terça-feira, 29 de dezembro de 2020

UMA COMOVENTE HISTÓRIA


Por AVELINA NORONHA

 

Estamos ouvindo as músicas e vendo as luzes natalinas. Há muitas histórias sobre a noite em que nasceu o Deus Menino. Uma delas, verídica, ocupa um lugar especial entre as que conheço. 

Aconteceu numa noite fria de 24 de dezembro de 1914, durante a Primeira Guerra Mundial, quando as batalhas em solo da França e da Bélgica eram sangrentas e cruéis. Soldados alemães e ingleses, afundados na lama de suas respectivas trincheiras, que se confrontavam numa linha paralela, estavam em alerta pela ameaça de ataques inimigos. Entre eles, um espaço de umas dezenas de metros, a “terra de ninguém”, com suas cercas de arame farpado e o solo coberto por mortos dos dois exércitos. 

De repente, os britânicos começaram a ver luzes tremeluzindo na trincheira alemã. Assustados de início, temendo alguma cilada, descobriram serem árvores de Natal iluminadas. Em seguida, ouviram músicas natalinas cantadas pelos soldados inimigos em alemão. E o que fizeram? Cantaram também: “Silent Night”... Passaram a aplaudir-se. Um alemão que sabia falar inglês gritou: “A Happy Christmas to you, Englishmen!” (Um Feliz Natal para vocês, ingleses!). Os ingleses cortesmente retribuíram. Um alemão, desassombradamente, correu pela “terra de ninguém” em direção à trincheira inglesa. Um inglês atravessou a cerca de arame e foi ao encontro dele. Outros os seguiram e, dentro em pouco, naquele espaço perigoso, abraçavam-se os inimigos, trocando entre si presentes como bebidas, cigarros, jornais, doces, até bolos que haviam recebido de casa. 

 

Trégua de Natal de 1914 durante a I Grande Guerra

 

O estrondear da artilharia cessou, os canhões ficaram silentes. Começou, assim, a trégua de Natal. Juntos os soldados, até pouco antes tentando se matar uns aos outros, fizeram uma fogueira iluminando a noite escura e, reunidos em volta dela, se confraternizaram durante toda a noite. De manhã, um inglês sugeriu enterrarem os mortos de ambos os lados que estavam na “terra de ninguém”. Os alemães concordaram e, depois de rezarem juntos o Salmo 23, “O Senhor é meu Pastor e nada me faltará...”, alemães e ingleses enterraram seus companheiros no meio daquele espaço, em uma só e grande cova. 

A confraternização continuou. Achando uma bola na trincheira, realizaram bela partida de futebol, que só terminou quando a bola bateu na cerca e foi furada pelo arame. 

Naquela mágica noite, em vários outros locais do campo de batalha, aconteceram cenas semelhantes. Uma delas, envolvendo de um lado alemães e do outro franceses e seus aliados escoceses, inspirou o aplaudido filme “Feliz Natal”, de Christian Carion. Infelizmente, passada a trégua abençoada, a guerra continuou, mas aqueles momentos ficaram como mensagem de que, se houver boa vontade, a Paz pode acontecer. 

Aos leitores, na língua de Virgílio, um “Feliz Natal e Próspero Ano Novo”:  

Natale hilare et Annum Faustum!

Foto da conjunção de Júpiter e Saturno em 21/12/2020 - Crédito: Avelina Noronha




12 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Avelina Maria Noronha de Almeida (professora, escritora e genealogista, Diretora Literária da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette-ACLCL) disse...

Prezado Francisco:

Bom Dia!
Como fiquei feliz ao abrir o Gmail e encontrar esta sua mensagem! É honra demais para mim!
Agradeço imensamente e procurarei honrar este seu convite tão generoso para comigo.
Um grande abraço.
Avelina

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Tenho o prazer de apresentar ao leitor do Blog de São João del-Rei, a nova colaboradora AVELINA NORONHA, natural de Lafaiete-MG, professora, escritora e genealogista, ocupante da Cadeira nº 01 da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette, da qual é Presidente Emérita.
Participa com uma crônica intitulada UMA COMOVENTE HISTÓRIA ocorrida em 24 de dezembro de 1914 nos campos de batalha da I Guerra Mundial.

TEXTO: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2020/12/uma-comovente-historia.html

Sobre a escritora Avelina Noronha: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2020/12/colaboradora-avelina-maria-noronha-de.html

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (professor universitário, ex-presidente do TRE/MG, escritor e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Muito bem!

Frei Joel Postma o.f.m. (compositor sacro, autor de 5 hinários, cantatas, missas e peças avulsas) disse...

Olá, Francisco e Rute! Parabéns para a nova colaboradora Avelina Noronha!! Aproveito a oportunidade para desejar a vocês um super feliz 2021, com saúde e uma vitória definitiva sobre o Covid-19, para a paz e a tranquilidade poderem voltar ao mundo inteiro!! Grande abraço do irmão f. Joel.

Gilberto Mendonça Teles (autor de O terra a terra da linguagem e Hora Aberta-Poemas Reunidos e é membro da Academia Goiana de Letras) disse...

Li e gostei, meu caro Francisco Braga. Feliz Ano Novo!

Moisés Mota (presidente da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette-ACLCL) disse...

Parabéns, estimada confreira Avelina Noronha!

Moisés Mota (presidente da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette-ACLCL) disse...

Que ótima colaboração você terá em seu seleto e precioso blog, Francisco Braga.

Parabéns!

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga;
Mesmo em guerra e convictos daquilo a que normalmente chamamos de "Patriotismo Guerreiro", partilhando entretanto dos mesmos valores cristãos, aqueles combatentes foram capazes de gestos de Humanidade. Parabéns à professora Avelina pelo relato. Excelente trazer sua publicação.
Grato.
Cupertino

Paulo Roberto Sousa Lima (escritor, gestor cultural e presidente reeleito do IHG de São João del-Rei para o triênio 2021-2023) disse...

É a força da humanidade, prezado confrade. Por mais rude o mundo, em um átimo os homens se encontram como homens e se reconhecem como tal. Pode-se creditar isso à força da fé, hábito cultural ou conspiração do Universo, mas que é uma chama de esperança, isso nunca deixa de ser. Ela cita um filme e me lembrou um outro filme, acho que inglês, sobre um cavalo e seu dono: um jovem inglês, que se alista porque seu cavalo foi "convocado" pelo exército inglês. Acho que se chama em português "Cavalo de Batalha".
Em uma dada cena ocorre algo similar que teria também se passado na 1ª Grande Guerra, só que para o salvamento do cavalo que, cavalgando sozinho na batalha, pois seu cavaleiro fora abatido, se vê preso em cercas de arame entre trincheiras inimigas e muito machucado: à noite, um soldado inglês decide ir soltá-lo. Como seu alicate não era forte o suficiente, um alemão jogou-lhe um bom alicate e depois foi ajudá-lo a soltar o cavalo.
Completada a empreitada, discutem com quem ficaria o belo cavalo machucado, mas agora livre. Jogam a sorte e o inglês ganha o direito de cuidar do animal. Os inimigos se despedem carinhosamente. Posteriormente, em um hospital de campanha, sob ordens de ser sacrificado, um soldado cego por gás mostarda ouve a descrição do animal e sua respiração forte em reação à ameaça que sofria, e assovia de um jeito diferente, especial, e o animal vai em sua direção e carinhosamente se agasalha nos braços do soldado: descobriu-se que o cavalo era do soldado ferido, seu dono. A cena também é comovente.
Obrigado pelo envio e pela lembrança.
Paulo Sousa Lima

Prof. Dr. Henryk Siewierski (professor universitário da UnB-Instituto de Letras-Departamento de Teoria Literária e Literaturas, ensaísta, poeta e tradutor) disse...

Estimado Francisco,
Muito obrigado por esta comovente história, assim como por tantos outros textos do seu blog que enriqueceram o ano que passa. Neste espírito natalino desejamos a você e a Ruth muita saúde, alegrias e realizações.
Feliz Ano Novo!
Szczęśliwego Nowego Roku!
com saudosos abraços de
Małgorzata e Henryk

Colégio Brasileiro de Genealogia disse...

Informados pela diretora Leila Ossola, com pesar informamos ao Quadro Associativo que faleceu na data de ontem, 25 de fevereiro, aos 86 anos, a associada Avelina Maria Noronha de Almeida.