Por Abgar Antônio Campos Tirado
A véspera do dia de Santa Cecília nos trouxe um acontecimento de triste impacto: falecera repentinamente nosso conterrâneo e amigo Tarcísio do Nascimento Teixeira. Que lamentável perda para todos que o amavam e admiravam e que tremenda lacuna para nossa vida musical. Pianista dotado de excelente leitura à primeira vista, consciente e seguro em suas atuações, vinha colaborando intensamente com as realizações musicais de nossa cidade, acompanhando e preparando cantores e instrumentistas, quando não era ele mesmo o cantor, além de ser entusiástico promotor de eventos relativos à Música.
São-joanense, Tarcísio passou a maior parte de sua vida fora de sua terra natal, quer como seminarista salesiano, quer como funcionário do Banco do Brasil e músico militante, radicado na cidade de São Paulo, de onde retornou para São João del-Rei, no início da década de noventa. Com ele, veio seu imenso acervo de partituras, livros e discos. Realmente duvido que em todo o país haja um arquivo musical particular, mais amplo que o dele. Esse maravilhoso acervo esteve à disposição de quem dele necessitasse; todavia, Tarcísio se queixara de que esperava que fosse muito mais utilizado do que o estava sendo.
Uma vez em São João del-Rei, Tarcísio promoveu cursos sobre compositores específicos, recitais e concertos, ao mesmo tempo que estava sempre disponível para ensaiar com cantores e instrumentistas. Sempre convidado por ele, pude participar ao piano, sozinho ou a quatro mãos, das apresentações dedicadas a Tchaikovsky (seu compositor predileto), a Grieg, a Dvorak, à música de cinema (esse concerto apresentado também em Curitiba, em 1995), a Carlos Gomes, a Schubert, a Lorenzo Fernandez, a Francisco Mignone, a George Gershwin e a Chausson.
Por outro lado, quando fui encarregado de realizar um Concerto Nietzsche, tive o prazer de convidar o Tarcísio, que dele participou como cantor e também como pianista, concerto esse apresentado em São João del-Rei (Conservatório e FUNREI), em Belo Horizonte (PUC) e em Juiz de Fora (UFJF).
Tarcísio era uma dessas pessoas que faziam milagre com o tempo: realizava mil e uma atividades, principalmente musicais, caminhava bastante, viajava com frequência e, no entanto, estava sempre disponível para quem o procurasse. Impressionava-me, a par da vastidão de seus conhecimentos, sua infalível memória. Sabia de cor tudo o que se relacionava a um compositor contemplado em um curso; e mais ainda, retinha tudo aquilo na memória de forma duradoura.
Pessoa franca, sincera, era capaz de grandes atos de solidariedade humana e de silenciosa caridade. Também cooperava entusiasticamente com o Conservatório, com a Sociedade de Concertos Sinfônicos, bem como dirigia cursos bíblicos e orientava grupos religiosos, além de colaborar como organista na capela de São Caetano.
Enfim, muito e muito mais poderia ser dito sobre o Tarcísio, o que seria impossível na limitação deste texto. Uma coisa, porém, não podemos deixar de dizer:
- Tarcísio, você fará muita falta e tão grande como os méritos que acumulou é a saudade que nos legou.
(Jornal da ASAP, 11/2001)
Fonte: TIRADO, Abgar Antonio Campos: Crônicas de Abgar, editor Luiz Antonio Teixeira Rodrigues, 2018, 367 p.
Crédito pela foto: Rute Pardini Braga, que recuperou as cores contidas na imagem disponibilizada no livro.
3 comentários:
Fui gentilmente presenteado com um exemplar do livro Crônicas de Abgar, magnificamente ilustrado, com honrosa dedicatória do autor Abgar Antônio Campos Tirado, cujo livro, além das citadas crônicas, produzidas para o "Jornal da ASAP", num total de 123 crônicas, durante o período de maio de 1977 a julho de 2017, também inclui:
1) registro histórico sobre o Teatro Municipal de São João del-Rei, elaborado em 1993 pelo mesmo escritor Abgar, por ocasião do transcurso do 1º centenário da sua construção (p. 326-334 do livro);
2) ensaio intitulado "O pentágono religioso", de Abgar, sem data (p. 335-336 do livro);
3) breve estudo feito por Abgar sobre a conveniente grafia do nome de São João del-Rei e do adjetivo gentílico relativo (p. 337-342 do livro);
4) um trabalho de minha autoria intitulado "Maestro" e Literato Abgar Campos Tirado, glória de São João del-Rei (p. 344 a 350 do livro), o qual aparece resumido mas que pode ser lido na íntegra in http://saojoaodel-rei.blogspot.com/2011/03/maestro-e-literato-abgar-campos-tirado.html;
5) entrevista realizada por Juliana Prado Campos com Abgar, estampada às páginas 359-364 do livro (publicada originalmente no Jornal da ASAP em maio de 2013).
À guisa de prefácio, com o título Magister Abgar, às páginas 5-6, o editor LUIZ ANTÔNIO TEIXEIRA RODRIGUES apresenta o autor do livro, bem como faz apreciação de seu homenageado como "homem, músico e professor" e a sua contribuição para a cultura são-joanense. Além do "prefácio", Rodrigues é responsável pela seleção das crônicas.
Dando continuidade à publicação das crônicas de Abgar, o Blog de São João del-Rei se sente honrado de prestar essa homenagem ao grande pianista TARCÍSIO DO NASCIMENTO TEIXEIRA, mestre "dotado de excelente leitura à primeira vista, consciente e seguro em suas atuações", compartilhando esta crônica do Prof. Abgar com seus muitos leitores e admiradores, publicada no referido livro às pp. 71-72.
Crônica: O Tarcísio que eu conheci
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2018/12/o-tarcisio-que-eu-conheci.html
Colaborador: Abgar Antônio Campos Tirado
http://saojoaodel-rei.blogspot.com/2009/02/colaborador-abgar-antonio-campos-tirado.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
Caro amigo Francisco Braga,
Como vai? E nossa Rute?
Agradeço-lhe muito, pela bondade em enviar-me aquilo que vai no seu Blog. Sempre magnificamente escritos, seus textos vão preenchendo as lacunas deixadas sobre a história de nossa rica cidade, no que tange ao aspecto cultural. Seu trabalho, caro amigo, tem um peso imenso.
Sinceros abraço e afeto de seu amigo ,
Atenciosamente,
Artur Cláudio da Costa Moreira
Caro professor Braga.
Mais uma vez, pela pena do professor Abgar, importante registro sobre a figura desse artista tão importante e dedicado que foi Tarcísio Teixeira.
Agradecido,
Cupertino
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