quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

NECROLÓGIO DE JOSÉ SEVERIANO DE REZENDE


Por Francisco José dos Santos Braga




I.  INTRODUÇÃO



JOSÉ SEVERIANO DE REZENDE foi escolhido por mim para ser o Patrono da Cadeira Perpétua XVI da Academia Lavrense de Letras, que ocupo como Fundador e Titular, desde 30 de janeiro de 2016, na qualidade de sócio correspondente. 

Meu homenageado nasceu em Mariana, a 23 de janeiro de 1871, filho de Severiano Nunes Cardoso de Rezende, são-joanense, editor do Arauto de Minas, periódico oficial do Partido Conservador no Sexto Distrito Eleitoral de Minas, e de Custódia de Rezende.

No caso de José Severiano de Rezende, a figura paterna foi bastante relevante para a sua formação. Além de escritor e jornalista, Severiano Nunes Cardoso de Rezende também era professor. Quando José Severiano de Rezende nasceu, seu pai trabalhava como professor de Latim e Francês na escola pública de Mariana. Depois, tornou-se professor vitalício de Português no Externato oficial de São João del-Rei e na Escola Normal da mesma cidade. Segundo Renato de Lima Júnior, o pequeno Severiano de Rezende teria aprendido a “soletrar brincando com os tipos” usados para imprimir o jornal Arauto de Minas, dirigido por seu pai. Em sua formação escolar inicial, percebemos uma ênfase no estudo de línguas, pois, no Externato de São João del-Rei, Severiano de Rezende habilitou-se em Francês, Latim e Português, ênfase que parece ter sido decisiva em sua vida, como se verá no decorrer de nossa exposição. Apenas para dar uma idéia de como a língua francesa o marcou desde cedo, Severiano de Rezende publicou no Arauto de Minas, aos 16 anos, uma tradução da fábula “A cigarra e a formiga”, de La Fontaine, e, aos 17 anos, um poema em francês dedicado a uma atriz francesa que havia atuado em São João del-Rei. Nesse período de sua adolescência, ele estudava no Liceu Mineiro, em Ouro Preto, onde conheceu e se tornou amigo de Alphonsus de Guimaraens. 
 
Muito interessante é a análise feita por Silvano Minense sobre a vida intelectual de José Severiano de Rezende na época em que estudou em Ouro Preto. Este teria tido uma ligação com as idéias positivistas e sido admirador da literatura realista de Zola.

Concluídos os estudos preparatórios, dirigiu-se para São Paulo, em 1889, para cursar Direito. Em 1890, quando era aluno do segundo ano, participou do incidente envolvendo o Dr. Justino de Andrade, reconhecido mestre que acabou jubilado por suas simpatias pela monarquia. Severiano defendeu o mestre e envolveu-se em célebre polêmica. "Cartas Paulistas: artigos sobre a questão acadêmica" foi o seu livro resultante da Questão Acadêmica, editado na tipografia de O Diário de Santos, em 1890, opúsculo de 62 páginas. Desgostoso com a perseguição ao mestre pelas autoridades da República, deixou Santos e voltou para Minas Gerais, abandonando seu curso de Direito. Matriculou-se na Academia Livre de Ouro Preto, porém em março de 1894, com 23 anos de idade, ingressou no Seminário de Mariana. Ordenou-se sacerdote em 18 de dezembro de 1897 e trabalhou, primeiramente, em Ouro Preto e Mariana. Conflitos o trouxeram para São João del-Rei. Em sua passagem por São João foi capelão da Santa Casa de Misericórdia durante os dois anos seguintes. Novos conflitos o induziram a mudar-se, desta vez para o Rio de Janeiro. É neste período carioca que escreveu "Eduardo Prado" ¹ e "O meu flos sanctorum" ², esse último publicado em Porto, Portugal (1908). Levava uma vida exuberante e foi advertido para que mudasse o seu comportamento. E após advertências mais incisivas do então arcebispo D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti (1850-1930), Severiano abandonou o sacerdócio e foi viver em Paris como escritor, tradutor e colaborador na folha Le Brésil, do Journal des Nations Américaines, no qual teve uma coluna semanal de 1929 até sua morte em 1931. Também escreveu dois artigos no Mercure de France, na coluna Lettres Brésiliennes. Depois de quase uma década em Paris, durante a Primeira Guerra Mundial, em 1915, retornou ao Brasil, residindo em Mariana, onde colaborou com a revista Vida de Minas. Pouco depois, regressou a Paris e organizou sua súmula poética, intitulada "Mysterios" ³, que publicou em Lisboa, em 1920 pela Editora Aillaud e Bertrand numa edição de possivelmente 200 exemplares trazendo um retrato do autor desenhado a bico de pena de Belmiro de Almeida. Sua obra poética está consolidada nesse livro, que vai dos temas amorosos aos religiosos, além de poemas sobre animais. Na ocasião em que publicou Mysterios, revelou que estava preparando outros dois livros : "Idéias e ideais" e "O livro do sacerdote", conjunto de estudos de mística experimental. No entanto, não os publicou nem foram encontrados os originais dessas obras. Morreu em 14 de novembro de 1931 e foi sepultado, por providência de sua companheira , no jazigo da família Gary, em Bram, no Departamento de Aude, ao sul da França.
 
Finalmente, lembro que será respeitada a grafia original de seus autores neste trabalho.























II.  NECROLÓGIO DE JOSÉ SEVERIANO DE REZENDE


a) Por Philéas Lebesgue *

JOSÉ SEVERIANO DE REZENDE


Era um poeta possante em sua língua bem como um admirador apaixonado da França aquele que portava este nome e que tinha aceitado expor periodicamente aos leitores do Mercure de France o movimento contemporâneo das Letras brasileiras. Nascido no Estado de Minas, de uma velha família colonial livre de toda miscigenação indígena, cedo foi levado para a vocação das letras e o Diário Mercantil de São Paulo permitiu-lhe estabelecer rapidamente uma reputação precoce de fino estilista e de polemista mordaz. Entretanto as mais altas especulações do espírito o atraíam invencivelmente. Tornou-se sacerdote e de suas meditações ardentes sobre a beleza do Cristianismo brotou então um Calendário de Santos (O Meu Flos Sanctorum), que devia fazer um pouco a volta ao mundo e que é uma obra de poeta assim como de religioso.

Mas ele é atraído pela França que considera como o centro vivo do mundo civilizado. Vem a Paris para se iniciar nos segredos do nosso pensamento, de nossas artes, de nossa língua. Aí devia passar o resto de sua vida, escrevendo, observando, compondo versos, colecionando obras de hermetismo e de metafísica, atento a todas as manifestações de nossa atividade nacional e profetizando aos dias mais sombrios que o Salvador da França seria ao mesmo tempo o Salvador do Mundo.

Deixa uma única coletânea de poemas (Mysterios), que encerra, como um cofrinho precioso, todos os fervores, todas as angústias, todos os arrependimentos de sua existência de provas e de paixão. Ele é o herdeiro direto de Baudelaire e de Verlaine, mas os frenesis de Rimbaud se unem às vezes às visões apocalípticas e, irmão de Santa Teresa, clama as chagas do Instinto para delas melhor retumbar em seguida grandiosas liturgias cósmicas, os olhos voltados ao céu.

Supersticioso, vem de se apagar num dia de novembro que foi 15 e uma sexta-feira.

*  Minha tradução para a primeira versão do necrológio de Philéas Lebesgue para o Mercure de France

Primeira versão do necrológio de Philéas Lebesgue para o Mercure de France


Fonte: [LIMA JÚNIOR, 2002, 150-a]


b)  Por A NOITE ILLUSTRADA

UMA FIGURA  DE NOSSA BOHEMIA INTELLECTUAL QUE MORREU EM PARIS

Escriptor mystico, poeta lyrico, jornalista elegante, bohemio de há trinta annos, no Rio, consolidado, depois, em Paris, onde era bem um padrão dessa passada época mundana, Severiano de Rezende acaba de dar entrada nesse como Pantheon cosmopolita o Père Lachaise (sic). Aqui, foi componente da roda de Bilac, Pedro Rebello, Guimarães Passos, Alvares de Azevedo Sobrinho, Emilio de Menezes e outros que se foram ou que ainda ahi estão, porque mudaram de rumo, como Henrique Hollanda.

Conduzido, por inspiração da família, ao sacerdocio, não resistiu, entretanto, às correntes dominantes nas letras, em que ingressou, por aquella época, e em breve deixava os hábitos talares, para entregar-se de todo a essa existencia erradia da imprensa, que era, nesse tempo, caminho da consagração. 

Suas inspirações poeticas datam de quando ainda era pregador doutrinario, formando em torno de si um ambiente de paz e recolhimento. Dessa época é a sua obra O meu flos Sanctorum, em que elle traçou, com requintada elegancia e fino estylo, a historia de seus santos predilectos.

De temperamento vibrante, de uma intelligencia larga, expansivo e cavalheiresco, imaginoso e arrebatado, não tardou que se formasse como figura da antiga bohemia carioca, em cujo meio se destacou tambem, pelas circunstancias de sua subita transição, como de seu porte original, à D'Artagnan.
José Severiano de Rezende in A Noite Illustrada


Mas foi na imprensa que sua intelligencia rutillou. Seus artigos, suas chonicas, fizeram successo. Paris, entretanto, com o prestigio do renome cultural que se irradiou, desde seculos, pelo mundo, e com o seu ambiente, onde o espirito e a intelligencia têm formas que se não encontram em outra parte, exercia em Severiano de Rezende, como em outros do seu tempo, a mais profunda fascinação. Outros partiram, como elle, e voltaram, como de um banho lustral. Guimarães Passos não voltou senão annos depois de haver estado seu corpo no mesmo sólo em que se encontram Abelardo e Heloisa. Severiano de Rezende foi e logo se internou em Montparnasse, onde, em pouco, pontificava no La Rotonde, que é o rendez-vous de todas as correntes agitadas do mundo, o templo de todos os credos, onde passam, como num filme vivo, os typos de todas as raças, e onde se ouve, como na Babel, todas as linguas...

De quando em quando, elle vinha ao Rio. Estava grisalho, tinha, entretanto, nos seus olhos azuis, a mesma luz serena e o seu rosto, ainda que sulcado, era suavemente corado. Suas ultimas viagens à patria tiveram o objectivo de exanimar o seu espirito, que se combalia, melhorando as condições de sua vida, na Cidade Luz. Em governos passados elle obteve uma pequena ajuda, ficando em commissão no Ministerio das Relações Exteriores, attaché à nossa embaixada. Essa situação, a Republica Nova consolidou, dando-lhe o título de Delegado do Brasil junto ao Instituto de Cooperação Intellectual. Morre o antigo literato e bohemio na edade de 60 annos. Severiano de Rezende nasceu na tradicional S. João d'El-Rey (sic), que elle nunca esqueceu, e de que falava sempre com veneração.

Seus derradeiros pensamentos, já quando sentia o espírito combalido, eram para a quadra de sua vida, em que, como sacerdote, pregava a verdade. Então, caía em recolhimento e manifestava o seu maior desejo: poder voltar, de novo, para Jesus.

Fonte: A NOITE ILLUSTRADA, II Anno, Rio de Janeiro, edição nº 87 de 2/12/1931, p. 8 
 
Imagem do necrológio in A Noite Illustrada






 

III.  NOTAS  EXPLICATIVAS 





¹   "Eduardo Prado: paginas de critica e polemica", é acompanhado de uma citação de Balzac: "Le Catholicisme et la Royauté sont deux principes jumeaux". (O Catolicismo e a Realeza são dois princípios gêmeos) O livro é de 1905, publicado por N. Falcone & C. Editores, de São Paulo.

[PAGANINI, 2010, 29] observa que
"O engajamento em lutas políticas era comum. José Severiano de Rezende defendeu o regime monárquico em uma fase de sua carreira e continuou se envolvendo com questões políticas até o fim de sua vida. A defesa que José Severiano de Rezende fez do regime monárquico explica-se, em parte, pelo fato de ser filho de Severiano Cardoso Nunes de Rezende (1847-1920), responsável pelo jornal Arauto de Minas (1877-1889, São João del-Rei), órgão oficial do Partido Conservador no 6º Distrito Eleitoral de Minas Gerais. José Severiano de Rezende iniciou seu trabalho na imprensa no Arauto de Minas e teve participação nas polêmicas que este periódico sustentou com o jornal A Pátria Mineira (1889-1894, São João del-Rei) defensor da implantação da República no Brasil. Em São Paulo, o poeta tomou a defesa do professor monarquista Justino Gonçalves de Andrade no livro Cartas paulistas: artigos sobre a questão acadêmica. As críticas de Severiano de Rezende à República e aos governantes republicanos continuaram no jornal D. Viçoso (1898-1899), periódico diocesano de Mariana, onde publicou, por exemplo, editoriais violentos contra o presidente Campos Sales (20 nov. 1898, p. 3) e outros como o intitulado “O povo vítima” (28 maio 1899, p. 1). Nos seus artigos para o jornal Correio da Manhã (Rio de Janeiro), continuou as críticas aos governos republicanos. Exemplo disso foi “O fúnebre reinado” (15 abr. 1903, p. 1), que tinha como alvo o governo de Rodrigues Alves. O segundo livro de José Severiano de Rezende, Eduardo Prado: páginas de crítica e polêmica, provavelmente editado em fins de 1904, é um manifesto católico-monarquista, escrito em estilo 'art nouveau'.
"
Link: http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/ECAP-8B4PLG
A citação acima refere-se à nota de rodapé 45 na página 29.
 


²  O exemplar que possuo de "O meu flos sanctorum", com 258 pp., é de 1970, editado pela Imprensa Oficial de Minas Gerais, com a seguinte nota: 
"Reeditado pela Prefeitura Municipal de São João del-Rei, por ocasião do centenário de nascimento do autor.
23-1-1871  —   23-1-1971"
A primeira edição foi publicada por Livraria Chardron de Lello & Irmão, volume de 348 pp., impresso na Imprensa Moderna, Porto, em 1908 (1ª série). Anunciava-se em preparação a 2ª série, maior ainda. 


³  Sobre "Mysterios" de José Severiano de Rezende, o Diário de Minas, edição de 24 de abril de 1921, na Crônica Social, p. 3, nos seguintes termos: 
"Mysterios é um livro excepcional, pela novidade dos ritmos, pela bizarria dos temas, pela beleza das rimas; isto, porque já conhecemos várias poesias do florilégio, entre as quais as que formam "Painéis Zoológicos". Quem não se recorda do ritmo compassado e solene, à Marancourt, daqueles sonetos "O Jararacuçu", "O Porco", "O Sapo"?" 
[LIMA JÚNIOR, 2002, 127] assim se expressa acerca do livro de José Severiano de Rezende:
"'Mysterios' foi escrito para dar uma explicação órfica à vida, reproduzindo o belo a partir do amálgama das grandes obras-primas do mundo ocidental. Para Philéas Lebesgue, a obra é uma das mais profundas que eclodiram na América desde a conquista. Logo, Alberto da Costa e Silva estava certo ao enaltecer o soberbo equipamento técnico e verbal do poeta que o capacitava a fazer com as palavras polifonia e orquestração como poucos no Brasil conseguiram. Por isso, destaca que a obra é de difícil compreensão.
O volume é verdadeiramente uma autobiografia como supôs Costa e Silva, pois o próprio Severiano a definiu como sendo a história franca de sua vida. No entanto, 'Mysterios' não é um mero espelhamento de uma alma narcisista, e sim o retrato de um arquétipo da humanidade em busca da evolução.
Para André Delacour, o livro é uma epopeia cósmica e mistagógica que segue a linha de Dante em Divina Comédia, passando por Goethe no Segundo Fausto e ainda por Victor Hugo em La fin de satan, antes de chegar a Severiano que estende o perdão ao diabo arrependido. Segundo o crítico, a obra compreende três partes: na primeira, ele percorre os infernos com Baudelaire, através dos sonetos repletos de erotismo; na companhia de Verlaine, ergue-se ao Purgatório na parte central do livro com poemas que revelam remorso e penitência, e, por último, celebra a ascensão das almas com odes grandiosas.
Victor-Émile Michelet * falando desse gênero de epopeia, registra que o espírito visionário domina a situação, envolvendo o assunto em nebulosidades e imprecisões que só um autor de extraordinário talento consegue tornar tais visões inteligíveis. Sendo assim, a composição dessas epopeias, em sua maioria, fracassam, ou se bem sucedidas, como L’Hymne à la Lune, de Saint Yves d'Alveydre, caem no esquecimento, desconhecidas da crítica. De acordo com Anna Balakian, é possível dizer que somente os melhores simbolistas atingiram esse fim, seguindo os ensinamentos de Mallarmé que atribuía aos poetas a missão vocacional de recuperar o sentido misterioso da existência, naquela época envolta em materialismo científico.
Segundo Lebesgue e Delacour, Severiano de Rezende foi iluminado pelo pensamento poético e iniciatório de Dante, ao qual acrescentou todas as aquisições da Teologia e da Mística contemporânea. A partir daí, teria aliado suas concepções à temática poética para escrever uma espécie de Divina Comédia, comprovando que é mestre de sua forma e pensamento. Em vista de todo esse aparato construtivo, Henriqueta Lisboa pôde detectar que Severiano, mesmo sendo simbolista em seus fundamentos, utilizou recursos de várias escolas ou correntes literárias, chegando ao ponto de apresentar inovações que o credenciam como vanguardista antes do modernismo de 22. Anelito de Oliveira acrescenta ainda que a obra revela alguma afinidade com o Modernismo ao deixar pulsar uma ironia que questiona a forma e elabora uma linguagem nova, apesar de manifestar o desejo classicizante e europeizante dos simbolistas e parnasianos.
Pela leitura filosófica de José Mauricio de Carvalho **, Mysterios revela a face metafísica e espiritualista do autor, trazendo inovações à filosofia tradicionalista brasileira ao acrescentar-lhe uma abertura para a ciência moderna; o reconhecimento das angústias humanas como dimensão importante da vida, e uma relativa valorização das conquistas da civilização, dentre outras inovações. Para o pesquisador, a obra revela a preocupação do poeta em explicar que é a busca interior que prende o homem à existência, visto que só através da interiorização perceberá a harmonia e a ordem divinas presentes no cosmo mesmo diante dos fatos mais disparatados que a sua sensibilidade antes não poderia explicar.
Severiano se valendo de sua própria experiência de vida, mostra que o ser humano é ambivalente e contraditório, já que ao mesmo tempo que busca a razão e a ordem, comporta-se irracionalmente movido por desejos e paixões. Observa que a sociedade deve estabelecer regras para criar uma ordem coletiva capaz de melhor satisfazer os impulsos animalescos mantendo o homem dentro de normas morais. E conclui que o Cristianismo já sistematizou um modelo de bom comportamento através dos santos e que a resposta ao mistério da existência só seria alcançado pela fé, porque a descoberta de Deus não resolve o mistério, ainda que Jesus Cristo apresente um caminho seguro para a elevação espiritual."


*   [LIMA JÚNIOR, 2002, 141] assim se expressa sobre Victor- Émile Michelet (nota de rodapé 237): "Este intelectual francês, amigo de José Severiano de Resende, foi um destacado cabalista membro dos supremos conselhos das Ordens Rosa-Cruz e Martinista. Colaborou com Papus, Barlet, Marc Haven, Sedir, Péladan, Oswald Wirth e outros, na tarefa de congregar os maiores talentos da época para adaptarem a tradição esotérica ao século XX. Além disso, 
"V.-E. Michelet fut dans le Symbolisme en constante résonance avec les plus grands; on pouvait dire de lui que par son activité dans les genres les plus divers, le théâtre, les poèmes, les contes, il fut l'homme de liaison de tous les poètes e prosateurs de son temps: Villiers de l'Isle Adam, S. de Guaita, Barrès et Mallarmé le reconnaissaient comme leur pair, et si Michelet a plu à son époque, c'est qu'il associait intimement dans son œuvre l'esthétique et l'occultisme, et is sut donner à cette dernière discipline une valeur beaucoup plus profonde que celle d'une simple source d'inspiration poétique; pour lui l'ésoterisme se mua rapidement en éthique et en métaphysique, il en fit sa règle de vie à travers toute son œuvre." (BOUMENDIL, 1977:ii) 
E mais, Michelet foi ainda presidente da Société des Poètes Français, membro do conselho da Maison de la Poésie da qual recebeu o grande prêmio pelo conjunto de sua obra e fundador da Association des Amis de Péladan em 1920."


** Fonte: CARVALHO, José Maurício de: "Mistério e Existência: a Vida segundo Severiano de Resende" (http://www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/799/715)
 
 

⁴   Madame Juliette Gary ficou viúva com o falecimento de José Severiano de Resende.


 


IV.  BIBLIOGRAFIA


 

CARVALHO, José Maurício de:  "Mistério e Existência: a Vida segundo Severiano de Resende", revista Educação e Filosofia, vol.13,  nº 25, 123-139 pp., jan/jun 1999.

LIMA JÚNIOR, Renato Rodrigues de: "O refratário e abnegado José Severiano de Rezende", Campinas: Universidade Estadual de Campinas (Instituto de Estudos da Linguagem), dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Letras.


MINENSE, Silvano. "Padre Severiano de Rezende", primeira fase. O Archivo Illustrado, São Paulo, ano 5, n. 33, 1903. p. 251-253.; segunda fase ano 5, n. 34, 1903. p. 260-262. 

PAGANINI, Luiz Antônio: Os simbolistas mineiros e o drama da modernidade, tese apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Letras-Estudos Literários pela UFMG. 


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

INAUGURAÇÃO DA PRAÇA MAESTRO JOÃO CAVALCANTE EM SÃO JOÃO DEL-REI


Por Francisco José dos Santos Braga


Este artigo é dedicado a D. Maria da Conceição Assis Campos, carinhosamente conhecida como D. "Lilia", viúva do saudoso mentor desta homenagem prestada ao Maestro João Cavalcante.




I.  INTRODUÇÃO





[GUERRA, 1969: 179] assim se expressou a respeito do Tenente João Cavalcante: "Foi um dos grandes valôres que a nossa cidade conquistou e aqui realizou o milagre de organizar a maior e melhor orquestra sinfônica de cidades do interior de Minas. Foi também, por muitos anos, regente da Banda de Música do 11º Regimento de Infantaria." Sucinta, mas correta expressão do que representou para São João del-Rei um dos mais ilustres fundadores da Sociedade de Concertos Sinfônicos em 26 de janeiro de 1930, que foi também o regente da sua orquestra (desde a fundação) e do seu coro orfeônico (a partir de agosto de 1935).  

Considero ainda uma de suas grandes realizações a criação de um orfeão masculino no glorioso 11º Regimento de Infantaria. Além disso, regeu o "Orfeão da Escola Normal" (do Colégio Nossa Senhora das Dores), do qual tomaram parte como coristas, por exemplo, minha saudosa mãe Celina dos Santos Braga (⭐︎23/01/1928 - ✞ 29/05/2014) e D. Maria da Conceição Assis Campos, carinhosamente conhecida como D. "Lilia", viúva do Gal. Carlos de Oliveira Ribeiro Campos, mentor da homenagem ao mesmo Maestro João Cavalcante que será apresentada no texto abaixo. 

Além da homenagem mencionada, São João del-Rei, através de sua Câmara de Vereadores, reconhecendo a imensa e elevada colaboração do Maestro João Cavalcante para a Municipalidade, houve por bem denominar o Coreto da Av. Presidente Tancredo Neves "Maestro João Cavalcante", após sua restauração (Lei Municipal nº 4.129, de 14 de junho de 2007, ano em que nossa cidade foi agraciada com o título de "Capital Brasileira da Cultura"). 

Como última observação, lembro que será respeitada a grafia do autor do texto.





 II.  TEXTO:


 NOVA PRAÇA EM SÃO JOÃO DEL-REI



No dia 20 de março de 1988 - Domingo, 11:00 h de uma manhã ensolarada, tendo como mentor da homenagem o Gal. Carlos de Oliveira Campos e como autor do projeto de lei (Lei nº 2.327 de 29/06/1987) o vereador Mauro Carlos d'Assunção Figueiredo com a aprovação unânime dos sanjoanenses, o povo de São João del-Rei, pelos seus legítimos representantes, homenageou o Maestro João Cavalcante, falecido em 18/08/1985, dando a uma praça do bairro de Matozinhos o nome do saudoso maestro. A praça situa-se na confluência das seguintes ruas: Sete de Setembro, Joaquim Quintino dos Reis, Carlos Alves e Rua do Jatobá (INOCOOP).

ATO PÚBLICO

Para este ato público, presidido pelo Sr. Presidente da Câmara Municipal de São João del-Rei, Vereador João Bosco Dângelo Alves, estiveram presentes várias autoridades civis e militares, representantes de entidades musicais, imprensa escrita e falada, amigos contemporâneos do saudoso homenageado e da família, bem como D. Maria Tereza Cavalcante, filhas e demais familiares. Nossa reportagem pôde ainda constatar a presença de autoridades tais como o Cel. Comandante do 11º BI, Alberto Mendes Cardoso e senhora, Gal. Carlos de Oliveira Campos e senhora, o Prof. Gustavo Campos-Vice Prefeito, representando o Executivo; o Sr. Morelandi, Chefe de Obras da Prefeitura; entre as personalidades pode-se observar a presença do Presidente da Orquestra Sinfônica, criada pelo Maestro João Cavalcante, Sr. José Raimundo Lobato Costa, Sr. Osvaldo Santiago Lobosque, presidente da Associação de Presidentes, o Maestro Parreira, Prof. Abgar Campos Tirado, a ecologista e jornalista Sílvia Fernanda, a jornalista Vilma Benfenatti José Firmino do Jornal do Poste, José Antônio do Jornal de São João e um grande número de moradores do Conj. Hab. Pres. Tancredo Neves, próximo à praça, bem como moradores das proximidades.

Presidente da Câmara João Bosco Dângelo Alves, vereador Mauro Carlos d'Assunção Figueiredo, Cel. Alberto Mendes Cardoso, Gal. Carlos de Oliveira Ribeiro Campos e sua esposa D. Maria da Conceição Assis Campos
("Lilia"), e familiares do homenageado

BANDA DO 11º BI

A presença marcante da Banda do 11º BI abrilhantou o ato público com a execução de dobrados e composições de autoria do Maestro João Cavalcante, inclusive com a participação do público dando um cunho emocional à solenidade.

OS ORADORES DO ATO PÚBLICO

Falaram na ocasião, além do Presidente Ver. João Bosco Dângelo Alves, o Vereador Mauro Carlos d'Assunção Figueiredo, como autor do projeto de lei que instituiu a homenagem; o prof. Gustavo Sette de Resende Campos, representando o Prefeito de São João del-Rei, e o Gal. Carlos de Oliveira Campos que agradeceu em nome da família a homenagem prestada ao Maestro João Cavalcante.

MOMENTOS EMOCIONANTES

Coronel Alberto Mendes Cardoso, D. Teresa Cavalcante e sua filha Dulce

Os momentos que comoveram a todos os presentes foram quando primeiramente o vereador Mauro Figueiredo, com a eloqüência que lhe é peculiar, ao ler o vasto curriculum do homenageado, revelou e ressaltou o carinho e apreço do saudoso extinto para com a esposa e filhos, formando com eles uma orquestra, a PRÓ-ARTE e dedicando-lhes ainda composições suas, tais como: "Nilce", "Ivone", "Dulce" e "Tereza". O segundo momento emocionante foi quando D. Maria Tereza Cavalcante foi convidada a descerrar a placa, gravada em alumínio, onde se lê: "Praça Maestro João Cavalcante, compositor da canção do 11º RI e fundador da Orquestra Sinfônica de São João del Rei".

Entre lágrimas e sorrisos, o ato foi encerrado seguindo-se os cumprimentos aos familiares do saudoso extinto. 

Fonte: jornal DESAFIO REGIONAL, edição nº 10, março de 1988. 

Obs.: Hoje a praça, referida no texto, não existe mais, segundo informação do historiador Dr. José Antônio de Ávila Sacramento no seu comentário e conforme constatei "in loco". O nome do Maestro João Cavalcante perdura agora no belíssimo e pomposo Coreto da Av. Presidente Tancredo Neves, devido aos esforços do mentor da homenagem, o Vereador Adenor Simões, assessorado pelo historiador acima citado, quando presidente do IHG local. Parabéns a ambos pelo resultado muito melhor, de fato (substituição do nome da praça pelo do Coreto),  atendendo, por um lado, a inevitável modernização urbana e, por outro, a  visibilidade, pois o Coreto possui uma localização definitiva num dos mais frequentados logradouros da cidade. Estejam todos certos de que a memória do Maestro João Cavalcante continua a ser preservada entre os são-joanenses, pois somos muitos a defendê-la.



III.  AGRADECIMENTOS



Deixo aqui consignada minha gratidão à minha esposa Rute Pardini Braga por registrar aqui as fotos do evento comemorativo, formatadas a partir do referido jornal, e ao saudoso amigo Luiz Antônio Ferreira, o "Irmão" (⭐︎ 02/02/1949 - ✞ 05/03/2015), por ter-me cedido, em vida, a matéria deste post. 



IV.  BIBLIOGRAFIA  CONSULTADA



GUERRA, Antônio Manoel de Souza: Pequena História de Teatro, Circo, Música e Variedades em São João del-Rei - 1717 a 1967, Juiz de Fora: Sociedade Propagadora Esdeva-Lar Católico, 1968, 327 pp. 

Jornal DESAFIO REGIONAL: "Nova Praça em São João del-Rei", São João del-Rei, diretor fundador: Carlos Alberto da Silva Braga, edição nº 10, março de 1988. 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

SAYÃO, O BANDEIRANTE MODERNO


Por Adirson Vasconcelos
Membro da ACLEB-Academia de Letras de Brasília e do IHG-DF

Bernardo Sayão (⭐︎ 18/06/1901, Rio de Janeiro-✞ 15/01/1959, Açailândia)
Um galho gigantesco da floresta amazônica despenca de uns quarenta metros de altura e cai sobre o construtor da Belém-Brasília, o engenheiro Bernardo Sayão, quando faltavam apenas duas semanas para a conclusão dos trabalhos pioneiros de desmatamento da estrada.

Esta notícia correu o Brasil de ponta a ponta, no dia 15 de janeiro de 1959, quando a construção de Brasília e da estrada Belém-Brasília eram temas do cotidiano e o nome de Sayão significava audácia, pela sua tarefa de desbravar a floresta amazônica, tida como "intransponível", e plantar, nela, uma estrada que ligaria o Brasil de Norte a Sul, tendo Brasília como ponto de interligação.

JK  E  BERNARDO SAYÃO

O presidente Juscelino Kubitschek, com quem Bernardo Sayão muito se afinava naturalmente pelo espírito bandeirantista que os identificava assim o homenageou na despedida:

"Aqui vim dizer adeus a Bernardo Sayão, morto no campo de honra morto na batalha em favor do novo Brasil. Mas, a glória começa exatamente na hora em que ele deixa este mundo... Só nos consola de sua perda essa glória que começa a iluminar, agora, o vulto que acaba de consumar o seu sacrifício até a mais trágica consequência. Pode-se dizer que Bernardo Sayão fez a oferenda de sua própria vida ao seu ideal."

Bernardo Sayão, que era um entusiasta do sonho de ver o Brasil interligado de Norte a Sul, via rodoviária, disse, certa feita, ao presidente Juscelino: "No dia em que a estrada Belém-Brasília estiver concluída, posso partir para sempre. Terei dado o meu melhor esforço pela nossa causa."

Por isso é que o presidente Kubitschek, também na despedida a Sayão, anunciou à grande multidão que foi ao Campo da Esperança em Brasília:
"Dentro de quinze dias, os tratores que marcham conduzidos pelas turmas de soldados do progresso que partiram de Belém e de Brasília se encontrarão para consagrar o fim da epopeia. O grande, o generoso, o bom comandante estará então presente como nunca, embora invisível. Nós também não faltaremos. A estrada terá o seu nome."

Um candango anônimo das obras de Brasília, de olhos úmidos, pediu a palavra para colocar duas flores silvestres e sugerir que Sayão fosse enterrado de pé, "de pé como sempre soube viver, de pé como recebia o Presidente da República e a mais humilde criatura que o procurasse."

QUEM ERA SAYÃO 

Bernardo Sayão era carioca da Tijuca e nasceu a 18 de junho de 1901. Formou-se em agronomia. Praticava futebol e remo. Casou-se com dona Lygia Mendes Pimentel, com quem teve Laís e Léa. Perdendo, em 1936, sua primeira esposa, contraiu núpcias, cinco anos depois, com dona Hilda Fontenele Cabral hoje, dona Hilda Sayão de Araújo, que lhe deu os filhos Bernardo e Fernando e a filha Lia. Nomeado por Getúlio Vargas, dirigiu, em Goiás, a Colônia Agrícola Nacional, implantando-a à beira do Rio das Almas, onde nasceu a cidade de Ceres. À época, os jornalistas e escritores Hernane Tavares de Sá, Antônio Calado e John dos Passos (americano) destacaram os feitos de Sayão na Colônia de Goiás, dando-lhe projeção internacional. Goiás o convocou para ser Vice-Governador e o presidente Juscelino o quis diretor das obras de Brasília. Antes, como vice-governador, já dera os primeiros passos nas obras da futura Capital, construindo estradas, implantando um aeroporto que o chamou de Vera Cruz e levantou um cruzeiro no ponto mais alto da futura cidade. Desejando o Presidente interligar o Brasil de Norte a Sul, via rodoviária, convocou Sayão, que também comungava da ideia, para executar a difícil tarefa de abrir, meio à floresta amazônica, uma estrada pioneira ligando Brasília a Belém do Pará. Sayão topou, pois isto era um grande sonho seu. Quando foi vitimado pela floresta, faltavam apenas uns quinze dias para que as duas turmas a que vinha de Belém e a que partira de Brasília se encontrassem no ponto geográfico denominado Ligação, próximo a Açailândia e onde Sayão foi morto.

O presidente Juscelino o chamava de bandeirante moderno. Aliás, seu espírito, e até o seu físico, era de um bandeirante. Suas missões nunca tiveram o objetivo de exaurir, promovia sempre o progresso, despertando a produção e as riquezas potenciais do local. Assim foi em Ceres, em Brasília e na Belém-Brasília.

De porte atlético e espírito alegre, Bernardo Sayão era um homem cheio de fé, vigoroso, que distribuía vida, ânimo e otimismo. Impetuoso, másculo e bonito. Gostava de tocar lavoura, de criar gado, de andar a cavalo, de dirigir caminhão, jipe ou avião. Era um líder, um amigo, um homem de coração bom, mas, quando preciso, fazia as vezes de pai severo, de delegado ou de juiz. Sayão era um homem prático, objetivo e decidido. Fazia camaradagem facilmente, inclusive com os operários, dos quais era um verdadeiro ídolo. Haja vista que, quando correu a notícia de sua morte, o seu motorista, Benedito Segundo, caiu morto com um enfarte cardíaco.

UM SÍMBOLO NACIONAL

Bernardo Sayão teve a morte que queria trabalhando e realizando algo de notável, um sonho que perseguia e que o presidente Juscelino lhe deu oportunidade de realizar, uma estrada transbrasiliana. Caiu no ponto de encontro de dois Brasis, o do Sul e o do Norte, um ponto da Belém-Brasília chamado Ligação, a trinta quilômetros da cidade maranhense de Imperatriz. Um novo Fernão Dias que viu a morte quando o horizonte já estava quase ao seu alcance. Um Anhanguera. Um exemplo aos crentes e aos derrotistas, pois acreditava demais no Brasil. Sayão é um herói dos tempos modernos, um herói da batalha do desenvolvimento nacional na feliz expressão do presidente JK. Um desbravador de sertões, um plantador de estradas, um fundador de cidades, um criador de novos horizontes, um pioneiro de Brasília e do Brasil.

Sayão é um símbolo nacional, cuja vida de serviços e dedicação ao seu País será lembrada, no futuro, nas escolas, como exemplo do passado às gerações vindouras. Que a geração de hoje, principalmente as autoridades constituídas, façam algo de reconhecimento a este herói da batalha do desenvolvimento e da integração nacionais Bernardo Sayão Carvalho de Araújo.

Fonte: VASCONCELOS, Adirson: A EPOPEIA DA CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA, Brasília: Centro Gráfico do Senado, 1989, pp. 181-5.

♧               ♧               ♧

Vasconcelos relembra ainda na efeméride referente à data de 16 de janeiro de 2017 as seguintes informações complementares:

"Um dia diferente de todos os outros dias de Brasília, nos tempos da epopeia da construção da cidade-Capital. Em pleno 1959, quando é frenético o ritmo de trabalho e a vibração de todos, os milhares de pioneiros candangos ficam inertes e em emoção. Todos aguardam a chegada do corpo do engenheiro Bernardo Sayão, morto nas obras da Belém -Brasília, no dia anterior. 

Bernardo Sayão acidenta-se na floresta que desbravava para construir a Belém-Brasília. Faltavam duas semanas para  a conclusão da estrada. A notícia da morte de Sayão é fulminante para seu motorista, que tem um colapso cardíaco, e para seu cozinheiro, que fica "perturbado da cabeça". O Presidente JK sente o peso da perda.

Num avião da FAB, procedente de Belém do Pará, chega o corpo do bandieirante moderno. Do Aeroporto para a Igrejinha de Fátima, onde é velado. Consternação dos milhares de candangos, engenheiros e tantos outros pioneiros da epopeia de Brasília.

O sepultamento ocorre no dia 17, pela manhã. Cuida o pessoal da Novacap de abrir uma via de acesso à área destinada a ser o Cemitério da futura Capital, que se denominará Campo da Esperança, no final da Asa Sul. Joffre Parada comanda a obra.

Um ano depois da perda de Bernardo Sayão, os pioneiros do Brasil Novo ultimam, em 1960, os preparativos para a grande viagem pela estrada Belém-Brasília rumo a Brasília."