Por Evandro de Almeida Coelho
Monsenhor Gustavo Ernesto Coelho (1853-1924), criador da MEDICINA VEGETAL |
As propagandas da Medicina Vegetal nos dizem que “não é apenas um remédio para todos os males, mas sim uma receita especial para cada grupo de doenças, conforme o órgão atacado ou sede do mal”.
Respeitando
as grafias originais, temos a propaganda do Boletim Odontológico Especial de
dezembro de 1922 e a de um volante distribuído aqui na cidade de São João del-Rei, Belo Horizonte,
Rio de Janeiro e São Paulo. Vejamos.
1.
Mororó - “cura
a syphlilis e o herpetismo” ou “depurativo”.
2. Yucaty -
“Tratamento das gonorréas, exclusivamente interno” ou “Blenocida (Gonorrhéas)”.
3. Focillina -
“combate a neurasthenia e molestias cerebro-spinaes” ou “contra a
neurasthenia”.
4.
Canahyba -
“Para doenças do fígado” ou “Para o fígado”.
5.
Vegetalino -
“Infallível no rheumatismo e arthritismo em geral” ou “Contra o rheumatismo”.
6.
Parentana -
“Específico das moléstias dos rins” ou “Para os rins”.
7.
Yerobina -
“Cura doenças do estomago, fastio, etc” ou “para o estomago”.
8.
Phyllantus -
“Remédio para moléstias do sexo feminino” ou “Para doenças da Mulher”.
9.
Tayunquina -
“Vinho regenerador, fortificante” ou “Tonico – depurativo”.
10. Só no volante
aparece a Aguerina - “Asthma”.
11. Só no volante
aparece a Paracaryna - “Bronchite”.
12. Só no volante
aparece a mistura para fazer chá, o Velaminhos - “Apparelho renal”.
Depois da
relação dos produtos há uma observação: “A Medicina Vegetal é empregada pelo
seu inventor, sempre com resultado seguro, há muitos annos”. “A venda em todas
as pharmacias.”
Depósitos
autorizados para os produtos, no Rio de Janeiro: Pharmacia S. José – Rua Barão
de Mesquita, 674; Penna &
Filhos – Rua da Quitanda, 57; Rodolpho Hess & C. – Rua 7 de setembro, 61; Drogaria
Pacheco – Rua dos Andradas, 85. Em São Paulo, a Drogaria J. Santos & C. – Rua
São Bento 74-A.
Para a
produção dos remédios havia os “mateiros” - procuravam folhas e frutos; havia
os “raizeiros” - especialistas no achamento de plantas das quais se usavam apenas
as raízes, e mais outros que conseguiam as cascas de árvores sem destruí-las.
Uma das raízes mais usadas é da jurubeba, que dá nome a um terrível vinho de
laranja fermentado com as ditas.
Não sabemos
as fórmulas do Padre Gustavo, transferidas ao sobrinho Mello Júnior; entretanto,
por tradição de família, podemos apontar a pariparoba ou capeba como básico para
o fígado; a aristolóquia, a canela de sassafraz e a passiflora eram usadas como
calmantes; o paratudo e o angico para “limpar o sangue”; a poaia e o
jaborandi para as bronquites; a extraordinária parietária para os males renais;
o algodoeiro e a raiz de carapiá funcionavam em organismos femininos; arnica e
chapéu de couro resolvem as crises de reumatismo; funcho, chá de porrete e
hortelã podem curar o estômago.
Ainda bem que a fitoterapia começou a estudar e
experimentar as ervas do povo usadas desde longe.
Possíveis indicações de vegetais para a “Medicina
Vegetal”
Reitero que não sei as
fórmulas usadas pelo Monsenhor Gustavo para a preparação dos remédios, que
foram transferidas ao sobrinho Mello Júnior, e foram usadas por muitos anos
depois que o laboratório se transferiu de São João del-Rei para Belo Horizonte.
Por tradição de
família, posso apontar alguns vegetais básicos para as receitas dos
medicamentos:
Aguerina,
contra asthma: maracujá – agoniada – assapeixe – cordão de frade – guaco –
mulungu – cambará – cactus.
Canahyba,
para o fígado: pariparoba (capeba) – abacateiro – abutua – aperta ruão –
boheravia – boldo – carqueja – gervão (ou geribão) – erva tostão – jaborandi –
jurubeba – panacéia – ruibarbo do campo – dente de leão – mulungu – chapéu de
couro – quina cruzeiro – fedegoso.
Focillina,
contra neurasthenia: aristolochia – canela de sassafraz – casca de anta –
cassaú – fel da terra – vetiver – mulungu – sálvia – douradinha – erva cidreira
– artemísia.
Mororó,
depurativo geral: paratudo – angico – bowdichia – canela de sassafrás – chapéu
de couro – cipó azougue – cipó suma – japecanga – mururé – nogueira – panacéia
– sucupira.
Paracaryna,
para bronchite chronica, tosse, grippe: setesangria – poaia – jaborandi.
Parentana,
para os rins: parietária – estigmas de milho – aperta ruão – cipó cabeludo –
erva pombinha – jequitibá – velame do campo – jatobá – suma roxa – chapéu de
couro – congonha de bugre.
Phillantus,
para doenças do útero: algodoeiro – aristolóquia – buranhém – carapiá – cassaú
– cordão de frade – erva de bicho – jequitibá – raiz de anil – sensitiva.
Tayuquina,
tônico depurativo: aristolóquia – aroeira – buranhém – cajueiro – calumba –
cassaú – catuaba – cipó azougue – fel da terra – guaraná – imburana –
laranjinha do mato – mirosperma – nogueira – paratudo – pau pereira – quina do
mato – quina cruzeiro – carqueja – artemísia – douradinha.
Vegetalino,
para rheumatismo: arnica – aroeira – canela de sassafrás – carobinha do campo –
chapéu de couro – cipó azougue – cipó suma - douradinha do campo – guaco - guiná
– japecanga – melão de São Caetano – saúde do corpo – sucupira - suma roxa –
velame do campo – tomba - sabugueiro – salsaparilha.
Velaminhos,
para doenças do aparelho urinário: velame do campo – abacateiro – jaborandi –
cajueiro – aperta ruão - barbatimão - chapéu de couro – sene – congonha do
bugre - douradinha.
Yerobina,
para o estômago e gases: funcho – cassia catártica – chá porrete – hortelã –
casca d'anta – camomila – pacová – jatobá – abutua – setessangria - pariroba.
Yucaty,
blenocida: aroeira – cipó cabeludo – aperta ruão – douradinha do campo –
jaborandi – panacéia – picão da praia – jurubeba do cupim – cipó cravo – velame
do mato – chapéu de couro – jatobá – marapuama – catuaba.
Homeopatias mais usadas para uma farmácia caseira
Contar as gotas do produto em meio copo de água
filtrada
1.
Febre e
congestões: Aconitum, Belladona, Bryonya
2. Afecções
verminosas: Cina, Ignatia, Silicea
3. Cólicas,
insônia e dentição de crianças: Camomila, Jalapa, Calcária carbônica
4.
Diarréia infantil:
Ipecacuanha, China (Quina), Calc. Carbonica
5.
Desenteria,
tenesmo, cólica: Calcium, Colocynt, Mercurius Corrosivus
6.
Cholera
Morbus, náuseas, vômito, prostração: Arsenico, Cuprum, Verat
7.
Tosse,
bronquite, influenza, garganta: Bryonya, Causticum, Phosphorum
8.
Nevralgia de
rosto, dentes, nervos: Belladona, Plantago, Mezerem
9.
Dores de
cabeça, vertigens: Apis, Iris, Nux-vomica, Pulsatila Sépia
10. Dyspepsya,
bilis, estomago, constipação: China (Quina) Nux vomica, Sulphur
11. Loucorrhea,
metrorragia, prolapso: Belladona, Carbono anim, Nux vomica
12. Menstruação
irregular, escassa, dolorosa, retardada: Apis, Pulsatila, Sépia
13. Crupe,
rouquidão, opressão: Aconitum, Kali bicromático, Spongia
14. Pele: Apis,
Rhus, Sulphur
15. Rheumatismo:
Aconito, Bryonnia, Tartaro Emético
16. Febre,
malária, sezões: Canchalaqua, Ipecacuanha, Nux-vomica
17. Hemorroidas:
Hamamelis, Nux-vomica, Sulphur
18. Ophtalmia,
olhos, pálpebras: Apis, Calca.carbônica, Euphrasia
19. Influenza
fluente, aguda, cronica: Ammoniun, Muriaticum, Nitri acido
20. Coqueluche:
Belladona, Drosera, Ipecacuanha, Cuprum
21. Asthma:
Arsenicum, Ipecacuanha, Lachesis
22. Othorrhéa,
ouvidos: Hepar.Sul., Pulsatila, Silicium
23. Escrofulos,
úlceras: Baryta Carb., Lachesis, Silicia
24. Fraqueza:
China (Quina), Ferr., Nux-vom.
25. Hydropsia,
edema: Apis, Ars., Baryta (Arsenicum)
26. Enjôo,
vertigens, náuseas, vômito: coculus, Nux-vomica, Petroleum
27. Urina escassa:
Lycopodio, Pulsatilla, Salsaparilha
28. Fraqueza
genital: Aur.f., China (Quina), Phosph. Acid.
29. Aphtas,
cancro: Natrum muriat., Nux-vomica (Tarantula?)
30. Urina solta:
Cannabis, Cantharis, Mercuris vivus
31. Colica,
dysmenorrhéa, hysteria, prurites: Coculus, Platina
32. Coração:
Cactus, Lachesis, Sépia, Cereus
33. Caimbra,
epilepsia, convulsão, espasmos: Belladona, Ignatia, Sulphur
34. Diphteria,
esquimencia, úlcera, garganta: Lachesis, Phitolaca, Merc. Dulcia
35. Insonia:
Coffea, 2 gotas em meio copo
Entreguei ao
vigário Padre Sebastião Raimundo de Paiva dois volumes sobre homeopatia, precisando de
re-encadernação. Estas receitas são baseadas nos dois livros que ainda devem
estar na biblioteca da Casa Paroquial. Dos manuscritos há a seguinte
receita:
Para grippes, etc.:
Cognac fino................75,0
Para grippes, etc.:
Cognac fino................75,0
Tintura de canela........25,0
Camphora....................0,5
Tomar 1 colherinha
de 4 em 4 horas. Para crianças, tome um pouco de assucar, ponha 5 gotas de cada
vez, 3 vezes ao dia.
8 de março de 1966, cópia de um original manuscrito.
AGRADECIMENTO
Sou grato ao gerente do Blog de São João del-Rei e sua esposa
Rute Pardini por terem ido pessoalmente até à Igreja de São Gonçalo
Garcia em 17/04/2014 para tirar a fotografia do Pe.Gustavo, que orna a presente matéria.
8 comentários:
Braga: uma atmosfera de mistério sempre cercou a medicina vegetal do Padre Gustavo. Correram lendas a respeito, inclusive com afirmações de que ele mantinha plantação de maconha em sua horta e usava a erva para o tratamento da asma. Veja que no artigo do Prof. Evandro nenhuma referência é feita sobre isto, no que deve estar correto. Dangelo
Meu prezado amigo, FJSBRAGA , sempre que leio ou converso sobre a medicina vegetal vejo por trás de tudo a frase de Leonardo Da Vinci:
- Só existe um mestre, a natureza.
O Padre Gustavo seguia os ensinamentos de Da Vinci.
Abs
Lucio Flavio
Muito grato, ilustre amigo.
Aproveito para enviar a você e Rute nossos melhores votos de feliz Natal e de excelente Ano Novo.
Abraços,
Adriano Benayon
Na verdade, Braga, um precioso material de pesquisa. Grato pelo envio. Abs, Teixeira
Caro mano Francisco Braga,
Meu comentário se refere ao depósito autorizado para os produtos do Pe. Gustavo no Rio de Janeiro: Penna & Filhos, Rua da Quitanda, 57.
Na época referida pelo texto, o Pe. Gustavo devia estar vendendo seus produtos para o filho do homeopata "proprietário e fundador" Antonio Gonçalves de Araujo Penna, o qual ficou curado, segundo a lenda, pelos bons efeitos das Águas Santas (balneário existente em São João del-Rei, embora seja distrito de Tiradentes-MG). Por essa razão, teria ele mandado construir a capela de Nossa Sra. da Saúde naquela localidade.
No link http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0350a1875.htm, vê-se a propaganda da farmácia na penúltima posição sequencial. Aí se pode constatar que o estabelecimento tinha funcionado nos nºs 53 e 47 da Rua da Quitanda, provavelmente antes de abrir negócios com o Padre Gustavo, pois a propaganda que traz os dois primeiros números é datada de 8 de outubro de 1875.
Descobri ainda que o dito homeopata, Sr. Antonio Gonçalves de Araujo Penna, é autor de importante tese, "Estudo Graphico da Febre", de 1896. (Cf. http://www.labdigital.icict.fiocruz.br/obras_pdf/these_1896_antonio_penna.pdf)
Finalmente, o seu nome ainda aparece como diretor de uma enfermaria homeopática no Hospital da Marinha, num estudo de Alberto Soares de Meirelles, "Pequena história da homeopatia com suas repercussões na cidade do Rio de Janeiro, no período de 1886 a 1986". (Cf. http://www.ihb.org.br/ojs/index.php/artigos/article/viewFile/194/172)
Abraço do seu
Carlos Fernando dos Santos Braga
Muito bom o artigo do Prof. Evandro Coelho, transcrito para o Blog de São João del Rei, que sempre traz assuntos condizentes com a realidade do Sanjoanense.
Meus parabéns,
Rafael Braga
BRAGA,
PARABÉNS PELOS ARTIGOS E SUA PRODUÇÃO INTELECTUAL CADA VEZ MELHOR E ETICAMENTE ÚTIL, CULTURALMENTE ENRIQUECEDORA.
JOSÉ BOSCO
Cumpadre, muito interessante essa matéria sobre Medicina Vegetal do
Padre Gustavo. Esse padre deve ter ganhado dinheiro com isso.
Cumpadre, a vida é muito curta. Veja que isso foi ontem mesmo.
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