terça-feira, 20 de outubro de 2020

O VIVER E O MORRER NA OBRA DE GUIMARÃES ROSA


Por Francisco José dos Santos Braga *


Este artigo apareceu originalmente nas páginas 53-59 da antologia "O que a vida quer da gente é coragem", obra comemorativa pelo 110º aniversário de João Guimarães Rosa em Cordisburgo-MG e patrocinada pela Academia Itaunense de Letras-AILE, em 2018 

 

Em 1957, Guimarães Rosa candidatou-se pela primeira vez a imortal da Academia Brasileira de Letras - ABL e obteve apenas 10 votos. Observe-se que Guimarães Rosa já era autor consagrado em 1957, tendo até então lançado os seguintes grandes livros de contos: “Sagarana” (1946) e “Corpo de Baile”, além do romance “Grande Sertão: Veredas” (1956). Em decorrência deste último, Guimarães Rosa recebeu nesse mesmo ano os seguintes prêmios: "Machado de Assis", "Carmem Dolores Barbosa" e "Paula Brito". Em 1961, recebeu da ABL, pelo conjunto da obra, o prêmio "Machado de Assis". 

Em 1962, Guimarães Rosa lançou “Primeiras Histórias” e, em maio de 1963, candidatou-se pela segunda vez a membro da Academia Brasileira de Letras - ABL, na vaga deixada por João Neves da Fontoura. A eleição deu-se a 8 de agosto e desta vez Guimarães Rosa foi eleito por unanimidade. Temendo ser tomado por forte emoção, protelou o quanto pôde a cerimônia de posse por quatro anos. Costumava dizer que, empossado, morreria em seguida. 

Quando finalmente decidiu tomar posse na Academia Brasileira de Letras - ABL, ocorrida na noite de 16 de novembro de 1967, foi recebido por Afonso Arinos de Melo Franco. Em seu discurso, Guimarães Rosa afirmou, como se prenunciasse a própria morte: “… a gente morre é para provar que viveu.” 

Quando se ouve a gravação do discurso de Guimarães Rosa, nota-se, claramente, ao seu final, sua voz embargada pela emoção: é como se chorasse por dentro. É possível que o novo acadêmico tivesse plena consciência de que chegara sua hora e sua vez. Com efeito, três dias após a posse, em 19 de novembro, ele morria subitamente em seu apartamento em Copacabana, sozinho (a esposa fora à missa naquele domingo), mal tendo tempo de chamar por socorro. Assim desapareceu Guimarães Rosa prematuramente aos 59 anos de idade, vítima de enfarte fulminante, no ápice de sua carreira literária. No ocaso daquele 19 de novembro, Guimarães Rosa ficou para sempre encantado, tornou-se um mito, talvez o mais duradouro da literatura brasileira. 

Aproveitando a deixa que o próprio Guimarães Rosa nos forneceu nesse seu derradeiro discurso e, ao folhear seus vários livros, me deparei com uma miríade de ditos que evidenciam a sua posição diante do viver e do morrer. Eis alguns colhidos aleatoriamente: “As pessoas não morrem, ficam encantadas”, “Viver é perigoso”, “Viver é sempre obrigação imediata”, “A colheita é comum, mas o capinar é sozinho”, “Na vida, o que aprendemos mesmo é a sempre fazer maiores perguntas”, “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”, “Viver… o senhor já sabe: Viver é etecetera”, “Vida é sorte perigosa passada na obrigação: toda a noite é rio-abaixo, todo dia é escuridão”, “Viver é um descuido prosseguido”, “O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães… O sertão está em toda parte.”, “A morte de cada um já está em edital.”, “Tempo é a vida da morte: imperfeição”, “Como não ter Deus? Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar — é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então a gente não tem licença de coisa nenhuma!”, “Mas eu hoje em dia acho que Deus é alegria e coragem — que Ele é bondade adiante, quero dizer” e muitos outros motivos de reflexão sobre a nossa passagem/páscoa por este mundão de Deus e a nossa despedida de nossa condição humana. 

Os contos, novelas e romances rosianos estão situados espacialmente no que se poderia chamar, em sentido amplo, de sertão. Suas narrativas transcorrem nos campos gerais, ou mais simplesmente, nos gerais (cujo espaço geográfico Guimarães Rosa situava no Oeste e Noroeste de Minas Gerais, estendendo-se pelo Oeste da Bahia, e Goiás, até ao Piauí e ao Maranhão), caracterizados pelas chapadas e pelos chapadões, bem como pela vegetação do cerrado. Essas informações sobre o interior do Brasil, onde se passa a ação em “Corpo de Baile”, Guimarães Rosa transmite em carta a seu tradutor para o italiano, Edoardo Bizzarri. 

A sua obra se distingue pelas inovações de linguagem, profundamente identificada com os falares populares e regionais, que, plasmados pela erudição do autor, lhe permitiam criar inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos, bem como neologismos e onomatopeias a partir do realismo mágico, regionalismo e invenções e intervenções semânticas e sintáticas, que empregava com maestria. 

Há uma crônica muito curiosa de Rubem Alves, intitulada “Sobre o morrer”, publicada em 18 de outubro de 2011, que diz, entre outras coisas, que, apesar de a morte ser o destino de todos nós, a ideia de morte repentina não o atraía, porque ele precisava de tempo para escrever o seu último haikai, capaz de sintetizar “o esforço supremo para dizer a beleza simples da vida que se vai”. Nessa célebre crônica comentou que, diante da proximidade da Morte, iria repensar seus valores e listou alguns discípulos da mesma mestra (a Morte), cuja convivência não dispensaria: primeiro “Mallarmé que tinha o sonho de escrever um livro com uma palavra só”; depois, os poetas em geral e, por fim, apenas três prosadores, intelectuais de nomeada: um alemão, um francês e um brasileiro, como aprendizes da mesma mestra, a Morte. Atentemos para as suas próprias palavras: “A Morte me informa sobre o que realmente importa. Me daria ao luxo de escolher as pessoas com quem conversar. E poderia ficar em silêncio, se o desejasse. Perante a morte tudo é desculpável... Creio que não mais leria prosa. Com algumas exceções: Nietzsche, Camus, Guimarães Rosa. Todos eles foram aprendizes da mesma mestra. É certo que não perderia um segundo com filosofia. E me dedicaria à poesia com uma volúpia que até hoje não me permiti. Porque a poesia pertence ao clima de verdade e encanto que a Morte instaura. E ouviria mais Bach e Beethoven. Além de usar meu tempo no prazer de cuidar do meu jardim...” 

Por que Rubem Alves, entre tantos representantes da boa técnica literária brasileira, escolheu apenas Guimarães Rosa entre os prosadores? Na impossibilidade de sabermos dele próprio o motivo dessa eleição, aventuro-me a responder que o que era ponderável para Rubem Alves é que a universalidade da obra de Guimarães Rosa se deva a uma série de fatores, que vão desde o plano de expressão, nas mãos de Guimarães Rosa, impregnando seu texto de conotações, de realismo fantástico e de uma multiplicidade de dimensões, até a metalinguagem, o que torna o relato pleno de significados e passível de diversas interpretações. As técnicas empregadas são multidimensionais, deixando transparecer várias camadas sobrepostas. Tudo isso está muito próximo à proposta poética. 

Resta ainda acrescentar que a ação poética da obra de Guimarães Rosa baseia-se na oralidade. Guimarães Rosa faz seu relato vincular-se à preservação intencional do verbo ancestral. Sua prosa poética funda suas raízes na música intuída e praticada pelos poetas-cantadores do sertão. 

Consideremos o conto “Cara-de-Bronze” (do livro “Corpo de Baile”), o múltiplo relato de um velho e rico fazendeiro enfermo, que vive fechado em sua propriedade, rodeado de vaqueiros. Sozinho, perto da morte, pede a seu mais fiel vaqueiro, chamado Grivo, — poeta-cantador, dotado das virtudes de humildade, simplicidade e pureza de espírito, — que vá procurar, numa longa viagem, a essência da vida, “o quem das coisas”. 

A escolha recai sobre aquele que tem as virtudes da criança e que está incumbido de trazer a aurora à noite de seu senhor, mediante apenas o relato do que viu e ouviu (aprendeu) na sua longa jornada. Valendo-se de secreto poder, o menestrel, um descompromissado com as coisas que atam o homem ao interesse, adivinha-lhes a beleza. É tudo o que Cara-de-Bronze desejava ouvir. Guimarães Rosa desloca assim a narrativa do “Cara-de-Bronze” para uma dimensão mitopoética. 

Cara-de-Bronze sente solidão devido à proximidade do termo de sua vida terrena. É plausível imaginar Grivo (ou o mitológico Grifo?) assumindo o papel de facilitador da passagem do velho fazendeiro para o além, munido de seu poder de mediador ou médium. Entre os dois se estabelece enorme empatia; a aproximação do termo da vida favorece a identificação daquele que parte, com o rapsodo que viaja em busca da sabedoria do poético. A apologia da poesia faz Guimarães Rosa antepor à abertura do conto o seguinte terceiro poema (paratexto) pleno de metáforas e metonímias evidentes: 

"Eu sou a noite p’ra aurora, 
Pedra de ouro no caminho, 
Sei a beleza do sapo, 
A regra do passarinho, 
Acho a sisudez da rosa, 
O brinquedo dos espinhos." 

Reza a mitologia grega que havia um deus velho mas imortal, Caronte (Grivo), encarregado de transportar em uma barca estreita, para além dos rios infernais do Hades, — Estige e Aqueronte, — as sombras ou almas dos mortos (Cara-de-Bronze), cujos corpos tivessem recebido sepultura, mediante o pagamento de um óbolo. Em vida ninguém penetrava na barca de Caronte, a não ser que tivesse, como Eneias, por salvo-conduto um ramo de ouro, — mimo da Sibila de Cumes quando ele quis descer aos Infernos, — colhido na árvore sagrada de Core ou Perséfone. 

Teria Guimarães Rosa pensado em Caronte quando moldou o seu personagem Grivo no seu conto “Cara-de-Bronze” ou teria ele acessado no arquivo do inconsciente coletivo o arquétipo compartilhado por toda a humanidade, como queria Carl Gustav Jung? 

 

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*  FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS BRAGA, natural e residente em São João del-Rei, é escritor, pianista e compositor, além de tradutor para o português de obras da literatura grega, latina, russa, polonesa, alemã, inglesa e francesa. Gerente do Blog do Braga e Blog de São João del-Rei. Graduou-se em Letras pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del-Rei (1968-1971). Graduou-se ainda pela UnB em Música com habilitação em Composição (2002-2008). Obteve o grau de Mestre em Administração Financeira pela EAESP-Fundação Getúlio Vargas (1983), com a dissertação "Aspectos Operacionais e Análise do Desempenho de Três Fundos Mútuos - Estudo de Caso". 
Participa de várias Academias como: 
• sócio efetivo da Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, da Academia Divinopolitana de Letras, da Academia Mantiqueira de Estudos Filosóficos de Barbacena e da Academia Marianense de Letras 
• sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do DF, da Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto (Valença, RJ), do Instituto Histórico e Geográfico de Campanha, da Academia Barbacenense de Letras, da Academia Formiguense de Letras e da Academia Lavrense de Letras
• como Conselheiro Honorário, participou da fundação do Instituto Roque Camêllo, em Mariana-MG, em 18/03/2018. 
É pianista acompanhador do Coral Trovadores da Mantiqueira em suas apresentações, a convite de seu regente e compositor frei Joel Postma o.f.m. de Santos Dumont. Apresenta-se em concertos e recitais por todo o País. É pianista acompanhador do Duo Rute Pardini & Francisco Braga.
Foi agraciado com os seguintes títulos e honrarias: 
• Comenda da Liberdade e Cidadania em sua 1ª edição (Fazenda do Pombal, 13/11/2011) 
• Medalha do Mérito Cívico “Tomás Antônio Gonzaga” (Ouro Preto, 15/11/2011) concedida pela Ordem dos Cavaleiros da Inconfidência Mineira-OCIM
• Medalha comemorativa dos 30 anos da Academia de Letras de Brasília (20/03/2012) 
• Medalha “Frei Orlando-Patrono do SAREx (1913-2013)” concedida pelo Comando Militar do Oeste-CMO (dezembro de 2013) 
• Diploma de Honra ao Mérito concedido pela Câmara Municipal de SJDR (14/12/2015). 
Participa das seguintes Antologias com artigos ou prefácios de livros: 
1) No Limiar do Terceiro Milênio, pela Casa do Poeta Brasileiro-POÉBRAS, Seção de Brasília-DF, 1999, p. 59-62 
2) O Menino de Boa Viagem, por Francisco Sampaio de Carvalho, Brasília: LGE Ed. Ltda, 2008, p. 7-9 (prefaciador) 
3) Livro Comemorativo dos 60 anos de sua criação (1949-2009), pela Academia Valenciana de Letras-AVL, RJ, 2009, p. 263-270 
4) Poesia Sempre: Polônia nº 35 Ano 17 / 2010 pela Fundação Biblioteca Nacional-RJ, p. 88-89 
5) Polonicus-Revista de Reflexão Brasil-Polônia, Ano I-2/2010, p. 140-150; Ano II-2/2011, p. 56-74; Ano III-1/2012, p. 149-162; Ano III-2/2012, p. 131-143 
6) 10ª Antologia da Academia Formiguense de Letras-AFL, 2015, p. 48-53 
7) Antologia Acadêmica comemorando os 50 anos da Academia Lavrense de Letras (1967-2017), volume III, 2017, p. 249-255 
8) O que a Vida quer da gente é Coragem-Homenagem a João Guimarães Rosa, obra comemorativa pelo 110º aniversário de Guimarães Rosa, patrocinada pela Academia Itaunense de Letras-AILE, 2018, p. 53-59 
9) O Roque Camêllo que conheci, org. Mário de Lima Guerra, 2019, p. 9-14 
10) Tributo ao Professor Roque José de Oliveira Camêllo, por Prof. Arnaldo de Souza Ribeiro, 2019, p. 11-27 (prefaciador)

sábado, 3 de outubro de 2020

BREVE ANTOLOGIA DE FERNANDO TEIXEIRA

 

Por Fernando Teixeira

 

VIAJEIRO 

venho de terra distante 
e trago na mochila 
quase nada 
trapos de esperas 
nacos de cansaços 
quase nada 
além de tardo cajado 
 
 
UM ANJO SUBIU O MORRO 
[Excerto do Anuário 1995] 
 

O Presidente da República maquiou o topete para se contemplar, do alto da imensa popularidade, no discurso televisivo. Noutra tela, o outro ungido das urnas exibia esperanças, feitas de baixos salários e moeda forte. Já o governador, de então, prelibava o derradeiro uísque antes de transferir as chaves ornadas de tampinhas de garrafas, ao substituto exsurgido das verbas públicas. Ecoavam vozes dos senadores, deputados federais e estaduais, impolutos ministros, desembargadores, juízes. Afinal, no Natal se fala. Depois, os banquetes ocorrem. Escancaram-se as portas dos clubes sociais. 

Com este pano de fundo, o anjo subiu o morro e avistou a favela. O seu olhar abraçou todas as desgraças. Abriram-se as arcas de seu coração para enriquecer de ternura os sem nada. Distribuiu o pão da palavra aos que clamam por justiça. Eram muitos. Não, eram todos os destinatários de sua mensagem. Assim o anjo subiu todos os morros e descortinou todas as favelas. 

E disse: — “Bem-aventurados os pobres, porque Ele veio para torna-los ricos de vera riqueza. Bem-aventurados os que choram, porque ele veio para alegrá-los. Bem-aventurados os esfomeados, porque Ele veio tornar-se o seu pão. Bem-aventurados os analfabetos, porque ele veio ensinar-lhes o verbo da prece. Bem-aventurados os que são puros, porque Ele veio confirmar a sua simplicidade. Bem-aventurados os que que nada esperam, porque para estes Ele se fez Natal.” 

Longe das vitrines neoliberais iluminadas, numa viela escura, um certo José dava sua mão adulta a um garoto quase sem roupa. E ouviam o anjo. 

Mais adiante, Maria contava à menina maltrapilha que existe um reino onde todos têm casa, roupa, comida e um governante chamado Pai. Ressoava, pelo céu, o discurso do anjo. 

Estas crianças não viram o presidente popular, nem o presidente magisterial, nem os senadores, deputados e julgadores, mesmo porque não tinham televisão. Depois, para elas, real é a fome, não um dinheiro, e verdadeira é a miséria, jamais teses econômicas. Sequer tinham o direito de devorar lautos banquetes ou divertir-se em clubes elegantes. 

Mas, compreendiam, com aquele José e aquela Maria, porque Ele nasceu menino e despido numa estrebaria... 

 

PARA ISABELA (uma fada de dois anos) 
[Excerto da Antologia 2000] 
 
apenas sua voz desperta 
em tempo indizível entre 
o vovô e a saudade 
 
(ciranda de nuvens 
e histórias de bichos e fadas 
e monossílabos instantes 
que adormecem sonhos 
e borboletas) 
 
somente os seus passos conduzem 
a uma plaga luzente para 
o vovô e a saudade 
 
(pomares de nada 
e brinquedos vários 
e pipas 
e a bola que balança 
as rodas da esperança 
e brinquedos) 
 
agora seu dar as mãos 
faz-se capaz de ligar 
o vovô e a saudade 
 
(uma lágrima fudigia
 e inescondida ternura 
e doces 
e o gosto do abraço 
que conquista sorriso 
e vida). 
 
 
CANÇÃO DA RUA DESERTA 
 
a noite cobre de sombras 
esquinas adormecidas 
ninguém senão um nada 
guarda o ar ensombrado 
 
derramo o olhar comprido 
pela esteira do asfalto 
com multidão de silêncios 
 
sinto o peso de estar só 
na rua plena de distâncias 
rua grande para eu pequeno 
tão perdido na solitude 
 
e a noite cobre de sombras 
cobre de sombras as sombras 
as sombras dentro de mim 
 
 
♧            ♧            ♧
 
 
NOTA DO GERENTE DO BLOG: Abaixo reproduzo três poemas visuais ou poemas figurativos de Fernando Teixeira (Cara, Escada e Tríptico), nos quais o autor procura destacar o aspecto visual, utilizando a disposição gráfica do texto para reproduzir a forma do objeto evocado. Esse processo interativo da leitura, muitas vezes exigindo a participação do papel do lúdico, evidencia que “uma imagem é um importante elemento do mecanismo da recepção e constitui um componente inerente a um texto verbal”, conforme ressalta a crítica literária polaca Maria OSTASZ, inSome visualization techniques employed in poetry for children”.