Por Euclides da Cunha
I. Introdução por Francisco José dos Santos Braga
O ensaio conhecido por “A nossa Vendêa” foi originalmente publicado em O Estado de S. Paulo, em 14 de março de 1897, p. 1. Sua continuação aparece posteriormente, com outro título, ou seja, como “Canudos (Diário de uma expedição)”, escrito em 07/08/1897, publicado pelo mesmo jornal apenas em 23 de agosto de 1897, p. 1.
Aqui será reproduzido todo o texto disposto nas duas partes, como saiu publicado com a grafia de época, de acordo com o acervo de O Estado de São Paulo.
Em primeiro lugar, por que Euclides usou um título tão incomum? Se Vendêa se inicia por letra maiúscula, supostamente deve tratar-se de um topônimo, talvez não no Brasil, mas em algum outro lugar. Vendée, usada como título do ensaio por Euclides, é uma região que se revoltou contra a Revolução francesa. É um episódio da história universal que durou de março de 1793 a fevereiro de 1795, e que constituiu uma ameaça à Revolução francesa. Como bem se expressou [VENTURA, 1990, 130], o movimento rebelde da região de Vendée foi uma sublevação camponesa, de caráter realista e católico. De modo semelhante à Revolução Francesa, estaria a recém proclamada República brasileira em perigo, a partir da manipulação política do movimento de Canudos por uma conspiração monárquico-restauradora, de acordo com Euclides no seu ensaio "A nossa Vendêa": "Como na Vendêa o fanatismo religioso, que domina as suas almas ingênuas e simples, é habilmente aproveitado pelos propagandistas do Império". Daí, a expressão usada por Euclides, "a nossa Vendêa", para a guerra de Canudos.
Fonte: http://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/70057
Fonte: http://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/70057
[LINTON, 1988], no artigo intitulado “Victor Hugo, Ninety-Three (Quatrevingt-treize)” explica como surgiu essa insurreição da Vendée, França, que aqui aborda resumidamente:
“(...) A principal descrição desse movimento rebelde encontra-se na obra “Noventa e Três”, última novela de Victor Hugo, publicada em 1874, doze anos após “Les Misérables”. Embora ele tenha originalmente concebido a ideia para essa novela vários anos antes da Comuna de Paris de 1871, sem dúvida ele tinha a Comuna em mente quando escreveu a novela, sobretudo a terrível semana em maio de 1871 quando muitos milhares de insurretos foram mortos nas ruas de Paris. Hugo tinha visto as Revoluções de 1830 e 1848 em primeira mão; acreditava apaixonadamente que a causa revolucionária era justa, e que no final triunfaria. Em “Noventa e Três”, seu tema foi a primeira Revolução francesa. Sua tarefa podia ter sido mais agradável, caso tivesse ambientado sua novela em 1789, a época de franco otimismo em que, para invocar a frase frequentemente usada desde então, a França dava ao mundo “liberdade, igualdade, fraternidade e os direitos do homem”. Mas isso não foi o caminho trilhado por Hugo. Ele não fugiu do tempo, só que quatro anos mais tarde, quando a violência política, traição e terror passaram à frente do idealismo primitivo. Tomou como tema um dos momentos mais negros da Revolução: as guerras revolucionárias no departamento da Vendée e na vizinha Bretanha.
Surpreendem-se os pesquisadores com o fato de que, de longe, a maior perda de vida na Revolução francesa não aconteceu em Paris, onde, exceto para as angustiantes semanas de junho e julho de 1794, relativamente poucos contra-revolucionários foram enviados à guilhotina, mas sim na guerra civil na Vendée, que começou em 1793 como uma rebelião camponesa. A população local rejeitou as demandas da Revolução, numa reação furiosa e espontânea ao recrutamento de 300.000 homens à batalha contra os exércitos estrangeiros que tinham atravessado as fronteiras francesas. Tanto camponeses na Vendée quanto chouans na Bretanha se engajaram numa campanha tipo guerrilha contra os soldados da Revolução, usando quaisquer armas que viessem a suas mãos. (...)
A história pessoal de Hugo estava ligada à história traumática da Vendée, pois seus pais se envolveram no conflito, embora em lados opostos. Sua mãe provinha de uma família burguesa bretã, originalmente de Nantes, uma fervorosa monarquista e católica devota. O pai de Hugo era um soldado de carreira proveniente de uma família de militares; em 1793, com vinte anos de idade, conduziu um batalhão contra os insurretos na Vendée. Os pais de Hugo se encontraram em 1796 e se casaram no ano seguinte, embora cada um por seu lado mantivesse suas opiniões sobre política, diferindo muitas vezes, o que deve ter sido desconfortável para Hugo e seus irmãos. Aquelas perspectivas em choque continuaram a ressoar dentro do escritor. É este conflito interno que dá a “Noventa e Três” sua grande força: percepção de Hugo sobre os motivos dos protagonistas e sua capacidade de simpatizar com ambos os lados da divisão política: o velho mundo e o novo. (...)”
[MINEIRO, 1988], em artigo intitulado “Brasil. Antônio Conselheiro: Canudos – A nossa Vendeia”, escreve, agora, sobre o contexto brasileiro da produção de “A nossa Vendêa”:
“Antes de iniciar sua expedição pelo sertão baiano, como correspondente especial do jornal Estado de S. Paulo, Euclides da Cunha acompanhava o desenrolar dos acontecimentos da Guerra de Canudos.
Leitor atento, conhecedor arguto de inúmeros ramos da ciência, recebia as informações detalhadas dos grandes jornais do país. De acordo com o que lia, formou sólida convicção de que Antônio Conselheiro era um fanático religioso, que arregimentara as ignorantes massas sertanejas com o objetivo de restaurar a monarquia no Brasil.
O fato do Exército Republicano ter sido derrotado em duas expedições contra os revoltosos era mais uma comprovação que Conselheiro e seus sequazes estariam recebendo apoio estrangeiro de Portugal e, possivelmente, da Inglaterra.
A caminho de Canudos, Euclides da Cunha, primeiramente, travará conhecimento com o espetacular e assombroso ambiente sertanejo. Em um artigo intitulado "A nossa Vendeia", descreve em detalhes o terreno e as formações geológicas, embora ainda não conhecesse a genealogia do povo do sertão. Nas dificuldades do caminho, encontra explicações para os atrasos das forças republicanas: não poderiam ter avançado mais rápido.
Por fim compara a missão heroica do exército brasileiro, com a clássica revolução burguesa francesa. Canudos seria, portanto, "a nossa Vendeia", cidade francesa onde a população local com o apoio da Igreja Católica e da aristocracia prepara uma reação contra a revolução de 1789. Vendeia fora esmagada, Canudos deveria ter o mesmo destino. Assim como na França, seria na derrota de Canudos que a República se consolidaria no Brasil. (...)”Fonte: http://2014.kaosenlared.net/kaos-tv/42274-brasil-antonio-conselheiro-canudos-a-nossa-vendeia
40º Batalhão de Infantaria na trincheira em 1897 - Crédito: Flávio de Barros/Brasiliana Fotográfica Digital/Museu da República |
[MOREIRA, 2007, 354 pp.], em sua tese de doutorado em História intitulada “A nossa Vendéia: o Imaginário social da Revolução francesa na Construção da Narrativa de Os Sertões”, discutiu os influências do imaginário social da Revolução francesa sobre o processo de construção da narrativa da Guerra de Canudos (1896-1897), em Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha. A partir desse escopo problematizam-se algumas das relações que vinculam as narrativas históricas e os relatos imaginários no corpo da obra citada, destacando a força das imagens relacionadas à Revolução de 1789 na tessitura do enredo euclidiano.
[MOREIRA, idem, 96] considera que Euclides, ao postular as relações de identidade entre Canudos e a Vendée, desferiu um golpe fatal nos opositores da República:
[MOREIRA, idem, 96] considera que Euclides, ao postular as relações de identidade entre Canudos e a Vendée, desferiu um golpe fatal nos opositores da República:
“(...) Ao mesmo tempo em que clamava pela defesa da legalidade, (o jornalista Euclides) desqualificava os adversários do florianismo, estigmatizando-os como ‘conspiradores’, ‘perturbadores’, ‘agitadores’, ‘criminosos políticos’, ‘sediciosos’, ‘delinquentes impalpáveis’ e outras adjetivações nada lisonjeiras. Esses raciocínios simbolizavam a lógica maniqueísta que se apossou do imaginário do jovem militar, segundo a qual a oposição não passava de ‘uma aglomeração fortuita de alguns indivíduos animados de despeitos comuns.’ Certamente, o mais potente ataque desferido por Euclides contra os inimigos foi a analogia que estabeleceu entre os adversários do governo (republicano) e os camponeses católicos e realistas da Vendéia (1793-1796), que se rebelaram contra a Revolução francesa. (...)”
[MOREIRA, idem, 102] trata agora especificamente do ensaio intitulado “A nossa Vendêa”:
“(...) Envolvido por essa atmosfera de comoção nacional e ecoando a campanha de manipulação da opinião pública pelos órgãos da imprensa (fatores que mereceram a sua impiedosa crítica nas páginas de Os Sertões), escreveu um ensaio intitulado “A Nossa Vendéia”, publicado em duas partes, nas edições de 14 de março e 17 de julho de O Estado de São Paulo. No corpo desse trabalho, estabeleceu analogias entre a revolta dos camponeses da região da Vendéia, no oeste da França, e o movimento de Canudos. Assegurava que o homem e o solo justificavam a aproximação histórica expressa no título escolhido. Assim como ocorrera com as massas rurais vendeianas, o fanatismo religioso que dominava as “almas ingênuas e simples” dos sertanejos era habilmente aproveitado pelos propagandistas da restauração monárquica. Destacava que a “coragem bárbara e singular” de chouans e de tabaréus se aliava com um terreno impraticável, desfavorável às tropas republicanas francesas e brasileiras. Apesar dos percalços, vaticinava: “A República, sairá triunfante desta última prova.” A metáfora da Vendéia fazia sua segunda – e mais espetacular – aparição nos escritos euclidianos... Assim, sob a pena de Euclides, Canudos transformou-se numa usina produtora de ensaios, artigos, reportagens e telegramas. De março a julho de 1897, antecedendo ao seu envio à Bahia, escreveu, além de “A Nossa Vendéia”, seis artigos para O Estado de São Paulo. Como correspondente de guerra, fez publicar trinta e dois artigos e cinquenta e quatro telegramas, com breves notícias sobre o conflito. Ainda enviou três telegramas a Campos Sales, governador de São Paulo, reproduzidos pelo Estado. Ao todo, foram trinta e quatro artigos e cinquenta e sete telegramas sobre Canudos escritos para o periódico de Júlio Mesquita.
O ensaio “A Nossa Vendéia”, recheado de alusões e de citações referentes a cientistas, naturalistas e viajantes, tais como Karl von Martius (1794-1868), Augustin de Saint-Hilaire (1779-1853), Alexander von Humboldt (1769-1859), Joaquim Caminhoá (1836-1896) e David Levingstone (1813-1873), certamente foi decisiva para a contratação de Euclides como correspondente de guerra de O Estado de São Paulo. (...)”
[DAIBERT, 2004, 77], apud José Murilo de Carvalho, in A Formação das Almas: O Imaginário da República no Brasil, pontua que, embora não se possa falar, de fato, na existência de um único modelo francês de inspiração para a República, pois havia algumas derivações do modelo norte-americano, a verdade é que os países da América Latina apropriavam-se de elementos da Primeira e da Terceira Repúblicas francesas e empreendiam adaptações em função de interesses específicos.
O estado de espírito de Euclides a bordo do vapor Espírito Santo, em direção à Bahia, escrevendo Canudos (Diário de uma Expedição) em 7 de agosto de 1897, segundo [DAIBERT, idem, 68], era o seguinte:
“deparava-se, de um lado, com uma insurreição que, a seu ver, assolava o país, de outro percebia um governo incapaz de combater os insubordinados. Há uma missão a ser cumprida. Como um guerreiro, dirige-se à batalha. Tem consigo mesmo o compromisso de levar a civilização até a barbárie. Em suas reportagens, defende a superioridade dos ideais republicanos diante das questões pessoais (...)
Naquele momento, na visão de Euclides, os perturbadores do novo regime precisavam ser exterminados a todo custo. Vindo de uma enchente de notícias divulgadas, das quais ele mesmo constituíra-se autor, Euclides encontrava-se entusiasmado e disposto a combater os males que afligiam o novo regime. As saudades seriam superadas quando o dever fosse cumprido. O sacrifício pelo ideal era visto como mais importante do que as questões pessoais. Era a luta do bem contra o mal, visão dicotômica que também aparece como motivação para a guerra da Vendeia. É curioso perceber a proximidade de tal compreensão, nas palavras de Victor Hugo, que emite o seguinte juízo sobre o movimento francês: 'as ideias gerais odiadas pelas ideias parciais, eis aí a síntese da luta pelo progresso. Terra natal, Pátria, palavras que resumem toda a guerra da Vendeia; luta da ideia local contra a ideia universal: camponeses contra patriotas.' (HUGO, Victor, s.d., p. 102) *
* Trecho extraído de HUGO, Victor. Obras Completas. Vol XIII. Noventa e três. Tradução de Oscar Paes Leme. São Paulo: Editora das Américas, s.d.
Fonte: https://locus.ufjf.emnuvens.com.br/locus/article/view/2497
O ponto de vista de Euclides, pelo menos antes da campanha, considerava semelhantes a guerra civil na Vendée de resistência à Revolução francesa, e o levante de jagunços comandados por Antônio Conselheiro contra a República recém-instalada no Brasil. Para finalizar essa Introdução, gostaria ainda de mencionar um trecho de [VENTURA, idem, 131], onde o autor explica a sua visão acerca das mudanças de perspectiva operadas no interior de Euclides, entre 1897, quando terminou a campanha militar, e 1902, data em que foi publicado o livro Os Sertões. (Cabe salientar que esse assunto que é rapidamente abordado neste ponto deverá ser retomado e ampliado num ensaio posterior pelas óbvias implicações que deverão ser melhor analisadas.):
Fonte: https://locus.ufjf.emnuvens.com.br/locus/article/view/2497
O ponto de vista de Euclides, pelo menos antes da campanha, considerava semelhantes a guerra civil na Vendée de resistência à Revolução francesa, e o levante de jagunços comandados por Antônio Conselheiro contra a República recém-instalada no Brasil. Para finalizar essa Introdução, gostaria ainda de mencionar um trecho de [VENTURA, idem, 131], onde o autor explica a sua visão acerca das mudanças de perspectiva operadas no interior de Euclides, entre 1897, quando terminou a campanha militar, e 1902, data em que foi publicado o livro Os Sertões. (Cabe salientar que esse assunto que é rapidamente abordado neste ponto deverá ser retomado e ampliado num ensaio posterior pelas óbvias implicações que deverão ser melhor analisadas.):
“(...) A metáfora da Vendéia incorpora Canudos a uma história, a Revolução Francesa, vivida ao nível imaginário pelos republicanos brasileiros, expurgando dúvidas e incertezas coletivas quanto ao futuro nacional. A história da Revolução Francesa apresenta no Brasil de fins do século XIX um efeito mítico-ideológico enquanto estrutura fechada de perguntas e respostas, que assimila acontecimentos adversos a um horizonte em que as perguntas e as respostas já estão dadas. (...)
Em 1902, cinco anos após a extinção militar do conflito com o massacre da comunidade, publica Euclides da Cunha Os Sertões: campanha de Canudos. Nessa obra, a história da campanha de Canudos é retomada segundo uma perspectiva ensaísta e historiográfica (...) Entretanto, mais notável do que a passagem do jornalismo ao ensaísmo historiográfico é a sua denúncia da campanha como "crime", que o faz distanciar-se da metáfora da Vendéia e da ideologia liberal-republicana. Entre os artigos de 1897 e o livro de 1902, interpõe-se, com a sua cobertura "ao vivo" dos momentos finais da guerra, o contato não mediatizado pela propaganda republicana com a realidade de Canudos. Produz-se uma 'reviravolta de opinião' (W. N. Galvão) através da reversão de seu horizonte prévio de expectativas e da consequente introdução, em seu discurso, de uma diferenciação crítica frente ao republicanismo. A partir de tal diferenciação, surge em Euclides a aguda, ainda que ambivalente, consciência da especificidade da formação social brasileira em relação aos modelos e temas da "história universal". A interação entre o acontecimento Canudos e o observador-narrador Euclides da Cunha representa caso paradigmático de constituição de consciência nacional e de identidade cultural no contexto brasileiro e latino-americano. (...)”
400 jagunços prisioneiros em 1897 - Crédito: Flávio de Barros/Brasiliana Fotográfica Digital/Museu da República |
II. A nossa Vendêa
Por Euclides da Cunha
O relatorio aprezentado em 1888 pelo sr. José C. de Carvalho sobre o transporte do meteorito de Bendegó, os trabalhos do ilustre professor Caminhoá e algumas observações de Martius e Saint-Hilaire fazem com que não seja de todo desconhecida a região do extremo norte da Bahia determinada pelo valle do Irapiranga ou Vasa Barris, rio em cuja margem se alevanta a povoação que os últimos acontecimentos tornaram historica — Canudos.
Pertencente ao systema huroniano ou antes erigindo-se como um terreno primordial indefinido entre aquelle systema e o laurenciano, pela occurrencia simultanea de quartzitos e gneiss graniticos caracteristicos, o sólo daquelas paragens, arenoso e esteril, revestido, sobretudo nas epochas de secca, de vegetação escassa e deprimida, é, talvez mais do que a horda dos fanatisados sequazes de Antonio Conselheiro, o mais serio inimigo das forças republicanas.
Embora com a regularidade que lhes é inherente passem sobre elle impregnadas de humidade adquirida em longa travessia do Atlantico, na direção de noroeste, os ventos alisios — a acção benefica destes é em grande parte destruida, simultaneamente, pela disposição topographica e pela estrutura geognostica da região.
Assim é que falta a esta, talvez, correndo em direcção parallela à costa, uma alta cadeia de montanhas — destinadas na physica do globo a individualisar os climas, segundo a expressão sempre elegante de Humboldt — na qual reflectindo ascendam aquellas correntes às altas regiões aonde um brusco abaixamento de temperatura, determinado pela dilatação num meio rarefeito, origine a condensação dos vapores e a chuva.
A observação do relevo da nossa costa justifica em grande parte esta hypothese despretenciosamente formulada. De facto, terminada a magestosa escarpa oriental do planalto central do Brasil, a serra do Mar, que desapparece na Bahia, differenciada em serras secundarias, accentua-se de modo notavel para o norte a depressão geral do sólo de ondulações suaves, patenteando num ou noutro ponto apenas, sem continuidade, as massas elevadas do interior.
Por outro lado, a estructura geognostica daquela região composta em grande parte de rochas dotadas de alto poder absorvente para o calor, determina naturalmente a ascenção quasi persistente de grandes columnas de ar, ardentissimas, que dissipam os vapores ou afastam as nuvens que encontram.
Da concurrencia de taes factos, acreditamol-o, resulta provavelmente a causa predominante das seccas que periodicamente assolam aquellas paragens.
Dahi a aridez caracteristica, em certos mezes, dos sertões do norte.
Nessas quadras a relva requeimada, atravéz da qual, como unica vegetação resistente, colleam cactos flagelliformes reptantes e asperos, dá aos campos, revestidos de uma côr parda intensa, a nota lugubre da maxima desolação; o sólo fende-se profundamente, como se supportasse a vibração interior de um terremoto; as arvores desnudam-se despidas das folhagens, com excepção do Joazeiro de folhas ellipticas e coriaceas, — e os galhos que morreram ficam por tal modo seccos que, em algumas especies, basta o attrito de um sobre outro para produzir-se o fogo e o incendio subsequente de grandes áreas.
E sobre as chapadas desertas e desoladas alevantam-se quase que exclusivamente os mandacarús (cereus) silentes e magestosos; arvores providenciaes em cujos galhos e raizes armazenam-se os ultimos recursos para a satisfação da sêde e da fome ao viajante retardatario — cactaceas gigantes que revestidas de grandes fructos de um vermelho rutilante e subdividindo-se com admiravel symetria em galhos ascendentes, egualmente afastados, patenteam a conformação typica e bizarra de grandes candelabros firmados sobre o sólo...
“Então”, diz Saint-Hilaire, “um calor irritante acabrunha o viajante, uma poeira incommoda alevanta-se sob seus passos e algumas vezes mesmo não se encontra agua para mitigar a sêde. Ha toda a tristeza de nossos invernos com um céu brilhante e os calores do verão."
Sem transição apreciavel, entretanto, a estas seccas intensas e nefastas, succedem, bruscamente às vezes, as quadras chuvosas e beneficas: impetuosas correntes rolam sobre o leito de rios que dias antes ainda completamente seccos davam idéa de largas estradas tortuosas, lastradas de quartzo fragmentado e grez duríssimo, conduzindo a logares remotos do sertão.
E sobre os campos, em cujo sólo depauperado vingavam apenas bromelias resistentes e cactos esguios e desnudos, florescem o imbuzeiro (spondias tuberosa) de saboroso fructo e folhas dispostas em palmas; a jurema (acácia) predileta dos caboclos e os murungús interessantíssimos em cujos ramos tostados e sem folhas desdobram-se como flâmulas festivas grandes flores de um escarlate vivissimo e deslumbrante.
“O ar que então se respira”, diz o illustre professor Caminhoá, “tem um aroma dos mais agradaveis e esquisitos. Uma temperatura de 16° a 18° à noite e pela manhan obriga a procurar agasalho aos que poucos dias antes dormiam ao relento e com calor. As aves que tinham emigrado para as margens e lugares proximos dos rios e mananciais voltam a suas habitações. Foi ali que compreendemos quanto é bem dado aos papagaios o nome específico de festivus. Com efeito, quando chegam os bandos destas aves a gritarem alegremente, acompanhadas de um sem número de outras, começam logo a se animar aquelas paragens e como que a natureza desperta.
Então, o sertanejo é feliz e não inveja nem mesmo os reis da terra!”
Como se vê naquella região, intermitentemente, a natureza parece oscillar entre os dois extremos - da maravilhosa exuberancia à completa esterilidade. Este último aspecto, porém, infelizmente, parece predominar.
A este inconveniente allia-se um outro, derivado da disposição geral do terreno. Assim é que de todo contraposta à topographia habitual dos nossos campos do sul —ligeiramente ondulados e descambando em suaves declives para os innumeros vales que os rendilham, caracterizam-se aquelles pelas linhas duras e incisivas das fundas depressões, terminando os taboleiros bruscamente em escarpas abruptas, separando-se os serros por desfiladeiros estreitos, flanqueados de grotas cavadas a pique...
Com muito maior intensidade que no sul observa-se alli a acção modificadora dos elementos sobre a terra.
Nos logares em que a acção mechanica das aguas determinando uma erosão mais energica faz despontar a rocha granitica subjacente, observa-se quasi sempre um phenomeno interessante. Esta ultima apruma-se, largamente fendida em direcções quasi perpendiculares dando a illusão de lanços collossaes e semi-derruidos de cyclopica muralha, nos quaes as lagens enormes dispõem-se as vezes umas sobre outras, com admiravel regularidade. Este facto, largamente observado por Levingstone nas baixas latitudes africanas, traduz a inclemencia do meio.
Patentea a alternativa persistente do calor dos dias ardentissimos e o frio da erradiação nocturna de onde resulta a disjuncção da rocha em virtude deste jogo perenne de dilatações e contracções.
Estes rudes monumentos, aos quaes não se equiparam talvez os dolmens da Bretanha, quebram em grande parte a monotonia da paizagem avultando, solemnes, sobre o plano das chapadas...
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É sobre estes taboleiros recortados por innumeros vales de erosão, que se agitam nos tempos de paz e durante as estações das aguas, na azafama ruidosa e alacre das vaquejadas, os rudes sertanejos completamente vestidos de couro curtido — das amplas perneiras ao chapéo de abas largas — tendo a tiracolo o laço ligeiro a que não escapa o garrote mais arisco ou rez alevantada e pendente, à cinta, a comprida faca-de-arrasto, com que investe e rompe intrincados cipoaes.
Identificados à propria aspereza do sólo em que nasceram, educados numa rude escola de difficuldades e perigos, esses nossos patricios do sertão, de typo ethnologicamente indeffinido ainda, reflectem naturalmente toda a inconstancia e toda a rudeza do meio em que se agitam.
O homem e o sólo justificam assim de algum modo, sob um ponto de vista geral, a approximação historica expressa no titulo deste artigo. Como na Vendêa o fanatismo religioso, que domina as suas almas ingenuas e simples, é habilmente approveitado pelos propagandistas do Imperio.
A mesma coragem barbara e singular e o mesmo terreno impraticavel alliam-se, completam-se. O chouan fervorosamente crente ou o tabaréo fanatico, precipitando-se impavido à bocca dos canhões que tomam a pulso, patenteam o mesmo heroismo morbido diffundido numa agitação desordenada e impulsiva de hypnotisados.
A justeza do parallelo estende-se aos proprios revezes soffridos. A Revolução franceza que se apparelhava para luctar com a Europa, quasi sentiu-se impotente para combater os adversarios impalpaveis da Vendêa - heróes intangiveis que se escoando celeres atravez das charnecas prendiam as forças republicanas em inextrincavel rêde de ciladas...
Entre nós o terreno, como vimos, sob um outro aspecto embora, presta-se aos mesmos fins.
Este parallelo será, porém, levado às ultimas consequencias. A Republica sahirá triumphante desta ultima prova.
EUCLYDES DA CUNHA
Fonte: acervo de O ESTADO DE S. PAULO, edição de 14 de março de 1897, p. 1.
CANUDOS
(Diario de uma expedição)
Depois de quatro longos dias de verdadeira tortura subo pela ultima vez à tolda do vapor na entrada bellissima e arrebatadora da Bahia.
Não descreverei os incidentes da viagem, vistos todos atravez do inconcebivel mal estar, desde o momento emocionante da partida em que Bueno de Andrada e Teixeira de Souza — um temperamento feliz, enérgico e bom, e uma alma austera de philosopho — representaram em dois abraços todos os meus amigos de S. Paulo e do Rio, até o seu termo final, nas aguas desta historica paragem.
Escrevo rapidamente, direi mesmo vertiginosamente, acotovellado a todo o instante por passageiros que irradiam em todas as direcções sobre o tombadilho, na azafama ruidosa da chegada, atravez de um côro de interjeições festivas no qual meia duzia de linguas se amoldam ao mesmo enthusiasmo. É a admiração perenne e intensa pela nossa natureza olympica e fulgurante, prefigurando na extranha magestade a grandeza da nossa nacionalidade futura.
E, realmente, o quadro é surprehendedor.
Affeito ao aspecto imponente do littoral do sul onde as serras altissimas e denteadas de gneiss recortam vivamente o espaço investindo de um modo soberano as alturas, é singular que o observador encontre aqui a mesma magestade e a mesma perspectiva sob aspectos mais brandos as serras arredondando-se em linhas que recordam as voltas suavissimas das volutas e affogando-se, perdendo-se no espaço, sem transições bruscas numa diffusão longinqua de côres em que o verde-glauco das mattas se esvae lentamente no azul purissimo dos ceus...
A ilha de Itaparica, à nossa esquerda e na frente, ridente e envolta na onda illuminada e tonificadora da manhan, desdobra-se pelo seio da Bahia, revestida de vegetação opulenta e indistincta pela distancia.
O mar tranquillo como um lago banha, à direita, o aspero promontorio sobre o qual se alevanta o pharol da Barra, cingindo-o de um sendal de espumas. Em frente avulta a cidade, derramando-se, compacta sobre immensa collina, cujos pendores abruptos reveste, cobrindo a estreita cinta do littoral e desdobrando-se, immensa, do forte da Gambôa a Itapagipe, no fundo da enseada.
Vendo-a, deste ponto com as suas casas ousadamente aprumadas, arrimando-se na montanha em certos pontos, vingando-a em outros e erguendo-se a extraordinaria altura, com as suas numerosas egrejas de torres esguias e altas ou amplos e pesados zimborios,
que recordam basilicas de Bysancio — vendo-a deste ponto, sob a irradiação, clarissima do nascente que sobre ella se reflecte dispersando-se em scintillações offuscantes, tem-se a mais perfeita illusão de vasta e opulentissima cidade.
O Espirito Santo scinde vagarosamente as ondas e novos quadros apparecem. O forte do Mar — velha testemunha historica de extraordinarios feitos — surge à direita, bruscamente, das aguas, imponente ainda mas inoffensivo, desartilhado quasi, mal recordando a quadra gloriosa em que rugiam nas suas canhoeiras, na repulsa ao hollandez, as longas colubrinas de bronze.
Corro os olhos pelo vapor.
Na proa os soldados que trazemos accumulam-se, saudando, enthusiastas, os companheiros de S. Paulo, vindos hontem, enchendo litteralmente o Itupeva, já ancorado.
A um lado, alevanta-se, firmemente ligado ao reparo solido, um sinistro companheiro de viagem — o morteiro Canet, um bello specimen da artilheria moderna. Destina-se a contraminar as minas trahidoras que existem no sólo de Canudos.
Embóra sem a pólvora apropriada e levando apenas sessenta e nove projecteis (granadas de duplo effeito e schrapnells), o effeito dos seus tiros será efficacissimo. Lança em alcance maximo util trinta e dois kilos de ferro, a seis kilometros de distancia. Acredito, entretanto, difficillimo o seu transporte pelas veredas quasi impraticaveis dos sertões. São duas toneladas de aço que só attingirão as cercanias da Méca dos jagunços atravez de esforços inconcebiveis.
Maiores milagres, porém, tem realisado o exercito nacional e a fé republicana.
A disposição entre os officiaes é a melhor possivel.
A saudade, immensa e indefinivel saudade dos entes queridos ausentes, desce, às vezes, profunda, dolorosissima e esmagadora sobre os corações: as frontes annuviam-se; cessam bruscamente as palestras em que se procura afugentar tristezas numa guerrilha adoidada de anecdotas; um pesado silencio paira repentinamente sôbre os grupos esparsos; o coração batendo febrilmente nos peitos, perturba o rythmo isochrono da vida — e os olhares, velados de lagrymas, dirigem-se anciosamente para o Sul... Ao mesmo tempo, porém, como um antidoto energico, um reagente infallivel, alevanta-se, ao Norte, o nosso grande ideal — a Republica — profundamente consolador e forte, amparando vigorosamente os que cedem às máguas, impellindo-os à linha recta nobilitadora do dever.
E reagem.
Eu nunca pensei que esta noção abstracta da Patria fôsse tão ampla que, traduzindo em synthese admiravel todas as nossas affeições, pudesse animar e consolar tanto aos que se afastam dos lares tranquillos demandando a agitação das luctas e dos perigos. Comprehendo-o, agóra.
Em breve pisaremos o sólo onde a Republica vae dar com segurança o ultimo embate aos que a perturbam.
Além, para as bandas do occidente, em contraste com o dia brilhante que nos rodeia, erguem-se, agóra, por uma coincidencia bizarra, cumulos pesados, como que traduzindo physicamente uma situação social tempestuosa. Surgem, erguem-se, precisamente neste momento, do lado do sertão, — pesados, lugubres, ameaçadores...
Este facto occasional e suggestivo prende a attenção de todos. E observando, como toda a gente, as grandes nuvens silenciosas que se desenrolam longinquas, os que se destinam àquellas paragens perigosas sentem com maior vigor o peso da saudade e com maior vigor a imposição austera do dever.
Nem uma fronte se perturba, porém.
Que a nossa Vendêa se embuce num largo manto tenebroso de nuvens, avultando além como a sombra de uma emboscada entre os deslumbramentos do grande dia tropical que nos alenta. Rompel-o-á, breve, a fulguração da metralha, de envolta num scintillar vivissimo de espadas...
A Republica é immortal!
Bordo do Espirito Santo, 7 de agosto de 1897.
EUCLYDES DA CUNHA
Fonte: acervo de O ESTADO DE S. PAULO, edição de 23 de agosto de 1897, p. 1.
BIBLIOGRAFIA
DAIBERT JR, Robert: Canudos como a Vendéia brasileira? Ou os embates da consciência revolucionária republicana nas "leituras" euclidianas de Hugo e dos sertões baianos. Locus, Juiz de Fora, v. 10, nº 1, p. 65-77, 2004.
LINTON, Marisa: Victor Hugo, Ninety-Three (Quatrevingt-treize), Kingston University, 1988, disponível na Internet.
MINEIRO, R.: Brasil. Antônio Conselheiro: Canudos – A nossa Vendeia, 1988, disponível na Internet.
MOREIRA, Raimundo Nonato Pereira: A nossa Vendéia: o Imaginário social da Revolução francesa na Construção da Narrativa de Os Sertões, tese de doutorado em História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, 2007, 354 p.
VENTURA, Roberto: "A nossa Vendéia": Canudos, o mito da Revolução francesa e a formação de identidade cultural no Brasil (1897-1902), Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, SP, 31:129-145, 1990
8 comentários:
Tenho o prazer de dar continuidade à série de trabalhos que pretendo publicar no Blog de São João del-Rei em homenagem a EUCLIDES DA CUNHA. Começando pelo começo, publiquei um trabalho intitulado "Primeiras poesias de Euclides da Cunha, aos 17 anos de idade" (Blog de São João del-Rei, em 19/04/2018), acompanhado de meus "Apontamentos sobre a poética de Euclides da Cunha" (Blog do Braga, igualmente em 19/04/2018).
Agora, estou publicando o ensaio de Euclides, conhecido por A NOSSA VENDÊA, publicado em 14/03/1897, ANTES de iniciar sua expedição pelo sertão baiano, como correspondente especial do jornal O Estado de S. Paulo. A continuação aparece posteriormente, com outro título, ou seja, como CANUDOS (DIÁRIO DE UMA EXPEDIÇÃO), escrito em 07/08/1897, publicado pelo mesmo jornal apenas em 23/08/1897. Aqui Euclides já iniciara sua viagem de quatro dias à Bahia a bordo do vapor "Espírito Santo" e registra suas impressões sobre suas expectativas. Finaliza-se este trabalho com essa retrospectiva em que se pode aquilatar o estado de espírito de Euclides bem como suas impressões antes de desembarcar na Bahia.
Aqui será reproduzido todo o texto disposto nas duas partes, como saiu publicado, isto é, com a grafia de época, de acordo com o acervo de O Estado de S. Paulo.
Minha contribuição veio em forma de uma Introdução aos textos de Euclides.
Em artigos futuros, veremos como Euclides se preparou para chegar ao teatro das operações militares em Belo Monte, reduto dos jagunços seguidores do fanático religioso cearense Antônio Conselheiro, místico rebelde e líder espiritual do arraial de Canudos (1893-1897).
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
Prezado Francisco,
Boa noite.
Parabéns e obrigado por esta brilhante iniciativa. Precisamos conhecer e respeitar nossa história e nossa literatura.
Fraternal abraço.
Prof. Arnaldo de Souza Ribeiro
Presidente da Academia Itaunense de Letras - AILE
Muito obrigado pela sua profícua dedicação histórico-literária.
Abraço.
Diamantino
Grato pelo envio, caro confrade Braga. Receba meu abraço amigo, extensivo à Rute. Paz e bem. Fernando Teixeira
Caro mestre e confrade Francisco.
Pela primeira vez tenho o prazer de ver uma abordagem que deixa clara, sem as peias do "politicamente correto", a mudança de opinião de Euclides da Cunha sobre os sertanejos e suas razões, em Canudos. Seu profundo e erudito estudo tinha mesmo que vir a lume. E veio, para nosso prazer e mais apurado entendimento sobre fato tão relevante de nossa história. Parabéns e continue que sua luta nos engrandece.
Alair
Caro amigo Braga
Parabéns por mais esta homenagem memorialista ao escritor Euclides da Cunha. Com mais essa contribuição o ilustre amigo dá a conhecer um pouco mais da história do nosso País e, em particular, vem exaltar a literatura brasileira através de suas refinadas e importantes pesquisas.
Devo dizer-lhe que este seu trabalho irá enriquecer, ainda mais, os meus arquivos sobre Euclides da Cunha.
Muitíssimo obrigado pelo envio.
Com um fraternal abraço,
O amigo Mario.
O título OS SERTÕES é impróprio, pois o livro focaliza apenas um pedaço do sertão da Bahia. A descrição do Brasil, que ele faz, começa do Sul do Brasil e se interrompe em Canudos, além de se restringir ao litoral. A narrativa pega só os últimos quatro ou cinco dias do cerco ao arraial de Canudos. Euclides assistiu de longe: só entrou no arraial depois de destruído. Por isso, há quem classifique o livro como obra de ficção.
Caro professor Braga.
Belíssimos apontamentos e excertos para a apreciação não apenas literária, mas político-ideológica e social das questões brasileiras.
Além disso é um momento oportuno para a reflexão, dadas as condições de exaltação política e complexos fenômenos sociais pelos quais este sofrido país uma vez mais passa e dada também a perene atualidade da obra daquele que foi um engenheiro militar, jornalista e talentoso escritor.
Cumprimentos
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