium;">👈</span><span style="font-size: medium;"> </span></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>B</b></span><span style="font-size: medium;"><b>UARQUE</b>, Chico: <b>Ópera do malandro</b>, </span><span style="font-size: medium;"> São Paulo: Círculo do Livro, 1978, 248 p.</span><span style="font-size: medium;"><b> </b></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>GEREMEK</b>, Bronisław: <b>OS FILHOS DE CAIM: Vagabundos e miseráveis na literatura europeia 1400-1700</b> (Tradução: Henryk Siewierski), São Paulo: Companhia das Letras, 1995, 372 p.<br /></span></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>RONCARI</b>, Luiz: <i><b>O universo marginal</b></i>, São Paulo: Folha de S. Paulo, edição de 04/09/1995<br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/9/04/caderno_especial/16.html">https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/9/04/caderno_especial/16.html</a> 👈</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/9/04/caderno_especial/17.html">https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/9/04/caderno_especial/17.html</a> 👈<br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> <br /></span></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-61346305359999747192024-02-22T10:01:00.003-03:002024-02-22T18:54:23.160-03:00Colaboradora: ROSETTA LOY <div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span>Por Francisco José dos Santos Braga</span></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><b><span> </span></b></span></div><i> </i></div><div style="text-align: justify;"><i><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixVMzfbxSLhhFcjuy7gQEmPChWHjCgMbBVTFnT5_7iahLW6-tMmE5AOKAqUkFo8QpbpB-QT8vMkfyL5qhclC4tEeA_jBkh1FdtJZYXk-AFtJaDo9rSkge-1ajIbpLqO99wmNKOZEExD50F5AAVPa3TlA9gEoaXvEr7J7_9nrFhgAUnzprrTyJ3tCoSCak/s249/Rosetta_Loy.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="249" data-original-width="240" height="249" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixVMzfbxSLhhFcjuy7gQEmPChWHjCgMbBVTFnT5_7iahLW6-tMmE5AOKAqUkFo8QpbpB-QT8vMkfyL5qhclC4tEeA_jBkh1FdtJZYXk-AFtJaDo9rSkge-1ajIbpLqO99wmNKOZEExD50F5AAVPa3TlA9gEoaXvEr7J7_9nrFhgAUnzprrTyJ3tCoSCak/s1600/Rosetta_Loy.png" width="240" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Rosetta Loy / Crédito: Wikipedia<br /></b></span></td></tr></tbody></table></i><span style="font-size: medium;"><b>ROSETTA LOY</b> (nascida em Roma em 15/05/1931 e falecida aos 91 anos de idade na mesma cidade, em 01/10/2022) é uma romancista italiana que pertence à <i>generazione degli anni Trenta</i>, junto com outros grandes nomes da literatura italiana. Ela é autora de vários romances e ganhou vários prêmios literários.<br /> <br /></span><span style="font-size: large;"><b>Biografia</b></span><span style="font-size: medium;"><br /><br />Rosetta Loy é uma escritora italiana, nascida em Roma em 1931, a caçula de uma família de quatro filhos, um menino e três meninas. Seu pai era um engenheiro piemontês e sua mãe, de Roma, trabalhava com ele. Começou a escrever aos nove anos, mas o seu desejo real de escrever manifestou-se por volta dos 25. Após sua estreia com o romance <b>La bicyclette</b> (1974), que lhe rendeu o prêmio Viareggio Opera Prima, ela escreveu vários romances, incluindo <b>Le strade di polvere</b>, publicado pela primeira vez por Einaudi em 1987 e republicado em 2007. Graças a este livro, ela ganhou muitos prêmios literários, como o prêmio Campiello no ano da primeira publicação, o prêmio Supercampiello, o prêmio Viareggio, o prêmio Città di Catanzaro e o prêmio Rapello no ano seguinte e, finalmente, o prêmio Montalcino dois anos depois. O romance conta a história de uma família de Montferrat (Itália) no final da era napoleônica, nos primeiros anos da Unidade Italiana.<br /><br />Entre suas outras obras, destacamos La porta dell'acqua 1976 (2001), <b>La cioccolata da Hanselmann</b> 1995 (1996), Nero è l'albero dei ricordi, l'azzura l'aria (trad. Preto é a árvore das memórias, o azul o ar 2004 (2007)), que historicamente se situou entre 1941 e os anos sessenta. Seu principal mérito foi lidar com histórias relacionadas com a guerra e as convulsões que ela provocou. <br /><br /></span><span style="font-size: large;"><b>Suas obras contra o holocausto</b></span><span style="font-size: medium;"><br /><br />Rosetta Loy é uma daquelas autoras que podem ser definidas como escritores "da memória", no sentido a que se refere a Marcel Proust, mas não só. A importância das suas memórias pessoais e familiares, a beleza da evocação das suas alegrias e dores da infância, da adolescência e dos acontecimentos da sua vida, quase sempre se sobrepõem às memórias de um passado histórico coletivo, muito maior e mais complexo. É um enredamento, uma mistura contínua a fundir, a ponto de confundir, a memória individual, que revive incessantemente nas suas obras, com a memória muito mais composta e articulada da história, do passado comum. A sua memória é, portanto, também uma história social e moral, é uma ética que ensina e adverte, mas, acima de tudo, é um assumir responsabilidades, como afirma a autora romana, que todos devem cumprir. Ela demonstra um profundo compromisso em manter viva a memória do Holocausto, um compromisso consubstanciado pela primeira vez em seu livro <b>La parola ebreo</b> (ou "Madame Della Seta também é judia", seu título francês), um romance enfocando o tema das leis raciais na Itália, e depois em um segundo romance, <b>La cioccolata da Hanselmann</b>. Reforçando ainda mais seu compromisso de denunciar o esquecimento da história, ela também escreveu uma carta de acusação, publicada no jornal <b>La Repubblica</b>, na qual condena veementemente o atual esquecimento dos horrores da perseguição aos judeus durante o período do <i>Ventennio Fascista</i> (ou duas décadas fascistas), considerando o esquecimento ser um crime, muito fácil e um ato estúpido. “<i>Esquecemos por preguiça e porque é confortável</i>”, diz Rosetta Loy, reafirmando mais tarde na entrevista a importância de saber o que aconteceu no passado, já que a memória, ela garante, continua sendo “<i>a única forma que temos de distinguir o lugar. onde vivemos, é uma bússola que nos permite orientar. Esquecer o horror da perseguição anti-semita deste século e seu fim terrível pode ser muito perigoso. É como ser míope e jogar fora os óculos.</i>" <br /><br /><b>La parola "ebreo" (ou Madame Della Seta aussi est juive, em francês)</b><br /><br />Este livro ainda é considerado um dos romances mais amados de Rosetta Loy hoje. Escrito em 1997, foi publicado pela Einaudi. A história começa em 1938, quando Mussolini lançou a campanha anti-semita na Itália. O drama que se desenrolava é confrontado com a inércia da família burguesa da autora, que não havia manifestado qualquer tipo de desacordo, embora sem endossar a linha política do fascismo. As razões para tal atitude residem na permanência de um clima complacente em relação à força política emergente por parte de uma burguesia que não havia compreendido todo o alcance da política de Mussolini. Também aqui, Rosetta Loy apresenta-nos as memórias de uma infância doce e inocente, que inevitavelmente se entrelaça com as memórias muito mais amargas e perturbadoras criadas pela sombra premente da Segunda Guerra Mundial. É também uma descrição linear de imagens gravadas em sua memória, as imagens dos rostos de pessoas que de repente, por causa do decreto fascista, apareceram como outras pessoas, pessoas novas e diferentes que diante de seus olhos, os de uma criança, tornam-se apenas perseguidos, perdendo quase completamente sua humanidade. Neste livro, a infância e a vida cotidiana sobreviveram ao abrigo da história, longe dos horrores e da tragédia da guerra. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A autora foi capaz de reconstruir habilmente essa trágica era crucial com a ajuda de cartas, discursos e declarações de época, nas quais nem mesmo a diplomacia do Vaticano, na pessoa de Pio XII, foi capaz de resistir: opor-se às barbáries nazistas. A memória individual e a memória coletiva se sobrepõem (elemento característico das narrativas de Rosetta Loy), revelando os nós de um dilema histórico e moral. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">David Bidussa definiu-o como um pequeno grande livro cidadão, Cesare Segre e Furio Colombo também expressaram muito entusiasmo em relação a este romance, definindo-o, respectivamente, como sendo, </span><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;"><i>não um ato de acusação, mas um exame admirável de consciência”,</i> e<i> “um livrinho inédito, escrito com aparente simplicidade</i>”.<br /><br /><b>La cioccolata da Hanselmann</b> <br /><br />É o segundo romance escrito por Rosetta Loy e baseado no tema da perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. A história, na verdade, se passa durante os anos 30 e gira em torno das aventuras de um jovem cientista judeu, cujas duas meias-irmãs, Isabella e Margot, estão apaixonadas. Uma história de amor que se passa tendo como pano de fundo um refúgio tranquilo na Suíça, onde a tragédia dos horrores da guerra é mais uma vez retratada, desta vez olhando também para a tragédia da perseguição racial. O livro foi publicado em 1997 pelas edições Rizzoli. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> <br /><i>Crédito</i>: <i>Link</i>: <a href="https://pt.frwiki.wiki/wiki/Rosetta_Loy">https://pt.frwiki.wiki/wiki/Rosetta_Loy</a></span><i><span style="font-size: medium;"> 👈<br /></span><br /> </i></div><div style="text-align: justify;"></div></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-73218345242776054042024-02-13T09:39:00.008-03:002024-02-17T06:36:56.873-03:00UMA CARTA DE TIRADENTES<div><br />
</div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: x-large;">Por OSWALDO H. CASTELLO BRANCO</span></b></div><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcvCN0XuIetV-mit6aM8GzGzQ-9CEgqYg1zq2Ia5sAHzv6w4ts7dyMpzsapu0ddhForkKgrMN-_jZci8G_lI65HAy-ZTzhybqMp5kEd9kTUd6u0H0fdEPb7LEWmRklIFdzgQsVrzCZZ-1CWAwFcrjjUAyDkXEuyEmn5N3RtzBAiwtXBvVjPblljS2fzOI/s640/IMG_3618.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="441" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcvCN0XuIetV-mit6aM8GzGzQ-9CEgqYg1zq2Ia5sAHzv6w4ts7dyMpzsapu0ddhForkKgrMN-_jZci8G_lI65HAy-ZTzhybqMp5kEd9kTUd6u0H0fdEPb7LEWmRklIFdzgQsVrzCZZ-1CWAwFcrjjUAyDkXEuyEmn5N3RtzBAiwtXBvVjPblljS2fzOI/s320/IMG_3618.jpg" width="221" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Mapa com Palmira </b></span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span><span style="font-size: x-small;"><b> em destaque, cedido por Arquivo Público Mineiro<br /></b></span></td></tr></tbody></table><br /> </span></div><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><b>OS DRAMAS DA ZONA DA MANTIQUEIRA</b></span><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Do <b><i>Livro do Tombo</i></b>, da Paróquia de São Miguel e Almas recolhemos o seguinte registro: “Em 1783, ao tempo do Governador Dom Rodrigo de Menezes, o povoado de João Gomes e as circunvizinhanças foram infestados por quadrilhas de salteadores, que não só atentavam contra os viandantes, arrancando-lhes o dinheiro e outros valores, mas também a própria vida. O coronel José Ayres Gomes, o inconfidente de João Gomes, com o seu irmão João Ayres, coadjuvados pelo alferes Joaquim José da Silva Xavier, conseguiram desbaratar os bandoleiros, após muitas lutas; há muitas lendas e alguns documentos.</span><span style="font-size: medium;">”</span><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Richard Francis Burton, em seu livro <b>Viagens ao Planalto do Brasil</b>, em 1868, registrou a respeito dos assaltantes da zona da Mantiqueira, o seguinte (transcrito do livro <b>A Igreja em Barbacena</b>, do historiador Nestor Massena, à p. 85): </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;"><i>A palavra Mantiqueira também escrita e pronunciada</i> <b><i>Mantiquir</i></b><i><b>a</b></i> <i>ainda não foi interpretada. É geralmente traduzida como</i> <i><b>ladroeira</b>;</i> <i>supõe-se que seja uma gíria local. Alguns derivam-na de</i> <i><b>manta</b>, capa de lã, e, em sentido figurado,</i> <i><b>ardil e trapaça</b></i>. <i>No início da primeira metade do século corrente, era um nome terrível como ainda são os de Apenino e Abruzos. Os antigos viajantes estão cheios de lendas sobre os seus bandidos e os tropeiros ainda tremem ao ouvir as narrações em torno do fogo do acampamento. Os bandidos costumavam laçar as suas vítimas e atirar os cadáveres devidamente despojados dos diamantes e da areia aurífera, nos mais fundos desfiladeiros e barrancos. </i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Diz uma tradição que um desses cemitérios foi revelado por uma árvore de crescimento muito rápido e que ostentava um cetim como se fora um fruto. O guarda asseverou-se que, quando se construiu a nova estrada, encontraram-se tesouros em vários lugares. As maltas mais famosas nos últimos anos eram chefiadas por um célebre "Chefe Guimarães", português 'altamente respeitável' de Barbacena. Mais ou menos em 1825, ele e seu amigo íntimo, o cigano Pedro Espanhol morreram na cadeia. Outro personagem na tragédia foi o padre Joaquim Arruda, homem rico e bem relacionado nesta parte da província,</i> <i><b>Fidus Achates</b></i> </span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span><span style="font-size: medium;"><i>, que estava sempre ao lado deste</i> <i><b>Fra Diavolo</b></i> </span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>³</b></span></span></span></span><span style="font-size: medium;"><i>, um certo Joaquim Alves Saião Beiju, geralmente chamado <b>Beiju</b></i> (<i>beiju</i> <i>é um bolo feito de farinha de mandioca</i>). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>O reverendo Arruda</i> <i>(<b>Ruta graveolens</b></i> </span><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴</b></span></span></span><span style="font-size: medium;"><i>) acabou mal, em 1831, após cerca de sete anos de próspera vilania. Auxiliado pelos seus ciganos, fugiu da prisão, escondendo-se numa caverna perto de São José do Paraíba e foi morto a bala pelo destacamento que o perseguia. </i></span></div><div style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: medium;">A Mantiqueira está agora despojada dos seus terrores e os seus píncaros de azul nitente são lindos de se apreciar.</span></i><span style="font-size: medium;">”</span><span style="font-size: medium;"> <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Conceição Jardim, outra cronista da vida barbacenense, em seu livro <b>Barbacena</b> (1941) também registra a ocorrência ao longo do Caminho Novo, nesta região. Transcrevemos das páginas 18 e 19: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“<i>Nesta zona, as façanhas por demais trágicas da célebre quadrilha Serra da Mantiqueira infestavam o Caminho Novo no alto da serra, tornando-o realmente perigoso e, por isso, um tanto abandonado. Foi o Coronel José Ayres Gomes encarregado pelo Governador da Capitania, Dom Rodrigo José de Menezes, de descobrir, perseguir e prender os terríveis salteadores que inspiravam romances capazes de rivalizar com os dos filmes americanos dos nossos dias. </i></span></div><div style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: medium;">Neste momento surge a figura simpática do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que foi o auxiliar de José Ayres Gomes no arriscado empreendimento. </span></i></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Conseguiram juntos, depois de várias diligências e de numerosas batidas pelas matas, que eram naquele tempo espessas e, portanto, ótimos esconderijos, descobrir corpos de vítimas e também prender vários celerados e cúmplices que foram enviados debaixo de segura escolta para Vila Rica, onde receberam o devido castigo.</i>” <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A ocorrência foi por demais grave e resultou na criação de uma Companhia de ordenanças. Não nos furtamos de arrolar mais um brilhante testemunho, o da intelectual Cordélia Andrés, em belíssimo artigo, intitulado "<i><b>Mantiqueira</b></i>", publicado na imprensa de Juiz de Fora: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“<i>A Mantiqueira foi o palco das mais variadas aventuras. Quem conhece a história sabe que de todas a que mais se tornou lendária foi a da quadrilha da Mantiqueira, descoberta em 1783, em tempo de Dom Rodrigo de Menezes. </i></span></div><div style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: medium;">É um trágico, longo e bem documentado episódio, que felizmente depois de muitas lutas acabou por se extinguir. </span></i></div><div style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: medium;">A Mantiqueira foi passagem que se usou para busca do ouro... Quanta peleja, quanto sofrimento... mas também quanta riqueza por esta via! </span></i></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Mas o que mais me enternece é ter sido ela o último caminho transposto pelos Inconfidentes.</i>”</span> <br /></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;">UMA CARTA DE TIRADENTES </span></b></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Recolhemos do <b>Estado de Minas</b>, edição de 21/04/1947, na seção “Velhas Páginas Mineiras”, a seguinte carta de Tiradentes, escrita da Mantiqueira, sobre os assaltos que desbaratou: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“Ilmo. Exmo. Sr. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Com toda a submissão e respeito, vou pôr na presença de V. Excia. que, indo na diligência da fatura do caminho, tive notícia de que acharam uns boiadeiros três corpos no alto da Mantiqueira, e indo eu logo averiguar desse acontecimento, achei o coronel José Ayres Gomes com doze pedestres que andavam à procura do corpo de José Antônio de Andrade, que certamente com fervor buscava por V. Excia. o encarregar dessa diligência; e me disse o dito Ayres que dera a V. Excia. parte do exame que fez dos ditos corpos; e ajuntando-me eu com o dito Tenente Coronel andamos a bater matos e achamos mais uma sepultura no mesmo córrego onde se achavam os outros, da outra parte da estrada; e desenterramos os corpos e achamos um negro e um cão e o corpo do dito José Antônio Andrade; o qual pondero que por permissão divina com o seu corpo inteiro, sem mais lesão nenhuma que uma cicatriz de uma facada no peito e na testa o buraco de um perdigoto com seis bagos de chumbo; vestindo uma casaca azul forrada de encarnado, que vestia salpicos com cercadura e calção de ganga; e um maço de papéis já podres que não se divisa letra alguma; mas o corpo do dito se conhecia tão perfeitamente, como se fosse morto dentro de dois dias; o qual trouxemos, mais um negro se deu sepultura no dia dezenove. Januário Vaz que tinha assistido por confissão do mesmo a doze mortes; os quais estão enterrados em vários sítios na estrada desde o alto da Mantiqueira até os pinheiros e diz o dito que ele e os companheiros andam nestes insultos há quatro anos, e que ainda outra quadrilha mas que ele não sabe quem são; e assim mostra ser, porque na averiguação que fizemos achamos um celim muito velho que se pondera aí estar há mais de dois anos e de outros trastes que achamos em vários sítios, por dentro do mato como foi o celim d'El Rei que remeto; mais duas selas e duas bestas mortas; e não demos com as sepulturas por serem já antigas. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Também confessa o cabra que há pouco tempo matou um homem gordo e dois negros que tiraram duas canastras e acharam bastante cabedal; e por pesar muito carregaram com a besta para o campo José Galvão e Joaquim de Oliveira; ponderamos ser um cambaio de Goiás que se sumiu e dizem que trazia mais de quarenta mil cruzados. Estes acontecimentos, Senhor, têm atemorizado tanto os tropeiros e viandantes do caminho, que fazem parar na Borda do Campo </span><span style="font-size: large;"><b>⁵</b></span><span style="font-size: medium;"> e no Registro até terem número bastante para seguirem; o mesmo fazem os que vêm debaixo da Mantiqueira com medo de ser roubados e com temor daquele passo. E para desterrar o povo do horror daqueles sítios providenciei com o Tenente Coronel José Ayres Gomes quatro soldados auxiliares para andarem a um pago da patrulha, girando todos os dias determinadamente desde o alto da serra até sair do campo para assim facilitar aos comerciantes o seu giro até V. Excia. providenciar como for o mais útil. Também mandei logo uma parada do alferes Simão da Silva Pereira, com a lista dos delinquentes, para este fazer expedir ordens para todos os registros de guarda para os prender no caso deles por lá passarem, tudo por ordem de V. Excia. Também fiz logo marchar o furriel Domingos Antônio com dois soldados em direitura da Picada de Goiás, a fim de prender o dito Galvão e o Joaquim de Oliveira que são os capatazes para ver se surpreendemos algum dinheiro da verba. No entanto, os mesmos auxiliares que andam no alto da Mantiqueira com o soldado vieram fazendo a obrigação da busca; e eu tirei o furriel da guarda e os soldados para os acompanharem pela necessidade exposta e ser esta diligência do empenho. Quanto aos outros, o mesmo Tenente Coronel, com ardor e zelo, tem dado as providências para se pegarem; <span style="background-color: #f4cccc;">e para se reparar esses roubos e mortes acho que só pondo um destacamento no alto da Serra da Mantiqueira com dois soldados e um cabo e quatro pedestres para girarem do alto ao campo.</span><span style="background-color: #f4cccc;"> É o que de presente tenho para pôr na presença de V. Excia.</span>, cuja pessoa aos céus solicito guarde por muitos anos para mandar em quem é de V. Excia. súdito mais obsequioso, venerador e criado. </span></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">Joaquim José da Silva Xavier <br /></span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">Borda do Campo, 19 de abril de 1783”</span> <br /></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;"> </span></b></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;">A CONDENAÇÃO DE TIRADENTES
</span></b><span style="font-size: small;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Comandante do destacamento de tropas que guarneciam o Caminho Novo, o alferes Joaquim José da Silva Xavier tinha por missão impedir a ação dos malfeitores que infestavam a Serra da Mantiqueira. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Em vista disso, Tiradentes frequentemente pernoitava na estalagem da Varginha do Lourenço, localizada a pouca distância de Ouro Branco. Esta estalagem se constituiu num importante centro de conspiração do movimento liderado por Tiradentes. Os acórdãos e a sentença de condenação de Tiradentes determinaram que neste local fosse colocado em um poste um dos quartos do Alferes. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">De fato, a escolta mandada pelo Vice-Rei foi deixando no Sítio das Cebolas </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> próximo à Vila da Paraíba, na Capitania do Rio de Janeiro </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> o primeiro quarto, e nas duas maiores povoações do Caminho Novo, Arraial da Igreja Nova (Barbacena) e Carijós (Lafaiete) os outros dois quartos, enquanto que o último era fincado no Sítio da Varginha, junto à estalagem.</span><b><span style="font-size: large;"> </span></b></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;"> </span></b></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;">CRIAÇÃO DE UMA COMPANHIA DE ORDENANÇAS</span></b> </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #f4cccc;">A carta de Tiradentes, datada de 1783, teve grande repercussão, tanto assim que o governo da Capitania, em 1798, </span><span style="background-color: #f4cccc;">também atendendo representação de autoridades de Barbacena</span><span style="background-color: #f4cccc;">, determinou a criação de uma Companhia de Ordenanças</span>, conforme memorial e documento que, pela primeira vez, é trazido a público, mediante cópia tirada de próprio punho, pelo saudoso e memorável historiador, Desembargador Múcio de Abreu e Lima, que nos confiou um magnífico documento que é do teor seguinte: </span></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;">CRIAÇÃO DE UMA COMPANHIA DE ORDENANÇAS NO </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">DISTRITO DA CAPELA DE SÃO MIGUEL E ALMAS DO </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">CAMINHO NOVO DO RIO DE JANEIRO</span> </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Bernardo José de Lorena, do Conselho de sua Majestade Governador e Capitão General da Companhia da Capitania de Minas Gerais.
Faço saber aos que esta minha carta pertence virem que, atendendo à representação que me foi feita pelo Capitão Mor e Oficiais da Câmara da Vila de Barbacena, comarca do Rio das Mortes, da necessidade que havia de se criar e estabelecer uma Companhia de Ordenanças em o Distrito da Capela de São Miguel e Almas do caminho do Rio de Janeiro, e tendo também consideração a que na pessoa de Gonçalo Gomes Martins concorrem os requisitos necessários para exercer o posto de Capitão da referida Companhia, por ser um dos propostos na forma das ordens pelos ditos Oficiais da Câmara, com assistência do Capitão Mor das ordenanças dela, Manoel de Sá Fortes Bustamante Nogueira, esperando dele que em tudo o de que for encarregado do Real Serviço se haverem com pronta satisfação das suas obrigações e pela faculdade de que Sua Majestade me permite no cap. 19 do reg. dos Governadores para o provimento dos semelhantes postos: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Hei por bem criar, estabelecer a sobredita nova Companhia de Ordenanças do Distrito acima mencionado, provendo como com efeito provo no Posto do Capitão delas o dito Gonçalo Gomes Martins, a qual Companhia se compõe de sessenta soldados com seus competentes oficiais, sendo obrigado a requerer a sua Majestade pelo seu Conselho Ultra Marinho confirmação do mesmo posto dentro em dois anos, que correrão desta em diante, pena de ficar sem efeito e se lhe dar baixa assim como a residir sempre no Distrito desta Companhia debaixo da mesma pena, tudo debaixo das reais Ordens, e exercerá o dito posto enquanto se houver por bem e a sua Senhoria não mandar o contrário com o qual não se receberá soldo algum, mas gozará de todas as honras, graças, privilégio, liberdade e isenções e franqueza que em razão dela lhe pertencem. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Pelo que o Capitão Mor das Ordenanças do termo da dita Vila lhe dará posse e livramento aos Santos Evangelhos na forma da legislação e ordens e o conheça por Capitão da mencionada Companhia do Distrito, como o trate, honre e estime e da mesma forma os Oficiais e soldados dela que em tudo lhe obedecerão e cumprirão suas ordens de palavras prontamente como devem e são obrigados. E por firmeza de tudo lhe mandei a presente por mim assinada e selada com os selos de minhas armas que se cumprirá inteiramente como nela se contém, registrando nos livros da Secretaria deste governo, no da matrícula geral, Câmara respectiva e onde mais tocar. José Vicente Pinto a fez. Dada e passada em Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto, a 27 de abril do ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1798. Pedro de Araújo Azevedo, secretário do Governo a fiz. Bernardo José de Lorena.”</span></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: right;"> (Códice S.G. 283, fls. 60 verso. Arquivo Público Mineiro) </div><div style="text-align: right;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Fonte</i>: <b>CASTELLO BRANCO</b>, Oswaldo Henrique: <b>Uma cidade à beira do Caminho Novo</b>, pp. 30-35.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span> <br /></div><div style="text-align: left;"> </div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;">II. NOTAS EXPLICATIVAS</span> <span style="font-size: large;">por Francisco José dos Santos Braga</span></b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹ </b></span></b>De <b>Apontamentos para o Dicionário Geopolítico do Brasil de 1884</b>, por Alfredo Moreira Pinto:</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;"><b><i>PALMYRA</i></b>. Palmyra está situada na encosta do morro do Cruzeiro, cercada de morros, banhada pelo ribeirão das Posses, afluente do Rio Piau, atravessada pela Estrada de Ferro Central do Brasil, a 175 km distante da Capital Federal, 55 de Barbacena, 40 de Juiz de Fora, 820m de altura do nível do mar.</span><span style="font-size: medium;">” (<i>Idem</i>, <i>ibidem</i>, 68)</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Leis que dispuseram no passado os limites e nomes geográficos da localidade:<br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;">De simples distrito do município de Santo Antônio do Paraibuna (atual Juiz de Fora) foi, com o nome de <b>Arraial de</b> <b>João Gomes</b>, incorporada esta povoação no município de Barbacena pelo art. 01 </span><span face="arial, sans-serif" style="-webkit-text-size-adjust: auto; -webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; caret-color: rgb(77, 81, 86); color: #4d5156; display: inline; float: none; font-size: 14px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: auto; text-align: left; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;">§ II </span><span style="font-size: medium;">da
Lei Provincial nº 665, de 27 de abril de 1854, desmembrada da freguesia
de Chapéu D'Uvas e incorporada à cidade de Barbacena, pelo art. 5º </span><span face="arial, sans-serif" style="-webkit-text-size-adjust: auto; -webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; caret-color: rgb(77, 81, 86); color: #4d5156; display: inline; float: none; font-size: 14px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: auto; text-align: left; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;">§ II </span><span style="font-size: medium;">da lei 1.265, de 19 de dezembro de 1865; elevada à categoria de Paróquia (de São Miguel e Almas de João Gomes), pela lei nº 1.458, de 31 de dezembro de 1867, à de Vila com o nome de <b>Palmyra</b>, pelo Decreto nº 3.712, de 27 de julho de 1889 e à de cidade pelo de nº 25, de 4 de março de 1880. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Foi instalado o município a 15 de fevereiro de 1890. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Decreto nº 10.447, de 30 de julho de 1932 (do venerando estadista Olegário Maciel, em homenagem ao imortal brasileiro Alberto Santos Dumont, nascido no seu território em 20 de julho de 1873), o município de Palmyra passou a se denominar <b>Santos Dumont</b>.</span><span style="font-size: medium;">” (<i>Idem</i>, <i>ibidem</i>, 70)<br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;">Locução latina que significa "o fiel Acates", fiel amigo de Eneias, amigo para todas as horas. <i>Fonte</i>: Virgílio, <b>Eneida</b>, VI, 158.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>³</b></span></span></span></span><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;">"<i>Fra Diavolo</i>" é um termo italiano que significa "irmão diabo". Também é o título de uma ópera cômica famosa do compositor francês Auber, a partir de um libreto de seu habitual colaborador, Eugène Scribe. Ela se baseia na vida do líder de guerrilha e militar napolitano Michele Pezza, ativo na Itália meridional no período de 1801 a 1810, a quem apelidavam "Fra Diavolo".<br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴</b></span></span></span><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;">A espécie <i>Ruta graveolens L</i>. é uma planta de origem francesa, pertencente à família das Rutáceas, conhecida popularmente como <i>arruda</i>. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>⁵ </b></span><span style="font-size: medium;">A fazenda da Borda do Campo é uma propriedade em cujas terras surgiu a Freguesia de Nossa Senhora da Piedade, no atual município de Barbacena. Pela Lei Provincial nº 2.799, de 30/10/1881, foi criado o distrito de Borda do Campo e anexado ao município de Barbacena. <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Em 1749, a Coroa Portuguesa concedeu a carta de sesmaria da Fazenda Borda do Campo para José Ayres Gomes. A fazenda ainda mantém a capelinha erguida para Nossa Senhora da Piedade em estilo típico das construções bandeirantes além da casa grande e sua senzala, já do século XVIII. José Ayres Gomes foi um dos mais ricos dos Inconfidentes que, por conta da participação na conspiração contra a Coroa Portuguesa, foi deportado para Moçambique, onde morreu esquecido. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Pela Borda do Campo, circularam vários dos Inconfidentes, a exemplo de Joaquim José da Silva Xavier. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Mais tarde, a fazenda recebeu outros convidados ilustres como Dom Pedro II e o Patriarca da Independência José Bonifácio de Andrada.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Hoje é propriedade da família dos Andrada, integrando o município de Antônio Carlos. </span></div><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: medium;"><b></b></span></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b><br /></b></span></div><p><span style="font-size: large;"><b>III. AGRADECIMENTO</b></span> <br /></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span><span>O gerente do Blog de São João del-Rei agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos utilizadas neste texto.</span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span><span> </span></span></span></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>IV. BIBLIOGRAFIA</b></span><span style="font-size: medium;"><br /><br /><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>CASTELLO BRANCO</b>, Oswaldo Henrique: <b>Uma cidade à beira do Caminho Novo</b>, Petrópolis: Editora Vozes, 1988, 296 p.<br /><br /><b>FONSECA</b>, Luiz Mauro Andrade: <b>O arraial e o distrito de João Gomes (História Antiga de Santos Dumont-Minas Gerais)</b>, Barbacena: Centro Gráfico e Editora, 2013, 269 p.<br /> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i><b>História da Paróquia e Matriz de São Miguel e Almas</b></i><br /><i>Link</i>: <a href="https://www.saomiguelsd.com/historia_da_paroquia.html">https://www.saomiguelsd.com/historia_da_paroquia.html</a> 👈</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>IBGE</b>: <i><b>Histórico e Formação Adeministrativa de Barbacena</b><br /></i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/barbacena/historico">https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/barbacena/historico</a> </span><span style="font-size: medium;">👈</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><br />Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-23506372693377319152024-02-13T09:31:00.014-03:002024-02-15T16:45:47.995-03:00Colaborador: OSWALDO H. CASTELLO BRANCO<div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span>RESUMO AUTOBIOGRÁFICO PELO PRÓPRIO AUTOR DE "UMA CIDADE À BEIRA DO CAMINHO NOVO"</span></b></span></div><i> </i></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgU9wDQLSNHbh6o6KwzOPQCJsjhddX6_bu6lfF37BczAfe803KanGRg7QNIEGqqwzX-fVZZ8y_YCZmkthaAtMxwHUVZGHDpDTpNZLY6E-JP7mye6zkNfe6VhbLGvHoqC8Ml44Pn2wiUTnQRy0xiTsNpaj3-n9zU9yhnOQl5wFLspiret5TSd9eL5KrBmII/s640/150%20anos%20de%20Alberto%20Santos%20Dumont,%20um%20inventor%20para%20a%20humanidade%20-%20Culturadoria.png" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="346" data-original-width="640" height="173" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgU9wDQLSNHbh6o6KwzOPQCJsjhddX6_bu6lfF37BczAfe803KanGRg7QNIEGqqwzX-fVZZ8y_YCZmkthaAtMxwHUVZGHDpDTpNZLY6E-JP7mye6zkNfe6VhbLGvHoqC8Ml44Pn2wiUTnQRy0xiTsNpaj3-n9zU9yhnOQl5wFLspiret5TSd9eL5KrBmII/s320/150%20anos%20de%20Alberto%20Santos%20Dumont,%20um%20inventor%20para%20a%20humanidade%20-%20Culturadoria.png" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Crédito: Simone Moreira (foto de arquivo)</b></span><br /></td></tr></tbody></table>Nasci aqui mesmo, na terra natal de Santos Dumont, em 1906. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">São meus pais Pedro Athanagildo Castello Branco, velho ferroviário, como Agente da Estação local por muitos anos, e Emerenciana Angélica Castello Branco. Estudei no Ginásio Mineiro, na Serra, em Belo Horizonte. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Comecei a trabalhar na Companhia Gráfica Palmira e no Grupo Escolar "Vieira Marques" como professor da Escola Noturna. Em 1927 ingressei na direção do jornal <b>Palmira</b> (1927) que depois de 1930 passou a chamar-se <b>O Sol</b>. Em 1929 fui designado Diretor da Secretaria da Prefeitura. <span style="background-color: #f4cccc;">Redigi o memorial do Prefeito Jacques Pansardi ao Presidente Olegário Maciel, sugerindo a denominação de Santos Dumont para o então município de Palmira, levado em mãos ao Presidente pelo Dr. José Vieira Marques, do que resultou o Decreto 10.447, de 30 de outubro de 1932.</span> Ingressei na Secretaria da Fazenda, como Coletor Estadual de Santos Dumont em 1938, função que exerci até 1963, quando fui aposentado. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Fui admitido como funcionário da Companhia Brasileira Carbureto de Cálcio em 1963, tendo trabalhado nesta grande empresa até 1978.
Em companhia dos saudosos Antônio Fagundes Netto e Dr. Juvenal Pinto, <span style="background-color: #f4cccc;">estive, no segundo dia após a morte de Santos Dumont, pela primeira vez, na Casa de Cabangu, onde recolhi precioso documentário deixado por Santos Dumont, com o qual foi possível organizar o atual precioso Museu da Casa Natal de Santos Dumont.</span>
(N.B.: Material referente ao herói Santos Dumont está no seu livro nas pp. 207-263)</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-tDDgy0P0tG4zWjHvjv8Ig9ITGBktffTpNw-PJT2FMShBPv_hyphenhyphenz27h7_FQO16GTjsKWEU8ghiOECZcjDtoJg6v-OEXMstDDS-W6kUFyAJRyUDpk00smXyJyK1wQovDdh4XRfZBRiYQ2h-bTBwBP0IC_gnkrsCq0jT4uUyRQodm03xrSap9vxg3R7N51U/s1170/Corte-certo-para-o-site.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="648" data-original-width="1170" height="221" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-tDDgy0P0tG4zWjHvjv8Ig9ITGBktffTpNw-PJT2FMShBPv_hyphenhyphenz27h7_FQO16GTjsKWEU8ghiOECZcjDtoJg6v-OEXMstDDS-W6kUFyAJRyUDpk00smXyJyK1wQovDdh4XRfZBRiYQ2h-bTBwBP0IC_gnkrsCq0jT4uUyRQodm03xrSap9vxg3R7N51U/w400-h221/Corte-certo-para-o-site.png" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Casa em que nasceu Santos Dumont, em péssimo estado de conservação, visitada por Oswaldo H. Castello Branco, quando secretário do prefeito Jacques Gabriel Pansardi. "Quando (meu pai) lá chegou, estava tudo revirado. Pessoas já tinham invadido", afirma Tomás Castello Branco, ex-presidente da Fundação Casa de Cabangu. - Crédito: Simone Moreira / Link: </b><a href="https://culturadoria.com.br/150-anos-de-alberto-santos-dumont-um-inventor-para-a-humanidade/">https://culturadoria.com.br/150-anos-de-alberto-santos-dumont-um-inventor-para-a-humanidade/ 👈<b><br /></b></a></span></td></tr></tbody></table></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9MswNmIH1fBs7dsRNa7HJZCqlU3mMiPdolsjrk_v8avcqXWUEItue-03Rl-DTmg35KY9XvfRDtG5DveG07HL2DNAYwhgoHT6iozFGDRaXfYZRTTigQcV6F-_OnwNnr58iPuQHzK5W9pxHiTLtN3z8HTC6FRhXeP26kH9vFwXCLQjivxgszztB4_i8ZBo/s640/museu-cabangu2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="428" data-original-width="640" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9MswNmIH1fBs7dsRNa7HJZCqlU3mMiPdolsjrk_v8avcqXWUEItue-03Rl-DTmg35KY9XvfRDtG5DveG07HL2DNAYwhgoHT6iozFGDRaXfYZRTTigQcV6F-_OnwNnr58iPuQHzK5W9pxHiTLtN3z8HTC6FRhXeP26kH9vFwXCLQjivxgszztB4_i8ZBo/w400-h268/museu-cabangu2.jpg" width="400" /></a></div><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Museu Cabangu, em Santos Dumont-MG. Em 1973, o Museu Casa de Cabangu foi inaugurado na casa da fazenda onde Santos Dumont nasceu. "Papai pedia ajuda às pessoas para manter aquela casa em pé. Ele chegou a tirar telhas de nossa moradia para substituir as que tinham sido quebradas por uma árvore la na Fazenda de Santos Dumont", lembra Tomás Castello Branco. - Crédito: <i>Link</i>: </b><a href="http://turismo.santosdumont.mg.gov.br/museu-cabangu">http://turismo.santosdumont.mg.gov.br/museu-cabangu</a> 👈<br /></span></td></tr></tbody></table><br /></span><span style="font-size: large;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>II. BIBLIOGRAFIA</b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>CASTELLO BRANCO</b>, Oswaldo Henrique: <b>Uma cidade à beira do Caminho Novo</b>, Petrópolis: Editora Vozes, 1988, p. 7.<br /></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><span style="font-size: medium;"><b>MOREIRA</b>, Simone: <i><b>150 anos de Alberto Santos Dumont, um inventor para a humanidade</b></i>, Santos Dumont (MG): Projeto Culturadoria em rede </span><span style="font-size: medium;"> <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span><i>Link</i>: <a href="https://culturadoria.com.br/150-anos-de-alberto-santos-dumont-um-inventor-para-a-humanidade/">https://culturadoria.com.br/150-anos-de-alberto-santos-dumont-um-inventor-para-a-humanidade/</a> </span><span>👈</span></span></div><span style="font-size: medium;"> </span></div></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-29062755931202677042024-02-10T06:48:00.001-03:002024-02-10T06:55:42.925-03:00DUZENTOS ANOS DE UM SONHO DE SÃO JOÃO BOSCO<div><br />
</div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: x-large;">Por João Bosco de Castro Teixeira</span></b></div><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> <div style="text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3bfIEIooBy8kSYSJIP4Mm4u5wtRo8iJqJL4yTOt1uZ_QQw0HpfTkr-6jOj_-6vZPWCxfLN9Ix7Q3fCQjYVJ9mVzwbe11vsilI4Sq_lbfIGJuOb-nQH43h0Wt5Q1u1w-v355auAFP7hKKE2nj6-u1CJUbBfAoeKltA_A-xahjZ_Ws2Fs0MtirjjvZCPvA/s530/o%20sonho%20de%20dom%20bosco.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em;"><img border="0" data-original-height="425" data-original-width="530" height="321" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3bfIEIooBy8kSYSJIP4Mm4u5wtRo8iJqJL4yTOt1uZ_QQw0HpfTkr-6jOj_-6vZPWCxfLN9Ix7Q3fCQjYVJ9mVzwbe11vsilI4Sq_lbfIGJuOb-nQH43h0Wt5Q1u1w-v355auAFP7hKKE2nj6-u1CJUbBfAoeKltA_A-xahjZ_Ws2Fs0MtirjjvZCPvA/w400-h321/o%20sonho%20de%20dom%20bosco.jpg" width="400" /></a></div></span><span style="font-size: x-small;"><b>O sonho dos 9 anos - Crédito: </b><i>Link</i>:<b> </b><a href="http://denisdutramarques.blogspot.com/p/os-sonhos-de-dom-bosco.html">http://denisdutramarques.blogspot.com/p/os-sonhos-de-dom-bosco.html</a> 👈<b><br /></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O Fundador da Congregação Salesiana, São João Bosco, foi uma pessoa dotada de características peculiares. Uma delas, ter encontrado nos <b>sonhos</b> respostas, caminhos e soluções para as muitas peripécias que a vida se lhe apresentava. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Certa época da vida, quando já sacerdote, relatou a seus colaboradores um <b>sonho</b> que tivera em sua adolescência. Um sonho cujos conteúdos tornaram-se emblemáticos para a missão que, </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> entendia </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;">, lhe estava reservada. “<i>Um sonho que me ficou profundamente impresso na mente por toda a vida</i>”. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Singela e resumidamente o que ele narrou para seus colaboradores foi o seguinte:</span></div><div style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: medium;">Vi-me num prado onde multidão de meninos se divertia. Diante das blasfêmias que proferiam, pus-me no meio deles, agredindo-os com socos. Nisso, vi um homem venerando que, chamando-me pelo nome, me disse: “Não é com pancadas, mas com a mansidão e a caridade que deverás ganhar esses teus amigos”. Dirigi-me àquele senhor: quem sois para me ordenar coisas impossíveis, dado que sou menino pobre e ignorante? O senhor falou-me: “Eu te darei a mestra, sob cuja orientação poderás tornar-te sábio, orientação sem a qual toda sabedoria se converte em estultice”. Apareceu-me, em seguida, uma senhora de aspecto majestoso que me tomou pela mão. No lugar dos meninos que haviam fugido, apareceram cabritos, cães, gatos, ursos e outros animais. A senhora falou-me: “Eis o teu campo onde deves trabalhar. Torna-te humilde, forte e robusto. E o que agora vês acontecer a esses animais, deves fazê-lo aos meus filhos”. Os animais ferozes haviam se transformado em mansos cordeiros. Comecei a chorar copiosamente quando, então, a senhora descansou a mão em minha cabeça dizendo: </span><span style="font-size: medium;"> “</span></i><span style="font-size: medium;"><i>A seu tempo tudo compreenderás”.</i> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Independentemente do que sejam os sonhos, das inúmeras indagações possíveis sobre esse “oráculo da noite”, o fato é que para São João Bosco o sonho, tido na adolescência, tornou-se referência obrigatória para sua atividade pedagógica no meio da juventude. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Dom Bosco entendeu qual seria sua missão. Entendeu também quais princípios deveriam orientar seu trabalho. Antes de qualquer outra coisa, intuiu que a essência do processo educativo se dá com a <b>presença/relação</b>. Sem esta, nada acontece, pois só a “relação” educa. Uma relação <b>racional</b>, sem espaço, por exemplo, para o castigo. Uma relação <b>carinhosa</b>, em que o educando sinta que é amado. E uma relação <b>espiritual</b>, da qual não se elimina a transcendência do existir. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Os Salesianos estão comemorando os “duzentos anos” desse sonho, porque acreditam que, ainda hoje, mesmo com os tempos mudados, a <b>presença/relação</b> do educador ao lado do educando é, no processo educativo, não só fator insubstituível como constitui seu fator chave de sucesso. E os seguidores de Dom Bosco sabem que a salesianidade não se dá sem a presença entre os jovens. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Dom Bosco entendeu, pois, o que dele esperava a Divina Providência. Mais ainda: levou toda uma vida dedicada aos jovens segundo os princípios educativos colhidos daquele sonho. Um sonho luminar que inspirou o assim chamado “<b>sistema preventivo na educação da juventude</b>”. Preventivo no sentido de o educador ser capaz, com a presença/relação, de se antecipar aos desejos, às aspirações, às necessidades dos educandos. Do meu ponto de vista, uma maneira de ser educador com absoluta validade para nossos dias tão conturbados. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Duzentos anos de um SONHO que apontou para São João Bosco, e seus seguidores, a maneira de ser <b>graça</b> para os jovens em <b>des-graça</b>. </span></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-14872864959999137362024-02-09T09:34:00.004-03:002024-02-12T16:00:04.840-03:00OS ÚLTIMOS DEZ MESES DE FREI METELO GEEVE o.f.m. (11/07/1908-18/05/1978)<div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span style="font-size: large;">Por</span> <span style="font-size: large;">freis Jordano Noordermeer, Seráfico Schluter e Helano van Kloppen o.f.m.</span></b></span></div> </div><br />
<div style="text-align: justify;"></div></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><i><span style="font-size: small;">Esta necrologia, originalmente publicada pela Revista da Província Franciscana de Santa Cruz no Brasil, Ano XLIII, nº 2, 1978, faz parte do acervo do saudoso Gil Amaral Campos, ex-aluno do Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei, que me foi cedido por seu filho, Bruno Braga Campos, residente em São Paulo-SP.<br /></span></i></blockquote><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB_-lx1PVKTaG_ZtsqTJWuZiKZLVaByMzx-PC6d2F_B6o00oQoFjIbRoc0IeE8Ikw66fjeQONQpPC2c1REdood6vEsmoroTDEveWse-JWIrrB8pzliWPJO4McjLAwuFMv9eRYmX6npt1dHULtkokQ20g-gFo1EiKBDQiTeqTeeOaAgedLAZmehFroBy-I/s640/IMG_3508.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="410" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB_-lx1PVKTaG_ZtsqTJWuZiKZLVaByMzx-PC6d2F_B6o00oQoFjIbRoc0IeE8Ikw66fjeQONQpPC2c1REdood6vEsmoroTDEveWse-JWIrrB8pzliWPJO4McjLAwuFMv9eRYmX6npt1dHULtkokQ20g-gFo1EiKBDQiTeqTeeOaAgedLAZmehFroBy-I/w256-h400/IMG_3508.jpg" width="256" /></a></div><br /> <p></p><blockquote><i></i></blockquote></div><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: medium;">FREI METELO (Anthony Geeve) nasceu em Rotterdam, que é o porto mais movimentado da Europa: daí o "perpetuum mobile" deste rotterdamense. Em 1924 ele foi ser nosso colega no seminário S. Francisco Solano já em seu quarto ano de formação de futuros missionários franciscanos na célebre Sittard. Quantos desses estudantes vieram para o Brasil! E muitos deles ainda bem vivos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">"Toon" (Toninho) não era craque de futebol como Celestino, Rafael, Aristides ou Sam (=Luiz Carlos) do time campeão invicto, nem tão musical quanto eles (menos o Raf), mas no palco era dos melhores, tanto para representar quanto para confeccionar e pintar bastidores, quadros e roupas. Era bom estudante, piedoso, alegre, animado e assim não houve problemas para ser aceito para o noviciado em Hoogeruts a 7-9-1930. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Depois dos dois anos de Filosofia, primeiro ano de Teologia, ordens menores e a profissão solene, veio ele com diversos colegas para Divinópolis a 29 de novembro de 1934. Depois do subdiaconato (27-10-1935) e do diaconato (11-6-1936), recebeu ele o sacerdócio das mãos de Dom Inocêncio Engelke o.f.m. a 25-10-1936. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No fim de 1937 completou seus estudos e logo em 1938 foi para Taquari como assistente. Em 1939 veio para Carlos Prates: coadjutor de frei Zacarias. Em dezembro de 1940 voltou para Taquari, agora como ecônomo do seminário. Em 1941 foi nomeado vigário de Cavalcante com sua matriz em prolongada construção; todo o movimento paroquial ainda era na cripta. Já em 1942 é vigário de Divinópolis. Além de outros merecimentos como Bom Pastor e animador do movimento religioso com suas boas irmandades, foi ele o fundador de "A Semana", agora já em seu 36º ano de existência. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Depois dessa peregrinação como "pau de toda obra", chegou Metelo finalmente em 1945 ao Colégio "Santo Antônio", onde com pequena interrupção em Pará de Minas, passou o resto de sua vida como padre espiritual, professor e pastor volante, e desde 1966, por cima de tudo isso, como Assistente Eclesiástico do Quartel. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Sua primeira função em São João era Padre Espiritual, já apreciado pelos alunos e colegas como pregador do retiro dos internos em 1944, enquanto Helano pregava para os externos. Além de aulas de Religião, foi ensinar espanhol, Química e História Natural. Por sua capacidade e vontade de distribuir os seus vastos e profundos conhecimentos e dons artísticos (autodidata!), disse uma vez um confrade: "Este homem devia ter vivido no século XV: teria sido um rival de Leonardo da Vinci!" </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Sua paixão era a História Natural. Basta ver o material que ele ajuntou: livros, material didático, etc., em grande parte ganhos de seus parentes. Era professor cem porcento. Sabia entusiasmar seus alunos pelo método áudio-visual. Vejam seus grandes cartazes e quadros da Biologia, etc.; obras de mestre de desenho e pintura, com tanta paciência, executando tudo até nas menores particularidades. Vejam os seus gráficos e esquemas de Química... perfeição de monge artista medieval. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Há muito mais: suas coleções de Química e Biologia que sem falta usava no fim de cada mês para repassar a matéria. Seus selos... para as missões: uma coleção enorme. Ele mesmo, marceneiro, fazia as gavetinhas para conservá-los cuidadosamente. Verdade é que ultimamente não tinha mais coragem para olhar tudo isso. Isso se dava também na correção das provas bimensais. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZ9qYhlK6vtdFF86Ggm_Aeu0FWFJQbGEboOxZeoja33y9BoxDoW9WCnv94ScZ9WShJZ4q34Bh8t6LWBebITBSHPHG0jIgLX9ANsVGYjAm38VSN9ERl7ydjl0F1Uz5BpZz-nGTADugzK5Kfp7wCWmDHuO1d2T-NlOjV4t0oCdJO5zEUBRK0nEE9MO3k_w4/s640/IMG_3552.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="485" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZ9qYhlK6vtdFF86Ggm_Aeu0FWFJQbGEboOxZeoja33y9BoxDoW9WCnv94ScZ9WShJZ4q34Bh8t6LWBebITBSHPHG0jIgLX9ANsVGYjAm38VSN9ERl7ydjl0F1Uz5BpZz-nGTADugzK5Kfp7wCWmDHuO1d2T-NlOjV4t0oCdJO5zEUBRK0nEE9MO3k_w4/w304-h400/IMG_3552.jpg" width="304" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Quadro de Formatura dos formandos de 1951- Paraninfo: Frei Metelo Geeve (na primeira fila superior, última foto à direita) - Legenda: "NA SINFONIA DA VIDA"- Crédito: Luiz Antônio Ferreira (in memoriam)<br /></b></span></td></tr></tbody></table><br /> <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Como bom marceneiro, Metelo compunha modelos de provas que como lembranças eram oferecidos pelo Colégio aos concluintes de cursos. Ele mesmo ajudava os marceneiros e lhes dava orientação técnica, reservando para sua própria responsabilidade os detalhes mais complicados. Nisso ele provava que de fato sabia manejar as ferramentas como profissional competente. Qualquer modelo ou lembrança em madeira tinha seu significado simbólico. Diversas plantas de igrejas e ainda de um convento têm a assinatura dele. Em 1953, quando frei Osório, em Visconde do Rio Branco, tinha de remodelar em convento uma construção, iniciada como Casa de Retiros pelos Vicentinos, veio frei Metelo para dar e desenhar seus palpites e cálculos para o que hoje é o convento de Santo Antônio. Ele desenhava as plantas que eram examinadas por algum arquiteto para sair depois conforme as exigências oficiais com os exatos cálculos de concreto. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Sua vida de franciscano-sacerdote-mestre era marcada por outra trilogia de idealismo-abnegação-caráter. Esse franciscano-sacerdote-mestre foi perseverante, com todas as consequências, nessa caracterização de sua vida. A essas três normas de sua vida </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> idealismo-abnegação-caráter </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> deve ser atribuído o fato de que muitas vezes parecia um homem mal-compreendido. Mas persistiu... nada para si, mas sempre solícito e prestimoso para os outros, mesmo que estivesse cansado ou indisposto. Não adiantava insistir nele para cuidar de si mesmo. Às vezes ficava até nervoso ou perdia a paciência quando a gente indagava pela sua saúde. Mais cedo, porém, ou mais tarde teria de vir a explicação que ele mesmo deu: "Tenho calado e escondido muita coisa!". Ele se esgotava totalmente para os outros e nem todo mundo podia compreender isso, o que às vezes podia causar equívocos, ao menos quando a gente percebia que ele mesmo estava mal. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">É bem verdade o que nas exéquias dizia um orador ex-aluno: <i>“Frei Metelo não viveu setenta anos, mas cento e quarenta</i>”. Ele serviu-se de sua vida para os outros, todas as horas do dia e até uma ou duas horas da madrugada, pelo que os confrades muitas vezes meneavam a cabeça. Não queria saber de jeito nenhum de que às vezes acordava pelas duas horas da madrugada, sentado na sua cadeira; nem que às vezes fazia uma sonequinha depois do almoço. Nos últimos anos já não escondia que alguma vez dormia a sesta. Pudera! </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">E como era mesmo o seu jeito de trabalhar? No tempo que não tínhamos ainda um carro, corria ele para os seus doentes de bicicleta com uma enorme penca de chaves tinindo que fazia gosto. Visitava muita gente: pessoas desorientadas, casais, cujo casamento ameaçava naufragar, agonizantes na derradeira hora; atendia confissões e consolava aqui e acolá. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Mais tarde, quando já tínhamos uma kombi, fazia ele tudo motorizado. Mas então corria tanto que os guardas bem o queriam obrigar a parar e intimidar a diminuir a marcha, mas chamar atenção de um frade...?! Parece um rapaz novo...! De kombi fazia Metelo também muitas compras para o convento e resolvia muitos outros problemas, dando jeito em horas de aperto. Ele era conhecido na cidade toda... "Aquele frei de quepe". Bem assentava nele seu apelido: “<i>rápido atrasado</i>”. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Além de tudo isso ainda vinha o seu trabalho no quartel... de graça! Celebrar missas todos os domingos e dias santos; dar conferências sobre assuntos, previamente indicados pelas autoridades castrenses, todas as semanas; e sempre dar assistência aos soldados em seus problemas; e ainda tomar parte em todos os atos oficiais e conferências especiais para os oficiais. Quem na cidade não conhecia o modo garboso do Capelão militar Metelo fazer continência? Ultimamente dava assistência também aos escoteiros. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Nas férias do Colégio, em vez de descansar, ia pregar retiros e missões. Assim, por exemplo, aconteceu em 1952, quando ele como mestre e Acário, Conrado, Frederico e Seráfico pregaram missões em Cavalcante de 2 a 13 de julho. O trabalho foi muito: além das pregações e conferências, catecismo, confissões e missas, foi feita visita domiciliar em todas as casas de todos os bairros: umas 2.000 visitas, 95 legitimações, 1.400 confissões e umas 2.200 comunhões (S.C. 1952, p. 155 ss.). E assim fez em muitos outros lugares. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Durante muitos anos, como frei Jordano nos informa, “<i>ele tomou conta dos alunos doentes e da farmácia. E para os confrades doentes, particularmente frei Norberto e Adolfo, mostrou ele incansável. Aliás, incansável mostrava-se sempre: pronto a qualquer hora, para qualquer pessoa. O bom enfermeiro, porém, estava ficando ele mesmo bem doente." <br /></i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Nos últimos dez anos (aqui fala frei Seráfico) <i>“a gente percebia que ele não dava mais conta de muita coisa. Espiritualmente ele continuava cem porcento, aliás assim continuou até o fim. Mas o cansaço ele não mais o conseguia controlar como antes, com café forte para poder ficar acordado mais tempo. Faz uns anos, foi em 1974, que ele foi internado num hospital por uns quinze dias: falta de oxigênio no cérebro, como ele mesmo diagnosticava. Do Dr. Diomedes conseguimos que ele, em vez de uma semana só, ficasse internado ao menos uns quinze dias para dar-lhe ao menos um pouco de repouso. Depois de 15 dias, porém, tinha de ganhar alta sem falta, senão ficaria desconfiado. Depois ainda ficou em casa uma semana sem dar aula. </i></span></div><div style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: medium;">Daí para cá ele começou a dar motivos de nos preocupar. Quando nós ou gente da cidade lhe perguntávamos se não se sentia bem ou se o poderíamos ajudar em alguma coisa, era sua reação nada agradável para nós ou para as pessoas prestativas da cidade. Às vezes os próprios alunos vinham chamar-me durante a aula, porque frei Metelo estava debruçado com a cabeça sobre a mesa. Isso também se deu diversas vezes durante sua missa. Mas ninguém tinha coragem de tomar providências. A causa era, como Metelo explicava, que tomara algum medicamento um pouco atrasado e iniciara logo seu trabalho em vez de tirar ao menos uma meia hora de repouso. Que remédio...? contra o quê...? nunca o descobrimos.” <br /></span></i></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Em 1975, continua frei Seráfico, <i>“proibi-o certa vez de ir ao Colégio e então ficou em casa uma semana. Até que, no ano passado, ele se viu obrigado a consultar um médico em B.H. por causa da sua garganta. Como fiquei sabendo depois (eu estava na Holanda) o médico lhe prescreveu um mês de repouso absoluto, mas aqui em casa ninguém soube disso e nem nada percebeu do tal repouso. Tudo corria normalmente. A Comunidade ficou sabendo só depois que frei Jordano e frei Orêncio tiveram de levá-lo a B.H., porque ele não mais conseguia engolir. Então recebi na Holanda a notícia certa, como a recebeu também a família dele; e então sua irmã Cornélia veio comigo ao Brasil. ”</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Sobre os últimos dez meses, escreve frei Jordano: <i>“No primeiro semestre do ano passado </i></span><span style="font-size: medium;"><i></i></span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"><i> 1977 </i></span><span style="font-size: medium;"><i></i></span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"><i> podia-se perceber nele uma profundo cansaço, mas não diminuía sua atividade. Parecia que ele pensava: Aproveitemos os últimos anos para fazer a maior caridade possível e então posso entregar-me no campo de batalha. </i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Mas não era possível continuar assim, nem a pregar nem a sair para fora. De acordo com a opinião do médico, seria melhor alimentar-se por meio de uma sonda direta ao estômago, visto que o esôfago estava paralisado. Submeteu-se a essa intervenção cirúrgica. E, sem queixar-se aos confrades, sem mostrar-se impaciente por causa do estado dele, sem mostrar-se invejoso, viveu uns dez meses assim: descendo </i></span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"><i> na casa onde moram os freis em São João del-Rei </i></span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"><i> do segundo andar até a sala de recreio, umas seis vezes por dia para alimentar-se daquela maneira, tão sem sabor. Fez isso até segunda-feira, 15 de maio. Nestes dez meses ele se mostrou realmente um homem valente</i>.” <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Sobre esse mesmo período informa frei Seráfico: “D<i>urante todos esses meses, D. Isaura o assistia pacientemente e lhe preparava a comida, que ela sabia variar tanto que Metelo não teve anemia. Ela tratava também da roupa dele. O marido dela, o sr. Nilton, era muito prestativo, sempre pronto para qualquer coisa: ambos incansáveis todo esse tempo, grandes amigos. Todos os domingos participavam da missa de frei Metelo. Só Deus pode recompensar o quanto eles fizeram para o nosso confrade. </i></span></div><div style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: medium;">O moral de frei Metelo foi extraordinário, seu comportamento exemplar, corajoso, procurando continuar ativo e sempre otimista quanto ao futuro... "Quando acabar ao menos esta dor no meu braço, então..." Ele estava cheio de projetos e se mostrava muito grato por notícias do Colégio como também pelas visitas. Queria e conseguia também fazer muita coisa sozinho até fazer os curativos. Isso era muito bom, porque assim ficava bem disposto e animado. Mas essas dores de bursite (nevrite?) não paravam; resolveu-se então fazer aplicação de ondas curtas. Ele parou com isso uns dez dias antes de seu enlace, porque o resultado era nulo: agora concentrava-se sua esperança nas injeções.” <br /></span></i></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Ainda frei Seráfico: “<i>Assim veio o dia 15 de maio, uma segunda-feira. De manhã, como ele contou a D. Isaura, sua enfermeira, ao tentar evacuar, forçara demais e lhe parecia ter arrebentado alguma coisa. Eu fiquei sabendo esse pormenor bem depois. À noite, depois do recreio, quando eu ia dormir, ele me chamou e contou que duas vezes, ao tossir, tinha saído sangue, mas que agora já estava tudo controlado, pois na terceira vez veio sangue coagulado. </i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Por cautela telefonei ao médico, expliquei-lhe o caso; opinou ele que, se Metelo não tivesse febre, seria melhor fazer no dia seguinte uma radiografia; se estivesse com febre, ele veria imediatamente. Mas, como Metelo estivesse sem febre, foi possível esperar até o dia seguinte. Pelas 2h 30min me levantei para ver como ele estava passando. Metelo puxou seu braço direito para cima do cobertor, fazendo com seu dedão o sinal de tudo OK.</i>” <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No dia 16, 3ª feira, fomos à Santa Casa para fazer a radiografia; mas, porque então estava com febre, o seguraram lá. Metelo não queria saber de um apartamento melhor, porque "Eu fico aqui um dia só... estou com saudades de minha cama". Nesse dia o visitei três vezes. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No dia 17 voltei a visitá-lo. Ele estava muito cansado e exausto; de sua boca ainda saía sangue. Exames complicados decerto não aguentava mais. Diz frei Jordano que </span><span style="font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;"><i>Seráfico ainda conversou com Metelo e este tentava falar alguma coisa que Seráfico não conseguiu compreender. Então Metelo, sorrindo francamente, desistiu de fazer-se entender, como que quisesse dizer: "Está bem, o que vale tudo isso agora?...</i></span><span style="font-size: medium;">”</span><span style="font-size: medium;"> <br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Pelas 20 horas (de novo frei Seráfico)<i> “perguntei a ele o que pensava de receber o sacramento dos doentes no dia seguinte. Ele aceitou. Mas o médico, que vinha visitá-lo toda hora, falou com Metelo: "É melhor fazê-lo agora mesmo, não é, frei...?" Então chamei os colegas e ele recebeu a unção dos doentes. Metelo acompanhou as orações da cerimônia, o que se podia verificar nos lábios dele. No fim, ele agradeceu. O enfermeiro do quartel ficava sempre com ele.”</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No dia 18 (quinta-feira), às 7h 15min, o sr. Nilton telefonou informando que Metelo estava em estado de coma. Saímos para lá na mesma hora. Quando chegamos, comecei imediatamente as orações dos agonizantes. Depois fui para casa buscar um pijama e o hábito dele. Custou-me achar a chave do guarda-roupa dele. Quando voltei à Santa Casa, frei Metelo acabava de entregar sua alma a Deus, às 9 horas, na presença de frei Fagundes, D. Isaura e sr. Nilton e mais umas senhoras amigas. Ninguém suspeitava que Metelo nos fosse deixar tão depressa. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Naquela manhã, o P. Provincial estava saindo do provincialado para ir visitar o Metelo, quando veio um telefonema informando que Metelo estava em estado de coma. Então frei Diogo com frei José da Silva e outros confrades da Rua Pernambuco viajaram a São João, onde chegaram depois que Metelo acabara de morrer. No mesmo dia foram celebradas solenes exéquias, seguidas pelo enterro no cemitério de S. Francisco. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Nessa hora via-se claramente como Metelo era pessoa querida em São João. Foi enorme o comparecimento do povo às exéquias: fora da igreja tinha ainda mais gente do que lá dentro: superlotada. Oito coroas foram colocadas no seu sepulcro. Provas dessa simpatia geral são os inúmeros pedidos de alguma lembrança dele... de preferência de seu hábito. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A melhor lembrança de frei Metelo para nós todos podia ser a sua mensagem na Formatura do Colégio de 1951:<div style="text-align: justify;"></div></span></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><i> <span style="font-size: x-large;"><b>“</b></span></i><span style="font-size: x-large;">Ideal, renúncia, caráter na sinfonia da vida</span><span style="font-size: x-large;"><b>”</b></span><i>.<br /></i></blockquote></div><p></p><div style="text-align: right;">
São João - Visconde do Rio Branco (MG), 5-6-1978</div><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: medium;"><b></b></span></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b><br /></b></span></div><p><span style="font-size: large;"><b>II. AGRADECIMENTO</b></span> <br /></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span><span>O gerente do Blog de São João del-Rei agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos utilizadas neste texto.</span></span></span></div><div style="text-align: justify;"></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-66796861393802915722024-02-07T21:08:00.003-03:002024-02-09T06:20:15.044-03:00O LIVRO EM MINHA VIDA<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-size: x-large;"><b>Por JOSÉ CIMINO *</b></span></span></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"> </div><div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixuHYzz44TauLAZGYckPUxXlvy69xZpIIUb4rbBADJOL5-jBrzGQIwd0TMYThuRdly6SWgnpOXa8FY1AoksGha2uarTKqDYQVPTDxJfO2JL_DAFgZm3xjhyphenhyphenAPUCpSMEC_r3XTKuuMfa8h-VRDOITSx5WOPLNbmw1o_TlNgx8t34nUud9LBtA3lyXghujg/s1292/page0001.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1292" data-original-width="840" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixuHYzz44TauLAZGYckPUxXlvy69xZpIIUb4rbBADJOL5-jBrzGQIwd0TMYThuRdly6SWgnpOXa8FY1AoksGha2uarTKqDYQVPTDxJfO2JL_DAFgZm3xjhyphenhyphenAPUCpSMEC_r3XTKuuMfa8h-VRDOITSx5WOPLNbmw1o_TlNgx8t34nUud9LBtA3lyXghujg/w416-h640/page0001.jpg" width="416" /></a></div><br /> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Estive a pensar: O que seria de mim não fossem os livros. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Livros: desde aqueles da minha alfabetização, desde o livrinho do catecismo que me preparou para a “primeira comunhão”, até os grossos volumes do curso universitário. Em especial, vem-me à memória a <b>Gramática Expositiva</b> de Eduardo Carlos Pereira, na qual estudei a estrutura linguística e lógica do nosso idioma. Pedagogo e educador nato, além de conhecer profundamente a complexa língua portuguesa, Eduardo Carlos Pereira exemplificava as regras gramaticais, com provérbios, ditos populares e citações extraídas de autores clássicos da nossa herança literária, com o objetivo de possibilitar, ao estudante, internalizar valores morais, éticos e de patriotismo, além de, pouco a pouco, ir despertando, nele, o interesse pela literatura. Nos quatro anos de ginásio e nos três do curso clássico tive o privilégio de estudar português com o grande Mestre mineiro de Poços de Caldas. Sua gramática, ao longo de sete anos de estudo e manuseio, foi um dos livros que muito contribuiu para me plasmar o espírito e a personalidade. De tal modo esse livro me influenciou que, de certo modo, está no DNA da minha formação intelectual. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A gramática é a lógica revelada da língua, sem a qual não se consegue pensar, falar e escrever corretamente. Essa lógica, uma vez assimilada, contagia de logicidade todas as outras atividades intelectuais do estudante. É a base e o ponto de partida para a aventura na direção de estudos e pesquisas em todas as áreas do saber humano. Eis porque, ergo loas aos tempos, nada retrógrados, em que me foi possível estudar a gramática portuguesa com professores altamente qualificados.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> “<i><b>O tempora, o mores</b></i>”, que tempos, que costumes, aqueles! </span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A gramática deu-me uma <b><i>forma mentis</i></b> </span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span><span style="font-size: medium;">, instrumentou-me o espírito para pensar, falar e escrever de modo ordenado e lógico. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Então indago: Que seria de mim sem a <b>Gramática Expositiva</b> de Eduardo Carlos Pereira? Com certeza, eu seria um “outro” e não aquele que, hoje, eu sou. E estendo a todos os livros que li e estudei o inefável papel na construção do EU QUE HOJE EU SOU. Tem que ser néscio e ter cérebro de batráquio para proibir o estudo da gramática nas escolas brasileiras. Lamentável sinal de decadência. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b><span>II. NOTAS EXPLICATIVAS</span></b> pelo gerente do Blog</span></div><div><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹ </b></span></b></span>Excerto da <b>1ª Catilinária</b>, discurso que Marco Túlio Cícero proferiu contra L. Catilina no Senado Romano em 63 a.C., que se encontra no 2º parágrafo do exórdio. Foram 4 as Catilinárias: a primeira e a última foram dirigidas ao Senado Romano; as outras duas foram proferidas diretamente ao povo romano. Todas as quatro foram compostas para denunciar explicitamente Lúcio Sérgio Catilina no contexto da Segunda Conspiração Catilinária. <i> </i></div><div> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>² </span></b></span></span></span></b></b></span></span>A <i>forma mentis<b></b></i> é um conceito latino utilizado principalmente na filosofia e na psicologia e que se refere ao modo como a mente opera. </div><div> </div><div><b><span style="font-size: medium;"> </span></b></div><div><b><span style="font-size: large;">III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</span></b></div><div><b><span style="font-size: medium;"> </span></b></div><div><b><span style="font-size: medium;"> </span></b></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: medium;">BRAGA</span></b><span style="font-size: medium;">, Francisco José dos Santos:</span><b><span style="font-size: medium;"> <i>Conspiração contra a República Romana (65-63 a.C.)</i></span></b><span style="font-size: medium;">, publicada em tradução integral no Blog do Braga em 11/04/2016.<br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://bragamusician.blogspot.com/2016/04/conspiracao-contra-republica-romana-65.html">https://bragamusician.blogspot.com/2016/04/conspiracao-contra-republica-romana-65.html</a> 👈 </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>PEREIRA</b>, Eduardo Carlos: <b>Gramática Expositiva</b>, São Paulo: Weiszflog Irmãos & Co., 1907, 370 p. </span><br /></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-69505086589679086392024-01-28T09:02:00.003-03:002024-01-28T10:04:51.199-03:00Centenário da morte de TEÓFILO BRAGA: o homem, o erudito e o político<div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span style="font-size: large;">Por</span> <span style="font-size: large;">ANTÓNIO VALDEMAR *</span></b></span></div> </div>
<div style="text-align: justify;"></div></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><i>Foi um dos fundadores do Partido Republicano, depois Presidente da República, escrevia compulsivamente, investigou Camões — que elegeu como símbolo da nacionalidade —, nunca atravessou a fronteira. Teófilo Braga visto por si e pelos contemporâneos — admiradores e críticos —, no centenário da sua morte. (Publicado originalmente na revista do </i><b>Expresso</b><i>, edição de 27 de Janeiro de 2024, pp. 50-52)<br /></i> </blockquote><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWEKtwQU8lGfaUhxHXLvMtWoIRO61DYB0C35sprdUu4zzozfXHQx3gklQH-FcJ2PQhBzQe_EWcTlTbXE1O_rO-UHLS-4v1Dj9aRQtDMIUUZU3DBEu2DW1wNp2wThTAEHvWKwsJeO1S0XuMt1eHA1wSdyHn9RTxmjs5gbW-d8YP3Vd_2bqAn84eWfaZyFM/s749/Teofilo_Braga_1915_-_Fotografia_Vasques_Lisboa_Museu_da_Presidencia_da_Republica-749x445.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="445" data-original-width="749" height="238" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWEKtwQU8lGfaUhxHXLvMtWoIRO61DYB0C35sprdUu4zzozfXHQx3gklQH-FcJ2PQhBzQe_EWcTlTbXE1O_rO-UHLS-4v1Dj9aRQtDMIUUZU3DBEu2DW1wNp2wThTAEHvWKwsJeO1S0XuMt1eHA1wSdyHn9RTxmjs5gbW-d8YP3Vd_2bqAn84eWfaZyFM/w400-h238/Teofilo_Braga_1915_-_Fotografia_Vasques_Lisboa_Museu_da_Presidencia_da_Republica-749x445.png" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Teófilo Braga (1915) - Fotografia Vasques, Lisboa (Museu da Presidência da República)<br /></b></span></td></tr></tbody></table><p><span style="font-size: medium;"> </span></p><div><span style="font-size: medium;">Passou a vida a escrever. Foi encontrado morto na sua mesa de trabalho. Tinha 80 anos. Faleceram os três filhos e, anos depois, a mulher. Teófilo Braga morava só. Rodeado de livros, asfixiado por ressentimentos e sempre empenhado em completar e concluir os temas que o absorveram a vida inteira. Deixou uma obra de investigação e de crítica com mais de 200 títulos. <span style="background-color: #f4cccc;">Ele próprio assim se definiu: </span></span><span style="background-color: #f4cccc; font-size: medium;">“</span><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #f4cccc;"><i>Dentro de um poço, desde que lá tivesse os meus livros, uma resma de papel e um lápis, conseguiria viver.</i>”</span> </span><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;">Por sua vez, Ramalho Ortigão, que o conheceu com proximidade, afirmou: “<i>Simples, sóbrio, duro, com hábitos de uma austeridade de espartano, sabendo reduzir as suas necessidades a toda a restrição a que lhe reduzam os meios, vivendo no seu isolamento como Robinson na sua ilha.</i> (...) <i>Não publica um volume por semana, pela razão única de que não há prelos, em Portugal, que acompanhem a velocidade vertiginosa da sua pena. Escreve de graça, desinteressadamente, em satisfação do seu prazer supremo, o prazer de espalhar ideias.</i>” </span></div><div><span style="font-size: medium;">Na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, Teófilo Braga (1843-1924) foi um dos autores com maior número de obras publicadas sobre a história da literatura portuguesa, desde os primórdios até João de Deus e Antero de Quental. Assinalam-se, neste contexto,
as investigações sobre Camões, nos múltiplos aspetos da obra épica, lírica e teatral; “<b>Gil Vicente e as Origens do Teatro Português</b>”; “<b>Bernardim Ribeiro e o Bucolismo</b>”; Cristóvão Falcão, autor da “Écloga Cristal”; <b>Bocage, sua vida e Época</b>; “<b>Filinto Elísio e os Dissidentes da Arcádia</b>”; a “<b>História do Romantismo em Portugal</b>”; e “<b>Garrett e a sua Obra</b>”. </span></div><div><span style="font-size: medium;">A curiosidade de Teófilo estendeu-se a outros temas: o povo português, nos seus costumes, crenças e tradições; o cancioneiro e o romanceiro popular; os contos tradicionais. Também se consagrou à política. Encontra-se ligado à fundação, ao desenvolvimento e à projeção do Partido Republicano Português. Desempenhou as funções de presidente do governo provisório e de Presidente da República. </span></div><div><span style="font-size: medium;">Acrescente-se o percurso na Universidade de Coimbra, a propósito das opções pedagógicas que se refletiram na cultura e na sociedade portuguesas: Sistema de Sociologia (para alargar as previsões, comprová-las e acelerá-las pela intervenção política e governativa); Soluções Políticas da Política Portuguesa, para demonstrar que o povo estava preparado para receber a República. </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;"><b>DE ESTUDANTE A PROFESSOR</b> </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;">Nasceu em Ponta Delgada a 24 de fevereiro de 1843. Enquanto aluno do liceu, principiou a atividade literária em jornais e revistas em São Miguel. Aprendeu, ainda, rudimentos da tipografia. Dirigiu-se, aos 18 anos, para Coimbra. Tinha a ambição de ser professor na universidade. </span></div><div><span style="font-size: medium;">Arrostando com os maiores sacrifícios, sem quaisquer apoios financeiros, vivendo apenas de explicações, tirou, entre 1862 a 1867, o curso de Direito, com elevadas classificações. Um ano depois fez provas de doutoramento com uma tese acerca da história do direito português — os forais. Reconheceram-lhe os méritos. Contudo, para ascender à cátedra, foi preterido por um candidato que possuía relações privilegiadas com o júri. Tentou, em seguida, lecionar Direito Comercial na Academia Politécnica do Porto. Voltou a ser rejeitado. Finalmente, concorreu, em 1872, a uma cátedra sobre Literaturas Modernas no Curso Superior de Letras, um concurso público muito renhido. Entre os candidatos encontravam-se Pinheiro Chagas e Luciano Cordeiro. Eram os outros candidatos e tinham as maiores proteções no corpo docente. Teófilo conseguiu, finalmente, vencer. Teófilo Braga radicou-se, a partir de então, em Lisboa, até falecer a 28 de janeiro de 1924. Nunca atravessou a fronteira. A sua vida, de enorme sobriedade, circunscreveu-se entre a intimidade e os contactos quotidianos: o Curso Superior de Letras; instalado no edifício da Academia das Ciências, da qual foi vice-presidente. (O rei, por razões estatutárias, era o presidente de honra). Deslocava-se, ainda, para fazer pesquisas documentais à Torre do Tombo que funcionava no Palácio de São Bento, e à Biblioteca Nacional, estabelecida no antigo Convento de São Francisco, na área do Chiado. Pertenceu a uma tertúlia na rua do Arsenal, na livraria Carrilho Videira, que reunia e editava obras de republicanos. Andava a pé ou nos transportes públicos, mesmo quando foi Presidente da República. </span></div><div><span style="font-size: medium;">Ramalho Ortigão procurou, ainda, defini-lo nestes termos: “<i>Este débil de aspeto um pouco valetudinário, dorso curvo, ventre chato, estômago escavado, deixando descair as calças em pregas sobre os sapatos, é o mais forte, o mais rijo, o mais enérgico temperamento que tenho conhecido.</i>”
Os caricaturistas retrataram-no com ironia. Joshua Benoliel fixou-o em dezenas de fotografias. Tornara-se uma figura típica de Lisboa. </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;"><b>AS POLÉMICAS</b> </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;">A atividade literária, histórica, filosófica e política de Teófilo Braga desencadeou sucessivas controvérsias: Castilho atacou a sua participação na Questão Coimbrã; Camilo, pelos mais diversos motivos, constituiu um dos seus mais acérrimos adversários; Ricardo Jorge, a propósito de um estudo acerca de Rodrigues Lobo, denunciou-o como plagiário. </span></div><div><span style="font-size: medium;">Todavia, entre os críticos mais severos, avulta Antero de Quental:
“<i>Os primeiros passos no estudo da história literária portuguesa — escreveu — foram dados pelo sr. Teófilo Braga, essa glória ninguém lhe tira. Tem defeitos: a impaciência que o leva muitas vezes a conclusões prematuras; e o espírito sistemático que o leva também a conclusões falsas.</i> (...) <i>O lado inferior e frágil</i> — acentua Antero de Quental — <i>são as teorias gerais, a parte filosófica; sente-se que não é essa a vocação do sr. Teófilo Braga. Ao mesmo tempo quimérico e sistemático, dá às suas doutrinas gerais uma feição dogmática que lhes tira aquele poder de ductilidade e compreensão, sem o qual uma teoria, para acomodar os factos ao seu rigor inflexível, tem de os forçar, umas vezes e outras vezes, de pôr de lado. Isto é</i> — adverte Antero de Quental — <i>o que torna abstrusas certas obras, como a ‘Poesia do Direito’.</i>” (<i>in</i> “<b>Considerações sobre a Filosofia da História Literária Portuguesa</b>”, Porto 1872) </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;"><b>CAMÕES, O SÍMBOLO NACIONAL </b></span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;">Camões foi um dos temas que, durante meio século, mais entusiasmou Teófilo. Interessaram-lhe todos — ou quase todos — os aspetos da vida e a obra do poeta. Fez uma reflexão
e estudo dos textos mais antigos de biógrafos e comentadores, o chantre Severino de Faria, o licenciado Manuel Correia, o historiador e filólogo Manuel Faria de Sousa e o memorialista João Soares de Brito. </span></div><div><span style="font-size: medium;">Formulou hipóteses e extraiu conclusões, muitas das quais se revelaram precárias, em torno das circunstâncias relativas à conceção, publicação e divulgação de “Os Lusíadas”; e a outros assuntos como a tença, a morte e a sepultura de Camões; e, ainda, a permanência em África e no Oriente. Sejam quais forem as reservas, os estudos de Teófilo proporcionam pistas para investigação do tempo histórico e da amplitude da obra do poeta, que não ficou alheio ao desconcerto do mundo e às vulnerabilidades da condição humana. </span></div><div><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #f4cccc;">Procedeu a uma campanha de opinião pública para celebrar, em todo o país, o terceiro centenário da morte de Camões.</span> A informação existente indicava o dia 10 de junho. Foi exatamente nesse dia que se realizaram, em 1880, <span style="background-color: #f4cccc;">as comemorações</span>, com a participação de intelectuais, políticos e elevado número de populares. <span style="background-color: #f4cccc;">Destinavam-se a promover a coesão do Partido Republicano</span>, unindo as várias tendências e grupos dispersos, no pensamento e na ação. Recorde-se que, pouco antes de falecer, concedeu uma entrevista ao “<b>Diário de Notícias</b>”, na qual insistiu que a data do nascimento de Camões era 5 de fevereiro de 1584. O Governo, presidido por Álvaro de Castro e tendo António Sérgio como ministro da Instrução, determinou que o dia 5 de fevereiro passasse a ser feriado nacional. A data foi aprovada pelo Congresso da República e promulgada pelo chefe de Estado, Manuel Teixeira Gomes. Concretizava-se assim, a título póstumo, a aspiração cívica de Teófilo: o sentimento nacional é um dos pilares fundamentais para a unificação dos portugueses. “<i>Pelo amor do seu território, pela necessidade de manter a independência</i>”, escreveu, “<i>é possível alcançar uma ação comum, um sentimento coletivo que fortifica o sentimento da pátria e da nacionalidade.</i>” (...) “<i>Camões</i>”, sintetizou, “<i>deu expressão a esse sentimento, que transformou uma pátria numa nacionalidade</i>”. </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;"><b>PRESIDENTE DA REPÚBLICA</b> </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;">Proclamada a República, Teófilo Braga foi escolhido para chefe do governo provisório (5 de outubro de 1910 a 4 de setembro de 1911). Acompanhou a apresentação, o debate e a votação da legislação que estruturou o novo regime. A ditadura de Pimenta de Castro (28 de janeiro de 1915 a 14 de maio de 1915) que encerrou o Parlamento e conduziu à demissão do Presidente da República Manuel de Arriaga (eleito a 24 de agosto de 1911 e a desempenhar funções até 26 de maio de 1915). Perante esta crise, que provocou uma das mais sangrentas e devastadoras revoluções, solicitaram a Teófilo Braga para ocupar o cargo, porque reconheciam nele uma reserva moral e cívica.
Eleito em sessão do Congresso a 29 de maio de 1915, obteve 98 votos a favor, contra 1 voto para Duarte Leite e três votos em branco. Durante quatro meses assegurou a chefia do Estado, em circunstâncias particularmente complexas, a nível nacional e internacional. A defesa dos territórios portugueses de África, em especial Angola e Moçambique, perante ameaças da Alemanha, determinou a expedição de contingentes do Exército e da Marinha. A 5 de agosto de 1915 a Europa eclodiu o que viria a ser a Grande Guerra. </span></div><div><span style="font-size: medium;">Os efeitos do conflito acentuaram-se com muito impacto nas lutas partidárias e na subida dos preços dos bens
de consumo diário. Gerou-se a corrida aos bancos para levantar os depósitos. Havia uma profunda instabilidade política e social. Contudo, a entrada de Portugal na guerra, em solidariedade com a Inglaterra — e devido à secular aliança subscrita entre os dois países — só se verificaria a 7 de agosto de 1916. Deu lugar a mais outra controvérsia entre as forças militares e os principais partidos políticos. </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;"><b>EUROPA E ATLÂNTICO </b></span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;">Teófilo Braga, ao tomar posse, referiu que a sua orientação visava “a harmonia de todos os poderes do Estado, o reconhecimento de que o poder soberano da nação reside essencialmente no Congresso, de que o presidente não é senão um mandatário. O contrário seria eu a exercer um imperialismo presidencialista”. </span></div><div><span style="font-size: medium;">Fez questão de salientar que, perante
“<i>esta espécie de solidariedade humana, que corrige os excessos do egoísmo nacional</i> (...), <i>um outro equilíbrio europeu tem de fundar-se.</i>”
Assim,
“<i>a política externa de Portugal deriva completamente da sua situação geográfica; ela solidarizou-se com a Europa, quando combatia o imperialismo da Espanha no século XVII e quando no século XIX desmoronava o imperialismo napoleónico, ela nos fará cooperar na atividade mundial dos grandes Estados, com o apoio no Atlântico</i>”.
Noutro passo, Teófilo Braga concluiu:
“<i>Apresentando estes dois aspetos de política, interna e externa, da nação portuguesa, dela se deduz um plano do Governo. E ao proferir as palavras de compromisso de honra, desta hora em diante só aspiro que, ao regressar dignamente ao lar, se possa dizer: cumpriu o que prometeu; guiou-se pelo bom senso e pelo desinteresse.</i>” </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;"><b>CONSAGRAÇÃO NACIONAL</b> </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;">Teófilo Braga, tal como João de Deus e Guerra Junqueiro, após o seu falecimento teve honras nacionais e foi sepultado nos Jerónimos — à data o Panteão Nacional. Em 1925, Alfredo Guisado, poeta da “<b>Orpheu</b>” e vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, inscreveu-o na toponímia. A rua onde residia, a Travessa de Santa Gertrudes, passou a denominar-se Rua Teófilo Braga. Também Alfredo Guisado deu o nome de Teófilo Braga ao Jardim da Parada, no centro do bairro de Campo de Ourique. Pouco depois, a 16 de outubro de 1926, inaugurava-se, no Jardim da Estrela, um monumento dedicado a Teófilo Braga, da autoria do escultor Teixeira Lopes. Em pleno salazarismo, o monumento saiu do Jardim da Estrela e foi enviado para Ponta Delgada, por ocasião do centenário do seu nascimento. Ficou junto ao Forte de São Brás, a curta distância da casa onde nasceu. </span></div><div><span style="font-size: medium;">Embora muito combatido por intelectuais de várias tendências, também contou com a fidelidade e dedicação de amigos como Francisco Maria Supico e de discípulos como Teixeira Bastos, Reis Dâmaso, Fran Paxeco, A. do Prado Coelho. Um dos seus admiradores, Álvaro Neves, inventariou a sua interminável bibliografia e organizou o “<b>In Memoriam</b>”. </span></div><div><span style="font-size: medium;">Ao dissiparem-se as incompatibilidades pessoais e aversões políticas, chegou a hora da reabilitação da vida e da obra em trabalhos de investigação e crítica de Joaquim de Carvalho, Luís da Câmara Reys, Mário Soares e, presentemente, Amadeu Carvalho Homem. Um facto é evidente: o homem, o erudito, o cidadão e o político merecem ser evocados no ano do centenário da sua morte. Destaca-se, quaisquer que sejam as reservas, o pioneiro
da história da literatura que elegeu Camões como o símbolo da nacionalidade. Foi um dos fundadores do Partido Republicano que contribuiu para a transformação da sociedade portuguesa, para a mudança do regime e para a solução de algumas crises institucionais. </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: x-large;"><span style="background-color: #f4cccc;">O “orgulho de ser açoriano”</span></span><span style="font-size: x-large;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;">Saiu de Ponta Delgada aos 18 anos e nunca mais voltou à ilha de São Miguel. Guardava
memórias amargas da infância e da adolescência. Manteve um contacto epistolar assíduo com Francisco Maria Supico, diretor do jornal “<b>A Persuasão</b>”, que lhe acompanhou os primeiros passos e o incentivou a fazer carreira universitária. Entre as numerosas obras que publicou, faz referências a autores açorianos como Gaspar Frutuoso, propôs o camonianista José do Canto para sócio da Academia das Ciências e ocupou-se de temas açorianos.
É o caso de “<b>Cantos Populares do Arquipélago Açoreano</b>” (1869). Este trabalho baseia-se na recolha feita por João Teixeira Soares de Sousa (1827-1882), a pedido de Garrett. Acerca da poesia popular — escreveu Teófilo — existem duas modalidades:
“<i>uma atual, móvel, continuamente em elaboração porque é um eco da vida, uma linguagem das paixões e dos sentimentos de hoje; a outra é tradicional, histórica, em desarmonia com os costumes presentes, mas repetida ainda religiosamente como lembrança de costumes e sucessos que já passaram.</i>”
Constitui:
“<i>o rapsodo de todas as alegrias e tristezas do poema da vida. A poesia — para o povo — é o ritmo do esforço no trabalho, o esquecimento da miséria, a expressão dos desejos, o tesouro da sua moral e tradições antigas, a linguagem do amor, o gemido, enfim, a verdade simples da sua alma.</i>”
Compreende, por conseguinte,
“<i>fados e canções da rua, orações, profecias nacionais e aforismos poéticos da lavoura</i>”.
Ao ser entrevistado por Albino Forjaz de Sampaio, declara que
“<i>nunca tivera a doença do açoriano, o apego ferrenho às suas ilhas, a nostalgia que sentimos quando delas nos afastamos. No entanto, através da minha longa vida, sempre me interessou tudo o que pudesse interessar aos Açores, especialmente à minha terra</i>”. Afirmou, ainda com veemência:
“<i>Tenho orgulho de ser açoriano. As nossas ilhas são o foco da melhor tradição nacional. Nunca reneguei a minha terra. Sou ilhéu, nasci nesses rochedos donde irradiou o espírito das autonomias.</i>” <br /></span></div></div><p style="text-align: right;"> <b>* </b><i><span style="font-size: medium;"> Jornalista, investigador, sócio efetivo da Academia das Ciências.</span></i></p>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-39183172313621759192024-01-26T11:30:00.009-03:002024-02-01T06:48:34.758-03:00A GUERRA E A LITERATURA<div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span style="font-size: large;">Por</span> <span style="font-size: large;">TEMÍSTOCLES LINHARES *</span></b></span></div> </div>
<div style="text-align: justify;"></div></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><i>Crônica de 1941 extraída do livro <b>Interrogações </b>, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1959, pp. 258-63.<br /></i></blockquote><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ2Wo_7RPPwnkUtSCmKV6iF9nNDcgFoJRUqlWyALlhQnZKsdYserJVuMlAjPpY3W6ynXfY5yXbbonqbVVdETEg1Mf590fDwd_f7Nosb4Fe5tqDOXVYsJ5TJXImLaxefcjL6Zp3D04HE1OqrjytK6HReR6rEZplY_0mI-UwM6A5lxhWKs828S68XwqjSmQ/s958/960x0.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="463" data-original-width="958" height="194" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ2Wo_7RPPwnkUtSCmKV6iF9nNDcgFoJRUqlWyALlhQnZKsdYserJVuMlAjPpY3W6ynXfY5yXbbonqbVVdETEg1Mf590fDwd_f7Nosb4Fe5tqDOXVYsJ5TJXImLaxefcjL6Zp3D04HE1OqrjytK6HReR6rEZplY_0mI-UwM6A5lxhWKs828S68XwqjSmQ/w400-h194/960x0.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Tapeçaria de "GUERNICA" de Pablo Picasso (1955), réplica da pintura a óleo de 1937, pendurada do lado de fora da Câmara do Conselho das Nações Unidas - <i>Link</i>: </b><a href="https://www.cbsnews.com/news/guernica-tapestry-returns-united-nations/">https://www.cbsnews.com/news/guernica-tapestry-returns-united-nations/ 👈<b><br /></b></a></span></td></tr></tbody></table><p><span style="font-size: medium;"> </span></p><p><span style="font-size: medium;">Teremos nova literatura de guerra, uma vez cessada a atroz aventura em que se empenha a velha Europa? </span></p></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A pergunta pode parecer prematura, mas não é preciso aplicar-lhe aquela faculdade bovina de que falava Nietzsche. A faculdade de ruminar, hoje muito esquecida, certamente nos faria ver mais claro e nos levaria a responder com mais facilidade. Mas fiquemos com os recursos que ainda nos restam, bastante minguados, do primado grego da inteligência, que colocava a dignidade da pessoa humana no magistério da razão e da disciplina da alma, recursos que estão longe de alcançar o esforço contínuo, tenaz, ousado, subterrâneo, preconizado pelo filósofo e reservado a muito poucos. A guerra, já se disse, mecanizou o homem. Tornou-o um autômato. O Estado totalitário, exclusivo e ciumento, arrastou-o à guerra, pela política da força, para conduzi-lo a um ideal de comunidade organizada e niveladora. A vida antiga de sociabilidade, de ilustração, de glória, vida de fórum, de teatro, que fazia nascer a curiosidade de saber, esse espanto diante das coisas em que Aristóteles via o começo da sabedoria, perde terreno e tende a ser substituído por outra coisa que sirva às necessidades inelutáveis dos dias que correm e reclamam sangue, ondas de sangue, para impor os seus novos modelos padronizados. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Ao que se passa no mundo os homens de letras não poderão permanecer indiferentes. Terão de tomar partido, estudando as razões intelectuais, sociais, políticas e econômicas que tornam esta fase angustiosa em que vivemos inassimilável aos espíritos de alta linhagem. Muitos deles fatalmente se deixarão sugestionar pela nova e aparatosa mitologia. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Mas, apesar de tudo, da influência que sobre o escritor possam exercer a vitória da força, a soberania do espírito militar, a valorização da máquina, há muito que esperar dele. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A despeito de suas falhas, a profissão do homem de letras é que reúne ainda a maioria dos espíritos independentes. Ele possui o sentimento do seu lugar na sociedade e de sua independência, muito mais desenvolvido do que o médico, por exemplo. Quem o diz é a autoridade incontestável de <i>Léon Daudet</i>, <i>doublé</i> de médico e escritor. O médico é colhido por uma trama de circunstâncias, professorado, faculdade, concursos, etc. E em dado momento ele só julga segundo as palavras dos mestres que o fazem ir perdendo pouco a pouco a personalidade. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O homem de letras </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> é claro que se fala daquele que tem alguma coisa a dizer </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> não perde a sua originalidade ou se a perde, é muito mais tarde que outro qualquer. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Muitos escritores </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> é a sorte que podemos desejar-lhes, exclama o mesmo <i>Daudet</i> </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> morrem, sobretudo se se tratar de polemistas, combatendo de pena na mão. O homem de letras não tolera os mandarins, mormente na profissão. O espírito de justiça literário, o próprio espírito de justiça simplesmente, está mais severamente desenvolvido, em geral, no escritor digno desse nome, no poeta e no prosador, do que no comum dos mortais. Ele, mais do que ninguém, sente a necessidade instintiva de se aventurar em todas as direções do espírito e associar os poderes mais contrários, objetivando em si mesmo a justiça, a beleza subsistente e a inteligência essencial. Quem melhor do que ele para nos levar aos exames peremptórios de consciência, despertando os nossos escrúpulos, as nossas exigências, as nossas linhas de conduta, as nossas particularidades irredutíveis? </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A serviço, pois, da realidade e da história, com as qualidades que o distinguem, o homem de letras tem imensa tarefa a cumprir. Por seu intermédio é que o homem pode defender algumas de suas mais dignas prerrogativas. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Entre os escritores, sem dúvida, é que o espírito, em fuga diante da pressão cada vez mais urgente das forças utilitárias, se refugia, conservando a parte de não conformismo e de inadequação a elas. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Está visto que a literatura de guerra por vir ou que já está chegando não poderá se preocupar com o homem. A imagem deste surge da implacável tenacidade dos acontecimentos muito diluída. A mecânica social fá-lo receber as ideias do tempo, os sentimentos do grupo e realizar os gestos de sua função, sem nada que lhe lembre a existência passada, a realidade profunda encarnada nele. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Que poderá então revelar essa literatura nova? Se até o dom da compreensão, próprio do homem, está obliterado pelo mais cruel antipersonalismo? </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Até aqui a Literatura era um dos meios mais puros para nos aproximar de nós mesmos. Em suas relações com o homem é que estava o seu poder de sedução. A próxima literatura de guerra que nova ordem procurará então? Que horizontes novos ela desvendará? </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Da guerra nada é lícito esperar, sendo dor e ruína. Aproveitam-se dela os falsos profetas da violência, para dar satisfação aos seus sonhos de hegemonia mundial. As dificuldades do dia seguinte à vitória, porém, demonstrarão, como o têm demonstrado no decurso da história, que dias mais negros se sucederão, aumentando os desequilíbrios e a gravidade dos problemas entre os povos. As impurezas dos ressentimentos da luta, as tendências contrárias dos estilos políticos, acirrados então, fomentarão um estado de guerra permanente. No momento da paz, na sua lua de mel, um só ganho positivo se perceberá </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> a libertação do indivíduo, em consequência da destruição do principal foco real e doutrinário do despotismo. Mas mesmo essa áurea conquista durará pouco, porque a perduração dos males restabelecerá o estatismo e o homem voltará a ser cativo. Serão dificuldades insuperáveis, pois, com que o mundo de novo se defrontará: o desarmamento moral dos adversários, a supressão da mentalidade de represália, o encerramento da conta-corrente dos ódios e das vinganças. O poder do Estado, por maior que seja o círculo que abarque, tem quando muito ação sobre os gestos, os atos, as palavras, mas não sobre os estados de consciência, de pensamento, de sentimento da humanidade. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A Literatura, em face da guerra, pode ter uma sucessão de dramas e tragédias a analisar. Tem-no por certo, não podendo fugir à influência dos acontecimentos, mas a sua posição se restringirá aos quadros geográficos e sociais da guerra. Estes, é claro, não deixarão de lhe oferecer margem para testemunhos, impressões, retratos do que aconteceu. O campo mais vasto, porém, sobre o qual ela estenderá a sua curiosidade e o seu interesse, será evidentemente o do pós-guerra, quando terão maior relevo os motivos de inquietação, de dúvida e negação espirituais, quando o revisionismo terá invadido as inteligências, para dar corpo a novos mitos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Do gênio da guerra nada há a esperar para as letras. O próprio pós-guerra, enquanto perdurar a influência desta, será antes uma época de inquietação, de depressão, do que de reconstrução. A reconstrução só virá quando se esquecer a guerra, essa guerra que dissolve e elimina os sentimentos humanos, reduzindo à impotência e ao espanto o trabalho intelectual. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O exemplo vem da guerra passada e está patente no colapso que está sofrendo no mundo inteiro a produção literária. Há pouco se comentou o fenômeno em França, antes de sua derrota: a Grande Guerra o melhor que produziu foram os depoimentos, os retratos, a visão arguta e sóbria do que sucedeu, isso porque é preciso levar em conta que a literatura se dirigia a um público que havia tomado parte na luta, que a havia sentido, a uma multidão de atores portanto. É o caso de <b>La Croix de Bois</b>, de <i>Roland Dorgelès</i>. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Dorgelès</i>, como <i>Morand</i>, como <i>Giraudoux</i>, como <i>Duhamel</i>, porém, não encontraram na guerra senão um ponto de partida. O tom heróico, a consciência épica provocaram neles pouco eco.
A guerra não deu um contista como <i>Maupassant</i>, nem um grande poeta como <i>Baudelaire</i>. A geração do pós-guerra preferiu ler <i>Prous</i>t, <i>Valéry</i> ou <i>Gide</i>, em cujos livros a passagem da tormenta é pouco perceptível. Tivemos de <i>Barbusse</i> <b>Le Feu</b> e <b>L'enfer</b>, é certo, mas para dar a interpretação da guerra a cada momento, para assinalar todo o seu horror e violência, para demonstrar que ela não foi mais do que uma etapa do processo histórico com assento no maquinismo, transformado em instrumento assassino, gerando o pessimismo derrotista do século XX, dentro dos próprios países que alcançaram a vitória. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Pela sua falta de conteúdo humano, a guerra atual está fadada a não ocupar espaço na Literatura. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">À Literatura, todavia, cabe o importante papel de nos ajudar a ter conhecimento mais extenso e profundo da guerra, de suas determinantes, de suas realidades, de que apenas distinguimos confusamente pequeno número de aspectos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O gosto das coisas "atuais" ou "modernas" precisa ser combatido. Os nossos hábitos de espírito não podem virar as costas ao universal e ao eterno, para permanecer no transitório, aceitando realidades confusas como essa chamada de racismo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Só a Literatura, só os escritores é que nos farão volver às preocupações essenciais, não porque estejam eles imbuídos de tendências moralizadoras. Aos escritores não devemos pedir moralismos ou profecias, mas cremos, com <i>Marcel Arland</i>, que podemos exigir-lhes, se a intenção deles for pintar os homens, que essa pintura seja exata, que eles apareçam tais quais são, que não sejam silenciadas nem as suas taras, nem as suas aspirações e, ao estudá-los, sejam impulsionados os seus sentimentos, não por simples curiosidade, mas por clarividente ternura. Se a intenção for produzir sínteses histórico-filosóficas, que o façam, quando se referirem à guerra, fixando a esterilidade da violência, interessando-se pelos valores mais estreitamente ligados às necessidades da vida, à procura da unidade humana, entre passado e presente, repelindo os atrozes conflitos entre classes e nacionalidades, conflitos de ódio e animosidade, que nada têm a ver com o sentimento nacional e a vocação de cada qual, ou com a unidade concreta da humanidade. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Não podemos mais desprezar a Literatura. Já passou o tempo em que era de bom-tom fazê-lo. O gênio maravilhoso que existe nela está, como bem acentua o romancista de <b>L'Ordre</b>, em consideração-la mais como meio do que como fim. Não queremos ver nela simples passatempo, por mais nobre, por mais sutil que seja, passatempo de palavras e criação. O que primeiramente procuramos na Literatura é um maior conhecimento e uma maior realização de nós mesmos. É a ela que cada um de nós vai buscar inspiração para resolver o seu destino, abrindo os olhos diante da vida. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Os homens de letras se clarificam nela, obedecendo a essa grande necessidade que impele os homens a confessar os seus sofrimentos e as suas alegrias, transportando para o mundo ideal problemas que poderiam ser perturbados ou falseados pelas contingências cotidianas. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">E por isso é que, repetindo palavras já usadas, a Literatura não deixa de ser ainda grande esforço para a verdade. </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">1941</span></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-59268842012842344392024-01-26T11:23:00.012-03:002024-02-02T09:48:26.607-03:00Colaborador: TEMÍSTOCLES LINHARES<div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span>Por</span> <span>Francisco José dos Santos Braga</span></b></span></div> </div>
<div style="text-align: justify;"></div></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><i>Para redigir este texto, servi-me em parte da contribuição dada por Aramis Millarch à homenagem que prestou pelo transcurso dos 80 anos do mestre Temístocles Linhares.<br /></i></blockquote><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEib9WgOrnxu4iE_xOAT5Ed-rGYnEbkl-A5eTRiaNPUYT9XfeZK44t4TZDsPjoIcZ6UuvKzYmVFuUt1Izo-jtLrb7wxy31kUOyVhmASk0Zsd37SmzwTpf_H8eeUalqh15UpdsHyyQEKLlwwBgww5hbg56-w1KgN5Rjp9NmAvLPQpO1K49TG8aexpwrIcowg/s312/DIARIO_DE_UM_CRITICO_DE_1976_A_1534814701804115SK1534814701B.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="312" data-original-width="202" height="312" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEib9WgOrnxu4iE_xOAT5Ed-rGYnEbkl-A5eTRiaNPUYT9XfeZK44t4TZDsPjoIcZ6UuvKzYmVFuUt1Izo-jtLrb7wxy31kUOyVhmASk0Zsd37SmzwTpf_H8eeUalqh15UpdsHyyQEKLlwwBgww5hbg56-w1KgN5Rjp9NmAvLPQpO1K49TG8aexpwrIcowg/s1600/DIARIO_DE_UM_CRITICO_DE_1976_A_1534814701804115SK1534814701B.jpg" width="202" /></a></div><span style="font-size: medium;">Ao lado de Wilson Martins, <b>TEMÍSTOCLES LINHARES</b> (✰ Curitiba, 1905 -
✞ Montevidéu, 1993) é o maior nome da crítica literária no Paraná, com mais
de vinte obras editadas e reconhecimento internacional. Por mais de 50
anos produziu textos críticos divulgados nos mais importantes jornais e
revistas do Brasil. Ainda durante o curso de humanidades e mesmo depois
de formado, Temístocles Linhares sofreu a decisiva influência do
ambiente cultural de Buenos Aires, cidade em que esteve muitas vezes e
em cuja Faculdade de Letras, na época sob a direção de Ricardo Rojas,
fez estudos especializados de literatura. O contato com esse grande
centro intelectual, onde convivia com escritores,
jornalistas, professores e estudantes, concorreu decisivamente para
levar Temístocles Linhares à carreira de Letras, proporcionando-lhe
inclusive conhecimento em profundidade da <i>literatura hispano-americana</i>,
de que afinal viria a ser, mais tarde, professor catedrático na
Universidade do Paraná. </span><p></p><p><span style="font-size: medium;">Professor da UFPR a partir de 1938, sua estreia
em livro ocorreu em 1949 com uma obra marcante: "<b>Eça de Queiroz, um
caso de ressentimento</b>". </span></p><p><span style="font-size: medium;">Em 1953, a José Olympio Editora editou seu livro
"<b>Paraná Vivo - Sua Vida, Sua Gente, Sua Cultura</b>", republicado muitos
anos depois em convênio da editora com o Instituto Nacional do Livro (1985). </span></p><p><span style="font-size: medium;">Em 1953 ainda, lançou pela José Olympio Editora "<b>Introdução ao mundo do
romance</b>", longo estudo sobre o novelístico ocidental amplamente
utilizado pelos estudantes dos cursos de letras. </span></p><p><span style="font-size: medium;">Pela mesma editora,
publicou "<b>Interrogações</b>" (1962 a 1966, três séries). </span></p><p><span style="font-size: medium;">Convidado para lecionar na Universidade de Coimbra, segue em 1965 para
lá, permanecendo até 1966. </span></p><p><span style="font-size: medium;">Quando dirigia o Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFPR,
Temístocles se empenhou para edição de "<b>Novo Caminho no Brasil
meridional: a província do Paraná (3 anos em suas florestas e campos)</b>",
um relato do viajante inglês Thomas P. Bigg-Wither sobre sua viagem de
três anos (1872-1875), importante
testemunho sobre o espaço paranaense, publicado originalmente em Londres com o título <i>Pioneering in South Brazil: three years of forest and prairie life in the province of Paraná</i> </span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;"> e traduzido para o português em 1974. Consta que foi
de sua leitura que o romancista Thomas Hardy, ao escrever "Tess of the
d'Ubervilles" (1891), decidiu fazer com que um dos personagens de sua
estória emigrasse para o Brasil, especificamente para "os arredores de
Curitiba", onde se desenvolveu a frustada tentativa de colonização
inglesa do Assunguy. <br /></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikGnCLiIqgNKkRcvT0XH9EprljRpf5k_sFgZBT8lCr6cLCpJqImGKqupnSkqFtU_jSj7h_0phFWd6Kg5kBZ02p6AV_u1ngMfsTvqhqSNCo0q6LyhsDbnYybNHEH134DyQplLYzfwL2s3yAeji2niDtLVTn8nl5K5amTfhetBQ_22qinl58TaQnZ8XZvI4/s2304/MNC2127-Novo-Caminho.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="2304" data-original-width="1728" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikGnCLiIqgNKkRcvT0XH9EprljRpf5k_sFgZBT8lCr6cLCpJqImGKqupnSkqFtU_jSj7h_0phFWd6Kg5kBZ02p6AV_u1ngMfsTvqhqSNCo0q6LyhsDbnYybNHEH134DyQplLYzfwL2s3yAeji2niDtLVTn8nl5K5amTfhetBQ_22qinl58TaQnZ8XZvI4/w300-h400/MNC2127-Novo-Caminho.jpg" width="300" /></a></span></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Temístocles Linhares se empenhou para edição de "Novo Caminho no Brasil meridional: a província do Paraná (3 anos em suas florestas e campos)" pelo viajante inglês Thomas P. Bigg-Wither<br /></b></span></td></tr></tbody></table><div> </div><div><span style="font-size: medium;">Ligado familiarmente à indústria do mate, convivendo inclusive em algumas atividades empresariais, foi autor, inclusive, de uma "<b>História Econômica do Mate</b>" pela José Olympio Editora em 1969. </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;">Em 1976 publica pela Imprensa Oficial "<b>Primado do Nacional: a problemática das literaturas hispano-americanas</b>", fruto de anos de dedicação à área de sua especialidade na UFPR. </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;">Finalmente para fins de apresentação do grande autor, cabe mencionar que, a exemplo dos mestres franceses, o “<b>Diário de um crítico de 1976 a 1979</b>” propôs a figura do intelectual na cidade dos homens, no mundo ideal do espírito, na condição humana.</span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><b><span style="font-size: large;">II. NOTA EXPLICATIVA</span></b></div><div><b><span style="font-size: large;"> </span></b></div><div><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;">O original inglês em 2 volumes está disponível em arquivo PDF, podendo ser acessado o seu <i>download</i> em <a href="https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/518708">https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/518708</a></span><span style="font-size: medium;"> 👈</span><b><span style="font-size: large;"> <br /></span></b></div><div><b><span style="font-size: large;"> </span></b></div><div><b><span style="font-size: large;">III. BIBLIOGRAFIA</span></b></div><div><b><span style="font-size: large;"> <br /></span></b></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;"><b>LINHARES</b>, Temístocles: <b>Interrogações </b>(1ª série), Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1959, 357 p.<b> <br /></b></span></div><div><span style="font-size: medium;"><b> </b></span></div><div><span style="font-size: medium;"><b>MILLARCH</b>, Aramis:<i><b> Os 80 anos do mestre Temístocles Linhares </b></i></span></div><div><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://www.millarch.org/artigo/os-80-anos-do-mestre-temistocles-linhares">https://www.millarch.org/artigo/os-80-anos-do-mestre-temistocles-linhares</a> 👈<br /></span></div><div><span style="font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-size: medium;"><b>WIKIPEDIA</b>: verbete "<i><b>Temístocles Linhares</b></i>"</span></div><div><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>:
<a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Tem%C3%ADstocles_Linhares">https://pt.wikipedia.org/wiki/Tem%C3%ADstocles_Linhares</a> 👈<br /></span></div></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-25904462826009738932024-01-24T21:42:00.008-03:002024-01-25T08:18:44.080-03:00A MESTRA DA VIDA<div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span style="font-size: large;">Por</span> <span style="font-size: large;">JOSÉ VAN DEN BESSELAAR (1916-1991) *</span></b></span></div> </div>
<div style="text-align: justify;"></div></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><i>Texto retirado do capítulo VI do livro <b>Introdução aos Estudos Históricos</b>, 4ª edição revista e ampliada, São Paulo: E.P.U.-EDUSP-Editora da Universidade de São Paulo, 1974, pp. 103-114.<br /></i></blockquote><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-9YhT0HYU4kL5WjkEAw9jZUlOxKi42DJ5eWXNkc-20UxtKWE3pHYoohHuTlD3ZMS4Gbp3N2UXezwFB75v9hfCJRLyF3Otf4BeIZj2rbXC-ddv6ul2yFJKDORTy1rSGjt-ObAa9pM1urZ373W8G-ZSinC-Ij8mc0-vPUotnS7CmPawJgQuTypwEgmZgvQ/s1024/80a17e4281f2c0bdc51a0a141732e521da2d78be.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="689" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-9YhT0HYU4kL5WjkEAw9jZUlOxKi42DJ5eWXNkc-20UxtKWE3pHYoohHuTlD3ZMS4Gbp3N2UXezwFB75v9hfCJRLyF3Otf4BeIZj2rbXC-ddv6ul2yFJKDORTy1rSGjt-ObAa9pM1urZ373W8G-ZSinC-Ij8mc0-vPUotnS7CmPawJgQuTypwEgmZgvQ/w269-h400/80a17e4281f2c0bdc51a0a141732e521da2d78be.jpg" width="269" /></a></div><br /><p style="text-align: center;">
§ 31. <b>O PRESTÍGIO DA HISTÓRIA</b> </p><div>Quase todas as civilizações de que temos conhecimento, buscaram nas lições do passado normas de agir, e exemplos inspiradores, ou então, motivos de consolo nos seus pesares. Com efeito, o prestígio da história foi sempre muito grande, apesar de não lhe faltarem, de vez em quando, adversários. </div><div> </div><div style="text-align: center;">I. <b>Na Antiguidade</b> </div><div>Os gregos, em geral, estimavam bastante a história, confiando-a à proteção especial de uma das nove musas: Clio<span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b> ¹</b></span></b></span>. Apreciavam-na também vários filósofos. É verdade, para Platão o mundo histórico, sujeito que está à lei da eterna mudança, não podia ser o objeto de um conhecimento genuíno, e até o realista Aristóteles julgava a história menos filosófica e séria do que a poesia, porque esta é mais universal e aquela tem por objeto o singular <span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span>. Não obstante, aproveitava-se muitas vezes dos resultados da história, e não desdenhava fazer ele próprio pesquisas históricas <span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>³</b></span></span></span></span>. Entre os seus discípulos achavam-se historiadores ilustres <span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴</b></span></span></span>. Cícero elogiou a história com estas palavras: <i>testis temporum</i>, <i>lux veritatis</i>, <i>vita memoriae</i>, <i>magistra vitae</i>, <i>nuntia vetustatis</i> <span style="font-size: large;"><b>⁵</b></span>. Tornou-se célebre a sentença do príncipe da eloquência romana, principalmente a expressão feliz: <b><i>magistra vitae</i></b>. Os cristãos avaliavam bem o caráter histórico da Encarnação, já indicado por São Paulo: "Se Cristo não ressuscitou, é pois vã a nossa pregação, é também vã a nossa fé" <span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: x-large;"><b>⁶</b></span></span></span></span></span></span></span>, e serviam-se, desde os tempos primitivos da Igreja, de dados históricos para confirmar os acontecimentos da Bíblia e para refutar as objeções dos adversários <span style="font-size: large;"><b>⁷</b></span>. </div><div> </div><div style="text-align: center;">II. <b>Os ataques do Racionalismo</b> </div><div>Foi só na época do Racionalismo nascente, nos fins do século XVII <span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;">⁸</span></b></span>, que se manifestou uma desconfiança mais ou menos sistemática acerca do valor do conhecimento histórico. Nem é de estranhar: o conhecimento histórico está longe das <i>idées claires et distinctes</i>, apregoadas por Descartes como as únicas legítimas. Desde que se considera o espírito humano como tabula rasa, e se nega a unidade substancial da alma o corpo, o homem tende a ser um animal "a-histórico". Malebranche diz que os historiadores nos comunicam os pensamentos de outros sem eles próprios pensarem: Adão, no Paraíso Terrestre, possuía a ciência perfeita sem saber nada da história. Os racionalistas perseguiam os historiadores com os seus sarcasmos, dizendo que o maior especialista sabia menos da história romana do que a empregada de Cícero <span style="font-size: x-large;"><b><span>⁹</span></b></span> e assinalando, com um deleite mal rebuçado, as numerosas incoerências da tradição, os contra-sensos, os absurdos. Só especulações metafísicas, aliás bem cedo abandonadas pelo Racionalismo, só demonstrações geométricas e experiências físicas são capazes de nos darem a verdadeira sabedoria. </div><div>Evolução paradoxal! O próprio Racionalismo, que começara por negar o valor ou até a possibilidade da história, acabou por consolidar-lhe as bases científicas. Nas suas lutas contra a tradição, que julgava arbitrária e tirânica, via-se obrigado a indagar e a examinar a mesma tradição. E, passados os primeiros combates, evidenciou-se que nela nem tudo era falso. Selecionando, criticando e ponderando, abriram caminho para uma tradição esclarecida e baseada em alicerces científicos. Desde os meados do século XVIII, a história começou novamente a exercer uma grande influência no pensamento das pessoas cultas, e o século passado foi a época áurea da historiografia. O "senso histórico" foi-se apoderando de todas as ciências. </div><div> </div><div style="text-align: center;">III. <b>Alguns protestos mais recentes</b> </div><div>Em nome das forças vitais protestou Frederico Nietzsche contra a tirania da história, voltada que estava para o passado em vez de se dirigir para o futuro: <span style="font-size: medium;"><i>“</i></span>tudo o que possui vida, deixa de viver, logo que é submetido a uma operação histórica, por ser cortado em pedaços: um exame justiceiro de coisas vivas acaba por diluí-las em conhecimentos puros e abstratos<span style="font-size: medium;"><i>”</i></span> <span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;">¹</span></b></span><span style="font-size: large;"><b><span>⁰</span></b></span>. Mas sua voz foi a de um solitário: a história seguiu constantemente o seu caminho. No século atual insurgiu-se Paul Valéry contra a ciência histórica, dizendo: <span style="font-size: medium;"><i>“</i></span><span style="font-size: medium;"><i></i></span>L' histoire est le produit le plus dangereux que la chimie de l'intellect ait élaboré... Il fait rêver, il énivre les peuples, leur engendre de faux souvenirs, exagère leurs réflexes, entretient leurs vieilles plaies, les tourmente dans leur repos, les conduit au délire des grandeurs ou à celui de la persécution, et rend les nations amères, superbes, insupportables et vaines. L' historie justifie ce que l'on veut. Elle n'enseigne rigoureusement rien, car elle contient tout, et donne exemples de tout<span style="font-size: medium;"><i>”</i></span> <span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;">¹¹</span></b></span></span></span>. </div><div>Neste capítulo pretendemos examinar algumas das questões suscitadas por aqueles que elogiaram e censuraram a nossa ciência, procurando estabelecer a importância da história, e descrever os perigos que a põem em perigo. </div><div> </div><div style="text-align: center;">§ 32. <b>A IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA</b> </div><div> </div><div>O estudo dos acontecimentos do passado parece-nos importante, porque:</div><div> </div><div style="text-align: center;"> I. <b>As raízes do presente</b> </div><div>A história faz-nos conhecer a nossa própria origem, revelando-nos assim uma parte considerável da nossa existência no tempo. O homem quer compreender-se a si mesmo: é o esforço constante do espírito humano. Quer saber quem é, de onde vem, e para onde vai. Ninguém pode escapar por completo a perguntas dessa natureza. Mas o homem culto tem a obrigação de aprofundar-lhes o conteúdo e de estudá-las metodicamente. Ora, a filosofia, guiada ou não pela teologia, dá a esse respeito a última resposta ao alcance do homem. A história, porém, encara o homem na sua situação concreta no tempo, num plano inferior, ainda que muito real, mostrando-nos as numerosas raízes que nos prendem ao passado, deixando-nos entrever o caráter próprio da nossa situação atual. Com efeito, o mundo em que vivemos é o resultado de vários fatores históricos. Pois não morreu o passado junto com os momentos fugitivos que o constituíam, mas continua a viver em nós, quer o aceitemos e veneremos, quer o combatamos e rejeitemos. E' uma força que não se deixa eliminar da nossa existência. <span style="background-color: #fce5cd;">Compreendeu-o muito bem a escola de todos os tempos: para formar cidadãos, para iniciar as crescentes gerações na tradição pátria, para integrá-las no conjunto social, político e religioso, tem-se valido, não só da literatura nacional, como também da história.</span> <span style="font-size: medium;"><i>“</i></span>Le passé, le passé vivant, le passé tradition, le passé expérience, le passé qui engendre le présent, le passé patrimoine d'une nation, le passé racine du patriotisme et de l'unité, qui donc le transmet, sinon l'enseignement historique?<span style="font-size: medium;"><i>”</i></span> <span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;">¹²</span></b></span></span></span> Evidentemente, são bem diferentes as preocupações das crianças e dos adultos, dos leigos e dos especialistas, ao se dirigirem à história: mas todos procuram nela melhor compreensão do presente, cada um de acordo com o seu grau de desenvolvimento. Talvez não haja outra ciência tão apropriada a popularizar, no sentido bom da palavra, os seus resultados. </div><div> </div><div style="text-align: center;"> II. <b>O passado por causa do passado</b></div><div>Não estudamos a história com o fim exclusivo de melhor compreendermos o presente: dedicamo-nos ao passado também por causa do próprio passado. Interessa-nos aí, principalmente a nós, os adultos, não só o <i>factum</i>, mas igualmente o <i>fieri</i>. Os conhecimentos históricos possuem valor intrínseco, podendo-nos livrar, até certo ponto, de uma mentalidade egocêntrica. O homem "a-histórico", encarcerado que está na atualidade, tende a tornar absolutas as normas que encontra no seu ambiente. E' homem pouco "experimentado". Os melhores entre nós tentam, porém, escapar às limitações que lhes são impostas pelo espaço e pelo tempo. Já o sabia Homero: elogiava a Ulisses, porque este visitara muitas gentes, chegando a conhecer-lhes a mentalidade <span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: large;"><b>¹³</b></span></span></span>. A "esperteza" do herói homérico baseia-se na sua "experiência". Uma viagem por terras desconhecidas faz-nos perder certas prevenções e alarga-nos o horizonte intelectual, contanto que sejamos abertos e sinceros. Poderíamos qualificar o estudo da história de uma viagem vertical: o espírito humano, viajando através dos séculos, pode ter as mesmas consequências salutares. O próprio Descartes, de modo algum apreciador da história, observava: <span style="font-size: medium;"><i>“</i></span>c'est quasi le même de converser avec les livres des autres siècles que de voyager. Il est bon de savoir quelque chose des moeurs de divers peuples, afin de juger des nôtres plus sainement, et que nous ne pensions plus que tout ce qui est contre nos modes soit ridicule e contre raison, ainsi qu'ont coutume de faire ceux qui n'ont rien vu<span style="font-size: medium;"><i>”</i></span> <span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></span></span><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴</b>. </span></span></span>Com efeito, pelo fato de nos descortinar a vida humana em tempos remotos, a história nos pode curar de certas tendências egocêntricas, proporcionando-nos um certo relativismo salutar, um bom antídoto contra os dogmas e os preconceitos da atualidade.<br /></div><div> </div><div style="text-align: center;">III. <b>E o futuro?</b> </div><div>A história esclarece, pois, as raízes do presente no passado. Mas, conhecendo-se bem o presente, que contém os germes do futuro, não será possível predizer-se o futuro, pelo menos nas linhas gerais? Assim a história, por abranger as três partes do tempo, ganharia importância superior a todas as outras ciências. Mas exortam-nos à modéstia as palavras do Padre Vieira, apesar de ser ele autor de um livro que traz o título paradoxal: "História do Futuro", em que diz: <span style="font-size: medium;"><i>“</i></span>O homem, filho do tempo, reparte com o mesmo a sua ciência ou a sua ignorância: do presente sabe pouco, do passado menos, e do futuro nada<span style="font-size: medium;"><i>”</i></span> <span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></span></span></span></span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;">⁵</span></b></span>. E' uma verdade óbvia, entretanto, muitas vezes esquecida por aqueles historiadores e filósofos que sobrecarregam Clio com um ônus que lhe ultrapassa as forças. O político Bismarck, homem pragmático, motejava com as lucubrações dos historiadores-adivinhos, dizendo: <span style="font-size: medium;"><i>“</i></span>Querendo saber com certeza o que não acontecerá, faço-me informar pelo sr. Mommsen do que deve acontecer<span style="font-size: medium;"><i>”</i></span>. O historiador não pode predizer o que há de acontecer daqui a cinco minutos: não é profeta. Quando muito, é mais capacitado do que outros, — <i>ceteris paribus</i>, — para fazer um prognóstico, não categórico, mas hipotético <span style="font-size: large;"><b>¹</b></span><span style="font-size: x-large;"><b>⁶</b></span>. Conhece bem, suponhamos, as tendências vivas do tempo atual em busca de efetividade; conhece muito bem numerosas analogias históricas que lhe mostram soluções possíveis de problemas semelhantes; em suma, entende bem o rumo geral do tempo. Mas aí para irrevogavelmente a sua ciência do futuro. Pois das tendências atuais conhece forçosamente só uma parte mínima, sempre exposto a enganar-se na avaliação do seu valor existencial. Outrossim, o acaso e as livres decisões humanas, imprevistas e incalculáveis, podem sempre frustrar as tendências mais promissoras e fazer vencedoras as que neste momento se subtraem aos nossos olhos. A história é contrária a cálculos exatos sobre o futuro, porque não admite repetições mecânicas de casos idênticos, mas apenas conhece situações análogas, sempre suscetíveis de desfechos diferentes. </div><div> </div><div style="text-align: center;">IV. <b>A historiografia pragmática</b></div><div>Os laços, que prendem o historiador à moral, já datam da Antiguidade: lembremo-nos das palavras ciceronianas: <i>magistra vitae</i>. A historiografia "pragmática", inaugurada por Tucídides e prosseguida até nos tempos modernos, pretendia extrair dos fatos históricos exemplos inspiradores ou horrendos, para uso dos príncipes, estadistas, governadores e militares. </div><div>Os modernos já não acreditam, com os antigos, no caráter imperioso dos exemplos tirados da história, porque ela, como diz muito bem Paul Valéry, nos ensina de tudo; estão mesmo compenetrados de que a história, por relatar acontecimentos únicos do passado, é incapaz de nos proporcionar regras de conduta, diretamente aplicáveis às circunstâncias concretas do momento atual. </div><div>Mas a história faz muito melhor. Não nos torna prudentes para certa ocasião determinada, ensinando-nos a repetir um ato prudente do passado: nos torna sábios para sempre. A história é a experiência coletiva da humanidade: alarga-nos o terreno forçosamente limitado das experiências pessoais da vida e do homem. E' uma escola de humanismo; nada mais interessante para o homem do que o homem. E a história, no fundo, não fala senão das formas variadas de que se tem revestido o Homem Eterno através dos tempos. Faz-nos assistir às peripécias dramáticas do homem que luta e sofre, vence e sucumbe, mas que, apesar das suas derrotas e decepções, sempre se obstina em nutrir esperanças e construir seu futuro. Na história desenrola-se o drama do eterno Lutador e eterno Sofredor, ao qual não podemos assistir sem experimentar em nós sentimentos e emoções semelhantes àqueles que Aristóteles designou com a palavra" catarse", isto é, "purificação"<span style="font-size: large;"><b> ¹⁷</b></span>. O júbilo e a miséria de outrora, as esperanças e os temores dos antepassados, as vitórias e as derrotas de gerações há muito falecidas, transformam-se para nós, observadores das vicissitudes humanas, em conhecimentos e reflexão. Reflexão sobre o quê? Sobre a riqueza e a pobreza da condição humana. Concluamos com uma palavra de Paul Hazard: <span style="font-size: medium;"><i>“</i></span>J'aime la belle rigueur d'un esprit mathématique; mais un esprit tourné vers l'hisloire me paraît, je I'avoue, plus humain<span style="font-size: medium;"><i>”</i></span><span style="font-size: large;"><b> ¹⁸</b></span>. </div><div>Se já não podemos aceitar a história como a pedante, tal como a imaginaram nossos antepassados, ela continua para nós "a mestra da vida", num sentido talvez mais sublime ainda; alarga as nossas experiências e ocasiona nossa reflexão sobre a condição humana. Mas, infelizmente, a <i>magistra vitae</i>, também na sua forma moderna, nem sempre tem alunos dóceis. </div><div> </div><div style="text-align: center;">§ 33. <b>VIRTUDES E VÍCIOS</b> </div><div>A Crítica Histórica, nos séculos anteriores à Era das Luzes, resumia-se, por assim dizer, nestas palavras de Cícero <span style="font-size: large;"><b>¹</b></span><span style="font-size: x-large;"><b>⁹</b></span>: <span style="font-size: medium;"><i>“</i></span>Quem não sabe que a primeira coisa a exigir-se do historiador é que ele não tenha a coragem de falar mentiras e, depois, que tenha a coragem de falar sempre a verdade? e que não dê lugar a suspeitas de se deixar levar por sentimentos de simpatia ou antipatia?<span style="font-size: medium;"><i>”</i></span><span style="font-size: large;"><b></b></span> Todos os autores <span style="font-size: medium;">—</span> desde Cícero até Fénelon <span style="font-size: large;"><b>²</b></span><span style="font-size: large;"><b>⁰</b></span> <span style="font-size: medium;">—</span> concordam nestes pontos: o historiador não pode mentir, mas deve ousar dizer a verdade, por mais desagradável que ela seja, e deve ser imparcial na exposição dos fatos. Mas, depois de terem proclamado essas verdades <span style="font-size: large;"><b>²¹</b></span>, entram com um zelo geralmente bem maior em questões de natureza literária, dando regras mais ou menos pormenorizadas sobre a composição "oratória" da obra histórica <span style="font-size: large;"><b>²²</b></span>. A historiografia daqueles tempos ainda não se emancipara da literatura, nem da moral. Apesar de se ter efetuado nos dois últimos séculos o processo de emancipação, continuam a ser requeridos ao historiador certas qualidades éticas e estéticas. É desses assuntos que pretendemos falar neste parágrafo final da primeira parte do nosso livro. </div><div> </div><div style="text-align: center;">I. <b>Coragem e honestidade</b> </div><div>E' um fato inegável: tem-se mentido muito na historiografia. As paixões partidárias, o fanatismo religioso, o medo de melindrar os poderosos, a esperança de obter prêmios, o orgulho individual e coletivo, <span style="font-size: medium;">—</span> tudo isso pode despistar o historiador, como o tem despistado na realidade. A essas mentiras propositadas e intencionais acresce uma série de mentiras, por assim dizer, quase inconscientes, originadas por preconceitos, que chegam a restringir a liberdade do historiador, impedindo-o de encarar as coisas com a devida abertura mental e serenidade. </div><div>O caráter concreto da matéria histórica não se compadece com uma atitude completamente objetiva do lado do historiador. A história não trata de abstrações, mas de fatos concretos e de pessoas concretas. Instituições religiosas e sociais, transformações políticas, movimentos revolucionários, guerras nacionais, ideologias encarnadas nas grandes figuras da história pátria, <span style="font-size: medium;">—</span> tudo isso não deixa indiferente o historiador, porque não o deixa indiferente no presente. Suas convicções e sua visão de mundo, e também seus preconceitos, suas simpatias e antipatias refletem-se facilmente no seu estudo do passado. Tais coisas não acontecem ao estudioso da matemática, pois ela tem por objeto verdades abstratas, que se subtraem à "esfera existencial" do homem. Mas, quando um princípio abstrato, por assim dizer, desce dos céus para tomar corpo na realidade concreta, parece que se torna um tanto confuso o nosso espírito sob o impacto das nossas paixões, instintos e interesses. Segundo Leibniz, o mesmo se daria com as verdades geométricas, se chegassem a intervir na nossa existência: também elas seriam impugnadas e negadas <span style="font-size: large;"><b>²³</b></span>. </div><div>A objetividade absoluta no terreno da historiografia <span style="font-size: large;"><b>²⁴</b></span> é uma ilusão racionalista, como o é também a ideia de uma "ciência sem pressuposições" <span style="font-size: large;"><b>²⁵</b></span>. Ninguém é capaz de raciocinar, e muito menos de sistematizar, sem partir de certos pressupostos: axiomas ou postulados. As "convicções pré-científicas" intervêm frequentemente, bem o sei, na interpretação dos fatos históricos (mais do que, por exemplo, na interpretação de um processo químico), mas a matéria histórica por si mesma não me obriga a livrar-me delas. Aliás, convicções são bem diversas de preconceitos. Preconceitos são pontos de vista, a que uma pessoa adere sem madura reflexão e sem exame crítico e ponderado; são muitas vezes devidos à existência de uma coação social ou de uma inibição psicológica. Mas uma convicção é uma adesão essencialmente livre, pela qual uma pessoa optou após ter refletido e inquirido. O historiador, sem perder o direito de ter suas convicções pessoais, tem a obrigação de ser "despreconcebido" na medida do possível. Luciano escreveu esta bela frase: <span style="font-size: medium;"><i>“</i></span>O historiador deve sacrificar a uma única deusa: a Verdade<span style="font-size: medium;"><i>”</i></span> <span style="font-size: large;"><b>²</b></span><span style="font-size: x-large;"><b>⁶</b></span>. Se não lhe foi dada a posse da verdade integral ou absoluta, jamais pode deixar de venerá-la como norma absoluta, tornando-se-lhe fatal o mínimo desvio consciente neste ponto. </div><div>Por outras palavras, a impossibilidade de haver uma atitude inteiramente objetiva não dispensa o historiador da grave obrigação de ser absolutamente honesto e sincero; em alguns casos pode ser que dele se exija uma coragem fora do comum. Ninguém insistirá em que o matemático encare honestamente o teorema de Pitágoras; ninguém exigirá que o físico seja sincero ou corajoso ao estudar a eletrodinâmica. É que os resultados dessas ciências são universais, abstratos, exatos e unívocos, ao passo que o historiador estuda os atos humanos, que são concretos, únicos, complexos e equívocos (no sentido de se prestarem a mais de uma interpretação). Está em jogo a nossa concepção do mundo, ao interpretarmos os fins que a humanidade se propôs, durante sua marcha através dos séculos. </div><div>Honestidade: jamais podemos desviar-nos de fatos bem averiguados. Serenidade: jamais podemos deixar-nos influenciar, conscientemente, por nossas simpatias ou antipatias. Sinceridade e coragem: jamais podemos deixar de externar a verdade, por mais embaraçosa ou incômoda que ela seja para nós próprios ou para o grupo social a que pertencemos. </div><div> </div><div style="text-align: center;">II. <b>Não é perigosa a abertura mental?</b> </div><div>O historiador, empenhado em ter essa abertura mental e acostumado a reviver experiências alheias e a colocar-se mentalmente em outras situações históricas, não está exposto ao perigo de acabar por ser um relativista? Nossa resposta é: nem todo o relativismo é um perigo; existe também um relativismo salutar. </div><div>Sem dúvida, há várias espécies de relativismo pouco sadio. Existe o relativismo radical, talvez melhor denominado "ceticismo", que não admite certezas absolutas na vida intelectual nem normas absolutas na vida moral. Para o intelecto, tal ceticismo pode ser um esporte interessante ou uma sedução tentadora, mas, levado ao extremo, destrói-se a si próprio, tanto no plano teórico <span style="font-size: large;"><b>²</b></span><span style="font-size: large;"><b>⁷</b></span>como na vida prática <span style="font-size: large;"><b>²</b></span><span style="font-size: large;"><b>⁸</b></span>. Poderíamos chamar de "cético", numa forma mais mitigadas, ao imediatista, ao cínico, ao oportunista, ao <i>profiteur</i>: quando uma mente vem a ser repelida a si própria: segue o caminho do menor esforço, onde espera poder encontrar seus interesses egoístas sem se incomodar com os outros. Julgamos nós, com Huizinga e Marrou <span style="font-size: large;"><b>²</b></span><span style="font-size: x-large;"><b>⁹</b></span>, que o perigo de "ceticismo" desta natureza só existe para quem já anteriormente, por motivos alheios aos estudos históricos, perdeu a confiança na existência de normas absolutas. </div><div>No mais das vezes, porém, o "ceticismo" não passa de uma reação psicológica contra um complexo de preconceitos (durante muito tempo, identificados com "convicções" e de imposições <span style="font-size: medium;">—</span> identificadas com normas morais), em que se perdeu a confiança; a uma fase de confiança absoluta e ingênua segue-se frequentemente uma fase de desconfiança radical <span style="font-size: large;"><b>³</b></span><span style="font-size: large;"><b>⁰</b></span>. Isso acontece na crise de puberdade de muitos adolescentes <span style="font-size: large;"><b>³¹</b></span>. É geralmente uma fase transitória, perigosa só no caso de se perpetuar. Sendo normal o desenvolvimento da pessoa em apreço, esta fase vem sucedida de uma fase característica do estado adulto: nem confiança absoluta (infância), nem desconfiança radical (puberdade), mas confiança crítica (maturidade). </div><div>Nesta fase se nos apresenta a possibilidade de um relativismo salutar. É um relativismo que se opõe ao falso absolutismo de outrora. Um relativismo isento de fanatismo e intransigência, mas não destituído de firmes convicções e do "senso normativo". Um relativismo que reconhece a existência da Verdade Absoluta, mas que sabe que ela não é deste mundo relativo, em que o homem tem que conquistar a sua verdade no tempo, ao longo da sua existência histórica, sucessivamente, progressivamente <span style="font-size: large;"><b>³²</b></span>, relativamente. O homem não é dono da Verdade; como criatura, apropria-se dela em parcelas, e como animal histórico, através do tempo. Relativismo é uma espécie de realismo e um ato de humildade: o relativista reconhece as delimitações inerentes à condição humana e tem respeito pela parcela da verdade que se encontra em outras pessoas. </div><div> </div><div style="text-align: center;"> III. <b>E a criação artística?</b> </div><div>Quase todos os grandes historiadores dos séculos passados foram grandes literatos: Heródoto, Tucídides, Tácito, Fernão Lopes, Voltaire, Gibbon, etc. Também no século XIX, quando já nascera o novo conceito da história, vários historiadores mostraram-se grandes artistas: Macaulay, Guizot, Burckhardt, Renan, Alexandre Herculano, Oliveira Martins, etc. Ao grande público esses autores são geralmente conhecidos não por causa das suas investigações históricas, também feitas por eles, mas como autores da literatura nacional <span style="font-size: large;"><b>³³</b></span>. </div><div>Não falamos aqui apenas nos méritos meramente estilísticos dos grandes historiadores; uma criação artística abrange muito mais: a composição, a dramatização, a faculdade evocatória, a intuição psicológica, a visão sintética de um conjunto, a mensagem humana de uma interpretação, etc. Apesar de se terem aperfeiçoado os métodos científicos da investigação histórica, todos esses fatores continuam a desempenhar um papel importante para uma obra histórica se tornar uma síntese de interesse verdadeiramente humano. A reconstrução técnica do passado pode ser interessante para alguns especialistas, uma visão pessoal do passado tem muito mais valor. Isso não quer dizer que a historiografia seja uma espécie de beletrística. Na literatura, o autor tem a liberdade de seguir o caminho da sua imaginação, limitada apenas pelas exigências da sua criação artística; na historiografia, a imaginação deve ser disciplinada por uma vontade incondicional de obedecer aos fatos. Na literatura, trata-se de criar uma nova realidade com a sua autonomia própria; na historiografia, trata-se de dar uma visão de dados objetivos e pré-existentes. Na literatura, a magia das palavras, por mais discreta que ela seja, é um fator essencial; na historiografia, é um elemento acessório, embora não sem importância. </div><div>Pode-se formar um investigador, mas é impossível formar um artista criador. A combinação dos dois seria o caso ideal. Mas a quem as Musas não concederam o voo aos cumes do Parnasso recomenda-se uma atitude de realismo: ele não deve tomar seu Rocinante por um Pégaso; se não puder voar, não deve tomar emprestadas asas postiças; como outro Ícaro, há de cair fatalmente no mar da mediocridade. Seria uma traição tanto à arte como à verdade, e também neste particular, exige-se honestidade da parte do historiador. </div><div>Ainda duas palavras sobre o estilo histórico, o qual, segundo os preceitos da retórica tradicional, deve ser simples, claro e natural <span style="font-size: large;"><b>³⁴</b></span>. Esta regra ainda hoje não perdeu nada do seu valor. O historiador, mesmo que não seja um estilista no sentido artístico da palavra, tem a obrigação de empregar sua língua com correção, <span style="font-size: medium;">—</span> uma coisa que se pode aprender pela leitura de bons exemplos e mediante exercícios práticos. Não faz muito tempo que, na nossa cultura, o prestígio de uma formação literária (ou, talvez melhor: verbalista) era muito grande: naquele tempo era urgente advertir os historiadores dos perigos de declamações retóricas e de frases sonoras. Hoje nos ameaça o perigo de uma retórica "cientista", que consiste em estropiar a linguagem histórica com uma terminologia pedante, cheia de neologismos supérfluos, estrangeirismos de mau gosto e eruditismos ridículos. Falar "difícil" não é prova de cultura histórica, nem mesmo de erudição ou de alto saber. O historiador, como aliás todo e qualquer intelectual, tem uma grande responsabilidade para com a língua vernácula. </div><div> </div><div style="text-align: right;"><b>*</b> Autor de livros em diferentes áreas: Estudos Clássicos, Língua Latina, Filologia, Linguística, História e Literatura. Suas principais publicações, quando de sua permanência no Brasil, foram <b>Introdução aos estudos históricos</b> (1958) e <b>Propylaeum Latinum: sintaxe latina superior</b> (1960). Entre outros assuntos pesquisados por ele, é notável seu grande interesse pela vida e obra do Padre Vieira, a quem dedicou um livro em dois volumes: <b>António Vieira. História do futuro (Livro Anteprimeiro)</b> (1976), publicados pela editora Aschendorffsche Verlagsbuchhandlung, de Münster, Westfalen, considerado seu <i>opus Magnum</i>. O segundo volume dessa obra consiste em uma edição do célebre livro de Vieira, acompanhada de uma bibliografia, uma introdução e um aparato crítico. Também, digno de nota é um de seus últimos livros sobre Vieira: <b>Antônio Vieira: profecia e polêmica</b>, foi publicado no Brasil pela Eduerj em 2002. <br /></div><div> </div><div><b><span style="font-size: medium;">II. NOTAS EXPLICATIVAS</span></b> </div><div> </div><div><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹ </b></span></b></span><i>Clio saeclo retro memorat sermone soluto, </i>e<i> Clio gesta canens transactis tempora reddit</i>: assim começam dois poemetos, consagrados aos ofícios das nove Musas e muito populares na Idade Média: este, de um poeta anônimo, aquele, de Florus (século II d. C.) . — Cf. E. BAEHRENS, <b><i>Poetae Latini Minores</i></b> (Lipsiae 1871 e 1882), vol. III p. 243, e vol. IV p. 279. — Os nomes das nove Musas são enumeradas, pela primeira vez, por HESIODUS, <b><i>Theogonia</i></b>, pp. 77-79. </div><div> </div><div><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>² </span></b></span></span></span></b></b></span></span>ARISTÓTELES, <b><i>Poetica</i></b>, 9. — O moralista Sêneca observa (<b><i>Quaestiones Naturales</i></b> III Praef. 5): <i>Consumpsere se quidam, dum acta regum externorum componunt quaeque passi invicem ausique sunt populi. Quanto satius est sua mala exstinguere quam aliena posteris tradere?</i> </div><div> </div><div><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>³ </b></span></span></span></span>Por exemplo na sua obra histórica: <i><b>De Republica Atheniensium</b></i>. </div><div> </div><div><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴ </b></span></span></span>Por exemplo Dicearco (± 300 a. C.) que escreveu a primeira história da civilização grega (<i><b>Vida da Hélade</b></i>), e Aristóxeno de Tarento (século III) que passa pelo pai da biografia literária. </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>⁵ </b></span>Cícero, <i><b>De Oratore</b></i>, II 9, 36; <i><b>De Divinatione</b></i>, 24, 50: <i>Plena exemplorum est historia</i>; cf. PLUTARCHUS (§ 24, I) e Titus Livius (§4, III); SICULUS, Diodorus, <b><i>Bibliotheca,</i></b> I 2, 2: <i>"Se a mitologia relativa ao Hades, por mais fictícia que seja, muito contribui para que os homens sejam piedosos e justos, quanto mais devemos estimar a história, a sacerdotisa da verdade, a fonte de toda a filosofia: ela, deveras, educa os homens para uma vida honesta e decente</i>". E POLÍBIO (Historiae I 1, 1): "<i>Os homens não possuem corretivo melhor do que o conhecimento dos fatos do passado</i>". Cf. o opúsculo interessante de A. J. TOYNBEE, <b><i>Greek Historical Thought</i></b>, New York, in "Mentor Books", 1952. </div><div> </div><div><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: x-large;"><b>⁶ </b></span></span></span></span></span></span></span>I Cor 15, 14 </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>⁷ </b></span>Mencionamos apenas S. Augustinus, <i><b>De Doctrina Christiana</b></i>, II 28, 42-44, e<b> <i>De Vera Religione</i></b> VII 13: "<i>Em nossa religião, o ponto essencial que se deve admitir, é a história e a profecia para se ver como a Divina Providência efetua, no tempo, a salvação do gênero humano</i>". </div><div> </div><div><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;">⁸ </span></b></span>Já Francis Bacon (1561-1626) depreciara a história, dizendo que ela pertence ao "reino da memória". - Cf. R. G. COLLINGWOOD, <i><b>The Idea of History</b></i>, Oxford, 1951. </div><div> </div><div><span style="font-size: x-large;"><b><span>⁹ </span></b></span>Com efeito, a empregada de Cícero sabia infinitamente mais coisas concretas da vida romana do que o historiador mais erudito dos tempos modernos; mas tinha ela uma ideia das conexões e da sua situação no tempo, ou tinha ela uma visão panorâmica e uma experiência refletida das coisas? </div><div> </div><div><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;">¹</span></b></span><span style="font-size: x-large;"><b><span>⁰</span></b></span>Paráfrase de um texto de Nietzsche: <i><b>Reflexões intempestivas</b></i>, II 7 (em alemão: "Unzeitgemãsse Betrachtungen"), de 1873-1876. - Para a. tomada de posição de Nietzsche ante a história, cf. M.-A. Bloch, apud <i><b>L'Homme et l'Histoire</b></i>, pp. 165-169. </div><div> </div><div><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;">¹¹ </span></b></span></span></span>P. VALÉRY, <b><i>Regards sur le Monde actuel </i></b>(Paris, Gallimard), 1945, p. 44. -
Cf. do mesmo autor, <b><i>Variété</i></b> IV (Paris, Gallimard), 1939, pp. 129-142. - As palavras de Valéry provocaram protestos violentos de vários lados, cf. <b><i>La Via Intellectuelle</i></b> LXIV (1936) e <b><i>Revue des deux Mondes</i></b> CIII (1933). </div><div> </div><div><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;">¹² </span></b></span></span></span>F. CHARMOT, S. J., <b><i>La Teste bien faicte</i></b>, Paris, 1945, p. 177. </div><div> </div><div><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: large;"><b>¹³ </b></span></span></span>HOMERUS, <i><b>Odyssea</b></i>, I 3. — O texto já foi citado por Diodorus SICULUS, <i><b>Bibliotheca</b></i>, I 1, 2. </div><div> </div><div><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></span></span><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴ </b></span></span></span>R. DESCARTES, <i><b>Discours de la Méthode</b></i> (Paris, Flammarion), 1935, p. 6. </div><div> </div><div><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></span></span></span></span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;">⁵ </span></b></span>Pe. António VIEIRA, <i><b>História do Futuro</b></i>, Ed. e Publ. Brasil, São Paulo, 1937, p. 32. </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span><span style="font-size: x-large;"><b>⁶</b></span>Em alguns países europeus e americanos, fala-se hoje muito na "futurologia", a qual, acompanhando minuciosamente as tendências existentes na atualidade, procura formular prognósticos cientificamente fundamentados, sobretudo com o fim de "planejar" o futuro. </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>¹⁷ </b></span>ARISTÓTELES, <i><b>Poetica</b></i>, 6. — Lembremos a palavra sublime de Virgílio: <i>Sunt lacrimae rerum et mentem mortalia tangunt</i> (<b><i>Aen.</i></b> 1 462). </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>¹⁸ </b></span>P. HAZARD (<b><i>Revue des deux Mondes</i></b>, CIII, 1933, 15 sept., p. 189). </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span><span style="font-size: x-large;"><b>⁹</b></span>Cf. CÍCERO, <b><i>De Oratore</i></b>, II 15, 62: "<i>Nam quis nescit primam esse historiae legem ne quid falsi dicere audeat?
deinde ne quid veri non audeat? ne qua suspicio gratiae sit in
scribendo? ne qua simultatis?</i>"</div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>²</b></span><span style="font-size: x-large;"><b>⁰</b></span>Fénelon escreveu em 1714 <b><i>Lettre sur les Occupations de l'Académie française </i></b>(publicada em 1716), cujo capítulo VIII é intitulado: <i><b>Projet d'un Traité sur l'Histoire</b></i>. O autor adere, como é muito natural no seu tempo, à história "pragmática". Cf. logo no início: "<i>L'Histoire est néanmoins très importante: c'est elle qui nous montre les grands exemples, qui fait servir les vices mêmes des méchants à l'instruction des bons, qui débrouille les origines et qui explique par quel chemin les peuples ont passés d'une forme de gouvernement à une autre</i>". </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>²¹ </b></span>Muitas vezes frisam também a necessidade de ser erudito o historiador (conhecimentos da vida militar e política, da geografia, e da cronologia, etc.) </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>²² </b></span>Cf. CÍCERO, <i><b>De Legibus</b></i>, I 2, 5: "... <i>quippe cum sit opus (historicum) unum hoc oratorium maxime; cf. De Oratore, II 12, 51: historicum scribere... summi (oratoris est)"</i>; PLINIUS, <i><b>Epistulae</b></i>, V 8; etc. </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>²³ </b></span>G. W. LEIBNIZ, <b><i>Nouveaux Essais</i></b>, etc., I, cap. 2: "<i>Si la géométrie s'opposait autant à nos passions et à nos interêts présents que la morale, nous ne la contesterions et nous ne la violerions guère moins, malgré toutes les démonstrations d'Euclides et d'Archimèdes, qu'on traiterait de rêveries et croirait pleines de paralogismes.</i>" </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>²⁴ </b></span>Aliás, evidencia-se, cada vez mais, que a objetividade absoluta também não existe nas ciências naturais. </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>²⁵ </b></span>Em alemão: "<i>voraussetzungslose Wissenschaft</i>", termo introduzido pelo historiador H. von Treitschke (1834-1896) e tornado conhecido por seu "correligionário" Th. Mommsen, que em 1901, numa carta pública, protestava contra a nomeação de um professor católico na Universidade de Estrasburgo. </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>²</b></span><span style="font-size: x-large;"><b>⁶</b></span>LUCIANUS, <i><b>Quomodo historia conscribenda</b></i>, 39; cf. § 3, VI g. </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>²</b></span><span style="font-size: large;"><b>⁷</b></span>O relativismo "absoluto" é uma contradição <i>in adjecto</i>: o relativista, por não admitir verdades absolutas e considerar tudo como absoluto, chega a contradizer-se: sustenta como uma verdade absoluta o seu relativismo. Com ele não é possível discutir: não se discute com uma planta, como diz Aristóteles (<b><i>Metaphysica</i></b>, III 4, 24). </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>²</b></span><span style="font-size: large;"><b>⁸</b></span>Muitos relativistas pretensamente radicais são incoerentes: não se cansam de refutar velhos erros e de apresentar verdades novas. É o caso de um Spengler e tantos outros relativistas. </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>²</b></span><span style="font-size: x-large;"><b>⁹</b></span>J. HUIZINGA, <b><i>Sobre el estado actual de la Ciencia Histórica</i></b>, Tucuman, s.d., cap. III, p. 137. </div><div>H.-I. MARROU, <i><b>De la connaissance historique</b></i>, Paris, Aux Éditions du Seuil, 1954, p. 265. </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>³</b></span><span style="font-size: x-large;"><b>⁰</b></span>Sócrates, no diálogo <b><i>Phaedon</i></b> (89D) de Platão, já falou na reviravolta de uma excessiva "philo-logia" e "phil-anthropia" no sentido de uma "miso-logia" e "mi-anthropia" radical. </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>³¹ </b></span>Papai Noel não existe; consequentemente, também Deus não existe! Essas "extrapolações" ocorrem não apenas na vida de adolescentes, mas também na de adultos, quando se vêem, de repente, desiludidos. </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>³² </b></span>Isto não quer dizer que o progresso na apropriação da verdade seja uma linha ascendente sem interrupções: há períodos não só de estagnação, mas também de retrocesso. </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>³³ </b></span>Cf. Fidelino de FIGUEIREDO, em <b><i>Revista de História</i></b>, nº 20 (1954). </div><div> </div><div><span style="font-size: large;"><b>³⁴</b></span>Assim falam Aristóteles, Cícero, Quintiliano e muitos outros. </div><div> </div><div><b><span style="font-size: medium;"> </span></b></div><div><b><span style="font-size: medium;">III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</span></b></div><div><b><span style="font-size: medium;"> </span></b></div><div><b><span style="font-size: medium;"> </span></b></div><div><b><span style="font-size: medium;">BESSELAAR</span></b><span style="font-size: medium;">, José van den: <b>Introdução aos Estudos Históricos</b>, 4ª edição revista e ampliada, São Paulo: E.P.U.-EDUSP-Editora da Universidade de São Paulo, 1974,</span><b><span style="font-size: medium;"> </span></b><span style="font-size: medium;">340 p.</span> </div><div><br /></div><div><span style="font-size: medium;"><b>FREIRE</b>, José Geraldes: <b>In memoriam de José van den Besselaar (1916-1991)</b>, Universidade de Coimbra: revista Humanitas (1991), no boletim de Notícias e Comentários (pp. 225-9). </span></div><div><br /></div><div><span style="font-size: medium;"><b>WIKIPEDIA</b>: <b>Joseph Jacobus van den Besselaar</b> </span></div><div><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://de.wikipedia.org/wiki/Joseph_Jacobus_van_den_Besselaar">https://de.wikipedia.org/wiki/Joseph_Jacobus_van_den_Besselaar</a> 👈 </span><br /></div></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-87020962326471703932024-01-22T12:44:00.002-03:002024-01-23T06:36:19.123-03:00OS ÚLTIMOS DIAS DE FREI FELICÍSSIMO MATTENS o.f.m.<div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span style="font-size: large;">Por</span> <span style="font-size: large;">frei Seráfico Schluter o.f.m.</span></b></span></div> </div><br />
<div style="text-align: justify;"></div></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><i>Este obituário, originalmente publicado pela Revista da Província Franciscana de Santa Cruz no Brasil, Ano XLIII, nº 2, 1978, faz parte do acervo do saudoso Gil Amaral Campos, ex-aluno do Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei, que me foi cedido por seu filho, Bruno Braga Campos, residente em São Paulo-SP.<br /></i></blockquote><p> </p><blockquote><i></i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmz4dxUbl18UssfzJHS15FxDvRqmeF78LA91qMf5w3_ktgbXRxkR8pT1X3sLvRvOOeSNY0T6s1jnfEnfFhYkqRl2w6bU_YTmRgTHByoBSqb_WwqzjRHS3FfQyCs5p4bqX6ofqTi6pAzgEbEQzkAuuumfUlbdcOGD9Tj81RptfgV1PjvHEhHE6wMahb_Ao/s640/IMG_3228.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="505" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmz4dxUbl18UssfzJHS15FxDvRqmeF78LA91qMf5w3_ktgbXRxkR8pT1X3sLvRvOOeSNY0T6s1jnfEnfFhYkqRl2w6bU_YTmRgTHByoBSqb_WwqzjRHS3FfQyCs5p4bqX6ofqTi6pAzgEbEQzkAuuumfUlbdcOGD9Tj81RptfgV1PjvHEhHE6wMahb_Ao/s320/IMG_3228.jpg" width="253" /></a></div></blockquote><div><b><span style="font-size: large;">I.</span><span style="font-size: medium;"> Frei Luiz Carlos, aliás </span><span style="font-size: large;">frei Felicíssimo Mattens</span><span style="font-size: medium;"> (✰ Amsterdam, 9/8/1912 ✞ 10/5/1978)</span></b></div><div><b><span style="font-size: medium;"> </span></b><br /></div><div>... é assim que ele ficou conhecido entre nós em São João del-Rei, ultimamente visto nas ruas, vestido à paisana, de chapéu de palha e de botinas... indo à fazenda. </div><div>Nasceu em Amsterdam, capital da Holanda, a 9/8/1912. Entrou no seminário menor da Província holandesa, em Sittard, em 1925. Entrou na Ordem Franciscana a 7/9/1931. Fez o curso de Filosofia e o primeiro ano de Teologia na Holanda, e veio para o Brasil a 14/10/1935 para completar o resto em Divinópolis, onde Dom Antônio dos Santos Cabral o ordenou sacerdote na festa de Cristo Rei no dia 24/10/1937. Munido de muitos conhecimentos filosóficos e teológicos, dotado de dons linguísticos e musicais, frei Luiz Carlos começou a sua peregrinação, acompanhado sempre por seu violino. </div><div>Atrás destas datas está oculta uma vida humana que se dedicou a várias atividades em benefício da Província de Santa Cruz ou seja, em prol do povo de Deus. No início da sua vida sacerdotal dedicou-se ao trabalho pastoral no Norte de Minas como coadjutor em Araçuaí e Jequitinhonha. Lá ficou conhecendo o duro trabalho pastoral, devido aos meios de condução daquela época: o táxi rural, isto é, "<i><b>pedes apostolorum</b></i>" ou o dorso de burro. </div><div>Em 1941 foi transferido para São João del-Rei, onde exerceu várias funções como ecônomo do Colégio Santo Antônio, diretor, professor de francês e de religião, regente, guardião, fundador e administrador da Fazenda "Santo Antônio". Sob o seu mandato foi reaberto o curso científico em 1959, de que foi o primeiro diretor, e instalou no Colégio o sistema de pensionato. </div><div> </div><div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyT1Bc2T-Fn2ICA8DF0WJGW__mCkQKfCb457ZpRf58rHiELZwhyphenhyphenmPinCeudEf0XAQ8c6iUG175zicE4EtCqaeWJ3Jwx1I2SQyMb6ZQ0ZQ5Q3zWcBdsWyu41_SiJgh2M0Iaj8LgdKhQHlgxqP0uWf8GKEAp5w74x6jKDzvI2Q1Mh9_S_ivTBwrOaCDDX0Q/s320/IMG_0867.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="218" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyT1Bc2T-Fn2ICA8DF0WJGW__mCkQKfCb457ZpRf58rHiELZwhyphenhyphenmPinCeudEf0XAQ8c6iUG175zicE4EtCqaeWJ3Jwx1I2SQyMb6ZQ0ZQ5Q3zWcBdsWyu41_SiJgh2M0Iaj8LgdKhQHlgxqP0uWf8GKEAp5w74x6jKDzvI2Q1Mh9_S_ivTBwrOaCDDX0Q/w273-h400/IMG_0867.jpg" width="273" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Pequena Gramática da Língua Francêsa adaptada por Felicíssimo Mattens<br /></b></span></td></tr></tbody></table><br /> </div><div>Salvo engano, em 1964, transferiu-se para Belo Horizonte, onde foi trabalhar no Hospital "Felício Rocho". Em 1966 foi como vigário para Cabo Verde, denominado por ele de "vice-capital". Dali foi para o Rio de Janeiro como capelão do Sanatório N. S. das Dores (onde submeteu-se a uma operação do estômago com bom resultado). Foi lá que ele se exercitou muito na arte do violino, de novo, após muito anos de não ter podido saborear pessoalmente essa arte divina. </div><div>Com a transferência de frei Geraldo de Reuver e frei Salvador Tonino de São João del-Rei respectivamente para Santos Dumont e Belo Horizonte, ficou a fazenda praticamente sem administrador competente. Aí o coração de frei Luiz Carlos começou a sentir dó e paixão. Ofereceu-se para tomar conta da fazenda, pretendendo visitar São João mensalmente. Essa oferta foi aceita pela comunidade de São João. Desde então frei Luiz Carlos começou suas viagens cansativas. Através de suas conversas ficou transparente o seu desejo de ficar em São João del-Rei. Havia razão para isto. Primeiro que o calor do Rio o torturava, as viagens eram cansativas, alimentava-se mal e havia as dificuldades da fazenda que estava envolvida em dois litígios jurídicos. Estes litígios exigiam, de fato, a sua permanência mais prolongada. No início de 1976 frei Luiz Carlos resolveu ficar em São João del-Rei por uma boa temporada. Embora nunca fosse oficialmente incorporado na comunidade de São João, ficou ele conosco até o dia em que a sua doença o obrigou a procurar Belo Horizonte para se tratar. </div><div>Frei Luiz Carlos encontrou a fazenda numa situação pouco favorável, apesar dos esforços sinceros dos administradores anteriores. A tarefa de frei Luiz Carlos era recuperar a fazenda financeiramente e mais tarde, eventualmente, vendê-la. Ele calculava precisar de uns quatro anos. Frei Luiz recuperou, de fato, a fazenda e salvou para a Província um grande patrimônio. Vender? Todo mundo sabe que, no dia de hoje, não se vendem terras. Terras não se vendem atualmente. É o melhor investimento que se possa fazer. O que frei Luiz ganhou na recuperação da fazenda, perdeu na sua saúde. Ele se cansava demais com suas idas à fazenda e vindas de lá. Não havia sempre condução na volta para casa. Então voltava a pé. Depois resolveu pernoitar na fazenda, um dia sim, outro dia não. Mas ele emagrecia consideravelmente. Ele culpava a comida do convento, querendo manteiga de primeira e banha de porco, mais sal e mais pimenta na comida. Seus desejos eram para nós um ponto de interrogação. Mas mesmo assim, ele foi atendido, salvo quanto ao sal e pimenta. Ele mesmo tinha de por tais ingredientes no seu próprio prato. Suas queixas, porém, continuavam... "Estou morrendo de fome", disse-me um dia. Ele não tinha apetite de forma alguma. Aconselhamos-lhe consultar seu médico no Rio de Janeiro. Nega! Aceitou, mais ou menos, uma sugestão de mandar ao seu médico uma descrição de tudo o que ele sentia. Acho que ele nunca mandou tal descrição. </div><div>Mas havia mais coisas que nos preocupavam: seus desmaios. Faz uns dez anos ele teve o primeiro, na fazenda de Araticum, distrito de Emboabas. Ficou uns quarenta minutos sem sentidos e foi encontrado assim pelo empregado. No Rio lhe aconteceu também a mesma coisa. Aqui, em São João, teve vários ataques em 1977. Os sintomas eram de epilepsia. No dia primeiro de dezembro daquele ano o Luiz Carlos foi a Belo Horizonte, com frei Diogo, para consultar um médico. Voltou dia seis de dezembro, dizendo que agora sabia por que não tinha apetite e pediu desculpas por ter criticado a comida do convento: ele teria tuberculose! </div><div>Foi de um lado um alívio para ele e para nós também, pois nós temíamos algo pior. O seu médico queria que nós todos tirássemos uma radiografia dos pulmões, inclusive todas as pessoas que tiveram contato direto com ele: o sr. Nilton e as empregadas. Devíamos mandar as chapas para Belo Horizonte... Também em consequência disso, nós todos tínhamos de ingerir uma certa dose de comprimidos por precaução, durante uns seis meses. Frei Luiz Carlos, porém, após ter ingerido uma porção de remédios durante várias semanas, ou melhor, durante quase dois meses e ter-se esforçado por comer mais, não conseguiu ficar firme quanto ao comer bem, retornando a alimentar-se mal. </div><div>No dia três de fevereiro do ano corrente de 1978, depois do almoço, na presença de frei Diogo, Joel, Olavo, Dario e confrades da comunidade, frei Luiz teve um ataque forte. Seguindo o conselho do médico local, Dr. Diomedes, frei Luiz viajou a Belo Horizonte no dia quatro de fevereiro, acompanhado pelo sr. Nilton. Depois de ter feito alguns exames, voltou para São João, acompanhado pelo frei Nicolau e frei Abel. </div><div>No dia quinze de fevereiro houve uma audiência com o Juiz Odilon a respeito do litígio, em que a fazenda estava envolvida desde 1967. Frei Rogério F. dos Santos também estava presente como encarregado da Fazenda "Santo Antônio". O que nós dois, frei Rogério e eu presenciamos não se pode descrever em palavras. Frei Luiz teve inicialmente três ataques de grau leve, e depois um ataque bem forte. Tudo isso durante a audiência. Jurei comigo mesmo que frei Luiz não voltaria mais ao fórum. E planejamos remover o frei Luiz para Belo Horizonte, no dia seguinte. Frei Luiz concordou inicialmente, mas depois do jantar ele me pediu mais uns dias para aprontar-se, para por certas coisas em ordem, e para despedir-se de alguns amigos. Deixei e ficou combinado que no dia vinte ele seguiria para Belo Horizonte. </div><div>Nós queríamos evitar que Luiz fosse de novo a outra audiência no dia 23. Pois, sentindo-se bem, seria capaz de ir ao fórum. Neste ponto ele era teimoso. Mas o que aconteceu? Recebi, na tarde do dia 16, um telefonema de Belo Horizonte, comunicando que frei Nicolau e frei Lauro estavam a caminho para São João del-Rei, para buscarem o frei Luiz! Que fazer? Luiz já estava deitado; era mais ou menos 19h45min. Resolvi deixá-lo em paz e conversar com ele no outro dia. </div><div>No dia 17, subi ao quarto dele, dizendo que o médico queria interná-lo imediatamente. Decididamente ele respondeu: "Não, não vou agora, mas no dia 20." Expliquei que os resultados tinham sido entregues ontem, na parte da tarde, e que os frei tinham chegado ontem à noite. Silêncio...! Depois ele desceu para tomar café. Novamente fizemos uma tentativa para convencê-lo, mas nem frei Nicolau obteve resultado. Novamente, silêncio...! por uns quinze minutos. Frei Luiz subiu ao quarto, sem falar nada. Quanto a nós, aguardávamos na esperança de que ele cedesse. Frei Luiz recuou. Frei Metelo estava descendo e conversou com ele. Ouvindo a palavra "junta médica", Luiz Carlos mudou de atitude. Um pouco mais tarde, frei Orlando me comunicou que Luiz Carlos estava colocando malas no corredor. Subi de novo. De fato, lá estavam algumas malas. Ele começou a falar comigo, dando algumas instruções, ou seja, recomendações quanto à fazenda, manifestando o desejo de querer despedir-se de alguns amigos, dizendo ainda que estaria pronto talvez antes do almoço. Que alívio para nós! Pois ficamos sabendo que o estado dele era grave. Depois do almoço eles partiram rumo a Belo Horizonte, onde foi internado mais ou menos às 18h30min. </div><div>No dia 24 de fevereiro ele foi operado, mas após algumas horas de intenso estudo da situação, os médicos o consideraram inoperável. Desde então frei Luiz Carlos começou a sua longa espera, pensando inicialmente que sofria de tuberculose mesmo e cultivando ainda o desejo de viajar à Holanda. Mas na medida que o tempo passava, ele se conscientizou que não havia mais saída. Teve ainda o enorme prazer de ter a presença de sua única irmã e de sua única cunhada.</div><div>O frei Luiz Carlos se entregou à vontade de Deus e fez da sua morte um sacrifício por uma certa intenção que não posso revelar. Manifestou o desejo de morrer no Domingo da Ressurreição do Senhor. Aos visitantes pedia rezar, não por sua cura, mas para estar junto de Cristo, o mais depressa possível. No dia em que sua irmã e sua cunhada iriam embarcar para a Holanda, frei Luiz Carlos embarcou para a Pátria Celeste, terminando a sua peregrinação. Era o dia dez de maio de 1978. </div><div>Frei Luiz Carlos... um homem, um frade menor <span style="font-size: medium;">—</span> sacerdote amador e apreciador de música de violino, extremamente crítico a este respeito, persistente no duro estudo e exercício da arte de violino, ele, inclusive, sendo um grande apreciador e conhecedor da literatura francesa, tentava sinceramente compor uma sinfonia nas cordas de sua alma. Sob uma casca dura tentava ocultar a sua grande sensibilidade. No seu comportamento, nas suas atitudes e conversas cintilava do fundo da sua alma uma mentalidade profundamente religiosa para a superfície da vida de todos os dias. </div><div>Era um tipo conservador, sensivelmente para o passado, e considerando a situação atual, os panoramas religioso, moral, político, socioeconômico, parecia ele, aos olhos de muitos, um homem pessimista. Era um homem com saudades. Saudades de quê? Saudades dos bons tempos? Saudades dos tempos das grandes comunidades de frades? Saudades de justiça, amor e fraternidade entre os homens? Saudades daquilo que a humanidade perdeu na queda dos primeiros homens? Era um homem de saudades... como nós todos somos no fundo da nossa alma... Agora ele descansa em paz... Que ele interceda por nós junto de Deus! </div><div> </div><div style="text-align: right;">25/05/1978 - São João del-Rei </div><div> </div><div><b><span style="font-size: large;"> </span></b></div><div><b><span style="font-size: large;">II. Frei Luiz Carlos entrelaçou todos nós com o Pai </span></b></div><div> </div><div><b><span style="font-size: large;">Por frei Basílio de Resende o.f.m.</span><br /></b></div><div> </div><div>O final de uma existência humana é um momento decisivo que revela o segredo, o mistério que moveu a pessoa por toda a sua vida. </div><div>O final da vida de Frei Luiz Carlos foi para nós, que o acompanhamos de perto, uma autêntica revelação. Eu, particularmente considerei uma graça especial ter vivido com ele estes seus últimos dias.</div><div>Este homem calado, este homem que nos parecia austero e duro, quase seco e frio no relacionamento, era animado por dentro de uma alma sensível, humana, evangélica, religiosa, fraterna. Os seus últimos dias no nosso meio revelaram as duas direções fundamentais que marcaram a sua vida: a direção do Pai e a direção do mundo e dos homens. </div><div> </div><div><b><span style="font-size: medium;">1. "ESTOU INDO PARA A CASA DO PAI" </span></b></div><div> </div><div>Sua vontade, inicialmente, era de curar-se, era de viver. Ele foi informado que estava com tuberculose e que um pulmão estava todo tomado, precisava ser retirado cirurgicamente. </div><div>Então pensou em voltar para a Holanda: "Já que não posso mais trabalhar no Brasil, deixe-me desfrutar um pouco de convivência dos meus familiares." Queria voltar para a sua Terra, sua gente. Voltar para a pátria e os seus. </div><div>Pouco a pouco <span style="font-size: medium;">—</span> com a evolução da enfermidade, com o enfraquecimento do corpo <span style="font-size: medium;">—</span> ele foi descobrindo que a sua terra para onde estava indo era a Terra dos vivos, sua casa era a casa do Pai, sua gente para a qual caminhava para encontrar, eram os Eleitos do Cordeiro. </div><div>E ele aceitou e assumiu esta mudança de direção. Preparou-se para ir para a casa do Pai. Pediu a celebração da eucaristia no seu quarto, e a unção. Pedia sempre a bênção e a oração. Refletia (em latim <span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span><span style="font-size: medium;"></span>) : "Terminei a minha carreira e guardei a fé. Já não me resta senão receber a coroa de justiça, que naquele dia me dará o Senhor, justo Juiz, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua vinda". Pedia: "Reze para que Deus venha me buscar." </div><div> </div><div><b><span style="font-size: medium;">2. "AQUELES QUE EU AMEI NA TERRA"</span></b> </div><div> </div><div>Seu pensamento constante eram as pessoas que faziam parte mais significativa de sua vida: seus familiares, seus irmãos de vida religiosa, o povo de Deus, o Reino do Evangelho no mundo. Quanto a seus familiares, julgava ter uma missão ainda a cumprir. A reconciliação no seio da família de seu irmão. Quanto à nossa Província e nossa Ordem, fazia considerações de que me admirava. Falava sobre a pobreza: que nosso estilo de vida não é pobre; nosso estilo de vida não representa um desafio aos jovens. Os que vêm a nós são aburguesados pelo nosso estilo de viver. Perdem o elã. </div><div>Em nossa vida fraterna, dizia que muitas vezes interpretamos erradamente a recomendação de Francisco: "<b><i>non solum sibi vivere, sed aliis proficere</i></b> <span style="font-size: x-large;"><span><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span>." Dizia que nós nos matamos e desgastamos só atendendo a segunda parte da recomendação "<i>aliis proficere</i>". Esquecemos o "<i>sibi vivere</i>". Mas este polo da nossa vida não deve ser entendido como um fechamento individual ou grupal sobre si mesmo. Mas sim, como o cultivo da vida fraterna, da vida de oração, da vida de estudo e reflexão. </div><div>Pedia-me para continuar dedicando as minhas energias ao bem da nossa Província, da nossa Ordem e do Reino de Deus. Eu percebia nisto a sua dedicação e o seu amor ao Mistério, ao qual nos consagramos.</div><div>Um dia eu lhe disse: "Frei, tudo o que o senhor está sofrendo, a dor, o incômodo do corpo, 'a vida que se extingue' como o sr. disse, viva tudo isso junto com Cristo na Cruz. Ofereça por todas as pessoas que o sr. conheceu e amou; por todas as pessoas que existem". Ele respondeu com emoção: "Obrigado! Assim eu vivo!" </div><div>Frei Luiz Carlos viveu seus últimos meses de vida numa atitude interior de oferenda e de holocausto, junto com Cristo na Cruz. Ele nos entrelaçou com o Pai. </div><div style="text-align: right;">(Reflexões na missa de corpo presente)</div></div><span style="font-size: small;"><span style="font-size: small;"><b></b></span></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b><br /></b></span></div><p><span style="font-size: large;"><b>III. AGRADECIMENTO</b></span> <br /></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span><span>O gerente do Blog de São João del-Rei agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga a formatação e edição da foto utilizada neste texto.</span></span></span></div><div style="text-align: justify;"> <br /></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;"> </span></b></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;">IV. NOTAS EXPLICATIVAS DO GERENTE DO BLOG </span></b></div></div><span style="font-size: large;"><b></b></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b><br /></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><b><span><b>¹</b></span></b></span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b> </b></span></b></span><span style="font-size: small;"> Bonum certamen certavi, cursum consummavi, fidem servavi. In reliquo reposita est mihi corona iustitiae, quam reddet mihi Dominus in illa die iustus iudex: non solum autem mihi, sed et iis, qui diligunt adventum eius. (extraído de São Paulo: 2 Timóteo 4:7)<br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><span><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span> </span></b></span></span></span></b></b></span></span><span style="font-size: small;">Viver não apenas para si, mas também para servir aos outros. (extraído das Laudes do Ofício de São Francisco de Assis). <br /></span></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-36004045837016567862024-01-18T12:42:00.016-03:002024-01-24T14:58:15.983-03:00HERMES, o guardião das almas - Conferência 3 por Junito Brandão<div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span style="font-size: large;">Por</span> <span style="font-size: large;">JUNITO DE SOUZA BRANDÃO *</span></b></span></div> </div>
<div style="text-align: justify;"></div></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><i>Esta é a terceira </i><b>*</b><i><b>*</b> de 16 Conferências realizadas por Junito de Souza Brandão entre 1985 e 1988 em São Paulo e Rio de Janeiro, publicadas em "</i><b>Mito e Tragédia Grega</b><i>", São Paulo: Rima Editorial, 1989, 147 p.<br /></i></blockquote><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfm0A4vSvaXUYznUE7V1MzbwrfvqASh32OYQUq2QWNk4Vn8JduXysPbV0pQkg90vcPsD4ygeEu89EHB84pKQQB63Rl0_0zdqhS0oeZ3aLoLyXQaSw8Q6F6FNk1NqZz3Xt1RdWZUewAnjiZ-TJ_7KnFU9whrxsnOu-sJRmVItSkpCO2j_MImfppPJOPht8/s576/Mercurius.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="400" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfm0A4vSvaXUYznUE7V1MzbwrfvqASh32OYQUq2QWNk4Vn8JduXysPbV0pQkg90vcPsD4ygeEu89EHB84pKQQB63Rl0_0zdqhS0oeZ3aLoLyXQaSw8Q6F6FNk1NqZz3Xt1RdWZUewAnjiZ-TJ_7KnFU9whrxsnOu-sJRmVItSkpCO2j_MImfppPJOPht8/w278-h400/Mercurius.jpg" width="278" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Hermes (Mercúrio), por Artus Quellinus, identificado por seu chapéu, bolsa fechada por um fio, caduceu, sandálias aladas, galo e bode, no Amsterdam Town Hall, hoje Royal Palace / Crédito: </b><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Merc%C3%BArio_(mitologia)">https://pt.wikipedia.org/wiki/Merc%C3%BArio_(mitologia)</a></span></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"> </span></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b><br /></b></span></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b><br /></b></span></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b><br /></b></span></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: justify;"></div><br /><div style="text-align: justify;"><br /><p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhN9LD7JwvvtWCRrY38yTonO4QN9mFtcK5memU1aelmlNHFLpesbzKXfZ5lGk84xcRm2acrBuXOvHxhC3O6lhZLU3zQdUmHKyl_TT9OsLoeyYYSyMytIxKXW2b5VDeYP8HVnw7CYwIJmYoH5_xHt8Es0-uq-rO776uYTdE4zL-OMtzFEdpftJHYoO9FGP4/s400/IMG_3116.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="293" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhN9LD7JwvvtWCRrY38yTonO4QN9mFtcK5memU1aelmlNHFLpesbzKXfZ5lGk84xcRm2acrBuXOvHxhC3O6lhZLU3zQdUmHKyl_TT9OsLoeyYYSyMytIxKXW2b5VDeYP8HVnw7CYwIJmYoH5_xHt8Es0-uq-rO776uYTdE4zL-OMtzFEdpftJHYoO9FGP4/w293-h400/IMG_3116.jpg" width="293" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Mito e Tragédia Grega</b><i>, São Paulo: Rima Editorial, 1989, 147 p.</i></span></td></tr></tbody></table><span style="font-size: medium;"> </span><p></p><p><span style="font-size: medium;">HERMES é um deus de longa vida. Resistiu com sua alquimia até o início do século XVIII e permaneceu vivo no mito em determinadas seitas religiosas, como na "doutrina da emanação". A iconografia o apresenta com um chapéu de formato especial (pétasos) </span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> que significa "o poder" </span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;">, sandálias providas de asas e segurando um caduceu com duas serpentes entrelaçadas na parte superior.<br />Na Grécia, costumava-se erguer nas encruzilhadas uma pequena colunata (ou pilar) encimada com a cabeça do deus. A esses pilares dava-se o nome de hérmata <b>***</b> (plural de <b><i>herma</i></b>); em português, a palavra herma é usada para designar a escultura de um meio busto. A herma simboliza a vigilância de Hermes sobre as encruzilhadas, onde o deus conjura as bruxas e as mágicas. Ele próprio é um deus bruxo e mago. Enxerga à noite e, por isso, é o deus vigilante, protetor dos pastores, viajantes, comerciantes e ladrões. Hermes, o deus dos achados e das descobertas fortuitas, é quem traz a felicidade.<br />Os gregos deram a esse achado o nome de <i><b>hérmaion</b></i>, isto é, "lucro inesperado", uma descoberta feliz. Daí a hipótese etimológica de que o nome <b><i>Hermês</i></b> <b>****</b> significa "aquele que proporciona algo inesperado a nós". Na Grécia, a cada descobrimento feliz, lançava-se uma pedra em agradecimento a Hermes. À beira das estradas gregas erguiam-se verdadeiras pirâmides de pedras, que simbolizavam a presença de Hermes, pois elas são a encarnação do divino </span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span><span style="font-size: medium;">. O cavalo, o gato, o cão e principalmente o galo são animais consagrados a Hermes. Quando se fazia um sacrifício ao deus nas encruzilhadas sacrificava-se um galo branco e para Hécate, senhora dos malefícios, sacrificava-se um galo preto.<br />Hermes é um deus indo-europeu, assim como Zeus, Poseidon e Plutão. Todos os outros foram tomados de empréstimo, através dos vastos sincretismos que a mitologia grega fez com a cretense e a oriental. Do ponto de vista mítico, Hermes é filho da união de Zeus com a imortal Maia, a "brilhante", a "luzidia". Nasceu em um dia quatro </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> número que lhe é consagrado </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> em uma caverna no monte Cilene ao sul da Arcádia.<br />Ainda recém-nascido, sua mãe Maia o enfaixa e o coloca em um buraco "lá em cima", no vão de um salgueiro, a árvore sagrada, símbolo da fecundidade e da imortalidade. Isto significa que ele é um deus que domina os três níveis: Hermes está "lá em cima", dominando o nível do alto (olímpico), está no "mundo de baixo" (ctônio), e também no mundo telúrico, pois os salgueiros têm suas raízes fincadas na terra.<br />Hermes gostava de ficar num <b><i>Trivium</i></b>, que em latim significa "uma encruzilhada de três caminhos". Os três caminhos são os três níveis: olímpico, telúrico e tártaro. Por isso, em cada encruzilhada colocava-se uma <b><i>herma</i></b> para se conjurar e ter a direção certa. A herma era uma orientação para a vida. Aponta qual dos caminhos, num trívio, devemos tomar, e Hermes vai nos dar três direções: à direita, à esquerda e uma direção de centro. Se conseguirmos juntar (somar) as duas direções para chegar ao centro, tanto melhor </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> atingiremos o quaterno. Se não, ficaremos à margem da vida.<br />No mesmo dia em que veio à luz, Hermes se desvencilha das faixas (ele tem o poder de ligar e desligar) e, enquanto sua mãe dorme, resolve praticar o seu primeiro roubo. Viaja à Tessália para furtar uma parte do rebanho do rei Admeto, guardado por Apolo </span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span><span style="font-size: medium;">, quando este tipo de furto era livre e então assume a mais humilde das profissões: a de guardião de rebanhos.<br />Na Grécia, era necessário guardar os rebanhos, já que o furto era livre. Ser pastor era uma das funções mais humildes na Grécia clássica e, no mito grego, "furtar rebanho" significa adquirir uma personalidade heróica.<br />Hermes amarrou galhos folhados nas caudas dos animais roubados para que Apolo não descobrisse o seu paradeiro. Enquanto os animais andavam, as folhas apagavam suas pegadas. Ele leva os animais para a gruta, onde crescia o salgueiro sagrado, e imediatamente sacrifica duas novilhas, dividindo-as em doze porções, oferecendo-as a seu pai Zeus e aos deuses olímpicos. Até então os deuses eram somente onze, mas Hermes, ao cortar os animais em doze pedaços, autoproclamou-se um deles.<br />Apolo chegou ao seu rebanho auxiliado pelos sátiros </span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>³</b></span></span></span></span><span style="font-size: medium;"> e, no momento em que viu as peles das novilhas sacrificadas, não teve dúvida de que o ladrão era Hermes. Apolo interroga Maia que nega tudo, alegando que uma criança recém-nascida não poderia sair de casa para roubar rebanhos. Maia, no entanto, sabia que seu filho tinha uma virtude muito rara </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> o poder de atar e desatar </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;"> que só os grandes deuses possuíam, como Zeus e Hefesto. Diante da negativa de Maia, Apolo apela para seu pai Zeus, que decide interrogar Hermes, que acaba confessando o roubo prometendo nunca mais faltar com a verdade, sem no entanto não estar obrigado a dizer a verdade por inteiro.<br />Sendo o "deus da descoberta", Hermes vai fazer ele próprio uma descoberta. Com as tripas das novilhas sacrificadas e a carapaça de uma tartaruga constrói a primeira lira de sete cordas. Apolo ficou encantado com o instrumento e Hermes propõe trocá-la pelo rebanho. Em seguida, cria outro instrumento musical chamado Flauta de Pã </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> que aparece também no mito de Eros e Psiquê.<br />Apolo novamente desejou a flauta e propõs a Hermes trocá-la pelo seu caduceu (um bastão de ouro com duas serpentes enroladas) com que guardava o rebanho do rei. Hermes aceitou o negócio, mas exigiu ainda lições de adivinhação.<br />O caduceu, além de símbolo fálico, é um símbolo que espanca as trevas. Com ele, Hermes levava as almas para a outra vida. Agora, ele possui dons divinatórios e um caduceu, que lhe permite desvendar as trevas. Segundo a <b>Odisseia</b> de Homero, Hermes passou a ser "o fiel companheiro do homem". Dado o seu dom de poder abrir as trevas e caminhar a qualquer hora do dia e da noite sem errar o caminho, ele foi feito o deus psicopompo, ou seja, o deus que tangia com seu caduceu as almas dos mortos para a outra vida. Portanto, ele vivia em <i><b>katábasis</b></i> e <i><b>anábasis</b></i> permanentes, e se chamava o "mensageiro dos deuses".<br />Enquanto deus da <b><i>metamórfosis</i></b>, Hermes pode transformar a "matéria inferior", a "paixão da matéria". Em hermetismo, paixão é sofrimento (<b><i>páthos</i></b>) e a matéria passa pela paixão. Hermes é o deus que sabe guardar os segredos porque tem o dom da paixão hermenêutica da palavra. Ele sabe descobrir a razão das coisas e expô-las. É o deus da alquimia (<i><b>khyméia</b></i>) - origem da palavra "química", que significa "mistura de sucos".<br />O alquimista que transforma a matéria, transforma-se junto com ela. A transformação é objetiva e subjetiva e, quando é radical, quando a mistura chega a uma depuração, usa-se a palavra <b><i>khyméia</i></b>. No hermetismo, a matéria irá passar por uma experiência dramática, análoga às paixões de determinados deuses nos mistérios: sofrimento, morte e ressurreição. Para o alquimista, os minerais padecem, morrem e renascem em uma outra forma, isto é, são transmutados </span><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴</b></span></span></span><span style="font-size: medium;">. A esta transformação, os alquimistas vão dar o nome de <b>VITRIOL</b>: <b>V</b>isita-<b>I</b>nteriora-<b>T</b>errae-<b>R</b>ectificando-<b>I</b>nvenies-<b>O</b>ccultum-<b>L</b>apidem. </span></p></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><span style="font-size: medium;"><i>“</i></span><span style="font-size: medium;"><i>Desce às entranhas da terra e, purificando-te, encontrarás a pedra secreta</i></span><span style="font-size: medium;"><i>”</i></span><span style="font-size: medium;"><i> </i>(a pedra filosofal)<i>.</i></span></blockquote><div><span style="font-size: medium;"> Da união dos contrários, <b><i>complexio oppositorum</i></b>, sairá a energia vital que é a pedra.</span></div><div><span style="font-size: medium;"><br />Hermes será também o responsável pela doutrina da emanação descrita no volume V do <b>Corpus Hermeticum</b>, coleção que remonta ao século II d.C., relativa a Hermes Trismegisto </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> fusão de filosofia, religião, alquimia, magia e, sobretudo, de astrologia. Emanação é uma palavra formada à base do verbo latino <i><b>emanare</b></i>, que significa "manar, provir de, originar-se de". O hermetismo partia de um princípio religioso que vai ser depois repetido por Plotino nas <b>Enéadas</b> </span><span style="font-size: large;"><b>⁵</b></span><span style="font-size: medium;">.<br />Como doutrina, a emanação sintetiza-se no seguinte: acima de todos os seres eleva-se o <b>UNO</b>, <b>A GRANDE MÔNADA</b>, a <b>UNIDADE ABSOLUTA</b>, <b>SER INCOGNOSCÍVEL</b>. Por isso, o número Um não existia na numerologia grega que começava pelo Dois. O Um não existia porque seria uma degradação do Uno ou do "Grande Um". O Uno era um ser supremo, simplíssimo e satisfeitíssimo na contemplação de si próprio, sem necessidade de mais nada. Do Uno não se pode dizer o que ele é, apenas que é uno e bom.<br />Diz o <b>Corpus Hermeticum</b>: "não sabemos, na realidade, o que tenha sido o Uno, mas sabemos que ele era "bom". E por ser bom, expandiu-se para fora de si, gerando por degradação e dissemelhança a inteligência, o <b><i>nous</i>*****</b> ou <b><i>lógos</i></b>, ou seja, a "inteligência suprema", que irá cuidar do mundo dos inteligíveis (vide doutrina platônica das ideias).<br />Assim, o lógos ou o nous, a inteligência universal que está abaixo de <b><i>monas</i></b>, vai cuidar do mundo dos inteligíveis. Nous ou Lógos gera a <b><i>Alma do Mundo</i></b>, que cuida do que é sensível, já que o Nous cuida do que é inteligível.<br />As Almas do Mundo vão gerar as almas individuais, que, para o Hermetismo, são forças plásticas, aquilo que é possível amassar e moldar, que não quebra. Estas forças plásticas ou individuais geram a matéria e se incorporam a ela.<br />A última degradação de monas </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> na doutrina da emanação </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> se dá na matéria, que se esgota e precisa ser recomposta. Tem de haver uma força de reabsorção (re-união) para que as monas voltem à sua <i><b>enérgeia</b></i> primeira, à sua absoluta simplicidade. E Hermes nos ensinou a tática de como reabsorver tudo isto em monas, de como retroceder.<br />Nesta reabsorção, a psiquê (a alma) passa por três estágios ou caminhadas. O primeiro esforço de recomposição das monas, os gregods chamavam de "esforço da <b><i>kathársis</i></b>", da purificação. Temos que nos despir da matéria e do sensível para alcançar o primeiro degrau do recuo.<br />Para Plotino, nossa vida interior deve perder todo o apego à matéria e ligar-se por <i><b>ékstasis</b></i> ao divino. Ele empregava a técnica da reflexão, da meditação e da ascese rigorosa. Plotino tem uma frase célebre: </span></div></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><span style="font-size: medium;"><i>“</i></span><span style="font-size: medium;"><i>a única vergonha que tenho na vida é de ter nascido, pois estou encaixotado numa matéria podre da qual custo tanto a me desvincular</i></span><span style="font-size: medium;"><i>.”</i></span></blockquote><div><span style="font-size: medium;">A purificação nos leva de volta à Alma do Mundo, ao primeiro degrau, desde que nos purifiquemos. E a Alma do Mundo gera as almas individuais, as que se encarceram na matéria. Se negarmos a matéria, voltaremos ao primeiro grau (à Alma do Mundo).<br />O segundo esforço é da <i><b>dialektikê</b></i> (do diálogo) que é o do poder de comunicabilidade da psiquê despida da matéria. Pela dialética, a alma se eleva à contemplação das ideias e se "re-une" à inteligência. Através da postura hermética de diálogo achamos o caminho e voltamos ao nous, que gerou a Alma do Mundo.<br />O último esforço é o "esforço supremo" do <b><i>ékstasis</i></b>. Nele, a psiquê se despoja do sentimento da própria personalidade para se abismar inconscientemente na Unidade Suprema. Toda a finalidade da doutrina é a "re-união" extática, o retorno místico da alma à Grande Mônada: nisto consiste precisamente a felicidade suprema do homem.<br />Então, através desse esforço do meu ékstasis, passo por três estágios: nego a matéria, entro em "diálogo" e em "êxtase". Aí estou pronto para me despedir da minha individualidade e voltar ao grande todo de onde saí.<br />Hermes dominava também uma planta chamada <b><i>móly</i></b> <b>******</b>, que a etimologia popular aproximou do verbo <i><b>molyein</b></i>, "embotar, realçar, enfraquecer, esgotar" </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> que aparece em toda a literatura grega. Móly, que nascia em um jardim metafísico, é o antídoto que torna ineficazes os venenos. Trata-se de uma expressão poética e geral para designar um antídoto. Não se pode fazer de Móly uma ideia concreta, pois, na realidade, ela faz parte da botânica e poética de Homero. Móly salvou Ulisses e seus companheiros, estes já transformados em animais semelhantes a porcos, oferecendo-lhe como defesa a planta Móly, cujos efeitos neutralizaram por completo a "beberagem peçonhenta que lhe preparara a feiticeira Circe" (<b>Odisseia</b> X, 281-329). Como Hermes era mágico, com esta planta ele dominava o mundo.<br />Móly, vai ficar célebre na Idade Média. Ela tem as raízes negras e portanto está mergulhada no mundo das trevas, tendo a florescência branca, está voltada para o mundo da luz. Esta planta domina, como Hermes, todos os níveis. Quem possuí-la tem o segredo que o hermetismo guardava para nós. Ela tem o segredo da <i><b>athanasía</b></i>, ou seja, o segredo da imortalidade. Para se ter acesso ao segredo é necessário segurar a planta na mão, ou seja, tem-se que ter as raízes "lá embaixo" e o lógos "lá em cima". <b><i>Móly</i></b> é a junção de Apolo e Dioniso, é a síntese e o equilíbrio dos dois, que vai provocar a <b><i>athanasía</i></b>, o retorno supremo à nossa individuação.<br />Hermes Trismegisto resultou de um sincretismo com o Mercúrio latino e com o deus ctônio egípcio Thot. É o deus escrivão e o deus da pesagem das almas ou psicostasia. Na simbologia egípcia, quando o morto fazia as célebres quarenta e duas confissões negativas, fazia-as sobre uma balança. Num prato era colocado o coração do morto, pois sendo este a sede da memória, era impossível mentir. Sobre o outro prato, o morto respondia às perguntas que lhe eram formuladas perante o tribunal de Osíris.<br />Na época do surgimento de todas as ciências (época helenística), Hermes representava o deus da sabedoria, sobretudo porque teria criado o mundo por meio do <i><b>lógos</b></i>, da palavra.<br />O hermetismo é, portanto, fruto de um sincretismo egípcio, oriental, grego e judaico.<br />É também o conjunto de crenças, ideias, práticas e ritos transmitidos através da vasta literatura hermética, cujos textos foram redigidos entre os séculos III a.C e II-III d.C. </span></div></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"><b>*</b> <i><b>JUNITO DE SOUZA BRANDÃO</b> (1924-1995) foi um grande classicista brasileiro, especialista em mitologia greco-latina, tendo sido bacharel em Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Estado da Guanabara em 1948 e concluído o curso de Arqueologia, Epigrafia e História da Grécia na Universidade de Atenas; mais tarde também fez o curso de Direito; exerceu o magistério por 45 anos em instituições como PUC-Rio, Un. Gama Filho, Un. Santa Úrsula e UERJ. Foi membro da ABRAFIL-Academia Brasileira de Filologia (Cadeira nº 35, por patrono João Ribeiro) e de diversas outras instituições culturais.</i> <br /></span></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg57fODsZgWEK2_XmWwZ_XRy7REeJkGGj2RyTWRchY5MeRVcZU-D_9EmjsGsObjpZvL3mATOc6kMKPM4u2azLAed4j-fbfTbtQ_Zpw32mS0aDaUOcKhqnWrrQM-QtDv-IlnzOtVDf6r6PQ6rZhkJryHw6EK82Yuhnj8Beyc-SmjtUk3bHel8nRbLC1hLx8/s550/junito-souza-brandao-1924-1995-18443.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="550" data-original-width="297" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg57fODsZgWEK2_XmWwZ_XRy7REeJkGGj2RyTWRchY5MeRVcZU-D_9EmjsGsObjpZvL3mATOc6kMKPM4u2azLAed4j-fbfTbtQ_Zpw32mS0aDaUOcKhqnWrrQM-QtDv-IlnzOtVDf6r6PQ6rZhkJryHw6EK82Yuhnj8Beyc-SmjtUk3bHel8nRbLC1hLx8/w216-h400/junito-souza-brandao-1924-1995-18443.jpg" width="216" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>O Prof. Junito de Souza Brandão na Grécia. Acervo do pesquisador Eduardo Gonçalves do Núcleo de Memória da PUC-Rio. </b><i>Link</i><b>: </b><a href="http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/perfil/saudade/junito-souza-brandao-1924-1995">http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/perfil/saudade/junito-souza-brandao-1924-1995 👈<b><br /></b></a></span></td></tr></tbody></table> <br /></span></b></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;">NOTAS EXPLICATIVAS</span></b></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;"> </span></b></div><div style="text-align: justify;"><b>**</b> <b>NOTA DO GERENTE DO BLOG</b>: Para maiores informações sobre o tema
desta terceira Conferência de Junito de Souza Brandão, recomendo consultar adicionalmente
"<b>Mitologia Grega</b>", vol. II, Petrópolis: Editora Vozes, 1988, 2ª edição, pp. 191-207. </div><div style="text-align: justify;"><i>Link</i>: <a href="https://www.academia.edu/40466826/Mitologia_Grega_Vol_2_Junito_de_Souza_Brand%C3%A3o">https://www.academia.edu/40466826/Mitologia_Grega_Vol_2_Junito_de_Souza_Brand%C3%A3o</a> 👈</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><b>***</b> <b>N.G.</b>: Em grego, <span face="arial, sans-serif" style="-webkit-text-size-adjust: auto; -webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; caret-color: rgb(77, 81, 86); color: #4d5156; display: inline; float: none; font-size: 14px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: auto; text-align: left; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;">ἕρμα é substantivo neutro; em português, é feminino.</span></div><div style="text-align: justify;"><span face="arial, sans-serif" style="-webkit-text-size-adjust: auto; -webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; caret-color: rgb(77, 81, 86); color: #4d5156; display: inline; float: none; font-size: 14px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: auto; text-align: left; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><b>****</b> <b>N. G.</b>: Em grego antigo: Ἑρμῆς.<br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b> </b></span></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span> Os judeus faziam uma coisa semelhante em agradecimento a Javé no Livro de Josué, Js 4, 6-7.<br /> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span> Apolo estava cumprindo uma grave punição, pois cometera um crime sério. Matara os ciclopes para se vingar de Zeus, que anteriormente havia matado Asclépio. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>³</b></span></span></span></span> A este respeito, <span style="font-size: small;">Sófocles compôs uma peç</span>a, da qual nos chegaram apenas quatrocentos e vinte versos. Era chamada <b>Os Cães de Busca</b>, onde os sátiros, por farejarem, são comparados aos cães. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><b>*****</b> <b>N.G.</b>: <span style="font-size: small;">No grego antigo,</span> <span class="fc-falcon">χυμεία, "mistura de diversos líquidos", derivada de </span><span class="fc-falcon">χυμός, "suco, sumo".</span> </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴</b></span></span></span> O processo de <i><b>transmutação</b></i> resume-se no seguinte: "Projetando sobre a matéria a função iniciática do sofrimento e graças às operações alquímicas assimiladas aos tormentos e dores, à morte e à ressurreição do iniciado, opera-se a transmutação, pois a 'substância' se converte em OURO. Sendo o OURO o símbolo da eternidade, essa transmutação alquímica é o grau máximo de perfeição da matéria e, para o alquimista, corresponde ao término de sua iniciação." <b>[BRANDÃO</b>, 1988, vol. II, p. 202<b>] </b></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>⁵</b></span> Plotino era um filósofo egípcio, de língua grega. Sua obra consta de cinquenta e quatro dissertações (seis séries de nove), agrupadas por seu discípulo Porfírio. O sistema místico de Plotino (sua doutrina neoplatônica) é o desenvolvimento de um panteísmo de emanação.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><b>******</b> <b>N.G.</b>: Em grego antigo, νοῦς, termo filosófico grego que significa atividade do inteleto ou da razão, em oposição à atividade dos sentidos. Pronuncia-se "nus". Brandão o traduz por inteligência.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>*******</b> <b>N.G.</b>: Em grego antigo, μῶλυ. Tal erva mágica mencionada no livro X da <b>Odisseia</b> de Homero, foi criada por Gaia para tornar os Gigantes invulneráveis.<br /></div><br /> Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-36187546300973741932024-01-12T19:07:00.021-03:002024-01-18T12:16:28.917-03:00EROS e PSIQUÊ - Conferência 1 por Junito Brandão<div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span style="font-size: large;">Por</span> <span style="font-size: large;">JUNITO DE SOUZA BRANDÃO *</span></b></span></div> </div>
<div style="text-align: justify;"></div></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><i>Esta é a primeira </i><b>**</b><i> de 16 Conferências realizadas por Junito de Souza Brandão entre 1985 e 1988 em São Paulo e Rio de Janeiro, publicadas em "</i><b>Mito e Tragédia Grega</b><i>", São Paulo: Rima Editorial, 1989, 147 p.<br /></i></blockquote></div><div style="text-align: justify;"></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd5yHk8IA2i7U-oApuroQE1G-h7VZ_MR7aS4OmJeSrkcjbzk48RMGjcFMLPnMwy-_Vn7mciCknxU20ujDdtiU5WUTHkRyMioDbrf3JrmZn2pvGxpR6Sv4RWozYHh5TR-vwomP7N_cxjavQnNOVGqvenLUfNzPD6C1TbRWZJuuGnJNePmFWS3Qi3xWFD4M/s547/Psyche%CC%81_ranime%CC%81e_par_le_baiser_de_l_Amour.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="366" data-original-width="547" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd5yHk8IA2i7U-oApuroQE1G-h7VZ_MR7aS4OmJeSrkcjbzk48RMGjcFMLPnMwy-_Vn7mciCknxU20ujDdtiU5WUTHkRyMioDbrf3JrmZn2pvGxpR6Sv4RWozYHh5TR-vwomP7N_cxjavQnNOVGqvenLUfNzPD6C1TbRWZJuuGnJNePmFWS3Qi3xWFD4M/w400-h268/Psyche%CC%81_ranime%CC%81e_par_le_baiser_de_l_Amour.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Psiquê
revivida pelo beijo de Eros, por Antonio Canova (1793) - Estátua em
mármore (1,55 x 1,68 m) - Localização: Museu do Louvre, Paris / Crédito: Raphaël Chipault<br /></b></span></td></tr></tbody></table><br /><div style="text-align: justify;"><br /><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNSHPe1nWb4-aL25DkQlcgUQDj_jp81tjNi2DIryHi3n79sTRgfeIiC9Gc008t-XoU2rZ7UbsABYS_E16mbjttfGrFNKfO_De6Y1XhDbwLeqo513cUXtBVmWrhL2VNK7pXMDCad4gLq-2Y5vYfz-mApq4hReUhYJNsTTOWqyuxsrfJMROMJZoy6GuPlq8/s547/Psyche%CC%81_ranime%CC%81e_par_le_baiser_de_l_Amour_1.jpg" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="366" data-original-width="547" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNSHPe1nWb4-aL25DkQlcgUQDj_jp81tjNi2DIryHi3n79sTRgfeIiC9Gc008t-XoU2rZ7UbsABYS_E16mbjttfGrFNKfO_De6Y1XhDbwLeqo513cUXtBVmWrhL2VNK7pXMDCad4gLq-2Y5vYfz-mApq4hReUhYJNsTTOWqyuxsrfJMROMJZoy6GuPlq8/w400-h268/Psyche%CC%81_ranime%CC%81e_par_le_baiser_de_l_Amour_1.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Psyché ranimée par le baiser de l'Amour / Crédito: Raphaël Chipault<br /></b></span></td></tr></tbody></table></div><br /> <div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> <br /></span><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: 0px; margin-right: auto; text-align: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgU6T54MkoIoprbhFP_KbagpruSJ7w6ZrI0416X2rFxZ_84mpIzjxp9CWCa9hR_uOuYI9HKNwklrXBNb73kR0dxajToIbj8mcwA-ynuqmoW67h3tdofb25eVqDerZ3RuH5VAX-7t-erlVjDXSe7_fRJdGMoMSefY8WF3T9uJTU3pbgmfjn9F_99TPQMdZc/s640/IMG_3116.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="469" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgU6T54MkoIoprbhFP_KbagpruSJ7w6ZrI0416X2rFxZ_84mpIzjxp9CWCa9hR_uOuYI9HKNwklrXBNb73kR0dxajToIbj8mcwA-ynuqmoW67h3tdofb25eVqDerZ3RuH5VAX-7t-erlVjDXSe7_fRJdGMoMSefY8WF3T9uJTU3pbgmfjn9F_99TPQMdZc/w294-h400/IMG_3116.jpg" width="294" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Mito e Tragédia Grega</b><i>, São Paulo: Rima Editorial, 1989, 147 p.</i></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Em o <b>Banquete</b>, Platão (✰ 430 - ✞ 348 a.C.) conceitua o deus Eros através da dicotomia entre Afrodite Urânia que representa o amor maior, o amor celeste, "aquela que conduz ao amor" e que se desvincula da beleza física, e a Afrodite Pandêmia que significa a "popular", a "de todos" e representa o amor "vulgar", o amor "carnal". Platão denomina a Afrodite Pandêmia a "prostituta sagrada" </span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span><span style="font-size: medium;">. Esta deusa nos revela a beleza física, em contraponto com a beleza em si que, para Platão, representa o mundo das ideias. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O filósofo afirma que há também um Eros maior e um menor. Em o <b>Banquete</b>, Platão diz que Eros não é sequer um deus, mas sim um demônio. No sentido grego, a palavra demônio (<i>daimon</i>) significa "intermediário". Eros, para Platão, era um mero intermediário entre os deuses e os homens. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Eros é filho de Poros, em grego, "saída", "aquele que tem expediente" e de Penia, a "pobreza" </span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span><span style="font-size: medium;">. Pela sua própria natureza Eros é carente. Na realidade, diz Platão, ele não é um deus, pois "desconheço um que seja carente". No mito de Eros e Psiquê, apesar de carente, Eros é um deus. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Veremos que tanto Eros quanto Psiquê terão que traçar seus <i>uróboros</i> </span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>³</b></span></span></span></span><span style="font-size: medium;">. Ambos descem e só depois dessa descida é que vão se unir no <i>hierós gámos</i>, o casamento sagrado. Até então, sem esse uróboro, essa união seria totalmente impossível. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiy5m-zNH8TwU6SRr8cok-qqjhtofAk34HR51hPr1a0YT_M7ZLbS1e-pouUJj4Pa_i4N7JF027eHIo55-P1QtLVK80a6hjkunv0cB75Mh5msuk0FAaWUozZwvaDGVDxnQDUyvoRm8O6O58y-AtM6-ly1Rs5oIqsZN0op8-Pk6oIapX-8rJiKadMvclQB_U/s560/560px-Serpiente_alquimica.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="556" data-original-width="560" height="398" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiy5m-zNH8TwU6SRr8cok-qqjhtofAk34HR51hPr1a0YT_M7ZLbS1e-pouUJj4Pa_i4N7JF027eHIo55-P1QtLVK80a6hjkunv0cB75Mh5msuk0FAaWUozZwvaDGVDxnQDUyvoRm8O6O58y-AtM6-ly1Rs5oIqsZN0op8-Pk6oIapX-8rJiKadMvclQB_U/w400-h398/560px-Serpiente_alquimica.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Uróboro: conceito simbolizado por uma serpente ou por um dragão que morde a própria cauda, indicando a autofecundação e o eterno retorno. / Crédito: Wikipedia: </b><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Ouroboros">https://pt.wikipedia.org/wiki/Ouroboros</a> 👈</span><br /></td></tr></tbody></table><br /> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O mito em questão é grego, mas foi relatado pelo escritor latino Lúcio Apuleio </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> um africano (nascido em Madauro) que fala fluentemente grego </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;">, em sua obra que nos chegou inteira, intitulada <b>Metamorfoses</b>. São onze tomos que alguns chamam indevidamente de <b>Asno de Ouro</b>. Nessas obras constam historietas e entre elas há o relato do mito de Eros e Psiquê. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Lúcio Apuleio, séc. II d.C. narra, como num conto de fadas </span><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴</b></span></span></span><span style="font-size: medium;">, que havia um rei e uma rainha. E onde estava esse casal? Não sabemos. E como se chamava? Ignoramos. Sabemos que o casal possuía três filhas. Duas delas, diz o autor, podiam ser perfeitamente louvadas, pela voz humana, apesar de belíssimas. Mas da terceira, que se chama Alma ou Psiquê ninguém poderia jamais descrever tamanha beleza. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">As duas primeiras filhas se casaram, ou melhor, "foram casadas" pelo pai, mas a terceira não, pois todos que se aproximavam em lugar de pedi-la em casamento adoravam-na como se ela fosse a própria Afrodite. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Deus grego não admite competição; recordemo-nos de Aracne, por exemplo, que competiu em beleza com Atená e foi transformada em aranha </span><span style="font-size: large;"><b>⁵</b></span><span style="font-size: medium;">. No caso de Psiquê, a competição é da parte da inveja de Afrodite, pois Psiquê estava, sem o desejar, sendo confundida com a deusa do amor. Resultado: em lugar de se adorar Afrodite, em lugar de se lhe frequentarem os templos, todos passaram a frequentar Psiquê. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Afrodite, diante deste cortejo, chamou seu filho Eros e, diz o texto, ela própria, "após beijá-lo com os lábios entrebertos" (simbolicamente a mãe castradora), deu-lhe uma missão: conseguir para Psiquê um noivo que fosse monstruoso. E aqui temos o início da trama. Após dar a missão, Afrodite, "a grande mãe", voltou tranquila para o "bojo macio do mar" (o inconsciente). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Eros, por sua vez, possuía duas setas que nunca falhavam: uma, que atirada não havia recurso, era-se obrigado a ceder, e outra, a seta do afastamento, ou traduzindo do grego, a "flecha da repulsa". Como a que ele usou com Dafne em relação a Apolo </span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: x-large;"><b>⁶</b></span></span></span></span></span></span></span><span style="font-size: medium;">. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Dada a missão, Eros passa a executá-la. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O pai de Psiquê, preocupado com a filha solteira, resolveu consultar o principal Oráculo de Apolo que ficava em Mileto. Apolo é um deus tipicamente oriental que ocupou a Hélade durante um grande movimento cultural do Oriente para a Grécia. Na Ilíada, ele é um deus provinciano, um deus de santuário, que lança a peste contra os aqueus. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A resposta do Oráculo à consulta do pai de Psiquê foi clara: sua filha deveria ser coberta por uma indumentária funérea, "como se tivesse morrido", desfilar à luz das tochas e ser levada ao alto de um penhasco onde se casaria com um monstro. Na Grécia e em Roma, os casamentos e os funerais se faziam à noite e não durante o dia, pois são um rito de morte e separação. Os casamentos tinham de se realizar à luz das tochas. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Fez-se, então, o desfile funéreo </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> o desfile de casamento </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> e Psiquê foi colocada no alto de um rochedo onde deveria desposar um monstro. Este monstro era Eros, que estava profundamente apaixonado por ela. Ele pede a seu grande aliado, o vento Zéfiro, que transportasse Psiquê para um vale abaixo daquele penhasco. Eros é descrito aqui como um menino levado, de maus costumes e corruptor da juventude. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Vamos ter agora um dado muito significativo: no mito, Psiquê vai ter dois sonos profundos. O primeiro acontece no momento em que ela é levada pelo vento Zéfiro para um vale descrito como "verde e macio". Ao acordar, Psiquê percebe que estava em um palácio de ouro e marfim </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> mágico e encantado </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;">, onde é servida por vozes. Só à noite aparece um ser humano que é Eros e a torna sua mulher. No dia seguinte, antes do sol nascer, ele parte e Psiquê não mais viu o amante. Ela tornara-se sua esposa e Eros irá retornar todas as noites. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Existe na Grécia uma divindade que se chama Fama e que não admite segredo. A palavra que vem do grego <i><b>phéme</b></i>, significa "eu digo", ou seja, "aquela que diz". Fama vai espalhar a notícia para as irmãs de Psiquê de que ela fora levada para o alto de um rochedo e que, certamente, teria desposado um monstro. As irmãs vão até a casa dos pais, ansiosas para saber notícias de Psiquê e depois se dirigem ao penhasco. A esta altura, Eros já havia pedido à esposa para que jamais tentasse vê-lo e também a preveniu que tentações se aproximariam. As duas irmãs de Psiquê no mito simbolizam o seu inconsciente. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Psiquê consegue, com muito carinho, que Eros permitisse a descida das irmãs até o palácio. As duas, a princípio, ficaram deslumbradas, mas logo começaram a sentir inveja. Uma delas era casada com um homem mais baixo do que um anão, barrigudo e careca como uma abóbora, e a outra, com um estafermo a quem servia de enfermeira. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">As duas, morrendo de ciúmes, diante da felicidade da irmã, perguntam a ela quem é o seu marido. Psiquê mente, dizendo que estava casada com um jovem que naquele momento estava viajando. As irmãs voltam aos seus lares, invejosas e começam a arquitetar um plano para destronar a felicidade de Psiquê. Eros, por sua vez, previne novamente a esposa de que as tentações voltariam. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Psiquê espera uma filha de Eros e esta menina vai ser muito importante no fecho do mito, pois, para Apuleio, o amor está na mulher. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Depois de arquitetarem o plano, as irmãs se lançam no abismo e o vento Zéfiro transporta-as à casa de Psiquê, recomeçando o novo drama da inveja e do ódio. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Coagida a revelar a identidade do marido, Psiquê se contradiz. Afirma que o marido era um próspero comerciante </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> antes ela dissera que era um jovem. Diante disso, as irmãs deduzem que Psiquê mentiu ou que talvez nunca tivesse visto o marido, ou ainda que ela estaria casada com um deus. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Geralmente, um deus aparece aos humanos sob forma diferente, como aconteceu com Zeus e Sêmele, por exemplo. No dia em que ela pediu a Zeus que aparecesse como realmente era, o palácio pegou fogo e Sêmele morreu carbonizada </span><span style="font-size: large;"><b>⁷</b></span><span style="font-size: medium;">.
Um deus não pode aparecer a nós sob forma epifânica, ou seja, tal como ele é. Deus só pode aparecer sob forma hierofânica, vale dizer, "disfarçado em". </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">As irmãs de Psiquê tornam a visitá-la e, desta vez, com um plano já preparado. (Elas a visitam por três vezes). Convencem Psiquê de que seu marido é um monstro, pois o Oráculo predissera que ela seria levada para o alto de um monte e que se casaria com um monstro. Psiquê, que agora está esperando um filho, supõe então que o monstro estaria prestes a ambos devorar. E então suas irmãs dizem a ela como agir. Quando Eros adormecesse ao seu lado, Psiquê deveria iluminar-lhe o rosto e cortar-lhe a cabeça </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> temos aqui o signo da "luz". </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Então, quando Eros adormece, Psiquê, muito confusa, ilumina o rosto do deus e vê tamanha beleza que jamais poderia ter imaginado. Por infelicidade ela o abraça e beija e, ao inclinar-se, sem perceber, deixa cair azeite quente do candeeiro no ombro do marido. (Os deuses também são feridos, vemos isto na Ilíada. Mas os deuses não têm sangue nem alma e sim algo chamado <b><i>cerum</i></b>). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Eros, que possui asas, ao ser ferido, levanta voo na mesma hora. O que significa ter asas?
No mito, significa a transposição de um nível </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> pois temos os três níveis: ctônio, telúrico e olímpico. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Psiquê consegue apenas segurar-lhe as pernas, mas logo cai de cansaço. Eros se manifesta sob forma hierofânica, transformado. Assim, pousa num cipreste, que na doutrina órfica simboliza a morte. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Agora, Psiquê será castigada pela ausência do marido. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No mito grego, existe uma palavra que o autor latino traduziu mal. É a palavra <i><b>pothos</b></i> que significa deus, mas, como substantivo comum, significa também o "desejo ardente da presença da ausência". É algo que se quer possuir porque não se aguenta viver sem. Então, esse desejo da presença da ausência é o maior castigo que Eros poderia infligir a Psiqué. Neste momento, Psiquê se joga no rio, mas o rio, a purificação, a recolhe às margens. Ela mantém, então, o primeiro encontro com um velho sábio, o deus Pan, que lhe dá o seguinte conselho: que ela evoque Eros, que procure o seu amor. Psiquê inicia, assim, o seu longo percurso que chamamos "rito iniciático". Se há uma incompletude, tem de de haver uma completude e ela está exatamente no fecho do rito iniciático, por isso todo rito implica uma morte simbólica. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Psiquê inicia, então, seu itinerário de dor e ninguém quer ajudá-la, pois todos temem Afrodite. Psiquê então decide se entregar à deusa na esperança de encontrar Eros. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">E Eros, onde estará? Eros está ferido e trancado no quarto de sua mãe. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No palácio de Afrodite, Psiquê é açoitada de todas as maneiras pelas escravas e pela própria deusa, que lhe rasga as roupas e lhe confia as célebres quatro tarefas. Notem o quaternário. Ela vai ter que realizar quatro tarefas, temos aqui o número quatro. As tarefas são progressivas até que se dê a <i><b>katábasis</b></i>, a descida, para se formar o uróboro, o quarteto. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A primeira tarefa consiste em Psiquê separar durante uma noite, por espécie, a mistura de todos os grãos de sementes do mundo. Claro que seria impossível para Psiquê realizar sozinha esta tarefa, mas aí vem o auxílio </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> notem que os auxílios são femininos. Vamos ter o resgate da <i><b>anima</b></i> e do <b><i>animus</i></b> porque tem de haver a sizígia. Uma formiga (o feminino de novo) ajuda a penalizada Psiquê ao convocar um batalhão de sua espécie. Num instante, todas as sementes estavam separadas por espécie. Afrodite atribui essa proeza a Eros, apesar de saber que ele estava trancado em seu quarto. Ela usa o não-argumento, o argumento contrário, e passa para a segunda tarefa, mais difícil. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A segunda tarefa consiste em Psiquê se dirigir a um prado, onde há ovelhas e carneiros bravios, e trazer a lã de ouro, na alquimia, símbolo da integração e da individuação. Mais uma vez, Psiquê tenta se lançar no rio e morrer, pois a tarefa é totalmente impossível e, mais uma vez, encontra o feminino. A palavra caniço, em grego, é feminina, que é chamado no mito de "o cabelo da terra". Psiquê encontra um Caniço muito frágil e bom conselheiro que lhe diz para não enfrentar os carneiros enquanto o sol estiver quente, pois este é o momento em que eles são bravios. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O Caniço a aconselhou a ter calma, e mais, que depois que o sol se pusesse e quando tudo estivesse calmo, ela veria que os carneiros iriam deixar o próprio pelo, o velo de ouro, nos arbustos por onde passassem. Psiquê precisaria apenas levá-los a Afrodite. E assim aconteceu. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A deusa atribuiu novamente a tarefa a Eros e passou-lhe a terceira tarefa, muito mais difícil ainda. Ela deveria escalar um rochedo em que havia uma fonte urobórica </span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;">⁸</span></b></span><span style="font-size: medium;"> e colher desta água que alimenta os rios da morte. Esta fonte está guardada por dragões e Psiquê não tenta escalar o rochedo, pois considera esta tarefa impossível de ser realizada. Mas, novamente, vem o auxílio. Zeus deve favores sérios a Eros e ele sabe de seu sofrimento e da saudade de Psiquê. Zeus envia sua águia que toma o vaso das mãos de Psiquê e voando muito rápido, por entre os dentes dos dragões ferozes, colhe a água da morte, a água urobórica. Psiquê entrega a água a Afrodite que desta vez não atribui a façanha a Eros, mas sim à magia e feitiçaria. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A quarta e última tarefa faz Psiquê desanimar mais uma vez. Ela deveria fazer aquilo que os gregos chamam de <b><i>kathodós</i></b>, ou <b><i>katábasis</i></b> que significa "caminho por baixo". Ela deveria descer para a outra vida e de lá trazer a caixinha que continha a beleza imortal </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> com a qual Afrodite se recomporia, já que ela se desgastara cuidando do filho doente. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Psiqué tenta novamente o suicídio, subindo a uma torre que lhe dá sérios conselhos. Ela deveria descer numa viagem através do cabo Tênaro </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> levar em cada mão um bolo de mel e cevada para apaziguar o cão Cérbero e, na boca, duas moedas para pagar a passagem a Caronte. Por que dois bolos e duas moedas? Simbolizam a ida e o retorno. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Quero chamar atenção para este simbolismo das moedas em boca de morto. No que se refere a funerais, os gregos importaram quase tudo do Egito, inclusive a pesagem das almas. As moedas não significam apenas o pagamento pela passagem a Caronte, essas moedas simbolizam a salvação, ou seja, saio daqui para lá, é a minha sizígia, meu encontro. Na Grécia, os mortos eram cremados, e essas moedas existem às centenas nos museus de Atenas e todas têm mais ou menos a mesma forma. Primeiro, não há moeda anterior ao século V e isto significa que até o século V não existia o célebre barqueiro infernal, Caronte. Este barqueiro talvez seja uma influência da religião egípcia sobre a grega. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Psiquê leva então as duas moedas e os dois bolos e a Torre vai lhe instruir sobre o que irá acontecer no caminho. Ela deverá vencer várias ciladas que Afrodite lhe preparou. Irá encontrar um velho chamado Ocno (Oknos) que puxa um burro carregado de pedaços de madeira que vão caindo à medida que vai andando. O velho vai pedir a ela que o ajude a recuperar as madeiras para recolocá-las sobre o burrico, mas Psiquê deverá negar-lhe o pedido. Na travessia do rio um morto levantará a mão pedindo que ela o socorra e que o leve para dentro da barca de Caronte, mas a Torre a instrui para que não tenha piedade. Ao chegar junto a Perséfone vem a tentação maior, pois a deusa vai convidadá-la para sentar-se e, quem no Hades senta, lá há de ficar para sempre, e mais, na outra vida só se pode comer pão duro e sentar somente no chão, em contato com a terra. O sentar-se e o alimentar-se cria intimidade e a intimidade aqui é com a morte. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Psiquê pega a caixinha pensando, como disse Afrodite, que ela continha a beleza imortal. Psiquê, não resistindo, abre a mesma caixinha que continha não a beleza e sim o sono letárgico da morte e cai prostrada por terra. Nesse momento, Eros que já estava curado, vem em socorro da esposa e a desperta com a seta do amor, a mesma seta com a qual ela se feriu ao iluminar-lhe o rosto e queimá-lo com o azeite quente. Com um pequeno toque, ele a desperta e aprisiona na caixinha o sono letárgico, mandando-a para que cumpra a tarefa e entregue a caixinha à deusa Afrodite. Eros se dirige a Zeus que ainda lhe deve favores e, segundo Apuleio, num relato muito bonito, Zeus faz um lindo discurso. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Vamos nos lembrar de que Eros era chamado de "o menino de maus costumes", "corruptor da juventude" e, segundo Zeus, só havia um jeito de acabar com essa corrupção e costumes: casá-lo. Zeus então convence Afrodite de que aquilo não seria humilhante para ela e acontece o que denominamos "casamento morganático" que é quando um príncipe se casa com uma plebeia. Se ele constatasse que na primeira noite de núpcias ela, realmente, era virgem, somente no outro dia de manhã dava o seu presente nupcial. <b><i>Morgen</i></b>, "manhã", <b><i>Gabe</i></b>, "presente" e o casamento se fixava através desse presente. Quer dizer, o casamento em si era no dia seguinte de manhã, após a primeira noite de núpcias, desde que a mulher fosse virgem. Por isso se chamava <b><i>Morgengabe</i></b> a lei da Idade Média bárbara. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Então, Zeus diz a Afrodite que aceite esse casamento e recebe Psiquê no Olimpo lhe oferecendo uma taça da chamada bebida da imortalidade, a ambrosia. Em grego, tanto ambrosia como néctar significam "imortalidade". Psiquê é levada ao Olimpo por Hermes, o deus psicopompo. Ao recebê-la, Zeus diz: </span></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><span style="font-size: medium;"><i>“</i></span><span style="font-size: medium;"><i>Bebe, Psiquê, e sê imortal; Eros jamais a abandonará, pois vosso casamento morganático será perpétuo.</i></span><span style="font-size: medium;"><i>”</i></span></blockquote><div><span style="font-size: medium;">Observem que quem vai nos abrir a porta do paraíso é uma mulher que está grávida e que vai ter uma filha que se chamará Volúpia, que significa "desejo", "bem-aventurança", ou seja, desejo de felicidade e amor, sempre representado, no mito grego, pela mulher.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"><b>*</b> <i><b>JUNITO DE SOUZA BRANDÃO</b> (1924-1995) foi um grande classicista brasileiro, especialista em mitologia greco-latina, tendo sido bacharel em Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Estado da Guanabara em 1948 e concluído o curso de Arqueologia, Epigrafia e História da Grécia na Universidade de Atenas; mais tarde também fez o curso de Direito; exerceu o magistério por 45 anos em instituições como PUC-Rio, Un. Gama Filho, Un. Santa Úrsula e UERJ. Foi membro da ABRAFIL-Academia Brasileira de Filologia (Cadeira nº 35, por patrono João Ribeiro) e de diversas outras instituições culturais.</i> <br /></span></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg57fODsZgWEK2_XmWwZ_XRy7REeJkGGj2RyTWRchY5MeRVcZU-D_9EmjsGsObjpZvL3mATOc6kMKPM4u2azLAed4j-fbfTbtQ_Zpw32mS0aDaUOcKhqnWrrQM-QtDv-IlnzOtVDf6r6PQ6rZhkJryHw6EK82Yuhnj8Beyc-SmjtUk3bHel8nRbLC1hLx8/s550/junito-souza-brandao-1924-1995-18443.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="550" data-original-width="297" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg57fODsZgWEK2_XmWwZ_XRy7REeJkGGj2RyTWRchY5MeRVcZU-D_9EmjsGsObjpZvL3mATOc6kMKPM4u2azLAed4j-fbfTbtQ_Zpw32mS0aDaUOcKhqnWrrQM-QtDv-IlnzOtVDf6r6PQ6rZhkJryHw6EK82Yuhnj8Beyc-SmjtUk3bHel8nRbLC1hLx8/w216-h400/junito-souza-brandao-1924-1995-18443.jpg" width="216" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>O Prof. Junito de Souza Brandão na Grécia. Acervo do pesquisador Eduardo Gonçalves do Núcleo de Memória da PUC-Rio. </b><i>Link</i><b>: </b><a href="http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/perfil/saudade/junito-souza-brandao-1924-1995">http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/perfil/saudade/junito-souza-brandao-1924-1995 👈<b><br /></b></a></span></td></tr></tbody></table> <br /></span></b></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;">NOTAS EXPLICATIVAS</span></b></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;"> </span></b></div><div style="text-align: justify;"><b>**</b> <b>NOTA DO GERENTE DO BLOG</b>: Para maiores informações sobre o tema
desta 1ª Conferência de Junito de Souza Brandão, recomendo consultar adicionalmente
"<b>Mitologia Grega</b>", vol. II, Petrópolis: Editora Vozes, pp. 209 <i>ad finem</i>.
Para maior ilustração do mitologema, <b>[BRANDÃO</b>, 1987, 250-251<b>]</b> insere no vol. II da
sua "Mitologia Grega" o poema "Eros e Psique" de Fernando Pessoa no vol. II da
sua "<b>Mitologia</b> <b>Grega</b>", de forma que nós sugerimos que se faça essa leitura.<br /><i>Link</i>: <a href="https://www.academia.edu/40466826/Mitologia_Grega_Vol_2_Junito_de_Souza_Brand%C3%A3o">https://www.academia.edu/40466826/Mitologia_Grega_Vol_2_Junito_de_Souza_Brand%C3%A3o</a> 👈<br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b> </b></span></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b>¹</b></span></b></span> O discurso de Pausânias (um dos personagens no Banquete de Platão): "Poder-se-ia duvidar que existam duas deusas? Há uma, Afrodite, a mais velha, que não tem mãe e é filha de Urano e a ela damos o nome de Urânia; e há outra, a mais moça, que é filha de Zeus e Dione, e a ela chamamos Pandêmia, a Popular... A Afrodite popular faz jus a seu nome; é verdadeiramente vulgar e se realiza como que por acaso; é o amor com que os homens inferiores amam." <br /> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span> O mito do nascimento de Sócrates: Mas de quem nasceu ele? Quem é o pai, quem é a mãe? Através do discurso de Sócrates no Banquete, ele relata que em sua juventude foi instruído na "filosofia do amor" por Diotima, profetiza ou sacerdotiza: "Para isso precisaria contar-te uma longa história. Vou contar-te essa história. Ouve: Por ocasião do nascimento de Afrodite, os deuses deram um grande banquete comemorativo, a que compareceram também Poros,o Esperto, o filho de Métis, a Prudência. Enquanto se banqueteavam, aproximou-se Penia, a Pobreza para mendigar as sobras da festa, e sentou-se à porta. Embriagado pelo néctar, pois o vinho ainda não existia, Poros se encaminhou para os jardins de Zeus, e lá adormeceu, dominado pela embriaguez. Foi então que Penia, em sua miséria, desejou ter um filho de Poros. Deitou-se ao seu lado e concebeu a Eros. Por esse motivo é que Eros se tornou mais tarde companheiro e servidor de Afrodite, pois foi concebido no dia em que esta nasceu. Além disto, Eros, devido à sua natureza, ama o que é belo e, como sabemos, Afrodite é bela. E por ser filho de Poros e Penia, Eros tem o seguinte fado: é pobre, de muito longe está de ser delicado e belo, como todos vulgarmente pensam. Eros, na realidade, é rude, é sujo, anda descalço, não tem lar, dorme no chão duro, junto aos umbrais das portas, ou nas ruas, sem leito nem conforto. Segue nisso a natureza de sua mãe que vive na miséria. Por influência da natureza que recebeu do pai, Eros dirige a atenção para tudo o que é belo e gracioso; é bravo, audaz, constante e grande caçador; está sempre a deliberar e a urdir maquinações, a desejar e a adquirir conhecimentos, filosofa durante toda a sua vida; e vive, ora morre e renasce, se tem sorte, graças aos dons recebidos pela herança paterna. Rapidamente passam por suas mãos os proveitos que lhe traz a sua esperteza. Assim, nunca se encontra em completo estado de miséria, nem, tampouco, na opulência. Oscila, igualmente entre a sabedoria e a tolice; devido ao seguinte motivo: nenhum dos deuses, como é claro, exerce a filosofia, ou deseja ser sábio, pois que como deus já o é; quem é sábio não filosofa; não filosofa nem deseja ser sábio, também, quem é tolo, e aí reside o maior defeito da tolice: em considerar-se como alguma coisa de perfeito, conquanto, na realidade, não seja nem justa, nem inteligente. E quem não se considera incompleto e insuficiente, não deseja aquilo cuja falta não pode notar." (<b>PLATÃO</b>: Banquete, <b>Coleção Universidade</b>, p. 109) </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>³</b></span></span></span></span> Uróboro <span style="font-size: medium;">—</span> Expressão de Bachelard: "Uróboro é a dialética material da vida e da morte, a morte que brota da vida e a vida que brota da morte". Cf. <b>[BRANDÃO</b>, 1987, 201<b>]</b> </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b>⁴</b></span></span></span> <b>FRANZ</b>, Marie Louise von Franz: <b>Interpretação dos Contos de Fadas</b>, Rio de Janeiro: ed. Achiamé, 1981. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>⁵</b></span> "Aracne, filha de Idmão, da cidade de Cólofon, sabia bordar com tal perfeição que superou a própria Atená, igualmente habilíssima neste mister. A deusa, envergonhada de ser derrotada por uma mortal, quebrou-lhe os utensílios de bordar. Aracne enforcou-se de pesar e Atená transformou-a em aranha." Cf. <b>SPALDING</b>, Tassilo Orpheu: <b>Dicionário de Mitologia Greco-Latina</b>, Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1965, p. 25. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: x-large;"><b>⁶</b></span></span></span></span></span></span></span> "Dafne, famosa Oréade, filha da Terra e de Peneu, deus-rio da Tessália. Apolo, que então se achava exilado, em Feres, guardando, após a morte dos Cíclopes, os rebanhos do bom rei Admeto, viu-a, achou-a bela e logo a desejou. A virgem Dafne, porém não correspondeu aos arroubos ardorosos do deus. Amava Leucipo, simples mortal. Apolo, por amor ou por força, queria possuí-la. Esperou, pois, até o dia em que viu a Oréade passeando sozinha, às margens do rio paterno. Bruscamente, lançou-se em sua perseguição. Dafne, pálida de temor, foge como bem pode. Já o deus ia estreitá-la em seus braços, Dafne suplica aos deuses imortais que se apiedem dela. Foi ouvida: a Terra abriu seu seio e recebeu-a." Cf. <b>[SPALDING</b>, ibidem, 68<b>]</b>. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>⁷</b></span> "Sêmele, filha de Cadmo e de Harmonia. Mulher de radiosa beleza, tornou-se amante de Zeus. Quando estava grávida, Hera resolveu puni-la. Introduziu-se no palácio de Sêmele sob a forma e o aspecto de Béroe, sua ama, e aconselhou-a vivamente de exigir de seu divino amante uma prova de seu amor, isto é, que se apresentasse diante dela em toda a sua grandiosidade e magnificência de sua glória divina. Sêmele, ingenuamente, seguiu tão pérfido conselho; fez Zeus jurar pelo Estige que atenderia ao que lhe ia pedir. O deus, ligado pelo juramento, ainda que cheio de dor e mágoa, concedeu-lhe o que pedia e apareceu-lhe como deus do raio, no brilho fulgurante de toda a sua glória. Sêmele foi logo consumida pelo fogo; mas o menino que trazia em seu seio foi salvo por Hermes. Como ainda faltassem alguns meses para que o menino nascesse, Zeus colocou-o na sua coxa, e ali esperou o término da gravidez. Assim nasceu Dioniso (Baco), filho de Sêmele e de Zeus." Cf. <b>[SPALDING</b>, <i>ibidem</i>, 232<b>]</b>. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;">⁸</span></b></span> Essa fonte, no alto do penhasco, alimentava os dois rios de baixo, dois rios infernais. Sabemos que os gregos acreditavam que haviam quatro rios de ida para o mundo de baixo, e um de volta: o Estige, Cocito, Piriflegetonte, Aqueronte; e Lete <span style="font-size: medium;">—</span> que, ao atravessá-lo, perdia-se a memória do que lá se passou (a nossa vida, para os gregos, reside na memória). Então, essa fonte é urobórica porque ela alimenta esses rios e retorna.</div><br /></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-57128932262750770442024-01-06T19:06:00.007-03:002024-01-12T23:18:05.103-03:00A DURA VIDA DO AFINADOR: manter o piano perfeito para o artista<div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span style="font-size: large;">Por</span> <span style="font-size: large;">JOÃO MARCOS COELHO *</span></b></span></div> </div>
<div style="text-align: justify;"></div></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><i>Profissionais como José Luiz da Silva executam um fino trabalho de ourivesaria para atender as estrelas do instrumento<i>. (Artigo publicado por </i></i><b>O Estado de S. Paulo</b><i><i>, edição de 6 de janeiro de 2024, na coluna <b>Cultura & Comportamento</b> e categoria <b>Música Clássica</b>)<br /></i></i></blockquote><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrCVPLcttOY2EI8sMiIGUlLrd-v7Fbo7V2OIhjCo_0IwIsTWMOj6Mmn6rl8Rc2kuDKmpRU2jqgh-j2YgUBk6IoJAUFgx2-3AvqYowUmKUTXJpH6QJP2tUM_9rqzk2rmGjaN_74RwQYzz7l9CM3cVhCTPqt4NOLxbpoZn0w3ae0BHmWdgHCZxcHfHf-hNE/s640/PressReader.com%20-%20Re%CC%81plicas%20de%20Jornais%20de%20Todo%20o%20Mundo.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="387" data-original-width="640" height="243" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrCVPLcttOY2EI8sMiIGUlLrd-v7Fbo7V2OIhjCo_0IwIsTWMOj6Mmn6rl8Rc2kuDKmpRU2jqgh-j2YgUBk6IoJAUFgx2-3AvqYowUmKUTXJpH6QJP2tUM_9rqzk2rmGjaN_74RwQYzz7l9CM3cVhCTPqt4NOLxbpoZn0w3ae0BHmWdgHCZxcHfHf-hNE/w400-h243/PressReader.com%20-%20Re%CC%81plicas%20de%20Jornais%20de%20Todo%20o%20Mundo.png" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>TABA BENEDICTO/ESTADÃO</b></span><br /><span style="font-size: x-small;"></span><div style="margin-left: 80px; text-align: left;"><span style="font-size: x-small;"><b>Silva trabalhou no antigo Teatro Cultura Artística e, entre 1999 e o ano passado, foi o afinador oficial dos pianos da Sala São Paulo: “O maior problema do afinador é atender 100% ao pedido de cada pianista: um quer sonoridade mais doce; o outro, mais brilhante.”</b></span><br /><span style="font-size: x-small;"><b>“O instrumento não suporta modificações radicais de um dia para o outro. Resumindo: o afinador precisa ter jogo de cintura, mas de uma forma que não comprometa o pianista seguinte.”</b></span><br /></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;"><b>José Luiz da Silva-</b></span><br /><span style="font-size: x-small;"><b>Afinador-</b></span><br /></div></td></tr></tbody></table><div style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;"><b> </b></span></div></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O pianista é, entre os músicos, o que mais sofre com seu instrumento. Estuda em casa no seu piano amado, mas só toca em público em pianos que é obrigado a “domar” poucas horas antes do concerto. A questão é tão espinhosa que Franz Liszt, na década de 1840, viajava com o próprio piano. Existe, porém, um personagem que sofre ainda mais que os pianistas. É, sem dúvida, o afinador de pianos, principalmente os que trabalham fixo em salas de concerto. Eles têm de atender aos pedidos muitas vezes conflitantes dos pianistas convidados.
José Luiz da Silva, de 63 anos, foi o responsável pela afinação dos pianos Steinway de concerto da Osesp de 1999, quando a
Sala São Paulo foi inaugurada, até 2022. Ele é figurinha carimbada: suas afinações frequentam os Festivais de Inverno de Campos do Jordão e as temporadas da Sociedade de Cultura Artística (desde o antigo teatro da Rua Nestor Pestana), o Mozarteum, os teatros do Sesc. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Resumindo: seu nome é sinônimo de afinação de alto nível, que atende as grandes estrelas do piano internacional. Nomes como os do russo Evgeni Kissin, do húngaro Andras Schiff e de duas estrelas chinesas, Yuja Wang e Lang Lang, entre centenas de astros do teclado clássico e também popular, como Egberto Gismonti. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Formado em composição e regência pela Unesp, ele diz que só fez um curso de afinação na vida: “Um mês, promovido pelo fabricante brasileiro Fritz Dobbert”. Pensei bastante nele ao ler o recém-lançado <b>Floresta de Lã e Aço</b>, de Natsu Miyashita, que captura o lado poético do trabalho de afinação, alçando-o à condição de vocação artística. Conta a história do estudante Tomura, que no ensino médio ouve o som de um piano sendo afinado por Itadori na escola.</span></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><span style="font-size: medium;"><i>“Senti cheiro de floresta. Mas não havia floresta por perto. (...) Eu era o aluno solitário que acompanhava o visitante. (...) Quando pressionou algumas teclas, senti emanar, da floresta que havia no interior daquele instrumento, o cheiro das árvores a balançar”,</i></span> </blockquote><p><span style="font-size: medium;">diz o livro. Resumindo: o afinador “trabalha em silêncio para garantir que o instrumento ressoe com o mundo”.</span></p><div><span style="font-size: medium;"><b>NELSON FREIRE</b>.
Essas frases me lembraram Nelson Freire na Sala São Paulo, olhando desconfiado para o reluzente Steinway à sua frente e murmurando:</span></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><span style="font-size: medium;"><i>“Este piano não gosta de mim”</i></span></blockquote><div><span style="font-size: medium;"> (no antológico documentário de 2003 de Walter Salles). José Luiz conta um caso que viveu com Nelson: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“Toda sala tem o instrumento que integra a orquestra. Na Sala São Paulo, é o piano da Olga Kopylova. Acontece que o Nelson chegou para ensaiar, viu esse piano e tocou nele a tarde inteira. Só no final é que soube que aquele não seria o piano do concerto”, recorda rindo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A relação dos pianistas com seus instrumentos oscila entre amor e ódio. Um dos maiores pianistas do século 20, o canadense Glenn Gould (1932-1982) tocou ainda criança, nos anos 1940, num Steinway modelo D catalogado como CD318. Passou décadas tentando reencontrá-lo, o que só aconteceu em 1960.</span></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><span style="font-size: medium;"><i>“Por trás de todo grande pianista sempre há um grande afinador”,</i></span></blockquote><div><span style="font-size: medium;"> escreve a jornalista Katie Hafner no livro de 2008 <b>A Romance on Three Legs</b> (Um Romance Sobre Três Pernas). Sua leitura mostra a comunhão de sensibilidades entre Gould e o afinador cego Verne Edquist. Só para constar: um afinador da Steinway certa vez colocou a mão no ombro de Gould na loja da Steinway; o pianista o processou e à Steinway, alegando que tinha sido agredido. Idiossincrasia em último grau, patológica. </span></div><span style="font-size: medium;"> <br /></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>FÓRMULA 1.</b> Imagine um desses bólidos da Fórmula 1. Você já assistiu ao séquito de mecânicos “trabalhando” preparando o carro para o grande momento da largada. O afinador de piano dos teatros é o técnico que “prepara” o bólido, no caso um Steinway modelo D de concerto, ou um Bosendorfer e, em muitos espaços seletos, o Yamaha de concerto. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Munido de uma chave de fenda, ele isola com cunha e feltro duas das três cordas que compõem o som de uma nota central no teclado composto de 88 teclas. Tensiona a afinação até chegar ao padrão contemporâneo de 440 hertz nas 250 cordas do piano. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">É um fino trabalho de ourivesaria. Os pianos verticais, de armário, devem ser afinados uma vez por ano, segundo a Fritz Dobbert, e os das salas de concerto e de cauda inteira, várias vezes por semana, sempre no dia do concerto. Por isso duram, em média, cinco anos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“O maior problema do afinador é atender 100% ao pedido de cada pianista: um quer sonoridade mais doce; o outro, mais brilhante”, avisa. “O instrumento não suporta modificações radicais de um dia para o outro. Resumindo: o afinador precisa ter jogo de cintura, mas de uma forma que não comprometa o pianista seguinte.”
“O maior problema do afinador é atender 100% ao pedido de cada pianista: um quer sonoridade mais doce; o outro, mais brilhante”, avisa. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Última pergunta, para desfazer um mito, segundo o afinador: “O piano fica melhor quanto mais é tocado?”. “É verdade, mas ele vai sofrendo com o tempo. Um piano de concerto na Sala São Paulo, por exemplo, dura cinco anos. Os pianistas sacam isso e não querem correr risco de quebra de cordas. Outro mito: piano antigo, do começo do século, em geral não é tão maravilhoso como dizem, afinal envelheceu, tem 100 anos. Vale lembrar que piano afinado em 440 hertz suporta 20 mil quilos de compressão de corda.” • </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>HISTÓRIAS</b> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">• <b>Evgeni Kissin</b> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“Ficou uma semana ensaiando na Sala, no Steinway, mas o elevador que sobe o piano ao palco quebrou. Que fazer? O Yamaha estava lá em cima. Ele não toca, disse a produção. Mas não tinha outro jeito.” </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> • <b>Lang Lang</b> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> “Quando veio em 2012 à Sala São Paulo, Lang parecia um moleque. Não deu dor de cabeça nenhuma. Também se apresentou no Tomie Ohtake, loquei o Steinway. Tocou sem experimentá-lo previamente.”</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">• <b>Egberto Gismonti</b> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> “Foi no Sesc. Ele tocou um acorde e perguntou pelo afinador. Fiz 15 minutos de faz-de -conta, ele tocou, tinha uma coisinha de nada, fácil de ajustar. Tem um lado psicológico para o qual é preciso atentar.” </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">• <b>Artur Pizarro </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“O pianista português não gostou de nenhum Steinway na Sala São Paulo. Queria o piano que fica no segundo andar, a sala do coro. Era um recital. Isso desmistifica o preconceito em relação à Yamaha.” </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">• <b>Yuja Wang</b> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> "Na primeira vez que veio ao Brasil, ela escolheu o piano. Na segunda, em 2018, perguntei se queria escolher </span><span style="font-size: medium;"></span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> sempre deixo dois preparados. Mas ela me disse: "Não, o que você escolher está bom."</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"><b>*</b> Jornalista, atualmente crítico de “<b>O Estado de S. Paulo</b>” e colunista da revista “<b>Concerto</b>”. Passou pelas redações de “<b>Veja</b>” e “<b>Folha de S. Paulo</b>”, nas quais foi crítico musical. Seu livro “<b>No Calor da Hora – música e cultura nos anos de chumbo</b>” (Editora Algol, 2008), </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> composto de uma seleção das entrevistas e artigos escritos entre 1977 e 2008 que refletem o lado político da música erudita, além de oferecer um panorama mais social desta que é considerada a mais elitizada das artes, </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> foi finalista do Prêmio Jabuti de 2009. Editou o volume coletivo “<b>Cem anos de música no Brasil – 1912/2012</b>” (Editora Andreato, 2014). Autor de “<b>Pensando as músicas no século XXI – Invenção e Utopia nos Trópicos</b>” (Editora Perspectiva, 2017).</span></div></div></div></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-37375167275065385692024-01-01T18:05:00.006-03:002024-01-05T10:53:29.029-03:00PREFÁCIO DO LIVRO "LENDAS MARIANENSES"<p><br />
<span style="font-size: large;"><b>Por ROQUE (José de Oliveira) CAMÊLLO <b>*</b></b></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAq6O1HxfxDBVIEVdLV8_i-mSZSs23y3dLlgZfcmKblfpqXDNahxN_8kNyAp_mNk_ncWjve5gsA32tCSwzHUecD9KiFasvVTTSXU9T1LObFriYo3NRoZnXshqq0XTmZZuGVfU46NbWoXwPn-dXmVqiHjeuUoRttutn9i3tnfmXKYG4g9DkjFCrm3IFt1g/s2182/4fff79934575f994b4acdd0670a86d3bd6f0bd0b.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="2182" data-original-width="1500" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAq6O1HxfxDBVIEVdLV8_i-mSZSs23y3dLlgZfcmKblfpqXDNahxN_8kNyAp_mNk_ncWjve5gsA32tCSwzHUecD9KiFasvVTTSXU9T1LObFriYo3NRoZnXshqq0XTmZZuGVfU46NbWoXwPn-dXmVqiHjeuUoRttutn9i3tnfmXKYG4g9DkjFCrm3IFt1g/w275-h400/4fff79934575f994b4acdd0670a86d3bd6f0bd0b.jpg" width="275" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Livro de Waldemar de Moura Santos prefaciado por Prof. Roque José de Oliveira Camêllo, 1º volume, 2ª edição (2012), impresso pela Editora Dom Viçoso-Mariana/MG (cortesia da família Moura Santos) <br /></b></span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"><b>WALDEMAR DE MOURA SANTOS</b><br /></p><p style="text-align: justify;">
<span style="font-size: medium;">O Prof. Waldemar de Moura Santos nasceu em 16 de maio de 1906, em Guaranésia (MG). Filho do Prof. José Pedro Claudino dos Santos e Carlota Odorica de Moura Santos, veio para Mariana com a idade de nove meses transportado em cargueiro de burros, pois a estrada de ferro tinha o seu ponto final em Ouro Preto. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Aos sete anos, entrou para o Grupo Escolar Dr. Gomes Freire. Concluído o curso primário, entrou para o Externato Marianense do Cônego Francisco Vieira Braga, onde estudou durante quatro anos. Fundado o Ginásio Arquidiocesano, sob a direção do Monsenhor Nogueira Duarte e, depois, sob a orientação do Padre José da Silveira Lobo, feito o exame de admissão, passou a frequentá-lo, concluindo o curso em exames parcelados em vista da mudança do ginásio para Ouro Preto. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No Externato Marianense "Padre Cornagliotto", dirigido pelo Cônego Braga, fundou o jornal "0 Porvir", dedicado aos interesses da mocidade de seu tempo, preparando-o para a Escola de Jornalismo, sua grande paixão e seu grande ideal. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Já casado, entrou em concurso para funcionário do Banco Comércio e Indústria, sendo aprovado. Saindo do banco, dedicou-se ao jornalismo, trabalhando também na arte tipográfica com seu tio Agripino Claudino dos Santos, antigo proprietário da famosa Folhinha de Mariana. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Fundou e dirigiu, em Mariana, em 1929, durante seis anos, o jornal "<b>O Cruzeiro</b>", órgão combativo pela fé e moral cristã. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Ingressou na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) por proposta formulada pelo seu então presidente, Dr. Herbert Moses. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Católico por índole e por educação, vicentino, franciscano,trabalhador incansável que foi, e muito piedoso, deu mostras de sua religiosidade fundando em Mariana a "União de Moços Católicos". </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Em 1955, fundou e dirigiu o "<b>Folha de Mariana</b>", jornal de
feitio moderno, combativo, crítico e de ideais novos. Os escritos esparsos em diversos jornais do país, reunidos, dariam para a publicação de
vários volumes. Publicou também trabalhos de crítica literária, abordando temas de grande importância para a cultura geral. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Foi correspondente do jornal "<b>A Noite</b>", do Rio de Janeiro. Foi ainda colaborador de vários jornais de Minas e do Brasil, assinando os trabalhos sob o registro de "Moura Santos". Entre os muitos jornais, citamos: "<b>Jornal do Povo</b>", de Ponte Nova; "<b>0 Diário</b>", de Belo Horizonte; "<b>Diário de Minas</b>", de Belo Horizonte; "<b>Correio da Manhã</b>", do Rio de Janeiro; "<b>Correio Imperial</b>", do Rio de Janeiro; "<b>A União</b>", do Rio de Janeiro; "<b>Diário Popular</b>", de São Paulo; "<b>O Globo</b>", do Rio de Janeiro: "<b>O Germinal</b>", de Mariana; "<b>O Município</b>", de Caratinga; "<b>O Espeto</b>", de Passagem de Mariana; "<b>A Comunidade</b>", de São João del-Rei; "<b>A Voz do Prata</b>", de São Domingos do Prata; "<b>O Arquidiocesano</b>", de Mariana; "<b>A Voz do Município</b>", de Mariana; "<b>O Império de Fortaleza</b>", do Ceará; "<b>Jornal de Mariana</b>", de Mariana; "<b>A Tribuna</b>", de Belo Horizonte; "<b>Diário da Tarde</b>", de Belo Horizonte; "<b>Gazeta da Mata</b>", de Ponte Nova; "<b>Gazeta de Ponte Nova</b>", de Ponte Nova; "<b>Voz de Diamantina</b>", de Diamantina; "<b>Tribuna</b>", de Raul Soares; "<b>Tribuna de Ouro Preto</b>", de Ouro Preto, "<b>Folha do Povo</b>", de Ubá; "<b>Correio do Dia</b>", de Belo Horizonte; "<b>Escola Normal</b>", de Uberlândia; "<b>O Alfinete</b>", de Mariana; "<b>A Matraca</b>", de Mariana. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Grande colaborador do "<b>Estado de Minas</b>", de Belo Horizonte, publicou muitos artigos históricos e literários. Waldemar de Moura Santos foi, sem dúvida, uma gigante na Imprensa em Mariana, em todos os tempos. Inigualável. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No princípio da década de 80, estudou e organizou o Arquivo da Câmara Municipal de Mariana. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Dentre suas obras publicadas em livro, é de sua autoria um opúsculo "<b>In Memoriam</b>", biografia de seu pai José Pedro Claudino dos Santos. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Escreveu ainda os seguintes livros: "<b>Lendas Marianenses</b>", "<b>Sessenta Tempos</b>", "<b>Discursos e Conferências</b>" e "<b>Planos de Aula de Português, História Geral, Literatura e Retórica</b>", aplicados quando lecionava no Colégio Alfredo Baeta, em Ouro Preto e no Externato Marianense, em Mariana. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Waldemar de Moura Santos era aposentado como Postalista no antigo D.C.T., hoje Empresa Brasileira de Correios. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Foi Agente Municipal de Estatística, deixando o cargo para exercer a direção do Serviço Nacional de Recenseamento, como Delegado do IBGE. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Casado com a Srª Hélia Teixeira Santos, já falecida, deixou sete filhos: Maria Geralda Teixeira Santos; Frederico Ozanan Teixeira Santos: Maria Aparecida Santos; José Eustáquio Santos, já falecido; Rafael Arcanjo Santos; Francisco Assis Santos e Antonio Marmo Santos; quatro netos: Patrícia Sergio Augusto, Ana Beatriz e Karine. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O Prof. Waldemar de Moura Santos foi membro da Associação Mineira de Imprensa e do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Pertenceu à Academia Ouro-pretana de Letras. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Como membro efetivo da Comissão Mineira de Folclore, realizou várias pesquisas sobre "<b>Usos e Costumes da Gente Marianense</b>", que mereceram o seu ingresso nessa Comissão. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Foi membro da Academia de Letras da Faculdade de Letras de Direito do Centro Acadêmico "João Mendes Júnior", da Universidade Mackenzie de São Paulo. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Foi, ainda, agraciado com a medalha do "Dia de Minas Gerais", outorgada pelo Município de Mariana; Medalha de Ouro "Honra ao Mérito" do Minas Tênis Clube de Belo Horizonte; Medalha do Mérito Cultural pela Casa de Cultura de Mariana e Medalha de "Honra ao Mérito" dos Artistas Plásticos de Mariana e da Corporação Musical "União XV de Novembro". </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No dia 28 de outubro de 1962, fundou a Academia Marianense de Letras, onde ocupou a cadeira nº 11, cujo patrono é o Padre José Severiano de Ressende, do qual escreveu esplêndida obra literária. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Desde sua fundação até sua morte, por 24 anos, exerceu o cargo de presidente da Academia Marianense de Letras. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No dia 18 de julho de 1969, promoveu a criação da primeira Casa de Cultura de Minas Gerais, auxiliado pelos ilustres acadêmicos Raul Bernardo Nelson de Sena e Prof. Roque José de Oliveira Camêllo, no governo de Israel Pinheiro. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No dia 28 de outubro de 1978, data em que se comemorava o 16º aniversário de fundação da Academia Marianense de Letras, a Câmara Municipal de Mariana concedeu ao Prof. Waldemar de Moura Santos o título de cidadão honorário pelos relevantes serviços prestados à comunidade marianense. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Num misto de alegria e tristeza, o ano de 1986 foi marcante na vida da Família Moura Santos: no dia 02 de fevereiro, a celebração das Bodas de Ouro Matrimoniais de Hélia e Waldemar; no dia 16 de maio, a comemoração festiva dos 80 anos de vida do Prof. Waldemar; no dia 25 de dezembro, já enfermo em avançado estágio, mas lúcido, a confraternização natalina em homenagem aos 50 anos em que o casal preparava o presépio do Menino Jesus; e no dia 30 de dezembro, a data em que cumpria a missão do Prof. Waldemar de Moura Santos na Terra. Começava nesse dia a sua trajetória rumo à casa do Pai.</span></p><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"><b>*</b> <i>Professor, advogado e orador notável; vereador por uma legislatura, vice-prefeito e prefeito de Mariana; conselheiro da Associação Universitária Internacional (AUI), da qual foi Diretor Regional para Minas Gerais; presidente da Casa de Cultura-Academia Marianense de Letras, Ciências e Artes (1986-2017); autor do projeto da criação do Dia de Minas (1977); autor do livro "<b>16 de julho: O DIA DE MINAS</b>" (1991); membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, onde ocupou a cadeira nº 66 patroneada por Princesa Isabel; diretor-executivo da Fundação Cultural e Educacional da Arquidiocese de Mariana (FUNDARQ), onde foi responsável pela 2ª reforma do órgão Arp Schnitger da Catedral de Mariana; autor do projeto de certificação e inscrição do acervo do Museu da Música de Mariana no programa "Memoria del Mundo" da UNESCO (deferido em 2011); </i></span><i><span style="font-size: medium;">presidente da Comissão de Defesa do Patrimônio Histórico da OAB-MG; criador da Associação dos Amigos do Memorial Pedro Aleixo (AAMPA); </span><span style="font-size: medium;">autor de "<b>Mariana-Assim nasceram as Minas Gerais</b>" (2016);</span><span style="font-size: medium;"> patrono da Cadeira nº 23 da Academia Marianense de Letras ocupada atualmente por Francisco José dos Santos Braga.<br /></span></i></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-73280904582698482662023-12-28T11:18:00.011-03:002023-12-30T10:41:21.204-03:00RECEITA DE MÁRCIO VICENTE PARA LEITURA DE EMIL LUDWIG<p><br />
<span style="font-size: large;"><b>Por Márcio Vicente Silveira Santos <b>*</b></b></span><br />
</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFT8YEcYvpH-FeDV6GITgKJ3YzBWRKiGfCPdR7XBqwBYp4Kt542Fta5Yu1LzCiEotSYU-p58HCklNtnqVStYvIjy9fRbWdVvaCWUXxKXLSwUL7lAgREUZjNi7sGIDug4prLqR-wik9oJoHzTYRMX10gWfmMeG297Cw5Zpsn-GWU2m5eaKhsNlgD6FNkvU/s1000/mares.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="625" data-original-width="1000" height="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFT8YEcYvpH-FeDV6GITgKJ3YzBWRKiGfCPdR7XBqwBYp4Kt542Fta5Yu1LzCiEotSYU-p58HCklNtnqVStYvIjy9fRbWdVvaCWUXxKXLSwUL7lAgREUZjNi7sGIDug4prLqR-wik9oJoHzTYRMX10gWfmMeG297Cw5Zpsn-GWU2m5eaKhsNlgD6FNkvU/w400-h250/mares.jpg" width="400" /></a></div><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGUFvfRHrL3AqWzifMQvyeoyMeC2NsvAuF747nTEmI2j_63Jbl6XuIto4nsRhtZbtWuN9PE09xlfwA3Z0brh6QUm9bWYNSLjk9exr48ihqIf3TkfTbvrw0wFB6ik6U8FYUEi8WdAJ0oORB0ktuQIJktgxOOiclDnMtDUQSvKbXy6hhooWvw8UjrEEcsxA/s305/th.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="180" data-original-width="305" height="236" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGUFvfRHrL3AqWzifMQvyeoyMeC2NsvAuF747nTEmI2j_63Jbl6XuIto4nsRhtZbtWuN9PE09xlfwA3Z0brh6QUm9bWYNSLjk9exr48ihqIf3TkfTbvrw0wFB6ik6U8FYUEi8WdAJ0oORB0ktuQIJktgxOOiclDnMtDUQSvKbXy6hhooWvw8UjrEEcsxA/w400-h236/th.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Mar Mediterrâneo<br /></b></span></td></tr></tbody></table><br /><p><span style="font-size: medium;">14/07/2017</span></p><p><span style="font-size: medium;">Prezado Amigo Professor Braga:</span></p><div style="text-align: justify;"><blockquote><span style="font-size: medium;"><i>Folheando antigo exemplar de "<b>O Mediterrâneo</b>" (ontem, leitura de um jovem que pouco ou nada sabia da Grécia heróica; e, hoje, releitura de um ainda ignorante da esplêndida Cultura grega...) lembrei-me do amigo — helenista de Corinto a Mileto e de Citera ao Helesponto; marinheiro de Ulisses, ouvinte de Platão, <i>ghostwriter</i> de Péricles, cinzelador de Fídias e certamente frequentador dos saraus de Aspásia — e resolvi xerocar parte de um dos mais belos capítulos do livro. Naturalmente, você conhece a obra tanto quanto sabe da Grécia: sua histórica, sua gente, sua Cultura... Mesmo assim, resolvi enviá-lo.</i></span> <br /></blockquote><blockquote><span style="font-size: medium;"><i>Um grande abraço</i></span> <br /></blockquote><blockquote><span style="font-size: medium;"><i>Márcio Vicente </i><b></b></span></blockquote><p style="text-align: right;"> <span style="font-size: large;"><b>*</b></span><span style="font-size: medium;"><i> Historiador, escritor, jornalista, poeta e promotor de arte e cultura em Sete Lagoas, nascido em 23/03/1942 em Traíras, distrito de Cordisburgo e falecido em Sete Lagoas em 29/07/2019; membro de diversas Academias: Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais (sócio efetivo, desde 1969), Academia Sete-Lagoana de Letras (sócio fundador, desde 1985), Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (sócio correspondente, desde 1995), Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa (sócio efetivo, desde 2008) e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei (sócio correspondente, desde 2017)</i>.</span><span style="font-size: medium;"> </span></p></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>Obs. do Gerente do Blog</b>: Anexo à correspondência remeteu-me na verdade dois capítulos do livro <b>O Mediterrâneo</b>, contidos no Livro Primeiro chamado pelo autor "<i><b>O Descobrimento do Oceano</b></i>" (nas páginas 99 a 106) e com os grifos do missivista, a saber: <br /></span></p><p style="text-align: center;"><span style="font-size: large;"><b>Capítulo XIX </b></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Quem, em 440 a.C., subisse até a Acrópole e, em alguma afortunada hora da manhã, em meio dos martelos e gritos de milhares de operários, se sentasse num dos degraus do terminado Partenon, poderia facilmente ver meia dúzia de homens, que, naqueles dias, simbolizavam a glória de Atenas e hoje simbolizam a glória do mundo. Tal coincidência, num grupo de homens, é única na história: em regra, <span style="background-color: #fce5cd;">o gênio ora passa desconhecido do seu tempo, ora é esquecido pela posteridade. Os Atenienses conheceram-no, vingaram-se dele, depois, deixando-o cair; mais tarde, porém, veio a história e, sorrindo, de novo o levantou.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;">Três homens sobem lentamente os altos degraus do Propileu. Um deles, o rosto coberto pela barba e aparentando cerca de 50 anos, mostra ao mais moço o que já está terminado e o que ainda resta por terminar. <span style="background-color: #fce5cd;">Péricles</span> caminha no meio: sua figura é, em todos os sentidos, a de um chefe, tanto mais quanto ele se esforça por não parecê-lo. Lembra mais um rei do que um deus, porém seu olhar, assim como a cadência dos seus passos, exprimem uma tranquilidade olímpica. Bem sabe ele porquê dá tanta atenção ao forasteiro que caminha à sua esquerda e que, em suas grandes viagens, constantemente visitava Atenas. Este não só sabe muito bem observar o que se passa em seu derredor, como, além disso, sabe rapidamente combiná-lo com o que está distante. É <span style="background-color: #fce5cd;">Heródoto</span> (...) </span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;">Calado segue o terceiro, ao lado dos outros dois. Tem um semblante de herói e, mais do que Péricles, pareceria um general, se as fundas rugas da fronte não denunciassem o pensador. É <span style="background-color: #fce5cd;">Sófocles</span> (...) </span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;">A imagem da glória enche-lhes o pensamento e, talvez, naquela manhã, o poeta (Sófocles) esteja compondo a ode que mais tarde escreveu sobre Heródoto.</span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;">Em cima, saindo da ruidosa multidão e acompanhado da mulher mais interessante de Atenas, vem <span style="background-color: #fce5cd;">Fídias</span> ao encontro dos três. Acabou de mostrar a Aspásia os debuxos, de acordo com os quais serão esculpidas as Cariátides. Péricles </span></span></span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;"> assim conta Plutarco </span></span></span><span style="font-size: medium;">— beijava-a na fronte, toda vez que a encontrava. Sem nome e sem origem, conhecida apenas como <span style="background-color: #fce5cd;">Aspásia, a amada</span>, </span><span style="font-size: medium;">— essa mulher encontrara o homem de sua estatura. Como <span style="background-color: #fce5cd;">na sociedade ateniense só as hetairas tinham algum valor</span>, foi fácil a Péricles, por causa dela, abandonar a esposa. Nascido para exercer o poder supremo, evidentemente o grande homem só podia suportar ao seu lado outra criatura genial. (...)</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Heródoto apresenta-se a Aspásia como perfeito cavalheiro; mas, como psicólogo, ele observa cada expressão do rosto de Péricles, e todos sabem que o encontro destes quatro homens e da mais inteligente das mulheres será crítica (...) Pois nenhum outro povo, à exceção dos Parisienses, jamais pensou com tanta vivacidade e ceticismo como os Atenienses. (...)<br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Um pouco distante, do outro lado, ele (Heródoto) já avistou o homem com cabeça de músico, que está conversando com um desconhecido mancebo e que todos em Atenas chamam "o novo astro" do teatro de Dionísio. <span style="background-color: #fce5cd;">É Eurípedes</span> que, há pouco ganhara o prêmio, quando, pela primeira vez, ousou por uma mulher no palco. (...) </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Ao seu lado, o jovem contempla, com expressão não menos interessada o hóspede grego, Heródoto, porquanto ele próprio ambiciona tornar-se um grande historiador (...) Este jovem <span style="background-color: #fce5cd;">é Tucídides</span>. (...)</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Distante deles, no lado norte, está sentado um homem de 30 anos, próximo aos operários. (...) Este último <span style="background-color: #fce5cd;">é Sócrates</span>, que simultaneamente perturba e diverte toda a gente com suas perguntas populares e diabolicamente inteligentes. (...) </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Talvez que ele (Sócrates), apesar de sua inteligência, não tivesse reparado no jovem estudante, que se metera entre os operários para observá-lo mais de perto. (...) <span style="background-color: #fce5cd;">É</span> apenas o grande caricaturista, sem o qual Atenas não seria Atenas:<span style="background-color: #fce5cd;"> o jovem Aristófanes</span>, que em breve os apresentará a todos no palco da comédia, imortalizando-os mais que os poetas e historiadores contemporâneos. (...)</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">De repente, vem pulando pela praça um grupo de meninos (...). À frente deles, vem um que salta doidamente (...). Três palestras se interrompem de repente na Acrópole. Por momentos, o menino atrai a atenção dos dois poetas, dos dois historiadores, de Aspásia, de Fídias e mesmo de Péricles. (...) Esse menino de 10 anos <span style="background-color: #fce5cd;">é Alcibíades</span>. </span></p><p style="text-align: center;"><span style="font-size: large;"><b>Capítulo XX</b></span><span style="font-size: large;"><b></b></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Por essa época, assim como durante os dois gloriosos séculos de Atenas, Esparta não produziu nenhum espírito notável, nenhuma ideia, nenhuma obra escultural, quase nenhum general. Enquanto que de Atenas partiam, para todas as colônias do Mediterrâneo, médicos e filósofos, rapsodos e oradores; e uma parte dos grandes nomes surgiu das costas gregas da Ásia Menor e da Sicília; enquanto se tornava Atenas centro do comércio de livros e Platão fundava a Academia </span><span style="font-size: medium;">—, a noite envolvia Esparta. No tempo em que Péricles se deixava introduzir por Anaxágoras nas ciências naturais e discutia com Protágoras sobre ética, Esparta fechava as suas fronteiras à sabedoria, ao drama e à música. Tão perto do centro da cultura mundial, castigavam os Espartanos quem quer que ousasse filosofar, em vez de cuidar da ginástica e do tiro. Entrementes, os jovens atenienses aprendiam a atirar, remar e combater, como os seus heróicos antepassados.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Talvez tivesse Péricles evitado para sempre a guerra com Esparta, se a impaciência dos Atenienses, ansiosos por acabar com uma dominação de 30 anos, sedentos de renovações e tocados de ciúme, não se tivessem deixado arrastar a revoltas e processos, nos quais experimentavam livrar-se de seu caduco dirigente. Já então, como em nossos dias, uniam-se os partidos para derrubar um homem partidário em excesso. Radicais e nobres abriam processos contra o filósofo, depois contra o arquiteto, em seguida contra a amante de Péricles, expulsando o primeiro, deixando morrer na prisão o segundo e quase prendendo também Aspásia, se o chefe do Estado não a tivesse salvo com sobre-humano esforço e, até, como se diz, com lágrimas nos olhos. Parece que Péricles, igualmente ameaçado, buscou finalmente refúgio numa guerra </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> como o fizeram, depois dele, até os nossos dias, muitos ditadores ameaçados.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Confiante na supremacia de Atenas no mar e na inexpugnabilidade das suas muralhas, pensou, entretanto, que podia evitar a batalha. Mas se viu bloqueado pelos Espartanos, que, sob vários pretextos, marcharam contra Atenas. Teve que entregar partes da Ática às hostes que invadiram o território, como bárbaros; mas já se julgava salvo, após a retirada do agressor, quando a peste se apoderou de um quarto da população refugiada em Atenas. Veio a confusão, e, com esta, a denúncia do chefe do Estado por desvio de dinheiros públicos, enquanto que ele, na verdade, poupara o maior tesouro público da história antiga </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> pouco mais ou menos 10 milhões de dólares. Destituição do cargo, mágoas, tristeza, melancolia. Nova chamada, quando se deu a segunda invasão do inimigo; e, depois, a morte pela peste. Essa guerra do Peloponeso, continuando durante 27 anos, com alternativa de vitórias, elevou ao poder, por pouco tempo, Alcibíades </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> então já homem de 20 anos. Isto se verificou 14 anos depois da morte de Péricles.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Com Alcibíades, cujo caráter não poderemos analisar aqui, por falta de espaço, pôs outra vez a história diante dos olhos do mundo mediterrâneo um gênio, que se imortalizou como os seus grandes antecessores. Pela sua beleza e elegância, seu cinismo e desmedido gosto, amado e, ao mesmo tempo, odiado </span><span style="font-size: medium;">— lembra ele, quanto ao caráter e ao talento, um Lord Byron ou um D'Annunzio da nossa época. Precisando de uma vitória para reanimar os Atenienses fatigados das guerras, preparou uma campanha contra a Sicília, isto é, uma nova guerra grega fratricida, com a espantosa quantidade de 134 navios. Chamado de volta pelos magistrados de Atenas, mais intrigantes do que justos, tendo sempre preparada uma denúncia puritana, semelhante àquela com que os ingleses arruinaram Byron e Oscar Wilde </span><span style="font-size: medium;">— ele foge para junto dos inimigos, em Esparta. Repete-se a loucura de uma guerra colonial longínqua, enquanto Esparta continua ameaçando por terra.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Atenas é vencida e reposto Alcibíades com entusiasmo </span><span style="font-size: medium;">— sendo novamente destituído após a sua primeira derrota. Foge então para o norte, inicia uma intriga com os Persas e é assassinado lá mesmo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Se Péricles ficou célebre pelas suas obras arquitetônicas, em cujas colunatas ressoa o seu nome, deve Alcibíades sua fama também à arte, pois Platão o introduziu nos seus diálogos. Não obstante, giram ambos qual grupo sideral em volta do astro central da época: Sócrates </span><span style="font-size: medium;">que, </span><span style="font-size: medium;">— </span><span style="font-size: medium;">dizem, </span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"> salvara a vida do jovem Alcibíades numa batalha. Sócrates amava o seu discípulo de 20 anos de idade, embora este zombasse das virtudes pregadas pelo mestre e amigo. Nada nos faz tão impressionante revelação de como era paradoxal o mundo ateniense e de como havia ali, misturadas às boas qualidades, fraquezas que breve conduziam à ruína </span><span style="font-size: medium;">— como essa amizade, que acabou com a morte violenta dos dois amigos, mas em tão diferentes condições. Com Alcibíades termina a longa guerra. <span style="background-color: #fce5cd;">Dominados pela disciplina de ferro, que constituía o seu único ideal político, em nada se distinguem os Espartanos dos bárbaros</span>; e em nada sobrepujaram os outros gregos, a não ser no violento exercício militar e na cega obediência. Agora, penetravam eles no Piréu, acampavam na Acrópole, destruíam as extensas muralhas, capturavam a frota dos vencidos, exigiam a entrega de todas as colônias, obrigavam os outros a formar uma união de Estados sob a liderança de Esparta e derrubavam a democaracia ateniense, nomeando alguns poucos homens para governar.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Assim como outrora se atirava o bárbaro sobre o vencido, sem lhe trazer qualquer ideia nova, assim </span><span style="font-size: medium;">os motivos da decadência do povo cansado</span><span style="font-size: medium;"> se assemelhavam aos motivos novamente assinalados em nossos dias. <span style="background-color: #fce5cd;">A democracia, que reinara 50 anos em Atenas, tinha apodrecido internamente, desde muito tempo. Os proletários, isto é, a maioria, haviam recebido concessões de Péricles, e as magistraturas eram facultadas aos pobres</span>, que, naquele tempo, constituíam uma maioria sem instrução. Enquanto isso, <span style="background-color: #fce5cd;">retraíam-se os ricos. Os Sicofantas</span></span><span style="font-size: x-large;"><b><span><b> ¹</b></span></b></span><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;">, ou alcaguetes, se arvoravam em representantes do povo. Efetivamente, <span style="background-color: #fce5cd;">Atenas não foi levada à glória pela sua democracia, mas a despeito desta última</span>. <span style="background-color: #fce5cd;">E a democracia provocou a queda de Atenas, porque, na verdade, divertia-se o Estado à custa do povo, que julgava governá-lo</span>. Para a forma democrática de governo, tanto o século V a.C., como o século V d.C. ainda eram prematuros. Pois como se podia desenvolver uma verdadeira democracia, num Estado antigo, que possuía três classes de habitantes </span></span></span><span style="font-size: medium;">—</span><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;"> cidadãos, estrangeiros e escravos, </span></span></span><span style="font-size: medium;">— </span><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;">com direitos completamente diversos? <span style="background-color: #fce5cd;">Como Atenas não era uma democracia verdadeira, ficou sendo vítima da autocracia espartana</span>.</span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;">O único que assistiu a toda a guerra, até o fim, foi Sócrates, amigo do povo, mas inimigo da democracia. Em sua morte reside o único motivo de haver ele alcançado, acima de Alexandre, a maior fama entre os homens da Antiguidade. De todos os homens do Mediterrâneo </span></span></span><span style="font-size: x-large;"><span><b><b><span><span><span><b><span>²</span></b></span></span></span></b></b></span></span><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;">, que filosofaram tanto sobre a vida e a morte, dando nisto à humanidade um grande exemplo, foi Sócrates o único que morreu voluntariamente pela verdade. Pode-se dizer também que morreu como um <i>gentleman</i>. </span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;">Os suicídios de Brutus, Antônio e outros foram os de jogadores que haviam perdido e que temiam agora a escravidão. Também Sêneca quis fugir à ruína da sua felicidade e Empédocles, o filósofo, que, como dizem, se atirou dentro do Etna, saldou a sua conta de pessimista. César tombou lutanto contra covardes assassinos. Jesus implorou a Deus, na última noite, para que Este o salvasse. Dentre todos, pois, somente Sócrates renunciou à salvação e contrariou o seu instinto vital de conservação. Verdade é que ele tinha o dobro da idade de Jesus. Os juízes o aconselhavam a fugir, como outros já tinham feito. Ele não padecia de qualquer doença dolorosa, nem precisava dos Atenienses, pois qualquer indivíduo humano lhe servia como objeto de análises, as quais ele poderia prosseguir em qualquer lugar da terra. Antecipou, assim, os fundamentos morais da doutrina de Jesus; mas viveu-a até o fim da sua existência.</span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;">Mesmo que a história grega não nos tivesse deixado nenhum outro documento de beleza e sabedoria, senão a Apologia de Sócrates, o Ateniense, feita por Platão, isto só bastaria para elevar Atenas acima de todas as culturas subsequentes do Mediterrâneo. Ao mesmo tempo, contudo, a morte de Sócrates simboliza a malícia e amargura dos Atenienses. Pois, como acabaram todos esses homens?</span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;">Nenhum deles tombou na luta, nenhum morreu jovem; todos ficaram mais velhos do que era de supor-se, dada a sua debilidade física e a sua grande atividade. Dentre os poetas: Ésquilo morreu com 71 anos, Eurípides com 74, Aristófanes com cerca de 80. Dentre os filósofos: Sócrates com 71. Anaxágoras com 72, Heródoto com 75, Pitágoras com cerca de 76, Platão com 80, Isócrates com 99. Também não é certo que os Gregos achassem belo morrer na juventude. Desde Homero, manifestaram eles sempre o desejo de alcançar uma tranquila morte na velhice.</span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;">Se, dentre os maiores gregos que, no espaço de 150 anos, representaram a fina flor de Atenas, quisermos escolher aqueles cujos dons se desenvolveram em paz e tranquilidade, restar-nos-á um único, entre dezessete: Sófocles. <span style="background-color: #fce5cd;">O destino dos outros dezesseis revela a hostilidade social contra o gênio</span>. Esses gregos morreram entre 456 e 322 a.C., perseguidos sempre entre as idade de 55 e 75 anos. </span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;"><span style="background-color: #fce5cd;">Ésquilo</span> morreu no desterro; <span style="background-color: #fce5cd;">Aristides</span>, já velho, foi expulso por cinco anos, de depois perdoado; <span style="background-color: #fce5cd;">Temístocles</span>, expulso também, morreu em terra inimiga; <span style="background-color: #fce5cd;">Péricles</span> foi denunciado e destituído; <span style="background-color: #fce5cd;">Fídias</span> morreu na prisão; <span style="background-color: #fce5cd;">Ictinos</span> fugiu e faleceu junto ao inimigo; <span style="background-color: #fce5cd;">Anaxágoras</span>, expulso, condenado à morte, morreu também no desterro; <span style="background-color: #fce5cd;">Pitágoras</span>, expulso, provavelmente morreu de fome; <span style="background-color: #fce5cd;">Heródoto</span> pereceu no exílio; <span style="background-color: #fce5cd;">Eurípides</span>, moralmente banido, morreu no estrangeiro; <span style="background-color: #fce5cd;">Tucídides</span> foi expulso e assassinado; <span style="background-color: #fce5cd;">Alcibíades</span>, como única exceção, foi expulso na mocidade, e depois assassinado; <span style="background-color: #fce5cd;">Sócrates</span> foi condenado à morte; <span style="background-color: #fce5cd;">Platão</span> foi vendido como escravo, e só mais tarde libertado; <span style="background-color: #fce5cd;">Aristóteles</span>, acusado, fugiu e morreu longe da pátria; <span style="background-color: #fce5cd;">Demóstenes</span>, perseguido, envenenou-se. Excetuando os dois últimos, que foram expulsos mais pelas circunstâncias do que pelos concidadãos, os demais nos mostram toda a malícia, impaciência, ciúme e ingratidão dos Gregos, dentro daquela democracia que a todos eles envolveu. E acabamos dando razão a Aristófanes </span></span></span><span style="font-size: x-large;"><span><span><span><b>³</b></span></span></span></span><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;"><span style="background-color: white;">.</span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: #fce5cd;">É como se Fausto e Mefistófeles tivessem feito um pacto, para persuadir um povo de pensadores e artistas a destruir o que ele próprio havia criado. E foi uma felicidade para o mundo que o senso de beleza desse povo não o deixasse destruir também, juntamente com os mestres, as obras destes. </span></span></p><br /> <br /><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>II. NOTAS EXPLICATIVAS pelo Gerente do Blog</b></span><span style="font-size: large;"><b></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><b><span><b>¹</b></span></b></span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b> </b></span></b></span><span style="font-size: small;">Consta que, na Grécia antiga, havia pessoas que eram nomeadas para cuidar que os figos (SYKON) não fossem colhidos indevidamente, pois em certos pontos eles seriam propriedade do Estado. A elas cabia delatar os transgressores às autoridades, o que era feito “iluminando, dando a conhecer, trazendo a luz sobre um fato”, ou PHAÍNEIN. Daí a aplicação atual para sicofanta para “mentiroso, delator, caluniador”.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><span><b><b><span><span><span><b><span>² </span></b></span></span></span></b></b></span></span><span style="font-size: small;">O Mar Mediterrâneo (do latim, <i>Mediterraneus</i>, que significa “entre as terras”) é um mar interior que está localizado no Oceano Atlântico Oriental entre a Europa (ao sul), Ásia (a oeste) e África (ao norte). Suas águas são mais quentes, uma vez que recebe o calor do deserto africano.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;">Ocupa uma área total de aproximadamente 2.5 milhões de Km2, sendo considerado o maior mar interior do mundo em extensão e volume de água.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;">Cerca de 70 rios desaguam no Mar Mediterrâneo dos quais se destacam: Nilo, Pó, Ebro, Ródano, dentre outros.<br /><br /><b>Mapa do Mar Mediterrâneo</b><br /><br />Possui vasta biodiversidade abrigando cerca de 5% das espécies do planeta, dentre vegetais e animais.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;">Faz ligações com o Mar Negro (pelo estreito de Bósforo e de Dardelos) e o Mar Vermelho (pelo Canal de Suez) agrupando diversas ilhas sendo as maiores as de Sardenha e da Sicília, ambas na Itália.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;">Além delas, outras ilhas fazem parte do Mediterrâneo, a saber: Chipre, Córsega, Creta, Maiorca, Minorca, Ibiza, Lesbos, Rodes, Miconos, Malta, dentre outras.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;">O Mar Mediterrâneo banha também quatro penínsulas:<br /> Península Ibérica<br /> Península Itálica<br /> Península da Anatólia<br /> Península Balcânica<br /> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><b>História</b><br /><br />A história do mar mediterrâneo remonta tempos muito antigos, de forma que diversas civilizações da Antiguidade se desenvolveram próximas ao Mediterrâneo, tal qual fenícios, macedônios, cartagineses, egípcios, gregos e romanos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;">O Mediterrâneo foi muito importante para a navegação, relações comerciais e contato entre os povos (trocas comerciais, culturais, etc), uma vez ele possui uma posição estratégica.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;">Os romanos o chamavam de “<i><b>Mare Nostrum</b></i>” (Nosso mar) e árabes o chamavam de “Al-Bahr al-al-Abyad Mutawassiṭ” (Mar Branco do Meio). Foi também muito importante para a rota marítima comercial dos séculos XV e XVI, </span><span style="font-size: small;">com o transporte de especiarias </span><span style="font-size: small;">pelos genoveses e venezianos.<br />Link: <a href="https://www.todamateria.com.br/mar-mediterraneo/">https://www.todamateria.com.br/mar-mediterraneo/</a></span><span style="font-size: small;"><b> 👈</b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><b> </b></span><span style="font-size: x-large;"><span><b><b><span><span><span><b><span> <br /></span></b></span></span></span></b></b></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><span><span><span><b>³</b></span></span></span></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: large;"><b></b></span></span></span></span><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: large;"><b> </b></span></b></span><span style="font-size: small;">Aristófanes serviu-se da comédia para manifestar seu menosprezo a certas autoridades públicas, aos políticos, às instituições, às “celebridades” e aspirantes que, pateticamente, exteriorizavam a decadência moral da sociedade grega. Corrupção, abuso de autoridade, vaidade e mesquinhez foram alvo de suas críticas veladas sob a forma de sátira. Apesar de ter escrito mais de quarenta peças teatrais, apenas onze são conhecidas. Por exemplo, “<b>As Nuvens</b>”, uma das que sobreviveu, constitui uma crítica contundente ao Poder Judiciário ateniense. A ironia de Aristófanes já começa no próprio título da peça: “As Nuvens”.</span></div></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span><span><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: small;"><b></b></span></span><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><b> </b></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>BRAGA</b>, Francisco José dos Santos</span><span style="font-size: small;"> </span><span style="font-size: medium;"><i>et alii</i>: <b>Colaborador: MÁRCIO VICENTE SILVEIRA SANTOS</b>, relatório da Comissão do IHG que aprovou a admissão do historiador sete-lagoano no IHG de São João del-Rei. </span><span style="font-size: small;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2017/08/colaborador-marcio-vicente-silveira.html">https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2017/08/colaborador-marcio-vicente-silveira.html</a></span><span style="font-size: medium;"> 👈</span></div><span style="font-size: small;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>JORNAL TRIBUNA DE SETE LAGOAS: </b></span><span style="font-size: medium;"><i><b>TIRADENTES NA HISTÓRIA DE SETE LAGOAS</b></i>, <span> editorial de 21/04/2012, publicado no Blog de São João del-Rei em 29/03/2023.</span></span><span style="font-size: medium;"><span><br /></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span><i>Link</i>: <a href="https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2023/03/tiradentes-na-historia-de-sete-lagoas.html">https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2023/03/tiradentes-na-historia-de-sete-lagoas.html</a></span></span><span style="font-size: small;"><span> </span></span><span style="font-size: medium;">👈</span><span style="font-size: small;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>LUDWIG</b></span><span style="font-size: small;">, </span><span style="font-size: medium;">Emil: <b>O MEDITERRÂNEO: Destino de um oceano</b>, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, traduzido do alemão por Almir de Andrade, 1935, 557 p.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>SILVEIRA SANTOS</b>, Márcio Vicente: <i><b>Tiradentes em Sete Lagoas</b></i>, escrito em 21/04/2010 e publicado no Blog de São João del-Rei em 22/08/2017. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2017/08/tiradentes-em-sete-lagoas.html">https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2017/08/tiradentes-em-sete-lagoas.html</a> </span> <span style="font-size: medium;">👈</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">___________________________: <b><i>São João</i></b>, escrito em 02/12/2017 e publicado no Blog de São João del-Rei em 26/01/2018.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2018/01/s-o-j-o-o.html">https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2018/01/s-o-j-o-o.html</a> </span><span style="font-size: medium;">👈</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">___________________________: <i><b>Tiradentes no comando</b></i>, publicado na revista <i><b>Memória Cult</b></i>, Ouro Preto, Ano I, nº 3, abril de 2011, </span><span style="font-size: medium;">pp. 34 e 35.</span><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">___________________________:<b> Tiradentes em Sete Lagoas - Um mergulho na História que inscreve a Cidade no cenário da Inconfidência Mineira</b>, Sete Lagoas: Tip. Kosmos, 2010, 245 p. </span><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><span style="font-size: medium;">___________________________: <b>Sete Lagoas, Século XVIII</b> <b>- O Registro e as Estradas Reais: Centralidade e Convergências na Capitania de Minas</b>, Sete Lagoas: Edições Instante, 2019, 235 p.</span><span style="font-size: medium;"> <br /></span></div></div></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-10711134082613148962023-12-26T11:20:00.006-03:002023-12-26T21:35:48.683-03:00Outros Céus, outras Terras<div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span style="font-size: large;">Por</span> <span style="font-size: large;">ANTÓNIO VALDEMAR *</span></b></span></div> </div>
<div style="text-align: justify;"></div></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><i>“A imaginação mergulhou no passado e procurou avançar para o futuro: «Vejo raiar na grande noite a Estrela que anuncia eternamente o nascimento do Menino; vejo o estábulo sem conforto onde a vaca rumina e o burro sonha; e vejo os Pais que se debruçam com ternura sobre o filho que vai remir a Humanidade. A criação do Homem e a sua redenção sobre o Amor continuam».”</i>(artigo publicado originalmente no <b>Diário dos Açores</b>, na edição de 24/12/2023)<i><br /></i></blockquote><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvyGdXjL7h1o0Mfh8KzqYYTmkIqDeeMrVfiJSr9miqZsiT2BXPKCEnlOzJqD86DglHvhuP3RNBbM_PPdYk4JRcmerybad3FREumVcx8GUY1eA3iK0715VGDTT-SkOGX6k6YaP7zrtr1k6aOg6la1-N1HEFQ0pA_-4Gs4SZXLB1mIvlFMa4-OsGV7CM0s8/s640/IMG_2892.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="459" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvyGdXjL7h1o0Mfh8KzqYYTmkIqDeeMrVfiJSr9miqZsiT2BXPKCEnlOzJqD86DglHvhuP3RNBbM_PPdYk4JRcmerybad3FREumVcx8GUY1eA3iK0715VGDTT-SkOGX6k6YaP7zrtr1k6aOg6la1-N1HEFQ0pA_-4Gs4SZXLB1mIvlFMa4-OsGV7CM0s8/w288-h400/IMG_2892.jpg" width="288" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Estes dias tão íntimos acordam fantasmas reais ou estrelas imaginárias. Um rosto de inquietação ou de esperança, aproxima-nos dos laços mais profundos que nos prendem às raízes familiares.</b></span></td></tr></tbody></table><p><span style="font-size: medium;">Tempo repleto de memórias e que faz evocar na intimidade do lar e em redor da mesa da família os nomes de todos os que já passaram pelas nossas vidas, os amigos de longe e os amigos de perto. Os amigos das horas difíceis e os amigos das horas alegres. </span></p><p><span style="font-size: medium;">Jaime Cortesão voltara do exílio, no Brasil, em 1957 e faleceu em 1960. O regresso a Portugal e com residência em Lisboa, permitiu-lhe completar investigações em arquivos nacionais e percorrer o País de norte a sul, detendo-se em tudo quanto lhe interessava. Entretanto, teve horas de tribulação política ao ser preso, com mais de 70 anos, em Caxias, (juntamente com António Sérgio, Vieira de Almeida e Mário de Azevedo Gomes) por estarem a organizar uma conferência sobre Democracia, a proferir por um deputado trabalhista britânico. </span></p><p><span style="font-size: medium;">Mesmo assim, Jaime Cortesão manteve a atividade intelectual até quase aos últimos dias e fez, no seu último Natal (1959), uma divagação entre o humano e o simbólico. Estávamos numa época já assinalada pelas aventuras espaciais, cujos primórdios Jaime Cortesão acompanhou com interesse. O lançamento do primeiro Sputnik ocorreu a 4 de Outubro de 1957 e, pouco depois, a 31 de Janeiro de 1958, surgiu o primeiro satélite, o Explorer. O mundo inteiro, apesar da desconfiança e o ceticismo de muitos perante estas e outras audaciosas inovações, viria a assistir à chegada à lua. Foi a 21 de Julho de 1969, com a nave Apollo 11. Neil Armstrong protagonizou este acontecimento que ficou na história universal. </span></p><p><span style="font-size: medium;">O Natal de Jaime Cortesão convocou os valores e ensinamentos tradicionais. Aprofundou as raízes de Ançã, terra onde nasceu e da qual nunca se desligou. Ele próprio confessa a emoção que sentia das suas origens, de «<i>uma terra de dunas e lagunas, de bairrada e de pinhais, gândaras e pedreiras e de tão pródigas entranhas que a sua pedra, o calcário macio de Ançã de Outil e de Portunhos, serviu para construir retábulos, púlpitos e imagens distribuídas através de meio Portugal</i>». </span></p><p><span style="font-size: medium;">“<i>Nascemos todos</i> – escreveu – <i>no mesmo estábulo. O melhor tesouro de cada um será o riso das crianças, as lágrimas de ternura, a alegria sem palavras, a bondade que brota, espontânea e gratuita como as flores na primavera</i>». </span></p><p><span style="font-size: medium;">A imaginação mergulhou no passado e procurou avançar para o futuro: “<i>Vejo raiar na grande noite a Estrela que anuncia eternamente o nascimento do Menino; vejo o estábulo sem conforto onde a vaca rumina e o burro sonha; e vejo os Pais que se debruçam com ternura sobre o filho que vai remir a Humanidade. A criação do Homem e a sua redenção sobre o Amor continuam</i>». </span></p><p><span style="font-size: medium;">Mas Jaime Cortesão distinguiu-se de todos os seus contemporâneos, da Águia e da Renascença Portuguesa de Pascoaes a Afonso Duarte e da Seara Nova, de Aquilino a Raúl Brandão, sem esquecer Santiago Prezado, do <b>Auto dos Pastores Brutos</b>, em poesias e prosas com a marca que singulariza cada um. Cortesão associou a era espacial aos momentos alegóricos da comemoração do Natal: «<i>O ser terrestre conhecerá em breve outros seres. Outros Céus. Outras Terras. Outras manhãs e ocasos múltiplos de sóis. Quando sobre nós raiarem todos os sóis dos Céus, então os homens – ao mesmo tempo vermes da Terra e águias do Universo – terão forças para realizar todas as promessas do Natal e ouvidos para escutar o coro dos Anjos e a música das estrelas</i>”. As prodigiosas aventuras que se realizavam para além do planeta levaram o homem – interrogava ainda – a sentir-se «<i>desterrado do seu próprio mundo onde viveu milénios</i>». </span></p><p><span style="font-size: medium;">A chegada à Lua constituiu uma etapa de uma exploração espacial que tem prosseguido, nos últimos 70 anos, que não se sabe quando virá a ser concluída, que abre ampla reflexão acerca da cultura humanista e a cultura científica, entre as dimensões culturais, políticas e mediáticas. Confronta-nos com dinâmicas de conflito que caracterizam a contemporaneidade. </span></p><p><span style="font-size: medium;">Todas as situações da natureza humana, neste tempo de Natal, vêm à superfície nos dias tão íntimos, em que fantasmas reais ou imaginários andam dentro de nós e caminham dentro de nós. Ganham um rosto de inquietação ou de esperança, que aproxima ou separa os laços que nos prendem à terra. </span></p><p><span style="font-size: medium;"> </span></p><p style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"><b>*</b> <i>Jornalista, carteira profissional número UM; sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa</i>. </span></p></div><p><span style="font-size: large;"><b> </b></span></p><p><span style="font-size: large;"><b>II. AGRADECIMENTO</b></span> <br /></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span><span>O gerente do Blog de São João del-Rei agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga a formatação e edição da foto utilizada nesta crônica.<div style="text-align: justify;"></div></span></span></span></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-23550828253993702402023-12-25T19:36:00.013-03:002024-01-05T06:12:45.282-03:00INAUGURAÇÃO DO MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO JOÃO DEL-REI<div><div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span style="font-size: large;">Por</span> <span style="font-size: large;">ALVINO COSTA FILHO *</span></b></span></div> </div><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<div style="text-align: justify;"></div></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>
<span style="font-size: medium;"><i>Este é um texto transcrito do vídeo-memória <b>UM MUSEU PARA EL REY</b></i><b>:</b><i> <b>SOUZA CRUZ SOBRE DIA DE INAUGURAÇÃO DO MAS-MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO JOÃO DEL-REI</b> com registro histórico sobre a aquisição predial, doação para a Fundação Museu de Arte Sacra de São João del-Rei, reforma, montagem e inauguração do MAS em 06/07/1984 .</i></span> <br /></blockquote><blockquote><span style="font-size: medium;"><i>Autorizei que as informações e disponibilização do vídeo, fotos e informações relativas à inauguração do MAS fossem entregues ao Blog de São João del-Rei para sua edição no YouTube por intermédio de Edson Assis Coelho, responsável pelas Obras Civis e Instalações Elétricas do MAS.</i></span> <br /></blockquote><blockquote><span style="font-size: medium;"><i>Dedico o presente trabalho a dois grandes colaboradores: Edson Assis Coelho e Gil Amaral Campos (in memoriam), que, durante todo o tempo de duração da obra, graciosamente levava as correspondências e mensagens entre os dirigentes da obra de construção civil do MAS e a sede da Cia. Souza Cruz no Rio de Janeiro, na Rua da Candelária, nº 66/8º andar, no centro do Rio de Janeiro-RJ. Contei com a colaboração de Bruno Braga Campos, filho do colaborador Gil Amaral Campos, para a divulgação do vídeo no formato do YouTube.</i></span> <br /></blockquote><p> </p><p> </p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0Z3l06RJhIsyLpyZx32hfyd3s-FvR1opktwjWdVceE_Y4dgn4DekRlc6GqPsHTgluJFTU96sYyfiNlSt7RBn04TrIY3_sBHwKllI_Xgb7bgJNZS3spKmgpTRTJ0JddQgNEh7MyqznAC9iXwgQ9z0CCoDLRYcNjn1VmwLv0GwyIpgcEF-TUQPbkWHn-uk/s419/imaugura____o_mas_1984___acervo_antonio_f_giarola_2.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="247" data-original-width="419" height="236" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0Z3l06RJhIsyLpyZx32hfyd3s-FvR1opktwjWdVceE_Y4dgn4DekRlc6GqPsHTgluJFTU96sYyfiNlSt7RBn04TrIY3_sBHwKllI_Xgb7bgJNZS3spKmgpTRTJ0JddQgNEh7MyqznAC9iXwgQ9z0CCoDLRYcNjn1VmwLv0GwyIpgcEF-TUQPbkWHn-uk/w400-h236/imaugura____o_mas_1984___acervo_antonio_f_giarola_2.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Inauguração do Museu de Arte Sacra de São João del-Rei: 06/07/1984 - Crédito pela foto: Antônio F. Giarola<br /></b></span></td></tr></tbody></table><p><br /></p></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O pintor José de Aquino que há muitos anos se dedica a retratar o belo casario de sua cidade, São João del-Rei, resolveu naquela sexta-feira pintar algo novo: assentou seu cavalete em lugar estratégico e pôs-se a trabalhar pacientemente. Seu objetivo: transferir para a tela o Museu de Arte Sacra de São João del-Rei, cuja inauguração estava marcada para aquela noite. </span><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">E São João del-Rei amanhecera com uma novidade no ar: desde cedo, o movimento inusitado de automóveis, visitantes, fotógrafos e cinegrafistas tirava o são-joanense de sua calma habitual. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Naquele dia (06/07/1984), muita gente importante iria chegar, e, entre os convidados, um filho ilustre da terra, o próprio governador do Estado de Minas Gerais, Tancredo de Almeida Neves. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Entre os grandes tesouros artísticos de Minas Gerais, hoje representados por cidades como Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, Congonhas e outras, São João del-Rei ocupa um papel de grande importância. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Nas igrejas estão guardadas obras quase desconhecidas e de imenso valor histórico. Por muitos e muitos anos, através dos séculos, as igrejas sempre foram o lugar mais seguro para se guardarem essas riquezas, que nasciam da fé e se multiplicavam nas mãos de um sem-número de artistas locais. E percebe-se em cada são-joanense o orgulho de se sentir dono de um dos mais raros patrimônios históricos do Brasil. Muitos desses cidadãos fazem parte das irmandades religiosas locais, outros são simplesmente estudiosos da sua herança e de sua tradição. A verdade é que em São João del-Rei respiram-se tradição e história. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Aqui foi um dos palcos da famosa Guerra dos Emboabas, quando então o lugar chamava-se Arraial Novo do Rio das Mortes. O ouro e outras riquezas minerais foram responsáveis pela erguimento da Vila que, em homenagem ao então rei de Portugal, D. João V, ficaria conhecida como São João d'El Rey. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O Museu de Arte Sacra começou a ser construído oito meses antes de sua inauguração e foi fruto de um antigo encontro de diretores da Souza Cruz com o então Senador Tancredo Neves. Não era apenas um museu necessário que reunisse as obras guardadas até então nas igrejas ou em poder das irmandades religiosas do lugar. Era um sonho de toda a cidade. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O local escolhido foi o antigo Largo do Rosário (hoje, Praça Embaixador Gastão da Cunha). O prédio, durante 113 anos, até 1853, abrigou a velha cadeia pública da cidade. Durante as obras, muitas partes do que fora a prisão ficaram à mostra, revelando nichos e porões quase soterrados; velhas paredes internas foram demolidas, cedendo lugar a um projeto racional e seguro que se destinasse a abrigar um verdadeiro museu. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Eis o que o responsável pelas Obras Civis e Instalações Elétricas, Sr. Edson Assis Coelho, disse sobre as dificuldades que encontrou no desempenho de sua função:</span></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>
<span style="font-size: medium;"><i><i>“</i></i></span><i><span style="font-size: medium;">É uma obra bastante curiosa, visto termos encontrado toda a alvenaria em paus a pique, o que mantinha as características do século passado, mas que não oferecia a devida segurança para o objetivo de ser o Museu de Arte Sacra de São João del-Rei. Então tivemos que refazer a alvenaria em tijolos, uma construção mais moderna, para assim darmos toda a segurança à obra, alcançando o objetivo. Esperamos estarmos aqui na inauguração brevemente com essa maravilha com a qual São João é premiada.</span></i><span style="font-size: medium;"><i><i>”</i></i></span></blockquote></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> Mesmo antes de sua construção, era perceptível a preocupação dos que guardavam o disperso, mas rico acervo de obras sacras locais. Tendo sido entrevistado, assim se expressou sobre o empreendimento o Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva, pároco da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar:</span></p><div style="text-align: justify;"><blockquote>
<span style="font-size: medium;"><i><i>“</i></i></span><span style="font-size: medium;"><i>De fato, é de suma importância a conservação desses objetos de arte na nossa cidade, sobretudo de arte sacra, porque posso dizer que todos os turistas que aqui vêm não conseguem apreciar toda esta riqueza que nós possuímos, porque estão fechados. Mas agora com essa criação e montagem do museu, essas peças com segurança vão ser vistas por todos.</i></span><span style="font-size: medium;"><i><i>”</i></i></span></blockquote></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> Mas finalmente chegava o dia de entregar a obra à população, aos estudiosos e aos pesquisadores, donde quer que viessem. O Brasil ganhava mais um museu.
Eis as palavras do Presidente da Souza Cruz, Sr. Kenneth Sumner, durante a cerimônia da inauguração do museu:</span></p><div style="text-align: justify;"><blockquote>
<span style="font-size: medium;"><i><i>“</i></i></span><i><span style="font-size: medium;">Novamente Dr. Tancredo, a Souza Cruz marca a sua presença em Minas Gerais. É a vez desse magnífico santuário cultural e artístico, desse legítimo patrimônio histórico e universal que se chama São João del-Rei colaborar com os objetivos culturais do seu governo, proporcionar a esta cidade a guarda e a preservação do seu incalculável acervo religioso e artístico; e com isso, reavivar a memória desta região e deste país, esta é uma missão que a Souza Cruz cumpre com prazer.</span></i><span style="font-size: medium;"><i><i>”</i></i></span></blockquote></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Dada a palavra ao Governador Tancredo Neves, ele só teve palavras de gratidão a todos os que se esmeraram em presentear São João del-Rei com o projeto do Museu de Arte Sacra, em especial à outorgante Cia. Souza Cruz:</span></p><div style="text-align: justify;"><blockquote>
<span style="font-size: medium;"><i><i>“</i></i></span><i><span style="font-size: medium;">Esse museu atravessará os anos - peço aos céus que atravesse os séculos - enriquecido, opulentado e admirado por todos e quanto mais ele atravessar os tempos e o séculos, haveremos de lembrar que a Cia. Souza Cruz não é apenas um empreendimento industrial, não é apenas uma empresa com a preocupação de lucros, mas é sobretudo e principalmente uma atividade que sabe prezar, valorizar e destacar os valores permanentes, eternos e insubstituíveis da nossa cultura.</span></i><span style="font-size: medium;"><i><i>”</i></i></span></blockquote></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Mais de 100 peças totalizam o acervo do museu, em sua maioria obras do século XVIII.
Aqui vai ser apreciado o <i><b>Cristo na Coluna</b></i> de Aleijadinho, uma de suas peças de maior importância; <i><b>Nossa Senhora da Piedade, a Pietà</b></i>, finalmente saiu da Irmandade onde estava e, a partir de agora, poderá ser admirada por todos; a obra é portuguesa e, segundo os estudiosos, trata-se da maior atração do Museu de Arte Sacra. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Mas o museu não é feito só de imagens. Uma de suas salas é dedicada à prataria e às peças em ouro feitas com matéria prima extraída do próprio lugar.
O assessor de Museografia e Restauração do Prédio, museólogo Fernando Menezes de Moura, informa sobre a Sala de Prataria do museu:</span></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>
<span style="font-size: medium;"><i><i>“</i></i></span><span style="font-size: medium;"><i>Nesta sala reunimos o acervo, todo ele de prata e ouro. Temos aqui o melhor material recolhido nas igrejas de São João del-Rei.</i></span><span style="font-size: medium;"><i><i>”</i></i></span></blockquote></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Inúmeras outras preciosidades puderam abandonar o silencioso abrigo das igrejas, irmandades e mãos de zelosos guardiães da população. Pouco a pouco, elas iam chegando para serem catalogadas, restauradas e expostas.
O tesouro são-joanense, enfim, começava a vir à luz e o velho sonho virava realidade. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No dia seguinte, São João del-Rei voltava à calma de sempre. Nem parecia que na véspera tivesse tido tanto movimento por ali. Mas, mesmo com sua tranquilidade habitual, era possível notar alguma coisa muito importante no ar: a cidade estava mais feliz.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://youtu.be/WR0npsnHySw">https://youtu.be/WR0npsnHySw</a> 👈<br /></span></div><div style="text-align: left;"> </div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"><b>*</b> </span><span style="font-size: small;">Arquiteto e coordenador geral do Projeto: Restauração do Prédio do Museu de Arte Sacra de São João del-Rei</span><span style="font-size: small;"> pela Cia. Souza Cruz</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiqLZLgBJlGu_Y_eiVjMoNy6Kv63cLQ1OEA_m27NslgIAcr3fveLl3ZZKcafcOeEEV8v9DH9thd1ntAb11ujD8OcNxNYBS6shUARqleY3phtRK0_qQJ-29GNTjwEjODMx1VWlSOtEVTmPz70w1DfHPGNOcHTUkz6H1GU7IV6BPhawoPRluWI8Ko8qIRlk/s640/IMG_1770.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="546" data-original-width="640" height="341" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiqLZLgBJlGu_Y_eiVjMoNy6Kv63cLQ1OEA_m27NslgIAcr3fveLl3ZZKcafcOeEEV8v9DH9thd1ntAb11ujD8OcNxNYBS6shUARqleY3phtRK0_qQJ-29GNTjwEjODMx1VWlSOtEVTmPz70w1DfHPGNOcHTUkz6H1GU7IV6BPhawoPRluWI8Ko8qIRlk/w400-h341/IMG_1770.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Museu de Arte Sacra de São João del-Rei: inaugurado em 6 de julho de 1984 pelo Excelentíssimo Senhor Governador do Estado de Minas Gerais DOUTOR TANCREDO DE ALMEIDA NEVES na presença das autoridades: Dr. Gerardo Cid de Castro Valério-Prefeito Municipal de São João del-Rei; Deputado José Aparecido de Oliveira-Secretário da Cultura do Estado de Minas Gerais; Dom Antônio Carlos Mesquita-Bispo da Diocese de São João del-Rei e Representantes das Irmandades Religiosas, da Fundação Museu de Arte Sacra de São João del-Rei e da Subsecretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional de Minas Gerais. A Companhia Souza Cruz Ind. e Com., através de seu Presidente, sr. Kenneth Murray Sumner, faz doação deste prédio e de suas instalações à Fundação do Museu de Arte Sacra de São João del-Rei para contribuir na preservação do patrimônio artístico e histórico com que Minas Gerais engrandece a cultura do País. São João del-Rei, 6 de julho de 1984.<br /></b></span></td></tr></tbody></table><br /><span style="font-size: small;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyTuuGLUEr5EqjAW3jVHerGdGTVHJ86GDselWnb2GYVWmLm5PSqhSFen8B6gJGW09VTDC-cdrcBbqIcNSSw-CnfJRiaN7gomsd_VVgibvTkeykVYY7JEbemP_o4ePVEyt5UR5iY7jDvVd7cJgaGoG432zB4oV3eO4yzk8OH42R5KygIwfSERBz8axW5xw/s640/IMG_2881.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="431" data-original-width="640" height="270" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyTuuGLUEr5EqjAW3jVHerGdGTVHJ86GDselWnb2GYVWmLm5PSqhSFen8B6gJGW09VTDC-cdrcBbqIcNSSw-CnfJRiaN7gomsd_VVgibvTkeykVYY7JEbemP_o4ePVEyt5UR5iY7jDvVd7cJgaGoG432zB4oV3eO4yzk8OH42R5KygIwfSERBz8axW5xw/w400-h270/IMG_2881.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Em 29 de setembro de 1989, o arquiteto Alvino Costa e o diretor da Souza Cruz, sr. Kenneth L. Light, receberam na Câmara de Vereadores da cidade, o título de CIDADÃO SÃO-JOANENSE pela obra de criação e restauração do Museu de Arte Sacra. A solenidade foi pretigiada pela sra. Risoleta Neves, pelo Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva e pelas famílias dos homenageados.<br /></b></span></td></tr></tbody></table><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdASwXwRJG7OvhB-HbE1_A_8k7N7pZsC5Z63HtiqjcQWnybDabuB7XUjlsscxIH7orRpWSk0xTrFIP4qHylbVUZsLIvM0SB7nmjrSa6kZZLKA1bPQtwadLyQeC3iDfftRKfmzkQmisrQGb0bnnexhyphenhyphenShxqHZvSq-ZwpprUE2fmDqK6JdBYfONm_d4hYsw/s640/IMG_2882.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="438" data-original-width="640" height="274" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdASwXwRJG7OvhB-HbE1_A_8k7N7pZsC5Z63HtiqjcQWnybDabuB7XUjlsscxIH7orRpWSk0xTrFIP4qHylbVUZsLIvM0SB7nmjrSa6kZZLKA1bPQtwadLyQeC3iDfftRKfmzkQmisrQGb0bnnexhyphenhyphenShxqHZvSq-ZwpprUE2fmDqK6JdBYfONm_d4hYsw/w400-h274/IMG_2882.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Arquiteto Alvino Costa Filho e família, recebendo o prêmio do IAB-Instituto dos Arquitetos do Brasil pela obra de criação, restauração do MAS-Museu de Arte Sacra de São João del-Rei (dezembro de 1984)<br /></b></span></td></tr></tbody></table><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGAjuayIzrl3DFaa0glQpPDuj6k5uQKBxCoZSr4LkLDr7mi73sdeyR5evpG-cc2wSRy3h9TKWr4EEiLLZFnmlcdAsrX_EoSR-M4C-BWWwDOo5e2ku-GR_Ks7HV7-vOBvUKVbQXLT4zgbB-DBag-ahtj0mcArTxkMVQT6w23_M6tnoJTSa6yjfxCckjq9A/s640/IMG_2883.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="445" data-original-width="640" height="279" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGAjuayIzrl3DFaa0glQpPDuj6k5uQKBxCoZSr4LkLDr7mi73sdeyR5evpG-cc2wSRy3h9TKWr4EEiLLZFnmlcdAsrX_EoSR-M4C-BWWwDOo5e2ku-GR_Ks7HV7-vOBvUKVbQXLT4zgbB-DBag-ahtj0mcArTxkMVQT6w23_M6tnoJTSa6yjfxCckjq9A/w400-h279/IMG_2883.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Professor e museólogo Fernando Moura, autor da Museografia e lay-out do Museu de Arte Sacra de São João del-Rei (dezembro de 1984)</b></span><br /></td></tr></tbody></table><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVIDUH6yRTpWV6zFNx36NyQac9GqZtz41Y7HhdKxRx1ZJTLcxsX8UjNwjCASisydfgff5ZTlbzTW1wGvhNvIQWTkoIpN64zT6y15GnoSZgQf9dVVSUfzj_sjpge7F8AFuOAfHhovi3Ptxe5iW942zqpkn4U6Wt15KELvX2e4ZyEfaVcWC3lCx8IY-SNOA/s640/IMG_2884.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="425" data-original-width="640" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVIDUH6yRTpWV6zFNx36NyQac9GqZtz41Y7HhdKxRx1ZJTLcxsX8UjNwjCASisydfgff5ZTlbzTW1wGvhNvIQWTkoIpN64zT6y15GnoSZgQf9dVVSUfzj_sjpge7F8AFuOAfHhovi3Ptxe5iW942zqpkn4U6Wt15KELvX2e4ZyEfaVcWC3lCx8IY-SNOA/w400-h266/IMG_2884.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>Dom Lucas Moreira Neves, arcebispo primaz do Brasil, recebendo a visita do arquiteto Alvino Costa, autor do projeto de criação e restauração do Museu de Arte Sacra de São João del-Rei, cidade natal do primeiro. (1984-1985)<br /></b></span></td></tr></tbody></table><br /><span style="font-size: small;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b></b></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAsd9JkpnyraDeUSNJ8U6ZkotzZg2myLcz1hEEPJTPxbaF2rdY9jT28zWp8CNce9Jw_Mlop2mvH2uBEu3bXzJ97MNNFJ_Xn2w0Lzq_yqRr57jChpbV5rUeeXQmWrhzMQDWMdzRqNcL1P5h5UprDB0aG5A2vkgoTBEwf_tT_QLOdyHnShlSPc5Q1ILanhU/s357/barra.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="25" data-original-width="357" height="22" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAsd9JkpnyraDeUSNJ8U6ZkotzZg2myLcz1hEEPJTPxbaF2rdY9jT28zWp8CNce9Jw_Mlop2mvH2uBEu3bXzJ97MNNFJ_Xn2w0Lzq_yqRr57jChpbV5rUeeXQmWrhzMQDWMdzRqNcL1P5h5UprDB0aG5A2vkgoTBEwf_tT_QLOdyHnShlSPc5Q1ILanhU/s320/barra.gif" width="320" /></a></b></span></div><span style="font-size: medium;"><b><br /> </b></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Correspondência expedida pela Fundação Museu de Arte Sacra de São João del-Rei em seu papel timbrado: </span></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">OF. Nº 056/84 </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">São João del-Rei, 27 de dezembro de 1984. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Ao </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Exmo. Sr. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">KENNETH MURRAY SUMNER </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Presidente da Cia. Souza Cruz Ind. e Com. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Rua Candelária, 66-Centro </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">CEP: 20.092 </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Prezado Senhor, </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Respeitosas Saudações. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Foi com enomrme satisfação que recebemos a notícia da Premiação obtida no Instituto dos Arquitetos do Brasil com a apresentação do Projeto de implantação e organização do Museu de Arte Sacra de São João del-Rei. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Acredite que este é motivo de muito orgulho e vaidade para todos os que pertencem à Fundação Museu de Arte Sacra de São João del-Rei e também para toda a comunidade sanjoanense. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O feliz acontecimento já se encontra comunicado a todos os meios de comunicação (jornais e rádios locais) para em breve ser noticiado em nossa cidade de São João del-Rei.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Despedimo-nos parabenizando toda a Equipe da Cia. Souza Cruz Ind. e Com., e em especial ao arquiteto ALVINO COSTA FILHO pelo excelente trabalho realizado. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Com nossos protestos de alta estima e apreço. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Atenciosamente,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Assinam pela Fundação Museu de Arte Sacra de São João del-Rei os seguintes membros do seu Conselho: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Dom Antônio Carlos de Mesquita </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Dr. Gerardo Cid de Castro Valério </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Dr. Euclides Garcia de Lima </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Prof. Fábio Nelson Guimarães </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Sr. Júlio Teixeira </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Sr. Luís de Melo Alvarenga</span></div></div><span style="font-size: medium;"><b></b></span><p><span style="font-size: large;"><b> </b></span></p><p><span style="font-size: large;"><b>II. AGRADECIMENTO</b></span> <br /></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span><span>O gerente do Blog de São João del-Rei agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos pertencentes ao acervo particular do arquiteto Alvino Costa Filho, cedidas por sr. Edson Assis Coelho, utilizadas neste trabalho.</span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span><span><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"> </div></span></span></span></div><span style="font-size: large;"><b>III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</b></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>BARRETO</b>, Reinaldo Paes: <b><i>Ah! doutor Tancredo: que saudade!</i></b>, <i>in</i> </span><span style="font-size: medium;"><b>JORNAL DO</b><i><b> </b></i><b>BRASIL</b>, edição de 4/3/2010, na coluna Sociedade Aberta, postado no Blog de São João del-Rei em 27/09/2023.<br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2023/09/ah-doutor-tancredo-que-saudade.html">https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2023/09/ah-doutor-tancredo-que-saudade.html</a> </span><span style="font-size: medium;">👈</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>IRMANDADES, CONFRARIAS, ARQUICONFRARIAS E ORDENS TERCEIRAS</b>:<b> </b>documentário sobre o MAS-Museu de Arte Sacra de São João del-Rei (</span><span style="font-size: medium;">a partir de 39:17 do vídeo)</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i>: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=mifUq7gauxM">https://www.youtube.com/watch?v=mifUq7gauxM</a> 👈 </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>UM MUSEU PARA EL REY</b>: vídeo-memória, propriedade de Alvino Costa Filho, transcrito no presente <i>post</i> pelo gerente do Blog de São João del-Rei.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>Link</i> do vídeo-memória: <a href="https://youtu.be/WR0npsnHySw">https://youtu.be/WR0npsnHySw</a> 👈</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com22tag:blogger.com,1999:blog-5090529315227560077.post-25303665359083375142023-12-24T19:13:00.002-03:002023-12-25T17:13:44.932-03:00CORDEL DO NATAL<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b>Por Francisco GUSTAVO de Castro DOURADO</b> </span></div><p>
</p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoQjwb4_NsPj3D91DDI-Davz_IqUGNr-vj0jq7ba_BE6hfXlacyh56MOwSLBNor76KuX-upHEPBEKJ6EJkXN9jZjO6zriJEUsbj5kbxyJ21baL8PM0jS6Ia5wvd2isxWJkMrMn7xWk5ZDbv4FF_LRjbvLRlj4z60E4uo3iAuRbGuT7G1rJxkIQzJ3JlYU/s270/th-1.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="180" data-original-width="270" height="267" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoQjwb4_NsPj3D91DDI-Davz_IqUGNr-vj0jq7ba_BE6hfXlacyh56MOwSLBNor76KuX-upHEPBEKJ6EJkXN9jZjO6zriJEUsbj5kbxyJ21baL8PM0jS6Ia5wvd2isxWJkMrMn7xWk5ZDbv4FF_LRjbvLRlj4z60E4uo3iAuRbGuT7G1rJxkIQzJ3JlYU/w400-h267/th-1.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b>O menino-Deus na manjedoura<br /></b></span></td></tr></tbody></table><br /><div style="text-align: center;">
Que significa o Natal?!: </div><div style="text-align: center;">Solstício:Inverno/Verão </div><div style="text-align: center;">É uma festa litúrgica </div><div style="text-align: center;">Crística celebração </div><div style="text-align: center;">Luzes da cosmogonia </div><div style="text-align: center;">Na cidade e no sertão </div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: center;">O Natal é festa antiga </div><div style="text-align: center;">Tanto quanto o Carnaval </div><div style="text-align: center;">Na velha Mesopotâmia </div><div style="text-align: center;">Celebração cultural </div><div style="text-align: center;">Nos idos da Babilônia </div><div style="text-align: center;">Foi Zagmuk festival </div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: center;">Confraternizar a paz </div><div style="text-align: center;">Prazer e gastronomia </div><div style="text-align: center;">Baco-Dioniso, festa </div><div style="text-align: center;">Cristaluzes da alquimia </div><div style="text-align: center;">Pão e vinho consagrados </div><div style="text-align: center;">À divina eucaristia </div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: center;">Em família, paz e amor </div><div style="text-align: center;">Na cultura ocidental </div><div style="text-align: center;">É Zeus a lutar com Cronos </div><div style="text-align: center;">Vasto Olimpo sideral </div><div style="text-align: center;">Em Roma a Saturnália </div><div style="text-align: center;">Nas raízes do Natal </div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: center;">Jantares, festas nas ruas </div><div style="text-align: center;">Com velas e ornamento </div><div style="text-align: center;"><i>Sol invictus</i> brilhante </div><div style="text-align: center;">Dá-se o grande nascimento </div><div style="text-align: center;">Com alegria e presentes </div><div style="text-align: center;">Grandioso movimento </div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: center;">Tinha jejum, comunhão </div><div style="text-align: center;">Um bom lanche era servido </div><div style="text-align: center;">Com o tempo evoluiu </div><div style="text-align: center;">Novo rito definido </div><div style="text-align: center;">Frutas, bolo, panetone </div><div style="text-align: center;">Bem assado, bom cozido </div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: center;">São Francisco fez presépio </div><div style="text-align: center;">Lutero a árvore enfeitou </div><div style="text-align: center;">Atos de ecumenismo </div><div style="text-align: center;">O costume prosperou </div><div style="text-align: center;">As meias e sapatinhos </div><div style="text-align: center;">Na chaminé nos chegou </div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: center;">Em 1881 </div><div style="text-align: center;">Publicidade total </div><div style="text-align: center;">A Coca-Cola inventou </div><div style="text-align: center;">Papai Noel atual </div><div style="text-align: center;">E São Nicolau tornou-se </div><div style="text-align: center;">Um mito comercial </div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: center;">Jesus foi incorporado </div><div style="text-align: center;">Pelo Império Romano </div><div style="text-align: center;">Fizeram adaptação </div><div style="text-align: center;">Foi de Cristo, sol arcano </div><div style="text-align: center;">Alfa e Ômega que brilha </div><div style="text-align: center;">Multiverso soberano </div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: center;">Só depois veio o peru </div><div style="text-align: center;">Um hábito americano </div><div style="text-align: center;">Bacalhau e rabanada </div><div style="text-align: center;">Um costume lusitano </div><div style="text-align: center;">Biscoitos deliciosos </div><div style="text-align: center;">Desde o tempo romano </div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: center;">Uvas, vinhos e champanhe </div><div style="text-align: center;">Pinheiro, Árvore de Natal </div><div style="text-align: center;">Enfeites e ornamentos </div><div style="text-align: center;">Rito tradicional </div><div style="text-align: center;">Menino Jesus em cena </div><div style="text-align: center;">Missa do Galo ao final </div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: center;">Pra miséria sublimar </div><div style="text-align: center;">Consumálias e fartura </div><div style="text-align: center;">Ultrapassemos a cri$e </div><div style="text-align: center;">Divida-se a rapadura </div><div style="text-align: center;">Endurecer se preciso </div><div style="text-align: center;">Mas sem perder a ternura </div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: center;">Pra você tudo de bom </div><div style="text-align: center;">Saúde… Fraternidade </div><div style="text-align: center;">Um Natal de equilíbrio </div><div style="text-align: center;">Luz… Solidariedade </div><div style="text-align: center;">Paz… Amor e Alegria </div><div style="text-align: center;">Sucesso e Felicidade </div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: center;">Um Natal de paz e amor </div><div style="text-align: center;">Sua estrela vai brilhar </div><div style="text-align: center;">Que tudo se concretize </div><div style="text-align: center;">Possa a vitória alcançar </div><div style="text-align: center;">Realize os seus desejos </div><div style="text-align: center;">E conjugue o verbo amar</div>Francisco José dos Santos Bragahttp://www.blogger.com/profile/06714864584918763923noreply@blogger.com7