Discurso pronunciado no dia 12 de outubro de 1980, em magna sessão da Academia Barbacenense de Letras, pelo Acadêmico Sebastião de Oliveira Cintra
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Sinto-me deveras feliz ao tomar posse nesta egrégia Casa da Cultura da Cidade das Rosas, na honrosa qualidade de sócio correspondente.
A distinção da escolha dos nobres Confrades visou, acima de tudo, homenagear a minha terra natal, pois, mero cronologista de S. João del-Rei, jamais vislumbrei méritos literários em meus trabalhos. Engrandecido com o galardão da imortalidade acadêmica da Nobre e Muito Leal Cidade de Barbacena, coroamento intelectual na vida de despretensioso escriba interiorano, avultam as responsabilidades do amante deste importante Sodalício Cultural, que em apenas três anos de funcionamento comprovou extraordinária vitalidade, em profícuas realizações de que todos nos orgulhamos.
Sobejam-me razões para querer bem à Barbacena e à Academia Barbacenense de Letras, afirmação que não se escuda em protocolares gestos de amabilidade.
No exercício da Vice-Presidência da Academia de Letras de S. João del-Rei, da qual sou um dos fundadores, experimentei os mais agradáveis momentos da vida acadêmica quando cooperei com entusiasmo para que ingressassem na Arcádia do berço natal da poetisa Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira vultos da envergadura intelectual de um Prof. Plínio Tostes de Alvarenga, de um poeta de sublime inspiração como o Ten. Sidnei Cunha e de um destemido jornalista, justo orgulho desta comuna, como Marinho Luiz da Rocha. As três aquisições engrandecem sobremaneira a Academia de Letras de S. João del-Rei.
Os sanjoanenses cultivamos a memória do poeta satírico Padre-Mestre José Joaquim Correia de Almeida, Patrono da Cadeira nº 1 da Academia Barbacenense de Letras, ilustrada pelo culto Acadêmico Prof. Plínio Tostes de Alvarenga. O Padre-Mestre, que encontrou glorificação em todo o Brasil e em Portugal, mercê de sua apreciável bagagem poética, vinculou-se a S. João del-Rei, tanto por seus troncos familiares, como pela afeição sempre demonstrada por tudo que se relacionava com a terra de seus avoengos. Manteve cordial amizade com o Padre-Musicista José Maria Xavier, uma das glórias da música sacra de Minas Gerais. A sanjoanense Dª Bárbara Marcelina, mãe do Pe. Correia, casou-se com o Adv. Fernando José de Almeida. Era filha do Sarg. Mor José Joaquim Correia, que faleceu em São João del-Rei, onde viveu mais de 60 anos, a 11 de maio de 1837, viúvo de Francisca Antônia de Paula, falecida em São João a 5 de outubro de 1791. Cavaleiro Professo na Ordem de Cristo, era filho de Antônio Francisco da Costa e de Izabel Maria de Jesus, nascido e batizado na Corte do Rio de Janeiro, na Freguesia da Candelária. Dª Jesuína Cândida de Paula, irmã de Bárbara, foi batizada a 4 de janeiro de 1789, na Matriz do Pilar, de São João del-Rei. Casou-se com João Pereira Pimentel, o último Cap. Mor da Vila de São João del-Rei. São pais do Prof. Aureliano Pereira Correia Pimentel, filólogo, poliglota, naturalista e Patrono da Cadeira nº 29 da Academia Mineira de Letras. Conquistou em concurso público a cátedra de Português do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. O Prof. Pimentel era parente do Padre-Mestre José Joaquim Correia de Almeida.
As mais simpáticas coincidências irmanam as duas cidades vizinhas.
O bisavô do Prof. Plínio Tostes de Alvarenga, o Major Francisco José de Alvarenga, líder inconteste da Revolução Liberal de 1842, atuou na vida política, social e econômica de São João del-Rei, onde se casou com Elisa Leopoldina Pinto de Almeida, falecida a 24 de março de 1886. Dos filhos do casal citamos o ilustre Prof. Guilherme Guilhobaldo de Almeida Alvarenga, sanjoanense nato, musicista e compositor, nascido a 30 de março de 1846, avô do nosso querido Presidente Prof. Plínio Tostes de Alvarenga.
Enviei documentação ao confrade do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Dr. Henrique Furtado Portugal, comprovando que o Côn. Francisco Fabiano de Assis Caixeta, que paroquiou Rio Preto de 1872 a 1899, nascido e batizado em Barbacena, em 1837, foi republicano histórico, tendo colaborado na imprensa de São João del-Rei.
Barbacena e S. João del-Rei palmilharam os mesmos caminhos no curso da História do Brasil. Nas dramáticas peripécias da Inconfidência Mineira, na Revolução Liberal de 1842, nas lutas pela manutenção da Independência, nos movimentos abolicionistas e republicanos, as duas cidades, pelo patriotismo de seus filhos, comungaram nos mais nobres ideais.
Em cima: Padre-Mestre José Joaquim Correia de Almeida / Em baixo: Emblema da ABL "Finis coronat opus" = O fim coroa a obra |
O emblema da Academia Barbacenense de Letras presta homenagem a um filho de São João del-Rei, simbolizado pelo braço erguido do imortal mineiro massacrado pelos tiranos que infelicitavam o Brasil. A escolha evidencia os propósitos norteadores dos ilustres membros da Casa da Cultura de Barbacena, cristalizados em incoercível vocação de engrandecer-se sempre, na predestinação histórica de participação, ativa e altiva, nos fundamentais acontecimentos da nacionalidade.
O Alferes Tiradentes resplandeceu-se na História de Barbacena, revelando sangue frio, probidade e coragem na perseguição aos salteadores que, por volta de 1783, infestavam o Caminho Novo, no Alto da Serra, roubando e chacinando os habitantes da região e os viajantes. Quando o Cel. José Ayres Gomes, mais tarde inconfidente que pagaria com o desterro seu amor à Liberdade Pátria, recebeu, por parte de Dom Rodrigo José de Menezes, Governador da Capitania, a arriscada missão de desbaratar a terrível horda de malfeitores, Joaquim José da Silva Xavier foi o auxiliar valente e dedicado que o proprietário da Histórica Fazenda da Borda do Campo encontrou para dar cabal desempenho às ordens recebidas.
Tiradentes, filho de São João del-Rei, Patrono Cívico da Nação, contribuiu para que a tranquilidade voltasse a imperar nas imediações desta localidade, o que, independentemente de sua preponderância na Inconfidência Mineira, projeta seu nome nas páginas históricas da Nobre e Muito Leal Cidade de Barbacena.
Vencidos os chacinadores do Caminho Novo, o antigo arraial, situado em posição geográfica que lhe favorecia as comunicações com os maiores centros comerciais daquela época, progrediu com rapidez, o que lhe valeu, por ato do Visconde de Barbacena, de triste memória nos anais da Conjuração Mineira, em 1791, a sua elevação à categoria de Vila. No dia 14 de setembro de 1791 a Câmara da Vila de Barbacena enviou carta à Câmara de São João del-Rei, na qual declara: "O novo Senado respeitará sempre a antiga Câmara de São João del-Rei". Esclarece, ainda, o documento: "Tal é a confiança devida a esse nobre Senado que nós ousamos, ainda, conferir com vossas mercês a arrecadação do Subsídio Literário, e outros quaisquer Direitos que a fidelidade de vassalos obriga a zelar reciprocamente". Assinaram a carta os seguintes membros do Senado da Câmara de Barbacena: José de Souza Barreto, Domingos Antônio de Azevedo, Domingos Dias Pereira e Joaquim Rodrigues de Araújo. Em 1827 a Câmara de São João del-Rei mandou celebrar solenes exéquias pelo falecimento da Imperatriz Leopoldina, tendo convidado para proferir a oração fúnebre o Revmo. Padre Antônio Marques de Sampaio, vigário da Freguesia de Barbacena.
Barbacena e São João figuraram, nobre e gloriosamente, na arrancada pela libertação da Pátria, identificando-se, mais uma vez, com elevados sentimentos; entrelaçaram, aqui e lá, anseios de sacudir o jugo lusitano que espoliava e humilhava nosso povo.
Barbacenenses, ou nascidos nas imediações de Barbacena, foram Dr. Domingos Vidal Barbosa Lage, Cel. Francisco Antônio de Oliveira Lopes, Pe. José Lopes de Oliveira, Cel. José Ayres Gomes e Pe. Manoel Rodrigues Costa, Inconfidentes que sofreram duras condenações, pelo crime de lutarem por um Brasil próspero e soberano.
No Movimento Liberal de 1842 agigantaram-se as acendradas virtudes cívicas dos habitantes desta encantadora Barbacena. A gloriosa jornada de um pugilo de bravos invade minha alma de acentuada empolgação patriótica, quando se recorda que levanto minha voz neste Palácio da Revolução Liberal, relicário de tradições de bravura e desprendimento do povo barbacenense.
Ao agradecer ao Confrade Ten. Sidnei Cunha as cativantes palavras com que se referiu à minha pessoa, repassadas de exagerados encômios, fruto de sua incomensurável bondade, faço minhas as expressões do saudoso mestre da antiga Faculdade Nacional de Medicina, Prof. Raul David de Sanson, próprias para quem ostenta na cabeça a floração dos cabelos brancos:
“A melhor recompensa é aquela que suaviza o fim da jornada e permanece em nosso coração”.
Obrigado, amigos! Obrigado, Barbacena!
10 comentários:
Tenho o prazer de anunciar que no próximo dia 04, domingo, às 10 horas da manhã, se realizará a 563ª Assembleia ordinária do IHG-SJDR, durante a qual fui convidado pelo Presidente Paulo Roberto Sousa Lima para saudar o saudoso confrade fundador SEBASTIÃO DE OLIVEIRA CINTRA, figura que está sendo homenageada neste 51º ano do IHG e patrono da Cadeira nº 37, ocupada atualmente por sua filha Profª Drª Ana Maria de Oliveira Cintra.
Para mostrar a estatura moral, o elevado conhecimento histórico e a envergadura intelectual do meu homenageando, selecionei uma de suas aparições públicas, a de sua POSSE NA ABL-ACADEMIA BARBACENENSE DE LETRAS, no dia 12 de outubro de 1980, quando, após ser saudado pelo poeta Acadêmico Sidnei Cunha, pronuncia brilhante DISCURSO enaltecendo a união histórica entre São João e Barbacena, prenunciando uma aliança ainda maior no porvir das duas comunas.
É o que lhe envio para que desfrute de um bom momento de ócio produtivo.
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2021/07/discurso-de-posse-do-academico.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
Parabéns, confrade Francisco Braga, pela reprodução de texto que demonstra a profícua capacidade do nosso fundador e patrono Sebastião Cintra de buscar, organizar e divulgar informações relevantes sobre a história de SJDR e, no caso, a relação desta com Barbacena.
Aguardo com alegre expectativa a sua saudação amanhã. Lembro que vc terá até 30 minutos para proferir esta saudação.
Com um fraternal abraço,
Paulo Sousa Lima
Parabéns do Gilberto Mendonça Teles
Parabéns, Acadêmico Francisco Braga!
Você eleva o nível da nossa AL por onde passa. Que Deus o abençoe e proteja junto à querida Rute.
Grande e saudoso mestre Cintra!!!
Caro amigo Braga
Sentimo-nos – eu e minha esposa Elizabeth – honrados pela sua gentileza ao enviar-nos o Discurso de Posse de nosso saudoso amigo, Prof. Sebastião de Oliveira Cintra, ao tomar posse na Academia Barbacenense de Letras, em outubro de 1980.
Tal Discurso reflete bem, como disse o amigo Braga, a “estatura moral, o elevado conhecimento histórico e a envergadura intelectual” deste Professor, Pesquisador e Escritor que deixou entre todos nós a marca indelével de sua enorme cultura.
Tivemos a feliz oportunidade de contar com sua bondosa amizade e invulgar inteligência, através de vários contatos com ele (iniciados em meados da década de 1980), não só em sua residência em São João del-Rei, como também através de correspondências que mantínhamos, sempre aprendendo com sua extrema generosidade, um pouco da rica história da “cidade onde os sinos falam” ...
O Professor Cintra, honra o nosso Instituto Cultural Visconde do Rio Preto como um entre os mais ilustres Membros Correspondentes.
Tivemos o privilégio de conviver com um homem raro!
Parabéns, amigo Braga, por seu constante labor cultural e literário.
Abraços, do amigo Mario.
Prezado.
Muito obrigada pelo convite tão distinto !
Já antecipo parabéns e Carlos e eu estaremos assistindo!
Nosso abraço de parabéns.
Elza
Parabéns, confrade Francisco Braga, pela iluminada escolha para homenagear o nosso confrade Sebastião de Oliveira Cintra, neste ano de 2021, a ele dedicado no IHG de São João del-Rei. Nada melhor para destacar o profundo conhecimento intelectual e histórico do merecidamente homenageado confrade Cintra. Betânia
Bom dia, caro confrade Francisco Braga!
Brilhante e relevantemente restauradora de fatos históricos a manifestação de posse do acadêmico Sebastião de Oliveira Cintra. Muito obrigado.
Caro professor Braga.
Excelente a reprodução do discurso de Sebastião de Oliveira Cintra. Referência à grandeza histórica das duas cidades, exemplo da pujança de sua memória histórica, tão bem pontuadas pelo acadêmico.
Cumprimentos.
Cupertino
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