sábado, 30 de julho de 2022

OTTO MOHN: UM PIONEIRO DA HOMEOPATIA

 

Por JOSÉ CARLOS GENTILI *

Otto Mohn, ilustre cristalinense, ao abraçar o autor - pioneiros e amigos inseparáveis da Capital da Esperança


Os primórdios de Brasília guardam segredos vivenciais projetados oniricamente pelo maior educador do século XIX Dom Giovanni Bosco Uomo de Castelnuovo Don Bosco, piemontês, que na noite de Santa Rita de Cássia, anteviu: 
“Quando vierem escavar as minas ocultas no meio destas montanhas, surgirá aqui a terra prometida, vertendo leite e mel. Será uma riqueza inconcebível.” 
A antevisão profética, entre os paralelos 15 e 20, seria Brasília, um novo marco! 
 
Em 1945, durante Congresso Internacional Panamericano, foi fundada no Rio de Janeiro a Federação Homeopática Brasileira, com as seguintes finalidades: 
“Criação de um curso pós-graduado para médicos, farmacêuticos e doutorandos, de medicina: organização de um hospital homeopático e ambulatório. Oficialização da homeopatia e sindicalização, divulgação da homeopatia em geral. Para tal fim apoiando e filiando todas as associações homeopáticas brasileiras.” 
A entidade foi presidida pelo Coronel Doutor Duque Estrada (Henrique Dias Duque Estrada) Diretor da Escola Militar , tendo como Vice-Presidente o Dr. Cássio de Rezende, e compunha o rol de inúmeros fundadores o cardiologista Otto Mohn, integrante da Policlínica Central do Exército Brasileiro e instrutor da Escola de Saúde. 
 
Estudioso de Christian Friedrich Samuel Hahnemann Pai da Homeopatia , o culto General Otto Mohn teve oportunidade de mostrar-nos os meandros, até hoje discutíveis pela Medicina de Galeno Pai da Farmácia , acerca do princípio latino similia similibus curantur, tratativas estas elencadas no tratamento que se dá a partir da diluição e dinamização de uma mesma substância. 
 
Usuário desde a puberdade, enraizada pela cultura europeizada dos pampas, buscava no médico de Cristalina, amigo e ambos aficionados pela museologia, algumas mezinhas medicinais, tisanas que a natureza sempre prodigalizou desde os tempos primevos.
 
Os raizeiros e as benzedeiras sempre cativaram a minha alma ignota e curiosa. 
 
Há países que oficializaram a homeopatia e outros não, daí a eterna questão. 
 
Não serei eu a emitir juízos de valor e serventia no que concerne às plantas curativas, administradas na Província dos Goyazes desde os tempos das bandeiras e entradas, à busca das minas auríferas. Em 1960, quando aqui chegamos, nestes confins da hinterlândia brasileira, a Mãe-Natureza era uma farmácia viva a céu aberto. Para picada de cobra, quer fosse do gênero crotalus, botrops ou micrurus, a salvaguarda era utilizar: rodelas de tiú, uma euforbiácea classificada como adenoropium opiferum M; igualmente, a cascaveleira (crotolaria Jungeae); a alfavaca (ocimum gratissimum L.), rica em eugenol, que eliminava fungos e bactérias; o alho (allium sativum L.), com função antiviral, fungicida, antibacteriana, por conter os elementos alicina e ajoeno; a aroeira (myracrodrurom urundeuva Fr.), cuja casca era um poderoso anti-inflamatório, pois continha chalconas diméricas; a camomila (chamomilla recutita Fr.), eficaz chá antiespasmódico, em decorrência do óleo chamazuleno e dos princípios ativos chamados bisabolol e camo-espiroeter; o capim-santo, espasmódico decorrente do óleo citral e mirceno; o anador (justicia pectoralis Leon), usado contra a asma e a bronquite; o mastruço, conhecido como erva-de-santa-maria, indicada contra tosse de garganta, bronquite, pois tem suco mucilaginoso e timol, demulcente e balsâmico; o pau-d'arco ou ipê roxo (tabebuia avvelanedeae Lor), adstringente, face à substância dita lapachol; a quebra-pedra, usada para os rins; a imbaúba, usada como anti-hipertensivo; a vassourinha (scoparia dulcis L.), que rebaixa os índices de açúcar, colesterol e triglicerídios; a sangra d'água (croton urucurana Baillon), cujas folhas protegem feridas e estancam sangramentos. 
 
Ainda hoje, o Museu da Estrada dos Currais, na goiana Fazenda Cachoeiras da Boa Vista, onde Auguste de Saint-Hilaire pernoitou durante a herborização pelo Planalto Central, guarda relíquia, vinda da Inglaterra, à época, representada por uma peça de ferro, chamada “chocolateira”, usada pelos habitantes da região para preparar as mezinhas ao fogo crepitante.
 
Uma raridade!  
 

 
 
* Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília
 

 
II. AGRADECIMENTO
 
O gerente do Blog agradece à sua amada esposa, cantora lírica Rute Pardini Braga, a formatação e edição das fotos utilizadas neste elogio literário.

9 comentários:

José Carlos Gentili (escritor, jornalista, membro da Academia de Letras de Brasília, da Academia Brasileira de Filologia e da Academia das Ciências de Lisboa) disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Raquel Naveira (membro da Academia Matogrossense de Letras e, como poetisa publicou, entre outras obras, Jardim Fechado, antologia poética em comemoração aos seus 30 anos dedicados à poesia) disse...

Caro Francisco Braga,
Gostei de conhecer o médico homeopata Otto Mohn, através do texto do Professor Gentili.
Quando criança, aqui em Mato Grosso, ouvia falar sobre mezinhas de quina e jaracatiá para febres.
Os segredos da natureza.
Abraço fraterno,
Raquel Naveira

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Prezad@,
O Blog de São João del-Rei brinda nova colaboração de JOSÉ CARLOS GENTILI sobre Dr. OTTO MOHN, cidadão ilustre de Cristalina-GO.
Com a palavra, o autor da crônica encaminhando o seu elogio literário a nós, seus assíduos leitores:
"Aos amigos, novos e velhos!
Aos novos, o aprendizado. Aos velhos, a recordação de amigos, que nos deixaram saudade.
Otto Mohn foi médico homeopata, nascido em Cristalina, na Serra dos Cristais, em Goiás (a maior mina de cristal hialino do mundo).
Dirijo-me, também, aos médicos, que se esqueceram da clínica geral, experimental, vivencial, embasada na Mãe Natureza, restringindo-se aos consectários do incrível desenvolvimento laboratorial e farmacológico, e esquecerem-se da origem dos fármacos.
Um dia qualquer escreverei mais, a recordá-lo. Além de amigo, uma figura notável, museólogo, também. Verdadeira avis rara no Brasil.
Doce, como são os avós.
Incrivelmente inteligente e culto, a cultivar a dialética, a feitio de um seminarista.
Ouvi-lo era uma dádiva incomum! Uma bênção intelectiva.
Otto Mohn guardava a energia da singeleza, a sabedoria dos mansos de espírito.
Resta-nos a saudade e o exemplo a reger nossos comportamentos.
Como diria Deonísio da Silva, filólogo maior das terras tupiniquins: El Rey.
Um dia qualquer, escreverei mais.
Brasília, 29 de julho de 2022 (Dia de Santa Marta, amiga de Jesus).
Cordialmente
José Carlos Gentili"

Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2022/07/otto-mohn-um-pioneiro-da-homeopatia.html 👈

Cordial abraço,
Francisco Braga

Diamantino Bártolo (professor universitário Venade-Caminha-Portugal, gerente de blog que leva o seu nome http://diamantinobartolo.blogspot.com.br/) disse...

Olá, estimado amigo Braga
Muito obrigado.
Bom fim de semana, na medida do possível.
Abraços.

Diamantino.

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (professor universitário, desembargador, ex-presidente do TRE/MG, escritor e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

MUITO BEM!
COMO DESCENDENTE DE MÉDICOS, APRECIEI BASTANTE

Dr. Mário Pellegrini Cupello (escritor, pesquisador, presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, e sócio correspondente do IHG e Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Caro amigo Braga
Agradecemos pela gentileza do envio.
Abraços, de Mario e Beth.

Geraldo Reis (poeta) disse...

Obrigado, amigo. Confirmo com esse "recibo", a qualidade de texto e a escolha feliz de temas e trabalhos publicados no blog.
Abraço poético, acadêmico e marianense.

Frei Joel Postma o.f.m. (compositor sacro, autor de 5 hinários, cantatas, missas e peças avulsas) disse...

Olá Francisco e Rute!
Não faltam saudades dos tempos em que o coral 'Trovadores da Mantiqueira' dava concertos, por todo lado, com seu acompanhamento ao piano!Foram bons tempos!!
Grande abraço!! f. Joel.

Geraldo Reis (poeta) disse...

Registro o recebimento de sua sentida homenagem a Otto Mohn, com o merecido destaque. Acrescento: Vão-se as pessoas, fisicamente apenas. O espírito de Deus, que é imortal e que nos habita, nos dá de presente a eternidade quando acontece a viagem.