Um Presente de Valor de Lincoln de Souza
O escritor e jornalista Lincoln de Souza deu de presente a São João del-Rei um patrimônio de inestimável valor. Primeiro, a Biblioteca de Empréstimos a Domicílio Basílio de Magalhães ¹, pouco conhecida do nosso povo mas já à disposição da população sanjoanense.
Não se trata de um amontoado de livros velhos e sem sentido. Pelo contrário, estamos informados de que a Biblioteca oferece livros modernos e interessantes, para o enriquecimento da cultura dos nossos conterrâneos.
A idéia do nosso amigo, poeta Lincoln de Souza, é fazer com que os livros alcancem os leitores em suas casas, facilitando a leitura, sendo inteiramente gratis o empréstimo durante certo prazo. Se o leitor atrazar na entrega, então pagará uma taxa módica.
Os livros são variados, com romances, biografias, memórias, ensáios, história, viagens, poesia, tudo que há de melhor na literatura contemporânea e moderna.
A atividade dêsse conterrâneo, em benefício da cultura de São João del-Rei, se destaca também pelas doações que fez ao Conservatório Estadual de Música ² e que estão parcialmente na sala que tem o seu nome.
São telas valiosas que adquiriu durante muitos anos, telas de pintores de renome, como Agostinelli ³, Raul Deveza ⁴, Manuel Santiago ⁵, Jordão de Oliveira ⁶, Fânzeres ⁷, Alcides Cruz ⁸, E. Walter ⁹, Oswaldo Teixeira ¹⁰, H. Cavalleiro ¹¹, Armando Vianna ¹² e muitos outros, além de um desenho original de Pedro Américo ¹³, uma preciosidade artística de grande valor.
Além dessas telas, Lincoln de Souza presenteou também o Conservatório com uma coleção de objetos típicos que adquiriu em suas viagens pelo Brasil e pelo estrangeiro, miniaturas que representam diversos países, cidades ou monumentos, além de tapetes, flechas, objetos de arte índia, sem falarmos nos albuns de visitas de viagem por diversos países e pelo Brasil.
Ao transferir para São João del-Rei o resultado de muitos anos de labor, de viagens e de estudos, Lincoln de Souza mostrou o seu apreço pela terra natal, pois o patrimônio cultural que aqui se encontra tem valor inestimável.
Contudo, essas coleções e a galeria de arte são praticamente desconhecidas, estando a merecer a atenção do público, como ponto obrigatório de visitas de moradores e turistas, pelo seu grande interêsse.
Seria de desejar que o Conservatório Estadual de Música e a Municipalidade abrissem ao grande público o contacto cultural com as doações de Lincoln de Souza, que merecem a atenção do povo.
Fonte: PONTE DA CADEIA, São João del-Rei, edição nº 56, datada de 30/06/1968.
II. NOTAS EXPLICATIVAS, por Francisco José dos Santos Braga
¹ Acredito que a "Biblioteca de Empréstimos a Domicílio Basílio de Magalhães" só tenha funcionado no prédio da Prefeitura Municipal de São João del-Rei, enquanto Lincoln de Souza estava vivo, tendo sido desativada em algum momento após sua morte ocorrida em 11/08/1969.
O Blog do Braga reproduziu artigo de Lincoln de Souza intitulado "O que há do Aleijadinho em São João del-Rei", publicado no jornal são-joanense Ponte da Cadeia, na edição de 10/03/1968, onde ele fala claramente dessa sua biblioteca em pleno funcionamento.
Cf. in http://bragamusician.blogspot.com.br/2016/07/o-que-ha-do-aleijadinho-em-sao-joao-del.html
² Em 06/12/2011, produzi no Blog de São João del-Rei artigo denominado "Comentários à 1ª edição do jornal 'Tribuna Sanjoanense'" (edição de outubro de 1966). Meu artigo foi em seguida publicado na Revista da Academia de Letras de São João del-Rei, Ano V, nº 5, 2011, p. 43-76.
O referido artigo incluiu, entre outras, uma matéria intitulada "CONSERVATÓRIO ESTADUAL GANHA RICA COLEÇÃO", que estava estampada na p. 2 do mencionada edição de 1966, e que informava que a mencionada coleção estava avaliada em dez milhões de cruzeiros.
Ainda, comentando a mesma matéria, transcrevi uma correspondência de Lincoln de Souza ao Diretor do Conservatório Estadual Pe. José Maria Xavier, Prof. Sílvio Padilha, em que o eminente jornalista comunicava a este sua intenção de doar ao educandário suas coleções de arte (consistindo de 110 itens, num primeiro momento), juntando à supracitada correspondência uma relação completa das 110 obras do acervo acompanhadas dos seus respectivos autores, onde, entre outros, constavam os onze pintores citados no presente artigo ("Um Presente de Valor de Lincoln de Souza"). Reproduzimos aqui o que se acha transcrito nos "Comentários...", de 2011:
M. Agostinelli: CAIS DO SENA
Raul Deveza: TEMPLO EM RUÍNAS, Cordeiro-RJ
Manuel Santiago: RAMO DE ÁRVORE
Jordão de Oliveira: TERRA SERGIPANA e RUA DO ALEIJADINHO, Ouro Preto
Fânzeres: CREPÚSCULO
Alcides Cruz: CASA DO ALEIJADINHO, Ouro Preto
E. Walter: TRECHO DE PAINEIRAS, Rio
Oswaldo Teixeira: MENINA-MOÇA
H. Cavalleiro: A FILHA DA MINHA EMPREGADA
Armando Vianna: CABEÇA DE MENDIGO
Pedro Américo: ILUSTRAÇÃO PARA O "COLOMBO" DE ARAÚJO P. ALEGRE
Por essa amostra, pode-se ver que há correspondência entre os 11 pintores citados no artigo acima com outra dos mesmos 11 nomes constantes da relação das 110 obras feita e entregue por Lincoln de Souza quando dessa doação, conforme se pode constatar no link abaixo.
Todas essas 11 telas faziam parte da primeira leva de doações, documentada por correspondência datada de 15/03/1965, da parte de Lincoln de Souza ao Conservatório Estadual de Música.
Entretanto, quando da ulterior cessão da totalidade do acervo de Lincoln de Souza, em 09/07/1979, para a Prefeitura Municipal (Museu Casa de Bárbara Eliodora), foram arrolados 144 itens existentes na Sala Lincoln de Souza daquele educandário; então podemos concluir que houve outras doações de 34 itens além da primeira, embora não estejam tão bem documentadas quanto a primeira delas, certamente por extravio da correspondência comprobatória das outras doações.
Cf. in http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2011/12/comentarios-1-edicao-do-jornal-tribuna.html
O Blog do Braga reproduziu artigo de Lincoln de Souza intitulado "O que há do Aleijadinho em São João del-Rei", publicado no jornal são-joanense Ponte da Cadeia, na edição de 10/03/1968, onde ele fala claramente dessa sua biblioteca em pleno funcionamento.
Cf. in http://bragamusician.blogspot.com.br/2016/07/o-que-ha-do-aleijadinho-em-sao-joao-del.html
² Em 06/12/2011, produzi no Blog de São João del-Rei artigo denominado "Comentários à 1ª edição do jornal 'Tribuna Sanjoanense'" (edição de outubro de 1966). Meu artigo foi em seguida publicado na Revista da Academia de Letras de São João del-Rei, Ano V, nº 5, 2011, p. 43-76.
O referido artigo incluiu, entre outras, uma matéria intitulada "CONSERVATÓRIO ESTADUAL GANHA RICA COLEÇÃO", que estava estampada na p. 2 do mencionada edição de 1966, e que informava que a mencionada coleção estava avaliada em dez milhões de cruzeiros.
Ainda, comentando a mesma matéria, transcrevi uma correspondência de Lincoln de Souza ao Diretor do Conservatório Estadual Pe. José Maria Xavier, Prof. Sílvio Padilha, em que o eminente jornalista comunicava a este sua intenção de doar ao educandário suas coleções de arte (consistindo de 110 itens, num primeiro momento), juntando à supracitada correspondência uma relação completa das 110 obras do acervo acompanhadas dos seus respectivos autores, onde, entre outros, constavam os onze pintores citados no presente artigo ("Um Presente de Valor de Lincoln de Souza"). Reproduzimos aqui o que se acha transcrito nos "Comentários...", de 2011:
M. Agostinelli: CAIS DO SENA
Raul Deveza: TEMPLO EM RUÍNAS, Cordeiro-RJ
Manuel Santiago: RAMO DE ÁRVORE
Jordão de Oliveira: TERRA SERGIPANA e RUA DO ALEIJADINHO, Ouro Preto
Fânzeres: CREPÚSCULO
Alcides Cruz: CASA DO ALEIJADINHO, Ouro Preto
E. Walter: TRECHO DE PAINEIRAS, Rio
Oswaldo Teixeira: MENINA-MOÇA
H. Cavalleiro: A FILHA DA MINHA EMPREGADA
Armando Vianna: CABEÇA DE MENDIGO
Pedro Américo: ILUSTRAÇÃO PARA O "COLOMBO" DE ARAÚJO P. ALEGRE
Por essa amostra, pode-se ver que há correspondência entre os 11 pintores citados no artigo acima com outra dos mesmos 11 nomes constantes da relação das 110 obras feita e entregue por Lincoln de Souza quando dessa doação, conforme se pode constatar no link abaixo.
Todas essas 11 telas faziam parte da primeira leva de doações, documentada por correspondência datada de 15/03/1965, da parte de Lincoln de Souza ao Conservatório Estadual de Música.
Entretanto, quando da ulterior cessão da totalidade do acervo de Lincoln de Souza, em 09/07/1979, para a Prefeitura Municipal (Museu Casa de Bárbara Eliodora), foram arrolados 144 itens existentes na Sala Lincoln de Souza daquele educandário; então podemos concluir que houve outras doações de 34 itens além da primeira, embora não estejam tão bem documentadas quanto a primeira delas, certamente por extravio da correspondência comprobatória das outras doações.
Cf. in http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2011/12/comentarios-1-edicao-do-jornal-tribuna.html
³ Mario Morel Agostinelli (Arequipa, Peru, 1915-Rio de Janeiro, 2000). Pintor e escultor. A convite da Prefeitura do Rio de Janeiro, em 1977 realiza uma escultura de 7 metros de altura, atualmente no Riocentro. Em 1987, o Arcebispado do Rio de Janeiro encomenda-lhe uma escultura de corpo inteiro do Papa João Paulo II, atualmente na frente da Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro.
⁴ Raul Deveza (Rio de Janeiro, 1891-Manaus, 1952) foi um pintor, cenógrafo, decorador. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, tendo sido orientado por J. Santos e Isaltino Barbosa. Em 1914, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes, onde recebeu aulas de Batista da Costa. Em 1920 foi para Paris, onde estudou na Academia Julian e na Académie de la Grande Chaumière. [RUBENS, 1941, 187] diz a seu respeito: "como Bordon não sentia a figura, ele não sente a paisagem. Prefere o retrato, que faz com absoluta compreensão do gênero, colocando-se ao lado dos que melhor o praticam."
⁵ Manuel Santiago (Manaus, 1897-Rio de Janeiro, 1987) foi pintor, desenhista e professor.
⁶ Jordão Eduardo de Oliveira Nunes (Aracaju, 1900-Rio de Janeiro, 1980) iniciou seus estudos na cadeira de desenho sob a orientação do mestre Quintino Marques, catedrático no colégio Atheneu Sergipense. Desde os quinze anos já produzia retratos por encomenda. Em 1921 mudou-se para o Rio de Janeiro, tendo como professores João Batista da Cunha, Lucílio de Albuquerque e Rodolfo Chambelland na Escola Nacional de Belas Artes. Em 20/01/1922, Jordão publica o artigo "Horácio Hora", no Diário da Manhã, de Aracaju, alcançando grande repercussão. Em 1933, conquistou o Prêmio de Viagem à Europa na Escola Nacional de Belas Artes. Retornou ao Brasil em 1936. A partir de 1944, fez parte, por diversas vezes, do júri do Salão Nacional de Belas Artes. Além de ter tomado parte de mostras individuais, também participou de inúmeras exposições coletivas. Em 1949 ingressou como professor na Escola Nacional de Belas Artes. Grande parte de suas obras encontra-se na pinacoteca que leva o seu nome no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, em Aracaju; no Museu Imperial de Petrópolis, no Museu Nacional de Belas Artes, no Museu Antonio Parreiras, em Niterói, e na Pinacoteca do Estado, em São Paulo. Escreveu 3 livros: Caminhos Perdidos (memórias), A cor das coisas (poemas) e Delta (poemas), sendo póstumo este último.
⁷ Parece tratar-se do pintor, gravador, desenhista, conferencista e professor, Levino de Araújo Vasconcelos Fânzeres (1884-1956). Em 1902, Levino Fânzeres frequentou o Liceu de Artes e Ofícios, sob orientação de Evêncio Nunes e depois na Escola Nacional de Belas Artes, seu professor foi Batista da Costa. Em 1912, obteve a láurea mais cobiçada do Salão promovido pela Escola Nacional de Belas Artes, o Prêmio de Viagem. Viajou para a França com a esposa Izolina Albernaz Machado, escultora e pintora, discípula de Eliseu Visconti e que obteve Menção Honrosa. Em Paris instalaram-se em atelier no Boulevard Raspail, tomando aulas com Ferdinand Carmon e André Lhote, na Academia Julian até 1916. Apesar do novo ambiente, permaneceu fiel ao tema predileto, pintando figuras e paisagens do campo, privilegiando representações da natureza agreste brasileira sob a dramaticidade de crepúsculos e buscando retratar a terra brasileira, representada em grandiosas paisagens ainda selvagens. Em 1917 retornou ao Brasil e em 1919 fundou a Colmeia dos Pintores, uma instituição para ensino livre de arte que alcançou a quantidade de 300 alunos em certa época.
⁸ Alcides Cruz (1913-1986), pintor carioca. Ri aluno do Liceu de Artes e Ofícios e tomou parte no grupo "Colmeia dos Pintores". Estudou na Escola Nacional de Belas Artes, onde foi aluno de Henrique Cavaleiro. Dedicou-se à paisagem e à figura humana, demonstrando, em suas obras, a influência do impressionismo. Em 1970 conquistou o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro do Salão Nacional de Belas Artes, quando teve a oportunidade de frequentar museus de Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda e Itália.
⁹ Edgar Walter (Nova Lima, MG, 1917-Teresópolis, RJ, 1994) talvez seja um dos mais importantes e influentes pintores de paisagistas brasileiros. Além disso, foi também pintor de retratos, naturezas-mortas e cenas urbanas. Aos 18 anos chegou a tentar carreira com balé clássico e até a fazer parte do corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, desistindo da carreira pela pintura. Fez-se também mestre do sapateado. Com os primeiros ensinamentos de Oswaldo Teixeira, tornou-se em breve dono de uma técnica bem particular. Em 1953 recebeu merecidamente o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, tendo vivido na Inglaterra e na Itália por dois anos. Como professor no Instituto de Belas Artes do Rio de Janeiro, ajudou na formação de Alberto Braga, Wilson Vicente, Roberto Leal, Olavo Rezende, Luiz Pinto, Benedito Luizi, dentre outros.
Vídeo "Edgar Walter: O Pintor Brasileiro":https://youtu.be/Jmpsr5VvxrI
¹⁰ Oswaldo Teixeira do Amaral (Rio de Janeiro, 1905-Rio de Janeiro, 1974) foi um pintor, crítico, professor e historiador de arte. Foi aluno de Batista da Costa, pintura, e de Rodolfo Chambellan, em desenho de modelo-vivo, na Escola Nacional de Belas Artes. No Salão Nacional de Belas Artes conquistou a Grande Medalha de Prata em 1923, o Prêmio de Viagem à Europa em 1924, a Medalha de Ouro em 1928 e a Grande Medalha de Honra em 1938. Fundou e dirigiu o Museu Nacional de Belas Artes durante 25 anos (de 1937 a 1961).
¹¹ Henrique Campos Cavalleiro (Rio de Janeiro, 1892-Rio de Janeiro, 1975) foi pintor, desenhista, caricaturista, ilustrador e professor. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e na Escola Nacional de Belas Artes, onde foi aluno de Eliseu Visconti e Zeferino da Costa. Conquistou o Prêmio de Viagem à Europa da Escola em 1918. Em Paris, frequentou a Académie Julian e participou de salões de arte. De volta ao Brasil, em 1927 conquistou medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes e, em 1951, participou da I Bienal de São Paulo. É lembrado como caricaturista e ilustrador, em diversos periódicos cariocas.
¹² Armando Martins Vianna (Rio de Janeiro, 1897-Rio de Janeiro, 1992) foi pintor, desenhista e professor. Em 1919, inicia sua formação artística; como aluno livre fez seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes, onde teve como professores Rodolfo Amoedo e Rodolfo Chambelland, e no Liceu de Artes e Ofícios sob orientação dos professores Eurico Alves e Stefano Cavalaro. Em 1928, matricula-se como aluno livre na Académie de la Grande Chaumière em Paris. Pintor eclético, no decorrer de sua longa carreira evoluiu do academicismo ao impressionismo, fazendo algumas incursões no modernismo cubista. Realizou obras a óleo e aquarela, praticando uma pintura tradicional e realista, calcada no desenho e no colorido fiel. Paisagens, nus, flores e pintura religiosa constituem a parte preponderante de sua produção. Foi publicado um livro da Editora Pinakotheke contendo dados referentes à sua vida e obra. Em 01/09/2012 foi inaugurado o Museu Armando Vianna, na Fazenda São Francisco, em São José do Barreiro-SP, com vídeo disponível no YouTube sobre esse evento artístico.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=SialNkPcxJg
¹³ Pedro Américo de Figueiredo e Melo (Areia, Paraíba, 1843-Florença, Itália, 1905) foi romancista, poeta, cientista, teórico de arte, ensaísta, filósofo, político e professor, mas principalmente é lembrado como um dos mais importantes pintores acadêmicos do Brasil, deixando obras de impacto nacional. Recebeu apoio do governo imperial para se formar na Academia Imperial de Belas Artes e para fazer seu aperfeiçoamento artístico em Paris com grandes mestres da pintura. Ao retornar ao Brasil passou a dar aulas na Academia Imperial, ganhando projeção com grandes pinturas de caráter cívico e heróico, inserindo-se no programa civilizador e modernizador do País fomentado pelo imperador Dom Pedro II. Seu estilo na pintura fundia elementos neoclássicos, românticos e realistas, sendo sua produção uma das primeiras grandes expressões do Academismo no Brasil, sendo por isso mesmo muito criticado por aqueles, principalmente os modernistas, que achavam que o sistema acadêmico era conservador, elitista e distante da realidade nacional. Apesar disso, seus grandes méritos artísticos e raros dotes intelectuais seguramente fazem dele um dos maiores pintores que o País produziu. Deixou obras que permanecem vivas até hoje no imaginário coletivo, como Batalha de Avaí, Fala do Trono, Independência ou Morte! e Tiradentes esquartejado.
III. AGRADECIMENTO
Em 30/07/2013, o confrade no Instituto Histórico e Geográfico local, historiador, pesquisador e escritor José Antônio de Ávila Sacramento brindou-me com o recorte da matéria que deu nome a este artigo, com as referências disponíveis, alertando-me todavia que não constava o nome de seu autor. Registro aqui meu sincero agradecimento pelo gesto amistoso do confrade sabedor de meu interesse pela vida e obra do talvez maior intelectual são-joanense.
Resta-me, contudo, uma dúvida: Seria o próprio Lincoln de Souza esse autor que preferira omitir seu nome no cabeçalho do artigo? Em caso afirmativo, é óbvio que preferia não se expor, deixando a divulgação a cargo da redação do periódico são-joanense, embora em seu espírito já germinasse a suspeita do risco que corria, ofertando à população de sua terra natal e à visitação dos turistas o seu legado cultural mais precioso. Certamente já atormentavam seu espírito algumas dúvidas: Será que saberíamos nós, os vindouros, cuidar desses seus bens culturais, através de um sistema de controle patrimonial eficiente e acompanhamento da sua evolução ao longo do tempo? Estaríamos aptos a responder, com ações positivas para o bem comum, à confiança em nós depositada? Estaríamos à altura de custodiar o seu legado, zelando pela realização de seus últimos desejos?
IV. BIBLIOGRAFIA
BRAGA, F.J.S.: "O que há do Aleijadinho em São João del-Rei", postado em 07/07/2016. Disponível in http://bragamusician.blogspot.com.br/2016/07/o-que-ha-do-aleijadinho-em-sao-joao-del.html
— "Comentários à 1ª edição do jornal 'Tribuna Sanjoanense'", postado em 06/12/2011. Disponível in http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2011/12/comentarios-1-edicao-do-jornal-tribuna.html
— "O imortal Licoln de Souza, um autêntico intelectual são-joanense", postado em 12/04/2013. Disponível in http://bragamusician.blogspot.com.br/2013/04/o-imortal-lincoln-de-souza-um-autentico.html
RUBENS, Carlos: Pequena História das Artes Plásticas no Brasil. Biblioteca Pedagógica Brasileira. Série 5ª: Brasiliana, vol. nº 198. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941, 386 p.
UM PRESENTE de valor de Lincoln de Souza. (s/a) São João del-Rei: PONTE DA CADEIA, edição nº 56, datada de 30/06/1968.
⁴ Raul Deveza (Rio de Janeiro, 1891-Manaus, 1952) foi um pintor, cenógrafo, decorador. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, tendo sido orientado por J. Santos e Isaltino Barbosa. Em 1914, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes, onde recebeu aulas de Batista da Costa. Em 1920 foi para Paris, onde estudou na Academia Julian e na Académie de la Grande Chaumière. [RUBENS, 1941, 187] diz a seu respeito: "como Bordon não sentia a figura, ele não sente a paisagem. Prefere o retrato, que faz com absoluta compreensão do gênero, colocando-se ao lado dos que melhor o praticam."
⁵ Manuel Santiago (Manaus, 1897-Rio de Janeiro, 1987) foi pintor, desenhista e professor.
⁶ Jordão Eduardo de Oliveira Nunes (Aracaju, 1900-Rio de Janeiro, 1980) iniciou seus estudos na cadeira de desenho sob a orientação do mestre Quintino Marques, catedrático no colégio Atheneu Sergipense. Desde os quinze anos já produzia retratos por encomenda. Em 1921 mudou-se para o Rio de Janeiro, tendo como professores João Batista da Cunha, Lucílio de Albuquerque e Rodolfo Chambelland na Escola Nacional de Belas Artes. Em 20/01/1922, Jordão publica o artigo "Horácio Hora", no Diário da Manhã, de Aracaju, alcançando grande repercussão. Em 1933, conquistou o Prêmio de Viagem à Europa na Escola Nacional de Belas Artes. Retornou ao Brasil em 1936. A partir de 1944, fez parte, por diversas vezes, do júri do Salão Nacional de Belas Artes. Além de ter tomado parte de mostras individuais, também participou de inúmeras exposições coletivas. Em 1949 ingressou como professor na Escola Nacional de Belas Artes. Grande parte de suas obras encontra-se na pinacoteca que leva o seu nome no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, em Aracaju; no Museu Imperial de Petrópolis, no Museu Nacional de Belas Artes, no Museu Antonio Parreiras, em Niterói, e na Pinacoteca do Estado, em São Paulo. Escreveu 3 livros: Caminhos Perdidos (memórias), A cor das coisas (poemas) e Delta (poemas), sendo póstumo este último.
⁷ Parece tratar-se do pintor, gravador, desenhista, conferencista e professor, Levino de Araújo Vasconcelos Fânzeres (1884-1956). Em 1902, Levino Fânzeres frequentou o Liceu de Artes e Ofícios, sob orientação de Evêncio Nunes e depois na Escola Nacional de Belas Artes, seu professor foi Batista da Costa. Em 1912, obteve a láurea mais cobiçada do Salão promovido pela Escola Nacional de Belas Artes, o Prêmio de Viagem. Viajou para a França com a esposa Izolina Albernaz Machado, escultora e pintora, discípula de Eliseu Visconti e que obteve Menção Honrosa. Em Paris instalaram-se em atelier no Boulevard Raspail, tomando aulas com Ferdinand Carmon e André Lhote, na Academia Julian até 1916. Apesar do novo ambiente, permaneceu fiel ao tema predileto, pintando figuras e paisagens do campo, privilegiando representações da natureza agreste brasileira sob a dramaticidade de crepúsculos e buscando retratar a terra brasileira, representada em grandiosas paisagens ainda selvagens. Em 1917 retornou ao Brasil e em 1919 fundou a Colmeia dos Pintores, uma instituição para ensino livre de arte que alcançou a quantidade de 300 alunos em certa época.
⁸ Alcides Cruz (1913-1986), pintor carioca. Ri aluno do Liceu de Artes e Ofícios e tomou parte no grupo "Colmeia dos Pintores". Estudou na Escola Nacional de Belas Artes, onde foi aluno de Henrique Cavaleiro. Dedicou-se à paisagem e à figura humana, demonstrando, em suas obras, a influência do impressionismo. Em 1970 conquistou o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro do Salão Nacional de Belas Artes, quando teve a oportunidade de frequentar museus de Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda e Itália.
⁹ Edgar Walter (Nova Lima, MG, 1917-Teresópolis, RJ, 1994) talvez seja um dos mais importantes e influentes pintores de paisagistas brasileiros. Além disso, foi também pintor de retratos, naturezas-mortas e cenas urbanas. Aos 18 anos chegou a tentar carreira com balé clássico e até a fazer parte do corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, desistindo da carreira pela pintura. Fez-se também mestre do sapateado. Com os primeiros ensinamentos de Oswaldo Teixeira, tornou-se em breve dono de uma técnica bem particular. Em 1953 recebeu merecidamente o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, tendo vivido na Inglaterra e na Itália por dois anos. Como professor no Instituto de Belas Artes do Rio de Janeiro, ajudou na formação de Alberto Braga, Wilson Vicente, Roberto Leal, Olavo Rezende, Luiz Pinto, Benedito Luizi, dentre outros.
Vídeo "Edgar Walter: O Pintor Brasileiro":https://youtu.be/Jmpsr5VvxrI
¹⁰ Oswaldo Teixeira do Amaral (Rio de Janeiro, 1905-Rio de Janeiro, 1974) foi um pintor, crítico, professor e historiador de arte. Foi aluno de Batista da Costa, pintura, e de Rodolfo Chambellan, em desenho de modelo-vivo, na Escola Nacional de Belas Artes. No Salão Nacional de Belas Artes conquistou a Grande Medalha de Prata em 1923, o Prêmio de Viagem à Europa em 1924, a Medalha de Ouro em 1928 e a Grande Medalha de Honra em 1938. Fundou e dirigiu o Museu Nacional de Belas Artes durante 25 anos (de 1937 a 1961).
¹¹ Henrique Campos Cavalleiro (Rio de Janeiro, 1892-Rio de Janeiro, 1975) foi pintor, desenhista, caricaturista, ilustrador e professor. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e na Escola Nacional de Belas Artes, onde foi aluno de Eliseu Visconti e Zeferino da Costa. Conquistou o Prêmio de Viagem à Europa da Escola em 1918. Em Paris, frequentou a Académie Julian e participou de salões de arte. De volta ao Brasil, em 1927 conquistou medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes e, em 1951, participou da I Bienal de São Paulo. É lembrado como caricaturista e ilustrador, em diversos periódicos cariocas.
¹² Armando Martins Vianna (Rio de Janeiro, 1897-Rio de Janeiro, 1992) foi pintor, desenhista e professor. Em 1919, inicia sua formação artística; como aluno livre fez seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes, onde teve como professores Rodolfo Amoedo e Rodolfo Chambelland, e no Liceu de Artes e Ofícios sob orientação dos professores Eurico Alves e Stefano Cavalaro. Em 1928, matricula-se como aluno livre na Académie de la Grande Chaumière em Paris. Pintor eclético, no decorrer de sua longa carreira evoluiu do academicismo ao impressionismo, fazendo algumas incursões no modernismo cubista. Realizou obras a óleo e aquarela, praticando uma pintura tradicional e realista, calcada no desenho e no colorido fiel. Paisagens, nus, flores e pintura religiosa constituem a parte preponderante de sua produção. Foi publicado um livro da Editora Pinakotheke contendo dados referentes à sua vida e obra. Em 01/09/2012 foi inaugurado o Museu Armando Vianna, na Fazenda São Francisco, em São José do Barreiro-SP, com vídeo disponível no YouTube sobre esse evento artístico.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=SialNkPcxJg
¹³ Pedro Américo de Figueiredo e Melo (Areia, Paraíba, 1843-Florença, Itália, 1905) foi romancista, poeta, cientista, teórico de arte, ensaísta, filósofo, político e professor, mas principalmente é lembrado como um dos mais importantes pintores acadêmicos do Brasil, deixando obras de impacto nacional. Recebeu apoio do governo imperial para se formar na Academia Imperial de Belas Artes e para fazer seu aperfeiçoamento artístico em Paris com grandes mestres da pintura. Ao retornar ao Brasil passou a dar aulas na Academia Imperial, ganhando projeção com grandes pinturas de caráter cívico e heróico, inserindo-se no programa civilizador e modernizador do País fomentado pelo imperador Dom Pedro II. Seu estilo na pintura fundia elementos neoclássicos, românticos e realistas, sendo sua produção uma das primeiras grandes expressões do Academismo no Brasil, sendo por isso mesmo muito criticado por aqueles, principalmente os modernistas, que achavam que o sistema acadêmico era conservador, elitista e distante da realidade nacional. Apesar disso, seus grandes méritos artísticos e raros dotes intelectuais seguramente fazem dele um dos maiores pintores que o País produziu. Deixou obras que permanecem vivas até hoje no imaginário coletivo, como Batalha de Avaí, Fala do Trono, Independência ou Morte! e Tiradentes esquartejado.
III. AGRADECIMENTO
Em 30/07/2013, o confrade no Instituto Histórico e Geográfico local, historiador, pesquisador e escritor José Antônio de Ávila Sacramento brindou-me com o recorte da matéria que deu nome a este artigo, com as referências disponíveis, alertando-me todavia que não constava o nome de seu autor. Registro aqui meu sincero agradecimento pelo gesto amistoso do confrade sabedor de meu interesse pela vida e obra do talvez maior intelectual são-joanense.
Resta-me, contudo, uma dúvida: Seria o próprio Lincoln de Souza esse autor que preferira omitir seu nome no cabeçalho do artigo? Em caso afirmativo, é óbvio que preferia não se expor, deixando a divulgação a cargo da redação do periódico são-joanense, embora em seu espírito já germinasse a suspeita do risco que corria, ofertando à população de sua terra natal e à visitação dos turistas o seu legado cultural mais precioso. Certamente já atormentavam seu espírito algumas dúvidas: Será que saberíamos nós, os vindouros, cuidar desses seus bens culturais, através de um sistema de controle patrimonial eficiente e acompanhamento da sua evolução ao longo do tempo? Estaríamos aptos a responder, com ações positivas para o bem comum, à confiança em nós depositada? Estaríamos à altura de custodiar o seu legado, zelando pela realização de seus últimos desejos?
IV. BIBLIOGRAFIA
BRAGA, F.J.S.: "O que há do Aleijadinho em São João del-Rei", postado em 07/07/2016. Disponível in http://bragamusician.blogspot.com.br/2016/07/o-que-ha-do-aleijadinho-em-sao-joao-del.html
— "Comentários à 1ª edição do jornal 'Tribuna Sanjoanense'", postado em 06/12/2011. Disponível in http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2011/12/comentarios-1-edicao-do-jornal-tribuna.html
— "O imortal Licoln de Souza, um autêntico intelectual são-joanense", postado em 12/04/2013. Disponível in http://bragamusician.blogspot.com.br/2013/04/o-imortal-lincoln-de-souza-um-autentico.html
RUBENS, Carlos: Pequena História das Artes Plásticas no Brasil. Biblioteca Pedagógica Brasileira. Série 5ª: Brasiliana, vol. nº 198. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941, 386 p.
UM PRESENTE de valor de Lincoln de Souza. (s/a) São João del-Rei: PONTE DA CADEIA, edição nº 56, datada de 30/06/1968.
5 comentários:
O escritor e jornalista Lincoln de Souza deu de presente a São João del-Rei um patrimônio de inestimável valor. Primeiro, através da Prefeitura Municipal, doou o acervo da Biblioteca de Empréstimos a Domicílio Basílio de Magalhães; em seguida, através do Conservatório Estadual Pe. José Maria Xavier, doou suas "coleções de arte..., compreendendo telas a óleo, aquarelas, desenhos a crayon, a bico de pena, pastel, pinturas em prato de porcelana, xilogravura, lembranças de viagem" e outras peças.
Lincoln de Souza determinou ajuizadamente que "no caso em que, por qualquer motivo, não possam tais peças continuar no Conservatório, ou se esse conceituado estabelecimento de ensino artístico vier a ser extinto, deverão as mesmas ser leiloadas e o produto da venda ser distribuído às instituições assistenciais de S. João del-Rei".
No artigo reproduzido no Blog de São João del-Rei, a redação do jornal são-joanense Ponte da Cadeia, em edição de 30/06/1968, fez saber a seus leitores sobre a existência dessas duas doações à população são-joanense.
Os comentários ao referido texto são de minha responsabilidade.
Gratíssimo pela remessa destas preciosas informações. Fernando Teixeira
Tenho recebido regularmente teus textos, fonte de grande conhecimento. Muito agradecido.
Abraço cordial,
UP
Que bela iniciativa!
O saber é como a água: se fica parado se torna inservível para uso.
Atos de generosidade como esse é que propagam a cultura.
Parabéns!
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