Por Evandro de Almeida Coelho
Professor aposentado,
ex-presidente da Academia de Letras de São João del-Rei
ex-presidente da Academia de Letras de São João del-Rei
“Originalmente publicado na Tribuna Sanjoanense, edição de 20 de fevereiro a 6 de março de 2018, p. 3”
Em princípios de 1967, tarde de domingo, apareceram lá em casa alguns amigos. Comentamos sobre a cidade, município recente, desmembrado de Rio Piracicaba, quinta renda do Estado, perdendo para a Capital, Juiz de Fora, Uberlândia e Ipatinga. E continuávamos com a vidinha de Monlevade perto da usina siderúrgica, Areia Preta, Vila Tanque, Baú, Pirineus, Posto, Loanda, Jacuí de Cima, Santa Bárbara e Lourdes. Carneirinhos já estava com boas lojas e pequenas indústrias.
A Associação Comercial e a Prefeitura se ressentiam da falta de comunicação com os habitantes. E ajudariam o aparecimento de um noticiário fora do jornal “Pioneiro” e da Rádio Cultura, ambos da Belgo-Mineira. Depois dessa introdução, como sabiam que dirigi um jornal e revista na Faculdade, fui convidado a organizar um jornal independente. Aceitei o convite com a condição de me informarem os assuntos a serem divulgados. Que me passassem as notícias e redigiríamos o jornal para um texto mais homogêneo.
Os fatos apareceram em páginas de caderno, blocos de anotações, pelo telefone e em encontros de rua. Fizemos uma pasta bem cheia. Prandini e eu tivemos trabalho em selecionar anotações. Isto feito, datilografei o que escolhemos. Ficou mais legível. Em uma folga do Colégio fomos a Belo Horizonte, e procuramos orientações mais seguras e técnicas do Adival Araújo, professor de redação no curso de jornalismo da minha Faculdade de Filosofia. Estava como redator-chefe do “Diário Católico”. Deu preciosos conselhos e, na parte de imprimir o jornal, ofereceu as oficinas do periódico. Um problema foi conseguir linotipos prontos. Procuramos o deputado Wilson Alvarenga. Foi conosco à Imprensa Oficial e conseguimos que fizessem os linotipos. Voltamos ao “Diário” e avisamos sobre o andamento das atividades. Faziam a paginação, mas faltava o cabeçalho. Conversamos e combinamos: Evandro, Diretor; Prandini, Redator; Randolfo, Gerente; Milton, Publicidade e Álvaro, Reportagens.
Levamos as páginas datilografadas para a Imprensa Oficial e dois dias depois fomos buscar os pesados linotipos que deixamos com o chefe das oficinas do jornal. Mais alguns dias e fomos buscar o jornal impresso “O Eco” e o distribuímos aos amigos. Ganhamos o papel dos 500 exemplares. Houve sobra de assuntos nos linotipos já prontos. Deu para fazermos o segundo e quase o terceiro número.
Evandro de Almeida Coelho com o 1º número do jornal "O Éco", de Carneirinhos-João Monlevade, MG |
Soubemos que o Deputado Aníbal Teixeira estava vendendo sua tipografia. Tipos e máquinas impressoras. Era meu conhecido entre os “plinianos” que se reuniam na casa do industrial Salustiano Pureza, fabricante de banha, para ler obras do “Chefe Nacional”. Com algum esforço o Prandini comprou a tipografia e tivemos sorte de encontrar o “Capixaba”, mecânico da Belgo e ex-tipógrafo. Passamos a imprimir o jornal: página um; depois de secar, página quatro; depois de secar, página três; depois de secar, página dois. As caixas de tipos tinham pedaços de cartolina indicando as letras. O “b”, “p”, “d” e “q” eram com pinças depois dos compositores. Nossos tipógrafos foram calouros da arte.
4 comentários:
Tenho o prazer de enviar-lhes a crônica "FAZER JORNALISMO" do historiador, jornalista, professor e grande colaborador deste blog, EVANDRO DE ALMEIDA COELHO, que brinda os leitores do Blog de São João del-Rei com um registro histórico acerca do nascimento do periódico "O ECO", cujo primeiro número saiu em maio de 1967 em Carneirinhos-João Monlevade, MG, tendo colecionado a edição de 40 números e sido a fonte e incentivo para outros jornais e revistas na cidade.
http://saojoaodel-rei.blogspot.com/2018/07/fazer-jornalismo.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
Obrigada pela publicação!
Vou compartilhar.
Cynthia
Além de interessante, essa crônica é um belo registro dessa experiência do "Eco", histórica para Carneirinhos-João Monlevade, revelando, ainda, com didatismo, algumas dificuldades da nobre missão de se fazer jornalismo.
Parabéns ao professor Evandro e grato ao amigo pela oportunidade da leitura.
Abraços,
Cupertino
Grato pelo envio do texto, confrade e amigo Braga. Fernando Teixeira
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