sexta-feira, 6 de março de 2020

O SEGREDO DO MEU SUCESSO


Por José Costa Duarte ("Saldanha")

Mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão, e não cansarão; caminharão, e não se fatigarão.
Isaías 40:31

I. AS PRIMEIRAS LUTAS
 
No início de 1966 eu saí do Estado do Espírito Santo, da região de Pancas, onde papai mexia com cafeicultura, como meeiro. Como eu vi que ali não tinha futuro, eu vim para Belo Horizonte. Chegando aqui, eu tinha uma irmã que trabalhava como empregada doméstica, e vi que aqui era o lugar ideal para uma pessoa trabalhadora crescer. O meu primeiro trabalho foi vender verduras; eu ia no mercado e comprava um balaio de verduras de manhã e, na companhia de dois amigos, vendíamos na região da Lagoinha, Concórdia, Renascença. Aquela região é onde tínhamos fregueses diretos. Isso não durou muito tempo. Um dia eu vinha com tanta luta para sobreviver com aquilo, pois não estava acostumado a passar fome. Da roça, de onde eu vim, as pessoas trabalham mas não passam fome, porque lá tem comida com fartura, porque a terra produz com abundância. Chegando em BH, numa cidade onde dependemos de comprar tudo, trabalhando com fome, passei um dia na porta de um restaurante na avenida Antônio Carlos, 714. Senti aquele cheiro de comida, carne de porco, pernil, lombo (até hoje sinto no ar aquele cheiro, eta comida boa, sô!). Pois é, aquele cheiro, aquele perfume daquele afogado gostoso, eu deixei aquele balaio na porta, entrei pra dentro do restaurante e perguntei se tinha algum serviço. Eu pensei: se eu arrumasse um serviço num restaurante, onde tem comida, eu iria conseguir resolver o meu principal problema, que era de me alimentar bem, e o resto seria fácil. Ali encontrei um senhor chamado Juvenil, gerente daquele estabelecimento (que no futuro passou a ser meu funcionário), e o gerente da cozinha chamado Wilson, que também veio a trabalhar comigo, até hoje está comigo; perguntei para ele se tinha uma vaga para lavar prato.

II. COMER E AINDA GANHAR DINHEIRO?
 
Quando entrei na cozinha pra lavar prato, a primeira coisa que reparei foi uma panela de arroz, aquele arroz soltinho, rapaz, eu mergulhei naquela panela de arroz, porque minha fome era louca. Olhei para o outro lado, e vi bandeja de torresmo, travessas de filé, frango, peixe, eu falei: meu Deus, eu acho que o Senhor me colocou no céu; a coisa que eu mais queria na vida era encontrar aquilo na minha frente, todo tipo de comida, e ainda me falaram que no final do mês eu ainda ia receber meio salário mínimo (pois eu era de menor, tinha 15 anos). Comer e ainda ganhar dinheirooooooo???? Quando eu vi aquele monte de comida, e ainda tinha uniforme da casa pra trabalhar, e dinheiro, eu peguei aquelas panelas e comecei a limpar. Parecia que minhas unhas eram melhores que Bombril, do que bucha de aço. Eu limpava aquelas panelas, só pensando na hora de comer aquela comidaiada toda. Eu lavava tudo rápido e bem feito. Davam 7 horas da manhã (nós trabalhávamos de 5 da tarde até 6 da manhã); na hora de ir embora, eu ia olhando pra trás, com vontade de não ir, porque morar naquela cozinha, naquele lugar que eu mais queria na vida... Eu ia embora com pesar. Ô restaurante que me ajudou na vida, restaurante Bandeirante, avenida Antônio Carlos, 714, Lagoinha. Ali, depois de dois anos que me tornei cozinheiro, ou melhor, super cozinheiro. Em dois anos e meio eu aprendi tudo e fazia folga, eu era chefe de cozinha, eu era tudo ali.

III. A VIRADA
 
Depois de algum tempo, o dono daquele restaurante, o saudoso Sr. Francisco de Avelar, abriu uma filial na Barroca, restaurante Chimarrão, e me transferiu para lá, onde eu me tornei garçom. Trabalhei dois anos e meio lá, e oito meses com um português na Savassi, no restaurante Tasca da Beira.
Em 1968, o português me mandou embora, porque ele me flagrou namorando a irmã dele; então, voltei para o Sr. Francisco. Ele estava fechando o restaurante Chimarrão, e ia ficar só com o Bandeirantes, e por isso disse que não podia me ajudar. A solução foi abrir meu próprio negócio. Decidi transferir a montagem para o Santa Inês. Lá tinha um ponto de esquina, de 36 metros quadrados, do Milton Fontes, meu amigo até hoje. Ali eu consegui montar o meu primeiro bar, em novembro de 69, seis mesas (uma, duas, três... seis mesas). No dia da inauguração, eu fui para o outro lado da rua, sentei-me na calçada, e olhando lá: Bar e Mercearia do Porto, eu falei: Meu Deus, o Senhor tá me dando o estribo para eu por o pé. Esse bar é o estribo que o Senhor está dando no início da minha vida (a pessoa vai montar no cavalo, ela põe o pé no estribo primeiro. Este bar é o primeiro pingo na minha vida. Eu vou ser um dos homens mais bem sucedidos desta cidade. Mais rico, mais famoso, mais importante desta cidade. Oh, glória a Deus! E isso realmente aconteceu.

IV. A ESCALADA DO SUCESSO
 
Não demorou e este mesmo local de 6 mesas se tornou um restaurante de 28 mesas. Rapidinho, em dois anos! Nesse lugar eu era o cozinheiro, o garçom, o caixa, o gerente, eu era tudo. Nesta época eu tinha 21 anos. Mais tarde meu irmão veio trabalhar comigo. Em 1973 abri um restaurante em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, na avenida João César de Oliveira, 2759. Ali coloquei toda minha família. Em 1978 construí o prédio da Cidade Nova, com quatro andares, e montei uma loja grande, e considero que era um dos melhores restaurantes de Belo Horizonte: uma varanda muito boa, 13 mil metros de área verde, estacionamento abundante, o subsolo com todo o conforto, sem dúvida, um show de empreendimento. Agora esta casa está completa há 40 anos, sempre com o intuito de servir nossos clientes com o maior conforto, buscando excelência no atendimento. Hoje é administrada pelo meu filho Leonardo. Estava no nosso restaurante da Cidade Nova quando apareceram quatro senhores. Disseram que estavam ali para comemorar um contrato que haviam feito para construção de estrada entre Pancas e Mantenópolis. Então liguei imediatamente para meu irmão e pedi para que ele achasse alguma fazenda à venda. Ele disse que a fazenda Fortaleza estava à venda, 500 hectares de terra, 18 nascentes de água, a 150 quilômetros da praia, 60 km do Rio Doce, maquinário e curral moderno, com doze divisórias de pastos.
Ainda em 1983 minha mãe morava na Cidade Nova e mudou para Avenida Augusto de Lima. Um dia, chegando da fazenda, fui visitá-la e ela me pediu para comprar uma pizza. Bem perto dali havia uma pizzaria muito boa, bem na esquina da Rua Rio Grande do Sul com Av. Augusto de Lima. Me impressionou o fato de estar vazia, pois era muito bem instalada, mas com pouquíssimo movimento. Pedi a pizza e comecei a conversar com um garçom: 
Esta casa é tão boa, por que está tão vazia?
Ele me disse:
Esta casa não está dando movimento, não. Não deu certo, vive assim.
Eu dei um cartão para ele, e pedi que entregasse aos donos. Se eles quisessem, poderiam me procurar que eu me interessaria em adquiri-la. Peguei a pizza, fui pra casa de minha mãe. No outro dia, às 9 da manhã, os dois donos da pizzaria estavam lá no meu restaurante querendo vender a casa. Ela se chamava Pizzaria Florence. Troquei a placa para Pizzaria do Porto. Aproveitei alguns funcionários bons, os outros dispensei e montei uma equipe forte, com marketing e tudo. A casa encheu e nunca mais esvaziou. É uma supercasa que temos até hoje.
Ainda em 1983 nós compramos outra fazenda em Vila Verde. No mesmo ano compramos também a Fazenda do Porto, na cidade de Pancas-ES, onde plantamos 800 mil pés de café, e depois chegamos a mais de um milhão de pés. Ali nós construímos casas, curral, laticínio, fazendo uma estrutura formidável na fazenda. Ali tivemos também uma casa de beneficiamento, compra e venda de café. Nesse período eu passei a criar cavalo Manga-larga Marchador, criar gado zebu, e fui presidente da associação, com escritório aqui e em Uberaba. Também em 1983 comprei uma fazendo no Alto Pancas, divisa com Minas Gerais, onde plantei café e eucalipto. Logo após, comprei uma propriedade no município de Resplendor. Colhemos ali um café nobre, tipo orgânico, que ofereço aos nossos clientes dos restaurantes.
Em 1984, fui ao Departamento de Trânsito resolver um problema de um documento e, passando pela esquina da Rua Espírito Santo com Rua Aimorés, vi uma casa muito bonita, e encontrei um ex-funcionário meu trabalhando nela. Parei à porta pra conversar com ele e disse ao meu ex-funcionário:
Olha, estou vendo que o ponto aqui é muito bom, mas a casa está mal instalada. Veja aí com o dono se ele não quer me passar este ponto.
Ele me respondeu:  
Tenho certeza que ele vende.
Não demorou muito, fechei o negócio. Ele me entregou a chave e disse:
Toma, assume a construção e as dívidas; a casa é sua. Gastei oito meses investindo na casa, reformei-a toda, e se tornou a melhor casa de todos os tempos.



"Saldanha" e Francisco Braga, amigos para sempre, no 
"Restaurante do Porto. O Porto do Bacalhau",  estabelecimento na rua Espírito Santo, 1507, em Lourdes-BH
Eu mesmo a administro, moro ao lado dela e tenho por ela o maior carinho. Formei uma super-equipe que trabalha comigo há anos. Hoje tenho vários funcionários com mais de 20 anos que trabalham comigo. Em 1985 abrimos a Cervejaria do Porto, na rua Espírito Santo, 1507, no bairro de Lourdes, onde estamos até hoje. Ainda em 1985 abrimos uma Pizzaria na avenida Álvares Cabral com Espírito Santo, uma casa muito boa. No mesmo ano abrimos no quarto andar do Central Shopping uma casa para quase 1.000 pessoas. Em 1988 abri um comércio de compra e venda de café.
Em 1989 abri o Laticínio do Porto. Começamos com 1.200 litros de leite e logo chegamos a 10.000 litros de leite por dia. Ali fabricávamos mussarela, parmesão, provolone, requeijão, iogurte, doce de leite, manteiga e ricota. Esses produtos eram de alta qualidade e, além de fornecer às três pizzarias que tínhamos em Belo Horizonte, fornecíamos para empresas nos municípios do Espírito Santo, além de Vitória, Nordeste, Rio de Janeiro, entre outras localidades. Depois disso veio a crise, por causa da abertura no período Collor para produtos do Paraguai, Uruguai e Argentina, de onde vieram produtos muito baratos, e acabamos por fechar o laticínio. Também em 1989 entrei como sócio da Boate Ubibene, na Savassi. Quando vi a mudança na economia, no período Collor, resolvi reduzir tudo e ficar com três casas nobres, que possuímos até hoje.
E hoje, com 72 anos de idade, ter todas essas coisas é um grande privilégio. Sinto-me agraciado por Deus, que me proporcionou tudo isso. Estou com saúde, minha família toda tem saúde. Deus me agraciou com uma super-esposa que é a ELIZABETHE, que me deu um filho maravilhoso que é o JOSÉ OSWALDO LIMA DUARTE. Minha ex-esposa está muito bem, feliz, e temos três filhos maravilhosos:
Valéria tem 2 filhos: Giovanna e Davi
Marcos Paulo tem 2 filhos: João Lucas e Rafael
Leonardo tem 3 filhos: Sara, Gustavo e Bernardo.
Temos fazendas que produzem café, eucalipto e gado Nelore em Pancas, Alto Pancas-ES e Resplendor-MG.

V. A MAIOR HERANÇA
 
Tive uma mudança fantástica quando meus filhos se formaram e começaram a empreender junto comigo. Marcos Paulo se formou em engenharia civil, incrementando nossos empreendimentos neste setor. Leonardo, formado em Veterinária, além de estar preparado para conduzir nossas fazendas, hoje dirige o restaurante da Cidade Nova. Valéria, formada brilhantemente em administração de empresas, hoje dirige a Pizzaria do Porto no Barro Preto. Hoje digo aos meus filhos:
Se precisasse, eu faria tudo de novo. O sucesso vale a pena.

VI. A MELHOR RECEITA DO MUNDO
 
Um ser humano, com muita motivação e muita fé, infalivelmente será bem sucedido. ESSA É A RECEITA DE SUCESSO QUE EU APLIQUEI EM MINHA VIDA! Tudo isso não seria possível se não fosse a fé em Deus Pai, no seu filho Jesus Cristo, e no Espírito Santo, e o manual que é a Bíblia Sagrada.

VII. A MAIOR GRATIDÃO
 
Só tenho que agradecer a Deus, à minha família, em especial a meus filhos, à minha mãe, que tem 100 anos, e que sempre me sustenta com suas orações, à minha equipe de trabalho, a todos os que direta ou indiretamente me ajudaram a alcançar todo este sucesso.
Quero agradecer ao povo de Belo Horizonte, aos mineiros, ao povo de Pancas, no Estado do Espírito Santo, a todos meus amigos, clientes e fornecedores.
Agradeço em especial ao Vereador Professor Wendel Mesquita por nos honrar com este Título de Honra ao Mérito.
Agradeço aos Vereadores de Pancas pelo Título de Cidadão Honorário de Pancas-ES. Peço a Deus, em nome do Senhor Jesus, que os abençoe e toda sua família, sua carreira política e seu trabalho. 
 

 
Agradeço ao Vereador Sérgio Ferrara por nos honrar com o título de Cidadão Honorário de Belo Horizonte. Eu me sinto tão feliz e honrado pelo reconhecimento, que me faltam palavras para agradecer.
 
 
Agradeço aos pastores Drumond Moreira, Márcio Valadão, Arlênio, Antônio Cirilo, Cornélio Augusto, que me ajudaram a crescer espiritualmente.
Agradeço à minha família, à minha ex-esposa, mãe de meus maravilhosos filhos Valéria, Marcos Paulo e Leonardo.
Agradeço aos funcionários das fazendas.
Agradeço a Deus pelo meu irmão Azemir (in memoriam), ao meu irmão Salvador Duarte (Dodô), às minhas irmãs, sobrinhos e sobrinhas, e a todos.
Não tenho palavras para agradecer a Deus pela minha maravilhosa esposa Bete, que me deu um filho, José Oswaldo, essa jóia preciosa que tem 6 anos, e que veio para completar totalmente a minha vida. Hoje eu e a Bete somos muito felizes: ela é a mulher virtuosa que Salomão descreveu em Provérbios 31.

Um comentário:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

O "Saldanha" (JOSÉ COSTA DUARTE) do Restaurante do Porto na Rua Espírito Santo em BH é a pessoa de sucesso que o Blog de São João del-Rei hospeda nesta oportunidade, trazendo sua receita de sucesso. Esta casa é nosso "porto seguro" na capital mineira, onde tradicionalmente comemos nossa posta de bacalhau grelhada com arroz de Braga, regada com um bom vinho português. Não rejeitamos nunca a entrada de pelo menos quatro bolinhos - de bacalhau também, uma especialidade da casa, segredo que ele guarda a sete chaves.
Somos acolhidos como membros de sua grande família com grande e afetuoso abraço e alegria. Sentamo-nos à mesa do "chefe" com sua esposa Bete e seu filhinho José Oswaldo e me sinto em casa. Quando eventualmente vamos lá à noite, ele pede que um garçon nos acompanhe até o hotel, porque, segundo ele, "nunca se sabe quando virá um ladrão na noite".
"Quem tem um amigo encontrou um tesouro", saio pensando após o regalo e muitos casos ouvidos. "Aprendi mais uma vez como fazer sucesso, conquistar amigos e influenciar pessoas", penso ao me despedir do Saldanha, ainda observando-o aproximar-se de cada mesa sem distinção de pessoas e com a mesma afabilidade com que fomos acolhidos.

https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2020/03/o-segredo-do-meu-sucesso.html

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei