quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

O QUE É GASLIGHTING?


Por Equipe do therapist.com * 
Revisado por Brooks Baer, LCPC, CMHP 
 
Gas Light, filme estadunidense de 1944 (lançado no Brasil com o título À Meia-Luz)
 

I. TEXTO TRADUZIDO DO INGLÊS E COMENTADO POR FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS BRAGA 
 
 
O que é Gaslighting? – Certifique-se se você já se tornou vítima dele. 
Gaslighting é uma forma de manipulação emocional. Quando você é vítima dele, começa a duvidar de si mesmo e de sua realidade, questionando também as ações ou intenções de outras pessoas. Você pode acabar sentindo que está 'enlouquecendo'. 
 
De onde vem o termo? 
A ideia surgiu em uma peça de 1938, “Gas Light” ¹ e nas adaptações para o cinema que se seguiram. Na versão cinematográfica de 1944 ², Gaslighter é o marido que tenta convencer a esposa de que ela tem problemas mentais, com o fim de roubar-lhe as jóias da tia falecida. Em uma cena famosa, ele escurece e clareia com lampiões a gás o apartamento, enquanto procura as jóias. Quando sua esposa lhe diz que ouviu passos e viu as luzes do gás piscando, ele insiste que ela apenas imaginou. Quando as pessoas usam o termo gaslighting, elas se referem a formas semelhantes de abuso emocional. O filme popularizou o termo em relação ao abuso emocional de uma esposa por parte de um marido, mas o gaslighting pode ocorrer entre pessoas de qualquer gênero, em qualquer tipo de relacionamento e dinâmica de poder. 
 
Ingrid Bergman, no papel de Paula Alquist em À Meia-Luz

 
Táticas comuns de gaslighting 
Mentiras: A raiz do gaslighting é a distorção da verdade. Gaslighters mentirão para você, muitas vezes de forma convincente, e farão você questionar o que é real. Mesmo se você tiver evidências concretas para provar que eles estão errados, eles não vão admitir. 
Negação: Você pode tentar comunicar a um gaslighter que ele está sendo manipulador, mas isso não vai levar você muito longe. Pessoas que usam gaslighting raramente admitem serem manipuladoras e abusivas. Eles também negarão a realidade de seus sentimentos, dizendo que você é "excessivamente sensível" ou "dramático", em vez de se desculparem por magoá-lo. 
Retraimento: Gaslighters se recusarão a ouvir ou participar de certas conversas. Eles usarão frases como "Não entendo" para fazer você se sentir como se o problema fosse você, em vez de admitir que não estão se comunicando de boa fé. 
Subestimação: Para um gaslighter, sua perspectiva, sentimentos e experiências não são importantes. Eles minimizarão o abuso como "não tão trágico" e tentarão convencê-lo de que você está "exagerando". 
Desqualificação: Gaslighters podem tentar desqualificá-lo para amigos e familiares. Eles também podem tentar convencê-lo de que ninguém acredita em você para impedi-lo de pedir ajuda a outras pessoas. 
Desvio: Se você levantar um problema, um gaslighter geralmente mudará de assunto para evitar a responsabilidade por suas ações. 
Culpa: Gaslighter transfere a culpa para sua vítima. Se você disser a ele: “O que você disse feriu meus sentimentos”, ele pode dizer: “Não consigo nem fazer uma piada? Qual é o seu problema?” De repente, você sentirá a necessidade de se desculpar, mesmo que tenha sido ele que o machucou.
Insinuação: Um gaslighter pode usar elogios e afeto como disfarce para suas ações. 
Projeção: Frequentemente, os gaslighters projetam suas próprias inseguranças ou falhas em suas vítimas. Por exemplo, um gaslighter pode se tornar excessivamente possessivo e ciumento de seu parceiro, depois que ele próprio o traiu.
 
Exemplos de gaslighting 
O gaslighting relacional é observado entre pessoas e em qualquer tipo de relacionamento (romântico, familiar, profissional, etc.) 
O gaslighting médico ocorre quando um médico ou outro profissional de saúde descarta as preocupações de saúde de um paciente, suspende o tratamento ou falha em fornecer um padrão básico de atendimento.
O gaslighting político pode ser usado como uma forma de propaganda. Ocorre quando um político usa táticas de manipulação para promover mentiras descaradas e desacreditar informações verificáveis ​​para ganhar poder. 
O gaslighting institucional ocorre quando os sistemas são deliberadamente montados para negar problemas ou abuso e questionar a saúde mental das vítimas. Pode aparecer em locais de trabalho, instituições religiosas, escolas, governos e outras organizações. 
O gaslighting histórico ocorre quando tragédias ou atrocidades históricas são minimizadas ou totalmente descartadas, a fim de evitar a responsabilização ou reparação das vítimas. 
O gaslighting racista apóia e perpetua a mentalidade da supremacia branca ao rotular qualquer um que revide, especialmente pessoas de cor, como mentalmente instável. 
 
Como é ser gaslighter? 
Pode ser difícil detectar os sinais de gaslighting, especialmente quando você está vivenciando a situação, pois os gaslighters enfraquecem a sua capacidade de autoconfiança. 
Aqui estão os sinais comuns de gaslighting. Se não tiver certeza se eles se aplicam a você, consulte a lista com um amigo ou familiar de confiança. 
Questionando-se regularmente 
Sentindo-se confuso 
Questionando sua saúde mental 
Desculpando o comportamento do gaslighter 
Tendo dificuldade em tomar decisões 
Constantemente se desculpando 
Sentindo ansiedade ou depressão 
 
Outra maneira de determinar se você é alvo de um gaslighter é avaliar o comportamento da pessoa. Muitos gaslighters usam táticas e linguagem semelhantes para desgastar suas vítimas. 
Frases comuns que eles usam incluem: 
Você está exagerando.
Eu estava só brincando. Relaxe!
Eu nunca disse isso.
Isso nunca aconteceu.
Deixe de fazer tempestade em copo d'água.
Eu não posso acreditar que você ainda esteja obcecado com isso.
Você dá tanta importância a ninharias!
Todo mundo pensa que você é louco.
Ninguém acredita em você.
Vai começar de novo!
Você é hipersensível; eu estava só brincando.
Você tem sorte de eu aturá-lo, sabia? 
Eu sou a única pessoa honesta com você.  
Você devia ser grato. 
 
Por que as pessoas praticam gaslighting? 
Gaslighting é um comportamento aprendido. Algumas pessoas aprendem isso desde a infância, ou como vítimas ou como testemunhas do abuso emocional. Outros querem aprender a manipular outras pessoas e procurar deliberadamente novas táticas. 
 
Gaslighting não intencional 
Pessoas que abusam de outras podem não fazer isso de propósito. Muitas pessoas adotam os mesmos padrões de comportamento que vivenciaram em suas famílias, mas isso não significa que não devam ser responsabilizadas. As pessoas que abusam de seus relacionamentos podem aprender formas mais saudáveis ​​de comunicação e resolução de conflitos com a ajuda de um terapeuta. 
 
Gaslighting intencional 
Certas personalidades podem ser atraídas para comportamentos abusivos como forma de controlar outras pessoas. Isso pode ser devido a distúrbios graves de saúde mental, particularmente transtorno de personalidade narcisista, transtorno de personalidade antissocial e psicopatia. Gaslighters podem experimentar impulsos autoritários e querer ter poder sobre os outros. 
 
Independente das razões por trás disso, lembre-se do seguinte: Gaslighters são abusivos. Pode ser difícil para gaslighters obstinados melhorarem mesmo com o tratamento. Frequentemente, eles tentarão manipular ou invalidar seu terapeuta. 
 
Estratégias para superar o gaslighting 
Diga que tem um problema: ser honesto consigo mesmo sobre sua condição muitas vezes é o primeiro passo para a cura. Se você está experimentando o gaslighting, é importante admitir para si mesmo e, idealmente, compartilhá-lo com amigos e familiares de confiança. 
Mantenha um registro: se você não tem certeza de que está passando por gaslighting, manter algum tipo de registro pode ajudá-lo a confirmar o que está acontecendo. Você pode registrar eventos ou divergências importantes em um diário e consultá-lo para ver se um gaslighter está tentando minar sua realidade. 
Priorize sua própria segurança: o abuso emocional pode se transformar rapidamente em dano físico ou violência. Caso sua situação não esteja mais segura, procure ajuda especializada. 
Honre seus sentimentos: você pode se sentir arrasado se perceber que uma pessoa em quem você procurou ajuda ou em quem confiava está manipulando você. Não existem sentimentos "errados" quando se trata de superar o gaslighting
Compartilhe sua verdade: expandir seu círculo de pessoas de confiança é fundamental para enfraquecer o poder de seu agressor. Ao conversar com amigos ou familiares confiáveis, você pode obter apoio. São pessoas que amam você e querem fortalecer sua autoconfiança, não enfraquecê-la. 
Estabeleça metas saudáveis: um gaslighter pode nunca admitir que fez algo errado. 
Seu objetivo não deve ser convencê-lo ou mudá-lo. Em vez disso, concentre-se em sua própria cura emocional e segurança física, mental e emocional. 
Procure ajuda profissional: pode ser difícil escapar e se curar de situações abusivas por conta própria. 
Um terapeuta pode ajudá-lo a processar sua experiência e fortalecer sua saúde mental. Há sempre um profissional de saúde mental perto de você. 
 
* A equipe editorial do therapist.com trabalha com os principais especialistas clínicos do mundo para trazer a você informações acessíveis e perspicazes sobre tópicos 
e tendências de saúde mental. 
 

 

II. NOTAS EXPLICATIVAS

 

¹  Gas Light é uma peça teatral do dramaturgo e romancista inglês Patrick Hamilton (1904-1962).
 
² No Brasil, o longa-metragem estadunidense foi lançado com o título À Meia-Luz. Nesse filme dirigido por George Cukor, Ingrid Bergman ganhou seu primeiro Oscar pelo papel de Paula Alquist, jovem recém-casada que se muda para a casa de uma tia que morreu misteriosamente. Paula é acompanhada pelo marido, Gregory Anton (Charles Boyer), dono de um segredo que fará de tudo para esconder.

14 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Prezad@,
Venho por meio deste texto publicado pela Equipe do therapist.com, que aborda um tema tratado pelo menos numa peça teatral de 1938 (Gas Light) e num filme estadunidense de 1944 lançado no Brasil como À MEIA-LUZ, estrelado por Ingmar Bergman e Charles Boyer, dirigido por George Cukor. Com este filme, no papel de Paula Alquist, Ingmar Bergman ganhou seu primeiro Oscar.
O drama e, posteriormente, o filme foram responsáveis por identificar uma forma de abuso psicológico/emocional, conhecido por GASLIGHTING, uma dinâmica que pode estar ocorrendo nas suas relações pessoais e profissionais.

Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2023/01/o-que-e-gaslighting.html 👈

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei

Ana Maria de Oliveira Cintra (escritora e membro da Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei; graduada em Psicologia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia Ciências e Letras (1980), mestre em Psicologia Social pela Universidade Gama Filho (1991), doutora em Saúde Pública - área de concentração em Epidemiologia pela Faculdade de Medicina da UFMG (2006) e título de Livre docente em Psicologia Clínica pela UGF desde 1999) disse...

Importantíssimo divulgar neste momento. Atendi e continuo atendendo muitas vítimas de abuso psicológico. O abusador muitas vezes tem uma personalidade psicopática de difícil tratamento, quase sempre infrutífero.

Rute Pardini Braga (cantora lírica e escritora) disse...

Meu querido, meu amor,
Um de seus melhores artigos que você tem produzido. Lembro-me que, de todos esses exemplos bem explicados e apresentados no artigo "O que é gaslighting?", estou lembrada de algo de suma importância na nossa vida, que você me sempre me recorda: o ser humano precisa viver em equilíbrio, dos sentimentos, da razão, da vontade, do desejo, devido ao fato de possuir um ID (segundo a psicanálise, o Id é constituinte do sistema básico da personalidade, que possui um conteúdo inconsciente, por um lado hereditário e inato e, por outro, recalcado e adquirido, de acordo com a segunda teoria freudiana do aparelho psíquico). Se for destampado o Id sem cuidado, o ser humano começa a agredir mentalmente e muitas vezes fisicamente, abusar emocionalmente. O importante é CUIDAR do objeto amado, tendo muito cuidado de não destampar o Id, porque, a partir daí, vem a desconstrução do seu mundo, do seu sonho. Com certeza, saiba que eu, na atualidade, me sinto a pessoa que mais o admira e ama profundamente.
Rute

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga 

Chamou-me muito a atenção o conceito de "gaslighting" político, institucional e histórico... Imagino o quanto pode ser devastador, especialmente em certas sociedades.
Saudações pela escolha do tema e pela sua tradução. 
Gratíssimo, 

Cupertino 

Cristiane Maria Carezzato (empresária que ama animais e a natureza) disse...

Que ótimo, Francisco!!! 👏🏻👏🏻
Cris Carezzato

Jota Dangelo (escritor, jornalista, membro da Academia Mineira de Letras e sócio honorário do IHG de São João del-Rei) disse...

Excelentes considerações, Braga.
Jota Dangelo

Cristiane Maria Carezzato (empresária que ama animais e a natureza) disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Preciosas considerações a respeito desse tema.Frequentemente assistimos a esse tipo de comportamento,
partindo de pessoas com disfunções psíquicas de intensidade e manifestações diversas. Muitas vezes camufladas. Maria Auxiliadora Muffato

Artur Cláudio da Costa Moreira (ex-presidente e atual vice-presidente do IHG de São João del-Rei, historiador e pesquisador são-joanense) disse...

Querido amigo Braga! Tudo bem com você e Rute?
Parabéns pela tradução e compartilhamento do artigo! Aliás, por todos os artigos.
O artigo me fez ver esta seita abominável que anda dominando o Brasil, além de perceber como as pessoas, por maldade ou interesses outros, são capazes de manipular os semelhantes. É triste, meu amigo. Como precisamos evoluir.

Tenham meu abraço afetuoso e fraterno.

Sônia Maria Vieira (insigne (pianista brasileira e membro da Academia Brasileira de Música) disse...

Caríssimo amigo Braga,

Você deve ter querido se referir à Ingrid Bergman, atriz sueca e não a Ingmar Bergman, diretor de cinema, autor de Morangos Silvestres, O sétimo selo, A Flauta Mágica, etc.
Como sempre, seus artigos são ótimos!
Um grande abraço, extensivo à sua esposa, da
Sonia Maria Vieira

Anizabel Nunes Rodrigues de Lucas (flautista, professora de música e regente são-joanense) disse...

Muito importante o artigo. Parabéns!

Dra. Merania de Oliveira (escritora, jornalista e presidente do Instituto Roque Camêllo) disse...

Prezado Dr. Francisco,
Gaslighting tornou-se uma das táticas mais difundidas e destrutivas da mídia atual e de alguns governos. É exatamente o oposto do que nosso sistema político deveria ser. Trata-se de mentiras e coerção psicológica, e não da verdade e do discurso intelectual. Se você já se perguntou se você é louco, é porque não é.
Pessoas loucas não são sãs o suficiente para se perguntar se são loucas. Então, confie em si mesmo, acredite no que está em seu coração. Confie em seus olhos sobre o que é dito. Nunca dê ouvidos às pessoas que dizem que você é louco, porque você não é, você está sendo manipulado.

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (professor universitário, desembargador, ex-presidente do TRE/MG, escritor e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Bravo!

Merania Oliveira disse...

Dr. Francisco,
Paz, saúde e alegria!

Agradeço-lhe pelos lúcidos e brilhantes comentários sobre o texto traduzido do inglês. Estamos sendo vitimas deste tipo de manipulação emocional e a maioria do povo brasileiro não tem consciência disto, infelizmente.
Parabéns!
Merania Oliveira