Por IBRAHIM AYBEK *
Transcrevemos com a devida vênia do jornal DIÁRIO DE NOTÍCIAS, na coluna OPINIÃO, matéria publicada na edição de segunda-feira, 05/08/2024.
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“Lusitanyalilar” ou primeira tradução de Os Lusíadas para língua turca
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Sim, foi esta pergunta que fiz a mim mesmo quando estava a traduzir esta epopeia para turco, língua de um país muito distinto de Portugal, nem só pela distância, mas também pela cultura, religião, visão do mundo etc.... Disse por fim: ao menos leio para mim mesmo. Era essa a minha motivação para desafiar-me a fazer este trabalho.
Hoje, nos 500 anos de nascimento do criador desta obra, já fez três anos desde a sua publicação inédita em turco. Houve interesse? Não posso admitir que criou uma onda gigante de interessados. Mas também seria injusto dizer que não criou entusiasmo em camadas literárias. Tornei-me uma pessoa semiconhecida entre setores intelectuais e literários na Turquia, e, sobretudo no mundo da poesia, ganhei amizades muito valiosas da sociedade culta turca, como o poeta Adnan Özer (era amigo de José Saramago), ou o tradutor Ayçin Kantoglu (tradutor da Divina Comédia).
E, quando recebi novas propostas de tradução e edição, sempre ouvi elogios sobre a minha tradução de Os Lusíadas, e até fiquei surpreendido por esta ter chamado a atenção ao nível mais rico cultural da Turquia. Posso garantir que na Turquia, se alguém se descreve como apaixonado de poesia medieval europeia, obviamente já leu Os Lusíadas em turco, sem exceção.
Algum efeito mais em concreto?
Quando se fala de Portugal na Turquia, pela tamanha desinformação social que o mundo hoje em dia encara, não vem à cabeça mais palavras que não sejam: exploração, escravatura, colonialismo num aspeto destruidor e selvagem, ou Cruzadas. Mas acho que este livro deu lugar em língua turca, no mundo do pensamento em turco, a uma nova abordagem sobre a História dos Descobrimentos e a História de Portugal.
Hoje em dia todos sabemos que o colonialismo teve consequências muito más em relação aos Direitos Humanos em África, ninguém nega isso. Mas, em si, o colonialismo já existia antes de os portugueses chegarem à Índia ou ao sudeste da Ásia, através de comerciantes que falavam árabe, fossem eles árabes, persas ou turcos, em formas mais pacíficas, e contribuiu muito para estas terras se desenvolverem também, seja na área de comércio, também nas áreas de integração global e desenvolvimento agrícola. Descobrimentos geográficos ofereceram ao mundo uma visão muito diferente, que antigamente nunca existiu. Acho que precisamos de mais traduções da época em turco para expandir esta visão na Turquia.
E agora? Mais desafios?
O meu caráter sempre me ensinou a esforçar-me por coisas nunca ousadas, tal como os navegadores portugueses. Iniciei a tradução de Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, e completei já 30%. Procurei financiamento e não encontrei, e por falta de recursos tive de parar, mas criei um negócio para poder financiar-me a mim mesmo de modo a poder um dia completar também a tradução desta obra. Esperem, talvez saia num dia mais próximo do que se espera!
* Arquiteto, escritor, lexicógrafo e tradutor turco a viver em Portugal
2 comentários:
Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Prezad@,
Uma tradução de “Os Lusíadas” em turco está disponível a partir de 23 de novembro nas livrarias da Turquia por iniciativa de um arquiteto e diplomata que, em 2020, decidiu traduzir a epopeia de Luís de Camões.
A iniciativa foi de Ibrahim Aybek que, numa entrevista à agência Lusa, explicou que “sempre teve a ideia de traduzir Camões para turco”.
Segundo ele, vai tentar continuar a contribuir para transmitir as nossas culturas para ambos os lados, através de futuras traduções de Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, e obras de José Saramago e Fernando Pessoa, principalmente a poesia deste último, que causa fascínio na Turquia.
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2024/08/mas-quem-e-que-le-os-lusiadas-na.html 👈
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...
Caro professor Braga
Surpreende escritor! Interessante que, quando alguém se apaixona pela cultura de um país estrangeiro, o faz pelas mais elevadas e genuínas motivações espirituais. E podem perceber nuances que muitos dos próprios naturais da terra não captam.
Cumprimentos.
Cupertino
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