Por Francisco José dos Santos Braga
I. INTRODUÇÃO
Mikhail Bakhtin escreveu em 1940 um livro intitulado "A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais", que só foi publicado em 1965. Aí ele desenvolveu uma inovadora teoria da cultura popular e da sua apropriação pela literatura, com base nos conceitos de carnaval e carnavalização. Carnaval para ele não se referia apenas ao período antes da Quaresma, mas compreendia determinadas festividades que, durante a Idade Média e o Renascimento, transcorriam noutros momentos do ano associados a festividades sacras e chegavam a totalizar cerca de três meses. As suas origens remontam certamente aos cultos dos mortos e rituais propiciatórios e celebratórios de comunidades agrícolas primitivas que ocorriam durante o tempo das colheitas. Na Roma antiga tinham lugar em dezembro as festas em honra ao deus Saturno, conhecidas como Saturnalia. À semelhança do mundo às "avessas do Carnaval", as Saturnalia se caracterizavam pela vivência diária da inversão da ordem social normal, quando então os escravos tomavam o lugar dos senhores e entregavam-se a toda a espécie de prazeres habitualmente proibidos.
Para Bakhtin, o Carnaval constituía simultaneamente um conjunto de manifestações da cultura popular e um princípio de compreensão holística dessa cultura. Na perspectiva bakhtiniana, o elemento que unificava a diversidade das manifestações carnavalescas era o riso e lhes conferia a dimensão cósmica: um riso coletivo que se opõe ao tom sério e à solenidade repressiva da cultura oficial e do poder real e eclesiástico. O riso carnavalesco como entidade livre prosperou em espetáculos e rituais cômicos (cuja característica era a sua natureza não oficial, configurando, como diz Bakhtin, uma segunda vida do povo, um duplo das práticas da Igreja e do Estado, em que todo o povo participava , numa comunhão utópica de liberdade e abundância, de suspensão de todas as hierarquias e de dissolução da fronteira entre a arte e o mundo —, aspectos que eram encontrados por exemplo na "festa dos loucos" ou na "festa do burro", na Europa), nas composições literárias cômicas (por exemplo, a paródia sacra) e, por fim, na utilização de termos profanos, blasfêmias, obscenidades e expressões de insulto. Outros aspectos do universo do Carnaval são igualmente dignos de nota: a representação carnavalesca do corpo, a que Bakhtin chama realismo grotesco, centrada no "baixo corporal" (a boca, a barriga, os órgãos genitais); o uso da máscara simbolizando o triunfo da alteridade durante aquele tempo convencionalmente reservado à transgressão; e, por fim, a relativização da verdade e do poder dominantes, presentes no período do Carnaval, celebrando a mudança e a renovação do mundo. ¹
Para Bakhtin, o Carnaval constituía simultaneamente um conjunto de manifestações da cultura popular e um princípio de compreensão holística dessa cultura. Na perspectiva bakhtiniana, o elemento que unificava a diversidade das manifestações carnavalescas era o riso e lhes conferia a dimensão cósmica: um riso coletivo que se opõe ao tom sério e à solenidade repressiva da cultura oficial e do poder real e eclesiástico. O riso carnavalesco como entidade livre prosperou em espetáculos e rituais cômicos (cuja característica era a sua natureza não oficial, configurando, como diz Bakhtin, uma segunda vida do povo, um duplo das práticas da Igreja e do Estado, em que todo o povo participava , numa comunhão utópica de liberdade e abundância, de suspensão de todas as hierarquias e de dissolução da fronteira entre a arte e o mundo —, aspectos que eram encontrados por exemplo na "festa dos loucos" ou na "festa do burro", na Europa), nas composições literárias cômicas (por exemplo, a paródia sacra) e, por fim, na utilização de termos profanos, blasfêmias, obscenidades e expressões de insulto. Outros aspectos do universo do Carnaval são igualmente dignos de nota: a representação carnavalesca do corpo, a que Bakhtin chama realismo grotesco, centrada no "baixo corporal" (a boca, a barriga, os órgãos genitais); o uso da máscara simbolizando o triunfo da alteridade durante aquele tempo convencionalmente reservado à transgressão; e, por fim, a relativização da verdade e do poder dominantes, presentes no período do Carnaval, celebrando a mudança e a renovação do mundo. ¹
No mundo contemporâneo, pode-se observar muitas práticas culturais afins ao carnavalesco, tais como o espetáculo teatral, a pintura, o cartoon, o grafite, a publicidade, etc., tendo infiltrado até nos nossos Poderes da República, sem excluir nenhum, perpassados que se encontram por certo espírito momesco. Também os meios de comunicação se têm deixado carnavalizar, na medida em que "houve uma explosão com Bakhtin, tudo começou a se carnavalizar, e generalizou-se o conceito de paródia para qualquer discurso que não fosse absolutamente objetivo, e, como nenhum discurso é absolutamente objetivo, todos os discursos pareceram paródicos." ²
No presente trabalho, transcrevo para os leitores quatro textos, não propriamente sobre festejos carnavalescos de São João del-Rei, mas versando sobre a composição da diretoria, organização e gestão das sociedades carnavalescas ("ranchos carnavalescos") que existiam em 1928/1929 e que não perduraram até nossos dias. Podemos ver, trabalhando no seio desses ranchos carnavalescos e lutando pelo bom êxito das festividades momescas, nomes emblemáticos da sociedade são-joanense.
A minha fonte de consulta foi o jornal "A Tribuna" no período considerado.
Para ser fiel ao redator/escritor dos referidos textos, observei rigorosamente a grafia de época.
II. AMOSTRA DE TEXTOS REFERENTES A ALGUNS RANCHOS CARNAVALESCOS "DE ANTIGAMENTE"
1. CLUB X
S. João del-Rey, 20 de novembro de 1928.
Exmo. sr. redactor da "Tribuna",
Tenho a elevada honra de participar a v. ex. que, em assemblea geral, realizada a 16 do corrente mez, na séde da Associação Commercial, foi eleita, para gerir os destinos do Club X (sociedade carnavalesca), durante o periodo de 1928-1929, a seguinte directoria:
Presidente honorario, José de Carvalho Resende; 1º vice-presidente honorario, Josino Martins; 2º vice-presidente honorario, Joaquim Portugal; presidente effectivo, Carlos Guedes (reeleito); 1º vice-presidente, major Americo A. dos Santos (reeleito); 2º vice-presidente, João Baptista Rodrigues; 1º secretario, João Viegas Filho; 2º secretario, Nicoláo Dilascio; 1º thesoureiro, J. Bellini dos Santos (reeleito); 2º thesoureiro, João Assumpção; 1º procurador, Antonio Gomes de Almeida (reeleito); 2º procurador, Zenone Rozzetto; 3º procurador, Joaquim Roque Teixeira.
Na mesma assembléa foram acclamadas madrinhas do Club as exmas. mmes. Antonio Ottoni Sobrinho, João Reis, Gumercindo Gomes, Raul Trindade, Benevides de Carvalho, Simões Coelho, João de Castro e Oscar da Cunha.
Foram tambem escolhidos unanimemente para chefe do Barracão, Scenographo e Electricista, respectivamente, os srs. Chistovam Rodrigues da Silva, Ernesto de Oliveira e José Narciso da Silva.
Servimos do ensejo para apresentar-lhes os nossos protestos de particular estima e subida consideração.
João Viegas Filho
1º Secretario
Fonte: A Tribuna, São João del-Rei, Anno XIV, nº 954, de 25 de novembro de 1928
2. Rancho Carnavalesco BOI GORDO
Da directoria do rancho carnavalesco "Boi Gordo", recebemos o seguinte officio:
São João del-Rey, 11 de março de 1929.
Exmo. sr. redactor de "A Tribuna".
Cidade.
Tenho a subida honra de communicar-vos que em Assembléa Geral Ordinaria do rancho carnavalesco "Boi Gordo", realizada a 26 do passado, foi por unanimidade eleita a nova Directoria, que terá de dirigir os destinos deste rancho, no periodo de 1929 a 1930 e que ficou assim constituída:
DIRECTORIA
Presidentes honorarios, cel. Alberto de Almeida Magalhães e cel. Carlos Guedes; Presidentes de honra, cel. Antonio Balbino de Sousa e cap. José Bini; vice-presidentes honorarios, dr. Romualdo Cançado e cel. Manuel Soares de Azevedo; vice-presidentes de honra, srs. Delphino Castanheira e João Lobosque de José; paranymphos do estandarte, sr. Octavio Neves e senhorinha Regina Yunes; paranymphos do carro, srs. João Baptista da Costa, Luiz Baccarini, João Lombardi e João Baptista Rodrigues; paranymphas do carro, madames Carlos Albero (?) Alves e Flavio Cicero; senhorinhas Iracema Baccarini e Aura Lobosque; bemfeitor do rancho, cel. Joaquim Miranda; bemfeitora do rancho, sra. Maria Eulalia Guerra (reeleita); benemerito do rancho, o fundador sr. Fausto de Almeida; benemeritas do rancho, sras. Hilda Coelho e Carminda Silva Teixeira; presidente effectivo, cap. Avelino Guerra (reeleito); 1º vice-presidente effectivo, tenente Cyrillo Carlos Ferreira; 2º vice-presidente effectivo, Agnello Tolentino (reeleito); 1º secretario, Fidelis Dilascio; 2º secretario, Domingos do Sacramento; 1º thesoureiro, Tharcillo Tolentino; 2º thesoureiro, Bernardino Coelho (reeleito); 1º procurador, Armando de Freitas (reeleito); 2º procurador, Epaminondas Floriano (reeleito); procuradoras, senhorinhas Maria das Dores, Carmelita de Andrade e Maria Cyrillo; orador official, Plinio Campos da Silva (reeleito); fiscal e mestre de sala, José das Chagas Teixeira; director do barracão, Waldemar Pulheiz (reeleito).
Sirvo-me do ensejo que se me apresenta, para patentear-vos, em nome do rancho carnavalesco "Boi Gordo", todo o meu elevado apreço e distincta consideração.
Fidelis Dilascio
1º secretario interino
Fonte: A Tribuna, São João del-Rei, Anno XV, nº 970.
3) Rancho Boi Gordo
Effectuou-se a 30 do mez passado, com solennidade, em sua luxuosa séde social, sita à rua de Santo Antonio, 28 ³, às 21 horas, a posse dos novos timoneiros para o periodo de 1929 a 1930 do garboso rancho Boi Gordo.
O programma foi o seguinte: — Sessão presidida pelo tenente Farnese Silva, distincto presidente da sympathica aggremiação carnavalesca desta cidade "Qualquer nome serve".
Leitura da acta da sessão passada pelo sr. Fidelis Dilascio.
Posse do novo presidente, capitão Avelino Guerra que empossou, debaixo de calorosa salva de palmas da numerosa assistencia, os demais directores do "leader" dos ranchos da "Princeza do Oeste".
Entrega de um delicado mimo pelo nosso redactor e seu brilhante confrade sr. Agostinho Azevedo, em nome do alto representante do commercio local sr. Alfredo Mauro, activo proprietario do antigo e conceituado café "Rio de Janeiro", de uma rica estatueta symbolizando — Honra ao merito.
Discursaram o nosso redactor e seu collega o vibrante tribuno sanjoannense sr. Agostinho Azevedo, que receberam os agradecimentos dos directores do Boi Gordo, capitão Avelino Guerra e Fidelis Dilascio, em formosos improvisos.
Terminada a sessão, foi servida uma mesa primorosamente ornamentada de flores naturaes, doces e bebidas, e forma erguidos enthusiasticos brindes pelos srs. orador official do Boi Gordo, tenente Farnese Silva, Ignacio Loyola de Almeida, tenente Cyrillo Carlos Ferreira, Fidelis Dilascio e Agostinho Azevedo.
Os srs. tte. Farnese Silva, Ignacio Loyola de Almeida e Lindolpho de Freitas, garbosos membros da incasavel directoria do rancho "Qualquer nome serve", estiveram presentes à festa e receberam, por parte dos seus co-irmãos de luctas, carinhosas e significativas demonstrações de estima.
A ornamentação da séde, a cargo do tte. Cyrillo Carlos Ferreira, foi deslumbrante.
Annotámos, com vivo prazer, a gentileza da directoria do Boi Gordo, collocando bellissimos escudos à imprensa, Camara e commercio locaes.
Tocou a jazz band do 11 R. I. e as danças, animadissimas, prolongaram-se até à madrugada, comparecendo à festividade muitos associados, exmas familias e representantes de varias classes sociaes.
Agradecemos ao Boi Gordo o gentil convite para assistirmos à solenne posse de sua novel directoria.
(Redação de "A Tribuna")
4) Rancho carnavalesco QUALQUER NOME SERVE
S. João del-Rey, 26 de março de 1929.
Ilmo. e exmo. sr. redactor da "A Tribuna".
Cidade.
Tenho o immenso prazer de levar ao conhecimento de v. ex. que, em assembléa geral, realizada a 22 do corrente mez, em a séde social desta aggremiação, foi unanimemente eleita a Directoria abaixo para gerir os destinos deste rancho, no periodo de 1929 a 1930. Certo de que, nos futuros festejos carnavalescos, muito honrará esta modesta aggremiação, que conta com o valioso concurso de v. ex., a vossa honrosa presença em todos os actos internos, antecipo-vos sinceros agradecimentos. A Directoria é a seguinte:
Rainha, senhorinha Aida Fazanelli; presidentes de honra, sr. dr. José Francisco Bias Fortes e capitães João Narcizo de Sá, Carlos Alberto Alves e José Resende de Andrade; vices presidentes de honra, srs. Alfredo Mauro, João Carlos Rosa, José de Sant'Anna Neves e Avelino Andrade; presidentes honorarios, poeta J. Brandão e Manuel de Freitas, fundadores do rancho; presidentes benemeritos, srs. Ernesto de Oliveira, Waldemar Gomes e cap. Dermeval Senna; paranymphos do estandarte, cap. José Bini, srs. Miguel Lopes e Carlos Ladeira; paranymphas do estandarte, exma. sra. d. Maria das Dores Ferreira e senhorinhas Mercês Bini e Germana Viegas; paranymphos do prestito, cel. Antonio Balbino de Sousa, major Emygdio de Moraes, srs. José Amaro do Carmo e João Balbino do Nascimento; paranymphas do prestito, exma. sra. d. Gabriela Martins de Andrade Reis, senhorinhas Helena Daldegan, Anna Mourão e Beatriz Pimenta; bemfeitoras do rancho, exmas. sras. Maria Euflauzina de Freitas, Celina dos Santos, Maria Balbina e senhorinha Guiomar A. da Costa.
DIRECTORIA ACTIVA
Presidente, tte. Farnese Silva (reeleito); 1º vice-presidente, José Adriano Esteves; 2º vice-presidente, Waldemar de Freitas; 1º secretario, Ignacio Loyola Q. de Almeida (reeleito); 2º secretario, Geraldo C. Guimarães (reeleito); 1º thesoureiro, Lindolpho José de Freitas (reeleito); 2º thesoureiro, Josino L. da Silva (reeleito); 1º procurador, Antonio de Sant'Anna; 2º procurador, Carlos J. Lima; 1º orador official, José Franco da Fonseca (reeleito); 2º orador official, senhorinha Alice da Costa; director technico, Francisco Vieira (reeleito); auxiliares technicos, José Nicolau da Costa e Bento Vieira (reeleitos); directores e ensaiadores, José Santiago e Nestor d'Annunciação (reeleitos); fiscal interno, Sertorio Gonçalves; fiscal geral, José Lucio da Costa (reeleito); porteiro, Juvenal dos Santos (reeleito).
Solicitando a honra de vossa resposta, valho-me do ensejo que se me apresenta, para hypothecar a v. ex., o mais alto grau de minha respeitosa consideração.
Ignacio Loyola Q. de Almeida
1º secretario
Fonte: A Tribuna, São João del-Rei, Anno XV, nº 973.
III. AGRADECIMENTO E CONCLAMAÇÃO
Gostaria de agradecer à equipe de trabalho da Biblioteca Batista Caetano de Almeida pela presteza no atendimento e pela custódia de periódicos de época. Constatei, entretanto, que o acondicionamento de tais periódicos está deixando a desejar, não sendo suficientes as dotações consignadas no orçamento municipal para a preservação, desinfecção e digitalização do material catalogado, a fim de evitar o desnecessário manuseio e consequente danificação do que ainda resta. Ao mesmo tempo, a Lei Federal nº 10.753, de 30 de outubro de 2003, que institui a Política Nacional do Livro, pode ajudar muito a melhorar as difíceis condições em que a biblioteca pública são-joanense se encontra. No artigo 16 da referida lei, prevê-se que "a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios consignarão, em seus respectivos orçamentos, verbas às bibliotecas para sua manutenção e aquisição de livros." Como a dotação orçamentária municipal não tem sido suficiente para bibliotecas de certa complexidade como a Biblioteca Batista Caetano de Almeida (inaugurada em 1827!), esta vetusta instituição depende de subvenções governamentais das três esferas de governo para que possa continuar prestando serviços de qualidade a seus pesquisadores e usuários, dependendo de parlamentares e governantes patriotas dispostos a consignar verbas nos respectivos orçamentos para a continuidade e melhoria de sua prestação de serviços sociais especializados.
IV. NOTAS DO AUTOR
¹ Cf. verbete "Carnavalização", no E-Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia, no seguinte link: http://www.edtl.com.pt/?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=602&Itemid=2
² SARLO, Beatriz: "Paisagens imaginárias", São Paulo: Edusp, edição de 2005, p. 98.
³ Devido a uma provável reenumeração ocorrida ao longo do tempo, fica muito difícil identificar o nº 28 da Rua Santo Antônio nos dias atuais. Na realidade, trata-se do sobrado que pertenceu a meu avô José da Silva Braga ("Nhonhô" Braga), até hoje propriedade de nossa família, situado no atual nº 136 da referida rua. Antes de ser a sede do "Boi Gordo", esse sobrado funcionou como Externato do Professor Travanca, famigerado por sua extrema severidade.
V. BIBLIOGRAFIA
BAKHTIN, Mikhail: A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais, São Paulo: Editora HUCITEC, 1987, 419 p.
III. AGRADECIMENTO E CONCLAMAÇÃO
Gostaria de agradecer à equipe de trabalho da Biblioteca Batista Caetano de Almeida pela presteza no atendimento e pela custódia de periódicos de época. Constatei, entretanto, que o acondicionamento de tais periódicos está deixando a desejar, não sendo suficientes as dotações consignadas no orçamento municipal para a preservação, desinfecção e digitalização do material catalogado, a fim de evitar o desnecessário manuseio e consequente danificação do que ainda resta. Ao mesmo tempo, a Lei Federal nº 10.753, de 30 de outubro de 2003, que institui a Política Nacional do Livro, pode ajudar muito a melhorar as difíceis condições em que a biblioteca pública são-joanense se encontra. No artigo 16 da referida lei, prevê-se que "a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios consignarão, em seus respectivos orçamentos, verbas às bibliotecas para sua manutenção e aquisição de livros." Como a dotação orçamentária municipal não tem sido suficiente para bibliotecas de certa complexidade como a Biblioteca Batista Caetano de Almeida (inaugurada em 1827!), esta vetusta instituição depende de subvenções governamentais das três esferas de governo para que possa continuar prestando serviços de qualidade a seus pesquisadores e usuários, dependendo de parlamentares e governantes patriotas dispostos a consignar verbas nos respectivos orçamentos para a continuidade e melhoria de sua prestação de serviços sociais especializados.
IV. NOTAS DO AUTOR
¹ Cf. verbete "Carnavalização", no E-Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia, no seguinte link: http://www.edtl.com.pt/?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=602&Itemid=2
² SARLO, Beatriz: "Paisagens imaginárias", São Paulo: Edusp, edição de 2005, p. 98.
³ Devido a uma provável reenumeração ocorrida ao longo do tempo, fica muito difícil identificar o nº 28 da Rua Santo Antônio nos dias atuais. Na realidade, trata-se do sobrado que pertenceu a meu avô José da Silva Braga ("Nhonhô" Braga), até hoje propriedade de nossa família, situado no atual nº 136 da referida rua. Antes de ser a sede do "Boi Gordo", esse sobrado funcionou como Externato do Professor Travanca, famigerado por sua extrema severidade.
V. BIBLIOGRAFIA
BAKHTIN, Mikhail: A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais, São Paulo: Editora HUCITEC, 1987, 419 p.
16 comentários:
Caro amigo Braga
Muito intressante sua pesquisa histórica. Apreciamos e agradecemos.
Com um cordial abraço,
Mario.
Caro Braga, muito agradecido pelo envio. Na realidade, o carnaval virou uma exibição de gosto duvidoso para turista ver. E as marchinhas cheias de humor e até poesia cedem lugar a enredos repetitivos e monótonos. São novos tempos ... e que tempos! Abraço carinhoso para você e Rute. Fernando Teixeira
Caríssimo Braga, ler seus escritos faz-me sentir na querida São João, despertando-me saudade e mais saudade!
Lembro-me que, criança, ouvi, mais de uma vez, encômios de minha mãe, Olira, ao tal CLUB X. Não sei o porquê!
Do nosso tempo, como olvidar?, os grandes ranchos com seus belos hinos: CUSTA, MAS VAI! e LUA NOVA!
Chego até a ouvir os clarins anunciando a chegada dos referidos ranchos, no início dos quatro cantos, ladeados por duas altas lanternas, e, após o toque dos clarins, ouvir o imponente surdo no compasso da marcha-rancho, seu hino!..Era belo, havia arte!
O filho do Geraldo Barboza, o Marcelo gravou, há algum tempo, o Hino do Custa, Mas Vai. O início, nostálgico com um oboé, é seguido com o marcha-rancho, infelizmente, não como eu ouvia, quando criança, e por ela ficava encantado.
Parabéns, nobre e culto conterrâneo que extravasa todo o seu amor, com suas ricas letras, pela terra que o viu nascer!
Lourenço
MUITO BOM!!!
Estimado Francisco Braga,
Interessante matéria, aliás, reminiscência de um carnaval de classe,sobre modo, de alegria e de importância, fazendo jus à maior manifestação popular deste país. Ranchos narrados, quais reuniam personalidades "vips" da sociedade sao-joanense, que tinham o orgulho de gerir e apresentar a sua agremiação.
Atualmente, uma triste realidade,a de termos que aguentar esta bagunça,e, ainda, uma poluição sonora com essas músicas baianas regadas de funk,pior que as torturas de Hitler. E, mais,os carnavais de antigamente eram alinhados, o povo se vestia tipicamente ou à caráter.Hoje, é só tirar a camisa exalando o odor das axilas e os bumbuns de fora.
Musse Hallak
Meu caro Braga,
Que São João Del Rey reviva os "carnavais de antigamente'". Não é saudosismo, é algo muito belo que se perdeu no tempo.
Um abraço do Nestor.
Obrigada.... estudei o seu link com os meus alunos....
bjokas literárias....
bom fim de semana e carnaval
Simone
Obrigado. Parabéns pela sua luta denodada pela preservação do riquíssimo patrimônio cultural da sua gente. Estudei três anos, curso clássico, no Colégio Santo Antônio. Posso entender sua paixão pela história do seu povo.
Um grande abraço,
Francisco De Filippo.
Prezado Braga,
Como é bom ler e conhecer o passado da nossa história! A impressão que dá é que tudo era mais simples e bonito.
Parabéns pelo artigo.
Um abraço,
Elza
Caro Francisco Braga, sanjoanense de coração! Parabéns pela sua dedicação à cultura e ao reconhecimento de um passado tão fértil nas atividades festivas religiosas e carnavalescas e, ao mesmo tempo, sentir a responsabilidade dos coordenadores dos acontecimentos festivos dos carnavais de ontem! Parabéns Pe. Vicente Rigolon -RESENDE-RJ
Estimado Sr. pelas informações enviadas para Curitiba!
Desculpe, que nem sempre respondo...
Estou "montando" próximo número da nossa revista "Polonicus". Desejamos dedicá-la ao Papa João Paulo II por ocasião da canonização!
O Senhor, por acaso, teria algum material ligado ao Papa Joao Paulo II ? Com prazer iríamos publicar o seu. O Sr. sempre está sendo bem acolhido entre nós, nesta revista.
Um grande abraço - pe. Zdzislaw
Prezado Francisco Braga, me admiram seu conhecimento musical e sua capacidade de pesquisa. Esta dos blocos carnavalescos antigos nos mostra uma contra-face da realidade atual do blocos e escolas carnavalescos da Região das Vertentes. Parabéns pelo texto e pela preocupação com a Biblioteca Municipal.
Paulo Sousa Lima
Sociólogo - Membro da Comunidade Pedagógica de Águas Santas - Tiradentes - Coordenador da Biblioteca da Comunidade: Projeto Rede de Leitores.
Caríssimo,
Espero que tudo bem contigo. Sempre que posso leio algo sobre tuas publicações e histórias que você está desenvolvendo na grande São João Del Rei!!!!!!!!!
Ou seja, enquanto tu te esforça, eu trabalho um pouco....., afinal, tenho que buscar o leite para as crianças!!!!!!!!!!!
Oscar
Emocionante a cobertura de "A Tribuna" do Carnaval de Rua de 1928. No Rancho do Boi Gordo vi os dois mestres que trabalharam no barracão do primeiro desfile do Bloco Qualquer Nome Serve como Escola de Samba em 1966: Tarcilo Tolentino e meu tio Waldemar Pugliese, pai do advogado Luiz Dangelo Pugliese que comandava a bateria da Qualquer Nome Serve. Aliás, quando criamos a Qualquer Nome Serve em 1957 foi para homenagear o Rancho de mesmo Nome do qual meu pai havia sido tesoureiro. A descrição da Tribuna atesta o espírito lúdico das cidades do Ciclo do Ouro e reafirma a nossa tradição carnavalesca. Fiquei sabendo que houve uma outra publicação sobre o carnaval no Blog e esta não chegou aos meus olhos. É de 28 de fevereiro, segundo li no Blog. Não poderia me enviar? Parabéns pela matéria. Jota Dangelo
Incrível a cobertura dada pela Tribuna aos Ranchos daqueles tempos. Que órgão de imprensa daria, hoje, este espaço na midia para anunciar eleições de diretoria? Um parágrafo e nada mais. O mais interessante, Braga, é que naqueles 28/29 o carnaval de rua era conduzido pela classe média e alta da cidade: basta ver os nomes à frente das entidades. O declínio das Grandes Sociedades (como o Clube X) e dos Ranchos levou ao aparecimento de Blocos (como o Bate-Paus) e Escolas de Samba (como a !3 de Maio e depois a Depois Eu Digo), com dirigentes da periferia, senão proletários, de classe média baixa. Agora me dou conta de que em 1957, quando criamos a Escola de Samba Qualquer Nome Serve, estávamos voltando a ter a classe média no carnaval de rua são-joanense. Logo em seguida, em 1965, outras duas escolas de samba, de classe média, seguiram o exemplo da QNS: a Unidos do Largo da Cruz e a Fale de MIm. Esta última em 65, apareceu como Bloco (o Milionários do Ritmo) e virou Escola de Samba em 1968. Veja como são os tempos: hoje, nenhuma escola de samba são-joanense é de classe média. A grande maioria dos seus elementos é da perferia são-joanense. A juventude da classe média prefere as Bandas: Cambalhotas, Copo Sujo, Chácara, Lesma Lerda e outros. Nos tempos atuais a juventude da classe média não quer ter a disciplina que uma Escola de Samba exige. Disciplina é o primeiro requisito para o processo criativo, para qualquer manifestação artística. Bandas são manifestações de espontaneidade, alegria coletiva, certo, mas não criam coisa alguma: apenas as Escola de Samba são criativas, contam um enredo, dão voos à imaginação na confecção de figurinos, alegorias, evolução, coreografias. Eis porque não podemos deixar de apoiá-las, seguindo a tradição da nossa terra, as lições deixadas pelos antigos Ranchos, Blocos e Clube X. Sua pesquisa, Braga, é meritória justamente por esta razão: para lembrar que o presente tem de onde vir... Jota Dangelo
Caro Braga,
Meu pai falava muito de um certo 'Bloco de Bate Paus", mas, ao que parece, ele nao era muito carnavalesco e pouco acrescentou sobre o Club X, Boi Gordo ou o Qualquer Nome Serve.
É surpresa para mim ver agora sua pesquisa sobre este assunto, que me agrada muito.
Estamos em pleno carnaval de 2016, e, aqui no Rio, vejo muitos elmentos daquilo que o Bakhtim escreveu.
O mais importante deles, porem é "o riso coletivo que se opõe ao tom sério e à solenidade repressiva da cultura oficial e do poder real e eclesiástico."
Que bom que fosse assim o ano inteiro!
M. Pozzato
Rio/RJ
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