domingo, 31 de março de 2019

RESENHA DO LIVRO "O GINÁSIO (COLÉGIO) SANTO ANTÔNIO E OS FRANCISCANOS"


Por Francisco José dos Santos Braga


Capa do livro/Crédito das fotos: Rute Pardini Braga

Contra-capa do livro


















É com inusitada e sempre grata surpresa que vemos sair da pena de ABGAR ANTÔNIO CAMPOS TIRADO mais uma obra de sua autoria que acolhemos com o maior entusiasmo. Desta feita, estou falando do livro "O GINÁSIO (COLÉGIO) SANTO ANTÔNIO E OS FRANCISCANOS", riquíssimo em todos os aspectos: primeiro na diagramação, a cores sempre que possível; depois, na farta e variada documentação que obrigou o autor Prof. Abgar e seu editor LUIZ ANTÔNIO TEIXEIRA RODRIGUES a resumirem o material acumulado durante anos a fio pelo primeiro; e, last but not least, a finalidade explícita de calcar a exposição dos temas e a história da obra franciscana em São João del-Rei sobre alicerces sólidos: a memória prodigiosa e o carisma do autor sempre fiéis ao script que havia traçado, perceptíveis ambos desde a primeira linha da obra. 

Por tais razões, professor Abgar, sobretudo nesta presente obra, revela-se um hábil memorialista, capaz de preencher 64 anos do século passado com histórias verídicas e fatos reais ocorridos dentro de um educandário são-joanense e de sua interface com a comunidade local, em particular, e com a comunidade de estudantes vindos de outras cidades, Estados e até de diferentes países, em geral. Claro que contribuíram grandemente para essas memórias de prof. Abgar as estreitas ligações de sua família e pessoais com os franciscanos, criando vínculos que permaneceram por toda a vida, conforme reconhece em capítulo próprio (p. 271 a 274), onde Abgar confessa que "seriam muitos os frades que sempre visitavam nossa casa, quer à Rua Padre José Pedro, 212, quer na residência atual, à Rua Gonçalves Coelho, 159".

Ginásio Santo Antônio em São João del-Rei, MG

Alguns pontos merecem ser destacados nesta resenha:
1) NA INTRODUÇÃO (à guisa de prefácio

O editor Luiz Antônio Teixeira Rodrigues, em "O legado franciscano perpetuado pela memória do professor Abgar", apresenta a obra, depois de acompanhar passo a passo a sua evolução. Desta forma sintetiza magnificamente o seu mister: 
"extrair do autor suas memórias e seus conhecimentos sobre os freis e o Ginásio Santo Antônio foi e é... um deslumbramento. Que memória fantástica, que vivência profunda, esta de Abgar e o Ginásio. Considero Abgar o guardião-mor desta parte da história de São João del-Rei, que precisa e merece ser continuamente recontada e estudada." (p. 8) 

Ainda na Introdução se encontram as memórias de um ex-aluno, Geraldo de Paula Guimarães, que, no início da década de 50 do século passado, via 
"das mais distantes plagas, deste ainda gigante Brasil, acorrerem jovens para se saciarem na fonte de conhecimento em que se transformou esse educandário (Ginásio Santo Antônio), mercê de seus competentíssimos educadores. A safra que dali sai constantemente é incalculável: médicos, dentistas, engenheiros, advogados, cidadãos da mais alta estirpe se espalham por todo o País, depois de ali se lapidarem como pedras preciosas para a nação." (p.8) 

2) NA ABERTURA (a título de epígrafe

O Tempo 

Em seu galope frenético e mágico, 
Transforma, num átimo, 
O futuro longínquo em passado remoto, 
Quase estrangulando o presente. 
Ou seria tudo um presente permanente? 
Mas o fato é que pessoas e acontecimentos, 
Em plena atuação no palco da vida, 
Logo são tirados de cena, 
Como que arrebatados por forças etéreas, 
Que os afastam para cada vez mais longe, 
Adentrando-se nas brumas do que já não é. 

Abgar  Antônio  Campos  Tirado

3) A OBRA EM SI (p. 15 a 323) 

Para início de conversa, surge logo a pergunta: "Desde quando o memorialista Abgar tem trabalhado neste tema?" Na "entrevista ao Jornal dos Estudantes (JE)" (p. 15 a 17) publicada em maio de 1987 pelo diretor e redator chefe João Paulo Guimarães e reproduzida no livro, Abgar explica tudo sobre sua pesquisa: 
"(...) O trabalho foi feito de forma crescente, começou aproximadamente em julho de 1984, com um pequeno artigo meu sobre os frades, publicado pelo jornal "Tribuna Sanjoanense", comemorando os oitenta anos da vinda dos franciscanos holandeses para São João del-Rei. Em seguida, como pretendia no segundo semestre de 1984 fazer uma palestra na Academia de Letras de São João del-Rei sobre o referido evento, ampliei minhas pesquisas, dispondo os frades rigorosamente de acordo com a data de nascimento de cada um, dentro das fases da vida do (Ginásio) Santo Antônio. (...) O trabalho, na forma atual, foi realizado a partir de um pedido do prof. Mauro Mendes Villela, da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, o qual pretendia editar um livro sobre o nosso Colégio Santo Antônio, solicitando minha colaboração. Como eu já tinha os tópicos anotados, em cerca de quinze dias, aproveitando momentos folgados, redigi o trabalho, concluindo-o a 09/10/1985. (...) Ressalto que a seção "Docentes não frades", funcionários e alunos notáveis foi redigida de 05 a 06 do corrente (maio/1987), a pedido do JE." 
Respondendo à pergunta do JE sobre as fontes de pesquisas, prof. Abgar disse: 
"Antes de tudo, as fotos. Para as datas de nascimento e de morte dos frades, consegui emprestados três números de uma publicação franciscana denominada "Conspecto", dos anos de 1950, 1968 e 1983. O mais difícil foi selecionar dentre todos os frades da Província (de Santa Cruz) os que haviam passado pelo (Ginásio) Santo Antônio. (...) Em algumas dúvidas tive também a preciosa colaboração de frei Helano van Koppen, o.f.m., historiador franciscano, bem como de frei Seráfico. (...) Usei também o opúsculo publicado pelo próprio Ginásio intitulado "Notas Históricas", cobrindo o período de 01/02/1914 a 01/08/1926."
Sobre a contribuição que esperava dar à comunidade com este trabalho, prof. Abgar assim se expressou: 
"a de procurar manter viva a memória de pessoas e de uma Entidade que tudo procurou dar de si para o bem de nossa gente. Que, podendo os possíveis leitores tomar conhecimento, pálido embora, do gigantesco trabalho dos franciscanos, não permitam que o esquecimento sobre essa obra estenda seu manto e que, sobretudo, pelo valioso exemplo deixado, junto com os franciscanos que ainda felizmente permanecem entre nós, procure-se fazer o Bem sempre e em toda parte." 

A "carta de frei Geraldo de Reuver" (p. 18 e 19) é um testemunho eloquente da veracidade da entrevista ao Jornal dos Estudantes e o prof. Abgar fez constar o texto dela na íntegra, pois tem em conta de uma autoridade a opinião abalizada do prezado mestre e regente do Coral de alunos externos do Ginásio Santo Antônio. Em outras partes do livro, prof. Abgar presta reverência e homenagem a frei Geraldo, mas especialmente quando trata dos "Piqueniques ginasianos" (p. 151 a 153) e de dois capítulos dedicados especialmente a ele (p. 170 a 175). 

Em "A Chegada dos frades menores a São João del-Rei" (p. 22 e 23), prof. Abgar fala de visita inicial (em 28/07/1904) do Pe. frei Patrício Meijer (1867-1925) ao então vigário da Matriz de N. Sra. do Pilar, Monsenhor Gustavo Ernesto Coelho, em cuja residência se hospedou, na rua Santo Antônio. Pouco depois, o referido frade alugou a casa de nº 20 da mesma rua (onde nasceu Pe. José Maria Xavier), onde, no final de outubro de 1904, recebeu seu confrade, Pe. frei Cândido Vroomans (1868-1937). O texto menciona que foi de Monsenhor Gustavo a iniciativa de trazer para São João del-Rei os membros da Ordem dos Frades Menores. Junta também um histórico da autoria de frei Joel Postma sobre os primeiros freis em nossa cidade, publicado no Blog do Braga, a pedido de seu gerente. 

Para não incomodar o leitor com múltiplos e variados detalhes que possam tornar cansativa essa breve resenha e para não extrapolar os limites do espaço para tal, venho a seguir resumir em subtítulos os capítulos ou tópicos abordados pelo livro, todos fartamente ilustrados, a partir dos primórdios, e relacionados sob o título geral "A história do Ginásio (Colégio) Santo Antônio e os franciscanos": 
Em 1909 os frades inauguravam o primeiro educandário 24 
O crescimento do educandário exigia construção de um prédio 28 
As virtudes de um ensino rico em todos os ramos do saber 33 
Fases da vida do Colégio Santo Antônio 50 
Os frades da primeira fase 51 
Os frades da segunda e terceira fases 58 
Frades assistentes espirituais 78 
Os frades leigos 81 
Docentes não-frades, funcionários e alunos notáveis 85 
O dia-a-dia no Colégio 90 
Costumes pitorescos dos frades 92 
Cronologia dos diretores do Colégio Santo Antônio 96 
Na noite de 31 de maio de 1968 o ginásio pegava fogo 98 
A extinção do internato consolidou o fim do ginásio 102 
Os fatos após a extinção do colégio 105
Os franciscanos em São João del-Rei 109
Notas avulsas 111 
A Paróquia de São Francisco de Assis 117 
A Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis 125 
A Ordem Franciscana Secular 127 
Síntese cronológica da Província da Santa Cruz 128 
Uma visita de magna importância 130 
Primeira Missa de Dom José Eudes 132 

A segunda parte do livro trata das "Memórias Franciscanas", que são abordadas sob os seguintes subtítulos específicos: 
O internato do saudoso Colégio Santo Antônio 134 
Franciscanos, cem anos em São João del-Rei 141 
Os noventa anos de vida da antiga capela 145 
Piqueniques ginasianos 151 
Frei Norberto Beaufort 155 
Como se deu o desastre: Narrado por Frei Norberto Beaufort 162 
Minha Prece - Prof. Domingos Horta 166 
Dois fatos tristemente inesquecíveis 168 
Frei Geraldo de Reuver  (I)  170 
Frei Geraldo de Reuver (II)  173 
Mestre Gamaliel e o Frade 176 
Frei Metelo 178 
Frei Seráfico 181 
Frei Seráfico, sacerdote e educador - In memoriam 183 
Mensagem de despedida de Frei Seráfico à E.E.C.O.L. 191 
Frei Jordano   (I)  193 
Frei Jordano   (II) 197 
Frei Felicíssimo Mattens 200 
Frei Bertrand 206 
Frei Joel Postma 211 
Frei Clemenciano, Helano, Berardo e Feliciano 214 
Dois sacerdotes franciscanos falecidos em 2018 222 
Frei Júlio Berten e Frei dr. Paulo Stein 224 
Frei Orlando Rabuske 226 
Frei Eugeniano, o Petit 230 
Frei Cândido 234 
Frei Lourenço, o "frei Lau" 239 
Os frades sempre presentes 242 
Lembranças do convívio franciscano 245 
Corpus Christi e Missas de Requiem no Ginásio 257 
Um fato muito estranho 259 
Meu tempo de coroinha 261 
Passeio ao Seminário de Santos Dumont 267 
Minha ligação familiar e pessoal com os franciscanos 271 
São João do passado - colégios 275 
I Encontro de ex-alunos 278 
Colégio Santo Antônio 282 
II Encontro de ex-alunos 284 
A palavra de frei Serafim 287 
O bom Jordano - por Antônio C. Tirado 292
Jornal "O Porvir" - Homenagens a Frei Norberto Beaufort 293 

Boa leitura e deleite-se com as sábias páginas do livro "O GINÁSIO (COLÉGIO) SANTO ANTÔNIO E OS FRANCISCANOS"!

Fonte: TIRADO, Abgar Antonio Campos: O GINÁSIO (COLÉGIO) SANTO ANTÔNIO E OS FRANCISCANOS, editor Luiz Antonio Teixeira Rodrigues, 2019, 323 p.

quinta-feira, 28 de março de 2019

EVENTO INESQUECÍVEL: EXPOSIÇÃO DE PINTURA EM OURO PRETO EM 2014

  
Por Dr. Mario Pellegrini Cupello



Artigo publicado originalmente no "Informativo AVL-Ano XI", nº 129 – verso – edição de julho/2014.


O renomado Pintor mineiro Milton Passos, membro correspondente da Academia Valenciana de Letras, realizou uma Exposição de suas telas no salão nobre da Casa dos Contos, em Ouro Preto/MG, com início em 18/06/2014. A Exposição se prolongou até a primeira semana de julho daquele ano.
Foto da Exposição na Casa dos Contos
O concorrido evento, em que compareceram mais de 10.000 visitantes, entre os quais inúmeros turistas estrangeiros, chamou a atenção pela beleza dos quadros. 

Há mais de quatro décadas, Milton Passos vem retratando a paisagem colonial de Ouro Preto com rara sensibilidade e emoção, como se fora um legítimo ouro pretano, embora tenha nascido no povoado de Felipe dos Santos, em Barra Longa. 

Elizabeth e Mario com o Pintor Milton Passos diante da tela 
constante do Convite da Exposição
Tela retratando a Festa de Santa Cruz - Ouro Preto
À esquerda, a Casa dos Contos em dia de chuva



Tela retratando o Pintor Guignard
Um amplo painel à entrada da Exposição contém uma "Apresentação" sobre o autor e seu estilo de pintura.


Esse texto é de autoria do Arquiteto Mario Pellegrini Cupello, que assim se expressou sobre Milton Passos e sua pintura: 
Em suas telas, sempre atraentes e de cores vibrantes, o Pintor Milton Passos consegue captar das cidades mineiras, em especial Ouro Preto, a luminosidade aliada à singeleza do casario colonial. Com rara maestria, usa a espátula em substituição ao pincel, uma técnica que ele domina em parceria com o desenho e a tinta, expressando-se em cada ponto da tela, na intrigante e difícil arte do espatulado. Com ela dá vida e forma, luz e sombra, precisão e excelente perspectiva, o que resulta em uma visão quase tridimensional. A quem olha suas telas, faz crer que ele retira do casario as tintas com que foram pintados nos séculos XVIII e XIX, transferindo-as para seus quadros, tamanha a autenticidade de sua pintura. Mas Milton Passos é também uma artista eclético, autodidata, de personalidade irrequieta e criativa, de extraordinário bom gosto. Na presente exposição, na histórica Casa dos Contos, Milton vai de Guignard a Lucian Freud, deste fazendo uma composição a partir de dois quadros, sendo um deles bastante famoso: a "Mulher no Sofá". Sua pintura é de estilo próprio, em direção ao impressionismo, onde são surpreendentes, não só um céu pleno de nuvens, como os motivos de ventania, chuva e neblina, também constantes em suas obras. Pela proporção bem colocada, pelas formas e perspectivas bem lançadas, visitar Ouro Preto é possível através das telas de Milton Passos: são janelas abertas para o rico cenário ouro pretano.
Mario Pellegrini Cupello - Arquiteto
Presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto 
Ao Pintor Milton Passos, as nossas felicitações e as da Academia Valenciana de Letras pelo brilhantismo de sua Exposição.

segunda-feira, 25 de março de 2019

HÁ 2 SÉCULOS NASCIA O BENEMÉRITO PADRE-MAESTRO JOSÉ MARIA XAVIER (☆ 1819-✞ 1887)


Por Francisco José dos Santos Braga

Foto oficial do Pe. José Maria Xavier restaurada pelo historiador Silvério Parada (de batina, em pé, com sua clarineta italiana nas mãos, no quintal de sua casa na Rua da Prata)


I.  INTRODUÇÃO

Para comemorar o jubileu da morte do sacerdote-maestro, em 22 de janeiro de 1937, o jornal são-joanense A TRIBUNA fez a cobertura das homenagens que lhe foram prestadas em S. João del-Rei, por ocasião do transcurso do 50º aniversário de sua morte (ocorrida em 22 de janeiro de 1887).

Isto posto, decidi reproduzir o mesmo texto em homenagem aos 200 anos de nascimento do sacerdote-Maestro José Maria Xavier (1819-2019).


II. Texto de A TRIBUNA, edição nº 1361, de 24 de janeiro de 1937.

Pe. José M. Xavier 

A 22 deste, fez 50 annos que falleceu, nesta cidade, o insigne compositor patricio Padre José Maria Xavier. 

Victima de uma queda, mezes antes, quando podava o arvoredo do seu jardim, os seus males foram se aggravando dia a dia, até o desenlace fatal, que se deu na tarde do dia 22 de Janeiro de 1887. 

O seu sepultamento foi uma apoteose; a cidade em peso, consternada, rendeu as mais tocantes e sinceras homenagens ao virtuoso sacerdote-maestro. 

São innumeras as composições do Pe. José Maria: diversas matinas, missas, ladainhas, novenas, sólos ao pregador, antiphonas e Tantum-Ergo, partituras completas da Semana Santa, que fallam ao coração e enternecem o espirito, como os Officios de Trevas, as suaves e expressivas melodias do Popule meus, Domine tu mihi lava pedes, Adoramus e outras musicas sublimes, que só um sacerdote servido por uma grande intelligencia e um sensibilissimo espirito de arte poderia compôr. 

Ainda hoje, meio século passado, as maravilhosas obras musicaes do grande compositor concorrem, de um modo singular e tocante, para o brilhantismo das commemorações da Semana da Paixão. 

"Quem nunca assistiu os Officios da Semana Santa em S. João del Rey, mal póde fazer ideia dos primores estheticos da musica sacra do Pe. José Maria. 
Para bem aquilatal-os é necessario alguma instrucção, não qualquer, mas de historia". 

O Padre José Maria Xavier éra filho do alferes João Xavier da Silva e de sua mulher, d. Maria Benedicta de Miranda. Nasceu nesta cidade, à rua de Santo Antonio, hoje nº 20, no dia 23 de Agosto de 1819. Foram seus professores Reginaldo Pereira de Barros, conego José Antonio Marinho e o dr. Domingos da Cunha. Ordenou-se em 19 de Abril de 1849 e cantou a sua primeira missa na Igreja Matriz desta cidade, a 23 de Maio, dia da Ascenção do Senhor. 

Em 1872, foi-lhe concedida, pela 5ª Exposição Industrial Mineira, medalha de prata "pelas mimosas composições sacras". Nomeado vigário de Rio Preto, onde esteve pouco tempo, para aqui regressou afim de leccionar no antigo Collegio Duval. Foi provedor da Santa Casa de Misericordia, no anno de 1879 a 1880. Presidiu ininterruptamente, durante 12 annos, a Conferencia Vicentina de N. Senhora do Pilar e, nesse cargo, prestou relevantes serviços à população, por occasião da epidemia de variola, que então grassava assustadoramente nesta cidade. 

O venerando e pranteado sacerdote foi inhumado na capella do cemiterio do Rosario, hoje demolida, onde ainda se lê, sobre simples e tôsca lápide, a seguinte inscripção: 
Restos mortaes do Reverendo
José Maria Xavier
22 de Janeiro de 1887
Requiescat in pace


Jornal A TRIBUNA, Anno XXIII, São João del-Rei, edição nº 1.361 de 24/01/1937

Transcrevemos abaixo o seu testamento que retratava, fielmente, as virtudes que ornavam um caracter sem jaça, a humildade e fé ardentes do sempre lembrado sacerdote, cuja memoria muito honra a terra sanjoannense: 
IN NOMINE DOMINI. AMEN. 
Aproveitando eu, abaixo assignado, o conhecimento consciencioso que ora tenho de meu estado normal de saude e de intelligencia regular, escrevo aqui reflectidamente o meu laconico Testamento civil. 
E começo, como Sacerdote orthodoxo, por fazer e confirmar a minha solemne Profissão de fé implicita e adherente a todos os Dogmas e ensinamentos da nossa Santa Madre Igreja Catholica e Apostolica Romana, abraçando, com Ella, toda a Verdade revelada e luz interpretada, e, com Ella, reprovando e anathematizando todo o erro opposto, heresia, impiedade, proposições, sociedades e systhemas condemnados. Assim... até o derradeiro suspiro. 
A todas as pessoas que tenhão por ventura qualquer ressentimento ou offensa de mim eu peço perdão; e como jamais guardei, nem guardo, semelhantes sentimentos contra ninguem, seria ocioso agora o meu perdão. São meus testamenteiros os meus Sobrinhos Daniel Antonio de Paiva, Antonio Gomes Pedroso e Antonio Justiniano de Paiva, successivamente: premio, a vintena legal: prazo para contas, um anno. Por minha pobre Alma dir-se-hão as Missas de corpo presente possíveis no lugar; depois, quero mais dez Missas segundo minha intenção, e outras dez para suffragar meus paes e irmãos fallecidos. 
À minha irmã Marianna Guilhermina da Camara eu faço Usufructuaria dos remanescentes de meus poucos bens: e a todos os meus nove Sobrinhos e Sobrinhas (ou os que existirem) eu instituo herdeiros iguaes dos meus bens por morte della. Proponho à Mesa da Santa Casa de Misericordia o seguinte contracto: se esta Casa se obrigar a fazer commemorar o meu anniversario, cada anno, com uma Missa perpetuamente, o meu testamenteiro fará transferir e averbar em nome da mesma Casa a unica Apolice que eu possúo de um conto de réis da Divida publica nº 39.897. Para algumas outras minudencias dirijo, nesta data, uma Carta de consciencia ao meu testamenteiro, de cuja prestação de contas, nesta parte, requeiro, seja elle dispensado. 
Quanto ao meu corpo, materia inerte e putrida, e que servio como instrumento de peccados por mais de sessenta annos, merecia (philosophicamente fallando) ser agora atirado para o esterquilinio publico, bem entaipado para não infeccionar aos transeuntes sobreviventes (simples questão de salubridade e hygiene publica); mas como, alem do dogma da futura resurreição da carne, o corpo servio igualmente de morada a um espirito intelligente, responsavel e incorruptivel, e com este recebeo conjunctamente Sacramentos e varias Uncções Sagradas, quer a Santa Igreja, com todo o fundamento e sabedoria, que este corpo seja acercado de respeitos, e sepultado em terreno benzido.
Eu, de bom grado obedecendo a Igreja sem restricções, recommendo, ainda assim, toda a ausencia de pompa e muita simplicidade: mortalha de padre lisa, caixão coberto em lã preta, sem galões, tendo a cruz branca sacerdotal: enterro diurno segundo o Ritual Romano, sem preceder convite algum de préstito, excepto o do Clero e a simples chamada do sino; e a sepultura, no Cemiterio do Rosario.

Em vez de corôas, marcha funebre, mausoléo, flores, poezias e necrológios eu prefiro e peço, pelo amor de Deos e por caridade, alguns Padre Nossos e outros suffragios constantes. 
Eis o meu Testamento legalisado que os Tribunaes farão executar. 
S. João d'El Rey, 13 de Junho de 1885. 
Pe. José Maria Xavier 

Esta ephemeride não passou despercebida. A orchestra "Lyra Sanjoannense", da qual o compositor conterraneo éra parte integrante, promoveu as seguintes homenagens: Missa solemne, com Libera me, visita ao seu tumulo, e à tarde, retreta pela banda do 11º Regimento, em frente à herma do grande musicista.


Testamento do Pe. José Maria Xavier lavrado em 13/06/1885


 III. AGRADECIMENTOS


Ao Escritório do IPHAN de São João del-Rei e à Biblioteca Municipal "Baptista Caetano de Almeida", que colocaram à minha disposição funcionários e o excelente acervo de testamentos e periódicos respectivamente para a realização desta pesquisa; à minha esposa Rute Pardini Braga, pelas fotos tiradas e editadas para os fins desta matéria, e ao confrade Silvério Parada pela cessão da única foto oficial de Pe. José Maria Xavier, restaurada por ele em 2012.


terça-feira, 19 de março de 2019

CLUB MUSICAL RIBEIRO BASTOS


Por Francisco José dos Santos Braga

Martiniano Ribeiro Bastos (São João del-Rei, 1834-1912) - 
Crédito: Dr. Flávio Henrique da Silveira


I. INTRODUÇÃO 


O jornal são-joanense Gazeta Mineira, no Ano VIII, na edição nº 364 de 16 de setembro de 1891, página 2, registrou um concerto executado pelo Club Musical Ribeiro Bastos, na casa do professor Guilherme Barreto, quatro dias antes, em sessão extraordinária. [GUERRA, 1968, 76] menciona que "era diretor destes concertos o professor Jacinto de Almeida". 

Sobre o Club Musical Ribeiro Bastos, José Maria Neves assim se refere in Panorama musical em São João del-Rei
"(...) A orquestra possui importante coleção de manuscritos musicais, constituído principalmente de obras destinadas às celebrações religiosas de sua responsabilidade, como também inúmeras partituras de músicas de salão do final do século XIX e início do século XX, quando muitos de seus músicos tocavam para o cinema mudo.
Nesta época, a Ribeiro Bastos participou ativamente de espetáculos profanos, como a 'Festa Musical da Orquestra Ribeiro Bastos', em 1888, quando o grupo se apresentou antes de uma peça teatral. Esta prática musical acabou por propiciar a formação do Clube Ribeiro Bastos, que promoveu concertos até pelo menos 1936. Entre 1901 e 1920, o Clube organizou uma série dos chamados Concertos Populares, nos quais revelou importantes obras do repertório sinfônico e de câmara à comunidade são-joanense.
Até a primeira metade do século XX, a Ribeiro Bastos possuía orquestra e banda para atender às procissões e festas profanas. Uma desavença entre os músicos fez nascer a Banda de Música Theodoro de Faria, que assumiu os compromissos musicais da Banda Ribeiro Bastos.
A formação de jovens músicos sempre foi uma preocupação da Orquestra Ribeiro Bastos.(...) 
Fonte: https://saojoaodelreitransparente.com.br/projects/view/156 

Martiniano Ribeiro Bastos adotava como método o “aprender fazendo” dentro da orquestra, em que os mais velhos ensinavam aos mais novos – e que se mantém até hoje -; ele acolheu quem não podia estudar em escolas formais, fez de sua casa na Rua da Prata quase um abrigo para músicos, desenvolveu talentos e manteve a orquestra sempre cheia.

Entre seus muitos discípulos, destacam-se os irmãos compositores Firmino e Presciliano Silva, o compositor João Francisco da Matta, o violinista Jafé Maria da Conceição e os dois maestros que o sucederam na direção da Ribeiro Bastos, João Evangelista Pequeno (1867-1949) e Telêmaco Neves (1898-1950), este último pai da maestrina Maria Stella Neves Valle (1928-2013) e de José Maria Neves (1943-2002). 


II. TEXTO DA GAZETA MINEIRA DE 16/09/1891: CONCERTO DO CLUB MUSICAL RIBEIRO BASTOS 


No dia 13 realizou o Club Musical Ribeiro Bastos, na casa do distincto professor Guilherme Barreto, um concerto extraordinario, sendo executado o seguinte

 PROGRAMMA 

Primeira parte

D. Juan - Mozart - Quartetto de Paul Wagner - pela orchestra.
Berceuse - Melodia de Gabriel Fauré para violino, violoncello e piano, pelos srs. Japhet, Americo da Conceição e professor Jacintho de Almeida.
Il Fiorellino - Melodia de Leopoldo Mililotti - Obsequiosamente pela exma. sra. D. Laura de Magalhães.
Celebre minueto de Boccherini - Quartetto para cordas, pelos srs. Francisco Victor de Assis, Martiniano Viegas, Japhet e Americo da Conceição.
Duetto da "Gazza Ladra", pela exma. sra. d. Zica Barreto e professor Jacintho, acompanhados ao piano (obsequiosamente) pela exma. sra. d. Balbina S. Thiago.

Segunda Parte

Serenata de Widor, pela orchestra, executando a parte de piano a exma sra. d. Balbina Mourão e a de harmonium a exma. sra. d. Balbina S. Thiago (obsequiosamente).
Stella d'oro - Melodia de Luigi Denza para barytono, pelo professor Jacintho de Almeida e exma. sra. d. Balbina S. Thiago.
Fantasia para violino e piano por Georg Wichtl, pela menina d. Eugenia Ferreira e o sr. Japhet da Conceição.
Pietà, signore - Aria e coro da "Força do Destino", pela exma. sra. d. Francisca Emilia de Andrade, coro da Conceição e do club.
La Gitana - Grande valsa de Ernest Bucalossi.
Vorrei morire, pela exma. sra. d. Laura de Magalhães (obsequiosamente).

De justos applausos forão alvo todos os amadores e professores que tomárão parte neste magnifico concerto.

Si devêssemos dar conta das peças que causárão mais viva impressão, não esqueceríamos a bellissima Serenata de Widor, que é de um effeito surpreendente e que teve uma execução primorosa.

O professor Jacintho, director dos concertos, e a exma. sra. d. Zica Barreto sairão-se galhardamente do difficil duetto da "Gazza Ladra".

A exma. sra. d. Francisca de Andrade, apezar de indisposta e de haver escolhido uma aria que exige muito, não comprometteu a sua parte, que prendeu todas as attenções, e que foi muito realçada pelo effectuoso côro cantado internamente.

A exma. sra. d. Balbina S. Thiago, a amadora emerita, que conta um triumpho em cada uma das vezes, infelizmente poucas, que se exhibe, dispensa elogios que serião a repetição de quantos lhe temos endereçado, como echo de todos que a têm apreciado.

A exma. sra. d. Balbina Mourão e a menina Eugenia Ferreira agradarão tambem muito.

A orchestra mostrou-se disciplinada e de magnifico desempenho a animada valsa que fechou o programma.

Vê-se que foi uma noite deliciosa a que passárão aquelles que tiverão a dita de assistir ao concerto.

A sala é um pouco acanhada, o que não deixa de prejudicar o effeito das musicas, além de não comportar a numerosa e distincta concurrencia que affluiu ao concerto de que tratamos.

Esta folha se fez representar e bem assim a Patria Mineira e a Locomotiva pelos seus redactores, os srs. Sebastião Sette e Altivo Sette.

Após o concerto houve um chá muito bem servido.

Só temos saudações e encomios para o animado club que, unico, sustenta as tradições de nosso amor pela musica, tão vulgarisadas fóra daqui.

Além de bons instrumentos de corda e de sopro, possue esta sociedade um piano de primeira ordem.

À directoria, portanto, e aos socios todos cumpre não regatear esforços, para que um club tão bem organizado não decaia nunca e antes caminhe em crescente desenvolvimento.

A sua directoria actual é constituida pelos srs. Francisco Ferraz, Francisco S. Thiago, Francisco Chagas e Francisco Ferreira.







 III. AGRADECIMENTO


Ao Escritório do IPHAN de São João del-Rei, que colocou à minha disposição funcionários e o excelente acervo de periódicos para a realização desta pesquisa; e à minha esposa Rute Pardini Braga, pelas fotos tiradas e editadas para os fins desta matéria.



 IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



Gazeta Mineira: periódico são-joanense (que circulou de 1884 a 1894), no Ano VIII (1891), na edição nº 364 de 16 de setembro, página 2.

GUERRA, Antônio. Pequena história de teatro, circo, música e variedades em São João del-Rei - 1717 a 1967. Juiz de Fora: Lar Católico, 1968, 327 p.

NEVES, José Maria: Panorama Musical em São João del-Rei, in portal São João del-Rei Transparente.


quinta-feira, 14 de março de 2019

O JORNALISMO SANJOANNENSE NOS FINS DO SECULO XIX


Por Basílio de Magalhães

DD. Patrono do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei




Para commemorar a maioridade legal a que atingiu “A Tribuna”, folha volante na qual puz muito do meu espirito e do meu coração, seja-me licito recordar (o que é tão grato aos velhos) algumas personalidades notaveis do jornalismo sanjoannense da “quadra azul” da minha mocidade.

A Antonio de Castro Moreira
que dirigia a “Gazeta Mineira”, editada então nos baixos do sobrado da Rua Direita, onde mora actualmente a distincta familia Ferreira, devi o aprender a arte typographica, que elle me ensinou com paciente carinho, dos ultimos mezes de 1888 a começos de 1889. No dito orgam conservador scintillavam então as penas dos drs. João Salustiano Moreira Mourão e Francisco de Paula Moreira Mourão (depois Francisco Mourão Senior), sendo firmadas com o pseudonymo de “D. Jasmim” as chronicas do primeiro desses illustres sanjoannenses.

A esse tempo, já eu frequentava as aulas de humanidades do Externato, onde tive por mestres, em 1887 e 1888, a Antonio Rodrigues de Mello, Manuel Jorge Rodrigues, Severiano de Resende, dr. Balbino da Cunha, João Baptista Maciel e João Baptista Sampaio. Mas, no ultimo dos citados annos, foi nomeado professor de inglez Sebastião Rodrigues Sette e Camara, a quem devo a verdadeira formação e o sentido definitivo da minha actividade intellectual. Si Antonio Rodrigues de Mello foi o professor austero e amigo devotado,
que me guiou os primeiros passos no curso propedeutico, Sebastião Sette foi o apostolo convincente, que me arrancou do fetichismo dos principios monarchicos para a positividade do ideal republicano.

Não me esquecerei nunca do sorriso, tão bondoso quanto ironico, de Antonio de Castro Moreira, quando delle me despedi, alegando incompatibilidade politica, para mourejar nas officinas da “Patria Mineira”, o primeiro periodico republicano surto em São João del-Rey, sob a direcção de Sebastião Sette, e instalado no primeiro andar do sobrado, substituido recentemente pelo arranha-céus Lombardi, onde hoje funcciona o hotel Macedo.

Sebastião Sette era um nephelibata em politica. O seu formoso e culto espirito pairava sempre nas maximas alturas. Das viagens que realizara pelo velho mundo e pela America do Norte, trouxera uma alma nova, nimbada de alcandoradas aspirações. Sonhava para o Brasil todos os requintes da civilização e da cultura. Desinteressado, como foi, na grande, tenaz e limpida peleja democratica pela abolição e pela republica, o seu unico premio foi a realização daqueles magnos objectivos.

Sob a sua chefia e ao lado do indeslembravel Altivo Sette, trabalhei como typographo e auxiliar de redação na “Patria Mineira”, e guardo, com o mais comovido reconhecimento, a collecção da folha, que Sebastião Sette me ofereceu, com palavras que considero a verdadeira condecoração espiritual da minha adolescencia.

Poeta e prosador de linguagem castiça e elegante, conhecendo bem as obras-primas da literatura universal, formou Sebastião Sette em São João del-Rey um verdadeiro cenaculo, em que vi e ouvi muitas vezes a Modesto de Paiva, Manoel Jorge Rodrigues, João Netto, Paulo Teixeira, João de Magalhães, Fausto Mourão, João Baptista Gonzaga e outros, que se votavam então ao culto das Musas.

Alem delles, brilhavam, a esse tempo, nas letras sanjoannenses, dois jovens talentos de primeira grandeza: José Severiano de Resende, fallecido não ha muito em Paris; e João Martins de Carvalho Mourão, hoje insigne ministro da Suprema Côrte. Si este, que em São Paulo e ahi deu à estampa lindos versos, houvesse seguido a sua vocação esthetica, rivalizaria, sem duvida, a tal aspecto, com o consagrado autor dos primorosos “Painéis zoologicos”.

Ao tempo em que culminava, por todo o Brasil, a atrevida refrega intellectual para derribar o throno bragantino,
publicavam-se ahi tres orgams politicos: a “Gazeta Mineira”, pertencente aos Moreiras e Mourões, a que já fiz referencia e que obedecia à orientação conservadora de dois deputados geraes, os drs. Aureliano Martins de Carvalho Mourão e José Martins de Carvalho Mourão, aquelle advogado e este medico, ambos de assignalado prestigio na Princeza do Oeste; o “Arauto de Minas”, dirigido por Severiano Nunes Cardoso de Resende, e em cujas columnas fulgiam os formosos talentos de José Severiano de Resende e Carlos Sanzio de Avellar Brotéro, este ultimo um dos mais pertinazes e ousados batalhadores da politica sanjoannense; e, finalmente, a “Patria Mineira”, na qual, em começo, collaboravam assiduamente o padre Camillo de Britto, Paulo Teixeira e outros, e, mais tarde, isto é, após o advento da Republica, Francisco de Paula Pinheiro, e o dr. Affonso de Azevedo, bem como duas illustres senhoras, cujos nomes declino com a mais sincera veneração, dd. Marieta Rocha e Elisa Lemos, desta depois Elisa Lemos Sette, segunda esposa de Sebastião Sette, e cuja digna prole honra a memoria de ambos.

Devo, agora, dizer algo de dois ephemeros hebdomadarios, a um dos quaes ficou vinculado o meu nome.

Primeiro foi a excellente revista “O Domingo”, fundada ahi por Manuel Jorge Rodrigues, poeta e professor de francez (era espirito-santense), a cujo lado se enfileiraram muitos escriptores de escól, tambem conversados das musas: Modesto de Paiva, Carlos Sanzio, João Netto e José Braga, este natural de Juiz de Fóra e que ahi esteve alguns annos, indo morrer em São Paulo por volta de 1898, depois de publicar um excellente livro de prosa. João Netto (não sei si carioca ou espirito-santense) fazia chromos não inferiores aos de B. Lopes; ainda me lembro do começo do com que traçou o perfil da formosa Yayá Banhos: 
“Em seu rosto amorenado,
um nariz grego se ajeita...”
 
O outro foi “A Locomotiva”, fundada por Altivo Sette e por mim, pois era composta e impressa por nós dois nas officinas da “Patria Mineira”. Saía aos domingos e durou pouco mais de um anno; além de versos e prosa de ficção, tambem encerrava assacadilhas, por vezes bem fortes, aos nossos adversarios politicos, isto é, aos Mourões, da “Gazeta Mineira”, e aos Resendes do “Arauto de Minas”. Na “Locomotiva” fez o seu tirocinio jornalistico Sertorio de Castro, cujo nome ainda fulgura na grande imprensa do paiz.

Si a geração de agora, que ahi terça as pequenas armas de longo alcance, inventadas por Guttenberg, lesse as collecções dos orgams de combate politico que acima citei, Patria Mineira”, “Gazeta Mineira” e “Arauto de Minas”, veria que os nossos maiores daquelle tempo, pela cultura, pela nobreza dos ideaes e pela bravura com que se degladiavam, foram fidalgos expoentes da bella terra, cujos excelsos destinos defenderam.

Eu, que tive a fortuna de assistir-lhes aos incruentos recontros e de receber-lhes os proficuos ensinamentos, ora lhes relembro e bem-digo a nobre actividade intellectual ou, melhor, a sua “luta de gigantes”.

Sejamos dignos delles, a bem das altanadas tradições de civilização e de cultura de São João del-Rey.

 
Lambary, 3-IV-935

 
Fonte: A TRIBUNA, Anno XXI, S. João del-Rey, 7 de abril de 1935, nº 1.268. 

 














domingo, 10 de março de 2019

BIOBIBLIOGRAFIA DE BASÍLIO DE MAGALHÃES


Por Francisco José dos Santos Braga



BASÍLIO DE MAGALHÃES nasceu no local conhecido por "Cangalheiro", no Arraial de Sant'Ana de Barroso, freguesia da Borda do Campo em 1º/06/1874 (município de Barbacena) ¹, e faleceu na cidade de Lambari, MG, em 14/12/1957, aos 83 anos de idade, vítima de hemorragia cerebral. A respeito de Basílio, Fábio Nelson Guimarães, em extenso artigo no jornal Ponte da Cadeia, assim se manifestou: "Sua obra rescende a de um verdadeiro polígrafo: poeta, jornalista, folclorista, historiador, psicólogo, geógrafo, filósofo, educador, filólogo e esteta."

Basílio era mestiço e oriundo de classes sociais menos favorecidas economicamente. 

Um aspecto nebuloso da vida de Basílio diz respeito à sua ascendência paterna. No seu registro de batismo consta que era filho de Antônio Inácio Raposo e de Francisca de Jesus ² ; e seus padrinhos de batismo, Ladislau Artur de Magalhães e Belisandra Augusta de Meireles. Ocorre que seus pais (Antônio Inácio e Francisca) eram empregados na Fazenda Venda Grande, de propriedade de Ladislau, seu padrinho, para quem ambos prestavam serviços. O fato de levar o sobrenome (Magalhães) do padrinho pode indicar a possibilidade de Basílio ser filho biológico de Francisca de Jesus com o "padrinho" dele. Segundo o jornal Barroso em Dia, edição de 13/04/2015, Ladislau tinha chegado ao Brasil aos 15 anos de idade conforme passaporte expedido no distrito de Braga, em 22/05/1867. Em Barroso, Ladislau casou-se com Belisandra, com quem teve 6 filhos, todos residentes na Fazenda Venda Grande, enquanto criava seu afilhado Basílio no "Cangalheiro", pois os pais deste não possuíam condições financeiras favoráveis para tal. Em Barroso, Ladislau ocupou o cargo de inspetor escolar, nomeado em 28/11/1923. Participou do primeiro jornal de Barroso, "Atualidade", onde mantinha uma coluna literária. Participou ainda da criação do primeiro cinema de Barroso, o Cine Ideal. Ladislau faleceu em 31/07/1935.

Consta que, na ocasião da inauguração da Estrada de Ferro, mais tarde EFOM-Estrada de Ferro Oeste de Minas, ocorrida no dia 28/08/1881, Basílio, com apenas sete anos de idade, proferiu um discurso para recepcionar a comitiva imperial que passava pela estação da cidade de Barroso, com o qual impressionou a todos, atraindo para si não só credibilidade, mas também bolsa de estudos concedida por um membro da família imperial, que provavelmente tenha sido a Princesa Izabel. A partir desses acontecimentos, Basílio de Magalhães iniciou sua trajetória escolar exitosa.

Estudou preparatórios em São João del-Rei, matriculando-se na Escola João dos Santos ³, que era uma escola que oferecia ensino gratuito, além de livros e demais materiais didáticos necessários aos estudos, fundada e mantida nessa cidade pelo são-joanense Dr. João Batista dos Santos, Visconde de Ibituruna. Conforme noticiou o jornal local Gazeta Mineira (edição nº 19 de 17/04/1884, Anno I, p. 3), aos dez anos de idade, Basílio, como aluno, ia bem: 
"Dos 120 alunnos que frequentam a Escola João dos Santos obtiveram distinção Basílio Ladislau de Magalhães, Polyana Maria de Andrade e Antenor Marques Pinto. O primeiro prêmio Reginaldo de Barros medalha de ouro com o busto de S. M. o Imperador e a respectiva inscrição, coube ao alunno Basílio Ladislau de Magalhães."
[PINTO, 2005, 203] atribui o acréscimo do segundo nome (Ladislau), que era de seu padrinho, ou suposto pai, a uma possível interferência do mesmo na entrada de Basílio para a escola, fator determinante da sua ascensão social. Continua a autora: 
"Contudo, importa ressaltar que, independente de ser ou não filho natural de seu padrinho, o fato de Basílio de Magalhães ter sido criado até certa idade por ele pode ser considerado como um forte aspecto favorável a sua ascensão social, pois foi em companhia de seu padrinho que ele teve acesso às primeiras letras, fato fundamental para o prosseguimento nos estudos." 
Aqui já começa a se delinear uma qualidade do seu caráter, que pode ser considerada como favorável à trajetória de Basílio: a autodeterminação. Nos seus escritos pode-se ainda constatar a presença contante de autoconfiança, firmeza na expressão das ideias e busca insistente por seus ideais. 

No jornal monarquista são-joanense Gazeta Mineira (que circulou de 1884 a 1894), iniciou-se na arte tipográfica e nos trabalhos de auxiliar de redação, aos 15 anos de idade. Com o advento do jornal republicano A Pátria Mineira (1889-1894), fundado por Sebastião Rodrigues Sette Câmara, passou a colaborar com o citado jornal, emprestando-lhe seus conhecimentos tipográficos e jornalísticos; aí teve os primeiros contatos com as ideias republicanas que influenciariam sua obra. Paralelamente às atividades nesse último jornal, manteve o pequeno jornal A Locomotiva em parceria com Altivo Sette.

Por volta de 1892, seguiu para São Paulo, em busca de novos campos de trabalho. Obteve licença do Tribunal de Justiça, mediante provas de habilitação, para advogar no fórum de Campinas. Na mesma época foi revisor e colaborador do Diário Popular de São Paulo.

Por volta do ano de 1900, foi aprovado em concurso público para professor no Ginásio do Estado, em Campinas. Aí fundou e presidiu o "Clube de Comemorações Cívicas". Em Campinas, fundou e dirigiu o jornal Correio de Campinas, foi eleito vereador e exerceu o cargo de Delegado de Polícia.

Entre 1909 e 1910, Basílio atuou na Campanha Civilista, liderada por Rui Barbosa que alertava e alentava os espíritos liberais contra as práticas políticas viciadas que a República fora, aos poucos, adotando.

Em 1911, o Governador do Estado de São Paulo encarregou-o de fazer pesquisas no Arquivo Nacional e no Instituto Histórico, no Rio de Janeiro. Tais pesquisas foram mais tarde publicadas em oito volumes sob o título de "Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo".

No mesmo ano de seu ingresso no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1914), como sócio correspondente estreante, vamos encontrá-lo proferindo uma conferência em três sessões (de sexta-feira, 20/03, sábado, 21/03 e segunda-feira, 23/03)  no Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo (IHGSP), cujo tema era "O bandeirismo paulista", publicada pelo Correio Paulistano, edições nº 18.199, de sábado, 21/03/1914; nº 18.200, de domingo, 22/03/1914 e nº 18.202, de terça-feira, 24/03/1914, sempre na p. 2, na coluna "Instituto Historico". Curioso observar que o conferencista, dando início à sua fala, antes de entrar propriamente no assunto da sua palestra, na primeira sessão dirigiu-se ao auditório nos seguintes termos, em tom de memorialista: 
"Srs.: Desde annos muito em flor, quando, em geral, nos cerebros ainda em incipiente formação para a grande labuta da existencia predomina apenas o vivaz e dispersivo pendor para as doidivanices, peculiares dos que nasceram e se criaram no conforto e na fortuna, — a necessidade, de quem muito bem disse eminente pensador que é "ama de seios magros, porem que dá aos seus rebentos leite são e fortificante", arrojou-me ao trabalho, antes mesmo de haver attingido ao extremo da segunda edade.
Eu mal havia transposto os 13 annos, quando busquei conciliar os estudos de humanidades com o ganha-pão, e o conhecimento da arte typographica abriu-me emprego no primeiro orgam republicano que repontou no berço do meu conterraneo Tiradentes , "A Patria Mineira", onde um pugillo de crianças, das quaes é já viageiro do Além o nobre espírito de Altivo Sette, e aqui estamos apenas dois, Sertorio de Castro e eu, bebíamos sofregamente as lições de sciencias e letras e os altos ensinamentos de civismo que nos ministrava Sebastião Sette, hoje septuagenario, solida cultura e caracter sem jaça, e condemnado pela politicagem nefasta e mesquinha e estrabica ao ostracismo injusto, que elle suavisa num lar feliz, no remanso bucolico do tradicional Capão da Traição, o Mattozinhos de agora.
"A Republica Federal" de Assis Brasil, o primeiro livro politico que me cahiu em mãos para uma constante e proveitosa leitura e a propaganda dos novos ideaes, indefessa e acendradamente realizada por Sebastião Sette, fizeram-me preferir à promettida protecção da herdeira do throno de d. Pedro II, — da qual recebi, com gratidão, que sempre lhe guardo, uma bibliotheca de estudos propedeuticos, o mourejar de cada dia, a ardua conquista do pão material e do pão espiritual, e, simultaneamente, a audaciosa interpresa de combater o grande combate pela radical transformação politica de nossa Patria.
A crise auroral de 15 de novembro, — infelizmente não transmudada ainda na perenne luz de paz, de serena e inamolgavel justiça, e, emfim, de vera e civil democracia, que ajudei a pregar, — achou-me de atalaia, no baluarte da 'Patria Mineira', como a pequenina sentinella intimorata que servia de avisar, lá do alto do torreão onde scintillava a almenara, quer a apparição do inimigo, quer as alviçaras da victoria.
Norteou-me a vida, de então para cá, um consciente, um esclarecido, um ardoroso amor patrio, que não cede o passo a nenhum outro dos meus sentimentos. E, para maior felicidade minha, o restante da formação de meu espirito, — vim fazel-o aqui, nesta gloriosa Athenas brasileira, onde vivem e rebrilham, na imprensa, nos institutos scientificos e literarios, nas cathedras das escolas, e até nas tão requestadas posições da politica, os meus mestres, os meus camaradas e os meus discipulos.
Dizia sempre, e sempre escrevia de mim, quando gentilmente me offertava as suas producções poeticas, o velho satirico e bondoso padre que foi Corrêa de Almeida, — que eu era um 'mineiro apaulistado'.
É verdadeiro o asserto, — ouso proclamal-o alto e bom som.
Sem nunca olvidar o torrão natal, sem nunca perder as affeições que lá me redouraram a infancia e me acompanham como um resplendor saudoso e suggestivo, — aqui foi que completei a minha educação social e aqui, força é que eu pronuncie o termo necessario, foi que 'yankeezei' o meu espirito, plasmado pela febre de progresso, de praticidade, de arrojo, de perseverança, que uns restos do sangue dos bandeirantes punha na enfibratura desta gente hospitaleira, fidalga e emprehendedora, coadjuvada e cada vez mais impellida para deante pelo braço extrangeiro, que trouxe energias novas a se juntarem às energias deste admiravel povo paulista.
 ✶          ✶
Passado o prurido das pugnas jornalisticas e dos arroubos poeticos, — apanagio daquella 'primavera della vita' de que fala Metastasio, — fui, pela porta larga de um concurso, assentar em Campinas a minha tenda de certamen, no ensino publico.
Surprehendeu-me lá, srs., a eleição com que me honrastes.
Nunca me fiz lembrado para os cenaculos quaesquer, nunca aspirei a frivolas galas inexpressivas e infecundas; mas tambem nunca recusei a minha parcella de actividade aos que trabalham sèriamente, aos que se votam sèriamente ao bem geral.
O Instituto Historico de S. Paulo, fundado pelos homens que mais se dedicaram aqui ao culto das gloriosas e venerandas tradições da terra dos intrepidos pioneiros da nossa civilização, dos triplicadores da área territorial do Brasil, e contendo no seu illustre gremio o escól da intellectualidade paulista, bem merece, pela somma opulenta dos serviços já prestados ao estudo da nossa evolução, que eu lhe offereça, no estricto limite da minha capacidade, a exigua contribuição que ora lhe trago, e, mais do que ella, o preito da minha profunda admiração e do meu inequivoco reconhecimento.
O autor inglez de interessante obra, vinda a lume em meados do seculo findo, com o titulo Costumes da India, conta que, no reino de Onde, impunha o soberano, a quem por elle quisesse ser recebido, lhe apresentasse 500 moedas de ouro a luzirem sobre rendilhado lenço de fina seda.
Maior, por sem duvida, é o tributo que merece se lhe renda este sodalicio por parte dos a quem foi galardoada a subida honra de ter o nome inscripto no seu quadro social e de ser aqui acolhido com tanta benevolencia e com tanto carinho.
Não é o fulvo metal, srs., que ostento nas mãos, neste momento, para testemunho de meu apreço para comvosco.
É, sim, a historia documentada dos que o descobriram nos virgens recessos do sertão patrio e o arrancaram das entranhas fecundas do Brasil que me vae sahir dos labios, como prova do desejo sincero que tenho de collaborar comvosco neste augusto ministerio de reevocar e engrandecer cada vez mais o culto do passado, para que melhor nos guiemos no presente e melhor preparemos o futuro.
Creio que só assim posso corresponder, embora muito aquem do vultuoso penhor a que me obrigastes, à distincção de que me fizestes alvo e à affectuosa acolhida que acabaes de dar-me no Instituto Historico de S. Paulo, — templo em hora boa erguido pelos descendentes dos bandeirantes àquella a que Cicero chamou 'luz da verdade, testemunha do tempo e mestra da vida'.
E, ao concluir este rapido agradecimento, devo tambem consignar que profundamente me sensibilizaram, tanto as palavras bondosas do sr. dr. Luiz Piza, como a presença do digno representante do dr. Secretario do Interior, como ainda a presença de tão selecto auditorio. (...)"

Cinco meses depois, foi eleito membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (de acordo com o site do IHGB, onde consta ser natural de São João del-Rei: desde 27/8/1914, sócio correspondente; depois de premiado pelo IHGB com a Medalha D. Pedro II em 1917, passou a ser sócio efetivo; benemérito em 22/12/1931 e grande-benemérito em 21/10/1944).   

Foi ainda membro da Academia Paulista de Letras, inaugurada em 27/11/1909 (eleito para a Cadeira nº 2 patroneada por Visconde de São Leopoldo) e da Academia Mineira de Letras (sócio honorário).
 
No ano de 1917, o IHGB conferiu-lhe o prêmio "D. Pedro II" — medalha de ouro, pela apresentação da monografia "Expansão Geográfica do Brasil até os Fins do século XVII", prêmio que foi concedido também a Roquette Pinto e Capistrano de Abreu.

No Prefácio deste livro de Basílio, Taunay faz um elogio cabal a seu colega historiador. A extensa citação de Taunay confere um beneplácito ao trabalho árduo que Basílio desenvolveu preparando sua monografia, nos seguintes termos: 
"O livro que verdadeiramente vem sintetizar uma multidão de estudos esparsos foi a monografia de Basílio de Magalhães, apresentada ao Primeiro Congresso de História Nacional, realizado em 1914 no Rio de Janeiro, a monumental Expansão geográfica do Brasil até fins do século XVII, fruto de labor tão exaustivo, que, como a meditação acerca de tal esforço, nos causa a impressão de que nos vai trazer real cansaço cerebral. Formidável massa de leitura exigiu, trabalho insano realizou para a confecção daquele mosaico, composto de milhares de peças. São 150 páginas in-octavo que resumem bibliotecas, fazem o extrato de longas controvérsias, examinam numerosos problemas obscuros, aventam soluções, opõem contestações a afirmativas dúbias, constituem, enfim, um repositório de jamais assaz louvado mérito. Apegado ao estudo do bandeirismo, prosseguiu Basílio de Magalhães nas suas pesquisas, coletando documentos inéditos e comentando-os. Mananciais imensos e quase virgens existem no país: os do Arquivo Nacional e da Biblioteca Nacional. Do primeiro obteve volumosos tomos de papéis inéditos e importantes, de que já uma parte foi impressa no tomo XVIII da Revista do Instituto Histórico de São Paulo, conservando-se ainda datilografadas, infelizmente, centenas de cópias de outros papéis. Do acervo da Biblioteca Nacional nada ainda veio à luz. Os verbetes do catálogo de manuscritos mostram, contudo, quanto é importante o material que ali se acha."
Cabe ainda citar que a referida monografia de Basílio de Magalhães, inserta no vol. II dos "Anais do Primeiro Congresso de História Nacional", saiu em separata no mesmo ano (Imprensa Nacional, 1915, in-4º de 147 p.) e em 1917 foi premiada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por proposta do sr. Max Fleiuss, digno secretário perpétuo, tendo recebido parecer favorável, em 27 de agosto do mesmo ano. Concluiu o parecer que, na memória que Basílio da Magalhães apresentou ao 1º Congresso de História Natural, os fatores da nossa história gradual foram "tratados em admirável resumo, com vasta erudição e grande senso crítico", constituindo, por isso, a referida monografia, "a todos os respeitos, notável e copioso manancial de ensinamentos". O prêmio consistiu numa medalha de ouro, denominada "D. Pedro II".

Em 1935, quando Basílio já era reconhecido como historiador emérito, foram acrescentados a parte relativa ao século XVIII e mais alguns capítulos, ou seja, a sua monografia originalmente premiada foi ampliada e refundida, de modo a cobrir agora todo o período colonial, ao mesmo tempo que seu título passou a ser Expansão Geographica do Brasil Colonial e a obra foi incluída na Coleção Brasiliana (vol. 45).

Desdobramento de uma monografia apresentada pelo autor no I Congresso de História 
Nacional (1914), originalmente publicada em 1915, no volume II dos Anais do referido congresso.

Cabe aqui salientar que o historiador Basílio de Magalhães recebeu esses louros dignos de preeminentes figuras nacionais, cinco anos antes de exercitar-se na política partidária, o que só sucederá no período de 1922-1927.

Foi também advogado e professor do Instituto de Educação e do Colégio Pedro II. Na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, lecionou História da Pintura e da Escultura. No biênio de 1917-1918, foi diretor interino da Biblioteca Nacional, que dirigiu com alto tirocínio.

De volta a São João del-Rei, foi eleito Senador Estadual Mineiro em 1922 e,  em 1923, foi eleito presidente da Câmara Municipal, exercendo cumulativamente o cargo Agente Executivo Municipal (atual prefeito) de São João del-Rei. Em 1924 elegeu-se para Deputado Federal, sendo reeleito para o mesmo cargo no ano de 1927 por Minas Gerais. Dois de seus projetos legislativos merecem ser destacados: a proposta de voto secreto e obrigatório e a extensão de voto às mulheres (através do Projeto de Lei nº 247/1924). Na ocasião, colaborou com entusiasmo com o jornal local A Tribuna.

Pouco antes da Revolução de 1930, fez oposição a Getúlio Vargas, candidato à Presidência da República, pois fazia parte da corrente política liderada por Raul Soares, tendo este apoiado Basílio nas eleições já citadas. Com a morte de Raul Soares, Basílio passou a ser apoiado por Artur Bernardes. Porém, como Bernardes apoiava a candidatura de Getúlio Vargas para presidente, este fato contribuiu para o fim da carreira política de Basílio. Portanto, em 1930 abandonou a política, dedicando-se inteiramente ao magistério, à pesquisa histórica e ao jornalismo.

Então, Basílio passou a dedicar-se ao magistério, tendo reassumido suas funções na Escola Normal do Distrito Federal. Na mesma ocasião, foi convidado pelo Ministério das Relações Exteriores a examinar candidatos à carreira diplomática no Instituto Rio Branco.

Pertenceu a muitas instituições culturais, de acordo com [CINTRA, 1994, 57], sendo 27 nacionais e 17 estrangeiras. De acordo com [PINTO, idem, 17], Basílio pertenceu a 26 associações culturais, sendo 17 brasileiras, dentre as quais destaco ter sido eleito membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia Paulista de Letras e da Academia Mineira de Letras  (como sócio honorário), e 9 estrangeiras.

Mestre do folclore brasileiro, foi um dos primeiros a aprofundar seu estudo e a atribuir-lhe significação erudita.

Entre abril de 1941 e agosto de 1942 escreveu em Cultura Política, Rio de Janeiro, uma série de artigos sob o título “O povo brasileiro através do folclore”.

No título "Sócios Falecidos Brasileiros" no site do IHGB, verbete "Basílio de Magalhães", consta a sua seguinte bibliografia nas áreas de particular interesse do Instituto: A Circular de Teófilo Ottoni, RJ, 1916; Lições de História do Brasil, 1895; O café na História, no Folclore e nas Belas-Artes, Rio de Janeiro, 1937 (2ª. ed., aumentada e melhorada, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939); Expansão Geográfica do Brasil colonial, talvez sua maior obra (2ª edição aumentada, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935); O folclore no Brasil (com uma coletânea de contos organizada por João da Silva Campos), Rio de Janeiro, 1928 (2ª. ed., Rio de Janeiro, 1939; 3ª. ed., revista por Aurélio Buarque de Holanda, Rio de Janeiro, 1960); 


História da Civilização; História do Comércio; Esboço biográfico e crítico de Bernardo Guimarães, RJ, 1926; O suplício de Caneca e a revolução pernambucana, 1896; Os Jornalistas da Independência, RJ, 1917; Manuel Araújo Porto Alegre, Barão de Santo Ângelo, RJ, 1917; Quadro de História Pátria, RJ, 1918; O municipalismo e Minas Gerais, S. João del-Rei, 1924; Em defesa do índio e da sua propriedade, Rj, 1924; Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro, RJ, 1928; O Aleijadinho: Antônio Francisco Lisboa, RJ, 1930, além de vários compêndios para o ensino secundário; e A lírica de Stecchetti e Patrimônio do Brasil.

Os conhecimentos de Basílio na área médica e pedagógica ficaram patentes com a publicação de dois livros intitulados:
1) Tratamento e Educação das Crianças Anormaes de Inteligência: contribuição para o estudo desse complexo problema científico e social, cuja solução urgentemente reclamam - a bem da infância de agora e das gerações porvindouras - os mais elevados interesses materiais, intelectuais e morais da Pátria Brasileira, editado primeiramente sob forma de artigos no Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, posteriormente ampliado e também editado pela Tipografia do mesmo periódico, Rio de Janeiro, 196 p. (1913); e
2) A Educação da Infância Normal e das Crianças Mentalmente Atrasadas, na América Latina: apreciação sumária dos modernos sistemas pedagógicos europeus e modificações indispensáveis que devam sofrer no ambiente físico-social do novo mundo. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 24 p. (1917) .

Cabe destacar que Basílio participou da Coleção Brasiliana com os seus seguintes livros: 
・ Expansão Geográfica do Brasil (vol. 45)
・ Viagens pelo Amazonas e rio Negro (vol. 156)
・ Estudos de História do Brasil (vol. 171)

 
・ O Café na História, no Folclore e nas Belas-Artes (vol. 174)


Outro ponto nebuloso apresenta-se na certidão de óbito de Basílio ,  envolvendo sua filiação, constituindo um segundo desafio para os historiadores. Vimos, no começo desta matéria, que Basílio faleceu na cidade de Lambari, MG, em 14/12/1957, aos 83 anos de idade, vítima de hemorragia cerebral. Para fins de análise do leitor, reproduzo a seguir a cópia autêntica da Certidão de Óbito de Basílio de Magalhães, lavrada pelo Cartório de Registro Civil de Lambari, MG.
Certidão de óbito de Basílio de Magalhães - Crédito: José Passos de Carvalho, membro do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei
Transcrição da certidão de óbito:
Sexo: masculino
Cor: branca
Estado civil e idade: casado, com 83 anos de idade
Naturalidade: São João del-Rei
Documento de identificação: sem informação
Eleitor: não era eleitor
Filiação e residência: Antônio Inácio Raposo de Magalhães e Francisca Leonarda do Nascimento Magalhães - Rua Paulino Fernandes nº 17, Rio de Janeiro-RJ
Data e hora de falecimento: quatorze de dezembro de mil novecentos e cinquenta e sete às 03:30 horas
Dia/mês/ano: 14/12/1957
Local de falecimento: em domicílio em Lambari-MG
Causa da morte: hemorragia cerebral
Sepultamento/cremação município cemitério se conhecido: Cemitério Municipal desta cidade de Lambari-MG
Declarante: José Malaquias de Oliveira
Nome e número do documento do médico que atestou o óbito: Dr. José Benedito Rodrigues
Anotações de cadastro: (nihil)
REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
Oficial: Lucas dos Santos Nascimento
O conteúdo da certidão é verdadeiro. Dou fé.
Lambari-MG, 03 de julho de 2018.
Assina o oficial Lucas dos Santos Nascimento

Cabe aqui fazer algumas observações sobre o documento em questão. Primeiro, a respeito do médico que atestou o óbito. [PINTO, idem, 200] relata que, na entrevista que fez com o Dr. José Benedito Rodrigues, no dia 04 de junho de 2005, na cidade de Lambari, ouviu dele que exercia a medicina desde 1947 nessa cidade. Declarou ainda que, "além de ter atendido a Basílio de Magalhães na ocasião de sua morte, foi seu médico por alguns anos e mantiveram uma estreita relação de amizade". No seu depoimento, declarou ainda que "o próprio Basílio de Magalhães afirmava ter nascido em um povoado perto de São João del-Rei". Segundo, há uma divergência entre a filiação no assento do batismo (Antônio Inacio Raposo e Francisca de Jesus) e a constante da certidão de óbito (Antônio Inácio Raposo de Magalhães e Francisca Leonarda do Nascimento Magalhães). Por oportuno, [PINTO, idem, 201 e 216] pesquisou também o registro de casamento do casal, tendo verificado o assento na folha 167, do livro nº 27 da Paróquia de Tiradentes, onde constam os seguintes nomes: Antônio Inácio Raposo e Francisca Leonarda de Jesus. A alteração do nome dos pais de Basílio pode ter-se dado em virtude de ele ter o sobrenome "Magalhães", que, como vimos, é do padrinho e não do pai que o registrou. Em terceiro lugar, na certidão de óbito de Basílio consta a cidade de São João del-Rei como sua terra natal, enquanto, conforme vimos, o assento de seu batismo às folhas 44 do 1º Livro de Batizados da Paróquia de Sant'Ana, em Barroso,  pode ser considerado um sólido argumento de seu nascimento ter ocorrido nesta cidade. Quarto, outro detalhe curioso é a cor da pele que é omitida no assento de batismo e, na certidão de óbito, aparece como de cor branca. Por fim, não vi qualquer outra referência ao declarante José Malaquias de Oliveira na monografia da pesquisadora, que foi aquele que procurou o cartório para fornecer as informações constantes da certidão de óbito. [PINTO, idem, 201] destaca o sobrenome Magalhães, que alterou o nome dos pais de Basílio, aparecendo apenas no registro de óbito, "que foi feito com base nos documentos pessoais de Basílio de Magalhães, aos quais não teve acesso."

Basílio foi um dos mais cultos e ilustres filhos adotivos de São João del-Rei, razão por que seu nome foi dado ao Salão Nobre da Prefeitura Municipal dessa cidade, durante a administração de Lourival Gonçalves de Andrade. 

Digno de destaque é o fato de seu nome figurar numa rua do Bairro do Segredo em nossa cidade, não por seus méritos indiscutíveis, mas por maquinação urdida por alguém que alterou o nome da rua, de "Baptista Caetano de Almeida" (1797-1839), natural de Camanducaia e grande benfeitor são-joanense, substituindo-o por "Basílio de Magalhães", em flagrante desrespeito à Lei Municipal nº 190, de 08/08/1951, registrada no Livro 15. [RAMALHO, 2005] relembra: 
"Trocada a placa da rua, o novo nome foi incorporado aos catálogos telefônicos, aos cadastros da companhia de força e luz, do correio e aos costumes dos moradores, mas não houve discussão alguma sobre o assunto. (...)" 
Se por um lado houve um descaso na aplicação da lei e um crime foi cometido ao benfeitor Baptista Caetano de Almeida, por outro lado aqui se constata mais uma vez a expressão com que Santo Agostinho se referia ao pecado de Adão e Eva como "felix culpa", que nos mereceu tão grande Redentor  (Cristo). Ou seja, quem urdiu a trama de prejudicar Baptista Caetano de Almeida, de maneira surpreendente, beneficiou a municipalidade com um nome igualmente glorioso: o de Basílio de Magalhães.

Em comemoração ao centenário do nascimento de Basílio, em reunião em 2 de junho de 1974, na qual discursou o Dr. Altivo Lemos de Sette Câmara, Basílio foi escolhido patrono do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, conforme a Resolução nº 9, da mesma data, desse sodalício. Além disso, é patrono da Cadeira de nº 7 da Academia de Letras de São João del-Rei.


AGRADECIMENTO

A Rute Pardini Braga pelas fotos que tirou e editou para os fins desta matéria. 





NOTAS  EXPLICATIVAS 



¹   A monografia de Jacqueline das Mercês Silva Pinto, intitulada Basílio de Magalhães: trajetória e estratégias de mobilidade social 1874-1957, foi apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História de Minas nos séculos XVIII e XIX da UFSJ. Numa segunda etapa,  a autora condensou sua monografia em artigo, com idêntico título, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, Ano 2005, pp. 196-220, cujo trecho sobre "a naturalidade e a suposta paternidade não assumida" do seu biografado reproduzo abaixo: 
"Nas biografias de Basílio de Magalhães lidas, há controvérsias quanto a sua naturalidade. Algumas apontam a cidade de São João del-Rei como sua terra natal; porém, seu batismo, ocorrido em 28 de julho de 1874, encontra-se assentado às folhas 44 do 1º Livro de Batizados da Paróquia de Sant'Ana, em Barroso, o que pode ser entendido como um sólido argumento de seu nascimento ter ocorrido nesta cidade. Vale ressaltar que os registros de batismo eram os únicos utilizados para registrar nascimentos na época. Na tentativa de explicar esse imbróglio, foi feito um mapeamento de Barroso como distrito, a fim de detectar se esta cidade havia pertencido à cidade de São João del-Rei, na época do nascimento de Basílio de Magalhães. Segundo Napoleão de Souza (1979, p. 10-11), Barroso provavelmente foi elevado à categoria de distrito em 1831 e permaneceu anexado ao município de Barbacena até 1890, quando passou a pertencer ao município de Prados. De 1894 a 1938, Barroso pertenceu ao município de Tiradentes e, a partir de 1939, passou a integrar o município de Dores de Campos até a sua emancipação que ocorreu em 1º de janeiro de 1954. Dessa forma, foi possível constatar que Barroso nunca pertenceu a São João del-Rei. (...) No caso de Basílio de Magalhães, não há referência a esse respeito no seu registro de batismo; já em outros registros, ocorridos na mesma época e assentados no mesmo livro, consta a referência de pertencimento à freguesia de Barbacena. Dessa forma, mesmo que não haja tal referência em todos os registros de batismo, pode-se afirmar que Barroso pertencia a Barbacena na época abordada". 

²   O registro de casamento dos pais de Basílio de Magalhães acha-se assentado na folha 167, do livro nº 27 da Paróquia de Tiradentes, conforme [PINTO, idem, p. 201 e 216]. Aí, os nomes registrados são Antônio Inácio Raposo e Francisca Leonarda de Jesus.

³   Segundo [PINTO, idem, p. 31], "a Escola João dos Santos, inaugurada em 25 de agosto de 1881, foi extinta em 1911, com a morte de seu fundador João Batista dos Santos. Em 5 de outubro de 1907 foi criado o Grupo Escolar de São João del-Rei que, a partir de 1920, passou a se chamar Grupo Escolar João dos Santos, sendo hoje denominada Escola Estadual João dos Santos, não contendo, portanto, nenhuma documentação da época em que Basílio estudou."

⁴  Aqui Basílio se refere a São João del-Rei, terra natal de Tiradentes, a quem chama "conterrâneo". Todo o parágrafo pode ser considerado um tributo a feitos históricos e personalidades ilustres são-joanenses.

⁵  Esta monografia de Basílio (revista e ampliada) pode ser lida online in http://www.brasiliana.com.br/brasiliana/colecao/obras/239/expansao-geografica-do-brasil-colonial


  Este livro resultou de uma conferência apresentada por Basílio de Magalhães na Argentina, no Primeiro Congresso Americano da Criança, em 1916, com o mesmo título. O evento e o seu discurso foram relatados no Jornal Correio Paulistano, de 19 de fevereiro de 1917, de onde se retirou o seguinte fragmento, apud [CAMPOS & SANTOS, 2015, p. 671]
"Passando em revista o progredir da pedagogia, condena o ilustre intellectual patricio (Basílio de Magalhães) a adopção, in totum, em nosso paiz, dos processos pedagogicos applicados na America e na Europa, pois que acha que devem ser introduzidas nelles as modificações particulares, sobretudo ethnico-ethicas de cada uma das nacionalidades que a compõem. Entrando no estudo desses processos peculiares de pedagogia, diz que dentre os modernos systemas de ensino apparecidos na Europa, o mais util à educação da infancia normal é o das casas dei bambini, da dra. Maria Montessori. Affirma mesmo o professor dr. Basilio de Magalhães que esse systema deve ser adoptado nos meios latino-americanos, às escolas elementares communs, às escolas profissionaes, às escolas out-door, às escolas ruraes e às escolas de férias. De facto, o autor está com toda a razão, é esse um dos systemas melhores ao nosso meio, e, diga-se de passagem, S. Paulo já tem ahi a sua escola nesse typo de iniciativa particular, que, segundo nos consta, tem dado excellentes resultados. Referimo-nos à Casa da Infância, baseada nesse systema, da srta. Professora Maria Buarque, filha do distinto educador paulista Manuel Ciridião Buarque, lente de nossa Escola Normal Secundaria." 
E [CAMPOS & SANTOS, idem, pp. 671-2] continua sua apreciação do conteúdo da conferência proferida por Basílio: 
"A abordagem realizada por Basílio de Magalhães pode ser considerada moderna para a sua época e indica que possuía conhecimento abrangente das teorias educacionais, psicológicas e sociais para fazer uma explanação que contemplasse a América Latina, continente vasto, recém libertado oficialmente do domínio europeu, mas que ainda buscava diretrizes para a sua civilidade. Indicar a educação montessoriana para os treze países participantes do Congresso Panamericano denota tanto a maestria apresentada por Magalhães ao ter seu trabalho aprovado para expor na conferência, como também a confiança no método Montessori que, por sua vez, foi divulgado para as delegações enviadas por cada país. (...)
Em relação ao seu conhecimento pedagógico, inferimos que Basílio de Magalhães deva ter entrado em contato com a obra montessoriana ao escrever seu livro sobre crianças "anormais", já que a médica italiana havia criado uma proposta de educação que foi utilizada inicialmente com as crianças da Escola Ortofrênica e mais tarde adaptada às Casas dei Bambini, produzindo encantamento e ânimo com os resultados obtidos com as crianças de Roma."
  O óbito de Basílio de Magalhães encontra-se registrado no livro C-08 de Registro Civil de Óbitos, na folha 151, sob o nº 4122, no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais, na cidade de Lambari, MG.





BIBLIOGRAFIA  CONSULTADA




BARROSO EM DIA: Um velho professor na rua da Lagoa, in http://barrosoemdia.com.br/um-velho-professor-rua-da-lagoa-barroso/ 

CINTRA, Sebastião de Oliveira. Galeria das Personalidades Notáveis de S. João del-Rei, pp. 56-58. Belo Horizonte: FAPEC, 1994, 270 p.  
           — Efemérides de São João del-Rei, 2 vol., 2ª edição revisada e aumentada, Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1982, 622 p. 

CAMPOS, Simone Ballmann & SANTOS, Ademir Valdir: Institucionalização do método Montessori no Brasil: Perspectivas com base em acervos digitais da imprensa escrita e da radiodifusão. In HERNÁNDEZ DÍAZ, José María (Coord.): La Prensa de los Escolares y Estudiantes. Su contribución al patrimonio histórico educativo. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 2015, p. 669-680.

GUIMARÃES, Fábio Nelson. A vida de Basílio de Magalhães, jornal Ponte da Cadeia, São João del-Rei, edições de 9/6/1974, nº 326 (p. 1), de 16/6/1974, nº 327 (p. 4), de 24/6/1974, nº 329 (p. 2), de 1º/7/1974, nº 330 (p. 2), de 8/7/1974, nº 331 (p. 2), de 21/7/1974, nº 332 (p. 3), de 28/7/1974, nº 333 (p. 2) e de 4/8/1974, nº 334 (p. 2). 

MAGALHÃES, Basílio de. A educação da infância normal e das creanças mentalmente atrasadas na America Latina. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1917. 

PINTO, Jacqueline das Mercês Silva. Basílio de Magalhães: trajetória e estratégias de mobilidade social 1874-1957, monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História de Minas nos séculos XVIII e XIX da UFSJ, in https://ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/pghis/monografias/basilio.pdf
           — Basílio de Magalhães: trajetória e estratégias de mobilidade social 1874-1957 (parte de sua monografia  com o mesmo título), publicada na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, Ano 2005, pp. 196-220. Quase todas as referências feitas no presente trabalho foram retiradas desta publicação resumida. 

RAMALHO, Oyama de Alencar. O esquecimento de BASÍLIO DE MAGALHÃES e as tentativas de rememorá-lo, palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, em 04/09/2005. Postada no Blog de São João del-Rei em 3/6/2010, in http://saojoaodel-rei.blogspot.com/2010/06/o-esquecimento-de-basilio-de-magalhaes.html 

SOUZA JÚNIOR, Thiago de. Basílio de Magalhães: um pouco de vida outro pouco de sociabilidade intelectual, palestra apresentada no XXVIII Simpósio Nacional de História, ocorrido no período de 27 a 31 de julho de 2015 em Florianópolis in http://www.snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1434409886_ARQUIVO_ANPUH-2015-BasiliodeMagalhaesumpoucodevidaoutropoucodesociabilidadeintelectual.pdf