I. TEXTOS DO PROF. DOMINGOS HORTA ¹, diretor de O Porvir, órgão oficial do Gymnasio Santo Antonio de São João del-Rei
Domingos Horta (Itabira, 1904-São João del-Rei, 1967) - Crédito pela imagem: Colégio Nossa Senhora das Dores, quadro de formatura de normalistas em 1958 |
UMA CONVERSÃO
Por Domingos Horta
Não é preciso muito tino para o observador verificar que o Brasil vai, aos pouco e pouco, recebendo os influxos espirituais que, neste século, a despeito do mal-estar geral, ou talvez por isso mesmo, triunfarão, certamente, na consciência dos povos civilizados.
A nossa Pátria volta a espiritualizar-se. Há um renascimento religioso, falando eloquentemente no senso das massas populares e na inteligência das élites do país.
Nota-se o despertar do gôsto pelas leituras bôas e substanciosas. O brasileiro vai perdendo o mêdo de mostrar-se tal qual é: crente, virtuoso e reverente a Deus.
A Ação Católica, num trabalho construtor e pleno de benemerência, está tomando conta da alma de nossa gente, despertando-a para o Cristo, centro único da felicidade.
E o nosso povo, com os intelectuais à vanguarda, reflete finalmente; raciocina e conclue com acêrto que a Verdade está só no Cristo.
E daí essa esplêndida volta ao Cristo.
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Ontem era Paulo Setúbal, o elegante escritor paulista.
No seu Confiteor — obra de pensador e de artista — conta-nos êle o seu grande drama, a sua luta interior prenunciadora do aparecimento do Cristo em sua vida.
Outra estrada de Damasco. Outro Saulo que se transforma em Paulo... êste, porém, Paulo Setúbal...
Hoje é Otávio Mangabeira ², brilhante orador, membro da Academia Brasileira de Letras e ex-político, que se aproxima do Cristo, do qual estivera afastado desde a meninice.
Espírito perscrutador, pôs-se a analisar os fenômenos da Vida e a sua inteligência foi se aclarando: "À medida que o homem — ainda na expressão dos mais insignes que a história tem notícia — diminuía de proporções aos meus olhos, tais as fraquezas de que se ressente, uma grande figura sem par me ia, cada vez mais, enchendo o coração: Jesus Cristo".
Estudioso e, principalmente, interessado em encontrar a Verdade, corre atrás dela. Lê muito. Devora bibliotecas. Um dia, inicia a leitura dos Evangelhos.
"Li, atentamente, os Evangelhos", escreveu êle. "Comparei com a dos homens ilustres, como os de que trata Plutarco, a vida dos santos do Cristianismo..."
Neste ponto, raciocinou: "Como havemos de viver sem vida espiritual, qualquer que seja? Seria descermos ao nível dos animais irracionais".
Estava resolvida a primeira dúvida.
Equacionado o problema da vida espiritual, necessário era procurar a divindade. "Eis que desfeitas quase de todo as cinzas, que me encobriam a visão, começo a compreender, e o que mais é, a sentir, já agora na sua integridade, as maravilhosas incógnitas. Uma divindade: Jesús. Uma cartilha: o Evangelho, esclarecido pela sua Igreja, e corroborado pelos santos, quantas vezes tocados de gênio, ou coroados de espinhos".
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Transformações políticas no Brasil levaram Otávio Mangabeira à Europa, e a Graça levou-o a Lourdes, onde está a Imaculada Conceição, tal como a viu Bernadete.
No seu Confiteor — obra de pensador e de artista — conta-nos êle o seu grande drama, a sua luta interior prenunciadora do aparecimento do Cristo em sua vida.
Outra estrada de Damasco. Outro Saulo que se transforma em Paulo... êste, porém, Paulo Setúbal...
Hoje é Otávio Mangabeira ², brilhante orador, membro da Academia Brasileira de Letras e ex-político, que se aproxima do Cristo, do qual estivera afastado desde a meninice.
Espírito perscrutador, pôs-se a analisar os fenômenos da Vida e a sua inteligência foi se aclarando: "À medida que o homem — ainda na expressão dos mais insignes que a história tem notícia — diminuía de proporções aos meus olhos, tais as fraquezas de que se ressente, uma grande figura sem par me ia, cada vez mais, enchendo o coração: Jesus Cristo".
Estudioso e, principalmente, interessado em encontrar a Verdade, corre atrás dela. Lê muito. Devora bibliotecas. Um dia, inicia a leitura dos Evangelhos.
"Li, atentamente, os Evangelhos", escreveu êle. "Comparei com a dos homens ilustres, como os de que trata Plutarco, a vida dos santos do Cristianismo..."
Neste ponto, raciocinou: "Como havemos de viver sem vida espiritual, qualquer que seja? Seria descermos ao nível dos animais irracionais".
Estava resolvida a primeira dúvida.
Equacionado o problema da vida espiritual, necessário era procurar a divindade. "Eis que desfeitas quase de todo as cinzas, que me encobriam a visão, começo a compreender, e o que mais é, a sentir, já agora na sua integridade, as maravilhosas incógnitas. Uma divindade: Jesús. Uma cartilha: o Evangelho, esclarecido pela sua Igreja, e corroborado pelos santos, quantas vezes tocados de gênio, ou coroados de espinhos".
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Transformações políticas no Brasil levaram Otávio Mangabeira à Europa, e a Graça levou-o a Lourdes, onde está a Imaculada Conceição, tal como a viu Bernadete.
"C'est un doux visage
Rayonnant d'amour
Qu'entoure un nuage
Plus beau que le jour..."
Em Lourdes, no cenário mais puro da Terra, com o testemunho da Mãe de Deus, contrito, Otávio Mangabeira faz a sua primeira comunhão.
Operou-se a conversão, podendo Mangabeira escrever em "A Ordem", de onde extraí tão edificante notícia, estas afirmativas:
"... mais me defino e afervoro no amor de Jesús Cristo, meu chefe, porque me dirige, meu benfeitor, pelos benefícios sem conta que, em consciência, lhe devo, meu amigo de tôdas as horas, porque o tenho presente sempre, e que para mim — como para o soldado de Roma que o viu expirar na cruz — hoje não resta mais sombra de dúvida, — foi verdadeiramente o filho de Deus".
Fonte: O PORVIR, Ano XVI, nº 272, edição de 9 de julho de 1938.
Morreu Afonso Celso — foi a notícia lacônica veiculada, há dias, através da imprensa e das estações de rádio nacionais.
No laconismo da infausta nova eu vi, com tristeza, que o Brasil não chorou, como devera, a morte do grande varão, cópia dos de Plutarco, que se chamou Afonso Celso de Assiz Figueiredo.
Na comoção da notícia eu vi, também, a queda de um gigantesco roble da exígua floresta dos nossos valores reais.
Nunca lhe pronunciei o nome, depois de entrado em anos, que me não lembrasse do seu "Porque me ufano do meu país", êste livro cheio de brasilidade, cheio de ternura que me despertou mais entusiasmo pelo meu Brasil e que me fez grande bem, cooperando na minha formação moral.
Afonso Celso foi um bom. Um bom, um puro e um grande espírito. Católico, era filho obediente da Igreja. Confessava a sua crença. Desassombradamente. Sem respeito humano, que tal sentimento é indigno de caracteres nobres. Daí o título de Conde com que o agraciou o Santo Padre.
Homem de letras, distinguindo-se quer como diserto prosador, quer como poeta de delicada inspiração, aí estão suas obras, jóias da literatura nacional.
A Academia de Letras ³ e o Instituto Histórico e Geográfico ⁴ tiveram-no como membro dos mais conspícuos.
Professor, era-o dos mais eminentes. Mestre do Direito e professor até de... dignidade, de honradez, disciplinas só ministradas pelo exemplo de uma vida sem mácula, por um passado sem sinuosidades, cristalino como era o seu.
Foi assim o conde de Afonso Celso! Homem-paradigma. Personalidade eleita. Caráter sem jaça que nesta hora já recebeu, no Céu, o prêmio a que fez jús aqui na terra.
Fonte: O PORVIR, Ano XVI, nº 273, edição de 6 de agosto de 1938.
II. COMENTÁRIOS, por Francisco José dos Santos Braga
No presente trabalho, faço uma homenagem ao Prof. Domingos Horta, meu ilustrado mestre de História (do Brasil e Geral) e Português (língua e literatura portuguesa e brasileira), transcrevendo páginas de sua autoria em duas edições de "O PORVIR", jornal que ele diligentemente dirigiu por muitos anos. A ele devo o despertar do meu pendor para as letras e o descortinar do mundo maravilhoso da fantasia para a vida que ele imprimia em todas as suas preleções.
Cabe aqui a observação de que, nos dois textos ora transcritos, ele, como líder inconteste à frente do órgão de comunicação do Ginásio Santo Antônio, está preocupado com a formação moral da juventude, sem preocupações de ordem pedagógica.
Quando escrevi um artigo intitulado "Batalha naval de Salamina, à qual o Ocidente deve a sua existência" ⁵, tive a honra de receber inúmeros comentários importantes, dentre os quais gostaria de destacar um, da autoria de Dr. Lúcio Flávio Baioneta, escritor, conferencista e empresário, além de ilustre colaborador do Blog de São João del-Rei ⁶ e ex-aluno interno do Ginásio Santo Antônio na década de 1950, e de submetê-lo à apreciação do leitor, transcrevendo-o, em razão de ali fazer excelente caracterização do eminente Prof. Domingos Horta. Ei-lo.
"Meu prezado amigo FJSBraga,
III. NOTAS EXPLICATIVAS, por Francisco José dos Santos Braga
¹ Domingos Horta nasceu em Itabira, no dia 4 de dezembro de 1904 e faleceu em São João del-Rei em 2 de dezembro de 1967. Era filho primogênito do casal Henok Pires Horta e Maria Rosa Horta de Oliveira, sendo primo do poeta Carlos Drummond de Andrade. Ainda criança, mudou-se para Ferros, onde cursou o Primário e o Normal. Em 1922 foi nomeado para um cargo na Secretaria de Estado das Finanças. Em 1923, sentindo-se atraído pelo magistério, – a partir de então, será seu ideal de vida – ingressou no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte como professor das disciplinas Português, História, Geografia e Francês. Em 1929, casou-se com Maristela Machado. Outros fatos marcantes na vida de Domingos Horta, além dos já mencionados, é que ele escreveu artigos para o jornal "O Correio" de São João del-Rei, tendo sido vereador por mais de uma vez da Câmara Municipal dessa cidade. Nos últimos anos de sua vida, simultaneamente à sua intensa atividade docente, foi titular, por concurso, do Cartório de Registro de Títulos e Documentos, em São João del-Rei.
² Otávio Mangabeira (Salvador, 1886 - Rio de Janeiro, 1960) foi o quarto ocupante da cadeira nº 23 da ABL, que tem por patrono José de Alencar e atualmente é ocupada por Antônio Torres. Otávio Mangabeira foi eleito em 25 de setembro de 1930, mas somente veio a tomar posse em 1º de setembro de 1934, recebido por Afonso Celso.
³ Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior (Ouro Preto, 1860 - Rio de Janeiro, 1938), ou simplesmente Afonso Celso, como é mais conhecido, foi um dos trinta homens de letras que inicialmente constituíram a Academia Brasileira de Letras. Outros dez foram eleitos, posteriormente, completando a relação de 40 fundadores da ABL. Sendo sócio-fundador da ABL, Afonso Celso foi o 1º ocupante da cadeira nº 36, patroneada por Teófilo Dias e ocupada atualmente por Fernando Henrique Cardoso.
Confira o papel pioneiro de Afonso Celso ao idealizar uma Academia brasileira nos moldes da francesa:
http://www.efecade.com.br/1897-academia-brasileira-de-letras/
Confira igualmente a relação dos Acadêmicos, tanto os já falecidos desde 1897 quanto os ainda vivos:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_membros_da_Academia_Brasileira_de_Letras
Acesso em 27/06/2016.
Uma curiosidade: a última visita de Afonso Celso à ABL ocorreu na sessão de 7 de julho de 1938, portanto quatro dias antes de seu falecimento.
⁴ Em 1892, Afonso Celso ingressou no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro na qualidade de sócio efetivo. Após a morte do Barão do Rio Branco, em 1912, foi eleito presidente perpétuo desse sodalício, ou seja, até 1938.
⁵ Cf. in http://bragamusician.blogspot.com.br/2015/07/batalha-naval-de-salamina-qual-o.html
⁶ "Tempos felizes no Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei" in http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2015/05/tempos-felizes-no-ginasio-santo-antonio.html,
acompanhado de seu breve currículo in
http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2015/05/colaborador-lucio-flavio-baioneta.html
⁷ Cf. in Revista da Academia de Letras de São João del-Rei, Ano I, 2005, p. 127-136.
AFONSO CELSO
Por Domingos Horta
Morreu Afonso Celso — foi a notícia lacônica veiculada, há dias, através da imprensa e das estações de rádio nacionais.
No laconismo da infausta nova eu vi, com tristeza, que o Brasil não chorou, como devera, a morte do grande varão, cópia dos de Plutarco, que se chamou Afonso Celso de Assiz Figueiredo.
Na comoção da notícia eu vi, também, a queda de um gigantesco roble da exígua floresta dos nossos valores reais.
Nunca lhe pronunciei o nome, depois de entrado em anos, que me não lembrasse do seu "Porque me ufano do meu país", êste livro cheio de brasilidade, cheio de ternura que me despertou mais entusiasmo pelo meu Brasil e que me fez grande bem, cooperando na minha formação moral.
Afonso Celso foi um bom. Um bom, um puro e um grande espírito. Católico, era filho obediente da Igreja. Confessava a sua crença. Desassombradamente. Sem respeito humano, que tal sentimento é indigno de caracteres nobres. Daí o título de Conde com que o agraciou o Santo Padre.
Homem de letras, distinguindo-se quer como diserto prosador, quer como poeta de delicada inspiração, aí estão suas obras, jóias da literatura nacional.
A Academia de Letras ³ e o Instituto Histórico e Geográfico ⁴ tiveram-no como membro dos mais conspícuos.
Professor, era-o dos mais eminentes. Mestre do Direito e professor até de... dignidade, de honradez, disciplinas só ministradas pelo exemplo de uma vida sem mácula, por um passado sem sinuosidades, cristalino como era o seu.
Foi assim o conde de Afonso Celso! Homem-paradigma. Personalidade eleita. Caráter sem jaça que nesta hora já recebeu, no Céu, o prêmio a que fez jús aqui na terra.
Fonte: O PORVIR, Ano XVI, nº 273, edição de 6 de agosto de 1938.
II. COMENTÁRIOS, por Francisco José dos Santos Braga
No presente trabalho, faço uma homenagem ao Prof. Domingos Horta, meu ilustrado mestre de História (do Brasil e Geral) e Português (língua e literatura portuguesa e brasileira), transcrevendo páginas de sua autoria em duas edições de "O PORVIR", jornal que ele diligentemente dirigiu por muitos anos. A ele devo o despertar do meu pendor para as letras e o descortinar do mundo maravilhoso da fantasia para a vida que ele imprimia em todas as suas preleções.
Cabe aqui a observação de que, nos dois textos ora transcritos, ele, como líder inconteste à frente do órgão de comunicação do Ginásio Santo Antônio, está preocupado com a formação moral da juventude, sem preocupações de ordem pedagógica.
Quando escrevi um artigo intitulado "Batalha naval de Salamina, à qual o Ocidente deve a sua existência" ⁵, tive a honra de receber inúmeros comentários importantes, dentre os quais gostaria de destacar um, da autoria de Dr. Lúcio Flávio Baioneta, escritor, conferencista e empresário, além de ilustre colaborador do Blog de São João del-Rei ⁶ e ex-aluno interno do Ginásio Santo Antônio na década de 1950, e de submetê-lo à apreciação do leitor, transcrevendo-o, em razão de ali fazer excelente caracterização do eminente Prof. Domingos Horta. Ei-lo.
"Meu prezado amigo FJSBraga,
"(...) Tenho
comigo a mesma crença de Guimarães Rosa, que magistralmente escreveu: 'os
grandes mortos não morrem nunca, eles ficam encantados'. Meus
mestres, eternos mestres, não morreram, ficaram encantados.
Lembro-me
claramente do Prof. Domingos Horta. De seu vestir impecável, de como tirava do
bolso interno do paletó uma caneta Parker 51, cinza; em seguida abria o diário
de classe e iniciava a chamada. Finda
aquela tarefa, pedia por favor a um aluno que limpasse o quadro negro, que era
verde, assoprava o giz, abotoava o paletó e iniciava a aula como se fosse nos
ensinar uma oração.
Sou
capaz de repetir, em detalhes, a sua aula sobre Leônidas, rei de Esparta e seus
300 soldados que morreram nas Termópilas, para que o mundo pudesse ser livre.
Uma oração aos princípios da liberdade dos povos. Falava da Tessália como se
fosse o jardim de sua casa. Cantava odes a Péricles. Sou capaz de desenhar a
posição da frota grega e dos persas na épica batalha de Salamina.
'Mestre
não é quem ensina, mas quem de repente aprende', dizia o Rosa. Os
ensinamentos que ele e outros brilhantes professores do Ginásio Santo Antônio
me entregaram, acompanharam-me pela vida toda, e, agora quando os meus cabelos
se tornaram alvacentos, vejo-os nas madrugadas insones. Continuam me ensinando.
Passaram-se
60 anos. Foi ontem."
E continua:
"A
sua afirmação de que foi a batalha de Salamina que decidiu o destino da
civilização ocidental está corretíssima. Não é nenhum exagero. Eu concordo
plenamente e gostaria, se você me permitir, de salientar dois pontos:
1 —
Xerxes conseguiu vencer Leônidas na passagem dos Portões de Fogo (Termópilas),
porque um pastor de cabras mostrou a Xerxes uma passagem que permitiu aos
Persas atacar os Espartanos pela retaguarda. Frente à frente, os Espartanos
eram invencíveis. A resistência de 300 guerreiros frente a 2 milhões de
soldados persas durante 7 dias, mostra isto. Não existe prova mais contundente.
O
rei persa, com esta vitória, que chamarei de vitória de Pirro, passou a
imaginar que todo grego era um traidor e disto se valeu o brilhante general
ateniense, Temístocles, que colocou um falso informante na corte de Xerxes.
O
dono do mundo, rei de todos os Persas, senhor absoluto de toda a verdade e
justiça, passou a acreditar em tudo o que aquele informante, plantado pelo
general grego em sua corte, dizia e, mais uma vez, dividiu a sua frota que já
tinha sido dividida quando da saída de Dardanelos e que foi destruída por uma
tempestade. Então, Temístocles, com a nova divisão sugerida pelo informante,
enfrentou apenas 1/4 dos navios persas, e além disso, para tornar mais real a
sua fraqueza militar, fingiu esconder sua frota onde não havia espaço para
grandes manobras marítimas e o rei persa acreditou novamente no informante e
ordenou que seu almirante atacasse pelos dois lados da ilha, pensando que iria
massacrar os Gregos como nas Termópilas e que no final do dia teria a vitória.
Do
alto de uma colina, o rei Persa, senhor do mundo, assistiu aterrorizado ao
desaparecimento de sua frota naval afundada pelos esporões dos trirremes gregos
e viu os seus soldados serem mortos pelas flechas, pelas lanças e pelo mar
grego.
Tinha
ainda mais um detalhe que Temístocles armou para o Rei. Sabendo que os Persas
atravessaram Dardanelos em uma ponte de navios (Helesponto), colocou o mestre
de seus filhos junto a Xerxes para lhe dizer que Temístocles estava seguindo
para destruir o restante da frota e impedir a volta dos Persas à Mesopotâmia.
Xerxes,
acreditando nesta informação, devido ao alto cargo ocupado pelo informante
entre os Gregos, bateu em retirada com seu exército de terra e o que ficou
daquele exército de 2,5 milhões de homens, foi derrotado no ano seguinte em
mais duas memoráveis batalhas.
Vence
a guerra quem possui as melhores informações e não necessariamente os maiores
exércitos ou as melhores armas.
2 —
Quando foi travada a batalha de Salamina, em setembro de 480 a.C., existia um
garoto ateniense, membro de uma importante família, de aproximadamente 11 ou 12
anos, e que, se os Persas tivessem vencido, teria sido morto na eliminação de
todos os Atenienses, como queria Xerxes. Graças à vitória dos Gregos em
Salamina, aquele menino pôde crescer livre, aprendendo as artes da guerra, o
valor da democracia, da honra, da virtude e da cultura grega. Viveu até o ano
de 429 a.C., quando morreu vitimado pela tristeza e pela peste, talvez
tifóide...
Durante
o período em que aquele jovem, depois homem e depois velho, governou os Gregos,
foi o mais esplêndido da civilização grega, tão importante que o século que ele
viveu passou a ter o seu nome: PÉRICLES.
A
Acrópole, obra de Péricles, continua até hoje a mostrar aos homens que existem
homens perante cujos feitos até os deuses emudecem.
Um
grande abraço do amigo,
Lúcio
Flavio.
FONTES CONSULTADAS:
— aula
do eminente Prof. Domingos Horta, proferida aos alunos do 4º ano do Ginásio
Santo Antônio, de SJDR, em 1957 e por mim assistida e guardada dentro das
minhas mais fortes lembranças."
Outra referência sobre a personalidade e o caráter do meu homenageado nos é dada por Abgar Antônio Campos Tirado, membro efetivo da Academia de Letras de São João del-Rei, atual ocupante da cadeira nº 16, patroneada exatamente pelo Prof. Domingos Horta. Em discurso de defesa de seu patrono, publicado em 2005 na Revista do sodalício, assim se expressa verbis:
"(...) O mesmo ano de 1929 abre ao jovem professor (Domingos Horta) as portas do então Ginásio Santo Antônio, que só lhe seriam fechadas pelas mãos geladas da Morte. Ali lecionou Português, História e Geografia, notabilizando-se nas duas primeiras disciplinas e de cujas aulas posso dar meu testemunho pessoal, quando fui seu aluno, na década de cinquenta.
Não só o Colégio Santo Antônio teve a ventura de vê-lo honrar seu quadro de professores. Foi ele igualmente, até sua morte, devotadíssimo professor do tradicional Colégio Nossa Senhora das Dores, sendo ali altamente distinguido e respeitado, inclusive dirigindo, por muitos anos, as cerimônias das sessões solenes de formatura. Também foi um dos professores pioneiros da Escola Técnica de Comércio Tiradentes, que o teve, por alguns anos, como respeitabilíssimo docente, nas cadeiras de Português e de História.
(...) A grande autoridade do prof. Domingos Horta em Língua Portuguesa era reconhecida por toda parte, inclusive na Capital do Estado, de onde, inúmeras vezes, foi chamado para constituir a banca examinadora de Português, nos vestibulares da Escola de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Era o reconhecimento da competência e do valor do Mestre.
(...) reside em minha memória a primeira aula que tive com o professor querido. Era uma aula de História Geral. Eu, menino de onze anos, aguardava um tanto ansioso a entrada do professor que eu não conhecia. E eis que ele entra muito sério, muito severo. Nós, meninos, mal respirávamos. Mas enchia-nos de confiança a simpatia de sua figura e o belo timbre de sua voz. Feitas diversas recomendações iniciais, temperadas com aparentemente mui severas advertências, dá início o Mestre à sua exposição sobre História Antiga. E desfilam os Ciros, os Darios e os Alexandres; os Sólons e os Péricles; os Xerxes e os Temístocles. À medida que os assuntos eram desenvolvidos, íamos como que ficando magnetizados por suas palavras. Um filme talvez não nos desse um quadro tão vívido e real da matéria exposta. Tanto na primeira quanto em todas as outras aulas, desejávamos que jamais fosse dado o sinal para seu término. Eram elas ocasiões de enriquecimento e encantamento. Como escrevi eu mesmo em um artigo sobre o Mestre, publicado no jornal "Ponte da Cadeia", logo após sua morte, "em suas aulas, o sino, que marcava o final das mesmas, era nosso grande inimigo."
Embora austero, o Mestre possuía enorme magnetismo e simpatia pessoal, de que ficávamos decididamente cativos. (...)" ⁷
Outra referência sobre a personalidade e o caráter do meu homenageado nos é dada por Abgar Antônio Campos Tirado, membro efetivo da Academia de Letras de São João del-Rei, atual ocupante da cadeira nº 16, patroneada exatamente pelo Prof. Domingos Horta. Em discurso de defesa de seu patrono, publicado em 2005 na Revista do sodalício, assim se expressa verbis:
"(...) O mesmo ano de 1929 abre ao jovem professor (Domingos Horta) as portas do então Ginásio Santo Antônio, que só lhe seriam fechadas pelas mãos geladas da Morte. Ali lecionou Português, História e Geografia, notabilizando-se nas duas primeiras disciplinas e de cujas aulas posso dar meu testemunho pessoal, quando fui seu aluno, na década de cinquenta.
Não só o Colégio Santo Antônio teve a ventura de vê-lo honrar seu quadro de professores. Foi ele igualmente, até sua morte, devotadíssimo professor do tradicional Colégio Nossa Senhora das Dores, sendo ali altamente distinguido e respeitado, inclusive dirigindo, por muitos anos, as cerimônias das sessões solenes de formatura. Também foi um dos professores pioneiros da Escola Técnica de Comércio Tiradentes, que o teve, por alguns anos, como respeitabilíssimo docente, nas cadeiras de Português e de História.
(...) A grande autoridade do prof. Domingos Horta em Língua Portuguesa era reconhecida por toda parte, inclusive na Capital do Estado, de onde, inúmeras vezes, foi chamado para constituir a banca examinadora de Português, nos vestibulares da Escola de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Era o reconhecimento da competência e do valor do Mestre.
(...) reside em minha memória a primeira aula que tive com o professor querido. Era uma aula de História Geral. Eu, menino de onze anos, aguardava um tanto ansioso a entrada do professor que eu não conhecia. E eis que ele entra muito sério, muito severo. Nós, meninos, mal respirávamos. Mas enchia-nos de confiança a simpatia de sua figura e o belo timbre de sua voz. Feitas diversas recomendações iniciais, temperadas com aparentemente mui severas advertências, dá início o Mestre à sua exposição sobre História Antiga. E desfilam os Ciros, os Darios e os Alexandres; os Sólons e os Péricles; os Xerxes e os Temístocles. À medida que os assuntos eram desenvolvidos, íamos como que ficando magnetizados por suas palavras. Um filme talvez não nos desse um quadro tão vívido e real da matéria exposta. Tanto na primeira quanto em todas as outras aulas, desejávamos que jamais fosse dado o sinal para seu término. Eram elas ocasiões de enriquecimento e encantamento. Como escrevi eu mesmo em um artigo sobre o Mestre, publicado no jornal "Ponte da Cadeia", logo após sua morte, "em suas aulas, o sino, que marcava o final das mesmas, era nosso grande inimigo."
Embora austero, o Mestre possuía enorme magnetismo e simpatia pessoal, de que ficávamos decididamente cativos. (...)" ⁷
III. NOTAS EXPLICATIVAS, por Francisco José dos Santos Braga
¹ Domingos Horta nasceu em Itabira, no dia 4 de dezembro de 1904 e faleceu em São João del-Rei em 2 de dezembro de 1967. Era filho primogênito do casal Henok Pires Horta e Maria Rosa Horta de Oliveira, sendo primo do poeta Carlos Drummond de Andrade. Ainda criança, mudou-se para Ferros, onde cursou o Primário e o Normal. Em 1922 foi nomeado para um cargo na Secretaria de Estado das Finanças. Em 1923, sentindo-se atraído pelo magistério, – a partir de então, será seu ideal de vida – ingressou no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte como professor das disciplinas Português, História, Geografia e Francês. Em 1929, casou-se com Maristela Machado. Outros fatos marcantes na vida de Domingos Horta, além dos já mencionados, é que ele escreveu artigos para o jornal "O Correio" de São João del-Rei, tendo sido vereador por mais de uma vez da Câmara Municipal dessa cidade. Nos últimos anos de sua vida, simultaneamente à sua intensa atividade docente, foi titular, por concurso, do Cartório de Registro de Títulos e Documentos, em São João del-Rei.
² Otávio Mangabeira (Salvador, 1886 - Rio de Janeiro, 1960) foi o quarto ocupante da cadeira nº 23 da ABL, que tem por patrono José de Alencar e atualmente é ocupada por Antônio Torres. Otávio Mangabeira foi eleito em 25 de setembro de 1930, mas somente veio a tomar posse em 1º de setembro de 1934, recebido por Afonso Celso.
³ Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior (Ouro Preto, 1860 - Rio de Janeiro, 1938), ou simplesmente Afonso Celso, como é mais conhecido, foi um dos trinta homens de letras que inicialmente constituíram a Academia Brasileira de Letras. Outros dez foram eleitos, posteriormente, completando a relação de 40 fundadores da ABL. Sendo sócio-fundador da ABL, Afonso Celso foi o 1º ocupante da cadeira nº 36, patroneada por Teófilo Dias e ocupada atualmente por Fernando Henrique Cardoso.
Confira o papel pioneiro de Afonso Celso ao idealizar uma Academia brasileira nos moldes da francesa:
http://www.efecade.com.br/1897-academia-brasileira-de-letras/
Confira igualmente a relação dos Acadêmicos, tanto os já falecidos desde 1897 quanto os ainda vivos:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_membros_da_Academia_Brasileira_de_Letras
Acesso em 27/06/2016.
Uma curiosidade: a última visita de Afonso Celso à ABL ocorreu na sessão de 7 de julho de 1938, portanto quatro dias antes de seu falecimento.
⁴ Em 1892, Afonso Celso ingressou no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro na qualidade de sócio efetivo. Após a morte do Barão do Rio Branco, em 1912, foi eleito presidente perpétuo desse sodalício, ou seja, até 1938.
⁵ Cf. in http://bragamusician.blogspot.com.br/2015/07/batalha-naval-de-salamina-qual-o.html
⁶ "Tempos felizes no Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei" in http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2015/05/tempos-felizes-no-ginasio-santo-antonio.html,
acompanhado de seu breve currículo in
http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2015/05/colaborador-lucio-flavio-baioneta.html
⁷ Cf. in Revista da Academia de Letras de São João del-Rei, Ano I, 2005, p. 127-136.
9 comentários:
O Blog de São João del-Rei, com o presente artigo, homenageia DOMINGOS HORTA, o eminente professor de Português e História do Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei, no período de 1929 a 1967.
Inicialmente foram transcritos dois artigos do homenageado, publicados no jornal estudantil "O PORVIR", ambos de 1938.
A seguir, são apresentados comentários do gerente do blog, enriquecidos pela participação do ilustre leitor e colaborador Dr. Lúcio Flávio Baioneta, bem como do Prof. Abgar Campos Tirado com trecho de discurso em defesa de seu patrono Domingos Horta na Academia de Letras de São João del-Rei.
Por fim, sete notas explicativas valorizam e corroboram o texto.
Parabéns, Franz, pela pesquisa que nos brindou com os dois textos do Prof. Domingos Horta, de quem Mamãe e Papai tanto se lembravam como excelente mestre. E também pelos comentários de seus alunos que nos dão uma ideia da qualidade de suas aulas, de seu entusiasmo pelo conhecimento que fez com que se tornasse inesquecível. Muito lindo observar a importância de bons professores na vida de seus alunos!
Petete
Gratíssimo pelo presente dos textos. Fernando Teixeira
Bela biografia. Tem como enviar para publicação na página da Academia?
Domingo estarei ai.
Um forte abraço amigo,
Passos
Parabéns, meu amor.
Que maravilha de trabalho!!
Admiro sua dedicação.
Muito bom!
O Domingos Horta foi meu professor de Português no Ginásio Santo Antônio. Culto, competente, devo a ele minha atenção à Literatura. Dangelo
Como é gostoso navegar pelas ondas da imaginação, recordando lustres das letras, da história e porque não das relações com Deus, estas pelo exemplo de vida. Não estudei no Santo Antônio. Por vias traçadas pelo Divino, fui para o Colégio São João. Mas a trajetória é semelhante, pendentes que ficavamos, meninos, dos lábios de grandes mestres.
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