terça-feira, 9 de julho de 2019
POEMAS DE GUILHERME DE ALMEIDA
Por Francisco José dos Santos Braga
NOSSA BANDEIRA
Por Guilherme de Almeida
Bandeira da minha terra,
Bandeira das treze listas:
São treze lanças de guerra
Cercando o chão dos paulistas!
Prece alternada, responso
Entre a cor branca e a cor preta:
Velas de Martim Afonso,
Sotaina do Padre Anchieta!
Bandeira de Bandeirantes,
Branca e rôta de tal sorte,
Que entre os rasgões tremulantes,
Mostrou as sombras da morte.
Riscos negros sobre a prata:
São como o rastro sombrio,
Que na água deixara a chata
Das Monções subido o rio.
Página branca-pautada
Por Deus numa hora suprema,
Para que, um dia, uma espada
Sobre ela escrevesse um poema:
Poema do nosso orgulho
(Eu vibro quando me lembro)
Que vai de nove de julho
A vinte e oito de setembro!
Mapa da pátria guerreira
Traçado pela vitória:
Cada lista é uma trincheira;
Cada trincheira é uma glória!
Tiras retas, firmes: quando
O inimigo surge à frente,
São barras de aço guardando
Nossa terra e nossa gente.
São os dois rápidos brilhos
Do trem de ferro que passa:
Faixa negra dos seus trilhos
Faixa branca da fumaça.
Fuligem das oficinas;
Cal que as cidades empoa;
Fumo negro das usinas
Estirado na garoa!
Linhas que avançam; há nelas,
Correndo num mesmo fito,
O impulso das paralelas
Que procuram o infinito.
Desfile de operários;
É o cafezal alinhado;
São filas de voluntários;
São sulcos do nosso arado!
Bandeira que é o nosso espelho!
Bandeira que é a nossa pista!
Que traz, no topo vermelho,
O Coração do Paulista!
A Carta Que Sei de Cor
Por Guilherme de Almeida
E tu me escreves: – "Meu amor, minha saudade!
Há tanto tempo não te vejo: há quasi um dia;
estou tão longe: do outro lado da cidade...
Tive sonhos tão bons esta noite! Vem vê-los:
ainda estão nos meus olhos loucos de alegria.
Sabes? esta manhã cortei os meus cabelos.
Denunciavam-me tanto! E a ti também, meu poeta...
Que alívio! Tenho a sensação de haver cortado
relações com alguma amiguinha indiscreta.
Agora estamos mais a nosso gosto. Agora
o meu gosto será bem menos complicado
para pôr o chapéu, quando me for embora...
Sinto-me tão feliz! Tive um riso sincero
ao meu espelho: e esse sorriso revelou-me
que o meu único mal é este bem que eu te quero..."
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
E quando chego ao fim da carta, sinto, vejo
que a minha boca toma a forma do teu nome:
a forma que ela tem quando vai dar um beijo...
Soneto XXXII
Por Guilherme de Almeida
Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.
Fazia, de papel, toda uma armada;
e, estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada...
Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são feitos de papel, são como aqueles,
perfeitamente, exatamente iguais...
– Que os meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!
(Nós, 1917.)
O HAIKAI
Por Guilherme de Almeida
Lava, escorre, agita
A areia. E, enfim, na bateia
Fica uma pepita.
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5 comentários:
Nesta data de 9 de julho de 2019, julguei ser muito digno homenagear postumamente o poeta GUILHERME DE ALMEIDA, por suas enormes realizações artísticas, em especial a sua participação no movimento paulista iniciado em 9 de julho de 1932 e a sua produção de inúmeros poemas reverenciando este fato histórico exemplar.
Assim sendo, escrevi para o Blog de São João del-Rei algumas anotações sobre a riquíssima biobibliografia do poeta paulista, destacando pelo menos duas fases de sua vida.
POEMAS DE GUILHERME DE ALMEIDA
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2019/07/poemas-de-guilherme-de-almeida.html
MINHA CONTRIBUIÇÃO ÀS HOMENAGENS A GUILHERME DE ALMEIDA
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2019/07/colaborador-guilherme-de-almeida.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
Bom dia, Francisco
Vou te contar uma história que aconteceu comigo.
Quando eu estudava no Colégio Batista de SP, curso primário, 4. ou 5. série, fizemos um trabalho da matéria língua portuguesa, em literatura e poesia sobre Guilherme de Almeida.
Tive a ousadia de telefonar para ele e dizer que nós – 5 meninas de 10 ou 11 anos, precisávamos falar com ele!
E não é que ele nos recebeu? Fomos até sua casa da Rua Macapá no Pacaembú, que depois se tornou um espaço público e é linda.
Estava bem idoso, pois isso deve ter acontecido em 1968 ou 1969.
Ele faleceu em 69.
Fizemos uma entrevista de uma hora, ele nos serviu café com bolachinhas e nos recebeu como se fossemos grandes autoridades da área cultural de SP.
Imagino que se eu procurar vou encontrar alguma coisa relativa a esse encontro – mas minhas coisas são muitas e não sei agora onde poderia encontrar esse documento...
Foi um momento inesquecível que marcou muito minha forma de ler e entender poesia.
Sua gentileza e generosidade foram comoventes.
Abraço, tenha um bom dia
Elisa
Bom dia
Francisco.
Muito obrigado.
Diamantino Bártolo
Prezado mestre Braga,
Bom dia!
É sempre honroso para nós o descortinar de sua sabedoria e quem não te conhece perde uma oportunidade de ouro.
Sua amizade é extremamente valiosa.
Que Deus lhe conceda vida em abundancia e a sua amada Rute!
Excelente homenagem, Francisco.
Abraços,
Anderson
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