Por Francisco José dos Santos Braga
Dedico este artigo a meu amigo João Bosco de Castro Teixeira, DD. Presidente da Academia de Letras de São João del-Rei, que muito me beneficiou sugerindo o tema desta palestra no auditório da Academia, proferida em 20/08/2017.
Presidente João Bosco de Castro Teixeira e o autor |
O autor proferindo sua palestra... |
O presidente da Academia de Letras de São João del-Rei, João Bosco de Castro Teixeira, tendo lido meu trabalho intitulado “Festa de São Sebastião em S. João d’El-Rey em 1919”, publicado em 30/06/2017, diante dos rasgados elogios ali constantes que o poeta Bento Ernesto Júnior fez ao músico são-joanense João da Matta, escreveu-me o seguinte comentário : “Francisco, li a matéria toda. Como aprecio tais trabalhos, senti falta de algo, sobre o que aliás tenho pouco a falar. Aluízio Viegas dizia ter quase certeza de que um registro de batismo, – que se encontra em nossa Catedral, e que contém uma lacuna, – seria, com muita probabilidade, o registro do batismo de João da Matta. Você nunca ouviu nada a respeito? No mais, um abraço com todo louvor. João Bosco”
... e dando sua contribuição para enaltecer a cultura musical de sua terra - Crédito pela imagem: José Antônio de Ávila Sacramento |
Respondi-lhe
que lamentavelmente o saudoso Aluízio José Viegas não tinha tratado disso comigo e que esse trabalho
de pesquisa do grande historiador sacro e musicólogo são-joanense estaria perdido, caso ele
próprio não tivesse registrado seu achado em algum artigo ou em alguma anotação
de seu próprio punho.
Não
satisfeito, o presidente telefonou-me alguns dias depois solicitando que eu
trouxesse ao conhecimento deste plenário, através de pesquisa, se Aluízio tinha descoberto o assento do batizado de João da Matta. Sua preocupação tinha razão de ser, porque mais
de uma cidade disputam a glória de ser a terra natal do músico. Neste
particular, é conhecida a disputa entre Lavras e Oliveira de ser o pretenso
berço de João da Matta, pela simples razão de ele ter passado parte de sua vida
e produzido belas composições nessas localidades. Aceitei o convite de falar
sobre “João da Matta – sua vida e sua obra” como um desafio, disposto a fazer o
resgate do achado de Aluízio José Viegas – se é que existisse – nos livros de batizados do Arquivo
Paroquial da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, de São João del-Rei,
que trouxesse elementos razoáveis sobre
a naturalidade são-joanense de João da Matta, sua ascendência e data mais
provável de seu nascimento.
João Francisco da Matta (foto restaurada pelo historiador Silvério Parada em 2009) a pedido de Aluízio Viegas |
É
conhecido que João Francisco da Matta aprendeu música com Martiniano Ribeiro Bastos, em
sua escola na Rua da Prata. Negro e pobre, foi, no entanto, um compositor
prolixo, deixando em várias cidades mineiras composições em cópias originais.
Desempenhou, paralelamente à música, a atividade de tropeiro, o que lhe
permitiu peregrinar pelos sertões de Minas Gerais, onde espalhou sua música. Tendo palmilhado muitas terras como tropeiro, adquiriu o hábito da boemia e da embriaguez. Consta que tocava todos os
instrumentos de sopro que possuem 3 chaves ou válvulas (tendo sido virtuose no oficleide) e alguns de corda, além de pianista, tendo
se apresentado em concertos em todo o Oeste e Sul de Minas, atuando também como
insigne professor de música, hábil afinador de pianos e compositor ativo e
fértil, com forte influência da ópera italiana, como a maioria dos seus
contemporâneos. As suas proezas nas várias localidades que visitou (entre as já conhecidas, pode-se citar as de Oliveira, Lavras, Juiz de Fora, distrito de Aventureiro pertencente à Vila Mar de Hespanha e distrito de Serranos do município de Aiuruoca) acabaram por transformá-lo em lenda viva, projetando o nome de sua cidade natal por todo o Sul e Oeste de Minas Gerais e principalmente na corte. Em São João del-Rei, há várias evidências fotográficas e
outras, dando conta de que integrou a Orquestra Lira Sanjoanense. Lourdes,
irmã de Aluízio, garantiu-me que o busto de João da Matta, existente hoje na
sede da Lira Sanjoanense, foi localizado no barracão da Prefeitura pelo regente
Dr. Pedro de Souza, que o resgatou para a corporação musical são-joanense onde
João da Matta atuou enquanto vivo.
Busto do ilustre músico são-joanense João Francisco da Matta, existente na sede da Orquestra Lira Sanjoanense, em São João del-Rei |
Foto reconstituída pelo historiador Silvério Parada a pedido de Aluízio José Viegas, o qual identificou alguns componentes da Orquestra Lira Sanjoanense em visita a Juiz de Fora em fins do século XIX |
O
escritor e poeta Bento Ernesto Júnior, membro da Academia Mineira de Letras,
exímio musicista que tocava harmônio nas igrejas locais e nele executava peças
de compositores sanjoanenses, principalmente nas festas de N. Srª da Conceição,
das Mercês e do Mês de Maria, publicou no periódico “A Tribuna”, em edição
especial de 40 páginas, o artigo “A Música em São João del-Rei”. É desse
trabalho que é extraído o trecho sobre João da Mata:
“(...) João da Mata é uma figura singularíssima nos reinos de Euterpe. Queda-se profundamente surpreso iniciado nos mistérios da arte encantadora, em ouvindo as composições que emanaram de sua inspiração de escol, verdadeiramente portentosa, admiravelmente original. Que emoção avassaladora não causam os trechos que ele traçou, despreocupadamente, indiferente, de todo, aos aplausos das multidões, trechos que são o reflexo nítido de uma alma lírica aninhada em arcabouço tão em contraste com a beleza, a radiosidade, a graça e a correção que a musa de João da Mata sabia imprimir ao seus estupendos trabalhos.
O pobre negro, em a noite de sua desgraça, teve um farto raio de luz a iluminar-lhe a personalidade humilde na grande admiração que por toda parte se lhe dedicava e a consagração invulgar da mais rutilante glória da música brasileira – o grande, o imortal Carlos Gomes, que proclamou João da Mata uma das mais admiráveis organizações musicais, que lhe fora dado conhecer. (...)”. (JÚNIOR, Bento Ernesto: A Música em São João del-Rei, jornal A TRIBUNA, edição nº 1268, apud CINTRA: “Maestro e Compositor João da Mata – Glória da cultura musical sanjoanense”, jornal TRIBUNA SANJOANENSE, Ano XXVII, de 14 de novembro de 1995, nº 824, p. 2).
Preliminarmente, cabe aqui fazer a seguinte afirmação: o historiador, quem quer que seja, tem que considerar digna de fé a declaração do próprio interessado, no caso, de João da Matta, afirmando ser são-joanense, conforme fez publicar em
anúncio estampado na edição de 26 de setembro, reiterado nas edições de 3, 17 e 24 de outubro de
1889 do jornal A Pátria Mineira, verbis:
Musicas à venda
"Tendo de demorar-me nesta cidade de 8 a 15 dias, partecipo aos meus amigos e apologistas que trago em rascunho excellentes quadrilhas a 5.000 rs. a collecção; marchas a 4.000 rs. cada uma; dobrados a 5.000 rs., polkas a 2.000 rs., walsas a 2.000 rs. e modinhas a 1.000 rs. cada uma; Hymno da Princeza ou 2º Hymno Nacional, 10.000 rs.; Hymno do Tiradentes, 10.000 rs.
Espero que os meus bons conterraneos me favoreçam, comprando-me algumas musicas, visto ser o seu producto para auxiliar a minha viagem à côrte, onde vou publicar uma artinha musical e diversas composições minhas.
Quem dignar-se auxiliar-me pode deixar o seu recado no escriptorio desta folha.
S. João del Rey, 24 de Setembro de 1889.
JOÃO FRANCISCO DA MATTA"
Seis anos antes,
em 1883, assim noticiava o jornal Arauto de Minas a presença do
famoso musicista passando por sua cidade natal, na sua edição de 11 de outubro
de 1883, de acordo com (CINTRA,
1982, 429):
“Acha-se nesta cidade, de passagem para Mar de Hespanha, onde pretende dar alguns concertos, o nosso inteligente conterrâneo, João Francisco da Mata, insigne professor de música e hábil afinador de piano. O nosso maestro, retirando-se da Cidade de Oliveira, trouxe honrosos atestados de autoridades e pessoas altamente colocadas, asseverando ter sido irrepreensível o seu procedimento naquele lugar.”
Pacificada essa questão da naturalidade, Aluízio
José Viegas julgava importante ainda conseguir indicações de sua ascendência e
de sua data de nascimento.
Em busca de informações visitei, além de sua irmã Lourdes Viegas, vários órgãos e instituições para localizar a mencionada descoberta de Aluízio Viegas no Arquivo Paroquial. Recorri ao Museu de Arte Sacra, onde atualmente está sediado o Arquivo Paroquial; ao Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier e à Biblioteca Baptista Caetano de Almeida. Não logrando qualquer êxito, recorri à Internet onde me deparei com a dissertação de mestrado da autoria de Eduardo Lara Coelho, intitulada "Coalhadas e rapaduras: estratégias de inserção social e sociabilidades de músicos negros – São João del-Rei, século XIX", apresentada à UFSJ para obtenção do grau de mestre em História. Esse trabalho de pesquisa tinha sido orientado pelo Prof. Afonso de Alencastro Graça Filho. Ali encontrei o que procurava insistentemente. De plano, o autor reconheceu que recebeu a contribuição intelectual de Aluízio Viegas na revisão de alguns trechos e na pesquisa no Arquivo Paroquial. Neste trabalho, o autor também mostrou como, na época do Brasil Colônia e Brasil Império, a organização social era claramente estratificada com base na cor de sua população e as corporações musicais e irmandades de São João del-Rei espelhavam essa estratificação. A Lira Sanjoanense, fundada em 1776, era integrada por "rapaduras" (membros negros, negros forros, pardos, etc.), ao passo que a Orquestra Ribeiro Bastos, fundada em 1840, era integrada por "coalhadas" (membros oriundos da elite branca). Também as irmandades religiosas são-joanenses se dividiam entre aquelas que faziam contratos com a Orquestra Lira Sanjoanense (Irmandades da Nossa Senhora da Boa Morte dos Homens Pardos, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Mercês) e as outras que mantinham contrato com a Orquestra Ribeiro Bastos (Irmandade do Santíssimo Sacramento, Ordens Terceiras de Nossa Senhora do Carmo e de São Francisco de Assis). Claro que não havia uma regra rígida para essa estratificação. Comumente a música, a pintura, a escultura e outras artes possibilitavam a ascensão social de negros e pardos através do prestígio alcançado nas profissões citadas. No caso da música, pela qual o negro mostrava especial pendor e jeito, constata-se que houve um grande envolvimento dos mulatos com a música em Minas Gerais, através da qual muitos deles alcançavam a glória por sua musicalidade inata, como foi o caso de Martiniano Ribeiro Bastos, que não só se tornou regente como até foi enterrado no cemitério de São Francisco de Assis. Além disso, o autor ainda esclareceu que José Maria Neves considerava que, enquanto vigorou o regime da arrematação, dentro do padroado (quando o imperador era chefe do Estado e da Igreja no Brasil), houve um grande surto de composições. Neste caso, o Senado da Câmara de São João del-Rei, por exemplo, encomendava as composições e os grupos musicais que eram contratados para as suas solenidades e festividades. Por volta de 1820 em diante, houve um crescente desaquecimento na atividade musical com o desaparecimento do sistema de arrematação. ¹ Aluízio Viegas pensava diferente de Neves: segundo ele, em São João del-Rei, o que se nota foi a profusão de compositores no século XIX, ao contrário de outras vilas. A vida musical em São João del-Rei se intensificou na segunda metade do século XIX. Segundo ele, "(...) o calendário religioso amplia-se e as duas corporações compostas de coro e orquestra, sentem a necessidade de ampliar seus repertórios, num sentido competitivo de fornecer a melhor música a quem as contratasse". ² Com isso, a atividade musical se tornou uma via que conferia prestígio aos melhores executantes e, principalmente, aos compositores. Daí, o crescente surto de composições em São João del-Rei no século XIX.
(COELHO, 2011, 140-1) descreve como Aluízio José Viegas esclareceu racionalmente a questão da ascendência e da data de nascimento do maestro e compositor João da Matta, através do seu batistério:
Em busca de informações visitei, além de sua irmã Lourdes Viegas, vários órgãos e instituições para localizar a mencionada descoberta de Aluízio Viegas no Arquivo Paroquial. Recorri ao Museu de Arte Sacra, onde atualmente está sediado o Arquivo Paroquial; ao Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier e à Biblioteca Baptista Caetano de Almeida. Não logrando qualquer êxito, recorri à Internet onde me deparei com a dissertação de mestrado da autoria de Eduardo Lara Coelho, intitulada "Coalhadas e rapaduras: estratégias de inserção social e sociabilidades de músicos negros – São João del-Rei, século XIX", apresentada à UFSJ para obtenção do grau de mestre em História. Esse trabalho de pesquisa tinha sido orientado pelo Prof. Afonso de Alencastro Graça Filho. Ali encontrei o que procurava insistentemente. De plano, o autor reconheceu que recebeu a contribuição intelectual de Aluízio Viegas na revisão de alguns trechos e na pesquisa no Arquivo Paroquial. Neste trabalho, o autor também mostrou como, na época do Brasil Colônia e Brasil Império, a organização social era claramente estratificada com base na cor de sua população e as corporações musicais e irmandades de São João del-Rei espelhavam essa estratificação. A Lira Sanjoanense, fundada em 1776, era integrada por "rapaduras" (membros negros, negros forros, pardos, etc.), ao passo que a Orquestra Ribeiro Bastos, fundada em 1840, era integrada por "coalhadas" (membros oriundos da elite branca). Também as irmandades religiosas são-joanenses se dividiam entre aquelas que faziam contratos com a Orquestra Lira Sanjoanense (Irmandades da Nossa Senhora da Boa Morte dos Homens Pardos, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Mercês) e as outras que mantinham contrato com a Orquestra Ribeiro Bastos (Irmandade do Santíssimo Sacramento, Ordens Terceiras de Nossa Senhora do Carmo e de São Francisco de Assis). Claro que não havia uma regra rígida para essa estratificação. Comumente a música, a pintura, a escultura e outras artes possibilitavam a ascensão social de negros e pardos através do prestígio alcançado nas profissões citadas. No caso da música, pela qual o negro mostrava especial pendor e jeito, constata-se que houve um grande envolvimento dos mulatos com a música em Minas Gerais, através da qual muitos deles alcançavam a glória por sua musicalidade inata, como foi o caso de Martiniano Ribeiro Bastos, que não só se tornou regente como até foi enterrado no cemitério de São Francisco de Assis. Além disso, o autor ainda esclareceu que José Maria Neves considerava que, enquanto vigorou o regime da arrematação, dentro do padroado (quando o imperador era chefe do Estado e da Igreja no Brasil), houve um grande surto de composições. Neste caso, o Senado da Câmara de São João del-Rei, por exemplo, encomendava as composições e os grupos musicais que eram contratados para as suas solenidades e festividades. Por volta de 1820 em diante, houve um crescente desaquecimento na atividade musical com o desaparecimento do sistema de arrematação. ¹ Aluízio Viegas pensava diferente de Neves: segundo ele, em São João del-Rei, o que se nota foi a profusão de compositores no século XIX, ao contrário de outras vilas. A vida musical em São João del-Rei se intensificou na segunda metade do século XIX. Segundo ele, "(...) o calendário religioso amplia-se e as duas corporações compostas de coro e orquestra, sentem a necessidade de ampliar seus repertórios, num sentido competitivo de fornecer a melhor música a quem as contratasse". ² Com isso, a atividade musical se tornou uma via que conferia prestígio aos melhores executantes e, principalmente, aos compositores. Daí, o crescente surto de composições em São João del-Rei no século XIX.
(COELHO, 2011, 140-1) descreve como Aluízio José Viegas esclareceu racionalmente a questão da ascendência e da data de nascimento do maestro e compositor João da Matta, através do seu batistério:
“Para chegar aos dados sobre o nascimento de João da Matta, procuramos o Arquivo Diocesano da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar em São João del-Rei na pessoa de Aluízio Viegas. Sabíamos que ele era negro, natural de São João del-Rei, mas não havia qualquer indicação de sua ascendência, nem de sua data de nascimento. O que é certo é que ele havia morrido em Serranos, município de Aiuruoca, no dia 4 de junho de 1909. Uma outra dificuldade: o sobrenome 'da Matta' não era muito comum para famílias são-joanenses do século XIX. Viegas procurou, então, o dia em que era comemorado 'São João da Mata', uma vez que batizar o filho com o nome do santo do dia era uma prática comum. Identificado o dia do santo, 8 de fevereiro, a partir daí a tarefa passou a ser localizar alguma criança negra de nome João que tivesse sido batizada alguns dias ou semanas após essa data cerca de 65 a 75 anos aproximadamente, antes da sua morte em 1909. Ou seja, procurar inicialmente batizandos de nome João no mês de fevereiro na década de 1840. Um dos registros encontrados foi o seguinte *:
“João – innocente – crioulo – escravo – Aos vinte e quatro dias do mez de Março de mil oitocentos e quarenta e quatro nesta Igreja Matriz de N. S. do Pilar da Cidade de São João d’El Rei, o Reverendo Coadjutor Bernardino de Souza Caldas baptisou solemnemente e pos os Santos Oleos a João, innocente, crioulo, filho natural de Maria Africana, escrava de D. Anna Narciza de Jesus, nascido a oito de Fevereiro do mesmo anno. Foi Padrinho José Pedro Guimarães, solteiro, todos desta Freguesia. E para constar mandei fazer este assentamento que assignei. Era ut supra.
O Vig.° Luiz José Dias Custódio”
* Conforme Livro de Batizados nº 5 (1843-1854), fl. 46.
A probabilidade é alta de ser esse o registro do batismo de João da Matta ³, visto que a data do nascimento é a mesma do dia de 'São João da Mata' e ser esse o único registro de uma criança negra, de nome João, que poderia ter uma idade presumida de aproximadamente 70 anos ao morrer em 1909. No caso, se esse registro for o dele realmente, João da Mata teria 65 anos quando faleceu.
Aceitando-se a hipótese que ele poderia ter vivido um pouco mais, encontramos o registro de um menino de nome João, filho do casal de forros João Mata Nogueira e Antônia Maria Sampaio ⁴, batizado em 28 de maio de 1832. O nome do pai da criança reforça a suspeita de ser este o registro de batismo de João da Mata. * ⁵ A idade dele, ao falecer, seria de 77 anos aproximadamente.
“(...) Aos vinte oito de Maio de mil oito centos e trinta e dois nesta Matriz de Nossa Senhora do Pillar da Villa de São João de El Rey o Reverendo Coadjutor Joaquim Joze de Souza Lira baptisou e pos os Santos Oleos a João filho legitimo de João da Mata e Antonia Maria de São Pio sendo os padrinhos Manoel Joze da Costa Machado, e Joanna Maria Joze Albuquerque (?) Carmelo (?) todos desta Freguezia.
O Vig.° Luiz José Dias Custódio”
* Conforme Livro de Batizados de 1819-1837, fl. 311v.
Os dois registros têm chance de serem o verdadeiro assento de batismo do maestro são-joanense. O fato de o primeiro mostrar que ele poderia ter nascido escravo não descarta a hipótese de ter sido alforriado ainda criança, haja vista que ele recebeu algum tipo de educação formal além da educação musical propriamente dita. Sua caligrafia nas peças originais, ainda conservadas nos arquivos das orquestras, demonstra isso.”
Por fim, localizei no arquivo da Prefeitura a Lei nº 436, de 26/02/1925, aprovada por Basílio de Magalhães, então chefe do Executivo Municipal, decidindo renomear a rua Progresso no bairro do Bonfim, com a nova denominação de João da Matta, em honra ao ilustre maestro e compositor, que lecionou e se apresentou profissionalmente em concertos na corte e por todo o Oeste e Sul de Minas, projetando com o seu talento artístico o nome de São João del-Rei.
Lei Municipal nº 436, de 26/02/1925 |
OBRAS SACRAS DE JOÃO FRANCISCO DA MATTA
Tota
pulchra es Maria – antífona
Missa
Stella Maris
Missa
São Sebastião
Missa
de Santa Cecília
Missa
Assunção de Maria
Missa
da Sacra Família
Missa
“La Speranza”
Missa
Nossa Senhora de Lourdes
Veni
e Domine da Sacra Família
Veni
e Domine para a Novena de Nossa Senhora do Carmo
Sub
tuum præsidium – antífona
Hino
à Santíssima Trindade
Hino
à Santíssima Virgem – Tota pulchra (em si bemol)
Ave
Regina Cælorum
Ave
Maria
Hino
de Santa Teresa de Jesus
Stabat
Mater nº 1 em si bemol (executada na Sexta-feira Santa na Solene Ação Litúrgica durante a Adoração da Cruz, em nossa cidade)
Stabat Mater nº 2
Vidit
suum
Te
Deum nº 1
Te
Deum de Santa Efigênia
Te
Deum “Rosa de Ouro”
Tantum
Ergo
Ecce
Sacerdos Magnus
Semeorum
– antífona
O
Sacrum Convivium
Ave
Maris Stella – antífona
Quem
terra pontus – solo ao pregador
Regina
Mundi – antífona
Benedictus
– alternado – a cappella
Marcha Fúnebre conhecida por "João da Matta" (executada na Quarta-feira Santa, após a visitação aos "passinhos" e ao término da Procissão das Dores, no interior da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Prados; também na Procissão do Enterro)
Marcha de Sant'Anna
MÚSICAS PROFANAS COMPOSTAS POR JOÃO DA MATTA
Tango das Moças (impressa em Juiz de Fora, na tipografia dos Drs. Leite Ribeiro & Cia.)
Marcha Fúnebre (RJ/Narciso & Arthur Napoleão/1870)
Minh'Alma é Triste (poesia de Casimiro de Abreu musicada)
Os Monarchas (quadrilhas para banda)
Miragem! (marcha festiva)
Canção dos cantos miridionaes (poesia de Fagundes Varella musicada)
Romance do moço loiro (poesia de Joaquim Manuel de Macedo musicada)
SUGESTÃO PARA AUDIÇÃO DE OBRAS DO MAESTRO JOÃO DA MATTA NO YOUTUBE
1) Marcha Fúnebre "João da Matta"
https://youtu.be/0PhpWXmcM84
2) Tota Pulchra es Maria
https://youtu.be/WqZwrraT7Vk
3) Stabat Mater em si bemol
https://youtu.be/OWjZUHMjaag
SUGESTÃO PARA AUDIÇÃO DE OBRAS DO MAESTRO JOÃO DA MATTA NO YOUTUBE
1) Marcha Fúnebre "João da Matta"
https://youtu.be/0PhpWXmcM84
2) Tota Pulchra es Maria
https://youtu.be/WqZwrraT7Vk
3) Stabat Mater em si bemol
https://youtu.be/OWjZUHMjaag
NOTAS EXPLICATIVAS
¹ NEVES, José Maria. Situação e problemática da música mineira contemporânea. SEMINÁRIO SOBRE CULTURA MINEIRA, Belo Horizonte: CECMG, 1980, p. 95, apud COELHO, Eduardo Lara: Coalhadas e rapaduras: estratégias de inserção social e sociabilidades de músicos negros – São João del-Rei, século XIX, p. 33.
² VIEGAS, Aluízio José. Música em São João del-Rei de 1717 a 1900. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, São João del-Rei, nº V, 1987, p. 53-65.
³ Parece não ser este o registro de batismo a que se referia Aluízio Viegas, por ser completo e legível por qualquer pessoa, bem como não apresentar qualquer lacuna.
⁴ Salvo engano de minha parte, dou uma solução alternativa para os pais do menino de nome "João, filho legitimo de João da Mata e Antonia Maria de São Pio".
⁵ De acordo com o testemunho do presidente da Academia, é mais provável que seja este o assento de batismo a que Aluízio José Viegas se referia, já que, de acordo com aquele, possuía uma lacuna, e é o caso deste registro.
O autor e André Eustáquio Melo de Oliveira, editor-chefe do Jornal das Lajes, de Resende Costa |
O autor e sua esposa Rute Pardini |
AGRADECIMENTOS
Gostaria de deixar aqui consignada minha gratidão a todos os que contribuíram para o desenvolvimento desta pesquisa, especialmente:
• minha esposa Rute Pardini pela maioria das fotos exibidas nesta apresentação e pelas boas ideias, incentivo permanente e tolerância sempre presente;
• o chefe do setor responsável pela denominação de ruas da Prefeitura de São João del-Rei, Sr. Emanuel Machado;
• Giovani Alves de Paula e Mauro André Santos, respectivamente responsáveis pelo Arquivo Paroquial e pelo Museu de Arte Sacra, por me terem franqueado as portas dos órgãos para os quais trabalham;
• Cláudia Lúcia, diretora da Biblioteca Baptista Caetano de Almeida que completou, em 15/08/2017, 190 anos de prestação ininterrupta de serviços a seus leitores, por disponibilizar a este pesquisador condições de consultar periódicos antigos;
• historiador Silvério Parada, que teve a paciência de reconstituir duas fotografias de João da Matta, a pedido de Aluízio José Viegas;
• e, finalmente e sobretudo, o confrade, historiador e expert em informática Paulo Chaves Filho, que dedicou seu tempo e conhecimento à formatação do material para a palestra, com o apoio de desenho gráfico e projeção em datashow.
BIBLIOGRAFIA
CINTRA, Sebastião de Oliveira: Efemérides de São João del-Rei, Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1982, 2 vol., 622 p.
Idem: Maestro e Compositor
João da Mata – Glória da cultura musical sanjoanense, jornal TRIBUNA SANJOANENSE, Ano XXVII, de 14 de novembro de 1995, nº 824,
p. 2
COELHO, Eduardo Lara:
Coalhadas
e rapaduras: estratégias de inserção social e sociabilidades de músicos negros
– São João del-Rei, século XIX, disponibilizado na Internet in
http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/pghis/Dissertacao__eduardo_lara_coelho.pdf Acesso em 05/08/2017.
FONSECA, Luiz: Expressão Cultural: João da Matta. Jornal Pérolas do Samba, São João del-Rei, Ano 0, edição nº 6, de dezembro de 2008, p. 8
FONSECA, Luiz: Expressão Cultural: João da Matta. Jornal Pérolas do Samba, São João del-Rei, Ano 0, edição nº 6, de dezembro de 2008, p. 8
JÚNIOR, Bento Ernesto: A Música em São João del-Rei, jornal A TRIBUNA, edição nº 1268
NETO, J.R., SACRAMENTO, J.A.A. & RAMALHO, O.A.: Pátria Mineira, site sobre a história de São João del-Rei. http://www.patriamineira.com.br/arquivos.php Acesso em 16/08/2017.
VIEGAS, Aluízio José: Música em São João del-Rei de 1717 a 1900. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, São João del-Rei, nº V, 1987, p. 53-65.
VIEGAS, Aluízio José: Música em São João del-Rei de 1717 a 1900. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, São João del-Rei, nº V, 1987, p. 53-65.
32 comentários:
É com prazer que lhe envio uma palestra proferida por mim em 20/08/2017 sobre o maestro e compositor são-joanense JOÃO DA MATTA. Dono de uma musicalidade inata, ele conquistou a corte e o Sul e Oeste de Minas com suas belas composições. As suas proezas nas várias localidades que visitou (entre as já conhecidas, pode-se citar as de Oliveira, Lavras, Juiz de Fora, distrito de Aventureiro pertencente à Vila Mar de Hespanha e distrito de Serranos do município de Aiuruoca) acabaram por transformá-lo em lenda viva, projetando o nome de sua cidade natal por todo o Sul e Oeste de Minas Gerais e principalmente na corte.
Prezado Francisco:
João da Matta é fantástico,mas Vossa Senhoria e sua musa Rute Pardini, formam a "alma musical" de São João del Rei e temos a oportunidade de testificar isso,tendo-os vivos,graças a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Como sempre, seus estudos históricos são incomparáveis e desde já
agradeço ao Presidente da A.L./S.J.D.R pela rica oportunidade, dada a Vossa Senhoria.
Parabéns!
Muito Obrigado.
Boa semana.
Abraço.
Diamantino Bártolo
Bom dia, Braga. Morei em São João por mais de 5 anos. Com você estou aprendendo mais da sua história. Obrigado.
Caríssimo amigo Francisco Braga, paz! Estou no Aeroporto de Congonhas, aguardando momento para retornar ao Centro Oeste (Campo Grande-MS). Parabenizo-lhe pelo dia de ontem, Dia do Historiador. Li seu rico e belo trabalho sobre o gênio João da Mata. Sua obra Tota Pulchra que a Lira sempre toca faz lembrar diálogo com meu irmão, Benigno Parreira. Disse-me ele que, conforme sábia observação de João Américo da Costa, essa obra deve ser executada com calma como que estivéssemos contemplando a Virgem Maria. Em face de suas palavras, caro Braga, lembro-me de outra história relacionada a João da Mata. Contava Geraldo Patusca, exímio violinista da LIRA SANJOANENSE e dono de maravilhoso som, o seguinte: "João da Mata, conduzindo uma boiada, parou ali no Morro da Forca. Sentou-se na entrada de uma casa de cujo interior vinha o som de piano que tocava linda melodia. João da Mata ficou ouvindo, absorto e atento. O dono da casa, da janela, pergunta se o condutor de gado gostava de música. Sim, respondeu João que pergunta quem está tocando. O dono da casa respondeu ser sua filha. João diz que a pianista tinha errado em determinado trecho. O pai da pianista pergunta: "Por acaso, você entende de música?" João da Mata respondeu: "Sim, eu sou o autor dessa música que sua filha está estudando". PAZ!
Parabéns pela perpetuação da história
Caro amigo Braga
Li este seu refinado trabalho de pesquisa sobre o gênio João da Mata, músico que vai do religioso ao profano, sempre com grande maestria. Também ouvi as três composições religiosas constantes dos sites que seguiram em anexo ao seu belo texto, pelo que agradeço a gentileza do envio.
Com um cordial abraço,
O amigo Mario.
Conheço Aiuruoca. Não sabia que Mar de Hespanha fica naquela região. Pensava que fosse na Zona da Mata. Obrigado por me mandar a palestra.
Abraços.
Alaor Barbosa.
Excelente o artigo sobre o compositor e músico João da |Mata. Confesso minha ignorância sobre o assunto salva por este artigo. Abração do Dangelo
Francisco, bom dia.
Seus resgates históricos o enobrecem sempre mais a cada dia. A palestra proferida, ontem, na Academia de Letras é muito interessante e instrutivo. Quando ouvíamos comentários ou composições do Maestro João da Matta, não visualizávamos sua importância e excelência no mundo musical. Você o exaltou como merecia, o que deveria ter sido feito, quando da escolha da rua que leva seu nome, em sua Terra Natal. Parabéns! Seu irmão Fernando.
Caro Mestre. Cumprimento-o pela palestra realizada na sede da Academia de Letras de São João del-Rei, neste 20/8. Foi com prazer que o ouvimos. Gostaria de ressaltar: a dissertação "Coalhadas e Rapaduras", que também lhe serviu como fonte para as anotações, é de Eduardo Lara Coelho, livro que publicamos pela Coleção Lageana, da nossa Associação dos Amigos da Cultura de Resende Costa (AMIRCO). Abraços.
Muito obrigado, confrade Braga, pelo substancioso texto. Lembrança para a sua esposa, Rute. Abraço do Fernando Teixeira
Parabéns, Mauricio.
Muitíssimo bom, caro amigo, o seu "ensaio" sobre o grande compositor brasileiro, mineiro e são-joanense, João da Matta.
E o nosso João da Matta é fenomenal. A marcha fúnebre dele é, aos meus ouvidos e sentimentos, é perfeita. Abraços.
Prezado Francisco, ainda uma vez agradeço sua participação em nossa última reunião. E agora agradeço o texto completo também. O editor da Gazeta de Minas, periódico em que publico toda semana, há mais de dois anos, enviou-me notícia de sua mensagem para ele. Ficou muito contente e agradecido. Um abraço, pois, agradecido.
Muito interessante figura essa homenageada em seu discurso, professor Braga. Está provado que o talento humano está além das raças e condições sociais.
Obrigado.
Cupertino.
Prof. Braga, bom dia. Parabenizando-o pelo excelente trabalho de pesquisa, prezaria muito fosse liberado/desbloqueado o teor da matéria sobre o Maestro João da Matta. Sabe-se que João da Matta atravessou essas nossas glebas, na condição de tropeiro, em especial na direção de Oliveira. Ainda hoje um mito ou lenda, a que o seu notável lavor de pesquisa concedeu cores vivas, marcantes.
Gratos.
Caro confrade João Pinto de Oliveira,
Bom dia!
Em atenção a sua solicitação, tenho a responder-lhe que espero sinceramente que o link abaixo resolva a sua dificuldade em acessar o "João da Matta" desbloqueado:
http://saojoaodel-rei.blogspot.com/feeds/posts/default?orderby=updated
Tenho a satisfação de enviar-lhe minha participação num programa da TV DEL REI falando sobre o maestro e compositor são-joanense João da Matta e outros temas correlatos de interesse do entrevistador José Cláudio Henriques, presidente do IHG-SJDR. Data da gravação: 24/08/2017. Música inicial: Tota Pulchra es Maria, de João da Matta.
https://m.facebook.com/tvdelrei?fref=ts
Professor Braga.
Foi uma satisfação vê-lo na entrevista. Sua locução me fez lembrar das palestras nos tempos do rádio, caracterizadas pela modulação da voz, diferentemente do tom extremamente coloquial que é a marca da atualidade nos meios de comunicação. Muito boas suas referências fundamentadas sobre a obra e personalidade de J.da Matta no contexto social de sua época, entre outros tantos pontos da memória de S.João del Rei. O excerto da execução ao piano deu uma pequena ideia do que se ouvia do compositor.
Muito grato.
Abraços.
Parabéns, meu amigo. Abçs.
Grato pelo envio da nota sobre sua atividade cultural. Abraço de parabéns e saudação amiga para sua esposa.
Braga, felizmente, com a Graça de Deus, eu não tenho, desprezo e odeio Facebook e demais redes "sociais". Em qual outro canal posso assistir a sua entrevista? Abr Marcelo.
Recebido.
Obrigado!
Parabéns!
Parabéns. Abraços.
Obrigado! Beijos!
Parabens. Próxima reportagem vai ser na Globo. Bohumil.
Parabéns, confrade, pela sua brilhante e bem embasada entrevista. Sucesso garantido.
Paulo Sousa Lima
Bela iniciativa, meu amigo.
Grande abraço. Um dia ainda irei conhecer São João Del Rey.
Se gostar deste vídeo, por favor compartilhe.
https://www.youtube.com/watch?v=H7dKtDdz4NU
BENJAMIN BATISTA NA ARGENTINA, SALVADOR E PARIS
Abraço
BB
Bravo!
Um oásis de cultura, meu amigo, nesse deserto de ideias vincado de placas de estacionamento rotativo...
Abs.
Grato pelo envio, amigo e confrade Braga. Abraço do Fernando Teixeira
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