Por Dr. Alair Coêlho de Rezende
A derrocada de
todo e qualquer movimento sedicioso ou de implantação de novos sistemas políticos
ou religiosos sempre levou seus integrantes vencidos a serem vitimados por
sérias e severas perseguições por parte dos vencedores. É o que a História nos
mostra e que aconteceu com os cristãos após a crucificação de Jesus, com a caça
às bruxas desencadeada pelas impiedosas autoridades da Santa Inquisição, com o
genocídio que, após a tristemente famosa noite dos cristais na Alemanha
nazista, se abateu sobre os judeus e outras minorias do povo alemão. Com a
Conjuração Mineira não foi diferente, embora nossos historiadores, insensíveis
à dolorosa verdade ou até hoje afinados com a orquestração que foi habilmente
regida pelo Reino Português, em fins do século XVIII, teimem ou ignorem a
discriminação, e consequente segregação, em que foram atirados os parentes dos
patriotas que lideraram o movimento de insurreição que, partindo da província
das Minas Gerais, deveria ter levado o Brasil à condição de Estado, enquanto
instituição política.
Foi o que
aconteceu com os parentes do Cap. de Auxiliares José de Resende Costa após sua
prisão, bem como de seu jovem filho de mesmo nome. Dizem que sua esposa nunca
mais passou pela porta de entrada de sua residência, que até hoje existe
(tombada) na cidade que orgulhosamente ostenta o nome dos dois ilustres Conjurados.
Resende Costa é a única cidade que homenageia, orgulhosamente, com seu nome, a
conjurados mineiros.
Os parentes do
Cap. Resende Costa, discriminados, rejeitados, quiçá perseguidos pela população
do Arraial da Lage, se concentraram, em sua grande maioria, na Fazenda dos
Pintos e lá passaram a viver, como num gueto, cuidando da lavoura e pecuária de
subsistência. Até os tecidos eram feitos pelas mulheres da família. Só iam ao
arraial em busca de sal e quaisquer outras mercadorias que não conseguiam
produzir em seu gueto. E os casamentos consanguíneos, até entre parentes mais
próximos, como tios e sobrinhos, se tornaram uma regra, já que eles não
conviviam com outras pessoas fora de seu grupo familiar.
E as histórias
da Conjuração Mineira e dos sacrifícios impostos aos familiares dos Conjurados
foram passando, pela via oral, de geração em geração. Com o tempo essas
histórias tomaram uma conotação semelhante a lendas. E foi como tal que eu,
pentaneto do Cap. Resende Costa, delas tomei conhecimento.
Na década de
trinta, do século XX, as histórias (ou lendas?) que eu ouvia de meus parentes
idosos se misturavam em meu cérebro com os causos de assombrações que tanto contavam.
Aliás, o meu mundo infantil era mais habitado por assombrações do que por gente
viva, mercê, talvez, do enorme isolamento a que meus antepassados foram
atirados pelas razões já expostas. Era um mundo medonho.
Quando, afinal,
eu já frequentava o curso primário, uma competentíssima professora, dona Dulce
Mendes de Resende (ainda viva e centenária) ministrou uma aula sobre a chamada
Inconfidência Mineira: falou sobre a enigmática figura do Embuçado que, na
noite anterior ao desencadeamento das prisões de determinados revolucionários,
saiu, envolto em pesada capa e com a cabeça encapuzada, a visitar determinadas
casas em Vila Rica, avisando seus moradores de que a caça ia começar; eu recebi
a aula e a decodifiquei como se o Embuçado fosse uma assombração. Foi uma
conclusão natural para quem, como eu, vivera até então misturando a Conjuração Mineira
com causos de mulas sem cabeça, lobisomens e outras manifestações do além-túmulo.
E nunca mais a
figura do Embuçado deixou de bulir com o meu raciocínio e meu interesse pela
Conjuração Mineira foi se tornando, com o decurso do tempo, cada vez mais
aguçado.
Ainda, na pré-adolescência,
me pus a ler todo e qualquer material impresso que me caía às mãos, mas com
particular interesse buscava informações sobre a Inconfidência Mineira e o
Embuçado. Li praticamente toda a Biblioteca que fora do Coronel Francisco
Mendes de Resende, homem culto e que fora o primeiro Prefeito Municipal de
Resende Costa. Evidentemente, as obras que compunham esta biblioteca me eram
emprestadas pela filha do finado Cel. Mendes, minha amada mestra Dulce Mendes
de Resende que, certamente, selecionava as obras que estavam ao alcance de meu
entendimento e necessidade.
Já na
adolescência, tornei-me assíduo frequentador da Biblioteca Municipal de Resende
Costa, até hoje uma das mais ricas do interior do Brasil. Mas informações sobre
o Embuçado eram sempre insuficientes para satisfazer a minha curiosidade.
Com o decurso do
tempo atingi a idade própria para prestação do serviço militar obrigatório e
fui incorporado ao Regimento Tiradentes – 11º Regimento de Infantaria, sediado
em São João del-Rei; esta unidade militar tinha uma excelente biblioteca e eu
me tornei seu frequentador habitual e isto me valeu a amizade do então Primeiro
Tenente Gabriel Martins Ferreira que descobriu meu gosto pela leitura e que,
sem perder a noção e a necessidade de manter a distância hierárquica que nos
separava, passou a trocar ideias comigo, sobre minhas leituras e meus
interesses historiográficos. Fomos amigos até que a morte o levou. Anos depois,
quando ele já estava na reserva, na qualidade de coronel e eu tinha o prazer de
recebê-lo em minha casa, com freqüência, ele me confidenciou que sua
preocupação, naquela época, era, sobretudo, de me orientar em minhas conclusões
derivadas de leituras que, ás vezes, nem eram interpretadas por mim com o rigor
próprio dos que têm formação acadêmica. Minha amizade e gratidão por pessoa tão
extraordinária inflou e atingiu um limite tal que até hoje eu tenho por sua
memória estupenda veneração.
Durante a
prestação do serviço militar, graças aos cursos de Formação e Aplicação de
Graduados (cabo e sargento), eu percebi que um movimento revolucionário da
envergadura da Conjuração Mineira não podia prescindir de um bom Serviço de
Inteligência, uma Rede de Informações e Contrainformações. Mas onde encontrar
registros sobre isso? Nossos historiadores se atêm, quase sempre, apenas aos
Autos da Devassa, e estes nada informam sobre isso.
A busca sobre
esta Rede de Informações tomou forma em minha mente quando eu associei a
existência de Vitoriano Veloso como um dos agentes da mesma, eis que ele foi
preso apenas por transportar correspondência entre membros da sedição
libertadora, que então estava sendo abortada. E o Embuçado? Não seria ele
também um agente desta rede? E como a notícia da prisão de Tiradentes chegara a
Vila Rica, e viera, pelo caminho, desarmando o esquema revoltoso? E tudo isto
antes da notícia oficial chegar a Vila Rica. A conclusão me parece lógica:
havia uma rede de agentes que, obtendo a notícia nos gabinetes do Vice-Rei, a
conduziu a Vila Rica e veio, caminho a fora, abortando o movimento sedicioso. É
ululante a lógica que impõe, silogisticamente, a conclusão: esta rede existiu.
Em 1950 eu já
tinha clara a ideia de que Tiradentes, embora não fosse o mais graduado, nem
militar, nem socialmente, dentre os membros da Conjuração, era o mais ativo deles
graças ao seu talento militar, incontestável, e sua indômita coragem para
pregar abertamente a necessidade de se proclamar a Independência do Brasil;
também já concluíra que ele não era um dos mais pobres e incultos dos
revolucionários já que ele era filho de
rico fazendeiro, como atestam as ruínas que ainda existem na Fazenda do Pombal,
que foi de propriedade de seu pai e onde ele nasceu; essas ruínas, que seriam
de uma dependência de serviços, apresentam um aspecto de grandiosidade e
indicam que a casa-sede da fazenda teria sido uma “casa grande” e rica e, que,
assim sendo, seus proprietários eram ricos e poderosos. Então Tiradentes era
filho de uma família rica, é lógico.
Também é de se
relevar que Tiradentes tinha sido próspero comerciante e senhor de escravos e
rica tropa de muares. Quanto ao fato de ser um simples alferes sem cultura,
esta conclusão é desmentida porque ele fez várias viagens à Europa, mais
especificamente à França e, portanto, seria pelo menos um falante do francês e
possivelmente do inglês, eis que trazia, em suas andanças pelo interior do
Brasil, quando abertamente pregava a revolta armada, necessária à independência
do Brasil, uma cópia da Constituição dos Estados Unidos da América, que lia e
comentava com fluência e convicção. Ora, se não havia imprensa no Brasil e em
Portugal, o governo certamente não permitiria a impressão desta Constituição,
por razões óbvias, o que é desnecessário comentar, claro fica que o exemplar da
Constituição americana do norte, que consigo sempre trazia, era impressa em
inglês ou francês e, então, conclui-se logicamente: Tiradentes que viajava à
França e lia e comentava a constituição americana conhecia, além da língua
materna, o português, também o francês e, possivelmente, o inglês. Era pois um
homem culto, inclusive, como se sabe, sabia latim, que aprendera com um seu
padrinho.
Também, é certo,
viajara à França exatamente quando as idéias iluministas fervilhavam mundo
afora, mas com invulgar vigor na França, onde este ideal atingira seu mais alto
nível, resultando na Revolução Francesa, o que inflamava os ânimos dos
brasileiros, liderados por jovens que estudavam na Europa. A estes se somavam
alguns portugueses que no Brasil residiam e ocupavam cargos de importância na
administração da colônia e que comungavam os mesmos ideais independentistas.
Tiradentes,
levando-se em conta tudo isto, era um homem dotado de bom nível cultural e
também, sabidamente, um homem de coragem. É imperioso concluir que ele era
dotado, ainda que por intuição, de bons conhecimentos de estratégia militar, os
quais utilizava inteligentemente a serviço da causa a que se entregara. E isto,
não há como negar, estava embasado nos ideais da Revolução Francesa e da
Independência dos Estados Unidos da América, cujo exemplo fora tomado como
paradigma pelos Conjurados.
Ele não era o
mais graduado membro da Conjuração mas era, não há como negar, o mais ativo destes
membros e foi certamente por esta característica que ele foi escolhido pelo
governo português, para ser o único enforcado, não merecendo a comutação da
pena, que contemplara os outros. É uma balela a informação de que ele fora enforcado
por ser pobre e inculto, ou que outro fora executado em seu lugar. Tantas eram
as pessoas presentes ao seu enforcamento que o conheciam, inclusive os dois
Resende Costa (aos quais era ligado por laços de parentesco) e o próprio
sacerdote que o assistiu no patíbulo, que o conhecia e bem, por ser o capelão do presídio onde ele
passara longo tempo. Essas pessoas não ficariam caladas se houvesse troca da
pessoa executada. Ou pelo menos, nem todas, e isto é evidente.
Há que se
registrar que a Revolução Francesa e a Conjuração Mineira têm em comum um dado
de altíssima relevância e que indica, sem dúvida alguma, que a primeira era a
inspiração da segunda: o ano de 1789. Neste ano a Revolução Francesa, com a
emblemática Tomada da Bastilha, tornou-se uma realidade e mudou de vez as
concepções políticas do mundo ocidental, enquanto que no Brasil, no mesmo ano,
a delação traidora de Joaquim Silvério dos Reis, provocou o aborto do movimento
independentista que fora engendrado e começaria pela província de Minas Gerais.
Sem dúvida alguma nossos Conjurados comungavam os mesmos ideais iluministas que
levaram à Revolução Francesa, que mudou, para sempre, os rumos políticos no
mundo.
Já com estas informações
e conclusões consolidadas passei a buscar, com mais afinco, informações sobre o
Embuçado, preocupação maior no que tangia à Conjuração. Parecia-me e ainda me parece,
que se for deslindado o mistério que cerca esta figura enigmática, muita luz se
fará sobre o célebre movimento revolucionário. Mas as buscas resultavam
infrutíferas e eu supunha que isto se dava em razão de meus parcos recursos
para encetar viagens custosas e tempo hábil para fazer pesquisas.
E assim
preocupado, mas tendo que lutar arduamente para sobreviver, vi o tempo passar
até que, na qualidade de funcionário do Banco da Lavoura de Minas Gerais, fui
transferido de Ressaquinha/MG para a agência do banco em Paraíba do Sul/RJ.
Esta
transferência deu novo alento às preocupações quanto às até então infrutíferas
pesquisas. Quando cheguei ao novo local de minhas atividades profissionais,
sempre encontrava alguém que, ao saber que eu era filho de Resende Costa,
imediatamente falava na Inconfidência Mineira, tal como era e ainda é,
erroneamente, chamada a Conjuração Mineira. Fiquei surpreso quando constatei
que havia tanta gente sabendo tanto sobre um assunto que eu supunha só
interessava aos mineiros. Mais surpreso ainda fiquei quando soube que um
resende-costense fora Prefeito Municipal de Paraíba do Sul, muito querido por
sinal, e só então me dei conta que esta era a razão de Resende Costa ser uma
cidade conhecida dos sul-paraibanos.
Fiquei
conhecendo várias pessoas que muito sabiam sobre a Conjuração Mineira, mas um se
destacava e era o Chefe da Agência do IBGE, conhecido como Rubens da
Estatística. Procurei-o e não foi difícil nosso entendimento, pois eu estava
aguardando nomeação para o mesmo cargo que ele ocupava, mas com lotação em
Minas Gerais, uma vez que fora aprovado em Concurso Público, já homologado. Ia,
portanto, ser colega de profissão do Rubens, o que facilitou nosso
relacionamento.
Suas informações
eram muito preciosas e trouxeram novos elementos sobre a Conjuração, ao meu
conhecimento.
E foi assim que
eu soube que no Terceiro Distrito do Município de Paraíba do Sul, Sebollas, quando
o mesmo ainda era um simples arraial, um enclave nos terrenos da Fazenda de
mesmo nome, de propriedade de dona Ana Mariana Barbosa de Matos, bela e
ilustrada fazendeira, existira pouso para as tropas que percorriam o Caminho Novo,
conduzindo riquezas que iam de Minas Gerais, muitas vezes diretamente para
navios ingleses, no Rio de Janeiro.
O alferes
Joaquim José da Silva Xavier que aí sempre pernoitava com sua tropa tornou-se amigo
de Padre Paulo, vigário do lugar e irmão da bela dona Mariana, de quem
Tiradentes se tornou amante. Com o passar do tempo as pregações revolucionárias
do Alferes Joaquim José caíram na alma do povo do lugar e logo, logo, muitos se
tornaram Conjurados. E estes existiam por toda a vasta região, desde a Baixada da
Guanabara, passando por Porto Estrela, até as fronteiras de Minas e São Paulo.
Os Conjurados se reuniam sempre na fazenda de Sebollas, sob a direção de
Tiradentes. Este, nestas suas paradas em Sebollas, unia o útil ao agradável:
dava descanso às tropas de muares e de homens, revia seu grande amigo Pe.
Paulo, namorava sua favorita, pregava e preparava a revolta. Era tão grande a
amizade que unia Tiradentes ao Pe. Paulo, que a este o Alferes ofertara uma
imagem de Nossa Senhora do Pilar, esculpida em São João del-Rei e que hoje se
encontra no Museu, em Sebollas.
Fachada do Museu Sacro Histórico de Sebollas, Paraíba do Sul |
Encontrei também
uma informação, em uma publicação que me foi enviada de Teresópolis/RJ, segundo
a qual um dos fundadores daquela cidade fora um filho de Tiradentes com dona
Mariana. Contudo, desta nota histórica nunca obtive confirmação por outras
fontes.
Uma coisa, a partir
das informações que eu obtive, contudo, começou a espicaçar minha curiosidade:
a Conjuração deveria ser eclodida exatamente no dia da Derrama, uma vez que os
sediciosos tinham que estar preparados para deflagrar o movimento em data
previamente marcada, já que não havia outro meio para se ordenar o início da
operação bélica, face à falta de meios de comunicação. Mas a Derrama só seria
executada nas Comarcas que pertenciam à província geológica dos cristais e
Paraíba do Sul não atendia esta especificação, logo lá não haveria Derrama. Uma
conclusão então se impunha: os Conjurados daquela região o eram verdadeiramente
por serem patriotas e desejarem a independência e soberania do Brasil, pois não
tinham razões para temer a arrecadação punitiva a que se dava o nome de
Derrama.
Aliás, entendo
que todos os Conjurados eram patriotas, o que até levou um padre a criticar esta
afirmativa que eu fizera, dizendo que só se podia falar em patriotismo a partir
de 1822, com a declaração de nossa Independência. Mas esse crítico bem
intencionado devia entender mais de missas do que de educação cívica, eis que a
ideia de pátria e comportamento patriótico, por parte de brasileiros, se
consumara nas batalhas de Guararapes, em abril de 1648 e em fevereiro de 1649,
quando brancos já brasileiros natos, índios, negros, mulatos e outros, pegaram
em armas e expulsaram os holandeses de nossa terra. Pela primeira vez, em nossa
história, o povo lutou contra o invasor e não o fez em defesa do patrimônio
colonial de Portugal. Aí se dera a defesa do Brasil, enquanto Pátria. De se
destacar que no aceso desta luta em Pernambuco, em 19 de abril de 1648, é que
se considera como a data de criação do Exército Brasileiro. É oportuno então
que se diga: nossa Pátria nasceu quando foi criado o Exército Brasileiro. Disto
não há dúvidas.
Em 1822, o que nasceu
foi o Estado brasileiro, com o reconhecimento internacional de nossa soberania.
Face a este
raciocínio, que não é uma divagação mas a constatação de fatos históricos, a
Conjuração Mineira foi abortada cento e quarenta anos depois que houve a
primeira manifestação de patriotismo do povo brasileiro. Não há como negar: os Conjurados
eram sim patriotas e queriam ver sua pátria livre do jugo cruel de Portugal.
Com as
informações obtidas e somadas às que eu já conhecia, inclusive quanto à
exposição pública do “quarto superior esquerdo” do herói, em um poste, em
Sebollas, para exemplo intimidador, dissuadindo a população de outras
tentativas revoltosas, eu concluí, logicamente, que se o restos mortais de
nosso herói maior ali foram expostos, com absoluta certeza, esta decisão partiu
do conhecimento, por parte das autoridades, de que na região havia mais
sediciosos. Quanto a isto não há dúvidas.
Certo domingo, quando eu morava em Paraíba do Sul, embarquei em um automóvel de praça (ainda
não se falava táxi) e fui a Sebollas, que distava uns vinte quilômetros, em
estrada sem pavimentação. Cheguei exatamente quando começava, na matriz, a
missa dominical. Assisti a ela e ao final procurei contatar as pessoas conhecidas
que saíam da igreja, buscando informações.
Matriz de Sant'Ana, em Sebollas |
Ninguém sabia
onde os restos mortais de Tiradentes tinham sido expostos, mas todos contavam
que, após uns poucos dias, os soldados, que ficaram guarnecendo a tétrica
exposição, foram embora e então o braço do herói desapareceu. Todos contavam
uma história que mais parecia uma lenda: Padre Paulo, amigo e quase “cunhado”
de Tiradentes, em companhia de um irmão, à noite, furtou o braço do amigo e o
enterrou sob o altar-mor da matriz. Mas ninguém nunca procurou averiguar isso,
mesmo porque ninguém ousaria tocar no altar, tal era o respeito que se tinha
por objetos sagrados, e o altar o era.
Quando fiz essa visita a Sebollas, ali, em frente à matriz, decidi que
escreveria um livro sobre o assunto e o publicaria. O que de fato fiz. Concluíra
então que a Conjuração não era só Mineira, mas Brasileira, pois verdadeiramente
ultrapassara as fronteiras de Minas Gerais.
O que ocorreu,
segundo meu raciocínio, é que as autoridades portuguesas, sabedoras da
intentona, não quiseram, habilmente, combatê-la com rigor bélico, como um
movimento que visava a Independência do Brasil. Isso, — segundo, certamente, decidiram,
— levaria o mundo a reconhecer que o movimento era uma decorrência dos ideais
iluministas e que acontecia na esteira da Revolução Francesa, o que era uma
verdade. E, se houvesse uma operação para desmantelar o movimento patriótico
brasileiro, o mundo tomaria conhecimento do movimento revolucionário e muitos
países, sobretudo os que também estivessem marchando no compasso marcado por
Paris, se apressariam a reconhecer o Brasil como Estado Soberano. E Portugal
perderia sua jóia colonial mais rica. Isto seria inevitável.
Então os
governantes portugueses decidiram tratar o assunto como se fosse uma mera
rebelião, de pouca monta, intentada por maus pagadores de impostos e só
prenderem, mais para intimidação do povo da colônia, sobretudo da Província de
Minas Gerais, uns poucos líderes do movimento. E deram ao movimento
independentista brasileiro, minimizando-o, o nome impróprio de Inconfidência
Mineira. E se instaurou a Devassa. E o mundo e toda nossa gente aceitou a
situação e a conveniente denominação de Inconfidência. A esta denominação, de
todo deturpadora da verdade e de negação dos ideais de patriotismo dos
brasileiros, se curvaram servilmente todos, inclusive os nossos historiadores,
que passaram a dançar conforme a música executada por Portugal.
Tal foi a humilhante
aceitação que ninguém percebe, — ou finge que não percebe, — que a Independência do
Brasil ocorreu somente trinta anos depois da execução de Tiradentes. E nossos
historiadores parecem não considerar que a Inconfidência Mineira (assim
erroneamente denominada) foi o estopim que redundou na nossa Independência,
embora os louros tenham sido usurpados pelos que afinal a proclamaram. Ninguém,
inclusive, considera que o próprio Tiradentes declarou que havia dado um nó tão
perfeito na história que em cem anos não o desatariam. A Conjuração Mineira e a
Independência do Brasil são apenas atos que constituem a mesma peça da história
pátria.
Em 1955 eu fui
nomeado Agente de Estatística e Chefe da Agência do IBGE em Rio Piracicaba/MG e
tive aumentadas minhas chances de pesquisar sobre a rede de informações e
contrainformações da Conjuração Mineira, graças à presença de Agências do IBGE
espalhadas por todo o Estado. Mas todos os meus esforços, com o auxílio sempre
de meus colegas “ibgeanos”, foram infrutíferos. Parece que o Embuçado tinha
recomendado aos conjurados que queimassem toda a documentação que podia
incriminá-los e sua recomendação teria sido cumprida à risca. Nada encontrei a
respeito. Fiquei mesmo com minhas conclusões embasadas na, logicamente,
comprovada necessidade bélica de que um movimento tão grande como a Conjuração
não podia prescindir de um bom Serviço de Inteligência. E Tiradentes sabia
disso quase por intuição, já que não tinha formação
acadêmica na espécie, mas era versado na arte da estratégia militar. Ele, que
acompanhara, certamente, todo o movimento que resultara na Revolução Francesa,
inclusive visitando a França, conhecia o gênio de Napoleão Bonaparte, que se
tornaria, pouco depois, Imperador daquele país, no caudal da Revolução. E,
parece evidente, ele sabia que para Napoleão “fazer a guerra é antes de tudo
obter informações”.
Também nos
parece evidente que Tiradentes conhecia uma das mais antigas obras sobre
estratégia militar, A Arte da Guerra — de Sun Tzu (IV Sec a.C), onde há a lição por este emitida: “Se você conhece o
inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se
você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória obtida sofrerá
também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá
todas as batalhas.”
Contudo, no
tempo que passei no IBGE, em Minas Gerais, não consegui nenhuma prova
documental de que tal rede existira ou mesmo funcionara.
Finalmente, fui
transferido, pelo IBGE, para o estado de Goiás e lá surpreendentemente descobri
que Bárbara Eliodora era descendente de uma família goiana e mais, que o Cap.
Joaquim Segurado, que comandara as tropas que participaram do enforcamento de
Tiradentes, foi o primeiro brasileiro a alcançar o Generalato no Exército Português,
e que era filho de Goiás; este oficial, no início de sua carreira, tinha
servido em São João del-Rei.
Também fui informado que muitos “goianos”
(ainda não existia a província de Goiás) foram membros ativos da Conjuração
Mineira, ou Brasileira. Conjurados existiram em Vila Boa (depois capital),
Curralinho (Itaberaí, onde morei), Corumbá de Goiás, Meia Ponte (Pirenópolis), Sant’Ana
das Antas (Anápolis) e muitos outros lugares. Uma conclusão então se impôs: se existiam Conjurados,
além de Minas, também na Capital da Colônia, no interior do província do Rio de
Janeiro, em Goiás, no norte e nordeste de São Paulo, principalmente em Taubaté, e na Bahia, então o
movimento não era só mineiro e de maus pagadores de impostos, mas era, não há
dúvidas, uma Conjuração Brasileira. E eu
passei a considerar que o movimento possivelmente tinha atingido Pernambuco,
cuja gente já provara em Guararapes seu amor á pátria; também em Mato Grosso,
possivelmente existissem Conjurados, inclusive porque lá morava um padre que era
irmão de Tiradentes e que talvez comungasse os mesmos ideais que eram a
razão da vida deste. Para mim não havia mais dúvidas, a chamada Conjuração
Mineira, ou como quisera a Coroa Portuguesa, Inconfidência, não era só mineira
coisa nenhuma nem fora uma rebelião de maus pagadores de impostos: o
movimento era mesmo uma Conjuração Brasileira, e a rede de inteligência, por
uma lógica que se impunha, existira mesmo.
Mas, como diziam
os antigos: “ás vezes atira-se no que se vê, e abate-se o que não se vê” e é
isso que me ocorre agora. É preciso divagar um pouco sobre a disposição das
tropas da Conjuração. Logisticamente previa-se a seguinte disposição e
movimentação: na capital da colônia os Conjurados tentariam prender o Vice-Rei,
já que tinham contingentes infiltrados na tropa legalista. Contudo, o que era
previsível, se não fossem de todo bem sucedidos, a tropa legalista marcharia
para Vila Rica e aí os Conjurados da região de Paraíba do Sul e Sebollas, numa
primeira linha, postados em Porto Estrela e na Serra de Petrópolis, a conteria
e, se não fosse contida esta tropa do governo, já aí enfraquecida e com linha distendida,
o que era um sério problema logístico, quanto a suprimentos, teria que
enfrentar outro grupamento entrincheirado em Paraibuna, numa segunda linha
defensiva. E depois, se não fosse derrotada em Paraibuna, ou na travessia do
Rio Paraíba, iria ser combatida por poderoso contingente, este do Padre Toledo
e comandado por Oficiais de São João del-Rei, no alto da Serra da Mantiqueira,
numa terceira linha de defesa. Uma tropa plantada em pontos elevados como os da
Mantiqueira, à espera de tropas que viriam de longa marcha, desde o Rio de
Janeiro, é quase imbatível, pela própria situação do terreno, e dificilmente os
legalistas chegariam a Vila Rica que, aliás, já estaria, a esta altura,
dominada pelo Cel. Freire de Andrade, o qual já teria prendido o Governador
que, segundo alguns Conjurados, seria decapitado. Vila Rica a esta altura já
estaria dominada e a Capital instalada em São João del-Rei, à espera do
reconhecimento Internacional.
Ao Capitão José
de Resende Costa caberia somar-se às tropas postadas na Mantiqueira e, se
necessário, que estivessem posicionadas na região de Brumado e Congonhas do
Campo.
Quanto às tropas
do Padre Rolim e de outros Conjurados do norte de Minas, não desceriam para
Vila Rica, que estava longe e suas linhas ficariam muito distendidas, mas se
voltariam para defender Minas Gerais de possíveis avanços de tropas legalistas
da Bahia, que certamente estariam enfraquecidas, porque não poderiam deixar
sua fronteira norte desguarnecida, face à possibilidade da chegada de
contingentes pernambucanos.
Os legalistas de
São Paulo seriam contidos pelos Conjurados do norte e nordeste da Província,
principalmente os de Taubaté, do Triângulo Mineiro e Goiás, regiões que ainda
pertenciam a São Paulo. Não poderiam, contudo, desguarnecer a fronteira sul e
leste da Província, eis que havia o risco de sofrerem ataques de tropas
revolucionárias sulistas e do Mato Grosso.
Entendo que, se
se chegasse ao “dia do batizado”, a Conjuração sairia vitoriosa e se faria a
Independência do Brasil. Joaquim Silvério dos Reis pôs tudo a perder.
Mas, voltando ao
cerne da questão: era impossível a Conjuração ser bem sucedida se não houvesse
uma Rede de Informações ligando seus vários e espalhados grupos, às vezes
longe, muito longe, uns dos outros.
Temos que
considerar inclusive que a senha para a deflagração da revolução fora criada e
era: “TAL DIA É O BATIZADO”. E quem
levaria esta senha a cada um dos grupos de combatentes que então se levantariam
em armas? Certamente os mensageiros que compunham a rede.
E em caso de ser
necessário abortar a movimentação revolucionária? Tinha que haver um senha
própria que, por uma questão de lógica seria, por exemplo: “NÃO HAVERÁ MAIS BATIZADO”.
Estas senhas, em
sendo necessário, teriam que circular com rapidez ligando os Conjurados da
Corte, das províncias do Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Bahia,
quiçá Pernambuco e quem sabe, até do sul do Brasil.
Infelizmente, com a traição do famigerado
Joaquim Silvério dos Reis, houve necessidade de se abortar o movimento. E a
notícia da prisão de Tiradentes, no Rio de Janeiro, chegou a Vila Rica muito
antes da comunicação oficial feita pelo Vice-Rei ao Governador das Minas
Gerais. Certamente esta circunstância não deixa dúvidas de que a necessária Rede
de Inteligência existiu mesmo. E seus agentes certamente se revezaram, sem parar,
seguindo mesmo até durante as noites, e o fizeram, porque adotavam regras
maçônicas (comprovadamente), em duas direções, levando a mesma mensagem. E
como, necessariamente, a mensagem não era escrita, mas oral, tinha que ser bem
sintética. E, em sendo assim, ela seria feita através de uma senha, de fácil
memorização e logo entendida pelas pessoas a quem se destinou. Era, por
exemplo, como já aludimos: “não haverá
mais batizado”.
E a mensagem,
que seguiu por duas vias, certamente, longe da Estrada Real, por razões óbvias,
fora desarmando todo o esquema beligerante até que os mensageiros das duas
pontas de lança se encontraram em Vila Rica, sede da Conjuração. E quando os
dois mensageiros se encontraram, verificaram que a senha trazida pelos dois,
era a mesma, portanto, verdadeira. E
a Conjuração foi desarmada afinal.
Quando,
finalmente, o estafeta real chegou a Vila Rica com ordens do Vice-Rei, para
prender os Conjurados, a lista destes fora minimizada, contendo poucos nomes e
o nome da patriótica Conjuração já estava transformado em "Inconfidência
Mineira". Houve então algumas reuniões apressadas e as autoridades em 17/05/1789
(dezessete de maio de mil setecentos e oitenta e nove) decidiram que no dia
seguinte começariam as prisões e seriam tomadas todas as medidas necessárias
para debelar a Conjuração.
Nesta noite, uma
figura coberta com pesada capa e usando pesado capuz saiu a percorrer as ruas
de Vila Rica e indo, à socapa, a casas determinadas, avisava certas pessoas que
no dia seguinte começariam as prisões dos conjurados. Este estranho caminhante
e mensageiro, assim embuçado, passou à história conhecido simplesmente
como Embuçado e, até hoje, ninguém sabe quem
era, donde veio nem para onde foi. Há sobre ele um sepulcral silêncio. Só se
sabe que existiu e que cumpriu sua missão. Queremos crer que ele era membro da
intrigante Rede de Informações e Contrainformações.
Também membro
desta rede, a nosso ver, era o Conjurado Vitoriano Veloso, que foi preso
transportando uma carta de dona Hipólita, da Fazenda da Ponta do Morro
(Bichinho) para seu marido, o Conjurado Cel. Antônio Francisco Lopes de
Oliveira.
Os Autos da
Devassa nada esclarecem sobre isso e queremos crer que estes Autos foram
produzidos com o firme propósito de apequenar o patriótico movimento
revolucionário que culminou com nossa Independência.
Pena que nosso
historiadores só tenham para estudo esses Autos que retratam o inquérito
policialesco que, como todo inquérito policial, em todos os tempos, mormente
quando há interesses de Estado, são pré-conduzidos, inclusive, levando alguns
inquiridos a declararem o que não desejam, tal como fazer delações, vítimas que
são das manipulações, pressões e até premiações, tudo bem orquestrado por
hábeis inquisidores.
Muitos
historiadores procuram apequenar a memória de Tiradentes, inclusive, chamando-o
de mártir, quando, na verdade, ele foi um herói. Mártir, a meu ver, é aquele que é
sacrificado por suas convicções religiosas e que aceita o martírio com ares de
beatitude e cônscio de que receberá recompensas na vida além-túmulo, em um
paraíso e reino de esplendor, o céu. Isto é próprio dos santos. Herói, no
entanto, é aquele, como Tiradentes, que vai para a morte, para o patíbulo,
altaneiro, cabeça erguida, valente e cônscio de que sua morte se deve ao
caráter forte de quem morre, mas não abdica de seu ideal.
Há até
historiadores que dizem que Tiradentes foi sacrificado como bode expiatório,
porque ele não era o cabeça do movimento. Que seja! Contudo, era ele o único
que, destemidamente, por todos os lugares que passava, se punha a pregar as
vantagens de termos uma Pátria Livre e que arregimentava homens para a luta. Os
outros, mormente os árcades, eram homens de gabinete, alfarrabistas, utopistas,
poetas, magistrados, idealistas, sem ação. Homens que não arrostavam o perigo
que a empreitada requeria. E quase todos eram homens de aguardar e cumprir
ordens. Careciam de ser comandados. Não comandavam.
Só Tiradentes,
destemidamente, se punha em campo e se arriscava e foi graças a ele que a
Conjuração alcançou a grandeza com que a vemos e a veneramos hoje.
Basta! Chega de
chamarmos de mártir ao Alferes José Joaquim da Silva Xavier – O Tiradentes!
Ele foi um
HERÓI, o nosso HERÓI!
E no mundo
ninguém foi maior que ele!
15 comentários:
O amigo e escritor dr. Alair Coêlho de Rezende, além de gentil e extraordinária pessoa, é também um pesquisador dos mais conscientes e devotados que conheço. Eu comungo com a afirmação dele de que o Tiradentes não deve ser considerado apenas mártir, posto que ele é um HERÓI. E eu vou além: se um dia tivermos a coragem necessária para bem considerarmos o resultado das pesquisas e saber ler os documentos apresentados pela minha amiga dra. Isolde Helena Brans, também transparecerá claramente a face de ESTADISTA do nosso conterrâneo Joaquim José da Silva Xavier.
Muito obrigado Braga. Realmente, nosso confrade Alair tem muito a nos contar, e com detalhe.
Abraço fraterno.
José Carlos Hdez
Belo trabalho do Dr. Alair. Precisaria ter provas mais importantes, mas resgata o papel heróico de Tiradentes e a ideia de Pátria e isto sim é fundamental. Mauricio
Como são-joanense , mineiro , radicado em Brasília-DF , tenho o prazer de compartilhar com muito carinho esta maravilha que me foi ofertada pelo amigo e conterrâneo Dr. Francisco Jose dos Santos Braga.
Ray Pinheiro.
Prezado Ray Pinheiro.
Como gerente do Blog de São João del-Rei, tenho o prazer de anunciar a publicação de uma pesquisa deveras interessante, realizada durante anos, especialmente na localidade de Sebollas, em Paraíba do Sul, e desenvolvida por Dr. Alair Coêlho de Resende, natural de Resende Costa-MG. Considero que esse trabalho vem enriquecer e engrandecer o blog que, desde os primórdios, traz matérias relacionadas à histórica cidade de São João del-Rei. E não podia deixar de ser lisonjeiro para mim reproduzir aqui o testemunho desse estudioso do herói Tiradentes, nascido nessa cidade em 1746.
Estou certo de que seu trabalho pioneiro irá lançar luzes não só sobre a biografia do Tiradentes, mas também sobre a historiografia oficial de nosso maior Herói.
Nos dois links abaixo, o leitor poderá encontrar o currículo do novo e bem-vindo colaborador e, em seguida, o seu texto.
http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2015/07/colaborador-alair-coelho-de-resende.html
http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2015/07/conjuracao-mineira-rede-de-informacoes.html
Com meu abraço cordial,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei.
Caro amigo Braga, li, com viva atenção, o brilhante texto que muito me enriqueceu o conhecimento histórico e robusteceu o amor e respeito pelo nosso conterrâneo, o herói Tiradentes. Muito obrigado!
Lourenço
ACHEI SENSACIONAL,BRAGA.
OBRIGADO,
Ribas
Muito interessante, mesmo.
Obrigado, Francisco.
Abraços
Anderson
Prezado Dr. Alair Coelho de Resende,
Li de um só fôlego a sua pesquisa sobre o Alferes Tiradentes e a Conjuração Mineira.
Seus escritos alimentam a chama do patriotismo tão apagada entre nós brasileiros nestes dias tão vergonhosos que vivemos.
Minas levantou-se uma vez contra uma derrama e eu digo que precisamos nos levantar novamente contra a exorbitância dos impostos vindos do poder central.
Viva Tiradentes, viva Minas Gerais, viva o Brasil!
Receba os meus parabéns.
Lucio Flávio Baioneta
É bom contar com trabalhos desse quilate, porque esquerdistas adoram desmerecer Tiradentes e os Inconfidentes (“burgueses”) e exaltar Zumbi dos Palmares (porque era negro, “oprimido” e “gay”...)
Abs.
Rogério
Meu muito querido amigo e confrade, Francisco Braga, boa tarde.
Hoje, pela manhã, ao primeiro contato com o micro, deparei com a matéria que você tão gentilmente apadrinhou e me quedei verdadeiramente emocionado. Não é todo dia ( quase nunca) que a gente encontra guarida nos corações dos amigos. Eu encontrei este tão necessário agasalho em seu coração. Fiquei emocionado e muito. Estou verdadeiramente feliz. Mas, quando ia contatá-lo, meu computador "pifou" e só agora, depois da visita de um técnico, esta ferramenta voltou a funcionar e então agora eu posso apresentar-lhe os meus agradecimentos. Receba-os, embora saiba que eu estou assentado diante do computador, como se eu estivesse de joelhos. Minha gratidão, que será eterna, e minha emoção se justificam plenamente já que eu não estou habituado a ser tão generosamente tratado. OBRIGADO, meu amigo e que Deus lhe dê o pagamento por tanta gentileza. Vi agora que já temos algumas manifestações de boa gente. E minha vaidade está inflando.
Um abraço.
Alair
Texto muito bom, que desafia a "história oficial". Ousado, instigante, bem pautado. Parabéns Mestre Alair e obrigado Francisco Braga por nos ofertar a possibilidade desta leitura tão construtiva.
Att. Ulisses Passarelli.
Caro amigo e confrade Francisco Braga. Cumpre-me, desde já, esclarecer que não me manifestei no tempo certo face às visitas que recebi, graças a Deus, de meus filhos e netos, todos vivendo longe de São João del-Rei, quatro deles no México, sendo que três são mexicanos, mas apaixonados (não podia ser diferentes) por São João del-Rei e pela nossa história. Através do amigo quero levar o meu agradecimento a todos os que se manifestaram e me deixaram tão vaidoso. Obrigado, minha gente querida. Quanto a falta de provas tenho a dizer que nada encontrei que comprovasse a existência, concretamente, da rede de informações e contrainformações da Conjuração; por isto mesmo o subtítulo, que tenta esclarecer o fato: "visão nas entrelinhas da historiografia e pela lógica". Não tive outra saída. Obrigado amigo Braga e transmita a minha gratidão a todos que se manifestaram.
Caro amigo Dr. Alair,
Bom dia!
Envio-lhe, da autoria do genealogista Pedro Vianna Born, o texto "O caminho do Mar de Espanha" e outros, tratando de Sebollas.
Para suscitar sua curiosidade vou transcrever apenas um trecho que está no meio do texto:
"(...) Foi para o posto da Pampulha, ponto terminal do "Caminho do Mar de Espanha", que veio do Rio o despojo de Tiradentes após sua morte no cadafalso em 1792. Seu quarto esquerdo foi erguido e exposto exatamente no centro do antigo arraial de Sebolas, onde não era necessário montar guarda no local, uma vez que, mesmo a pé, vinte minutos era o tempo gasto entre o antigo posto da Pampulha e o centro do arraial.
Em N.S. de Sant'Anna de Sebolas, Tiradentes teve a única parte de seu despojo a ter sepultamento digno, o quarto esquerdo superior. Desde então, o lugar passou a ser conhecido como Sant'Anna de Tiradentes. E ainda hoje, o antigo arraial é lembrado como Sebolas, apesar do distrito atual ser oficialmente denominado Incofidencia.
O sepultamento foi realizado na capela de Sant'Anna, em comovente cerimonia a qual compareceram maciçamente habitantes das freguesias próximas e distantes de Sebolas. Quanto ao suposto romance com D.Anna Mariana Barbosa de Matos, que depositou a urna com o despojo do martir debaixo do altar da antiga capela, tudo não passa de lenda. Ela o fez em solene missa dominical, com a ajuda de seus filhos Leandro e José Antonio, que removeram o despojo salgado que havia sido suspenso em grosso bambú, entre sua residencia e a capela de Sant'Anna.
José Antonio Barbosa era o filho mais velho de D. Anna Mariana Barbosa, que curiosamente, receberia anos mais tarde a alcunha de "capitão Tira Morros".(...)"
Fonte: http://valedocalcado.blogspot.com/
Cordial abraço,
Francisco Braga
Obrigado, querido confrade Francisco Braga. Parece que a história é estática: o fato ocorreu e o seu registro, escrito ou memorial, fica congelado. Mas, assustadoramente e para o deleite daqueles que com ela se deleitam, assim não é. A história é dinâmica. Ora,veja só, Tiradentes e Sebollas sempre nos traz novidades. Ainda há pouco tempo recebi matéria dizendo que o quarto direito do corpo de Tiradentes é que tinha sido exposto em Sebollas. E, exaustivamente, conheço matéria (e informações orais, eis que lá morei) de que era o quarto esquerdo. Bem, mas agora, e somente agora, recebo por suas mãos e fruto de sua imensurável cordialidade, a informação de que o quarto de nosso Herói não foi sepultado à socapa, mas como objeto de muita pompa. E que dizer quando agora vejo que dona Mariana não foi amante de Tiradentes? Aliás, isto sempre me intrigou: como ele poderia, ostensivamente, ser amante de Mariana se ela era irmã de padre Paulo, amigo intimo do Alferes. Este fato, assim contado, não combina com a moral da época. Ainda temos muito que descobrir.
Obrigado, amigo. Suas gentilezas me deixam de joelhos.
Alair
CONJURAÇÃO MINEIRA: Rede de informações — Visão pelas entrelinhas da historiografia e pela lógica
Por Dr. Alair Coêlho de Rezende
Afirma o Dr. Alair Coêlho de Rezende:
"A derrocada de todo e qualquer movimento sedicioso ou de implantação de novos sistemas políticos ou religiosos sempre levou seus integrantes vencidos a serem vitimados por sérias e severas perseguições por parte dos vencedores. É o que a História nos mostra e que aconteceu com os cristãos após a crucificação de Jesus, com a caça às bruxas desencadeada pelas impiedosas autoridades da Santa Inquisição, com o genocídio que, após a tristemente famosa noite dos cristais na Alemanha nazista, se abateu sobre os judeus e outras minorias do povo alemão. Com a Conjuração Mineira não foi diferente, embora nossos historiadores, insensíveis à dolorosa verdade ou até hoje afinados com a orquestração que foi habilmente regida pelo Reino Português, em fins do século XVIII, teimem ou ignorem a discriminação, e consequente segregação, em que foram atirados os parentes dos patriotas que lideraram o movimento de insurreição que, partindo da província das Minas Gerais, deveria ter levado o Brasil à condição de Estado, enquanto instituição política."
Ester artigo nos mostra a riquíssima biografia do autor, habilidoso em lidar com as palavras dando alma aos eventos históricos, fazendo com que a história se torne dinâmica, pois aproxima o antigo e o novo, fazendo com o historiador pense e viva a subjetividade objetiva e a objetividade subjetiva do autor da história, de maneira que o passado se torne presente, vivendo as temporalidades do passado, presente e futuro.
Com sua morte, Alair vive o passado, o presente e o futuro.
No entanto, o que mais nos toca são as suas palavras sobre o seu texto. Vejamos:
"14 DE MAIO DE 2019 07:31
Dr. Alair Coêlho de Resende (advogado, escritor, autor do livro O Embuçado: Agente da Conjuração Mineira e membro da Academia de Letras de São João del-Rei, onde exerce a função de orador oficial) disse...
Obrigado, querido confrade Francisco Braga. Parece que a história é estática: o fato ocorreu e o seu registro, escrito ou memorial, fica congelado. Mas, assustadoramente e para o deleite daqueles que com ela se deleitam, assim não é. A história é dinâmica. Ora,veja só, Tiradentes e Sebollas sempre nos traz novidades. Ainda há pouco tempo recebi matéria dizendo que o quarto direito do corpo de Tiradentes é que tinha sido exposto em Sebollas. E, exaustivamente, conheço matéria (e informações orais, eis que lá morei) de que era o quarto esquerdo. Bem, mas agora, e somente agora, recebo por suas mãos e fruto de sua imensurável cordialidade, a informação de que o quarto de nosso Herói não foi sepultado à socapa, mas como objeto de muita pompa. E que dizer quando agora vejo que dona Mariana não foi amante de Tiradentes? Aliás, isto sempre me intrigou: como ele poderia, ostensivamente, ser amante de Mariana se ela era irmã de padre Paulo, amigo intimo do Alferes. Este fato, assim contado, não combina com a moral da época. Ainda temos muito que descobrir.
Obrigado, amigo. Suas gentilezas me deixam de joelhos.
Alair"
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