quinta-feira, 25 de maio de 2023

CORAGEM SOB FOGO: Testando as Doutrinas de Epicteto num Laboratório Comportamental Humano

Por JAMES BOND STOCKDALE *

Tradução do inglês e Notas por Aldo DINUCCI & Joelson NASCIMENTO 

 

INVICTUS 

Por WILLIAM E. HENLEY
   (Trad. Aldo Dinucci)
 
Fora da noite que me cobre 
Negra como carvão de polo a polo 
Agradeço a quaisquer deuses que houver 
Por minha alma invencível. 
 
No feroz aperto das circunstâncias 
Não tremi nem lamentei em voz alta. 
Sob os golpes de clava da fortuna 
Minha cabeça está ensanguentada, mas não curvada. 
 
Para além desse lugar de cólera e lágrimas 
Nada se insinua senão o Horror da sombra, 
E, apesar da ameaça dos anos, 
Encontra-me e haverá de encontrar-me destemido. 
 
Não importa quão estreita seja a passagem, 
Quão carregada de punição a sentença. 
Eu sou o mestre do meu destino: 
Eu sou o comandante de minha alma.
 

Estátua de James Bond Stockdale, US Naval Academy, Annapolis, Maryland, EUA
 

I. CORAGEM SOB FOGO: Testando as Doutrinas de Epicteto num Laboratório Comportamental Humano  ¹
 
Ingressei na vida filosófica como um piloto naval de trinta e oito anos de idade, quando cursava a graduação da Universidade de Stanford. Eu estivera na Marinha por vinte anos e raramente fora de uma cabine de piloto de caça. Em 1962 comecei meu segundo ano como estudante de Relações Internacionais, podendo me estabelecer como um estrategista do Pentágono. Mas meu coração não estava ali. Eu estava ainda para ser inspirado em Stanford, e me via meramente manipulando um tedioso material sobre como as nações haviam se organizado e se governado. Eu estava velho demais para isso. Sabia como os sistemas políticos operavam; os havia derrotado por anos. 
Então, no que podemos chamar de uma acrobacia aérea, cruzei pelos lados do Departamento de Filosofia da Stanford em uma manhã de inverno. Eu tinha cabelos grisalhos e usava roupas civis. Uma voz estrondou de um escritório: “Posso ajudá-lo?” A voz era de Philip Rhinelander, decano de Ciências e Humanidades, que ensinava Filosofia VI: Os Problemas do Bem e do Mal
Primeiramente ele pensou que eu era um professor, mas nós rapidamente descobrimos na Marinha um ponto em comum, porque ele servira durante a Segunda Guerra Mundial. No espaço de quinze minutos concordamos que eu entraria no meio do seu curso de dois períodos e, para compensar minha falta de conhecimento, teríamos de nos reunir por uma hora semanal para aulas particulares em sua casa no campus
Philip Rhinelander abriu-me os olhos. Nesse estudo tudo aconteceu para mim – minha inspiração, minha dedicação à vida filosófica. Daí em diante, eu estava fora de Relações Internacionais – já tinha créditos suficientes para o Mestrado – e entrei para a Filosofia. Começamos a trabalhar de Sócrates a Aristóteles e Descartes. E então passamos para Kant, Hume, Dostoiévski e Camus. Enquanto isso, Rhinelander estava me analisando, tentando descobrir o que eu procurava. Ele percebeu que meu interesse nos Diálogos sobre a Religião Natural de Hume era bastante intenso. Na minha última sessão, ele alcançou o alto de sua estante de livros e me trouxe uma cópia do Encheirídion e disse: “Creio que você se interessará por isso”. 
Encheirídion significa “à mão”. Em outras palavras, é um Manual. Rhinelander explicou que seu autor, Epicteto, era um homem de inteligência e sensibilidade bastante incomuns, que, a partir de sua precoce e direta exposição à extrema crueldade e direta observação do abuso de poder e auto-indulgente libertinagem, amealhou sabedoria ao invés de amargura. 
Epicteto nasceu escravo por volta do ano 50 e cresceu na Ásia Menor falando a língua grega de sua mãe escrava. Por volta dos quinze anos de idade foi despachado para Roma acorrentado, numa caravana de escravos, tendo sido tratado com selvageria por meses durante a viagem. Vendido em Roma como um inválido (seu joelho havia sido despedaçado e deixado sem tratamento), acabou sendo “comprado barato” por um liberto chamado Epafrodito, um secretário do imperador Nero. Foi levado para viver no palácio de Nero num período em que o imperador tratava com negligência o seu império por causa de viagens frequentes à Grécia como ator, músico e condutor de bigas de corrida. Quando em casa, em seus alojamentos em Roma, Nero se ocupava matando seu meio-irmão, sua esposa, sua mãe, sua segunda esposa. Finalmente, foi o senhor de Epicteto, Epafrodito, quem cortou a garganta de Nero, quando este se atrapalhou em seu suicídio enquanto os soldados derrubavam a porta para prendê-lo. 
Isso pôs Epafrodito em maus lençóis, e o agora cauteloso escravo Epicteto percebeu que tinha livre acesso a Roma. Sendo um jovem sério e indubitavelmente desgostoso, gravitou para as magnânimas aulas públicas dos professores estóicos, que eram os filósofos de Roma naqueles dias. Epicteto eventualmente tornou-se aprendiz do melhor professor de Estoicismo do império, Musônio Rufo e, depois de dez anos ou mais de estudo, alcançou, por seus próprios méritos, o status de filósofo. Com isso lhe adveio a verdadeira liberdade em Roma, e a preciosidade desse acontecimento foi devidamente celebrada pelo ex-escravo. Estudiosos afirmam que, em suas obras, a liberdade individual é elogiada seis vezes mais que no Novo Testamento. Os estóicos sustentam que todos os seres humanos são iguais aos olhos de Deus: homem e mulher, negro e branco, escravo e livre. 
Li cada um dos escritos de Epicteto que nos chegaram duas vezes, através de duas traduções. Mesmo nos tradutores mais conservadores Epicteto nos fala como um contemporâneo nosso. Isso é “palavra viva”, não o grego ático literário ao qual estamos habituados em homens dessa língua. O Encheirídion não foi realmente escrito por Epicteto, que era acima de tudo um professor determinado e um homem modesto que nunca usaria seu tempo para transcrever suas próprias aulas, mas por um de seus mais meticulosos e determinados alunos. O nome desse aluno é Arriano, um grego de origem aristocrática muito inteligente, com cerca de vinte anos. Depois de ouvir suas poucas primeiras aulas, tem-se notícia de que Arriano exclamou algo como: “Filho da mãe! Temos de passar esse cara para o papiro!” 
Com o consentimento de Epicteto, Arriano anotou suas palavras de modo literal, e as reuniu através de uma espécie de frenética taquigrafia que inventou. Ele organizou as palestras em livros; nos dois anos em que esteve matriculado na escola de Epicteto, Arriano preencheu oito livros. Quatro deles desapareceram em algum momento antes da Idade Média. Foi aí que os quatro livros restantes foram reunidos sob o título Diatribes de Epicteto. Arriano organizou o Encheirídion de Epicteto depois de completar os oito livros. Trata-se tão somente dos melhores momentos destes oito livros “para os homens atarefados”. Rhinelander disse-me naquela última manhã: “Como um militar, penso que você terá um interesse especial nisso. Frederico, o Grande, nunca saía em campanha sem uma cópia desse livro de bolso em sua bagagem”. 
Jamais esquecerei aquele dia, e a essência do que esse extraordinário homem disse, quando nos despedimos, ficou profundamente marcada em minha mente. Foi algo muito próximo disso: o Estoicismo é uma filosofia nobre que provou ser mais praticável do que um cínico moderno poderia esperar. O ponto de vista estóico é frequentemente mal interpretado, porque o leitor casual não compreende que tudo gira em torno da “vida interior” do homem. Os estóicos fazem parecer pouco importante a dor física, mas isso não é fanfarronice. Eles estão falando dela comparando-a com a devastadora agonia de vergonha que eles concebem que homens bons experimentam quando sabem em seus corações que deixaram de cumprir seu dever diante de seus companheiros ou de Deus. Embora pagãos, os estóicos possuíam uma religião natural monoteística, e muito contribuíram para o pensamento cristão. A paternidade de Deus e a irmandade dos homens eram conceitos estóicos antes do cristianismo. De fato, um dos primeiros teóricos estóicos, Crisipo, concebeu a primeira analogia entre o que se pode chamar de alma do universo e o alento de um ser humano, pneuma em grego. Diz-se que essa concepção estóica de um pneuma celestial é a bisavó do Espírito Santo cristão. São Paulo, um judeu helenizado criado em Tarso, uma cidade estóica na Ásia Menor, sempre usou o termo grego pneuma, ou sopro, para “alma”. 
Rhinelander disse-me que a exigência estóica de se ter um pensamento disciplinado era, naturalmente, cumprida por apenas uma pequena minoria de vencedores, mas esses eram em todos os lugares os melhores. Como os seus correlatos cristãos, o calvinismo e o puritanismo, ele produziu os mais fortes caracteres de seu tempo. Em teoria, uma doutrina de impiedosa perfeição, produziu de fato homens de coragem, piedosos e de boa vontade. Rhinelander selecionou três exemplos: Catão, o jovem, o Imperador Marco Aurélio e Epicteto. Catão foi o maior republicano de Roma que fez oposição a Júlio César. Ele foi evidentemente o herói de George Washington: estudiosos encontram citações de Catão nos discursos de despedida de Washington – citações sem aspas. O Imperador Marco Aurélio levou o império romano ao auge de sua força e influência. E Epicteto, o grande mestre, fez sua parte na mudança do comando de Roma, do refugo que esta conhecera no palácio de Nero ao poder e à decência que a mesma testemunhou sob Marco Aurélio. 
Marco Aurélio foi o último dos cinco imperadores (todos com ligações com o Estoicismo) que sucessivamente governaram durante o período que Edward Gibbon descreveu em seu Declínio e Queda do Império Romano da seguinte forma: “Se se pedir a alguém para determinar o período da história do mundo no qual a raça humana foi mais feliz e próspera, ele, sem hesitação, poderá mencionar o período que vai da ascensão de Nerva (ano 96) à morte de Marco Aurélio (ano 180). Os reinos reunidos dos cinco imperadores dessa era são possivelmente o único período da história no qual a felicidade de um grande povo foi o único objetivo de governo”. 
Epicteto recebeu o mesmo tipo de ouvintes que Sócrates recebera cinco séculos antes – jovens aristocratas destinados às carreiras nas áreas das finanças, das artes, do serviço público. As melhores famílias lhe enviavam seus melhores filhos na faixa dos vinte anos para ouvirem-no falar sobre a vida feliz, de modo a se desfazerem da ideia de que eles mereciam se tornar playboys, para se conscientizarem de que sua função era servir aos seus semelhantes. 
Em sua inimitável e franca linguagem, Epicteto explicou que seu curso não era sobre “lucros ou rendimentos, paz ou guerra, mas sobre a felicidade e a infelicidade, o sucesso e o fracasso, a escravidão e a liberdade”. Seu aluno ideal não era alguém capaz de “falar fluentemente sobre princípios filosóficos como um tagarela inútil, mas falar sobre coisas que te farão forte se teu filho morrer, se teu irmão morrer, ou se tu mesmo tiveres de morrer ou ser torturado”. “Que uns pratiquem ações judiciais, outros, problemas, outros, silogismos; aqui tu praticarás como morrer, como ser acorrentado, como ser torturado ou exilado”. Um homem é responsável por seus próprios “juízos, mesmo em seus sonhos, na embriaguez ou na loucura da melancolia”. Cada um produz seu próprio bem e seu próprio mal, sua boa fortuna, sua má fortuna, sua felicidade e sua desgraça. E, para completar tudo isso, ele sustentava que é impensável que o erro de um homem possa ser a causa do sofrimento de outros. O sofrimento, como tudo mais no Estoicismo, está todo aqui: arrependimento por destruir a si mesmo. 
Assim, o que Epicteto disse aos seus alunos foi que não pode haver coisa tal como ser “vítima” de outro homem. Você só pode ser “vítima” de si mesmo. Tudo está em como você disciplina a sua mente. Quem é o seu senhor? “Quem controla cada uma das coisas nas quais você pôs seu coração”. “Qual é o objetivo que toda virtude almeja? Serenidade”. “Mostra-me um homem que, embora doente, é feliz; que, embora em perigo, é feliz; que, embora na prisão, é feliz, e te mostrarei um estóico”. 
Quando me formei, Sybil e eu tomamos nossos quatro filhos e nossos pertences e rumamos para o sul da Califórnia. Eu estava para assumir o comando do esquadrão de combate 51, que utiliza Cruzaders supersônicos F8, primeiro na estação naval de Miramar, perto de San Diego, e depois, é claro, no mar, a bordo de vários porta-aviões no Pacífico Ocidental. Exatamente três anos depois de irmos para o nosso novo lar perto de San Diego fui derrubado e capturado no Vietnã do Norte. 
Durante aqueles três anos, fui enviado a três missões de sete meses cada através da costa do Vietnã. Na primeira, nos dedicamos a supervisionar as lutas que estavam irrompendo no sul; na segunda, comandei a primeira incursão de bombardeio contra o Vietnã do Norte; e, na terceira, estava voando em combate quase diariamente como comandante aéreo do USS Oriskany. Mas, na minha cabeceira, não importa em que transporte eu me encontrasse, estavam meus livros de Epicteto: o Encheirídion, as Diatribes, As Memorabilia de Xenofonte, a Ilíada e a Odisseia (Epicteto supunha que seus alunos estivessem familiarizados com as obras de Homero). Não tive tempo para ser um leitor assíduo, mas passava várias horas por semana me aprofundando nessas leituras. 
Eu pensava que era óbvio para meus amigos mais íntimos, como certamente o era para mim, que eu era um homem mudado, e digo mais, um homem melhor por ter sido introduzido à Filosofia e especialmente a Epicteto. Eu estava trilhando um caminho diferente – certamente não uma via antimilitarista, mas, em alguma medida, uma via antiorganizacional. Contra o pano de fundo das imposturas e trapalhadas dos tempos de paz que as organizações militares parecem ter de atravessar, exige-se um caráter reflexivo para aceitar a necessidade de um elegante e conscientemente altruísta improviso sob pressão, para quebrar procedimentos padronizados e estabelecer uma nova maneira de operar. Eu tinha me tornado um homem imparcial – não indiferente, mas imparcial – capaz de lançar fora o livro de normas sem a menor hesitação quando ele não mais fizesse frente às circunstâncias externas. Fui capaz de colocar oficiais jovens acima de experientes, sem embaraço, quando os instintos daqueles para os tempos de guerra eram mais confiáveis que os destes. Esse novo desapego e essa nova flexibilidade que eu adquirira me foram cobrados mais tarde, na prisão. 
Mas, subjazendo à minha confiança renovada, havia a percepção de que encontrara a filosofia própria para as artes militares, tais como eu as praticava. Os estóicos romanos cunharam a fórmula Vivere Militare! – “Viver é ser um soldado!”. Epicteto diz nas Diatribes: “Não sabes que a vida é um serviço militar? Um deve montar guarda, outro deve sair em patrulha de reconhecimento, outro deve ir à batalha. Não percebes a que condição miserável levarás o exército, na medida em que ele contar contigo, se negligenciares as tuas responsabilidades quando alguma ordem severa recair sobre ti?” Manual de Epicteto: “Lembra que és um ator no drama teatral que o Dramaturgo escolher. Se Ele o quiser breve, breve será o drama, se longo, longo; se quiser que cumpras o papel de mendigo, cumpre também este papel de modo digno. E, da mesma forma, se coxo, se magistrado, se simples cidadão. Pois isto é teu: encenar belamente o papel que te é oferecido. Mas cabe a outro escolhê-lo”. “Cada um de nós, escravo ou homem livre, veio a esse mundo com concepções inatas sobre o que é bom e mau, nobre e vergonhoso, decente e indecente, felicidade e infelicidade, apropriado e inapropriado”. “Se considerares a ti mesmo como um homem e como parte de um todo, será apropriado para ti que ora estejas doente, ora viajes e corras riscos, ora passes necessidade, e que eventualmente morras antes da tua hora. Por que, então, te atormentas? Querias que outro estivesse doente e com febre agora, que outro viajasse, que outro morresse? Pois é impossível, num corpo tal como o nosso, isto é, nesse universo que nos envolve, entre criaturas irmãs, que tais coisas não aconteçam, umas a um homem, outras a outro.” 
Em 9 de setembro de 1965, voei a quinhentos nós direto para uma armadilha de fogo antiaéreo, em um pequeno avião A4 – as paredes da cabine não distavam sequer noventa centímetros uma da outra – que eu não conseguia mais controlar depois que irrompeu em chamas e seus sistemas se apagaram. Após a ejeção eu tinha cerca de 30 segundos para fazer minha última declaração em liberdade, antes de cair na rua principal de uma pequena aldeia à frente. Que então me resgatem, e murmurei para mim mesmo: “Cinco anos aqui, pelo menos. Estou deixando o mundo da tecnologia e entrando no mundo de Epicteto”. 
 
Stockdale descendo de seu caça no Vietnã. Ele seria abatido no voo subsequente.

 
Do Manual de Epicteto, quando fui ejetado da aeronave, eu tinha “na ponta da língua” a compreensão de que um estóico sempre mantém arquivos separados em sua mente para (A) as coisas que “dependem dele”, e (B) as que “não dependem dele”. Outra maneira de dizer isto é (A) as coisas que “estão sob seu controle”, e (B) as que “não estão sob seu controle”. Outro modo ainda de dizer o mesmo é (A) as coisas que estão no âmbito de “sua vontade, de seu livre arbítrio”, e (B) as que estão além. Todas as que estão na categoria “B” são externas, além de meu controle, condenando-me em última análise ao medo e à ansiedade se cobiçá-las. Todas as coisas da categoria “A” dependem de mim, estão sob meu controle, estão no âmbito de minha vontade, e são propriamente temas com os quais devo me ocupar e me envolver totalmente. Elas incluem minhas opiniões, meus anseios, minhas aversões, minha própria aflição, minha própria alegria, meus juízos, minha atitude em relação aos acontecimentos, meu próprio bem e meu próprio mal. 
Para explicar a expressão “meu próprio bem e meu próprio mal”, cito um trecho de Alexander Solzhenitsyn de seu livro Gulag. Ele escreve sobre o momento na prisão em que percebeu a força dos poderes residuais, e começou, como qualifiquei para mim mesmo, a “ganhar alavancagem moral”, experimentando picos de ocasional euforia ao compreender que estava conhecendo a si mesmo e o mundo pela primeira vez. Ele chama isso de “ascender”, e intitula o capítulo no qual trata disso de “A Ascensão”: 
Foi somente quando estava sobre o apodrecido catre da prisão que percebi dentro de mim mesmo o primeiro despontar do bem. Gradualmente manifestou-se a mim que a linha que separa o bem do mal não passa entre Estados, nem entre classes, nem entre partidos políticos, mas diretamente através de cada coração humano, através de todos os corações humanos. E é por isso que me volto para os meus anos de encarceramento e digo, algumas vezes para espanto dos que estão ao meu redor, “Bendita sejas, prisão, por teres sido uma parte de minha vida”. 
Compreendi isso muito antes de lê-lo. Solzhenitsyn entendeu, como eu e outros entendemos, que o bem e o mal não são simples abstrações que você discute, dá aulas sobre e atribui a essa ou àquela pessoa. O único bem e o único mal que significam alguma coisa estão exatamente em seu próprio coração, em sua vontade, sob seu controle, onde depende de você. Manual de Epicteto, 32: “Se é algo que não está sob nosso controle, é absolutamente necessário que não seja nem um bem nem um mal”. Diatribes: “O mal reside no mau uso da intenção moral, e o bem, no contrário. O curso da vontade determina a boa e a má fortuna, e o equilíbrio entre a infelicidade e a felicidade”. Em resumo, o que os estóicos dizem é “Trabalhe com o que está sob seu controle e terá muito que fazer”. 
O que não depende de você? O que está fora de seu controle? O que não está sujeito a você em última análise? Para começar, vamos tomar o “seu posto na vida” ². Ao cair em direção àquela pequena aldeia, em minha curta viagem de paraquedas, eu estava a ponto de aprender quão insignificante era o meu controle sobre o “meu posto na vida”. Isso não depende absolutamente de mim. Estava então deixando de ser o líder de mais de cem pilotos e uns mil homens e, sabe Deus, todo tipo de status simbólico e reputação, para me tornar um objeto de desprezo. Seria então conhecido como um “criminoso”. Mas isso não é nem metade da compreensão que é a percepção da própria fragilidade. Que se pode, pelo vento, pela chuva, pelo gelo, pela água do mar ou por homens, ser levado ao desamparo e a uma situação desesperadora, tornando-se incapaz de controlar até mesmo os próprios intestinos – e em questão de minutos. E, ainda mais que isso, vai se deparar com fragilidades que nunca se permitiu crer possuir. Como, por exemplo, depois de alguns minutos, num frenesi de ação, sendo cuidadosamente amarrado, por um profissional, com cordas apertadas como torniquetes, com as mãos postas para trás, ameaçado por baionetas postas à frente e abaixo, próximas dos tornozelos presos em alças atadas a uma barra de ferro. E, num furor de ansiedade, sentir cessar a circulação da parte superior do corpo, a crescente dor provocada e a progressiva claustrofobia. Tudo isso pode fazer com que você deixe escapar respostas, algumas vezes respostas corretas, para questões sobre qualquer coisa que os torturadores saibam que você saiba (Daqui em diante, me referirei a essa situação apenas como “tortura nas cordas”). 
O “posto na vida”, então, pode ser mudado, em questão de minutos, de um honrado, competente e educado gentleman para o de um homem tomado de pânico, soluçando e amaldiçoando a si mesmo. E qual é o sentido de se dizer tudo isso? Viver com a falsa pretensão de que você sempre controlará seu posto na vida é desafiar o perigo; você está pedindo para sofrer uma desilusão. Assegure-se então de que, no fundo de seu coração, no seu eu interior, você trata seu posto na vida com indiferença, não com desprezo, mas apenas com indiferença
E o mesmo vale para uma longa lista de coisas que algumas pessoas que não refletem crêem ter o controle garantido em última instância: o próprio corpo, propriedades, riqueza, saúde, vida, morte, prazer, sofrimento, reputação. Considere a “reputação”, por exemplo. Faça o que fizer, a reputação é tão instável quanto o posto na vida. São os outros que decidem sobre qual é a sua reputação. Tente torná-la tão boa quanto possível, mas não se prenda a ela. Não seja ávido por ela nem a persiga através de labirintos. Como diz Epicteto: “Que são as tragédias senão o retrato em versos trágicos dos sofrimentos de homens que admiraram as coisas externas?” No âmago de seu coração, quando você conseguir a chave e abrir a velha escrivaninha onde realmente estão guardadas as suas coisas, não permita que a “reputação” se misture com o seu anseio moral ou com a sua vontade — estas duas coisas são demasiado importantes. Assegure-se de que a “reputação” esteja numa gaveta de baixo com a etiqueta “questões indiferentes”. Como Epicteto diz: “Quem almeja ou evita as coisas que não estão sob seu controle não pode ser confiável nem livre, mas ele mesmo deve ser arrastado, atirado de um lado para o outro e terminar submetendo-se aos outros”. 
Sei das dificuldades de aceitar isso até o fim. Você continua pensando em questões práticas. Todos têm de jogar o jogo da vida. Você não pode simplesmente andar por aí dizendo: “Não dou a mínima para a riqueza, a saúde ou se eu for mandado para a prisão ou não”. Epicteto levou tempo para explicar melhor o que quis dizer. Ele diz que todos devem jogar o jogo da vida – que os melhores o jogam com “habilidade, estilo, presteza e graça”. Mas, como a maioria dos jogos, você o joga com uma bola. Seu time intensamente se esforça para fazê-la atravessar a linha de fundo. Mas, depois do jogo, o que se faz com a bola? Ninguém se importa. Não vale a pena se importar com ela. A competição, o jogo, foi a coisa propriamente dita. A bola foi “usada” para tornar o jogo possível, mas em si mesma não tem valor algum que justifique que se lute por ela. 
Uma vez terminado o jogo, a bola é uma questão indiferente. Epicteto, em outra ocasião, usa o exemplo do jogo de dados. Os dados, uma vez exibidos seus números, são uma questão indiferente. Mas decidir se é preciso aceitar os números ou lançar os dados novamente é um ato voluntário e, portanto, não é uma questão indiferente. O ponto de Epicteto é que o nosso uso das coisas externas não é questão indiferente, porque nossas ações são produtos de nossa vontade e nós temos total controle sobre ela, mas os dados por si mesmos, como a bola, são coisas sobre as quais não temos controle algum. São coisas externas que não podemos nos permitir cobiçar ou levar a sério, sob pena de colocarmos nossos corações nelas e nos tornarmos escravos dos que as controlam. 
As explicações desse conceito parecem tão modernas e, no entanto, tão somente lhes ofereci citações praticamente literais das observações feitas há dois mil anos por Epicteto para seus alunos na colônia grega de Nicópolis. 
Retomei esses pensamentos essenciais na prisão; relembrei também várias observações que modelam atitudes. Aqui está Epicteto, ensinando a escapar dessas armadilhas: “O senhor de alguém é quem possui o poder para conservar ou suprimir as coisas desejadas por esse alguém. Portanto, quem ansiar ser livre não deve desejar nem evitar coisa alguma que esteja sob o controle de outro. Caso contrário necessariamente será escravo” (Manual de Epicteto, 14). E aqui está a razão de porque nunca se deve suplicar: “Pois é preferível teres de morrer sem aflição e sem medo que viveres inquieto na abundância” (Manual de Epicteto, 12). Suplicar implica negociar, fazer tratos, acordos, retaliar, disputar. 
Se você quiser estar livre de “aflição e culpa”, que são os torniquetes cruciais, os reais destruidores a longo prazo da vontade, você tem de se livrar de todos os seus instintos de negociar, de comprometer-se com os outros. Você tem de aprender a manter-se reservado, nunca dar margem para acordos, nunca se nivelar aos seus adversários. Você tem de tornar-se o que Ivan Denisovich chamou de um “prisioneiro enjaulado movendo-se lentamente.” 
Tudo isso, ao longo dos três anos anteriores, eu tinha sem saber guardado para o futuro. Agora, para voltar à minha ejeção do A-4, posso ainda ouvir os gritos ao entardecer, os tiros de pistola e o uivo das balas rasgando meu paraquedas, e ver punhos se elevando na rua abaixo enquanto meu paraquedas se prendia numa árvore, pondo-me, porém, são e salvo no chão. Com dois estalidos dos fechos de rápida soltura eu estava livre do paraquedas, e comecei imediatamente a ser linchado por dez ou quinze brutamontes que eu percebera, com minha visão periférica, andando pesadamente a partir da minha direita. 
Não quero exagerar ou mostrar que me surpreendi por minha recepção. Quando o linchamento e o espancamento acabaram (e duraram dois ou três minutos, até que um homem com um capacete escuro lá chegasse para soprar o seu apito de policial), eu estava com uma perna gravemente ferida, e tive a certeza de que carregaria as sequelas disso por toda a vida. Meu pressentimento acabou se revelando verdadeiro. Mais tarde senti algum alívio – mínimo – a partir de uma advertência de Epicteto da qual me recordei: “Claudicar é um impedimento para a perna, mas não para a vontade. Diz isso, portanto, para cada uma das coisas que acontecem contigo. Com efeito, descobrirás que o impedimento é próprio de alguma outra coisa, mas não teu” (Manual de Epicteto, 9). 
Mas, durante o intervalo de tempo entre o puxar da alavanca de ejeção do aeroplano e a minha chegada à rua, tinha-me tornado um homem com uma missão. Não posso explicar isso sem descarregar uma pequena bagagem emocional que foi parte do legado de minha geração de militares em 1965. 
Em consequência da guerra da Coreia, apenas dez anos antes, todos nos lembrávamos de ter lido sobre e ter visto notícias televisivas acerca de investigações do governo quanto à conduta de alguns prisioneiros de guerra norte-americanos na Coreia do Norte e na China. Havia uma famosa série de artigos na revista New Yorker que mais tarde tornou-se um livro intitulado In Every War but One. Esse título fazia referência ao fato de que, nos campos de prisioneiros de norteamericanos, era cada um por si. Desde aqueles dias tenho conhecido oficiais que foram prisioneiros nessa guerra, e agora vejo em muitas dessas reportagens seleção de observações e conversa fiada. Contudo, houve casos de jovens soldados que foram confundidos pelas circunstâncias, amedrontados até a morte, em clima frio, tratando-se como cães lutando por restos, atirando uns aos outros na neve para morrer, e ninguém fazendo nada a respeito. 
Isso não podia continuar, e Eisenhower nomeou uma comissão para criar o texto do código de conduta dos combatentes norteamericanos. O texto reflete uma forma de compromisso pessoal. Artigo 4: “Se me tornar um prisioneiro de guerra, serei leal aos meus colegas prisioneiros. Não darei informações nem tomarei parte em ação alguma que possa comprometer meus camaradas. Se eu for o mais antigo, ficarei no comando. Se não, obedecerei às ordens de meu superior em todos os sentidos”. Em outras palavras, a partir do momento em que Eisenhower assinou o documento, os prisioneiros de guerra norteamericanos nunca mais puderam escapar das linhas de comando; a guerra continua por trás das grades. Como eu estava bem informado, sabia de tudo o que se passava – que os norte- vietnamitas já mantinham cerca de vinte e cinco prisioneiros, provavelmente em Hanói, que eu era o único comandante aéreo que sobrevivera a uma ejeção, e que eu seria o mais antigo entre eles, o oficial em comando, e assim continuaria a ser, muito provavelmente, por toda essa guerra (que eu estava certo de que iria durar no mínimo mais outros cinco anos). E aqui estava eu começando estropiado e atirado ao chão. 
Epicteto mostrou-se correto. Depois de uma intervenção cirúrgica muito precária, usei muletas durante dois meses, e a perna deformada, curando-se por si mesma, estava forte o suficiente para sustentar-me sem as muletas depois de um ano. Tudo o que relatei até aqui foi apenas um revés temporário em relação às coisas que eram importantes para mim. E me era muito importante ter sido designado para desempenhar o papel de soberano de uma colônia norteamericana expatriada que fora destinada a permanecer autônoma e sem comunicação com Washington por anos a fio. Eu tinha quarenta e dois anos (ainda com muletas, arrastando uma perna, consideravelmente abaixo do peso, com cabelos chegando aos ombros, sem um banho e com uma barba que não tinha visto uma navalha desde que fora capturado do Oriskany) quando assumi o comando (clandestinamente, é claro, os norte-vietnamitas nunca reconheceriam nossa hierarquia) sobre cerca de cinquenta norte-americanos. A colônia de exilados cresceria para mais de quatrocentos – todos oficiais graduados, pilotos ou especialistas em eletrônica. Eu estava determinado a “bem interpretar o papel que me fora destinado”. 
A palavra-chave inicial para todos nós era “fragilidade”. Cada um de nós, nunca antes a tão grande distância de outro norteamericano, era então submetido à tortura nas cordas. Isso foi um verdadeiro choque para as nossas mentes – e, como todo choque, seu impacto em nosso próprio íntimo foi muito mais impressionante, durável e significativo que em nossos membros e torsos. Era nessas sessões que éramos levados à submissão, e que nos faziam deixar escapar insípidas confissões de culpa e cumplicidade norteamericana em antigos gravadores. E então éramos colocados no que eu chamava de “banho de água fria” por um mês ou mais em total isolamento para “contemplarmos nossos crimes”. O que nós, na verdade, contemplávamos era o que mesmo o norte-americano mais acomodado via como uma traição a si mesmo e a tudo mais que significasse algo para ele. Foi nesse lugar que aprendi o que significava o “dano estóico”. Um ombro quebrado, um osso quebrado em minhas costas, uma perna quebrada por duas vezes eram bagatelas se comparados a isso. Epicteto: “Não busques um dano pior do que este: destruir o homem leal, que respeita a si próprio e que se comporta com dignidade que há dentro de você”. 
Quando posto em cela comum, dificilmente um norte-americano vindo dessa experiência deixava de responder algo como o seguinte ao primeiro murmúrio do prisioneiro da cela ao lado: “Você não quer falar comigo; sou um traidor”. E, porque estávamos igualmente fragilizados, parecia ser de praxe que todos respondêssemos alguma coisa assim: “Escute, amigo, não há virgens aqui. Você deveria ter ouvido o tipo de declaração que fiz. Deixe isso pra lá! Estamos todos juntos nisso. Qual é o seu nome? Fale-me sobre você”. Ouvir isso era, para a maioria dos novos prisioneiros que acabavam de sair da agitação inicial e do “banho de água fria”, um ponto de virada em suas vidas. 
Mas o processo de aprendizagem dos novos prisioneiros estava apenas começando. Em pouco tempo eles perceberiam que as coisas não eram exatamente como alguns lhes tinham contado nos campos de treinamento de sobrevivência. Que, se você se mostrasse inflexível, oferecendo resistência desde o princípio, os interrogadores perderiam o interesse em você, e você se veria apenas relegado ao tédio, como estivesse “fora da guerra”, “definhando em sua cela”, como os romancistas ignorantes do assunto adoram descrever a situação. Não, a guerra ia para trás das grades – não existia isso de os carcereiros desistirem de você por o considerarem um caso perdido. As crenças políticas deles faziam com que acreditassem que você poderia enxergar as coisas do jeito deles e que isso era só questão de tempo. E então você era levado inúmeras vezes à sala de interrogatório, particularmente nas ocasiões em que fosse pego quebrando alguma das inúmeras normas colocadas na parede de sua cela – regras traiçoeiras que pagavam dividendos ao comissário se seu interrogador conseguisse que você fosse vitimado pela humilhação. A moeda corrente para a mesa de jogo, onde você e o interrogador estão frente a frente em um duelo de sagacidade, é a vergonha. Aprendi que, a menos que ele impusesse a vergonha sobre mim, ou a menos que eu a impusesse sobre mim mesmo, ele nada tinha em seu favor (o uso da força estava disponível, mas era preciso a concordância do comissário). 
Para Epicteto, emoções são atos da vontade. O medo não é algo que venha das sombras da noite e envolva você. Epicteto incumbe você da total responsabilidade por despertar o medo, detê-lo e controlá-lo. Essa foi uma das maiores exigências do Estoicismo sobre o indivíduo. É possível fazer os estóicos parecerem animais preguiçosos quando são descritos simplesmente como indiferentes a quase tudo senão o bem e o mal, e como sendo parcimoniosos em relação a emoções tais como pena e simpatia. Mas junte a isso a exigência de total responsabilidade por cada uma de suas próprias emoções, e você está falando de uma pessoa cheia do que fazer. Eu murmurava um mantra quando a caminho de meu interrogatório diário: “Controle o medo, controle a culpa, controle o medo, controle a culpa”. E inventava métodos para desviar meu olhar de modo a ocultar o medo ou a culpa que certamente emergiam em meus olhos quando temporariamente perdia o controle sob interrogatório. Havia a possibilidade de ficar intimidado ao olhar a face do interrogador, e por isso eu me concentrava no lóbulo de sua orelha esquerda, e ele pareceu se acostumar com isso– pensou provavelmente que eu fosse um pouco estrábico. Controlar as emoções é difícil, mas pode ser fortalecedor. 
Epicteto: “Porque é dentro de ti que tanto a tua destruição quanto a tua salvação residem”. 
Epicteto: “O assento no julgamento e uma prisão são cada qual um lugar, um alto, outro baixo, mas a atitude de tua vontade pode manter-se a mesma, se quiseres mantê-la a mesma, em ambos os lugares”. 
 
Stockdale, o de cabelos grisalhos, entre outros prisioneiros norte-americanos.

 
Nós organizamos uma sociedade clandestina através de batidas na parede que serviam de código – uma sociedade com nossas próprias leis, tradições, costumes, até mesmo heróis. Para explicar como pudemos ordenar uns ao outros para mais torturas, ordenar uns aos outros a nos recusar a seguir certas ordens, intencionalmente desafiar nossos carcereiros a provarem que não estavam blefando e, num sentido real, forçá-los a repetir o processo de tortura para outra falsa submissão, citarei uma declaração que poderia ter vindo de pelo menos metade desses excelentes e competitivos jovens pilotos com os quais me encontrei trancafiado: “Estamos num lugar onde nunca estivemos antes. Mas merecemos manter nossa dignidade e nos sentir contra-atacando. Não podemos nos negar a fazer cada coisa degradante que eles nos exigem, mas depende de você, que está no comando, escolher as coisas que todos nós devemos nos recusar a fazer a menos e até que eles nos façam passar novamente pela tortura. Nós merecemos dormir à noite. Merecemos, pelo menos, ter a satisfação de saber que estamos executando a duras custas as ordens de nosso comandante. Dê- nos a lista; pelo que seremos torturados agora?” 
Sei que isso soa como uma lógica estranha, mas, em certo sentido, era o primeiro passo para reclamarmos o que era legitimamente nosso. Epicteto disse: “O juiz fará algumas coisas a ti que são tidas como aterrorizantes; mas como ele pode te impedir de receber o castigo com o qual ele te ameaçou?” Esse é o meu tipo de Estoicismo. Você tem o direito de fazer com que o firam, e eles não gostam de fazer isso. Quando meu companheiro de prisão Ev Alvarez, o primeiro piloto capturado por eles, foi liberado com o resto de nós, o comissário da prisão disse a ele: “Vocês norteamericanos são muito diferentes dos franceses; nós podíamos considerar estes últimos razoáveis.” Ah! 
Refleti muito sobre como essas primeiras ordens deveriam ser. Era preciso que fossem ordens que pudessem ser obedecidas, não subterfúgios astuciosos para se safar de modo a reiterar alguma ordem do governo dos Estados Unidos que não podia ser mantida numa sala de tortura, como “nome, posto, identificação e data de nascimento”. Minha opinião era que “Nós, nesse lugar, sob pressão, somos os experts, os senhores do nosso destino, vamos ignorar os ecos dos decretos ocos que nos induzem culpa, vamos lançar fora o livro de normas e escrever o nosso próprio”. Minhas ordens saiam como acrônimos fáceis de lembrar. A principal era “BACK US: Não se curvar (Bow) em público; ficar fora do Ar (Air); não admitir Crimes (Crimes); nunca se despedir deles (never Kiss them goodbye). “US” poderia significar o nosso país, os Estados Unidos ³, mas realmente significava Unity over Self (unidade acima da individualidade). Os solitários produzem uma prisão de inimigos, eis porque minha primeira regra em prol da união naquele lugar era que cada um de nós tinha de trabalhar pelo denominador comum, nunca negociando para si mesmo, mas apenas para todos. 
A vida na prisão tornou-se uma louca mistura de um velho e um novo regime. O velho era a rotina política da prisão, principalmente para os dissidentes e os inimigos domésticos do Estado. Esse regime foi concebido e posto em prática por comunistas antiquados do Terceiro Mundo do talhe de Ho Chi Min. Girava em torno da ideia de “arrependimento” por seus “crimes” causados por comportamento antissocial. Prisioneiros norteamericanos, criminosos de rua e inimigos políticos do Estado estavam todos na mesma prisão. Nunca vimos um campo de prisioneiros de guerra como nos programas de TV. A prisão comunista era um misto de clínica psiquiátrica e reformatório escolar. O protocolo norte-vietnamita fora criado para fazer com que todos os internos demonstrassem vergonha curvando-se diante de todos os guardas, de cabeças baixas, nunca olhando para o céu, com frequentes sessões com seu interrogador, se não por nenhuma outra razão, para verificar sua atitude, caso esta fosse considerada “errada”. E então, talvez, a mesa de tortura para a confissão de culpa, para o pedido de perdão e o inevitável desfecho da expiação de culpa. 
O novo regime, imposto sobre o anterior, era somente para norteamericanos. Era uma fábrica de propaganda, supervisionada por jovens oficiais burocratas do exército fluentes em inglês com quotas a atingir estabelecidas pelo braço político do governo: entrevistas de imprensa com visitantes norteamericanos de esquerda, filmes de propaganda a serem gravados (estrelando intimidados “piratas aéreos norteamericanos”), e assim por diante. 
Uma resumida história de como essa bifurcada filosofia de prisão terminou é que a filmagem da propaganda e das entrevistas começou a se voltar contra os vietnamitas. Inteligentes universitários norteamericanos estavam interpretando seus papéis com frases de duplo sentido, gestos ao mesmo tempo engraçados e obscenos para o público ocidental e piadas. Um de meus melhores amigos, torturado para dar nomes de pilotos que ele sabia que tinham se oposto à guerra, disse que eram somente dois: os tenentes Clark Kent e Ben Casey (então, personagens populares de ficção nos Estados Unidos). A piada foi manchete de primeira página do San Diego Union, e alguém enviou uma cópia para o governo de Hanoi. Como resultado desse amigável gesto de um colega americano, Nels Taner foi submetido a três dias sucessivos de tortura nas cordas, seguidos por 123 dias com as pernas algemadas. Tudo em isolamento, é claro. 
Então, depois de várias dessas peripécias, que custaram aos vietnamitas muitos embaraços, o Vietnã do Norte resolveu fazer sua propaganda com apenas uma pequena parte (menos de cinco por cento) dos norteamericanos nos quais eles podiam confiar não estar interpretando: verdadeiros solitários que, por razões diversas, nunca se juntaram à organização dos prisioneiros, nunca desejaram entrar em nossa rede de códigos, conhecidos desgraçados a quem começamos a chamar de “pelegos”. A grande maioria de meus companheiros estava furiosa com os atos desses indivíduos e chamaram para si a responsabilidade de memorizar dados com os quais se poderia condená-los numa corte marcial norteamericana. Mas, quando chegamos aos EUA, o governo se colocou contra as acusações que eu organizara. 
A esmagadora maioria dos outros norteamericanos em Hanói era, sob todos os aspectos, de “honrados prisioneiros”, mas isso não é o mesmo que dizer que havia algo como um regime homogêneo de prisão que todos nós compartilhávamos. As pessoas gostam de pensar que, porque estávamos todos no sistema prisional de Hanói, tínhamos experiências comuns. Não era assim. Esses regimes divergentes se acentuaram quando a nossa organização prisional ridicularizou a tentativa de propaganda deste monstro de duas cabeças que eles chamavam de “Autoridade Prisional”. Eles começaram a se vingar da liderança de minha organização e tentavam quebrar o moral dos demais enganando-os com um programa de anistia, no qual eles competiriam para ver quem era libertado mais cedo através de submissão aos desejos do Vietnã do Norte. 
Em maio de 1967, o sistema de som da prisão bradou: “Aqueles de vocês que verdadeiramente se arrependerem estarão aptos para voltar para casa antes do fim da guerra. Aqueles poucos duros de matar que insistem em incitar os outros criminosos a se opor à autoridade do campo serão enviados a um lugar escuro especial”. Imediatamente proibi que qualquer norteamericano aceitasse a libertação antecipada, mas isso não quer dizer que eu era o único homem a pensar dessa forma. Eu não teria conseguido vender essa ideia: ela foi aceita com evidente alívio e espontâneo júbilo pela esmagadora maioria. 
Adivinhem quem foi para o “lugar escuro”. Eles isolaram minha equipe de líderes – eu e minha coorte de dez homens de elite – e nos enviaram para o exílio. Os vietnamitas tinham trabalhado duro para entender nossos hábitos, e sabiam quais entre nós eram os causadores de problemas e quais eram os que “não criavam caso”. Eles isolaram aqueles em que eu mais confiava: todos tinham passagens pela solitária e pela tortura. Não éramos todos veteranos: tivemos veteranos na prisão que não se comunicariam com o homem da porta ao lado. Um de meus dez homens tinha apenas vinte e quatro anos – nasceu depois de eu já estar na marinha. Ele era um dos resultados das minhas recentes tendências no comando: “Quando os instintos e a patente estão fora de sintonia, escolha o cara com os instintos”. Todos nós ficamos na solitária por tempo indeterminado, começando com dois anos com as pernas algemadas em uma pequena prisão de alta segurança do lado direito do “Pentágono” do Vietnã do Norte – seu Ministério de defesa, uma típica construção francesa antiga. Existem capítulos e mais capítulos depois disso, mas, em meu caso, era uma luta tensa por vingança por parte da “Autoridade Prisional” sobre aqueles de nós que perseveraram tentando ser nossos irmãos guardiões. As apostas cresceram a proporções de alquebrar os nervos. Um, dos onze que éramos, morreu naquela pequena prisão que chamávamos Alcatraz, mas, mesmo incluindo ele, não havia um homem sequer com menos de três anos e meio de solitária, e quatro de nós tínhamos mais de quatro anos. Para se ter uma ideia da medida em que nós quatrocentos ficávamos isolados, destes, apenas cem não tinham ficado na solitária, mais da metade dos outros trezentos tinham menos de um ano de solitária, e metade desses com menos de um ano tinham menos de um mês. Assim, a média para os quatrocentos era consideravelmente menos de seis meses. 
Howie Rutledge, um dos quatro de nós com mais de quatro anos, retornou aos estudos e conquistou um mestrado depois de voltarmos para casa, e sua dissertação se concentrava sobre a questão de se a vontade humana era dobrada com mais eficácia por tortura ou por isolamento. Ele enviou questionários a nós (que tínhamos todos sido torturados pelo menos dez vezes) e a outros que haviam passado por extremos maus tratos na prisão. E descobriu que os que tinham mais de dois anos de isolamento e haviam sido muito torturados diziam que o isolamento era o modo de se obter a mudança de comportamento a longo prazo. Mas os que tinham menos de dois anos de isolamento e muitos de tortura diziam que a tortura era o meio. No meu ponto de vista, alguém pode se acostumar a ser torturado repetidamente – existem alguns truques para minimizar suas perdas nesse jogo. Mas, ao manter um homem, mesmo um homem com muita força de vontade, em isolamento por três anos ou mais, ele começa a buscar por um amigo – qualquer amigo – sem levar em conta a nacionalidade ou a ideologia. 
Epicteto, uma vez, deu uma aula em sua escola queixando- se da tendência habitual dos novos professores para suavizar o rígido realismo dos desafios do Estoicismo e dar aos estudantes uma enaltecida e rósea imagem de como eles poderiam cumprir sem dor as duras exigências da boa vida. Epicteto disse: “Homens, a sala de aula do filósofo é um hospital: os estudantes devem sair dela não com prazer, mas sofrendo”. Se a sala de aula de Epicteto era um hospital, minha prisão era um laboratório – um laboratório comportamental humano. Escolhi testar os postulados de Epicteto quanto às exigências da vida real de meu laboratório e, como vocês podem ver, penso que Epicteto foi aprovado com louvor. 
É difícil falar em público sobre os desafios da vida real nesse laboratório porque as pessoas fazem todas as perguntas erradas: “Como era a comida?” Essa é sempre a primeira. Em relação ao lugar em que estive, essa pergunta é tão irrelevante que dá vontade de gritar. “Eles feriram você?” “Qual era a natureza do instrumento que eles usaram para feri-lo?” Sempre o instrumento ou o soro da verdade ou o tratamento de choques elétricos – todos os que errariam por completo o alvo quanto ao propósito de dobrar a sua vontade. Todas essas coisas dariam a você um sentimento de superioridade moral, que é a última coisa que um interrogador deseja. Não estou falando de lavagem cerebral, não existe tal coisa. Estou falando que, tendo olhado sobre a borda e visto o fundo do precipício, percebi a verdade desse fundamento do pensamento estóico: o que derruba um homem não é a dor, mas a vergonha
Por que aqueles homens, no “banho de água fria”, após a sua primeira experiência de tortura, sentiam-se tão inferiores e indignos quando o primeiro norte-americano entrava em contato com eles? Epicteto conheceu bem a natureza humana. Naquele laboratório prisional, eu não soube de um único caso em que um homem tenha sido capaz de aplacar as suas dores de consciência angustiada com alguma teoria de psicologia popular de causa e efeito. Epicteto enfatiza o tempo e, novamente, que um homem que apresenta como causas de suas ações terceiros ou forças externas não está à altura de si mesmo. Deve-se conviver com os próprios juízos se se deseja ser honesto consigo mesmo (e o “banho de água fria” tende a fazer você honesto). “Mas se alguém me submete ao medo da morte, ele me constrange,” diz um estudante. “Não”, diz Epicteto, “não é a morte, nem o exílio, nem o sofrimento, nem coisa alguma, a causa de estares fazendo ou não algo, mas apenas a tua opinião e as decisões de tua vontade”. “O que se colhe seguindo a tua doutrina?”, alguém perguntou a Epicteto. “Tranquilidade, destemor e liberdade”, ele respondeu. Você só pode ter essas coisas se for honesto consigo mesmo e se assumir a responsabilidade pelas suas próprias ações. Você tem de compreender isso retamente! Você está no comando de si mesmo. 
Eu pregava essas coisas na prisão? Decerto que não. Logo se aprende que, se o sujeito da cela ao lado está indo bem, isso significa que ele tem uma filosofia de vida adequada ao seu modo de ser. Logo se percebe que, quando se ousa lançar elevadas sugestões filosóficas através da parede, sempre se obtém respostas muito relutantes. 
Não. Nunca preconizei ou mencionei uma só vez o Estoicismo. Mas alguns sujeitos mais agudos leram os sinais em minhas ações. Depois de um de meus longos isolamentos fora do bloco de celas da prisão fui levado de volta ao alcance de nossa rede de comunicação, e meu ponto de contato foi um homem chamado Dave Hatcher. Como era o procedimento padrão num primeiro contato após um longo período de isolamento, não começamos a conversa com notícias em profusão, mas com um acordo sobre os sinais de alarme. Em segundo lugar, estabelecendo uma história para cada um de nós caso fôssemos pegos e, por fim, estabelecendo um sistema de comunicação alternativo, caso aquele vínculo fosse comprometido – precauções de um “prisioneiro enjaulado movendo-se lentamente”. O sistema alternativo de comunicação de Hatcher comigo era uma mensagem deixada em uma pia velha perto de um lugar que chamávamos “Mint”, a ala do bloco de celas de isolamento que Hatcher chamava de “Las Vegas”- um lugar para o qual ele achava, com razão, que eu iria em breve. Todos os dias trocávamos sinais por quinze minutos sobre um muro entre o seu bloco de celas e a minha “terra de ninguém”. 
Então voltei a me encrencar. Naquela altura o comissário da prisão tinha me isolado e me colocado sob vigilância praticamente constante até o fim do ano por eu ter encenado um motim em “Alcatraz” para que nos tirassem as algemas das pernas. Fui isolado de todos os prisioneiros. Eu recebera um vigilante especial que me pegara com uma mensagem antiga que dava evidências que eu sabia que os interrogadores explorariam através de tortura. O resultado poderia ser implicar meus amigos em “atividades obscuras” (como os norte-vietnamitas as chamavam). Eu passara pelas cordas mais de doze vezes, e sabia que podia reter informação – na medida em que eles não soubessem disso. Aquela mensagem poderia abrir as portas para que mais pessoas morressem naquele lugar. Tínhamos perdido uns poucos nas grandes expiações – penso que em torturas que se excederam – e eu estava ficando farto disso. Era outono de 1969, eu cumprira esse papel por quatro anos e nada parecia me aguardar senão a morte. Eu estava só na sala principal de tortura em uma parte isolada da prisão, na noite anterior ao dia em que eles me disseram que eu iria pôr tudo para fora. Havia um clima misterioso na prisão. Ho Chi Minh morrera, e um canto fúnebre especial era irradiado. Eu deveria ficar a noite toda sentado sobre grilhões de ferro. Minha cadeira estava perto da única janela com vidros da prisão. Consegui me mover e quebrar a janela furtivamente. Tentei cortar as artérias de meu pulso com grandes estilhaços de vidro. Eu havia apagado a luz, mas aconteceu de o vigilante me encontrar desacordado em uma poça de sangue, ainda respirando. Os vietnamitas soaram o alarme, chamaram o médico deles e me salvaram. 
Por quê? Não foi senão vários anos após ter sido libertado que compreendi que, naquela mesma semana, Sybil estivera em Paris exigindo tratamento humano para os prisioneiros. Ela era notícia no mundo todo, uma figura pública, e a última coisa que os norte-vietnamitas precisavam era que eu morresse. Uma multidão solene de altos oficiais norte-vietnamitas estivera naquela sala enquanto eu era reanimado. 
A tortura na prisão, como soubemos em Hanói, terminou para todos naquela noite. 
É claro que isso aconteceu meses antes que pudéssemos estar certos disso também. Tudo o que eu sabia naquela ocasião era que, naquela manhã, depois de meus braços serem cobertos e enfaixados, o próprio comissário trouxe uma ótima xícara de chá quente, disse ao guarda prisional para me retirar as algemas das pernas e me pediu que sentasse à mesa com ele. “Por que você fez isso Sto-Dale? Você sabe que convivo com os generais do exército. Eles me pediram um relatório completo esta manhã” (Não era algo incomum falarmos assim naquele tempo). Mas ele jamais mencionou a mensagem, nem ninguém mais depois disso. Isso não tinha precedentes. Depois de dois meses isolado em uma minúscula cela que chamávamos “Calcutá” para que meus braços sarassem, eles me vendaram e me levaram para “Las Vegas”. O isolamento e a vigilância especial tinham terminado. Fui colocado só, claro, no “Mint”. 
Dave Hatcher sabia que eu estava de volta porque passei sob sua janela e, embora ele não pudesse espiar, podia ouvir, e através dos anos tinha habituado os seus ouvidos a reconhecer o meu caminhar, o meu modo manco de andar. Bem depressa um fio enferrujado no fundo da pia do banheiro estava virado para o norte – o sinal de Dave Hatcher para “uma mensagem no fundo da garrafa debaixo da pia para Stockdale.” Como um velho piloto de guerra, olhei à volta, observei rapidamente a mensagem e cuidadosamente a escondi em minhas calças do pijama prisional. De volta para a cela, depois que o guarda fechou a porta, sentei sobre o vaso sanitário (onde eu poderia disfarçadamente lançar a mensagem se o orifício de observação da porta da cela se movesse). E desdobrei a folha de toalha de papel ordinário, na qual Hatcher, com excrementos de rato, escrevera, sem comentário ou assinatura, a última estrofe do poema de Ernest Henley, Invictus:
 
Não importa quão estreita seja a passagem, 
Quão carregada de punição a sentença. 
Eu sou o mestre do meu destino: 
Eu sou o comandante de minha alma.
 
Fonte: STOCKDALE. CORAGEM SOB FOGO: Testando as Doutrinas de Epicteto num Laboratório Comportamental Humano. Trad. Aldo Dinucci, Joelson Nascimento. São Cristóvão: EdiUFS, 2009. 
 
* Vice-almirante e aviador da Marinha dos Estados Unidos, premiado com a Medalha de Honra na Guerra do Vietnã, durante a qual foi prisioneiro de guerra por mais de sete anos. Stockdale era o oficial naval mais graduado mantido em cativeiro em Hanói, Vietnã do Norte; pós-graduado pela Universidade de Stanford, onde obteve o Mestrado em Relações Internacionais em 1962; candidato independente à Vice-Presidência dos Estados Unidos na chapa do candidato à Presidência, Ross Perot, na campanha eleitoral de 1992.
 
II. NOTAS EXPLICATIVAS
 
 
¹  Discurso pronunciado no Great Hall do King's College de Londres, em 15 de novembro de 1993. 
 
²  N.T.: Esta analogia entre o posto que é atribuído por Deus a cada um de nós e o posto que é designado por um general a seus soldados é um tema recorrente entre os estóicos. Cf. Epicteto, Manual, cap. LIII; Sêneca, Cartas a Lucílio, CVII. 
 
³ O autor usa o terno “US” (que, traduzido para o português, significa “Nós”) para fazer uma analogia com a sigla U.S. (United States). 
 
Em inglês: POW (Prisioner of War) 
 
It matters not how strait the gate/ How charged with punishment the scroll/ I am the master of my fate/ I am the captain of my soul.

9 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Prezad@,
Tenho o prazer de, nesta segunda visita a escritos de JAMES BOND STOCKDALE, vice-almirante, herói de guerra do Vietnã e professor, reitor universitário e pesquisador sênior do Instituto Hoover, cujos textos convergem para o tema central de como o homem pode se elevar com dignidade para prevalecer face à adversidade. Nesta oportunidade, Stockdale testa em si próprio a validade das doutrinas estóicas de Epicteto, confirmando a sua eficácia nas piores condições vividas durante 8 anos na prisão de Hoa Lo em Hanói. É, consequentemente, importante testemunho de que as doutrinas estóicas funcionam para as circunstâncias mais adversas para o homem.

Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2023/05/coragem-sob-fogo-testando-as-doutrinas.html  👈

Cordial abraço,Francisco BragaGerente do Blog de São João del-Rei

João Alvécio Sossai (escritor, autor de "Um homem chamado Ângelo e outras histórias, ex-salesiano da Faculdade Dom Bosco e ex-professor da UFES (1986-1996)) disse...

Francisco, obrigado pelos dois textos. No primeiro, dei uma olhada rápida. No segundo, não consegui parar a leitura até chegar à última linha.

Abraço.

Frei Joel Postma o.f.m. (compositor sacro, autor de 5 hinários, cantatas, missas e peças avulsas) disse...

Olá, Francisco e Rute.
O meu "muito obrigado" por tal raro exemplo de coragem humana diante de adversidade neste seu texto sobre Stockdale; a gente pode aprender disto! Bons votos franciscanos do irmão Joel.

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (professor universitário, desembargador, ex-presidente do TRE/MG, escritor e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Estoicismo, é o que precisamos nesse mundo fútil.
Abs

Gilberto Mendonça Teles (autor de O terra a terra da linguagem e Hora Aberta-Poemas Reunidos e é membro da Academia Goiana de Letras) disse...

Excelente, meu caro Francisco Braga. Cumprimentos do Gilberto Mendonça Teles

Raquel Naveira (membro da Academia Matogrossense de Letras e, como poetisa publicou, entre outras obras, Jardim Fechado, antologia poética em comemoração aos seus 30 anos dedicados à poesia) disse...

Que depoimento forte e emocionante, caro Francisco Braga.
"Serenidade" é a maior busca.
O estoicismo, o antigo caminho espiritual que precede o Cristianismo.
Maravilhoso.
Obrigada.
Abraço fraterno,
Raquel Naveira

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga!

Impressionante depoimento sobre a aplicação de uma filosofia antiga aos horrores da guerra moderna. Fica também uma certa inquietação pessoal sobre a ênfase dada a alguns aspectos do Estoicismo - dever, controle, disciplina, tenacidade - também e de maneira aguda apropriada a contextos militares - em detrimento daquela dada aos seus fins. Chamo a atenção para a particularidade da crítica ética àquilo que Stockdale chamou de "prisão comunista", quando os mesmos métodos eram aplicados pelo poder ocidental na América Latina, por exemplo, exatamente na mesma época.
Cumprimentos pela segunda matéria a respeito.
Gratíssimo uma vez mais pela oportunidade de mais esta leitura.
Cupertino

Anônimo disse...

Muito obrigado, caro colega e amigo. Felizmente, não precisamos mais chegar ao extremo de tomar cicuta. Hoje basta-nos a pátina do tempo, a nos ensinar a enfrentar as vicissitudes da existência com as armas da temperança, tal como nos ensinou o preceptor de Nero. Hispano que orna com sua verbe estoica as estantes da Filosofia. Abraço fraterno.

António Valdemar (jornalista e investigador, sócio efetivo da Academia das Ciências de Lisboa e sócio correspondente português para a ABL-cadeira nº 3) disse...

Tenho lido com todo o interesse o seu Epicteto.
Parabéns!