Discurso proferido por Fernando de Oliveira Teixeira
Membro da Academia Divinopolitana de Letras
Cadeira 25
Patrona: Cecília Meireles
Patrona: Cecília Meireles
AUTORIDADES PRESENTES, CONVIDADAS(OS) E AMIGAS(OS) DAS QUE ORA SERÃO EMPOSSADAS, CONFRADES E CONFREIRAS, DESEJO-LHES A PAZ DO SENHOR DE TODA PAZ.
A ADL vive e sobrevive faz cinquenta e oito anos como espólio de uma herança de quatro profissionais de diferentes profissões, nenhuma delas de escritor. Surgiu, conforme atas de sua história, das tertúlias literárias vespertinas do farmacêutico José Maria Álvares da Silva Campos com o escrivão de polícia Sebastião Bemfica Milagre, a que se juntaram posteriormente o bancário Jadir Vilela de Souza e o empresário Carlos Altivo. No entanto, o farmacêutico, o escrivão de polícia e o bancário eram também poetas e o empresário, cronista e consagrado orador.
Lembro-me que Schopenhauer afirmou, certa feita, que: “O meio habitual a uma reunião de criar um estado de espírito comum é representado pelas garrafas. A este fim servem o chá e o café”. Neste caso, porém, a bebida, como chamarisco, fez-se desnecessária, e mesmo um local de reuniões.
Nefelibatas, que certamente tenham sido os fundadores, acharam, mesmo assim, mais oito sonhadores. Agora professores de vários níveis, advogados, industriais, inclusive um artista plástico de nomeada, tantos seduzidos por um mesmo sonhar.
E a Academia Divinopolitana de Letras defrontou o tempo. Nem a ausência de condições materiais para as reuniões ordinárias ou para conservar arquivos constituíram motivos de desalento.
Durante meus cinquenta e três anos de presença neste sodalício participei de reuniões nas casas dos acadêmicos, em salas emprestadas e até em pátios de instituições de ensino, uma vez que os arquivos se mantinham nas casas de presidentes ou secretários. Impelia-nos – e nos impele até hoje - o compromisso com o idealismo dos pioneiros, agora assumido pelos pósteros.
Ao desenrolar dos anos, os doze dos primórdios da história multiplicaram-se em vinte, trinta e até os quarenta vigentes, porquanto as cadeiras se instituíram no molde das associações congêneres.
Os ocupantes de cadeiras se foram alternando, formalizou-se a ADL e, apesar dos percalços, o sonho primevo de poucos firmou-se na realidade do existir.
Perdura, no jornadear do tempo, a busca de uma estabilidade econômica e de uma sede oficial definitiva, a fim de que se possa exercer o ofício de escrever e disseminar a arte literária com plena autonomia de ações.
A entidade quase sexagenária recorda anualmente sua saga no tempo. Acorda a memória, sobretudo a memória, dos protagonistas de uma história, que começou com um farmacêutico, um escrivão de polícia, um bancário e um empresário e perlonga com tantos outros, de múltiplas ocupações profissionais unidos pelo mesmo ideal de cultivar e difundir a arte literária.
A ADL, na defrontação do tempo, não estaca no caminho de um horizonte perseguido pelos pioneiros e que se vai construindo com muitos e vários personagens. Partem alguns e chegam outros. Não importa a dança das cadeiras e sim o espírito, que anima seus ocupantes: consciência de que o tempo é simplesmente o espaço para florescer sonhos.
Esta dança das cadeiras permitiu que, num certo dia, ingressasse em nossa confraria literária a atriz e teatróloga Maria Aparecida Viegas Viana, a Cidah Viana, na qualidade de acadêmica honorária, trazendo a participação em nossos eventos com a luz de sua alegria e o coro de sorrisos de seus Doutores Palhaços.
Quis, entretanto, a Providência Divina que, embora eleita para substituir o saudoso Antônio Lourenço Xavier, não tenha tido a solenidade formal de posse, mas recebido sua confirmação de membro efetivo no leito, poucos dias antes do transpasse para o Reino de Deus.
Para perpetuar sua memória, o plenário das confreiras e confrades escolheu MARIA IMACULADA BATISTA SILVA, nascida em Martinho Campos em 8 de julho de 1947, tendo mudado residência para Divinópolis, com seus pais, Levindo Batista de Araújo e Gilberta da Silva Batista, seis anos depois.
Aqui fez seus estudos no Grupo Escolar Miguel Couto, em seguida no Colégio Estadual, concluindo magistério no Instituto Nossa Senhora do Sagrado Coração.
Graduou-se no curso de Ciências Sociais do antigo Instituto Superior de Ensino e Pesquisa – INESP, hoje UEMG.
Exerceu o magistério em unidade escolar da Prefeitura Municipal de Divinópolis e, transferida para a área administrativa, ali serviu na Divisão de Documentação e Legislação.
Casada com o alfaiate Carlos Nogueira da Silva, conhecido pelo apelido de Tatipa, dele gerou os filhos Denilson, Fabiana e Carlos Eduardo e guarda especial carinho pelos netos Túlio, Tales, Gabriel José, Antônio Vitor e Bernardo. Ela assegura, ainda que “adotou como filhos do coração o genro Rolando, as noras Flávia Cristina e Maysa Moreira”.
Maria Imaculada Batista Silva, após a aposentadoria, ocupa-se de trabalho voluntário no Clube da Melhor Idade Vida Nova e no Bazar da Vovó.
A sua bagagem literária, que a conduziu à cadeira acha-se basicamente enfeixada nos volumes ALMA DA TERRA e VELHA CASA, ambos, coletâneas de poemas, editados pelo Grupo Capela, na Biblioteca Memorial do Centenário.
Há um liame temático na obra, que aborda as pequenas cenas domésticas, a singeleza do conviver nas comunidades interioranas e as confissões de fé religiosa. De outro, observa-se uma evolução formal do primeiro para o segundo dos livros publicados, como denota o editor, o também poeta Osvaldo André de Melo, sobretudo na procura da contenção verbal.
Toda obra identifica a autora: filha e mãe, esposa e pessoa inserida no meio em que vive. Assim, descobre a cada poema o universo do seu viver e vivência. Contempla o passado e seus silêncios, mas absorve o cotidiano e seus ruídos. Resume-se e resume o que escreve: “Enquanto pinto e bordo, ponto por ponto, a minha história, caminho pela vida, sem perder o foco em Jesus Cristo – minha maior paixão.”
Quem inaugurou, entretanto, a cadeira nº 6 e escolheu por patrono Francisco Gontijo de Azevedo, nos começos da ADL foi Rosenwald Hudson de Oliveira, que se distinguiu na sociedade local como empresário e filantropo. Na verdade, um cronista de linguagem escorreita, coloquial quase, cuja produção em livro narra pescarias e ensina técnicas de truco (as más línguas diziam que não era lá dos melhores jogadores). Deixou em cada um dos que com ele partilhamos o recinto de nossos encontros acadêmicos, a lembrança do contador de casos e de chistes.
Em 7 de outubro de 1995, o professor Pedro Pires Bessa, docente de Literatura Brasileira e pesquisador, à época militando na unidade local da UEMG, tomava posse em nossa academia, na qual marcou sua passagem pela intensa divulgação dos escritores divinopolitanos, especialmente em congressos internacionais e na universidade, inclusive com profícuo mandato presidencial.
Direi dele, apenas, que estivemos juntos no desenrolar dos anos, pois a Divina Providência nos concedeu tantos encontros e, de modo especial, na partilha de um sonho juvenil num seminário franciscano, na recepção nesta casa, na oração de despedida quando da Sessão da Saudade, sem desdouro da amizade compartida no transcurso do existir. Direi apenas que convivemos e comungamos a mesma fé.
MARLANDES DE FÁTIMA EVARISTO é da área do ensino, como fora aquele a quem sucede, trazendo em sua bagagem de ingresso na confraria literária a experiência efetiva de magistério e constante aperfeiçoamento profissional.
Com efeito, graduou-se no Curso Normal Superior, focado na docência dos anos iniciais do ensino fundamental, complementando estudos com o mestrado em Educação e Docência pela Universidade Federal de Minas Gerais, além, entre outras, especializações em Supervisão, Orientação e Inspeção Escolar pela Sociedade Educacional de Santa Catarina e em Psicopedagogia pela Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil. Acrescem-se a estas titulações, os conhecimentos adquiridos em várias instituições, dentre os quais citaríamos os de atendimento especializado e interpretação de libras.
Nascida em São Gonçalo do Pará, a nova acadêmica atuou, em sua terra natal, na tutoria do Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa e atualmente ali é regente de classe em escolas municipais. A Prefeitura Municipal de Divinópolis também a tem como professora na sua rede de ensino.
Fruto da atividade educacional de Marlandes de Fátima Evaristo é o livro “A Declaração de Salamanca hoje: vozes na prática”, elaborado em parceria com o professor Milton Francisco, no qual debate, sob a ótica do ensino para pessoas com deficiência, este instrumento teórico da educação inclusiva. A obra revela, a par do inegável conteúdo intelectual da autora, o estilo adequado aos objetivos colimados, porquanto claro na exposição e correto na expressão vernácula.
A confreira, que a ADL acolhe nesta data, ainda possui, em fase de preparo para edição – e, vale repetir, como expressão de seu vocacionamento para o ensino – o volume intitulado “A menina feliz” de cunho infantil.
A história das academias se escreve de ontens e hojes, lembranças dos que viajam deixando obras e chegam carregando livros, dos que cultivam gêneros literários diversos e exercem ocupações diferentes. Embora a diversidade, têm um ponto de contato: o exercício do escrever.
Quando meus olhos pousam nas recordações, vejo como salutar figura o espírito acadêmico: durar no tempo e rememorar escritores. Enfim, imortalizar memórias.
Assim, pois, impende comemorar cinquenta e oito anos da Academia Divinopolitana de Letras e brindar suas perspectivas de amanhãs. Inexistem, apesar das contingências e dissabores da jornada temporal, cadeiras permanentemente vazias.
A chegada de MARIA IMACULADA BATISTA SILVA e MARLANDES DE FÁTIMA EVARISTO constitui certeza de que a entidade está viva e viçosa e continua as passadas rumo a um horizonte tão longínquo quanto próximo, impulsionadas pelo sonho de um farmacêutico, de um escrivão de polícia, de um bancário e de um empresário. Agora, duas companheiras se incluem nesta caravana de esperanças e nós, os caminheiros do roteiro, as acolhemos fraternalmente.
A ADL, quase sexagenária, em júbilo por mais um aniversário e em festa pela chegada das novas confreiras, pode dizer-lhes em acolhida:
“MARIA IMACULADA e MARLANDES, vocês entraram na mesma estrada de todos os caminheiros da ADL, conducente a sonhos antigos e a perseguição de sonhos inovados. VAMOS CAMINHAR?
Fernando de Oliveira Teixeira
12 de junho de 2019, em comemoração aos 58 anos de existência profícua da Academia Divinopolitana de Letras em benefício da sociedade divinopolitana.
11 comentários:
Na edição do dia 28 de julho de 2017, o jornal DIVINEWS, na sua coluna Cidade-Divinópolis, noticiou em artigo intitulado "Academia Divinopolitana de Letras deixa o aluguel e ganha sede própria por ação de Jaime Martins (PSD) junto ao DNIT" o seguinte trecho que destaco: "O presidente da ADL (Academia Divinopolitana de Letras), professor Fernando Teixeira, feliz da vida, anunciou que possivelmente a partir de outubro, os 39 imortais podem deixar de ser nômades, indo de um lugar para o outro, como tem sido ao longo dos seus 58 anos de história. Fernando explicou que o deputado federal Jaime Martins, a pedido do vereador Edson Sousa, interferiu diretamente junto ao DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte), que é o responsável por administrar o patrimônio da antiga Rede Ferroviária Federal, pediu ao órgão federal que o imóvel que estava abrigando a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social do município, abrigue a sede da ADL."
Na edição de 14 de junho de 2019, o mesmo jornal DIVINEWS noticiou em artigo intitulado "Secretaria de Cultura garante sede para Academia Divinopolitana de Letras (ADL)" que finalmente o processo de cessão do próprio do DNIT à ADL estava concluído, dois anos após o start, nos seguintes termos: "o recém-empossado secretário de Cultura, Gustavo Mendes Martins, assinou Termo de Cessão durante a Sessão Solene, dia 12 de junho, no Plenário da Câmara Municipal, durante a comemoração de 58 anos de fundação da ADL. O evento teve início com a posse do novo Presidente da entidade, o acadêmico Flávio Ramos. Durante a Sessão Solene, também foram empossadas duas novas Acadêmicas, as escritoras Marlandes de Fátima Evaristo e Silva e Maria Imaculada Batista Silva que passaram a ocupar as cadeiras 06 e 19, respectivamente. A cadeira 06 era ocupada pelo escritor Pedro Pires Bessa e a cadeira 19 era ocupada pela escritora Cidah Viana."
Num improviso ao final da solenidade, Dr. Fernando de Oliveira Teixeira, que passou o bastão ao novo presidente da ADL, Flávio Ramos, agradeceu ao ex-Deputado Federal Jaime Martins, ao Vereador Edson Sousa, ao Secretário Gustavo Mendes Martins e ao Prefeito Galileu Teixeira Machado, repetindo São Francisco de Assis: ”Nada fizemos até agora, vamos começar”.
O Blog de São João del-Rei tem a honra de publicar o discurso proferido pelo Prof. Fernando de Oliveira Teixeira no dia em que a Academia Divinopolitana de Letras completou 58 anos de profícua existência em benefício da sociedade divinopolitana.
TEXTO: DISCURSO EM COMEMORAÇÃO AOS 58 ANOS DA ACADEMIA DIVINOPOLITANA DE LETRAS por Fernando de Oliveira Teixeira
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2019/06/discurso-em-comemoracao-aos-58-anos-da.html
Colaborador: FERNANDO DE OLIVEIRA TEIXEIRA
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2019/06/colaborador-fernando-de-oliveira.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Cadeira nº 11 da ADL
Patrono: Pe. António Vieira
Minha idade, completo 58 anos dia 8 de setembro.
PARABÉNS!
Parabéns pelos 58 anos de fundação da Academia Divinopolitana de Letras!
Caro amigo Braga
Agradeço-lhe pelo envio dessa mensagem.
Belo discurso em comemoração aos 58 anos da Academia Divinopolitana de Letras, a quem felicitamos pela sede própria após tantos anos em que deixaram de ser “nômades”!
Também nós da Academia Valenciana de Letras fomos nômades por alguns anos, até que a Beth assumiu a presidência por 12 anos consecutivos e, após exaustivos 10 anos de “confronto” em várias gestões legislativas e com a Prefeitura, ela conseguiu uma sede própria para a AVL, onde hoje estamos instalados através de um Ato Legislativo homologado pelo Poder Executivo. Trata-se de uma “Seção de Direito Real de Uso”, ou seja, enquanto existir a AVL a sede lhe pertencerá.
Com os reiterados agradecimentos, receba o abraço fraterno,
Do amigo Mario.
Agradecida. Fico feliz em continuar me enviando seus artigos.
Abraços.
Marlene Gandra
Maravilhoso!!! Que possamos alcançar também esse benefício. Estamos buscando isso. Obg
Att.,
Paulo José - Pajo
Amrit Prabhu
Paulo José de Oliveira
Parabéns!
Caro amigo Braga
Precisamos fazer um reparo na mensagem anterior (vide abaixo), sobre a informação referente ao Ato Legislativo que concedeu à AVL uma sede própria.
Em realidade, a “Seção de Direito Real de Uso” foi o primeiro instrumento jurídico que conseguimos junto à Câmara Municipal de Valença, para que ocupássemos o imóvel onde hoje estamos instalados. O fato é que este instrumento permitiu, apenas, o uso do imóvel, ou seja, em uma eventual mudança política na gestão do Executivo ou do Legislativo, em que a Prefeitura precisasse daquele espaço “cedido”, ela poderia requerer a devolução do prédio.
Ou seja, trata-se (mais ou menos) de um empréstimo do imóvel.
No caso da Academia Valenciana de Letras, na ocasião em que já estávamos na posse do imóvel – e com a eleição de um novo Prefeito – conseguimos reverter aquela situação através de uma Lei de “DOAÇÃO CONDICIONADA”, novamente após aprovação desta Lei pela Câmara Municipal e consequente homologação pelo Executivo valenciano.
Para que isso fosse possível, no entanto, foi necessário um novo entendimento da AVL com a Prefeitura, através de uma permuta de um terreno de propriedade da AVL (com 3.580 m²), cuja Prefeitura já havia ocupado uma parte: indevidamente. Assim, cedemos o terreno em sua extensão total, em troca do imóvel que já estávamos na posse. Foi assim que conseguimos a tal Lei que, aprovada pela Câmara Municipal, nos permitiu o domínio do imóvel através de uma Doação Condicionada. Aí sim, enquanto existir a AVL a sede lhe pertencerá.
Não queira saber o “desgaste” pessoal da Beth e da Diretoria (eu era o Secretário-Geral), novamente com a Câmara e com a Assessoria Jurídica da Prefeitura até que esse Ato Legislativo fosse aprovado, homologado e publicado.
Desculpe-nos pela extensão desta mensagem, mas precisávamos corrigir a informação anterior.
Receba o abraço fraterno,
Dos amigos Mario e Beth.
Prezado Acadêmico Francisco Braga,
Que ótima notícia nos traz. Espero que a nova sede da ADL seja uma casa à altura do sodalício e que continuem a receber o apoio do poder público.
Aproveito para dizer-lhe, caro amigo, que enviei a sua Academia uma correspondência sobre o certame literário de nossa ACLCL em vigência até o dia 07 de outubro.
Informações trago nesse link e o edital do Concurso Literário Internacional em anexo.
Ficaremos agradecidos com o apoio na divulgação do material e com sua participação.
Cordialmente,
Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette
Moises Mota
Presidente
Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette
+55 31 97114 3722
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Caixa Postal 111 - Conselheiro Lafaiete - MG - CEP 36400-970
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