Por Evandro de Almeida Coelho
Esta crônica, produzida a partir de arquivo de família, foi originalmente lida no Sarau de Poesia da Biblioteca Municipal Baptista Caetano de Almeida, de São João del-Rei, em 28 de agosto de 2011.
Comemoramos no dia 12 de março de cada ano o "Dia do Bibliotecário", em homenagem ao primeiro aprovado em concurso específico para a Biblioteca Nacional, transferido depois para o Museu Nacional e, mais adiante, para a Universidade do Brasil, então no Rio de Janeiro, onde se aposentou. Nascido no Recife em 1882, estava com dezoito anos na virada do século. Quem tivesse jeito de bem escrever transformava-se em jornalista. Nas vias da moda literária filiou-se ao grupo parnasiano de poetas. Com uma dose de música, experimentou a composição de algumas peças que, ao que parece, agradaram aos grupos a que pertenceu. Humorista, teve sua época. Publicitário, fez gingles históricos, como, por exemplo, o "Se é Bayer, é bom". Após muitas leituras com sua inteligência, dedicou-se à biblioteconomia e foi primeiro lugar no primeiro concurso público da Biblioteca Nacional, o que lhe valeu o título de Patrono dos Bibliotecários do Brasil, como já dissemos acima.
Sua carreira intelectual se marca com passagem pelo Colégio Diocesano de Olinda, Pernambuco, e pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, revelando-se engenheiro talentoso, além das qualidades literárias. Faleceu no Rio de Janeiro a 1º de agosto de 1957. Chamava-se Manoel Bastos Tigre.
Em 1944, no Grupo Escolar João dos Santos, de São João del-Rei, recebi a incumbência de ler uma poesia sobre o "Sete de Setembro", autoria de Bastos Tigre, guardado nos arquivos de família. Vejamos.
IPIRANGA
A deslizar, tranquilo e mansamente
Sem ideais e sem destino,
Sem ambições no coração de água corrente.
–
Boiadeiros, tangendo, nas estradas,
Cansadas reses, em jornadas lentas,
Buscavam-te por vezes. E as boiadas
Bebiam, ávidas, sedentas,
Tuas águas barrentas.
–
Ipiranga, outro préstimo não tinhas.
Riacho, ribeiro, córrego, regato…
Jamais se soube de onde vinhas,
A serpentear dentro do agreste mato.
–
Jamais se soube aonde ias,
Rolando molemente nos calhaus,
A tua vida sempre igual, todos os dias,
Sem dias bons, sem dias maus.
–
No teu sono de rio preguiçoso
Não pensaste, jamais, que, num surto triunfal,
Chegarias a ter neste apogeu glorioso
Os fidalgos brasões de nobreza fluvial.
–
E em radiosa manhã de setembro, eis que, ousado,
A tua timidez de córrego abandonas
E penetras na história audaz, transfigurado
Em possante caudal, desafiando o Amazonas.
–
E do teu curso, então, muda-se a trajetória;
E demarcas com ela, heril e sobranceiro,
Nos novos mapas da brasileira história.
A linha divisória
Entre Brasil-colônia e o Brasil brasileiro.
–
Ipiranga! Que importa, acaso, a procedência
A origem do teu nome? Ipiranga, em verdade,
No idioma do Brasil traduz Independência,
Na língua nacional quer dizer: Liberdade!
–
Rio imenso, o Brasil cortas de sul a norte
E entram pelos sertões teus afluentes, aos mil.
Na voz d’água clamando. Independência ou Morte.
Nas cachoeiras cantando o nome do Brasil.
Fonte: Antologia Poética, Bastos Tigre, Rio de Janeiro: Ed. Francisco Alves, 1982, 2 volumes.
5 comentários:
O Blog de São João del-Rei recebe de braços abertos a nova colaboração do nosso veterano colaborador, Prof. EVANDRO DE ALMEIDA COELHO, que hoje nos brinda com uma crônica, em comemoração à Semana da Pátria com um poema do Patrono dos Bibliotecários do Brasil.
Muito obrigado pelo envio da matéria. Abraço do Fernando Teixeira para você e esposa.
Obrigado, confrade, pelo envio. Li e gostei.
Saudações,
Paulo Sousa Lima
Caro amigo Braga
Que bela homenagem o ilustre amigo presta ao Poeta Manoel Bastos Tigre – patrono dos Bibliotecários do Brasil – com a divulgação do seu poema Ipiranga, através da colaboração de Evandro de Almeida Coelho!
Agradeço pela gentileza do envio.
Abraços.
Caro professor Braga!
Chega a ser emocionante essa metáfora tão grande ao tão pequeno e hoje ainda mais tolhido, o riacho do Ipiranga. Muito inspirada poesia e bem homenageados os bibliotecários.
Grato. Cumprimentos.
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