quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

MENSAGEM DO LUDOVICUS - INSTITUTO CÂMARA CASCUDO

Por Daliana Cascudo Roberti Leite, neta do grande gênio brasileiro, Luís da Câmara Cascudo

 
“Queria saber a história de todas as cousas do campo e da cidade. Convivência dos humildes, sábios, analfabetos, sabedores dos segredos do Mar das Estrelas, dos morros silenciosos. Assombrações. Mistérios. Jamais abandonei o caminho que leva ao encantamento do passado. Pesquisas. Indagações. Confidências que hoje não têm preço.”                                                                                                     Câmara Cascudo, em entrevista ao jornal "A Província". 

 

Historiador, etnógrafo, o maior cientista do folclore do mundo, o maior conhecedor dos folclores de todas as nações, sociólogo, antropólogo, escritor (ensaísta e cronista), crítico literário, tradutor, poeta, professor universitário. 

30 de dezembro: data de nascimento de nosso maior etnógrafo e folclorista

 

No dia 30 de dezembro de 1898, há 122 anos, na Rua das Virgens, bairro da Ribeira, em Natal, nascia LUÍS DA CÂMARA CASCUDO. Segundo ele, era pois um "canguleiro". Foi batizado pelo santo padre João Maria e, em sua adolescência, era chamado de "Príncipe do Tirol". Em jornais potiguares, começou a escrever em 1918 e, no ano de 1921, publicou o seu primeiro livro, Alma Patrícia. Após dez anos de pesquisa solitária e dedicação constante, em 1954, lançou a monumental obra Dicionário do folclore brasileiro, firmando-se como um dos mais importantes folcloristas do Brasil. Foi professor durante toda a sua vida, título do qual tinha mais orgulho. Para nós, que fazemos o Ludovicus - Instituto Câmara Cascudo, ele representa não apenas a razão da nossa existência institucional, mas o motivo maior de nossa missão, que é perpetuar o seu legado e difundir a sua obra. Hoje, um dia muito especial para nós, comemoramos o seu aniversário e saudamos uma vida inteira dedicada ao estudo, à pesquisa e à valorização da Cultura Brasileira. Feliz Aniversário! Viva Cascudo!!! 

Para JORGE AMADO: “Tão jovem aos setenta anos, Mestre Luís da Câmara Cascudo cada dia redescobre o Brasil num dito popular, numa lenda, na realidade de um instante mágico, na mesa do almoço ante um prato de nossa culinária, na face do homem e na medida de uma existência vivida toda ela em função da cultura, da cultura brasileira. Eis um mestre de Brasil, Cascudo”. “Câmara Cascudo é o brasileiro mais importante do século XX”. 

Para CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: “o mais sábio dos brasileiros, o mais erudito dos intelectuais do Brasil”. 

Para a MÍDIA: “o homem que descobriu o Brasil”. 

CÂMARA CASCUDO sobre ele mesmo: “Eu sou apenas um professor de província”. 

Para CÂMARA CASCUDO: “o melhor do Brasil é o brasileiro”. 

Para MARCELO CÂMARA, seu discípulo: “ele foi o gênio da nossa família, o mais brilhante e produtivo intelectual - cientista e artista do País no século XX, verdadeiro intérprete do Brasil e do seu povo”. 

Deixou quase duas centenas de livros publicados e um legado de ciência e sabedoria, plural e supremo para os brasileiros. 

É, entre os intelectuais, o brasileiro mais laureado e homenageado no País e no exterior, por Universidades, Instituições Culturais e Estados de todo o mundo.

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

UMA COMOVENTE HISTÓRIA


Por AVELINA NORONHA

 

Estamos ouvindo as músicas e vendo as luzes natalinas. Há muitas histórias sobre a noite em que nasceu o Deus Menino. Uma delas, verídica, ocupa um lugar especial entre as que conheço. 

Aconteceu numa noite fria de 24 de dezembro de 1914, durante a Primeira Guerra Mundial, quando as batalhas em solo da França e da Bélgica eram sangrentas e cruéis. Soldados alemães e ingleses, afundados na lama de suas respectivas trincheiras, que se confrontavam numa linha paralela, estavam em alerta pela ameaça de ataques inimigos. Entre eles, um espaço de umas dezenas de metros, a “terra de ninguém”, com suas cercas de arame farpado e o solo coberto por mortos dos dois exércitos. 

De repente, os britânicos começaram a ver luzes tremeluzindo na trincheira alemã. Assustados de início, temendo alguma cilada, descobriram serem árvores de Natal iluminadas. Em seguida, ouviram músicas natalinas cantadas pelos soldados inimigos em alemão. E o que fizeram? Cantaram também: “Silent Night”... Passaram a aplaudir-se. Um alemão que sabia falar inglês gritou: “A Happy Christmas to you, Englishmen!” (Um Feliz Natal para vocês, ingleses!). Os ingleses cortesmente retribuíram. Um alemão, desassombradamente, correu pela “terra de ninguém” em direção à trincheira inglesa. Um inglês atravessou a cerca de arame e foi ao encontro dele. Outros os seguiram e, dentro em pouco, naquele espaço perigoso, abraçavam-se os inimigos, trocando entre si presentes como bebidas, cigarros, jornais, doces, até bolos que haviam recebido de casa. 

 

Trégua de Natal de 1914 durante a I Grande Guerra

 

O estrondear da artilharia cessou, os canhões ficaram silentes. Começou, assim, a trégua de Natal. Juntos os soldados, até pouco antes tentando se matar uns aos outros, fizeram uma fogueira iluminando a noite escura e, reunidos em volta dela, se confraternizaram durante toda a noite. De manhã, um inglês sugeriu enterrarem os mortos de ambos os lados que estavam na “terra de ninguém”. Os alemães concordaram e, depois de rezarem juntos o Salmo 23, “O Senhor é meu Pastor e nada me faltará...”, alemães e ingleses enterraram seus companheiros no meio daquele espaço, em uma só e grande cova. 

A confraternização continuou. Achando uma bola na trincheira, realizaram bela partida de futebol, que só terminou quando a bola bateu na cerca e foi furada pelo arame. 

Naquela mágica noite, em vários outros locais do campo de batalha, aconteceram cenas semelhantes. Uma delas, envolvendo de um lado alemães e do outro franceses e seus aliados escoceses, inspirou o aplaudido filme “Feliz Natal”, de Christian Carion. Infelizmente, passada a trégua abençoada, a guerra continuou, mas aqueles momentos ficaram como mensagem de que, se houver boa vontade, a Paz pode acontecer. 

Aos leitores, na língua de Virgílio, um “Feliz Natal e Próspero Ano Novo”:  

Natale hilare et Annum Faustum!

Foto da conjunção de Júpiter e Saturno em 21/12/2020 - Crédito: Avelina Noronha




Colaboradora: AVELINA Maria NORONHA de Almeida

Por Francisco José dos Santos Braga
 
 
AVELINA Maria NORONHA de Almeida nasceu a 13 de novembro de 1934, em Conselheiro Lafaiete, Estado de Minas Gerais, filha de Jair Noronha e de Maria Augusta Noronha. 

Fez o Curso de Formação de Professores no Colégio “Nossa Senhora de Nazaré”, de Conselheiro Lafaiete [1952], e Exames de Suficiente na Faculdade Santa Maria, da Universidade Católica de Minas Gerais [1968]. 

Membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais – AMULMIG, na qual representa o Município de Conselheiro Lafaiete; da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette – ACLCL, da qual é Presidente Emérita; da União Brasileira de Trovadores, seção de Conselheiro Lafaiete; da Associação Lafaietense dos Amigos da Cultura e de academias culturais de vários estados. Associou-se ao Colégio Brasileiro de Genealogia em 15.07.2010. 

Entre outras homenagens recebeu, em 1991, a Medalha “Santos Dumont” (grau Prata) conferida pelo Governo do Estado de Minas Gerais, por indicação da Academia de Letras de Minas Gerais, por méritos culturais; em 1993, o Diploma de Honra ao Mérito Cultural pelos Relevantes Serviços Prestados à Comunidade, conferido pelo Município de Conselheiro Lafaiete, nos termos do Decreto Legislativo n.º 19/92; em 1996, a Medalha de Mérito “João de La Salle”, conferida pela Municipalidade de Conselheiro Lafaiete; em 2003, o título de “Grande Mérito Comunitário” pelos relevantes serviços prestados a Conselheiro Lafaiete, concedido pela Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e de Serviços de Conselheiro Lafaiete – ACIAS. 

Tem publicações em antologias, revistas e jornais. Organizou a antologia “Poetas Queluzianos e Lafaietenses” (1991) e a Agenda Santo Antônio de Queluz (1992). Publicou o livro “Garimpando no Arquivo Jair Noronha” (2013). Tem o poema “Conselheiro Lafaiete” colocado à página 320 do livro de Genealogia “Barão de Santa Cecília”, de Cássio Rodrigues Pereira, edição 2008, 1º volume, Editora Eletrônica e Multimídia. 

Escreveu prefácios para livros e hinos para escolas e instituições. É colaboradora dos jornais lafaietenses “Correio de Minas”, com a coluna “Garimpando no Arquivo e Centro de Pesquisas Jair Noronha” (desde 2006) e “Correio da Cidade, a partir de setembro de 2009, com artigos culturais. 

Tem várias premiações, entre elas: 1º lugar no concurso de poesias sobre o tema “Mãe Terra”, promovido pela Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais e Instituto Newton Paiva, em 1983, com o soneto “Mãe Terra”. Entre outras premiações no “Concurso Literário Internacional Prêmio Cidade de Conselheiro Lafaiete”, obteve o primeiro lugar com as seguintes obras: soneto “Amor Constante”, 1996; romance “Na Terra dos Carijós”, 2000; conto “E ela falou…”, 2005; poema “A Estrada Real”, 2005; poema “Memorial Lírico da Igreja de Santo Antônio” (prêmio especial sobre Conselheiro Lafaiete), 2005; conto “Começou em Queluz”, (prêmio especial sobre Conselheiro Lafaiete), 2006; romance “Missão Perigosa”, 2007; soneto “Paradoxo”, 2011. Menção Honrosa em romance (Prêmio Jorge Amado) no Concurso Literário Nacional da União Brasileira de Escritores (UBE), 2009. 

Teve sua sugestão vencedora do concurso para o dístico da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette, o qual está contido no emblema e em todos os outros símbolos da ACLCL, inclusive na bandeira, com a frase “Labore scriptisque ad immortalitatem” (Pelo trabalho e pela escrita à imortalidade), 2002. 

Atualmente tem se dedicado a pesquisas históricas e genealógicas.

Fonte: Colégio Brasileiro de Genealogia-CBG

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

ROMANCE DO CAPITÃO MANOEL QUIRINO DE MATOS


Por Gustavo Dourado *

 

Manoel Quirino de Matos (✰ Arraial de 
Milagres, 04/06/1885 - ✞ Jacobina, 21/12/1955)


Uma história vou contar 
Desejo a sua atenção 
Peço ao céu sabedoria 
E uma boa inspiração 
Relato Manoel Quirino 
Um guerreiro do sertão 
 
No Arraial de Milagres 
Dizem que ele nasceu 
Perto da Chapada Velha 
Manoel Quirino viveu 
Nas quebradas do sertão 
Assim que o fato se deu 
 
Manoel Quirino de Matos 
Foi um famoso capitão 
É de Barra do Mendes 
A boa terra do sertão 
Chapada Diamantina 
No espaço setentrião 
 
Canuto Pereira de Matos 
Foi seu pai do coração 
Josefa Madalena a mãe 
Lhe deu boa educação 
Terra de Barra do Mendes 
Do comandante Militão 
 
Manoel Quirino gostava 
Da sombra do arvoredo 
Na Fazenda Pedra Lisa 
Pertencente a Rochedo 
Hoje é a nossa Ibititá 
Terra de gente sem medo 
 
Manoel Quirino de Matos 
Comerciante fazendeiro 
Homem forte no garimpo 
Seu nome sempre luzeiro 
Foi temido e respeitado 
De Irecê ao Juazeiro 
 
No tempo dos revoltosos 
Coluna Prestes no sertão 
Pelo Estado da Bahia 
Foi grande a comoção 
Os coronéis no comando 
No combate a Lampião 
 
Era o vinte e seis (1926) 
Revoltosos na Bahia 
Prestes e Miguel Costa 
A Coluna em demasia 
Atacaram Pedra Lisa 
Foi uma grande tirania 
 
A Fazenda Pedra Lisa 
Era do capitão Manoel 
Quirino, homem valente 
Fez muito bem seu papel 
Expulsou os revoltosos 
Deu-lhes bala, sangue, fel 
 
A sanha dos revoltosos 
Foi um ato de rebeldia 
Atacaram o comércio 
Fazendas à luz do dia 
Pintaram o sete e o oito 
Nos caatingais da Bahia
 
Manoel Quirino com fibra 
À Coluna bem combateu 
Com Horácio de Matos 
Manoel nunca arrefeceu 
Do Rochedo ao Recife 
Grande peleja aconteceu 
 
Nos cafundós do sertão 
Teve uma luta aguerrida 
Em diversos povoados 
Em batalha bem renhida 
Manoel Quirino valente 
Com sua verve atrevida 
 
Lutaram nas Caraíbas 
Em quase todo o sertão 
Em Recife dos Cardosos 
No Aleixo e no Canoão 
Pelejaram em Ibipeba 
No Uibaí e no Lajedão 
 
Na Lagoa do Mondubim 
O Capitão se refugiou 
No encalço da Coluna 
Escondeu-se e lá ficou 
Respirou por um canudo 
Mas no fim ele escapou 
 
Manoel Quirino atirava 
Nos ritmos de Lampião 
Cada tiro que ele dava 
Era um soldado no chão 
Na Lagoa da Canabrava 
Foi grande a confusão 
 
Pelo Nordeste inteiro 
Foi grande a engrisia 
Os sertanejos unidos 
Lutaram com valentia 
Perseguiram a Coluna 
De Pernambuco à Bahia 
 
Por todo o nosso sertão 
Houve luta encarniçada 
Os Batalhões Patrióticos 
Fizeram grande jornada 
Manoel Quirino lutava 
Dia, noite e madrugada 
 
Desertores da Coluna 
Do Exército Brasileiro 
Desejavam a mudança 
Mas faltou o timoneiro 
Atacaram os sertanejos 
Em seu brilho altaneiro 
 
O sertanejo aguerrido 
É um valente cidadão 
Manoel Quirino o guia 
Foi gigante em sua ação 
Deu combate à tirania 
Que invadiu nosso sertão 
 
Manoel não desejava 
Aos revoltosos combater 
Pilharam sua fazenda 
Foi um ato de estarrecer 
Saquearam o comércio 
Botaram tudo a perder 
 
Na imensidão sertaneja 
Por onde Corisco andou 
O Conselheiro na labuta 
Seu povo revolucionou 
Capitão Manoel Quirino 
Seu nome se eternizou 
 
José e Ângelo Martins 
Os Martins de Canarana 
Com Pedrinho e Belinha 
O amor não desengana 
Pedrinho fugiu do amor 
Pela madrugada baiana 
 
Pedrinho amava Belinha 
Mas não queria casar 
Não assumiu o seu amor 
Só pretendia enamorar 
Preferiu fugir da cena 
Na noite se afugentar
 
Ele escapou pelo sertão 
Da Chapada Diamantina 
Rumo a Morro do Chapéu 
Foi depois pra Jacobina 
Manoel Quirino em cena 
À nova peleja se destina 
 
Foram atrás de Pedrinho 
Que fugiu do casamento 
Rumou para Jacobina 
Na fuga em movimento 
Estava em uma pensão 
Fugindo do sentimento 
 
No ano 55 (1955) 
Houve uma fatalidade 
Manoel Quirino foi morto 
Em grande adversidade 
Na cidade de Jacobina 
Perdeu sua vitalidade 
 
Manoel teve influência 
Nos garimpos do sertão 
Teve fazenda e comércio 
Tinha uma boa condição
Foi respeitado pelo povo 
Que lhe tinha devoção 
 
Em toda a Chapada Velha 
Manoel Quirino afamado 
Homem de mineração 
Também criador de gado 
Na Fazenda Pedra Lisa 
Fazia o seu bom roçado 
 
Faleceu Manoel Quirino 
Sua lenda continuou 
É um nome legendário 
Que pelo sertão ficou 
Manoel Quirino de Matos 
Nosso povo o consagrou 
 
Manoel Quirino se uniu 
Às famílias do sertão 
Matos, Martins, Dourado 
Na peleja com Militão 
Sempre fiel a Horácio 
Seu primo do coração 
 
Manoel Quirino presente 
É parte de nossa história 
De um passado glorioso 
Batalhas na trajetória 
Foi um líder sertanejo 
Patrimônio da memória
 
*  Poeta da Chapada Diamantina 
no Planalto Central do Brasil
 

sábado, 19 de dezembro de 2020

O ESCRITOR QUE NÃO CONSEGUI ENTREVISTAR

 

Por Danilo Gomes

Acabo de reler um livro sobre Porto Seguro, o paradisíaco rincão da Bahia onde, em 1500, aportou o almirante Pedro Álvares Cabral com sua frota de 13 embarcações, uma das quais (provavelmente a Santa Cruz) comandada por um tal Aires Gomes da Silva, que morreu num naufrágio, na viagem de regresso a Lisboa. 

Refiro-me ao volume, de elegante capa dura, intitulado “Porto Seguro”, com reproduções de quadros a óleo e gravuras do grande pintor Sérgio Telles, também diplomata, embaixador aposentado, globe-trotter, nascido no Rio de Janeiro em 1936 e há anos morando na cidade de São Paulo. 

O livro traz textos do próprio Sérgio Telles, de sua senhora, Vera Telles (também carioca e diplomata, tradutora e pesquisadora de temas históricos), de Jorge Amado, de Gaston Diehl (crítico de arte francês), de Josué Montello e de Luís Vianna Filho (sic). 

Aqui quero chegar ao assunto nuclear deste artigo. 

Em 1979, quatro anos depois de minha chegada a Brasília, publiquei o livro “Escritores brasileiros ao vivo”, pela Editora Comunicação/MEC-INL, volume 1. Em 1980 saiu o volume 2, pelo mesmo selo editorial, com apresentação de Ary Quintella e prefácio de Wilson Castelo Branco. 

Esses dois volumes contêm 67 entrevistas com escritores moradores de Brasília ou que aqui moraram ou por aqui estiveram de passagem. Foram publicadas antes no Suplemento Literário do jornal Minas Gerais (SLMG), fundado por Murilo Rubião e então dirigido por Wilson Castelo Branco. 

Dentre os entrevistados, menciono apenas os que já partiram deste mundo: Altimar Pimentel, Ary Quintella, Vianna Moog, Cassiano Nunes, Carlos Castelo Branco (o Castelinho), Domingos Carvalho da Silva, Almeida Fischer, Joanyr de Oliveira, Samuel Rawet, Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Mendes Vianna, Herberto Sales, Antonio Carlos Villaça, Josué Montello, Adonias Filho, Alphonsus de Guimaraens Filho, Anderson de Araújo Horta e Maria Braga Horta, Curt Meyer-Clason (tradutor de Guimarães Rosa para o alemão), Cyro dos Anjos, Edson Nery da Fonseca, Guilherme Figueiredo, H. Dobal (Hindemburgo Dobal Teixeira), Jorge Amado, José Geraldo Pires de Melo, Aluízio Valle, José Santiago Naud, Nilto Maciel, Paulo Rónai, Olga Savary, Yolanda Jordão, Altino Caixeta de Castro, Octávio de Faria.  

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Tentei, algumas vezes, entrevistar Luís Viana Filho, escritor, biógrafo, político, historiador, memorialista, acadêmico. Creio que lhe dirigi carta, como de costume. Conversei com ele algumas vezes, uma delas na presença do então presidente José Sarney, de quem era muito amigo. Tudo em vão. Não consegui a concordância dele para uma entrevista futura. Era um homem com tempo escasso e cronometrado, um político realmente muito importante. Acostumado ao relacionamento com jornalistas políticos de expressão, como Carlos Castelo Banco (o famoso Castelinho), Sebastião Nery, Augusto Nunes, Leonardo Mota Neto, Pedro Rogério Moreira, Oliveira Bastos, Paulo Cotta, Rubem Azevedo Lima, Silvestre Gorgulho, Luiz Gutemberg e outros, ele por certo não queria perder o precioso tempo com um jovem repórter desconhecido de sua alta roda. Até entendo. Respeito sua biografia e sua bagagem literária. Continuo seu admirador e leitor. Mas eu realmente gostaria de ter feito aquela entrevista, ainda que por escrito. Mas a vida continuou, continua. E o que não aconteceu virou assunto deste artigo de reminiscências brasilienses. 

No livro “Porto Seguro”, de e sobre Sérgio Telles, o magnífico pintor, leio os dados biográficos de um dos autores, Luís Viana Filho. Nestes termos: 

 

 

“Luís Vianna Filho é baiano e nascido em Paris; político, jurista, escritor, é professor catedrático de História do Brasil e Direito Internacional Público, e Senador pela Bahia, Estado do qual foi Governador. Deputado Federal , ex-Ministro de Estado da Justiça, Chefe do Gabinete Civil, Presidente do Senado, o mais importante memorialista brasileiro e membro da Academia Brasileira de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, das Academias portuguesas de Cultura, Ciências e História. Condecorado no Brasil e em diversos países estrangeiros, Luís Vianna Filho tem cerca de trinta obras publicadas, entre as quais A Vida de Rui Barbosa, A Vida do Barão do Rio Branco, A Vida de José de Alencar, A Vida de Eça de Queiroz, Três Estadistas: Rui, Nabuco, Rio Branco, A Vida de Joaquim Nabuco.” 

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Luís Viana Filho, que hoje dá nome à Biblioteca do Senado Federal, nasceu, como foi dito, em Paris, em 28-3-1908. Diplomou-se em Direito na Bahia. Foi jornalista, jurista, político, professor universitário. Ministro-Chefe da Casa Civil do Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco. Governador do Estado da Bahia. Presidente do Senado Federal. Membro da Academia Brasileira de Letras, da Academia de Letras da Bahia, da Academia Brasiliense de Letras e de outras instituições, já mencionadas. Além das já citadas, publicou também as seguintes obras: A Língua do Brasil, A Sabinada, A Verdade na Biografia, O Negro no Brasil, Afrânio Peixoto, O Último Ano de Rui na Bahia e A Vida de Machado de Assis e Castelo Branco: Testemunhos de Uma Época. Faleceu em 5-6-1990. 

Biógrafo seguro e minucioso, Luís Viana Filho deixou vasta e valiosa bibliografia e merece todo o respeito do mundo cultural de língua portuguesa. Uma vida honrada e admirável, acima das paixões políticas e das preferências ideológicas. 

Não tive a honra de incluí-lo entre meus entrevistados, embora tenha tentado algumas vezes, até em curtos diálogos com ele. Não me lembro se pedi o adjutório do nosso comum amigo Almeida Fischer. De qualquer maneira, não atingi meu objetivo. 

Nosso autor consta, em bem informativo verbete, do sempre útil e apreciado “Dicionário de Escritores de Brasília”, de Napoleão Valadares, já correndo para a 4ª edição. 

Na Academia Brasileira de Letras, Luís Viana Filho ocupou a cadeira nº XXII. Seu sucessor imediato foi Ivo Pitanguy. A cadeira é agora ocupada pelo grande romancista João Almino, atual embaixador do Brasil no Equador. 

Na Academia Brasiliense de Letras, Luís Viana Filho ocupou a cadeira XXIX, de que é patrono o contista goiano Hugo de Carvalho Ramos. O atual titular da cadeira é o escritor, também goiano, Alaor Barbosa. 

Para rematar estas notas de um velho repórter, aqui vai um trecho do notável livro “Paisagens portuguesas – Uma viagem literária”, de Luís Forjaz Trigueiros (1915-2000), uma edição da Nova Fronteira, 1985: 

“Não fui nesse passeio colectivo a Tormes e, portanto, apenas o imagino. E não fui, porque por ocaso na semana seguinte ali teria de ir, compromisso de há muito tomado com o meu amigo Luís Viana Filho e que não podia antecipar. Recebi, porém, os ecos imediatos ou quase dessa iniciativa e, sobretudo, pude ver Tormes pela primeira vez, porque, afinal, também eu nunca lá tinha ido.” 
Assim, os dois amigos e xarás, profundos conhecedores da obra de Eça de Queiroz, subiram juntos a Serra de Tormes, onde se situava a Quinta de Santa Cruz do Douro (que Eça de Queiroz crismou de Quinta de Tormes), inspiração para o esplêndido romance que é “A cidade e as serras”, onde o romancista diplomata escreveu: 
“… serra tão acolhedora, serra de fartura e de paz, serra bendita entre as serras…” 
Brasília, 23-9-2020.


sábado, 12 de dezembro de 2020

NO ALBAMAR, OUTRORA

 Por Danilo Gomes

         A Fabio de Sousa Coutinho, escritor, carioca e tricolor.

A maior fascinação das ilhas sedutoras é serem desabitadas. Lá só moram as gaivotas, os trinta-réis, as aves limpas do mar. E quem ali aportar respira com a liberdade aliviada de um Robinson, prova a bem-aventurança da solidão. (…) Céu azul, brisa mansa, o mar está chamando.” (Vivaldo Coaracy, na crônica “Jurubahybas”.)

Numa de minhas inúmeras viagens à cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro fui duas ou três vezes almoçar no velho restaurante Albamar, bastante conhecido e até famoso. Mas isso foi há muito tempo, quando eu fazia pesquisas para meus livros “Uma rua chamada Ouvidor” (1980) e “Antigos cafés do Rio de Janeiro” (1989). 

Situado na Praça Marechal Âncora, 184, no Centro histórico, próximo à Praça XV, o Albamar parece uma larga torre, com sua cúpula abobadada. O restaurante propriamente dito é quase centenário, pois funciona desde 1933. Na verdade, é a última construção que sobrou do antigo Mercado Municipal do Rio de Janeiro. 

A torre em que está instalado o Albamar é uma das quatro que guardavam o imponente Mercado. Com a central, mais alta, eram cinco torres. Mais de 20 mil metros quadrados davam guarida a 16 ruas internas e centenas de lojas, sob uma estrutura de ferro importada da Europa e demolida na década de 1950. A torre do Albamar escapou à fúria da demolição (para dar lugar ao Viaduto da Perimetral). E só escapou graças à influência política do proprietário e fundador do restaurante, o poderoso empresário Rodolfo Souza Dantas. É o tal negócio: quem tem padrinho não morre pagão; nem paga o pato… 

Pois bem, pois muito que bem. Devo acrescentar que o salão do restaurante ganhou uma repaginada nos últimos anos. No “meu tempo” o restaurante era um tanto rústico, posto que distinto. Estava atravessando uma temporada de baixa. Mas o torreão continuava firme, como na época áurea, em que alguns fregueses da casa eram Getúlio Vargas, Carmen Miranda, Carlos Lacerda, Mário Lago, Juscelino Kubitschek, o poeta e memorialista Augusto Frederico Schmidt, o cronista e compositor Antônio Maria, o poeta Vinicius de Moraes, o professor e escritor Arnaldo Niskier, o maestro soberano Tom Jobim, o romancista José Lins do Rego e o escritor Rui Lima do Nascimento (amigos e ambos ligados à cúpula dirigente do Flamengo; Rui, primo de Jorge Amado, mora há anos em Brasília, no Lago Norte).

Interior do Mercado Municipal da Praça Quinze

Vista aérea do Mercado Municipal da Praça Quinze

Naqueles áureos tempos, o ambiente do Albamar era seu tanto sofisticado e, ao mesmo tempo, informal, como o de alguns restaurantes e grutas de peixes e frutos do mar do Arco do Teles, perto dali. 

Desde 2010 o Albamar é comandado pelo chef Luiz Incao, que, com sócios e muita dificuldade, reergueu a casa, dando-lhe condições de maior conforto, sem perda do antigo charme. Ele trabalhou por 18 anos na cozinha do icônico hotel Copacabana Palace. Por certo fez ali seu “Cordon Bleu”, seu doutorado em culinária de primeira linha. 

Outra figura ilustre da casa é o garçom José Sousa Nóvoa, conhecido por Pepe. Ele ali trabalha há mais de meio século. Galego, com um resquício de sotaque espanhol, Pepe tornou-se um carioca de coração e é fervoroso torcedor do Fluminense. Ele anota os pedidos dos fregueses com uma caneta tricolor (ele exclama, risonho: “Veja que linda!”). 

O Albamar é conhecido pelos pratos à base de peixes e por um menu de receitas antigas, como a rã à provençal e o haddock ao leite de coco, bem como o Arroz Maru (arroz, brócolis, lula picada, polvo picado, cherne, camarões, mexilhões, queijo ralado, alho, cebola, tomate, azeite). Esse Arroz Maru é uma ancestral receita japonesa de muito sucesso. 

No “meu tempo” (como dizem os velhotes) , quase 50 anos atrás, o Albamar era mais simples e frugal, posto que elegante, distinto, como eu disse. Eu gostava de pedir uma mariscada, como aquelas dos restaurantes e grutas lusitanos do Arco do Teles, do Largo do Machado ou da Rua da Conceição. 

Em 1967 a Editora do Autor publicou o livro “Guanabara”, na sua série “Brasil, Terra & Alma”. Os textos de vários autores foram selecionados por Marques Rebêlo, da Academia Brasileira de Letras. No livro estão o Rio, sua História e suas histórias. No Apêndice, encontramos “Seis roteiros turísticos”. Há indicações preciosas, mas não se menciona explicitamente o nome de nenhum estabelecimento comercial, para evitar maledicências e disse-que-disse. 
Assim, na pág. 206 vamos encontrar o seguinte: 
Almoçar nos restaurantes portugueses da Rua da Conceição ou nos restaurantes árabes das ruas da Alfândega e Senhor dos Passos. Após o almoço, encaminhar-se para o Largo da Carioca e visitar a Igreja e o Convento de Santo Antônio, a Igreja de São Francisco da Penitência e, perto, na Avenida Rio Branco, o Museu Nacional de Belas Artes.
E, na pág. 208, o ponto que aqui nos interessa: 
Almoçar nas proximidades do Museu da Imagem e do Som, onde há um restaurante especializado em peixes e frutos do mar e que funciona em edificação remanescente do antigo Mercado Municipal, à beira do cais. Depois do almoço, visitar o Museu Histórico Nacional.” 
Qualquer Sherlock Holmes de botequim desvenda esse “mistério da beira do cais”: o “restaurante especializado” não é outro senão o célebre Albamar. Charada fácil, para iniciantes e novatos… 
 
 

Para encerrar esta breve viagem turístico-gastronômica, um trecho que colho na pág. 78 do livro “Guia de Roteiros do Rio Antigo”, de Berenice Seara (assim mesmo: Seara), de O Globo, 2004, 2ª ed., 208 págs.: 

Depois da caminhada, uma pausa para descanso no restaurante Albamar, no centro da Praça Marechal Âncora. O Albamar é o único remanescente do antigo Mercado da Praça Quinze,construído em 1908 em estrutura metálica fabricada na Inglaterra e na Bélgica, com 22,5 mil metros quadrados e 24 metros de altura, que foi demolido para a construção do Elevado da Perimetral. O restaurante, que ocupava um dos cinco torreões do mercado desde 1933, foi o único que sobreviveu ao desmonte. De lá tem-se uma admirável vista da Baía de Guanabara.” 
Vista panorâmica a partir do interior do restaurante

De fato, uma linda, esplendorosa vista. Enquanto almoçava, eu podia contemplar a beleza do mar, com as históricas e heróicas barcas da Cantareira indo para Niterói ou para a Ilha de Paquetá ou de lá regressando, lentamente, como “velhas tartarugas”, no dizer brincalhão de Vivaldo Coaracy. As barcas pertencem à C.C.V.F., ou seja, Companhia Cantareira de Viação Fluminense. Freguês constante daquelas barcas era o cronista e historiador carioca Vivaldo Coaracy (1882- 1967 ) , que, desde 1945, morava em Paquetá, seu refúgio e paraíso. Lá, ele era quase vizinho e muito amigo de Rachel de Queiroz e seu segundo marido, o médico Dr. Oyama Macedo. O casal então morava na Ilha do Governador. Em Paquetá morreu Vivaldo Coaracy, que foi pai de Dagmar e Ada Maria. É ele um de meus cronistas e memorialistas preferidos e hoje repousa no limbo da memória nacional, lamentavelmente. Está tão no ostracismo que uma pesquisa no Google nos fornece alguns dados sobre ele, mas em lugar de seu retrato está o retrato de… Dostoiévski. Poderiam divulgar ao menos o magnífico retrato dele em bico-de-pena, feito pelo talentoso Luís Jardim e que está no pórtico de alguns de seus livros. 

Voltemos ao restaurante Albamar, que hoje mudou de nome, mantendo a alta qualidade de seu cardápio. Agora ele se denomina Âncoramar. 

Volto ao passado. Regresso ao “meu tempo” de Rio de Janeiro. 

Uma brisa marinha suave e boa entrava pelas amplas janelas do Albamar, com vista para a maravilhosa Baía de Guanabara… 

Brasília, dez. 2020.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Há 300 ANOS ASSIM NASCIAM AS MINAS GERAIS


Por Francisco José dos Santos Braga


Só, e no mais: sem ti, jamais nunca — Minas, Minas Gerais... 
João Guimarães Rosa 

Prédio datado do século XVIII da antiga Casa de Câmara e Cadeia (hoje Câmara Municipal de Vereadores) da cidade de Mariana, "primaz" de Minas Gerais.

 

O desbravamento na região que hoje compreende o Estado de Minas Gerais se iniciou no século XVI, por meio do trabalho dos bandeirantes, em busca de ouro e pedras preciosas. Em 1709, foi criada a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro e em 1717 o rei de Portugal, D. João V, nomeou Dom Pedro de Almeida Portugal e Vasconcelos, Conde de Assumar, governador-geral da Capitania. 
 
Assumar instalou-se em Mariana, então Vila de Ribeirão do Carmo, trazendo como principal missão organizar e disciplinar a cobrança do quinto do ouro, o imposto que Portugal cobrava da Colônia e que teria que ser pago por todos os que realizavam a extração do ouro. O conde encontrou forte resistência dos habitantes quanto à cobrança do imposto e em 1720, rebelaram-se os moradores de Ribeirão do Carmo (Mariana) e Vila Rica (Ouro Preto), que chegaram a ameaçá-lo. Refugiado em Vila Rica, o governador armou sua reação, enfrentando severa resistência. Foi um tempo de vários embates, que resultaram em acontecimentos como a morte do líder local Felipe dos Santos e o incêndio nas encostas da Serra de Ouro Preto, onde trabalhavam e residiam centenas de mineradores. 
 
Os acontecimentos de 1720 levaram o rei de Portugal, dom João V, por solicitação e indicação do conde de Assumar, a criar a Capitania das Minas, separando-a da de São Paulo, o que ocorreu por Alvará datado de 2 de dezembro de 1720, data oficial da nova capitania. 
 
Hoje é dia de festa: 2 de dezembro de 2020. Pelo alvará do rei D. João V de Portugal, há 300 anos nasceu a Capitania de Minas Gerais! 
 
Viva Minas Gerais! 
 
(Crédito: Texto publicado pelo CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia em 2 de dezembro de 2020, intitulado "300º Aniversário de Minas Gerais") 
 
E, para homenagear Minas Gerais no seu 300º aniversário, que tal ouvir o que tem a dizer um baiano de Recife dos Cardosos-Ibititá (região de Irecê)/Chapada Diamantina? Estou falando de GUSTAVO DOURADO, que, no seu poema “Cordel Minas Gerais”, através de sua verve poética revigorada, exibe conhecimentos múltiplos sobre a Capitania, a Província e o Estado de Minas Gerais, na linha do tempo, além de listar valores mineiros que são caros a todos os nascidos nessa terra. Mineiros, ouçamo-lo com atenção! 
 
CORDEL MINAS GERAIS 
 
Por Gustavo Dourado 
 
Em 1720 
Houve o desmembramento 
Início do Século XVIII 
Foi rápido o povoamento 
Minas centro econômico 
Província em crescimento 
 
Em 1750 
O ouro cai de produção 
A rigidez da Metrópole 
Força a arrecadação 
Inconfidentes em marcha 
Pelo fim da exploração 
 
1789 
Tempo de Iluminismo 
Tiradentes foi o líder 
Mas era grande o abismo 
Joaquim Silvério dos Reis 
Delatou com o seu cinismo 
 
Dos 34 acusados 
Só um foi executado 
O herói foi Tiradentes 
Nos deixou o seu legado 
A luta sempre transforma 
Muda o que está errado 
 
Inconfidência Mineira 
Tiradentes foi guerreiro 
Mártir da Independência 
Deu seu grito altaneiro 
Lutou pela liberdade 
É grande herói brasileiro 
 
A luta dos inconfidentes 
Despertar dos ideais 
O desejo de mudança 
Verves intelectuais 
Clérigos e militares 
Proprietários rurais 
 
Tomás Antônio Gonzaga 
As musas da Inconfidência 
Cláudio Manuel da Costa 
O grito da Independência 
Tiradentes foi o mártir 
A voz da nossa consciência 
 
Os impostos escorchantes 
A colônia em turbulência 
Minas busca soberania 
O despertar da consciência 
Desejos de liberdade 
O sonho de independência 
 
Início do século XIX 
O café em evidência 
Aumenta o povoamento 
As minas em decadência 
O café abre os caminhos 
Minas ganha influência 
 
Economia mineradora 
A base da exportação 
Em suas grandes fazendas 
Açúcar, gado, algodão 
Cafeicultura em marcha 
Impulsiona a produção 
 
Produtos alimentícios 
Têxtil e siderurgia 
Algodão e cereais 
O açúcar do dia a dia 
Os recursos minerais 
Pilares da economia 
 
Minas, Anos 30 
Amplia a siderurgia 
Mais recursos minerais 
O progresso se amplia 
Idos dos Anos 50 
Mais e mais se industria 
 
Minas ganha projeção 
Progresso industrial 
Cresce a agropecuária 
E a produção mineral 
Desperta a literatura 
Ganha enfoque cultural 
 
Anos 70 
Cresce o investimento 
Diversifica a economia 
Amplo desenvolvimento 
Arte, Clube da Esquina 
A cultura em movimento 
 
Comércio, turismo, serviços 
Indústria de transformação 
Agropecuária, construção civil 
Destaque à mineração 
O caminho do progresso 
Minas em evolução 
 
853 cidades mineiras 
Belo Horizonte, Diamantina 
Sabará, Tupaciguara 
Grão Mogol e Albertina 
Lagamar e Guarda-Mor 
Paracatu que ilumina 
 
Itaguara, Itaúna, Riobaldo 
Rosa e sua mensagem 
Cordisburgo, lua cheia 
O mistério na visagem 
As almas do outro mundo 
Diadorim na paisagem 
 
Libertas Quae Sera Tamen 
Minas em nosso coração 
Mariana, a primeira vila 
Brotou ouro no sertão 
Congonhas do Aleijadinho 
12 profetas na amplidão 
 
Tiradentes, São João del-Rei 
Bueno Brandão, Coromandel 
Borda da Mata, Corinto 
Minas de ouro a granel 
Pedras de Maria da Cruz 
Catas Altas, luz e mel 
 
Tem o frio da Mantiqueira 
Bom Repouso, Itajubá 
Frio de Maria da Fé 
Itamonte e Araxá 
Em Conceição dos Ouros 
Delfim Moreira e Ubá 
 
Cidade de Pouso Alto 
Terra que brota poesia 
Lá Drummond e Bandeira 
Entre o frio e a ventania 
Júlio Ribeiro e Ribeiro Couto 
Deram voz à fantasia 
 
Lavras Novas em Ouro Preto 
Cenário de literatura 
De Bernardo Guimarães 
Um conto de boa leitura 
“A Garganta do Inferno” 
Texto de boa estrutura 
 
Frio em Paraisópolis 
No Pico do Machadão 
Represa do Brejo Grande 
Tem um lago na amplidão 
E a Pedra de São Domingos 
É das mais altas do sertão 
 
Tem Serro e Diamantina 
Chica da Silva, Juscelino 
Leopoldina, Augusto dos Anjos 
Vate poeta nordestino 
Um gênio da Paraíba 
Tem Minas em seu destino 
 
Rio das Velhas, Urucuia 
Rio Doce, a exploração 
Tantos rios, vários riachos 
O cerrado em combustão 
Fogo e desmatamento 
Com morte e poluição 
 
Carrancas, Baependi 
Cascatas e cachoeiras 
Em São Thomé das Letras 
Pedras, luzes candeeiras 
Sobradinho, Luminárias 
Viçosa, Lavras inteiras 
 
Cordilheiras, serras, rios 
A Serra da Mantiqueira 
A flor de Diamantina 
Chica da Silva mineira 
O berço do São Francisco 
Serra da Canastra inteira 
 
Belo Horizonte no céu 
Sempre a fazer Contagem 
Em Betim; Pedro Leopoldo 
Seguir a boa viagem 
Ouro Preto, Ouro Fino 
Ouro Branco na imagem 
 
Capetinga, Caldas, Canaã 
Caeté, Caiana, Cajuri 
Extrema, Aricanduva 
Carangola, Araçuaí 
Berilo, Barão de Cocais 
Buritis, Carandaí 
 
Do Grande Sertão: Veredas 
Romance, Literatura 
O voo do 14-Bis 
Santos Dumont na altura 
Carlos Drummond de Andrade 
Sempre uma boa leitura 
 
Edson Arantes do Nascimento 
Homem de Três Corações 
Fez magia com a bola 
Com suas transmutações 
Mais de mil gols ele fez 
Rei Pelé das multidões 
 
Médium Chico Xavier 
Vários livros escreveu 
Revelou o Nosso Lar 
Nele o amor floresceu 
Uniu bondade e ternura 
A consciência amanheceu 
 
Pedro Nava, Adélia Prado 
Reler Fernando Sabino 
Ler Paulo Mendes Campos 
Autran Dourado cristalino 
Otto Lara, Murilo Rubião 
Li nos tempos de menino 
 
Darcy Ribeiro, Montes Claros 
Poesia e música pelos ares 
Januária, Manga, Pirapora 
Governador Valadares 
Rumo a Teófilo Ottoni 
Busca de altos patamares 
 
Cientista Vital Brazil 
Médico e pesquisador 
Criou o soro antiofídico 
Imunologista de valor 
Filho de Minas, Campanha 
Foi grande empreendedor 
 
Itabira, Ipatinga, Alfenas 
Barbacena, Buritizeiro 
Cambuí e Cataguases 
Flores do sertão mineiro 
Camanducaia, Bambuí 
Caminhos do tabuleiro 
 
Jequitinhonha e o Velho Chico 
Tambores mineiros, congadas 
Aquarela do Brasil, Ary Barroso 
Dias, noites, madrugadas 
De Ubá para o universo 
Em canções iluminadas 
 
A Arte do Aleijadinho 
Poesia dos inconfidentes 
Música Barroca de Minas 
Saraus, igrejas, sementes 
Ritmos rurais da Bahia 
Em Minas sempre presentes 
 
Vila Rica – Ouro Preto 
A boa música brotou 
Poesia e escultura 
A arte ali germinou 
Tempo dos precursores
Que o musical semeou 
 
Uakti, Skank, Jota Quest 
Eterno Clube da Esquina 
Tambores e percussão 
Música que brota da mina 
Samba de Ataulfo Alves 
O amor que nos ilumina 
 
A riqueza do folclore 
Da cultura popular 
Congado e cavalhada 
Pastorinhas ao luar 
Reisado e Festa do Divino 
São Gonçalo é bom dançar 
 
Quadrilhas e fogueiras 
Em noites de São João 
São Pedro e Santo Antônio 
É grande a devoção 
O povo dança bonito 
No cerrado e no sertão 
 
Curupira, protetor das matas 
No imaginário popular 
Iara e caboclo d’água 
Saci-pererê a pular 
Noivas, mulas sem cabeça 
Lobisomem a assombrar 
 
Mineiro-pau, caxambu 
Boi de Reis, animação 
Tem jongo e batucada 
Tem amor, samba canção 
Mitos, crença e folguedos 
Que iluminam o coração 
 
Estrada Real, a história 
Para o Rio e Paraty 
Cultura e natureza 
O Pico do Itacolomy 
O ouro era transportado 
Tanta beleza por ali 
 
Santana do Riacho, Serra do Cipó 
Turismo de boa aventura 
Lagoas, grutas, cavernas 
Ecoturismo e cultura 
A natureza nos encanta 
Dá luz à literatura 
 
Belo Museu de Inhotim 
De arte contemporânea 
Três Marias, Sete Lagoas 
Ponho em minha coletânea 
Conceição do Mato Dentro 
De natureza espontânea 
 
Famoso Circuito das Águas 
Estâncias hidrominerais 
São Lourenço, Caxambu 
Cambuquira e outras mais 
Lambari, Carmo, Conceição 
Soledade, Minas Gerais 
 
Carmo de Minas, Heliodora 
Sem esquecer Soledade 
Baependi e Campanha 
Minas da vitalidade 
Conceição do Rio Verde 
Minas nos deixa saudade 
 
Ponte Nova, Nova Lima 
Alagoa, Alto Jequitibá 
Além Paraíba, Nova Era 
Bom Despacho, Arapuá 
Brasília de Minas, Bugre 
Coromandel, Goianá 
 
São Sebastião do Paraíso 
Formiga e Itajubá 
Abadia dos Dourados 
Sacramento, Ibiá 
Resplendor e Areado 
Matias Cardoso, Ubá 
 
Umburatiba, Aiuruoca 
Ubaí, Ubaporanga 
Passos, Poços de Caldas 
Alpercata, Araponga 
Dores do Indaiá e Arcos 
Douradoquara e Manga 
 
Minas do bom futebol 
Do Atlético e do Cruzeiro 
De Reinaldo e de Tostão 
E do América Mineiro 
Do grandioso Pelé 
Famoso no mundo inteiro 
 
Minas de tantas belezas 
O touro, a vaca, o bezerro 
O vaqueiro toca o gado 
De Uberaba ao Serro 
Luzia em Lagoa Santa 
Em Maquiné sem desterro 
 
Uberlândia, Juiz de Fora 
Patos de Minas, Unaí 
Divinópolis e Extrema 
Mariana, Itacarambi 
Lá no Triângulo Mineiro 
Não esqueço Araguari 
 
Falar da arte de Minas 
Lembrar Juarez Moreira 
De uma família musical 
A bossa nova mineira 
De Guanhães a BH 
A sinfonia brasileira 
 
Música de qualidade 
Desde o Clube da Esquina 
Milton e Toninho Horta 
Uma turma gente fina 
Lô Borges, Tavinho Moura 
A poética diamantina 
 
Ary Barroso, Wagner Tiso 
A alta musicalidade 
Brant, Márcio, Venturini 
Sirlan multiplicidade 
Choro, samba e baião 
Com boa tonalidade 
 
Tantos amigos de Minas 
Tantas cidades eu vi 
Lugarejos, arrabaldes 
Pássaro preto e coqui 
Onde canta a siriema 
E brota o verde buriti 
 
Juscelino Kubitschek 
Presidente da Alvorada 
Luz do Planalto Central 
Pôs Brasília na jornada 
Trouxe de Minas Gerais 
Essências da madrugada 
 
Minas Gerais Multiverso 
Um encanto, um tesouro 
Poesia das Alterosas 
Belo Horizonte de ouro 
As águas do São Francisco 
Dão vida e luz ao besouro 
 
Minas Gerais reluz o ouro 
Germina a prosperidade 
O sonho dos Inconfidentes 
Pulsa amor, fraternidade 
Minas é luz e tesouro 
Cidadania e liberdade