Por Marcelo Nóbrega da Câmara Torres
Meu primo, professor, escritor e ensaísta Luís da Câmara Cascudo, jurista, historiador, sociólogo,
antropólogo, etnólogo, etnógrafo, folclorista (o maior do mundo,
conhecia todos os folclores), poeta, tradutor, é o mais ilustre
intelectual da minha família, mesmo existindo outros como Dom Hélder
Câmara (no limiar da santidade, como outro ancestral meu, este pelo lado
materno, Sto. Antônio de Lisboa, na vida civil Fernando de Bulhões),
meu pai, José Augusto da Câmara Torres e Aprígio Câmara. Pelo lado
materno, Janúncio da Nóbrega e Dom Eugênio de Araújo Sales.
Para
Jorge Amado, Cascudo foi "o brasileiro mais importante do Século XX";
para Drummond, "o mais erudito e sábio dos brasileiros" do seu tempo. A
frase cunhada por um publicitário, não sei se do Nordeste ou aqui do
Rio, foi de uma felicidade extraordinária: "Câmara Cascudo, o Homem que
descobriu o Brasil".
Deixou quase duzentas obras publicadas, escritas na
máquina de escrever, uma velha Remington,
da qual não se desfazia. Imagine se ele escrevesse em computador.
Teríamos um mil livros desse gênio, "professor de província", como se
definia. Não quis entrar para a ABL, não quis ser Ministro da Educação,
não quis ser deputado, senador ou governador. Apenas um "estudante", que
só se interessava e trabalhava no que amava. Era Doutor Honoris Causa
das mais importantes universidades do mundo, apesar de ter feito apenas
uma viagem ao exterior, a Portugal e à África, no início da década de
1950. Humildade, erudição, sabedoria, respeito por tudo e por todos -
foram as suas marcas. Mantive, na juventude, correspondência com ele. Um
mestre, um sábio, que repetia a frase atribuída a Sócrates: "Sei que
nada sei" ("ἓν οἶδα ὅτι οὐδὲν οἶδα"), retrotradução do grego catarévussa, do qual o Braga é professor.
7 comentários:
Em 30 de dezembro de 2016, sabendo do estreito parentesco do meu ex-colega de Senado, Consultor Legislativo, Marcelo Câmara, com o grande Câmara Cascudo, escrevi-lhe um e-mail rememorando a data de nascimento de seu primo ilustre (30 de dezembro de 1898), em Natal-RN. No breve comunicado comentei ainda que ele "tinha estudado como ninguém as raízes latinas, africanas e indígenas do povo brasileiro."
Qual não foi minha surpresa quando me deparei com sua resposta, singela e definitiva, que recebi no primeiro dia do Ano Novo.
Apreciei tanto o que ele escreveu que decidi disponibilizá-lo aos leitores do Blog de São João del-Rei.
Amigo Braga,
Fiquei maravilhada, não apenas com os dados biográficos de Marcelo Câmara, como com sua resposta ao seu memorando de fim do ano passado. Adorei saber de trabalho dele a respeito de Newton Mendonça, a meu ver, um dos grandes compositores brasileiros que são deixados de lado pela mídia, não se sabe o por quê!!!! Eu tinha um grande amigo japonês, Oxima, musicólogo extraordinário, que escreveu um livro sobre a Bossa Nova, que também não entendia porque só se falava de Tom Jobim e nada de Newton Mendonça!!!! Ele ia mais longe, dizia que muitas das composições mais importantes de Jobim eram de autoria do referido mestre...
Sabemos que a mediocridade vigente não permite que talentos como o dele apareçam, mas acho que é mais do que hora de se mudar este comportamento !!! Gostaria de saber como posso conseguir o disco (ou será CD?) de Cris Delanno, com músicas deste mestre carioca.
Agradeço pelo envio desta importante informação e aguardo notícias.
Beijinhos para você e sua esposa, com o carinho da
Sonia Maria
Excelentes textos, caro amigo BRAGA. Grato!
Excelente, caro Braga.
Estive há muito tempo em São João Del Rey: fiquei apaixonado pela cidade e pelas pessoas que encontrei.
Adorei a quantidade de murais espalhados pelas ruas nas mais diversas paredes (residenciais, comerciais etc).
Abraços.
Gênio! Tenho vários livros dele.
Muito grato pelo envio do texto. Há gestos que marcam nossa história, não é? Fernando Teixeira
Caro Braga, acabo de ler, com vagar, o texto de Marcelo Câmara. Marca-o a clareza da exposição e a simplicidade no mencionar a genealogia. Há pessoas que são grandes exatamente por se colocarem pequenas. Marcelo Câmara é uma destas pessoas. Fernando Teixeira
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