Por Francisco José dos Santos Braga
I. PRIMEIRO MOMENTO: SEMICÍRCULO (RECORDAÇÕES QUASE MEMÓRIAS), por Eduardo Canabrava Barreiros, p. 42-44.
"(...) Embevecido ante as histórias contadas pelas pessoas idosas, vivia intensamente seus dramas, como se deles participasse. Assim é que fui ouvinte atento de Tia Felipa, cujos relatos, repassados de sofrimentos, começavam ou terminavam com a morte.
A mais remota dessas histórias, ouvidas por mim, dizia respeito a fato ocorrido durante a "Revolta", possivelmente o movimento insurrecional de 1842.
Burlando a vigilância exercida pelos "soldados do governo", na intenção de coibir as comunicações entre os "revoltados", ou vice-versa, usavam ambos dos mais variados estratagemas. Assim é que enviavam mensagens dentro de sabugos de milho, varas de pescar, costuradas em bentinhos, como "reza-brava", em delgados canudilhos de pergaminho, que as escravas — mensageiros preferidos — levavam e traziam introduzidos na carapinha, e até mesmo em outras partes do corpo.
Foi numa dessas empreitadas, quando certa escrava tentava passar pela Ponte de Santo Antônio, na parte norte da Vila, que o preto Antônio, graduado "bate-pau" que comandava ali, fê-la estacar.
Correu os dedos experientes por sua carapinha acinzentada, para depois mandá-la abrir a boca, e, com os mesmos dedos experientes, sondar entre as gengivas e as bochechas flácidas. Desconfiado, cada vez mais, daquela escrava de olhos esbranquiçados, que se dizia quase cega, quis que ela se despisse, ao que a preta se recusou, pondo-se a correr pela ponte a fora.
Tão rápido quanto ela, que se perdia já na semi-obscuridade, o "bate-pau" apontou o clavinote, atirando. Ao aproximar-se da escrava caída na poeira da ponte, abaixou o cabeção ornado de galão vermelho, pondo à mostra seus seios murchos.
Ao deparar a mancha branca, de bordas avermelhadas, em forma de T, com a qual fora marcada sua mãe, pelo crime de tê-lo gerado, contra a vontade do Teixeira-Velho, senhor de "escravos-de-ganho", parou arrepiado... Acariciara muitas vezes aquela cicatriz, até que fora, aos sete ou oito anos, separado de sua mãe, vendido para um homem das bandas de Sabará... Querendo, e ao mesmo tempo receando a verdade, perguntou à preta por seu nome... Esta nada respondeu, sangrando abundantemente.
Abaixando-se mais ainda, insistiu ele: — "Tibéria! Tibéria!" e ela muda, olhos cerrados, arfante: — "Tiba! Mãe-Tiba!"...
Aí a preta abriu os olhos já sem luz, e erguendo o tronco, num esforço supremo, gritou, antes de cair para trás, morta: "Tooonnnho"... — grito que vibrou no ar durante muito tempo, como um lamento arrepiante.
Sob os olhares interrogativos de seus subordinados, o chefe "bate-pau" ergueu nos braços vigorosos o velho e desgastado corpo da preta, e com ele aconchegado ao peito, galgou o corrimão da ponte, de onde se atirou no torvelinho das águas, cabeça colada aos seios murchos de sua mãe.
Com a cabeça pousada no colo de "Lipa", chorava sempre que ouvia esta história, não a morte de Tibéria, mas o desespero de Tonho...
✻ ✻ ✻
Muitos anos depois, num programa de televisão denominado "Mineiros Frente a Frente", em Belo Horizonte, eu teria ocasião de contar essa história, em cumprimento a um dos itens do bem organizado programa.
Consistia o mesmo na obrigatoriedade de contar, no espaço de três minutos, história verídica ocorrida no âmbito da respectiva sede municipal. Contei-a dentro do tempo estipulado, acrescentando assim um ponto a mais, para a vitória final do Curvelo sobre a valorosa equipe da cidade de Itaúna."
Fonte: BARREIROS, Eduardo Canabrava: Semicírculo (Recordações quase Memórias), p. 42-44.
Crédito pela imagem e texto: Paulo Chaves Filho - Livraria José Olympio Editora, 1977 - 158 p. |
II. SEGUNDO MOMENTO: Reunião nº 472 do IHG de São João del-Rei em 05 de agosto de 2012
A seguir, transcrevo trecho da Ata nº 472 de 05 de agosto de 2012 do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, com outra versão para a mesma história da Mãe-Tiba, certamente com maior riqueza de detalhes do que a original, mas não menos verídica, pois o seu contador, Lúcio Flávio Baioneta, mantinha convivência diária com o grande historiador, ilustrador e cartógrafo brasileiro, quando ambos residiam no Rio de Janeiro. O ilustre contador estava ali para dar o seu testemunho sobre os principais fatos ocorridos com Canabrava Barreiros, na qualidade de convidado pelo confrade Paulo Chaves Filho, ocupante da cadeira nº 34 patroneada por Eduardo Canabrava Barreiros (1908-1981), o qual no mesmo encontro pronunciava o seu Discurso de Defesa do Patrono.
No seu discurso, Paulo Chaves Filho comentou que, após muitas e infrutíferas buscas sobre a biografia de Canabrava Barreiros, recebeu de certo Dr. Antônio, parente do seu patrono, a informação de que "quem sabia tudo sobre Canabrava era o Dr. Lúcio", ali presente, "por terem sido amigos de infância, terem viajado juntos, entre outras coisas". Então, o orador disse que, tendo seguido aquela recomendação, entrara em contato com Lúcio Flávio Baioneta e sua esposa, Dª Vilma Canabrava Baioneta, parenta do seu patrono, ali presentes, atribuindo-lhes o mérito de lhe terem dado os caminhos para a montagem do seu trabalho.
Lúcio Flávio Baioneta ¹ então tomou a palavra, esclarecendo previamente que "discursos se assemelham a vestidos: se longos demais, desanimam; se curtos demais, escandalizam." Disposto a atalhar o caminho, dirigiu-se inicialmente ao presidente do IHG, Artur Cláudio da Costa Moreira, agradecendo-lhe por recebê-lo e sua esposa naquela data. Em seguida, fez o mesmo em relação ao secretário Francisco José dos Santos Braga, por tê-lo acolhido muito bem como ex-aluno do Ginásio Santo Antônio, de São João del-Rei. Por fim, agradeceu a Paulo Chaves Filho o convite para comparecer àquele egrégio Instituto, em sua opinião, local ideal para rememorar seus saudosos mestres e professores, por ser aquela Casa a mais certa de São João del-Rei, onde se reuniam os luminares são-joanenses, as pessoas mais cultas, as que entendiam de História. Disse que São João del-Rei representava para ele a página mais importante para a sua vida. E por quê? "Tendo chegado a São João del-Rei em 1953, menino de 11 anos de idade, permaneci durante cinco anos aos cuidados dos freis franciscanos como aluno interno do Ginásio Santo Antônio, onde tive a oportunidade de me tornar homem e aprender a levar a vida, da seguinte forma: no patamar superior, com orgulho, mas sem ser prepotente; e, no patamar inferior, sendo humilde, mas jamais sendo subserviente. Por tal razão, São João del-Rei é também minha terra, os são-joanenses são também minha gente." Como numa declaração de amor, externou a seguinte convicção: "Se não tivesse passado por essa terra, não teria obtido nada do que foi possível conseguir na vida."
Contou que, tão logo se formou engenheiro em Belo Horizonte, pós-graduou-se em Matemática Pura e Aplicada e quis o destino desviá-lo para o mercado financeiro. Depois de percorrer o Brasil, deu com os costados no Rio de Janeiro. Relembrou que, ao chegar ao Rio de Janeiro, seu cunhado, Paulo Canabrava, o convidou para apresentá-lo a uma pessoa que estimava muito: Eduardo Canabrava. "Lá fomos nós, Paulo e eu, para a Av. Presidente Wilson, onde Eduardo residia, perto do Consulado Americano, e então o conheci em pleno ano de 1970. Na primeira conversa com Eduardo, foi uma simpatia à primeira vista, nunca mais nos desgrudamos, mantendo contatos diários no meu escritório, na Rua do Ouvidor, nº 90, onde batíamos um papo de uns 15-20 minutos. Como iniciava meu expediente externo às 9 horas da manhã, costumava chegar à empresa por volta das 7 horas. Eduardo passava religiosamente naquele endereço para um bate-papo diário de 20 minutos, fato de que me lembro com muita saudade. Durante esses bate-papos matinais é que lhe surgiu a vontade de escrever livros como 'Itinerário da Independência', 'As Vilas Del-Rei e a Cidadania de Tiradentes', 'Dom Pedro - Jornada a Minas Gerais em 1822'. Recebi a dedicatória de Eduardo neste último livro, prefaciado por Pedro Calmon, por ter sido eu o patrocinador da edição por ocasião do Sesquicentenário da Proclamação da Independência. O primeiro livro dele, 'O Segredo de Sinhá Ernestina' tinha sido prefaciado por Guimarães Rosa, o qual não prefaciaria outro livro durante toda a sua vida."
Contou que, tão logo se formou engenheiro em Belo Horizonte, pós-graduou-se em Matemática Pura e Aplicada e quis o destino desviá-lo para o mercado financeiro. Depois de percorrer o Brasil, deu com os costados no Rio de Janeiro. Relembrou que, ao chegar ao Rio de Janeiro, seu cunhado, Paulo Canabrava, o convidou para apresentá-lo a uma pessoa que estimava muito: Eduardo Canabrava. "Lá fomos nós, Paulo e eu, para a Av. Presidente Wilson, onde Eduardo residia, perto do Consulado Americano, e então o conheci em pleno ano de 1970. Na primeira conversa com Eduardo, foi uma simpatia à primeira vista, nunca mais nos desgrudamos, mantendo contatos diários no meu escritório, na Rua do Ouvidor, nº 90, onde batíamos um papo de uns 15-20 minutos. Como iniciava meu expediente externo às 9 horas da manhã, costumava chegar à empresa por volta das 7 horas. Eduardo passava religiosamente naquele endereço para um bate-papo diário de 20 minutos, fato de que me lembro com muita saudade. Durante esses bate-papos matinais é que lhe surgiu a vontade de escrever livros como 'Itinerário da Independência', 'As Vilas Del-Rei e a Cidadania de Tiradentes', 'Dom Pedro - Jornada a Minas Gerais em 1822'. Recebi a dedicatória de Eduardo neste último livro, prefaciado por Pedro Calmon, por ter sido eu o patrocinador da edição por ocasião do Sesquicentenário da Proclamação da Independência. O primeiro livro dele, 'O Segredo de Sinhá Ernestina' tinha sido prefaciado por Guimarães Rosa, o qual não prefaciaria outro livro durante toda a sua vida."
O 'Semicírculo' foi o livro de Canabrava Barreiros que Lúcio Flávio Baioneta indicou ao confrade Paulo Chaves Filho para a sua pesquisa sobre dados biográficos do seu patrono. "Nele consta um conto que gostaria de narrar, com o qual Canabrava ganhou um prêmio da TV Itacolomi para Curvelo, no programa 'Mineiros Frente a Frente', no quadro 'Eu Conto a Verdade'. Era uma época diferente da televisão brasileira, no ano de 1971, que incentivava uma disputa entre as cidades, que participavam com seus intelectuais, seus casos, sua capacidade social, ambiental, etc., mas era na área cultural que se dava efetivamente a disputa. Foi feita a seleção, foi eliminada a cidade X, a cidade Y, a cidade Z, foram peneirando tudo e restaram Itaúna, de um lado, e Curvelo, do outro. Ou seja, do programa constava a distribuição de tarefas e Curvelo foi disputando o prêmio com a cidade de Itaúna, tendo ambas conseguido chegar à etapa final. Nessa etapa, entre os quesitos que tinham que ser preenchidos, em determinada noite, ao vivo, no Cine Brasil, na Praça Sete, em Belo Horizonte, havia um, que exigia que se contasse um caso verídico acontecido na cidade, não podendo ultrapassar a duração de 3 minutos. Para defender Curvelo, uma comissão desta cidade foi até o Rio para convidar o Eduardo a fazê-lo. Do lado de Itaúna, para contar o caso verídico foi escolhido Oscar Dias Corrêa ², que era eminente tribuno, tendo sido Deputado Federal, Ministro da Justiça, grande Acadêmico mineiro, um causídico fantástico, cuja presença como narrador, contista ou historiador por si só intimidava qualquer pessoa. Orador brilhante, a plateia se calava quando ele chegava. Ficou combinado, por sorteio, que Eduardo contaria o seu caso após Oscar Dias Corrêa. Ora, Eduardo era muito tímido, embora fosse um 'gozador'. O seu tipo físico era de alguém alto, desengonçado, feio, extremamente pálido porque sofria de uma anemia congênita, magro, com óculos que mais pareciam lentes de holofote. E se desenvolvera passando por dificuldades gigantescas. A sua aparência era desagradável, mas se lhe fosse dada a oportunidade de falar, a coisa mudava de figura. Sabia agradar pelo brilhantismo, pela inteligência, pela fluência e pela capacidade de contar os seus casos.
Oscar Dias Corrêa contou o seu caso de Itaúna, ultrapassou o limite de 3 minutos, falando por mais de um minuto e meio, mas ninguém tinha a coragem de adverti-lo. Ao terminar o seu caso, ouviram-se muitas palmas. Da coxilha onde se achava, Eduardo suava de pavor, de medo de enfrentar a plateia do Cine Brasil. "Meu Deus do Céu, por que é que eu fui me meter nessa? Os curvelanos depositaram em mim uma confiança muito grande', pensava com seus botões. Estava apavorado não com o que iria falar, mas com a responsabilidade que lhe pesava nos ombros. Quando o grande tribuno daquela época terminou o seu conto, o locutor anunciou o nome de Eduardo para contar o caso verídico da cidade de Curvelo, convidando-o a entrar no palco. 'Agora, representando Curvelo o Sr. Eduardo Canabrava Barreiros.' Foi como se um raio caísse sobre a cabeça de Eduardo; a sua perna não saía do lugar e, vendo o microfone tão longe que mais parecia uma forca, uma guilhotina, pensou: 'Pois eu tenho que ir para lá.' Sentindo-se completamente bambo, pensou em fugir, em sumir, mas uma voz lhe dizia que não podia fazer isso. Ao segundo anúncio do locutor, não teve como furtar-se e caminhou até o microfone, olhou para a plateia meio ressabiado, não deu boa noite e foi logo contando o seguinte caso verídico."
Nesta altura, o caso de Mãe-Tiba foi narrado, segundo Baioneta, conforme ouvira do próprio Canabrava Barreiros:
"A Revolução de 1842, que incendiou Minas Gerais, começando em Barbacena, depois por São João del-Rei, em seguida em Queluz, atingiu finalmente Santa Luzia. O grande líder era Teófilo Otoni. Em Curvelo, que era chamado Santo Antônio da Estrada do Corvelo, hoje Curvelo, tem uma ponte e o rio como separador de territórios. Naquela época não existiam Correios; usavam-se mensageiros. Os escravos e as escravas levavam as mensagens. Na ponte tinha uma barreira montada pelo Governo Imperial, quando apareceu, num local chamado Cata Alta, uma escrava com suas roupas brancas. Chegou o Antônio que tomava conta da sentinela da ponte e começou a fazer a vistoria nela, na carapinha dela, local costumeiro de os escravos levarem os canudinhos com as mensagens; não encontrando nada, desconfiado, mandou que ela tirasse a roupa. A pobre da escrava tomou um susto danado com essa ordem de tirar a roupa e resolveu correr pela ponte. Foi correndo e o Antônio gritando: "Para, para!" Como ela não parava, ele pegou o clavinote e TUM! A preta tombou na poeira da ponte. Ele correu para descobrir onde estava a mensagem, procurou, tornou a procurar, a preta já arfando com sangue saindo pela boca... Ele não achava; então pegou e rasgou o camisolão da negra e, junto ao seio, ele viu uma marca de um T a fogo, que marcava as mulheres escravas que não podiam ter filhos e tinham. Então ele lembrou que aquele T era o mesmo T do seio que o amamentara. Então ele gritou: "Tibéria!" Ela, quieta. "Tibéria! Mãe-Tiba!" Aí, ela voltou-se, no último aceno de vida, olhou para ele, já com olhos de morte, e gritou: "Tooonnnho!" Então, Antônio se descontrolou: pegou a negra nos braços, chegou no corrimão da ponte e pulou nas águas, abraçado a ela.
Nesta altura, Eduardo fez uma pausa no relato da história. O silêncio no auditório era absoluto. Sabe aqueles 15, 20 segundos que não passam nunca? Todo o mundo paralisado.
Chegou a pensar então: "Meu Deus do Céu, por que é que eu fui contar isso? Esse pessoal vai arrasar comigo. Vai ser a maior vaia que eu tomei na minha vida. É melhor eu sair."
Quando ele ameaçou sair, o Cine Brasil explodiu, muitos subindo em cima de cadeiras, jogando papel para cima, aquela alegria. Resultado: ganhou Curvelo." ³
Nesta altura, o caso de Mãe-Tiba foi narrado, segundo Baioneta, conforme ouvira do próprio Canabrava Barreiros:
"A Revolução de 1842, que incendiou Minas Gerais, começando em Barbacena, depois por São João del-Rei, em seguida em Queluz, atingiu finalmente Santa Luzia. O grande líder era Teófilo Otoni. Em Curvelo, que era chamado Santo Antônio da Estrada do Corvelo, hoje Curvelo, tem uma ponte e o rio como separador de territórios. Naquela época não existiam Correios; usavam-se mensageiros. Os escravos e as escravas levavam as mensagens. Na ponte tinha uma barreira montada pelo Governo Imperial, quando apareceu, num local chamado Cata Alta, uma escrava com suas roupas brancas. Chegou o Antônio que tomava conta da sentinela da ponte e começou a fazer a vistoria nela, na carapinha dela, local costumeiro de os escravos levarem os canudinhos com as mensagens; não encontrando nada, desconfiado, mandou que ela tirasse a roupa. A pobre da escrava tomou um susto danado com essa ordem de tirar a roupa e resolveu correr pela ponte. Foi correndo e o Antônio gritando: "Para, para!" Como ela não parava, ele pegou o clavinote e TUM! A preta tombou na poeira da ponte. Ele correu para descobrir onde estava a mensagem, procurou, tornou a procurar, a preta já arfando com sangue saindo pela boca... Ele não achava; então pegou e rasgou o camisolão da negra e, junto ao seio, ele viu uma marca de um T a fogo, que marcava as mulheres escravas que não podiam ter filhos e tinham. Então ele lembrou que aquele T era o mesmo T do seio que o amamentara. Então ele gritou: "Tibéria!" Ela, quieta. "Tibéria! Mãe-Tiba!" Aí, ela voltou-se, no último aceno de vida, olhou para ele, já com olhos de morte, e gritou: "Tooonnnho!" Então, Antônio se descontrolou: pegou a negra nos braços, chegou no corrimão da ponte e pulou nas águas, abraçado a ela.
Nesta altura, Eduardo fez uma pausa no relato da história. O silêncio no auditório era absoluto. Sabe aqueles 15, 20 segundos que não passam nunca? Todo o mundo paralisado.
Chegou a pensar então: "Meu Deus do Céu, por que é que eu fui contar isso? Esse pessoal vai arrasar comigo. Vai ser a maior vaia que eu tomei na minha vida. É melhor eu sair."
Quando ele ameaçou sair, o Cine Brasil explodiu, muitos subindo em cima de cadeiras, jogando papel para cima, aquela alegria. Resultado: ganhou Curvelo." ³
III. NOTAS EXPLICATIVAS
¹ Para se ter uma ideia da expressão social do contador Dr. Lúcio Flávio
Baioneta, que honrou o IHG são-joanense com sua distinta presença, vou
transcrever aqui o que ele postou como comentário a "Meu Discurso de
Posse na Academia Formiguense de Letras em 25/10/2014", no Blog do
Braga:
"Meu prezado amigo FJSBRAGA,
Que vontade tive de aplaudir você de pé quando de sua posse na Arcádia Formiguense.
Gostaria, se Deus me permitisse, de levar 4 amigos meus e do Rosa: o Juca Bananeira, lá do Maquiné; o Lino, jagunço forte e que trabalhou comigo; Manuelzão, encarregado de contar histórias em noites estreladas; e o quarto seria o Eduardo Canabrava Barreiros, que traçaria o caminho nos mapas da eternidade.
Tenho certeza de que o Rosa ficaria num proseado só com eles. Todos encantados. Outras histórias.
Receba meus parabéns pelo extraordinário discurso. Exato.
Os ermos, o silêncio, a falta ou ausência, a coragem é tudo um mundo só. Sertão, meu mundo.
Abraços do Lúcio Flávio"
(Cf. http://bragamusician.blogspot.com/2014/10/meu-discurso-de-posse-na-academia.html)
Gostaria, se Deus me permitisse, de levar 4 amigos meus e do Rosa: o Juca Bananeira, lá do Maquiné; o Lino, jagunço forte e que trabalhou comigo; Manuelzão, encarregado de contar histórias em noites estreladas; e o quarto seria o Eduardo Canabrava Barreiros, que traçaria o caminho nos mapas da eternidade.
Tenho certeza de que o Rosa ficaria num proseado só com eles. Todos encantados. Outras histórias.
Receba meus parabéns pelo extraordinário discurso. Exato.
Os ermos, o silêncio, a falta ou ausência, a coragem é tudo um mundo só. Sertão, meu mundo.
Abraços do Lúcio Flávio"
(Cf. http://bragamusician.blogspot.com/2014/10/meu-discurso-de-posse-na-academia.html)
² Publiquei no Blog do Braga palestra de Dr. Oscar Dias Corrêa, intitulada "Rui Barbosa em Haia e em Buenos Aires", pronunciada no Instituto dos Advogados do Brasil em 4 de novembro de 1999, cujo link, de 26 de agosto de 2013, é o seguinte:
³ O orador Paulo Chaves Filho, alguns dias depois da referida reunião em que fez a apologia de seu patrono, publicou artigo intitulado "Eduardo Canabrava Barreiros, um homem de personalidade" no Jornal de Minas e no Jornal Curvelo Notícias, que pode ser lido nos seguintes links:
José Antônio de Ávila Sacramento, também confrade do IHG de São João del-Rei, publicou um artigo em seu site Pátria Mineira, intitulado "Das vicissitudes e dos triunfos de Eduardo Canabrava Barreiros", que traz úteis informações biográficas do ilustrador, historiador, cartógrafo e escritor mineiro, Eduardo Canabrava Barreiros, disponível in http://www.patriamineira.com.br/imagens/img_noticias/135802220812_Eduardo_Canabrava_Barreiros_%28vicissitudes_e_triunfos%29.pdf
*
O autor tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição
Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Participa ativamente como membro
de diversas instituições de cultura no País e no exterior, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, Academia Divinopolitana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico do DF, Academia Taguatinguense de Letras, Academia Barbacenense de Letras e Academia Formiguense de Letras. Possui ainda o Blog do
Braga (www.bragamusician.blogspot.com.br) e é um dos colaboradores e gerente do Blog de São João del-Rei. Escreve
artigos e ensaios para revistas, sites, portais e periódicos.
9 comentários:
História fantástica! Dangelo
Meu caro Francisco Braga,
conheci Eduardo Canabrava Barreiros nas tardes do Sabadoyle. Vou ler o blog. Abraço agradecido do Gilberto Mendonça Teles.
Grato pelo envio. É de fato um grande nome da intelectualidade mineira. Vou ler atentamente e com a satisfação com a qual encaro todos os seus textos.
Abç.fraterno,
UP
Meu prezado amigo, FJSBRAGA,
cheguei a pensar que você tinha se esquecido daquela minha fala em 05 agosto de 2012 no IHGSJDR.
Muito obrigado pela atenção e pelo carinho mais uma vez.
Um grande abraço do amigo, Lúcio Flávio.
Meu prezado amigo, FJSBRAGA,
uma única palavra sobre seu trabalho:- irrepreensível.
Parabéns.
Abs,
Lucio Flávio
Caro amigo Braga,
Uma história curta, porém emocionante!
Lemos com muita atenção toda a sua mensagem, pelo que o parabenizamos pela publicação e agradecemos pelo envio.
Com um abraço cordial,
O amigo Mario.
Prezado Francisco José Braga, agradeço mais uma vez o envio desta sua postagem. Sigo frequentemente seu Blogue. Sou professor de História da Psicologia e Psicologia da Educação. Agrada-me sempre sua maneira carinhosa e apaixonada de valorizar nossas raízes. Sou catarinense mas há 19 anos vivo em São João del-Rei, onde me casei e Deus me deu a graça de quatro filhos.
Abraços frarternos,
Dener.
Dr. Lúcio Flávio Baioneta (conferencista e proprietário da Análise Comercial Ltda) disse...
Meu prezado amigo, FJSBraga, agradeço lhe pela inesquecível resposta sobre a minha busca para encontrar um exemplar da Pequena Gramatica da Língua Francesa, escrita pelo nosso mestre Frei Felicíssimo Mattens.
Porque inesquecível?
Li com o coração e não com os olhos as paginas do Blog do Braga, http://bragamusician.blogspot.com.br/2009/12/105-anos-da-presenca-franciscana-em-sao_18.html sobre os 105 anos da Presença Franciscana em SJDR.
Vi me no inicio do ano de 1953, atravessando com meus pais, uma ponte metálica para pedestres sobre o córrego do Lenheiro, numa manha de domingo em que éramos guiados pelo som dos sinos em busca de uma igreja.
Extasiados, nos quedamos frente aos trabalhos em pedra sabão que adornam a porta principal da maravilhosa Igreja de São Francisco de Assis. Finda a missa, perguntamos a alguém, onde ficava o Ginásio Santo Antonio? e ele disse, apontando com o dedo:- é ali, naquele portão.
Começava, exatamente naquele momento, a mais emocionante, fantástica e proveitosa aventura de minha vida.
Tinha 11 anos de idade.
Ao ler os seus escritos, sentei me novamente nas carteiras daquele educandário, onde vivi, durante 05 anos como aluno interno, e relembrei carinhosamente cada um de meus mestres.
A eles, Da.Carmita, Prof. Thomaz Perilli, Prof.Geraldo Silva, Prof. Domingos Horta, Prof. Elpídio Antonio Ramalho, meu paraninfo, Frei Conrado, Frei Seráfico, Frei Salésio, Frei Feliciano, Frei Metelo, Frei Beno, Frei Jordano, Frei Jaime, Frei Geraldo, Frei Felicíssimo, meu diretor, devo os pilares de minha humilde sabedoria.
Àqueles educadores devo os pilares da moral, da honra , da dignidade e da humildade sem subserviência.
Aprendi a ter orgulho sem ser prepotente.
Aprendi a ser homem e a respeitar outros homens dignos.
Lutar pela liberdade e pela democracia.
Defender os humildes e os esquecidos.
Ser justo, sendo juiz de mim mesmo.
Ver os bens materiais como forma de poder ajudar alguém. Jamais a cobiça.
Quando no principio de dezembro de 1957, na noite de minha formatura, desci as escadas do palco do nosso cine teatro, ladeado pelos meus orgulhosos pais, tinha no peito a medalha de ouro daquele educandário e trazia na alma a vontade e o preparo para enfrentar a vida.
Guardei aquela medalha por 57 anos e dentro das paredes sagradas do Instituto Histórico e Geográfico de São João Del Rey, na frente de seus ilustres membros, entreguei-a ao meu filho, para que ele um dia a entregasse ao meu neto.
Não lhe passava uma medalha, passava lhe o simbolismo de como se deve educar um cidadão, e disse isto, a todos os presentes:-
Nós só nos tornaremos uma nação, quando elegermos a educação de nossos filhos, de todos os brasileiros, como a mais importante missão de nossas vidas. Deixaremos de aparecer nas páginas policiais dos noticiários estrangeiros e apareceremos nas cerimonias de entrega do Prêmio Nobel. Transformaremos os risos do deboche em aplausos pela estatura intelectual que alcançarmos.
Obrigado, amigo, por ter-me levado de volta a um passado que nunca irei esquecer até o final de meus dias, e do qual muito me orgulho.
Não posso encerrar, sem antes agradecer ao povo de São João Del Rey, que durante 5 anos me acolheu e que, durante toda a minha vida, sempre que lá retornei, fui recebido de braços abertos. São João Del Rey é a minha segunda terra natal.
Abraços do amigo, Lúcio Flávio.
Meu prezado amigo FJSBRAGA, de repente eu me vi, no inicio do ano de 1953, com 11 anos de idade, saindo do Hotel do Espanhol, com meus pais em busca de uma igreja para assistirmos a missa dominical. Resolvemos seguir os sinos cujo badalar mais nos agradava e chegamos na monumental igreja de São Francisco de Assis.
Depois da missa conhecemos o Ginásio. Fiz o exame de admissão e não voltei para minha Curvelo, fiquei naquele imenso prédio que durante 5 anos tornou se a minha segunda casa.
Vi. com imensa emoção, todos os videos. Os alunos daquele encontro não foram meus contemporâneos. Revi o prédio, os dormitórios, os laboratórios, os salões de estudos, os refeitórios, os pátios, os campos de futebol e revi o que para mim foi o mais importante:-os mestres e os frades franciscanos que com seus ensinamentos fizeram de mim um homem. Caráter, honra , humildade .
Não vou esconder que cheguei as lágrimas, triste é se eu não tivesse chorado.
Guardo este Ginásio, estes frades e estes mestres no meu coração, até o final de meus dias. Vou guardar estes videos para sempre.
Muito obrigado por ter se lembrado de mim.
Abraços do Lúcio Flávio.
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