Oradora: Acadêmica Elizabeth Santos Cupello
Presidente da AVL
Valença RJ, 05 de maio de 2012
Ilmo. Sr. Rubens Mancebo, Chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal de Valença, neste ato representando o Exmo. Sr. Vicente de Paula de Souza Guedes, DD Prefeito Municipal
Exmo. Sr. Vereador Salvador de Souza, representante da Câmara Municipal de Valença.
Ilmo. Major Sandro Silva Ruiz, DD Cmte. do 1º Esquadrão de Cavalaria Leve - Esquadrão Ten Amaro
Demais autoridades presentes, Senhoras e Senhores.
Este é um momento muito especial, não só para a nossa Academia, mas para a cidade de Valença, quando comemoramos o término da 1ª fase das obras de recuperação deste prédio, sede da Academia Valenciana de Letras, concretizando um antigo sonho pelo qual, pessoalmente, venho perseguindo há mais de 20 anos.
Fez-se necessário, no passado, a recuperação física do prédio da antiga Caixa D’Água para a restituição da memória histórica nele encerrada. Nós cidadãos contemporâneos desta cidade de Valença somos responsáveis pelo resgate e guarda de nosso patrimônio municipal. Se cada Município cuidar de sua história, reabilitaremos a história de nosso País. Aí está a importância fundamental dos Municípios em sua função socioeconômica e cultural. Eles são a engrenagem-base que faz funcionar o motor principal que é a Nação.
Quando da inauguração deste prédio, em 02 de julho de 1999, ao término de sua reconstrução, tive oportunidade de dizer algumas palavras sobre a importância deste espaço, então acrescido de um anexo.
Nesse sentido foi com espírito voltado para o cuidado com o Patrimônio que, à época, o Instituto Cultural Visconde do Rio Preto já havia proporcionado à cidade de Valença, anos antes, a implantação de um Museu de Arte Sacra e Popular, o Museu da Catedral de Nossa Senhora da Glória. Naquela ocasião nosso Instituto ofereceu ao Poder Executivo mais uma contribuição cultural, através de uma Exposição de Motivos de minha autoria, visando a recuperação e acréscimo deste imóvel e da Cessão do Projeto Arquitetônico de autoria do Arquiteto Mario Pellegrini Cupello – Presidente daquele Instituto Cultural – para a restauração e adaptação do prédio da antiga Caixa D’Água de Valença, e seu acréscimo hoje existente, dotando o imóvel original de um salão e suas dependências.
Quanto à importância histórica deste prédio, que serviu no início do século passado como caixa d’água, podemos dizer, resumidamente, que o primitivo abastecimento de água para Valença, começou com uma pequena rede de distribuição urbana, que servia a um reduzido número de residências e às torneiras públicas, através dos frades de pedra, semelhante àquele exemplar de corpo metálico existente na fachada deste prédio
Segundo o escritor José Leoni Iório, “o benemérito Visconde do Rio Preto, às suas próprias custas, conseguiu captar o manancial das Laranjeiras, e como a cidade não possuísse, à época, uma rede de encanamentos, doou à municipalidade em 1863, canos e torneiras, ficando apenas com direito a uma pena d’água gratuita para o seu palacete, na praça que hoje lhe tem o nome.”
Tem-se notícia, que alguns poucos reservatórios, como caixas d’água, foram providenciados na cidade, e que o primeiro reservatório foi construído em 1864. Um outro situava-se atrás do prédio da Câmara Municipal em 1879.
Quanto a este reservatório, neste prédio em que estamos na esquina das Ruas Domingos Mariano com Ernesto Cunha, construído ao final do século retrasado e início do século passado, possuía uma capacidade inicial de 77.481 litros de água, a uma altitude de 560 m.
Com o aumento da população – em torno de 5.000 pessoas – e de novas construções que surgiram à época, outras medidas foram tomadas para o abastecimento de água para a cidade, através de novas linhas adutoras. O abastecimento feito por esta caixa d’água, com o auxílio do manancial das Laranjeiras, ficou, mais tarde, para uso exclusivo das oficinas da Estrada de Ferro Central do Brasil, como reforço, já que consumiam por volta de 200.000 litros de água. Para tanto, a Central do Brasil cedeu à Câmara Municipal, por volta de 1914, três mil e quinhentos metros de canos de ferro, sob a condição de um primeiro fornecimento gratuito de 60.000 litros e que mais tarde passaram a 100.000 litros diários.
Não iremos discorrer aqui sobre o abastecimento de água da cidade, mas gostaríamos de lembrar que a primeira Comissão de Saneamento de Valença foi constituída, entre outras personalidades, pelo Dr. Ernesto Frederico da Cunha, à época Presidente da Câmara Municipal de Valença.
Segundo o saudoso historiador mineiro Sebastião de Oliveira Cintra, o Dr. Ernesto Cunha, que dá nome à Rua onde se encontra o acesso à Academia Valenciana de Letras, “(...) nasceu em São João del-Rei em 1843. Formou-se em medicina no Rio de Janeiro e trabalhou como cirurgião na Guerra do Paraguai. Foi Diretor do Serviço Médico e Cirurgião da Santa Casa da Misericórdia de Valença, exercendo a Vereança e a Presidência da Câmara Municipal. Dirigiu por quatro anos a Cia. Estrada de Ferro União Valenciana. O irmão do Dr. Ernesto Cunha, o Advogado Francisco Augusto da Cunha, exerceu a Advocacia em Valença e uma de suas filhas casou-se com o viúvo, Alferes Pedro Custódio Guimarães, pai do Visconde do Rio Preto”.
Outro fato relevante para a história da cidade, é que outra sobrinha do Dr. Ernesto Cunha, de nome D. Balbina da Cunha Mourão, de São João del-Rei casou-se em 1901 com o industrial, Comendador José de Siqueira Silva da Fonseca, um dos impulsionadores da era industrial valenciana e Patrono da AVL.
Prezados Senhores, através desta ligeira volta ao passado, quisemos dizer da importância de cada fato ou acontecimento, das próprias construções históricas e, da lembrança das pessoas que passaram ou viveram na cidade e que, antes de nós, com dificuldades de toda ordem, conseguiram oferecer-nos um lugar melhor para viver e, por isso mesmo, não podem ser esquecidas, restando-lhes apenas um nome em placa de rua. A elas sempre seremos gratos, como foi o caso do Dr. Ernesto Cunha, que além de sua profissão de médico da Santa Casa, atuou na política de Valença, e fez parte de um grupo responsável pelo saneamento da cidade, assegurando, naquela época, uma melhor qualidade de vida para a população do nosso Município.
A preservação da rica memória histórica de nossa cidade, sempre esteve presente em minhas preocupações. Tanto assim que em relação a este prédio, a partir da década de 1980, protocolei na Prefeitura Municipal inúmeras Exposições de Motivos para a sua recuperação, apelando, para tanto, aos Chefes do Executivo valenciano, em várias gestões que se sucederam. Somente mais tarde, quando este antigo prédio já se encontrava em total estado de ruína, com o telhado desmoronado e as paredes desalinhadas, finalmente foi recuperado.
Por essa razão, da mesma forma como somos gratos àqueles que no passado contribuíram para o progresso de Valença, também agora, nos tempos atuais, outras personalidades merecem os nossos agradecimentos.
Refiro-me, inicialmente, a três Chefes do Executivo valenciano, começando pelo saudoso Prefeito Sr. Fernando Pereira Graça que, através da sensibilidade que o caracterizava, especialmente para os aspectos sócioculturais, reconstruiu este prédio, utilizando-se da planta de arquitetura já mencionada, inaugurando-o no ano de 1999, o que proporcionou ao povo valenciano a satisfação de ver recuperado este imóvel que faz parte da história de Valença.
Cabe também, por dever de justiça, um agradecimento ao Exmo. Sr. Vereador, Luiz Fernando Furtado da Graça que, à época Prefeito Interino de Valença, sancionou em 23 de dezembro de 2010, o Ato Legislativo que concedeu à nossa Academia, uma “Cessão de Direito Real de Uso“, através da Lei 2556 de 20/12/2010 originária da Egrégia Câmara Municipal de Valença. Ao atual Vereador, Exmo. Sr. Luiz Fernando Furtado da Graça e à Colenda Câmara Municipal de Valença, todos nós, Membros da Academia Valenciana de Letras, sempre seremos gratos.
Destaque-se, ainda, um agradecimento especial ao Exmo. Sr. Vicente de Paula de Souza Guedes, nosso atual Prefeito Municipal. O Sr. Vicente, que desde à época de sua campanha eleitoral, quando com ele estivemos na Rádio Alternativa Sul, acenou-nos com a possibilidade, caso fosse eleito, de que a Academia Valenciana de Letras poderia se instalar neste prédio, dependendo apenas de procedimentos legais.
Uma vez eleito, e mais tarde interrompido na fluência de sua gestão, e após algum tempo, retornando às suas atividades frente ao executivo valenciano, quando a Academia já possuía uma “Cessão de Direito Real de Uso” deste imóvel, o Sr. Vicente Guedes encaminhou à Câmara Municipal um Projeto de Lei para a Doação deste imóvel à Academia Valenciana de Letras, sob a forma de uma Doação Condicionada. Graças à sensibilidade dos Exmos. Srs. Vereadores, a Egrégia Câmara acolheu o pedido e aprovou a Lei nº 2654 em 07 de dezembro de 2011 que, homologada pelo Exmo. Prefeito Sr. Vicente Guedes foi publicada no Boletim Oficial da Prefeitura em 22 de dezembro de 2011.
Por essa Lei, para felicidade de todos os Acadêmicos, enquanto existir a Academia Valenciana de Letras, este imóvel a ela pertence oficialmente, para que os projetos culturais de nossa instituição sejam aqui desenvolvidos.
Independente de política partidária, nos anais de nossa Academia estes três nomes se imortalizam em nossos agradecimentos e em nossos registros históricos, pela ordem de ação: Sr. Fernando Pereira Graça; Sr. Luiz Fernando Furtado da Graça e o Sr. Vicente de Paula de Souza Guedes.
Estão também em nossos registros históricos e em nossos agradecimentos, pela constante atenção para com a nossa Academia, o atual Presidente da Câmara, Exmo. Sr. Paulo Jorge Cesar e os Exmos. Srs. Vereadores que a compõem.
Cabe ainda dizer que nestes últimos procedimentos administrativos junto à Prefeitura e à Câmara Municipal, merece também os nossos agradecimentos o Sr. Rubens Mancebo, até então Chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal, que autorizado pelo Senhor Prefeito deu um importante apoio à Academia, acompanhando de perto as tramitações legais que permitiram que hoje estivéssemos neste prédio definitivamente.
Senhoras e Senhores, não pretendo alongar-me neste pronunciamento. Achei necessário fazê-lo como um registro histórico em exaltação ao mérito das personalidades que contribuíram para que este prédio hoje tivesse a nobre destinação de ser ocupado por uma Academia de Letras como a nossa, uma instituição com 63 anos de existência com relevantes serviços prestados à cidade de Valença.
Ao encerrar, há um simbolismo ao qual desejo me referir. Como sabem, à frente deste prédio há uma antiga torneira em uma peça metálica, que por muitos anos saciou a sede da população. Decorrido um século de sua existência, quando dela não jorra mais água, simbolicamente podemos dizer que este reservatório que no passado saciou a sede da população, poderá agora, com a participação dos intelectuais valencianos e o apoio dos poderes públicos, ser um manancial de cultura para o orgulho e a simpatia de nossa gente, através da Academia Valenciana de Letras.
