Por José Carlos Gentili
Correspondência ao estimado Doutor Antônio Paulo Filomeno, apreciador das tainhas de Laguna, da antiga Província de Santa Catarina, cuja capital foi Destêrro, hoje Florianópolis (publicada originalmente no Blog Ponto de Vista gerenciado por Nelson Hermógenes de Medeiros Freire)
Meu cardiologista, como dizemos nós míseros moribundos clientes cardiovasculares!
Sua costumeira generosidade e seu senso humanitário não foram compreendidos por alguns de seus pares, mais preocupados com o vil metal e esquecidos do alcance do juramento de Hipócrates.
Recebi sua inquietante mensagem e dei-lhe resposta metafórica, aguardando paz e reflexão.
Agora, na mansidão do trato justo e perfeito, digo-lhe, pela via do gênero epistolar, desde os tempos colegiais no vetusto educandário tedesco — o centenário Deutscher Hilfsverein —, quando se aprendia caligrafia e português culto e que o Tempo é o senhor das ações.
E, por falar na Grécia Antiga, devo dizer-lhe que desde cedo absorvi as reflexões aristotélicas, que tratam da catarse — efetiva purificação filosófica.
Saber ouvir e guardar silêncio é exercício da maior magnitude a integrar o universo infinitesimal da amizade sincera.
Quando você ouve os clamores e as vicissitudes do próximo, e guarda-os no escrínio da quietude, você presta dois ambivalentes serviços: o primeiro, permitir que as descargas emocionais se esvaiam pelo para-raios daquele que ouve, numa espécie de polo de “descarrego”; o segundo, torná-lo receptivo à reflexão para retorno ao equilíbrio comportamental.
Num dos meus livros — José Carlos Gentili, um cidadão do mundo —, que é a primeira fotoautobiografia do país, secundada pela obra de Clarice Lispector, inicio com um meu aforisma, assim: “CULTIVO AMIGOS E POESIA, QUE MANTÊM VIVAS AS NOSSAS ILUSÕES”.
Nos ritos de passagem, as ilusões são as últimas emanações a deixarem nossa alma!
Os oragos helenos sempre exerceram esta função neuro-terapêutica, quando as pitonisas em seus oráculos, após ouvir as ansiedades dos viandantes, proporcionavam orientações que, muitas vezes, tornaram-se, com o passar do tempo, inequívocas predições. O Oráculo de Delfos, na época de uma pandemia, orientou a exumação dos cadáveres e o sepultamento na ilha próxima de Reneia.
Agora, meu caro amigo, após o processo catártico, você examinará a questão sob outro prisma, verificando que a estratégia comanda as ações na busca de atingimento de objetivos.
Acompanha-se seu belíssimo projeto, oportunidade em que lhe ofereço a edição na Revista Científica e Cultural – RCC, distribuindo-a a gregos e troianos, em português, espanhol e inglês, afim de que suas ideias sejam divulgadas, erga omnes, como diziam os latinos.
A telemedicina avança a passos largos com o desenvolvimento da inteligência artificial, deixando estratificados aqueles médicos consolidados em estruturas arcaicas, corporativistas, associativas, alienadas dos princípios basilares da fraternidade, oportunidade em que reavivo a Carta aos Filipenses, de seu homônimo Paulo, apóstolo do Rabi.
Esta pandemia tem mensurado espíritos na órbita do servir ao próximo.
O Tempo dirá!
6 comentários:
Tenho o prazer de apresentar o novo colaborador JOSÉ CARLOS GENTILI aos leitores do Blog de São João del-Rei, apesar de já ser um experimentado cultor das Letras entre nós. O presente post traz um seu texto com temática bastante atual: MEDICINA E SEUS NOVOS RUMOS PÓS-PANDÊMICOS.
Não foi fruto de "Q.I." (quem indica), e sim resultado de seus méritos intelectuais, a sua escolha para ser um dos poucos brasileiros a ocupar uma cadeira na Academia das Ciências de Lisboa. Conforme Gentili comenta, encontra-se plenamente irmanado na Casa de Camões com outros intelectuais brasileiros que receberam esta honraria até então, dentre os quais cito algumas personalidades mais conhecidas: Lygia Fagundes Teles, José Sarney, Marcos Vinicius Vilaça, Gilberto Mendonça Teles, Arnaldo Niskier, Nélida Piñon, Arno Wehling, Massaud Moisés, FHC, Vamireh Chacon Albuquerque, Domício Proença Filho e Deonísio da Silva. Segundo ele, "a propósito, diga-se de passagem, que não sou um acadêmico ocasional, passageiro, meramente figurativo, mas, ao contrário, participo ativamente das lides acadêmicas de Além-Mar, a fixar a imagem de Brasília no contexto literário lusófono."
Entre muitos registros e reflexões que já fez, acho que convém relembrar dois dos mais significativos, na opinião deste seu apresentador:
"Apesar de ser gaúcho de nascimento, o Nordeste sempre me encantou com sua cultura, com sua música, com a sua alegria de viver, com a magia de seu litoral, com seu povo aconchegante e hospitaleiro. "O sertanejo é, antes de tudo, um forte", como afirmava Euclides da Cunha em Os Sertões.
Convivi com Câmara Cascudo e fui apaixonado pela singeleza do armorial de Suassuna, gênios que habitaram o meu espírito, marcando-me para a eternidade.
Hoje, eu tenho raízes profundas fincadas no agreste brasileiro, a feitio de mandacarus que sobrevivem à seca e a todas as vicissitudes vivenciais de seu gentio." (...)
Gentili citou José Saramago, para dizer que, "sempre polêmico, foi lapidar e categórico a respeito das nuances e tênues divergências lexicais e semânticas dos falantes e seus falares no mundo da Língua de Camões: "Não existe a língua portuguesa. Existem línguas em português."
Ou ainda:
"Trago à baila afirmativa de Saramago, encontradiça na obra Ensaio sobre a Cegueira, que nos remete ao universo do incognoscível: "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."
TEXTO
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2021/03/medicina-e-seus-novos-rumos-pos.html
BREVE NOTÍCIA SOBRE O AUTOR
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2021/03/colaborador-jose-carlos-gentili.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
Caro professor Braga,
Importante a publicação desse excelente autor, Carlos Gentili. O mote de reflexão sobre a Pandemia se faz realmente necessário no mundo todo e em particular no Brasil, onde, a despeito da Medicina estar munida dos mais avançados recursos, padecemos ainda da tragédia de milhares de mortes por absoluta desinformação, precariedade e carência de atendimento.
Grato
Cupertino
Belíssimo texto e mui rico currículum.
Grato pelo envio. Pax et bonum.
Gratidão, caro confrade Francisco Braga, pela mensagem enviada.
Abraço,
Pe. Sílvio
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