sábado, 29 de agosto de 2020

UM SACERDOTE POETA SATÍRICO - O PADRE CORRÊA DE ALMEIDA


Por Helio Vianna

Pe. José Joaquim Correia de Almeida (✰ Barbacena, 4/9/1820 ✞ Barbacena, 6/4/1905)
 


Entre os poetas satíricos brasileiros do século passado, constitue cincunstância digna de atenção a condição sacerdotal de muitos dêles. Sòmente em Minas Gerais, cinco padres que cultivaram esse gênero poético podem ser assinalados naquela época: Domingos Simões da Cunha, de Paracatú, autor, entre outras, de uma sátira intitulada “Ao abuso que se faz do chapéu de sol”; o célebre Padre Silvério do Paraopeba, aliás Padre Silvério Ribeiro de Carvalho, autor de engraçadas “Trovas Mineiras”; Manuel Xavier, da vila do Tamanduá, hoje Itapecerica; Manuel Joaquim de Castro Vianna, de São João d’El-Rei e, finalmente, o mais notável de todos, Padre José Joaquim Corrêa de Almeida, de Barbacena, do qual nos ocupamos. 

Compreende-se, perfeitamente, a preferência dos sacerdotes pela poesia satírica. Observadores dos costumes vigentes em seu tempo, naturais corretores dos excessos então registrados, não poderiam desdenhar o recurso aos versos críticos na campanha pelas reformas que se faziam necessárias. E, quando um companheiro de batina, menos informado a respeito, declarava — 

Às musas sou hostil, por femininas;
não quadram poesia e breviário —

 podia responder, com vantágem, o referido vate barbacenense: 

Quem ler o — Stabat mater dolorosa
verá que a poesia, além da prosa,
no ripanço e missal tem cabimento — 

acrescentando, noutro soneto, dirigido ao mesmo opositor — 

Não é o verso pecado que se tema
quando não fôr o avêsso do poema
que hoje escreve o infalível Leão Treze

No caso, porém, do Padre Corrêa de Almeida, a função da sátira poética foi perfeitamente compreendida. No dizer de seu parente e amigo Aureliano Pimentel, 

“por alvo de suas invectivas tomou êle os vícios e bobagens do viver comum, que escapam à punição legal. Mostra indignação contra o que se afasta da retidão de que êle tem cabal conceito como sacerdote católico, respeitável pela sua pureza de costumes. E, emfim nunca fere pessoa em particular, nem ofende o pudor e a boa educação. Em última análise, a sátira do ilustre escritor tem por fundamento o amor do bem, que o impele a ministrar um remédio amargo e desagradável, mas oportuno e salutífero. Quando ridiculariza as fatuidades, é êmulo de Horácio, abstendo-se de expôr à irrisão o que é digno de todo respeito. Quando, como Juvenal, se mostra cheio de indignação contra o mal triunfante, como, por exemplo, contra a escola realista, ou, por melhor dizer, corruptora, nenhum cristão deixará de aplaudí-lo”. ¹

Nascido na então vila de Barbacena, a 4 de setembro de 1820, filho do advogado Fernando José de Almeida e de D. Barbara Marciana de Paula, foi o Padre José Joaquim Corrêa de Almeida ordenado presbítero secular no Rio de Janeiro, tendo exercido, durante trinta anos, em sua “muito nobre e leal cidade”, o cargo de professor de latim, no qual foi aposentado. 

Sua primeira produção poética, segundo consta, foi um “Hymno à Maioridade de Sua Magestade o Senhor D. Pedro II”, o qual foi musicado, não se sabendo, entretanto, quando e onde foi impresso e publicado. 

“Envolveu-se, em sua terra natal, em algumas questões políticas, o que lhe trouxe dissabores e até um processo e a condenação a quatro meses de prisão, da qual o livrou o Imperador D. Pedro II. Chamava-se Faria o juiz que o processou, e Malheiro o advogado partidário que promoveu a ação”. A propósito, publicou o Padre Corrêa a seguinte poesia, intitulada “Ad perpetuam rei memoriam”, amplamente reproduzida na imprensa da época: 

Deixando a lei no tinteiro
todo o direito transtorna
o juiz quando é bigorna
sob a pressão do malheiro

Se escolher sentidos latos
contra o réu se não consente
pra condenar o inocente
só o faria Pilatos. ²

Em 1854 começou o Padre Corrêa a publicar as suas coletâneas de “Satyras, Epigrammas e outras poesias”, de que lançaria sete volumes, até 1879. Entre as “outras poesias”, citadas no título, incluiam-se, ao gosto da época, parábolas, apólogos, diálogos, máximas e pensamentos rimados até mesmo simples trocadilhos em verso. Caracterizavam-nas uma graça inegável, certa ingenuidade de formas, que constituiam verdadeiro encanto, servindo para adoçar o gênero satírico, tantas vezes grosseiro ou violento. Não eram raras, entre os epigramas dessa primeira fase da obra do Padre Corrêa, as simples quadrinhas assim: 

Um galeno foi à caça
e avistou um passarinho:
— Espera lá que eu te curo! 
... E matou o pobrezinho. 

O primeiro tomo das “Satyras, Epigrammas e outras poesias”, impresso na “Empreza Typographica Dous de Dezembro”, de Paula Brito, o amigo e protetor de Machado de Assis, foi oferecido a Honório Augusto José Ferreira Armond, que seria, em 1861, segundo Barão de Pitanguí. A um parente deste, o ilustrado Barão, Visconde e Conde Prados, foi dedicado o quarto volume da série, aparecido em 1868. O segundo tomo das “Satyras”, de 1858, dedicou-o o Padre Corrêa a seu irmão Mariano Carlos de Sousa Corrêa, alto funcionário da Secretaria da Guerra. O terceiro, de 1863, foi oferecido a seu amigo Desembargador Pedro de Alcantara Cerqueira Leite, depois Barão de São João Nepomuceno. O quinto, de 1868, “ao advogado” José Cesário de Faria Alvim. O sexto, de 1876, ao “parente e amigo” Antônio José Gomes Brandão, editor do sétimo e último volume daquele título, contra o qual, aliás, mais tarde, o próprio poeta se rebelaria:

Nos meus primeiros folhetos,
de tão mal urdidas tramas,
aos mais rudes poemetos
dei o nome de epigramas! 

Depois de velho reflito
que de modestia houve falta,
e, emfim, pecador contrito,
confissão faço em voz alta. 

Seja epigrama ou não seja
o que algum versista escreve,
se êle o diz, quando verseja,
é tolo e a muito se atreve. 

Possuidor de sólida cultura clássica, Padre-Mestre ³ que longamente fôra, de latim, sabendo corrigir-se a tempo, como se vê, também não perdia ocasião de corrigir aos demais, como poeta satírico, em grandes e pequenos delitos, inclusive os que dizem respeito à linguagem usual, falada ou escrita. São mesmo numerosos os exemplos que a respeito podem ser colhidos em sua vintena de livros e folhetos de poesia, não havendo, ainda hoje, nenhum desproveito, na citação de alguns exemplos dessa polícia gramatical tão pitorescamente exercida pelo Padre Corrêa. 

Limitando-nos a uma colheita apenas em tres de seus últimos volumes — “Semsaborias Metricas”, segundo tomo, de 1892, “Producções da Caducidade”, de 1896, e “Puerilidades de um Macróbio”, de 1898, conseguimos anotar as seguintes correções: “explendido” — que significa, rigorosamente, claridadade, brilho, só devia ser empregado para cristais e talheres, não para todo um banquete; entre as tolices da conversação comum, uma, que aliás já passou para a escrita, a expressão “tão somente”, não será das menores; “eterna gratidão” não lhe fica atraz em sandice, pois, além da morte, ninguem pode ser grato; um achado, digno de alegre comentário, isto é, uma “pérola”, como diríamos hoje, forneceu-lhe um compêndio que dava “coisíssima” como “substantivo superlativo”; asneiras parlamentares eram, para êle, os “apoiados gerais” e os “apoiadíssimos”, sempre tão repetidos; também, para o rigoroso censor, “direção” não pode ser sinônimo de “orientação”, avôs — e não avós — é o exáto plural de avô, lábio e lágrima não devem ser empregados no singular, etc. Parecerão pirronices muitas dessas reprimendas do poeta de Barbacena. Entretanto, como êle as faz com permanente graça, serão fàcilmente perdoadas, se não serviram para que outros as evitassem daí (ou daquí?) por diante. Assim, por exemplo, êsse “Aborto gramatical”, ainda hoje de tão largo consumo: 

Adversário o mais acérrimo
certo escritor se declara,
e, ouvindo asneira tão clara, 
eu quero dar-lhe razão. 

É um superlativíssimo
aquela estranha dição. 

Aliás, sobre o perigo das correções exageradas, é o próprio poeta que oferece elementos, e êste, exceto o trocadilho, será realmente oportuno: 

Correção incorreta” 

Há palavrinha da moda,
ou no escrito ou no discurso,
e algumas requerem poda,
e que lhes cortem o curso. 

Se um magistrado perfeito
em tudo e sempre foi reto,
atribuem-lhe sem geito
procedimento correto! 

Se análise aquí não mente,
de rigor concluir-se
que êle errára anteriormente
e teve de corrigir-se. 

Só assim, por conseguinte, 
seria mui bem achado
acharem-lhe, sem acinte,
procedimento emendado

Por tudo isso, que fere os ouvidos do poeta, provocando a sua veia satírica, é que êle não deixou de elogiar a iniciativa do ator português Furtado Coelho, abrindo, no Rio, um curso de prosódia. Não o fez, porém, sem dizer que: 

... cousa melhor eu simplesmente aponto, 
sem tola pretenção de tolo nativismo. 

O legítimo som acidental se faça, 
e, se nêste país não há rima de — mãe
aumente o professor linguagem tão escassa,
e teremos aquí o que inda não se tãe

Não se pense, com isso, que o padre-poeta tenha sido precursor da chamada “lingua brasileira”. Embora nunca se descuidasse de anotar omissões de brasileirismos em dicionários portugueses (“bilontra”, “sinhá” e “xará” — êste aliás um termo tupí, por exemplo, e “carrapicho”, que em Portugal é “namorado”...), não se mostrando infenso aos galicismos como “instalar” e outros, — convém notar que também se penitenciou dos pronomes brasileiramente mal colocados em seus primeiros quatro livros, decisivamente declarando: 

A má colocação dos pessoais pronomes
não haja a presunção de ser brasileirismo;
se me vens consultar, dir-te-ei que sempre a tomes
por torto e tosco e máu e feio barbarismo. 

Espalhando, assim, durante anos seguidos, em jornais, revistas, almanaques e albuns, de todo o Império as suas “Satyras e Epigrammas”, como depois os seus “Sonetos e Sonetinhos”, publicados em 1884 e 1887, era natural que ao Padre Corrêa ocorresse a idéia de coordenar em um só poema os muitos motivos de censura que habitualmente lhe serviam de tema às jocosas recriminações. 

Nasceu daí “A Republica dos Tolos”, “poema herói-cômico-satírico”, publicado em 1881, no qual, “em dez cantos, ocupa-se de todos os tipos da estultícia, que classifica em fumadores, usurários, papelões, especuladores de casamentos, caçadores fanfarrões, cônegos honorários, livre-pensadores e carólas; dos costumes merecedores de censura, dos materialistas, dos especuladores e darwinistas, do espiritísmo, da ociosidade da rua do Ouvidor e, por último, dos católicos a ouvirem missa do sétimo-dia e dos sectários das sociedades político-secretas”.  

Exibido tão amplo quadro, assim o termina o Padre-Mestre: 

Da infinita República dos tolos
eu mencionei aquí alguns assinalados,
e, para bem visivelmente expô-los
ou de frente ou de costas ou dos lados,
cantarolei ao som de vil bandurra,
no intúito só de honrar muito caturra. 

Recitando essas chochas frases juntas
na escala de sonóra melopéia,
parece-me, leitor, que me perguntas
qual é o figurão desta epopéia!
Se queres um herói bem estreiado,
aquí o tens; é este teu creado. 

Não fiques tolamente estupefato,
ao ouvir tão estranha novidade;
sem base no direito nem no fato,
um herói que não fez heroicidade
é tal qual, ou muito pouco espaço dista
de algum nosso mais célebre estadista. 

Se entre nós hoje é tudo permitido,
e o defeito como ídolo se incensa,
poema sem ação seja mantido,
que a novíssima escola dá licença,
e voga no paiz literatura
que os clássicos rigores não atura. 

Fechando assim o pitoresco e impressionante quadro que longamente traçou, fiel à epígrafe “stultorum infinitus est numerus”, continuou o Padre Corrêa a zurzir também isoladamente quantos ridículos lhe passassem ao alcance, para tanto se servindo, amplamente, dos próprios acontecimentos de sua época, internacionais ou nacionais, longínquos ou próximos, políticos ou pessoais. 

Assim, se no 6º volume das “Satyras”, publicado em 1876, encontram-se reflexos da questão romana, em que se vê — 

... o Pontífice fiel
perseguido com a igreja
por Vitor Emanuel — 

no mesmo tomo não é de se estranhar que apareça uma violenta e excepcional apóstrofe “À Municipalidade do Tejuco”, a propósito da questão dos bispos: 

... vós, tristes quadrúpedes,
orelhudos que zurrais,
já vedes caida a vítima
e ainda coices lhe dais! 

Fornecestes norma à Câmara
que oficiosa insultou
a dois Bispos que a tirânica
impiedade encarcerou. 

Compreende-se, também que às questões políticas, tão discutidas em seu tempo, dirigisse o poeta satírico muitas de suas farpas. O sistema eleitoral vigente, o revesamento dos partidos no poder, mereceram-lhe, em verso, as acusações que o nosso oposicionismo fácil nunca economizou: 

Os dois estragadíssimos partidos
ocupam a seu turno a governança,
e nós imos vivendo da esperança
de ver os nossos males combatidos. 

Os quinhões são de novo repartidos,
toda a vez que se dá qualquer mudança;
se aquele outróra encheu, este enche a pança
e os clamores do povo são latidos. 

Nessa crítica, um lugar de destaque é, naturalmente, reservado ao preguiçoso poder legislativo, geral e provincial, no Império, como depois federal e estadual, na República, pois 

 ... que o nosso parlamento é dos filhotes
e os nossos estadistas têm os seus. 

Dizendo, assim, duras verdades, seriam inevitáveis as polêmicas, em que gostosamente se envolveu o Padre Corrêa, várias vezes. 

Talvez tenha sido das primeiras a provocada pela poesia “As Baldas”, elegantemente refutada por um Fidelis, de Paraibuna, em 1858. Mais violenta teria sido, no ano seguinte, a crítica publicada no jornal carioca “Actualidade”, onde alguem rudemente o atacou, recebendo resposta pelo “Correio Mercantil”, havendo réplica e tréplica, à moda do tempo. 

Alguns anos depois, seria o joven estudante gaucho Gaspar da Silveira Martins, que das colunas do “Ensaio Philosophico Paulistano” arrojadamente afirmaria — “frade nunca fez bom verso”; quarenta anos mais tarde, ainda se recordaria disso o padre-poeta, piedosamente não citando mais o autor da tolice, falecido após uma das mais agitadas carreiras políticas do Império e do início da República.                            

Latinista que era, o pronome relativo latino qui foi motivo de discussão rimada com um Erasmo, de Mar de Espanha, o qual, tendo imprudentemente invocado a questão da evolução da gramática, foi logo advertido pelo Padre de que — 

Outróra se chamava estrebaria
o que para os modernos é cocheira. 

Com um tal Sin-di-k, andou igualmente forte a liça a propósito da mudança da capital de Minas para Belo Horizonte, iniciativa tenazmente combatida pelo poeta, defensor da escolha de Barbacena, ou mesmo da Várzea do Marçal, em vez do Curral d’El-Rei, para localização da nova metrópolemontanhesa: 

Os queijos e os toucinhos estarão salvos
se espertos impingirem a papalvos
por fecunda campina um bamburral. 

E a empreitada seria de bom lucro,
se o congresso mineiro, com ser chucro,
se deixasse levar para o curral. 

Respondeu-lhe, violento, Sin-di-k, aludindo às antigas quadrilhas de salteadores que infestaram, em certo tempo, a região da serra da Mantiqueira. Replicou o Padre Corrêa, chamando ao adversário “poeta de engenho... ou de engenhóca”, para ser classificado, por sua vez, 

... graças aos teus bolos,
poeta da República dos tolos
e seu primeiro presidente eleito. 

Não se deu, porém, por achado, o poeta de Barbacena, que treplicou, com feroz alusão política: 

Se afirma (óh que importante descoberta!)
que presido à República dos tolos,
o mínimo não dou dos meus cavacos. 

Presidência melhor tem feira aberta,
e, porque distribúe bólos e bolos, 
de certo não é minha, é dos velhacos. 

Quem assim discutia, por assuntos tirados aos acontecimentos da época, não deixaria, forçosamente, de brigar, tambem, por motivos literários. E o Padre Corrêa não fugiu à regra: poeta satírico, possuidor de sólidos estudos humanísticos, à maneira de seu tempo e de sua província, não acederia, com facilidade, a quaisquer inovações que surgissem, visando modificar os padrões que reputava certos. Contra os prosadores realistas e os poetas parnasianos que de algum modo quizessem infringir as leis da poética estabelecida, êle lançaria os dardos de sua “verve” rimada, em ataques e corrigendas que atingiram, muitas vezes, os limites do sarcasmo e da intolerância, mas que sempre se revestiram do sadio bom-humor que vale por uma crônica pitoresca do Brasil de 1854 a 1904. 

Quanto ao realismo, por exemplo, além de indignadas alusões a Zola e seus discípulos nacionais, basta citar este enérgico fecho de soneto: 

Está na berra a pútrida, escorbútica, 
realista lição, que, além de erótica,
é torpe, afrodisíaca e sifilítica. 

Em matéria poética, naturalmente, não seriam menores as suas exigências. Respeitador, embora, das regras firmadas por Castilho, e entusiásta dos sonetos que a tudo se prestam, isto não o impedia, entretanto, de, por brincadeira, oferecer aos modernistas de então, um em que os tercetos antecediam aos quartetos, 

... bem convencido
de, em todo e qualquer tempo, só ter sido
persistente a excelência do soneto. 

Mas, como de êrros alheios muito se alimentava a sua sátira, não podia perdoar que num soneto de Luís Delfino se encontrasse 

em peito mulheril auréola de cabelos! 

Aos nefelibátas, que em fins do século passado constituiam legião, não deixou, tambem, de combater devidamente, ponderando-lhes que 

No enfiar a poética missanga
a origem das palavras não é canga
na cerviz de um pimpão nefelibáta. 

E, apesar de já aludir, a propósito dos dois Alvarengas do século XVIII, às “desfrutáveis parnasianas arengas”, não deixou de lembrar, aos seus sucessores de cem anos depois, o que mais tarde tambem teria cabimento quanto aos mais estremados futuristas da última revolução literária: 

Dizem as várias épocas e povos
que os vates não são sempre originais
mas hoje a fresca récova dos novos,
dos antigos não quer trazer sinais. 

Confiados em si, faltos de escola,
e sem ter de arte a mínima noção,
construtores de má carangueijola,
supõem êles que são o que não são. 

Levava, porém, o Padre Corrêa a sua intransigência a ponto de não considerar poeta o autor de simples versos brancos, comentando: 

Pretende ser poeta um que só mede
êsse chamado verso branco ou solto
e, como tudo é várgem, desenvolto
vai trotando e o trotar se lhe releva. 

Pode vencer de metros muita grosa,
mas isso não é verso nem é prosa. 

Além de literato que muito se prezava de sê-lo, não deixava o sacerdote barbacenense de ser, tambem, homem de seu tempo, preocupado com todos os acontecimentos dos últimos decênios do século XIX. 

A Abolição, por exemplo, não lhe foi estranha, nem o encontrou sem títulos à inclusão entre os seus precursores. Já no 6º volume das “Satyras e Epigrammas”, publicado em 1876, aparecem condenações aos máus tratos às vezes dispensados aos escravos. E em 1887, no segundo tomo de seus “Sonetos e Sonetinhos”, prudentemente avisava: 

Convençam-se os amigos lavradores,
se a sua inteligência não é romba;
colonizem, não há outro recurso. 

O tempo dos escravos e dos senhores
está quasi passado, e não se zomba
da idéia que prossegue no seu curso. 

A República, porém, não a recebeu com bons olhos o sincero admirador de D. Pedro II . Pelo contrário, corajosamente a combateu antes e depois do 15 de Novembro, notadamente durante o governo de Floriano Peixoto. Alusões à frase de Aristides Lobo, relativa ao povo que “bestializado” assistiu à queda do ministério do Visconde de Ouro Preto, ao positivismo influente nos primeiros tempos do novo regíme, ao “ensilhamento”, à decadência do ensino e aos excessos consequentes à revolta da Armada, aparecem, com frequência, em seus volumes dos anos que se seguiram a 1889. Confessando-se sebastianista, no sentido restaurador então dado à palavra, não poupou recursos de combate às novas instituições do país, ora incisivo em suas acusações, ora apenas irônico, sempre, porém, com a espontânea graça e a simplicidade métrica que caracterizaram a sua veia satírica. 

Ainda outras campanhas tiveram o forte apoio constituido pelos versos do clérigo mineiro, livremente distribuidos pela imprensa de todo o Brasil, favorável que êle era ao “inocente, lisongeiro e honroso costume das transcrições, que só pode ser prejudicial aos nosso grandes e beneméritos homens de letras”, os quais, por essa época, resolveram taxar em 5$000 as desautorizadas reproduções de seus trabalhos, então, como hoje, comuns e incontroladas. 

Já aludimos, por exemplo, à questão da mudança da capital de Minas, de Ouro Preto para Belo Horizonte, que no Padre Corrêa teve um adversário terrível, propagador da lenda de que os habitantes do antigo Curral d’El-Rei eram todos papudos, etc. 

A fundação da Academia Brasileira de Letras e a escolha de seus membros tambem não poderia escapar à “verve” do Padre Corrêa. Êle, que tanto prezava os elogios antes recebidos de Antonio Feliciano de Castilho e de Camilo Castelo Branco, não se conformava com o esquecimento a que o votavam Valentim Magalhães e José Veríssimo. E, se procurava consolar o conterrâneo Augusto de Lima, por não ter sido eleito para a douta companhia, à primeira investida, maldosamente insinuava alguma cousa, ao sugerir que, como a sua colega de Lisboa, não levasse ela o seu dicionário apenas ao vocábulo azurrar: chegasse mesmo a zurrar... 

Já a esse tempo, entretanto, a idade avançada ia se tornando uma idéia fixa no poeta de Barbacena, como bem mostram as constantes alusões contidas em seus versos e os seguintes títulos das respectivas coletâneas: 

— “Semsaborias Metricas ou Versos Piegas” — “do septuagenário Padre José Joaquim Corrêa de Almeida — Ramerraneiro e rabugento ex-professor de latim”, dois volumes, de 1890 a 1892. 

— “Decrepitude Metromaníaca”, de 1894. 

— “Producções de Caducidade”, de 1896, trazendo a seguinte epígrafe de Nicoláu Tolentino: 

Musa, basta de rimar;
já fazes esforços vãos;
vai a lira pendurar;
não sabem trêmulas mãos
com as cordas acertar. 

— “Puerilidades de um Macrobio”, de 1898, em que mais uma vez Tolentino fornece a epígrafe, esta, porém, menos desconsolada, embora revelando a idéia permanente: 

Queres saber quem é velho?
É velho quem o parece. 

— “Aplausos Incondicionaes”, apresentado como “poemeto chocho, em monótonas quadrinhas, atamancadas pelo caduco octogenário Pe. J. J. C. de A.”, é de 1900, ano em que, sob a epígrafe — 

Palavras loucas
orelhas moucas — 

tambem em sua cidade, publicou outro pequeno “poema inepto — em antiquadas sextilhas”, intitulado “Destampatorios Rimados”. 

Nada, porém, o impedia de continuar versejando. Em 1903, fez imprimir em Belo Horizonte, a cidade cuja construção tanto combatera, o volume “Marasmo Senil”, que apresentou como contendo “versos anti-poéticos do caduco e desmemoriado Pe. J. J. C. de A. — letho vicina senectus”. 

Suas duas últimas produções reunidas em folhetos datam do ano anterior ao de sua morte, ocorrida em 1905, quase aos 85 anos de idade. Impressos na tipografia do jornal “Cidade de Barbacena” (com cujo título implicára antes), foram êles, à sua moda, denominados: 

— “Agudezas Rombas — ou Versos Prosaicos” — “do impertinente e massante e intolerável Pe. J. J. C. de A.” — e 

— “Chocha Prosa Rimada” — “pelo desenxabido e decrépito Pe. J. J. C. de A.”, no qual, àquela penúltima epígrafe citada, de Tolentino, modestamente resolveu acrescentar: 

Sonóros, amenos versos
são obra da Mocidade. 

Apesar dos títulos e sub-títulos, não será de justiça supor-se que a decadência tenha atingido, em seus derradeiros tempos, o éstro do velho sacerdote. Se lhe faltava certa suavidade, como já em 1892 confessara nas “Semsaborias Metricas” , nem por isso esquecia os seus deveres de comentador das cousas de sua época, permitindo-lhe a inteligência até mesmo profeticamente antever os resultados guerreiros das experiências de Santos Dumont, então ainda em começo. É o que nos mostra, surpreendentemente, o soneto intitulado “Navegação Aérea”, incluído no “Marasmo Senil”, publicado em volume, repetimos, em 1903: 

O navegante audaz que sulca os mares
brevemente terá de ser vencido,
pois será brevemente conhecido
piloto mais audaz, que sulque os ares. 

Se a moderna invenção bem calculares,
talvez lhe dês valor bem merecido,
aplaudido, mais do que tem sido,
o inventor, quando o fato propalares. 

Tambem aplausos dou, mas entretanto
o meu entusiasmo não é tanto
como êsse de Cornélia, mãe dos Gracos. 

Se as nuvens permitirem livre curso,
importancia descubro no recurso
em proveito dos fortes contra os fracos. 

Mas não era só quanto às cousas do futuro, aparentemente então ainda longínquas, que se voltava a musa do octogenário. Mais próxima de seus sentimentos patrióticos, a obra gigantesca que então realizava o Barão do Rio Branco, relativa à consolidação das fronteiras nacionais, provocava o entusiasmo do nosso vate, que em soneto publicado em vários jornais, em dezembro de 1900, sob o título “Digna e proveitosa recompensa”, lembrava a conveniência de ser levantada a sua candidatura à Presidência da República: 

Desse Paranhos, filho do Paranhos
que tanto honrou o nome brasileiro,
os serviços à Pátria são tamanhos,
que os não compensam rios de dinheiro. 

Cordato, respeitado entre os estranhos,
perspicaz que dispensa candieiro,
salvou-nos de fortíssimos gadanhos,
conseguiu que o Brasil ficasse inteiro. 

Subscrições aparecem nêste ensejo, 
porém paga melhor é a que eu vejo,
e até pode sanar os nossos males. 

Na próxima eleição de Presidente,
aquele cidadão, sábio, eminente,
eleito, substitúa o Campos Sales. 

Se assim se aventurava a sugerir um candidato à Presidência da República, isto não quer dizer que esquecia o Padre Corrêa a gratidão devida a D. Pedro II. Recordando-o, assim terminava um soneto recolhido na mesma coletânea intitulada “Marasmo Senil”: 

Nas páginas da História sejam lidas
as últimas palavras proferidas
por quem sofreu da ingratidão o ardil. 

Testando seu amor à turba louca,
este voto saiu de sua boca:
que Deus faça feliz o meu Brasil

Entretanto, já era hora de dizer adeus à longa carreira poética . Tendo-a começado, em 1840, com um “Hymno à Maioridade de Sua Magestade o Senhor D. Pedro II”, era corrente que com aquele soneto, e mais dois hinos, um publicado por ocasião do quarto centenário do descobrimento do Brasil, outro destinado às creanças das escolas, ambos da mais pura inspiração patriótica e cristã, — terminasse o Padre Corrêa a sua missão de poeta acima de tudo popular. 

No primeiro dêles, talvez inconscientemente, sua feição essencialmente combativa apareceu no próprio estribilho, em que não perdeu ocasião de dar uma marretada nos ateus, que então, talvez como nunca, ousavam ameaçar a formação católica do Brasil: 

Se o Brasil é tão rico e fecundo,
tributemos ao Filho de Deus
gratidão e respeito profundo,
a despeito dos ímpios ateus. 

No mesmo sentido, em defesa da religião de que foi rigoroso sacerdote, embora utilizando-se, para isso, de recursos não habituais entre os membros do clero, isto é, os que forneciam as suas condições de poeta, e de poeta satírico, — assim terminava o seu “Hino Escolar” o Padre José Joaqum Corrêa de Almeida, — o único dos nossos poetas satíricos capaz de poder hombrear, e com sólidas vantágens, com o seu abominável antecessor Gregório de Matos: 

Pretendendo a descrença mais louca
impingir-nos mendaz paganismo,
nossa crença cristã não se apouca,
nem há quebras em nosso ascetismo. 

Sábio mestre que dá bons exemplos,
respeitado, querido e bemquisto,
nos ensina que um Deus há nos templos,
creador, redentor, Jesús Cristo.

Fonte: jornal A Ordem, Rio de Janeiro, 1942, edição nº 115, pág. 306-325.

 

I. NOTAS EXPLICATIVAS

 ¹   Aureliano Pimentel, apud Sacramento Blake — “Diccionario Biobliographico Brazileiro”, vol. 4º, pág. 473. Esse Dr. Aureliano Pereira Corrêa Pimentel, professor de latim em São João d’El-Rei, homem culto, modesto e generoso, forneceu a Richard Burton, quando de sua passagem por essa cidade em 1867, o 3º volume das “Satyras, Epigrammas e outras poesias”, do Padre Corrêa, pelo viajante inglês várias vezes (tê-lo) citado em seu livro “Viagens aos Planaltos do Brasil”, há pouco excelentemente traduzido pelo Sr. Américo Jacobina Lacombe, para a série Brasiliana, da Companhia Editora Nacional.

²   As informações supra e a transcrição, figuram em Sacramento Blake, op. cit., vol. 4º, págs. 472/475.

³   Padre-Mestre é como principalmente chamavam ao Padre Corrêa em Barbacena, cf. artigo há alguns anos publicado na “Revista da Semana” por seu conterrâneo, o ex-deputado e embaixador José Bonifácio. O próprio Padre, em vários de seus volumes, fazia questão de intitular-se “ramerraneiro e rabugento ex-professor de latim”, ao seu nome acrescentando tais qualificativos.

⁴  Sacramento Blake, op. cit., pág. 474. 

⁵  Faz parte da Coleção Teresa Cristina, da Biblioteca Nacional, um exemplar encadernado do 1º volume dos “Sonetos e Sonetinhos”, pelo Padre Corrêa publicado em 1884, com dedicatória ao Imperador, à cuja biblioteca particular pertenceu. 

Sendo a sátira amargosa
apimentada, mordaz,
quem a devora não goza
as doçuras do ananás. 

Se exigem, pois, suavidade,
esta os meus versos não dão;
declaro, e é a pura verdade,
que não tenho êsse condão.

⁷  Tendo publicado os vinte volumes de poesia aquí citados, de 1854 a 1904, apenas um trabalho em prosa escreveu o Padre Corrêa, a “Notícia da Cidade de Barbacena e seu Município” — “pelo Padre José Joaquim Corrêa de Almeida — Ramerraneiro ex-professor de latim e filho bastardo da mesma cidade”, impresso em 1883, na Typographia Universal, de H. Laemmert & Cia.

13 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Em 04/09/2020 Barbacena comemorará o bicentenário de nascimento de seu filho Pe. José Joaquim CORREIA DE ALMEIDA, autor de sátiras, epigramas e sonetos que tornaram o seu nome conhecido em todo o Brasil e em Portugal, principalmente devido à crítica favorável de António Feliciano de Castilho e por sua participação com seu poema "O Carnaval" no livro Cancioneiro Alegre de Poetas Portuguezes e Brazileiros (1887) de Camilo Castelo Branco.
Segundo o Prof. Mário Celso Rios, presidente da Academia Barbacenense de Letras, "embora se comunicasse com irreverência, tinha o cuidado de usar certo refinamento ao criticar tanto o poder com suas nuanças quanto os costumes. Ou seja, Pe. Correia de Almeida produziu uma sátira refinada pelo humor. Polemista, adoçava seu ceticismo com musicalidade, poesia, bom humor, abertura ao novo, sendo tudo isso processado pelo satirista com muita elegância e presença de espírito."O Blog de São João del-Rei toma a iniciativa de comemorar, durante a próxima semana, em suas páginas, o 200º aniversário de seu nascimento com reprodução de alguns trabalhos, hoje infelizmente esquecidos, de mestres na poesia satírica do Pe. Correia de Almeida.
Isto posto, vamos neste post revisitar um trabalho do historiador nascido em BH em 1908, especialista na história do Brasil Império, HÉLIO VIANNA, no qual apresenta um verdadeiro ensaio biobibliográfico, publicado em abril de 1942 nas páginas do jornal carioca A ORDEM.
Obs.: A grafia original do artigo de Hélio Vianna foi rigorosamente mantida.

https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2020/08/um-sacerdote-poeta-satirico-o-padre.html

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei

Frei Joel Postma o.f.m. (compositor sacro, autor de 5 hinários, cantatas, missas e peças avulsas) disse...

Olá, Rute e Francisco. Obrigado pelas notícias sobre o trabalho do pe. Correia de Almeida. Realmente, saber criticar com bom humor, só um artista é capaz de fazer. Agora sei que pessoa era Correia de Almeida. Desejo-lhes um feliz e produtivo mês de Setembro!!! Abraço. f. Joel.

Prof. Mário Celso Rios (presidente da Academia Barbacenense de Letras) disse...

Caro BRAGA,
Bom começo de semana!
Muito oportuna sua colaboração com esse artigo de HÉLIO VIANNA, no jornal A Ordem do RJ em 1942.
Muito grato,
Mário Celso

José Maurício de Carvalho (professor titular aposentado da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), Professor do Centro Universitário Presidente Tancredo Neves - UNIPTAN, membro do Instituto de Filosofia Brasileira, do Instituto de Filosofia Luso-brasileira com sede em Lisboa, da Academia de Letras de São João del-Rei e da Academia Mantiqueira de Estudos Filosóficos) disse...

Obrigado, Mauricio

Prof. Fernando de Oliveira Teixeira (professor universitário, escritor, poeta e membro da Academia Divinopolitana de Letras) disse...

Prezado Braga, boa noite. Obrigado pelo envio da página de seu blog. Acho que os duzentos anos do Padre Corrêa de Almeida devem ser realmente festejados. É mais que um satírico, um refinado poeta.
Abraço para você e Rute. Fernando Teixeira

Gustavo Dourado (escritor, poeta de cordel e presidente da Academia Taguatinguense de Letras) disse...

Gratidão, confrade, belo texto. Saúde e paz. Tudo de bom, abraços.

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga;
Bem lembrado esse bicentenário! Excelente artigo de Hélio Vianna! Fascinante o protagonismo intelectual dos sacerdotes naquela época e, particularmente, do genial padre Correia!
Parabéns pela sua publicação.
Grato.
Cupertino

Noé Sousa (ex-regente da banda do 11º Batalhão de Infantaria de Montanha) disse...

Muito obrigado por me brindar com esse maravilhoso tema, verdadeira pérola. Criticar com humor e leveza é um dom especial.

Alan Elias da Silva (ex-comandante do 38º Batalhão da Polícia Militar em São João del-Rei) disse...

Bom dia. Parabéns 👏👏 pelo belo trabalho. Como a história é bonita 👍😊😊

Pe. Sílvio Firmo do Nascimento (professor e editor da Revista Saberes Interdisciplinares da UNIPTAN e membro da Academia de Letras de SJDR) disse...

Caro Francisco Braga
Gratidão pela remessa da mensagem sobre o Pe. Correa de Almeida.

Lúcio Flávio Baioneta (proprietário da Análise Comercial Ltda e ex-aluno do Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei) disse...

Parabéns, Braga, pela excelente iniciativa.

Paulo Roberto Sousa Lima (escritor, gestor cultural e presidente eleito do IHG de São João del-Rei para o triênio 2018-2020) disse...

Parabéns pela publicação.
Abraços fraternos,
Paulo Sousa Lima

Regina Almeida (professora, escritora e membro efetivo do IHG de Minas Gerais) disse...

Saudades do simpático casal!
Abraços mineiros para ambos.
Mário Celso mandou-me o texto que o sr. lhe enviou sobre o Pe.Correia de Almeida. Belíssima colaboração com a Academia Barbacenense de Letras!
Parabéns pelo companheirismo.