Seleção por Francisco José dos Santos Braga
(⭐︎ Rio de Janeiro, 16/12/1865-✞ 28/12/1918) |
NEL MEZZO DEL CAMIN...
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma povoada de sonhos eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
Fonte: Poesias, Sarças de fogo, 1888
PLUTÃO
Negro, com os olhos em brasa,
Bom, fiel e brincalhão,
Era a alegria da casa
O corajoso Plutão.
Fortíssimo, ágil no salto,
Era o terror dos caminhos,
E duas vezes mais alto
Do que seu dono Carlinhos.
Jamais à casa chegara
Nem a sombra de um ladrão;
Pois fazia medo a cara
Do destemido Plutão.
Dormia durante o dia,
Mas, quando a noite chegava,
Junto à porta se estendia,
Montando guarda ficava.
Porém Carlinhos, rolando
Com ele às tontas no chão,
Nunca saía chorando
Mordido pelo Plutão...
Plutão velava-lhe o sono,
Seguia-o quando acordado
O seu pequenino dono
Era todo o seu cuidado.
Um dia caiu doente Carlinhos...
Junto ao colchão
Vivia constantemente
Triste e abatido, o Plutão.
Vieram muitos doutores,
Em vão. Toda a casa aflita,
Era uma casa de dores,
Era uma casa maldita.
Morreu Carlinhos... A um canto,
Gania e ladrava o cão;
E tinha os olhos em pranto,
Como um homem, o Plutão.
Depois, seguiu o menino,
Segui-o calado e sério;
Quis ter o mesmo destino:
Não saiu do cemitério.
Foram um dia à procura
Dele. E, esticado no chão,
Junto de uma sepultura,
Acharam morto o Plutão.
Fonte: Poesias Infantis, 1889
VELHAS ÁRVORES
Olha estas velhas árvores, — mais belas
Do que as árvores mais moças, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E alegria das aves tagarelas...
Não choremos jamais a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Fonte: Poesias Infantis, 1889
A UM POETA
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, no silêncio e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica, mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Fonte: Tarde, 1919
HINO À BANDEIRA
Salve lindo pendão da esperança!
Salve símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz.
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever,
E o Brasil por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser!
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
Sobre a imensa Nação Brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre sagrada bandeira
Pavilhão da justiça e do amor!
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
Fonte: Poesias Infantis, 1889
LÍNGUA PORTUGUESA
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
SONETO XIII
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
Fonte: Poesias, Via Láctea, 1888
11 comentários:
Maravilha!
Obrigado por compartilhar.
Grande abraço!
Celio Tavares
O Blog de São João del-Rei, nesta data em que se comemora o centenário de falecimento do PRÍNCIPE DOS POETAS BRASILEIROS (28/12/1918-28/12/2018), não pode deixar de unir-se a outras Academias de Letras, compartilhando com seus leitores algumas das mais significativas composições poéticas desse autor que buscou com perfeição trabalhar seus versos, como deixou claro em "A um poeta".
POEMAS
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2018/12/poemas-seletos-de-olavo-bilac.html
BIOBLIOGRAFIA DE OLAVO BILAC
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2018/11/biobibliografia-de-olavo-bilac.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
Prezado Amigo Francisco Braga!
Agradeço-lhe pela sempre distinta gentileza de me encaminhar seus trabalhos.
Muito boa a seleção de Olavo Bilac.
Abraço fraterno.
Pe. Saulo
O hino a bandeira; Língua portuguesa e Soneto XIII são um dos mais belos poemas da literatura mundial!
Valeu a releitura de poemas seletos de Olavo Bilac.
Agradeço o envio dos poemas de Bilac, que eu há muito tempo conheço e admiro, desde o ÚItima Flor do Lácio, inculta e bela, que li e decorei aos catorze anos de idade.
Parabéns, meu caro Francisco Braga, por esta dupla homenagem – antologia e bibliografia – ao nosso grande Bilac.
Abraço de ano-novo para você e Rute.
Anderson
Obrigado pelos preciosos documentos que me envia. Desejo_lhe um NOVO ANO de importantes realizações.
Grande abraço,
Guilherme
Grato pelo envio. Fernando Teixeira
Caro Dr. Francisco Braga.
Boa tarde.
Registro minha alegria em responder a cada mensagem. Gratidão pelo refinamento da escolha de poemas clássicos e tão importantes. Sempre apreciei muito a obra de Olavo Bilac.
Muito obrigada pelos votos de Feliz Ano Novo, os quais retribuo, desejando seja este um ano muito fértil em realizações e de muita saúde e alegrias em sua vida e de seus familiares.
Com estima.
Prof.a Patrícia Ferreira dos Santos Silveira
Casa de Cultura - Academia Marianense de Letras
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