Por Celina Maria Braga Campos
JOSÉ DA SILVA BRAGA (“Nhonhô” Braga): ✰ São Sebastião da Vitória, 14/07/1890 - ✞ São João del-Rei, 19/11/1965 |
Há muitos anos meu avô morreu. Morreu mas se tornou para mim um tipo inesquecível.
O tempo, os sofrimentos da vida levaram sua aparência jovem. Era um velho magro e tinha os cabelos esbranquiçados. Seu andar era lento. Era calmo, bondoso e alegre.
Pela manhã, bem cedo, êle buscava nosso pão, coava nosso café e nos servia. Nós éramos pequeninos.
Gostávamos muito de ouvir suas histórias, cantar suas canções.
Nas nossas doenças, lá estava êle para nos acalmar com sua bondade e sua paciência. Quantas vêzes me pagou para que eu tomasse uma injeção!
Nós morávamos muito perto. À noite, quando Papai e Mamãe saíam, êle ficava conosco.
Já cansado, com sono, pela luta de um dia inteiro, ainda contava-nos histórias. Só adormecíamos depois de ouví-las. E eram sempre as mesmas... Nunca nos cansávamos!
Um dia êle adoeceu. Fraco, decadente, tristonho, lembro-me dêle assentado junto ao nosso portão.
E quanta saudade tenho de ouvir-lhe a voz, de poder beijar-lhe as mãos!
Em novembro, numa tarde linda, êle partiu. Morto, naquele caixão, só deixou conosco muita saudade e a lembrança daqueles dias maravilhosos.
Eu sabia que jamais voltaria, mas êle tornara-se para mim um tipo inesquecível.
11 comentários:
CELINA MARIA BRAGA CAMPOS compartilhou comigo um texto de sua autoria intitulado MEU TIPO INESQUECÍVEL, guardado durante 52 anos, em que relata seu carinho e gratidão por nosso avô paterno José da Silva Braga ("Nhonhô" Braga), que estaria completando 130 anos hoje, data do seu aniversário.
Em 1968, como aluna do Curso Colegial do Colégio Nossa Senhora das Dores em São João del-Rei, sua professora de Português, Ir. Maria, pediu à classe fazer uma redação com aquele título.
O Blog de São João del-Rei tem o prazer de publicar seu texto com as impressões da autora que ficaram gravadas em sua memória, aliadas a profundos sentimentos de carinho e gratidão por nosso avô, fruto de sua convivência com ele durante 15 anos.
N.B. Avaliação da professora Ir. Maria: nota 100.
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2020/07/meu-tipo-inesquecivel.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
Muito lindo o texto da Celininha, não conheci o Vô, qdo nasci ele já tinha falecido, e c/ esse texto posso saber mais um pouco dele.
Que lindo! Emocionante. Retratou muito bem o vô.
Lindo texto! Uma preciosidade, Celininha. Obrigada. Suas palavras expressam bem esse nosso avô e me levaram de volta àqueles tempos, àquelas manhãs na copa, o vô servindo nosso café... guardo vagas lembranças na memória, mas as tenho no coração. De mãos dadas comigo, me levando até o Largo do Rosário, ao ponto do ônibus que nos levava ao Jardim Bárbara Heliodora. Saudades!
Que legal! Não o conheci, mas lendo o texto, por sinal muito bem escrito, a gente imagina o quanto ele era querido.
Obrigado por partilhar!
Abração pra você e Rute.
Caríssimo amigo Braga, quanta evocação sublime nesse texto "Meu Tipo Inesquecível" da lavra da Sra. Celina Braga. Creio que conheci a autora, Celina. Morava numa casa situada na esquina de uma Travessa no Largo do Rosário, ao lado do Mosteiro que, por primeiro, ali se instalou. Amiga de meus irmãos Luzia e Benigno, honrava-me lendo o Boletim Informativo e Cultural, de minha lavra, do Comando Militar do Oeste, Capelania Militar.
Visitei-a, algumas vezes. Aluízio Viegas, inesquecível, certa vez, contou-me da pujante atuação de Celina, na Paróquia do Pilar, ardente defensora do pio e sábio Monsenhor Paiva.
No entanto, nos nossos diálogos ficava patente: eu vibrando com o carisma carmelita (Forte de Coimbra) e Celina com o belíssimo carisma franciscano!
Caro e precioso amigo, você, também, quando dos nossos diálogos, quando eu morava em São João del-Rei, com carinho, respeito e admiração você me falava do seu avô! Do fogão de manhã cedo, do café... e das suas conversas! Conheci e amei seu avô cuja personalidade carismática me foi apresentada nas suas sábias e ternas palavras!
Forte e fraterno abraço,
José Lourenço Parreira
Elizabeth dos Santos Braga
Queridos Franz e Celininha,
gostei muito dessa postagem, do lindo texto produzido em 1968 durante a aula da Ir. Maria e das fotografias.
De tanto ouvir contar sobre o Vô Zé que faleceu dois anos antes do meu nascimento, parece até que o conheci. Vocês, irmãos mais velhos, e a Mamãe, principalmente, falaram tanto dele a minha vida toda!... Coisas boas sempre, do seu carinho e zelo para com os netos (chamava o Nando de Mô Nego, por ex.) e para com o casal, o que é bem retratado na redação. E de suas histórias!
Mamãe falava muito do querido sogro, que subiu com ela ao altar da Matriz, pois seu pai já havia falecido quando se casou.
E como Papai se parecia com ele! Nessa foto, está registrado o mesmo jeito paciente, as mãos cruzadas...
Na minha imaginação: saudades do Vô!
Parabéns, Celininha!
Beijos,
Bethinha
Caro professor Braga;
Texto adorável e de um valor histórico que duplicou! Uma bênção vocês terem tido a oportunidade de conviver com os avós.
Obrigado e parabéns à irmã e à família.
Cupertino
Boa noite, Celina!
Texto cheio de sentimento!. Muito bonito.
Preciso manter contato com você ou com Francisco José, fim pesquisa que faço na área cultural e envolve a cidade de São João del Rey. Meu whatsApp: (83) 9.9971-0419. e-mail: romulocn@gmail.com
Agradeço.
Hoje, dia 14 de julho é aniversário do Vô Zeca.
Em outubro de 1968, três anos após sua morte, no Colegial, a Ir Maria, minha professora de Português nos pediu para fazer uma redação com o título: "Meu tipo inesquecível" e eu falei do Vô. Guardei comigo nestes 52 anos. Estou dividindo com vocês esta saudade!
Que Deus o tenha e lhe pague pelo seu amor e serviço incansável que nos dispensou por longos anos!
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