I. Por Agostinho Vieira Neto - BH
Os salesianos são uma das jóias da região que abrange os bairros Dom Bosco e Bela Vista. Instalaram-se na chamada “Colina Helvética” (cocuruto que se estende até a atual Rua Bárbara Heliodora), que era área de propriedade da Mitra Diocesana de Mariana cujo bispo era o salesiano Dom Helvécio Gomes de Oliveira. Foi ele quem estabeleceu os salesianos em São João del-Rei, tendo inclusive implantado o seminário ¹, conta o Pe. Fernando Anuth, SDB (✰ 21/01/1933 ✞ 17/09/2024).
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Santuário Dom Bosco. Ao fundo, atual Campus da UFSJ, no antigo prédio da Faculdade Dom Bosco e do Colégio Dom Bosco. |
No solo da colina, um sonho e uma ideia foram plantados: a nova paróquia fora criada; um templo seria edificado, e um seminário se postaria ao lado dele. Por decreto do salesiano Dom Helvécio Gomes de Oliveira, arcebispo de Mariana, foi criada em 1936 a Paróquia de São João Bosco. Em seguida, iniciou-se a construção da igreja matriz, em terras de uma família de sobrenome Machado — assim dizem —, adquiridas pela Mitra de Mariana. Deu-se ao local o nome de Colina Helvética. A nova paróquia nasceu para homenagear Dom Giovanni Melchior Bosco (1815/1888), do clero diocesano de Turim, canonizado em 1934. Foi ele o fundador da Congregação dos Salesianos, cujo patrono é Francisco de Sales (1567/1622), o “santo cavalheiro”, dotado de nobreza, paciência e gentileza, virtudes bem ao gosto de Dom Bosco.
Foi assim que a história começou: no alto do morro já existia a capela do Albergue Santo Antônio *. Inaugurado em 1912, esse asilo foi criado pelos vicentinos do Pilar, com o incentivo de Frei Cândido Wroomans, um frade holandês, do Convento São Francisco. Ali eram abrigados e assistidos mendigos, idosos e doentes desamparados, e os sem teto que perambulavam na periferia da cidade, na área conhecida como “rua da fábrica”. Esse frade franciscano, dotado de bondade e compaixão, destacou-se por suas obras beneficentes em prol da comunidade e conduziu o albergue até 1927, quando, tendo sido transferido para o Rio de Janeiro, confiou-o à responsabilidade das Irmãs Carmelitas da Divina Providência.
Por volta de 1929, recém-chegado da Itália, Pe Francisco Tortoriello requereu de Dom Helvécio o uso de ordens, e do pároco do Pilar a incumbência de prestar assistência religiosa à população da dita área das fábricas. Criada a paróquia, a mesma desmembrou-se da Paróquia do Pilar (a única existente até então), e passou a ter sua sede provisória na capela Santo Antônio até que se construísse a igreja matriz. Como sede de paróquia, batizados, casamentos e outros ofícios ali poderiam ser realizados. Pe. Tortoriello celebrava a missa das cinco da manhã para atender os operários; organizou o “pequeno clero” ou coroinhas, assistidos pelo Sr. João Ciríaco; ao Sr. Djalma Assis confiou a Congregação Mariana. Atuou por dez anos como primeiro pároco. Sob a orientação do inspetor Pe. Orlando Chaves, levou a obra de construção da igreja até o ponto do telhado. Em 1946, semi-pronta a igreja, a paróquia pôde, então, transmudar-se da capelinha do albergue para sua sede nova e definitiva.
A partir de 1936, os salesianos foram chegando a São João del-Rei, graças ao incentivo do então prefeito, Sr. José Nascimento Teixeira. Vieram enviados pela Inspetoria N. Sra. Auxiliadora, sediada em São Paulo, a pedido de Dom Helvécio. Tinham como finalidade iniciar a obra salesiana na cidade. Instalaram-se num casarão de dois andares, onde tinha funcionado uma escola de artes e ofícios (1923/1939) — obra fundada por Frei Cândido e a União Popular — (situada na Avenida Leite de Castro, 62). Tal prédio existiu onde hoje é a Cacel. Na época, o terreno pertencia à Arquidiocese de Mariana e tinha comunicação com o Albergue. A partir de 1939 acomodou-se ali o primeiro núcleo dos filhos de Dom Bosco: os padres Francisco Gonçalves ², Fernando Henning ³ e Sidrac Valarino (secretário particular de Dom Helvécio) ⁴; o clérigo Ralfy Mendes ⁵ e o irmão leigo Aldo. Esses pioneiros ⁶ iniciaram o trabalho com cerca de 30 internos “aspirantes” ou seminaristas.
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Os primeiros aspirantes do Colégio São João - Crédito: encarte entre as pp. 78 e 79 no livro do Pe. Ralfy Mendes |
Aos domingos abriam o espaço para outros meninos — sistema Dom Bosco “ora et labora”: lazer, catecismo, oração e trabalho. Meus tios Zezé, Pedro (hoje Monsenhor Terra) e Paulo foram dos primeiros a frequentar o “Oratório”, pois moravam bem perto, do outro lado da avenida Leite de Castro. Esse seminário improvisado funcionou até 1943, ocasião em que, ainda inacabados os cômodos do prédio novo, o internato para ali se transferiu, e passou a ser chamado de Colégio São João; tempos depois foi inaugurado o externato.
Mais dois oratórios foram criados nos moldes do Oratório Festivo São João: o de São Caetano, em terreno doado pela família Nascimento Teixeira; e o de Santa Terezinha, com o apoio da família do Sr. Severino Giarola.
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Inauguração do Oratório Festivo Santa Terezinha - Crédito: encarte entre as pp. 184 e 185 no livro do Pe. Ralfy Mendes |
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Colégio São João (primitivo) e Oratório Festivo São João - Crédito: encarte entre as pp. 82 e 83 no livro do Pe. Ralfy Mendes |
Também tivemos a Escola Agrícola Padre Sacramento, fundada em 1929, dirigida pelos salesianos de 1943 até 1973, ano este em que a Congregação se afastou da direção dessa escola, também conhecida como “Patronato”.
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Escola Agrícola Pe. Sacramento - Crédito: encarte entre as pp. 106 e 107 no livro do Pe. Ralfy Mendes |
Em 1947 foi nomeado o primeiro pároco salesiano, Pe Francisco Gonçalves, que também dirigiu o Aspirantado ou o Colégio São João desde o seu início. Faleceu naquele mesmo ano, aos 36 anos, tomado de uma moléstia rápida, não identificada. Sucedeu-lhe o Pe José Vasconcelos na continuação das obras da matriz.
No período de 1946 a 1947, o pároco Pe. Duarte Costa tratou de dar acabamento e embelezamento à igreja moderna, de linhas elegantes.
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Santuário São João Bosco (esq.) e Colégio São João (dir.) - Crédito: encarte entre as pp. 90 e 91 no livro do Pe. Ralfy Mendes |
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Santuário São João Bosco em setembro de 1951 - Crédito: encarte entre as pp. 228 e 229 no livro do Pe. Ralfy Mendes |
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Colégio São João em 1950 - Crédito: encarte entre as pp. 220 e 221 no livro do Pe. Ralfy Mendes |
A torre e o relógio foram inaugurados em 1952 para comemorar as bodas de ouro sacerdotais de Dom Helvécio e seu irmão Dom Emanuel Gomes de Oliveira. Duarte, esse entusiasmado sacerdote, incrementou as associações religiosas, prestou assistência às Obras do Tabernáculo, deu vigor ao catecismo paroquial, organizou o corinho infantil das “cantorinhas”; fotografou muito, registrando passagens do crescimento da matriz: procissões, catecismo, primeira comunhão, coroações, piqueniques, barraquinhas, cenas com os meninos do colégio... e muito mais.
Assim, a Paróquia São João Bosco seguiu confiante na missão de evangelizar, difundir cultura e lazer, acolher os jovens, assistir comunidades carentes. Pelas décadas seguintes, gradativamente foi conquistando o carinho, a confiança e a admiração do povo são-joanense.
Meus agradecimentos ao Monsenhor Pedro Terra e Pe. Fernandinho por seus depoimentos; ao historiador José Antônio de Ávila Sacramento pelas preciosas informações que obtive em sua publicação OS SALESIANOS EM SÃO JOÃO DEL-REI.
Fonte: PENA, Geraldo: Boletim_Redex-s 1153-Anexo 2, Seção Memória, pp. 3-6, Ano 23, 1º de outubro de 2022
II. Por José Venâncio de Resende
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Vista aérea do Santuário Dom Bosco. Ao fundo, atual Campus da UFSJ, no antigo prédio da Faculdade Dom Bosco e do Colégio Dom Bosco. |
Os salesianos chegaram a São João del-Rei em l936, de acordo com o professor aposentado da UFSJ João Bosco de Castro Teixeira. “Instalaram-se em precárias situações, no pequeno Colégio São João, onde hoje se encontra a Cacel (Concessionária Volkswagen).”
A comunidade dos salesianos foi aberta pelo superior da Congregação Dom Orlando Chaves, acrescenta Padre Fernando Anuth. Na ocasião, o bispo de Mariana, Dom Helvécio, abriu mão do seu secretário, padre Sidrac Valarino, para garantir o número necessário à criação da comunidade.
Anteriormente, no subsolo da casa do industrial e político José do Nascimento Teixeira, no centro histórico, funcionava um espaço onde se preparavam candidatos a seminaristas salesianos, assinala Padre Fernando.
“Em l943, os salesianos transferiram-se para o local onde hoje se encontra o Campus Dom Bosco, mantendo no primeiro local o Oratório Festivo São João (havia na cidade outros dois oratórios festivos: nos bairros de Santa Terezinha e São Caetano)”, relata João Bosco.
“Quando eu cheguei em 1945, a construção do seminário estava pronta”, acrescenta Padre Fernando, ele mesmo seminarista na época.
“A igreja, que começou com o padre diocesano Francisco Tortoriello e depois passou para os salesianos, estava sem a torre”, prossegue Padre Fernando. Padre Tortoriello foi o primeiro pároco, tendo administrado a Paróquia São João Bosco no período de 1939 a 1947. A Paróquia foi instituída por decreto de Dom Helvécio e funcionou provisoriamente na capela do Albergue Santo Antônio até a conclusão da igreja em 1946.
“A Paróquia São João Bosco foi a primeira paróquia do mundo dedicada a Dom Bosco, que havia sido canonizado em l934”, assinala João Bosco. “O Santuário Dom Bosco foi sendo construído aos poucos. Sua inauguração, com a alta torre completa, se deu l954. Entre as várias capelas da Paróquia, uma teve particular atenção por parte dos salesianos: a capela de São Geraldo.”
“A Paróquia que os salesianos receberam abrangia o Matosinhos”, explica Padre Fernando. “A área onde funcionava o Oratório Festivo (centro paroquial de educação, convívio e diversões voltado a crianças e jovens), na Vila Santa Terezinha, pertencia à Inspetoria Salesiana São João Bosco”, lembra. “Com a criação da Paróquia de Matosinhos, houve uma permuta de área com a Diocese e parte do terreno da Paróquia na Colina Helvética passou aos salesianos.”
Faculdade
A Faculdade Dom Bosco-FDB foi instalada em 1954, tendo como orador oficial Tancredo Neves (então ministro da Justiça de Getúlio Vargas), informa João Bosco. “A Faculdade inicialmente servia apenas aos seminaristas. Posteriormente, ainda na década de 1950, aos alunos e alunas externos. Em l957, a Faculdade instalou o primeiro laboratório de psicologia experimental da América Latina, importado diretamente da Itália. Parte notável dos trabalhos da Faculdade deu-se no Laboratório de Pedagogia e Psicologia.”
As atividades da Faculdade Dom Bosco e do Colégio São João foram encerradas em l986. Os padres salesianos venderam o patrimônio físico do Colégio e da Faculdade ao Governo brasileiro, uma vez que o projeto de criação da instituição federal havia sido aprovado em dezembro de 1986. João Bosco Teixeira, que fora diretor da Faculdade entre 1973 e 1975, tornou-se o primeiro dirigente da Fundação Federal de Ensino Superior (FUNREI), oficialmente implantada em 21 de abril de l987, predecessora da UFSJ.
Instituto Nossa Senhora Auxiliadora
“A família salesiana ampliou-se, em 1956, com a fundação do Instituto Auxiliadora pela Irmã Nair Gonçalves de Oliveira, irmã do padre Francisco Gonçalves, primeiro diretor do Colégio São João (1939-1947)”, informa a diretora pedagógica Magaly Aquino Gomes Rosa. “(...) Durante cerca de cinco anos, o Instituto funcionou junto ao Colégio São João. Em 1961, tornou-se independente e deu início ao curso normal, de formação de professoras, que educou jovens durante três anos. Funcionavam juntos os cursos primário, ginasial e a faculdade.”
“A escola foi fundada para dar apoio à Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, encarregando-se do setor feminino que, a partir daquele ano, estaria aberta aos jovens e às jovens de São João del-Rei e de toda a região”, diz um texto institucional. “Era também um tempo em que havia necessidade de se formar professores e a criação da escola beneficiava a todos.”
Em 1974, foi reconhecido o ensino de 1º e 2º graus do Instituto Auxiliadora, que passou a ser misto. A partir daí, a escola ficou mais estável, passando a ser Escola de Aplicação da Faculdade Dom Bosco. Nesta época, padre Fernando assumiu a administração da Faculdade Dom Bosco, cargo que ocupou até 1985.
A partir de 2001, o Instituto Auxiliadora passou a integrar a Rede Salesiana de Escolas, que reúne os salesianos e as Filhas de Maria Auxiliadora.
Fonte: RESENDE, José Venâncio: Bairros são-joanenses: as jóias do Dom Bosco e da Bela Vista, Resende Costa: Jornal das Lajes, coluna Cidades, edição de 18/06/2019
III. NOTAS EXPLICATIVAS por Francisco José dos Santos Braga, gerente do Blog
¹ Considero necessário esclarecer que a obra salesiana em São João del-Rei contou com o concurso de quatro agentes fundadores: por iniciativa do Pe. Inspetor da Inspetoria Maria Auxiliadora do Sul do Brasil, Pe. Orlando Chaves, com a bênção e o válido apoio de Dom Helvécio Gomes de Oliveira, salesiano conforme mencionado; com o trabalho dos cooperadores salesianos da cidade de São João del-Rei, destacando-se a figura do industrial e político José do Nascimento Teixeira, “antigo cooperador das Obras de Dom Bosco, pai de dois filhos salesianos”, segundo [MENDES, 1951, 79]; e, finalmente, com a escolha de Pe. Francisco Gonçalves de Oliveira, um padre trabalhador, disposto ao sacrifício e inflamado de zelo pelas vocações.
² Eis, de acordo com [MENDES, ibidem, 9-82], um breve resumo que fiz da biografia de Pe. Francisco Gonçalves até sua chegada a São João del-Rei em 19 de dezembro de 1939.
Francisco Gonçalves de Oliveira, apelidado Chichico, nasceu a 21/02/1911 no distrito de Prudente de Morais, município de Matosinhos-MG. Filho de Francisco Gonçalves Mascarenhas e D. Maria José de Oliveira, apelidada D. Mariquinhas. Aos 5 anos de idade, ficou órfão de pai. Quatro anos mais tarde, D. Mariquinhas conseguiu, por recomendação do Dr. Francisco de Sales, ex-presidente de Minas e Ministro da Fazenda, lugares gratuitos para dois filhos José e Antônio, nas Escolas Dom Bosco de Cachoeira do Campo. Em 1922, Chichico concluiu o curso primário no Grupo Escolar de Prudente de Morais, ocasião em que a mãe conseguiu um lugar para ele nas Escolas Dom Bosco com a vaga do irmão José, que desejoso de ser padre, partia para o Aspirantado salesiano de Lavrinhas-SP. Naquela ocasião, Lvrinhas era uma pequena vila, distante 7 km da cidade de Cruzeiro. Ingressando nas Escolas Dom Bosco, Tinha verdadeira veneração pelo seu diretor Pe. Carlos Peretto e mostrava-se sempre muito grato ao coadjutor Sr. Fontoura. O Pe. Alcides Lana, inspetor salesiano, naquela época conselheiro escolar em Cachoeira do Campos, teria se referido a Chichico como um outro Domingos Sávio, tendo para si que conservou sempre a inocência batismal, conservando-se uma criatura angelical. Lavrinhas o recebeu paternalmente Pe. André Dell'Oca, diretor do estabelecimento. Em 1929 ingressou no noviciado salesiano e em 8 de dezembro do mesmo ano pediu ao Pe. Diretor para ser aceito aos votos religiosos que veio a professar em janeiro próximo, válidos pelos próximos 3 anos. Em seguida, o novo clérigo cursou dois anos de Filosofia, habilitando-se a tornar-se assistente e professor. Em seu 2º ano de Filosofia foi escolhido para catequista do Oratório Festivo de Cruzeiro. No ano seguinte, 1932, os superiores acharam conveniente que ficasse mesmo em Lavrinhas como assistente e professor dos aspirantes. Certo de sua vocação religiosa, em vez de renovar os votos por mais 3 anos, apresentou-se ao inspetor Pe. André Dell'Oca e pediu-lhe fazê-los logo perpétuos, no que foi atendido. No ano de 1933, foi entregue ao clérigo Francisco a divisão de médios, a mais difícil, em vista da idade dos alunos (de 14 a 16 anos). No ano seguinte foi ele transferido para assistir a divisão dos menores. Da mesma época, foi a sua oferta para auxiliar, ou melhor, para fundar o Oratório Festivo na vila de Cachoeira do Campo. No fim de 1934 estava terminado para ele a prova do tirocínio prático em que triunfara habilmente. Ainda neste período, traduziu do italiano o livro “O Jardim dos Eleitos”, sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, da autoria do Pe. João Bonetti. Em 1935, o clérigo Francisco ingressou no curso de Teologia no Instituto Teológico Pio XI que, então, se achava no bairro de Santana (São Paulo), onde hoje se encontra o Externato Santa Teresinha. Infelizmente, neste ano sofreu ele um abalo na saúde, sendo obrigado a interromper os estudos para passar algum tempo em Cachoeira do Campo. Com essa retirada estratégica, conseguiu fazer bem os exames finais e foi admitido ao subdiaconado, Ordem que recebeu em 18/12/1937. Finalmente, chegou o último ano de preparação ao sacerdócio. Em 12 de março de 1938 recebia o diaconado das mãos de Dom José Gaspar, bispo auxiliar de São Paulo e em 8 de dezembro do mesmo ano recebeu a ordenação sacerdotal das mãos de Dom José Gaspar de Affonseca e Silva, na Catedral provisória de Santa Ifigênia, em São Paulo. Durante a longa função, doente como estava desmaiou mais de uma vez, sendo preciso tomar injeção e quebrar o jejum. No princípio de 1939 Pe. Francisco aguardava a determinação dos superiores a respeito do lugar em que devia trabalhar. A casa privilegiada para recebê-lo foi a de Cachoeira do Campo. Recebeu o carogo de conselheiro escolar, o responsável pelo procedimento dos alunos e aplicação aos estudos. Em maio desse ano, o novo inspetor salesiano, Dom Orlando Chaves, visitando aquela casa, achou que havia nela grande disciplina, muita aplicação ao estudo e muita piedade, um ambiente parecido ao de um aspirantado. Nesse ano de 1939, toda a inspetoria, que abrangia todos os estados do Sul, desde Minas ao Rio Grande do Sul, não tinha mais do que 220 aspirantes. Multiplicavam pedidos de toda a parte, implorando que os salesianos abrissem novas casas ou que se dispusessem a cuidar de colégios já construídos e aptos a funcionar, mas os superiores viam-se obrigados a recusar a oferta por falta de salesianos. Eles se conscientizaram de que a solução de tão grave problema estava em aumentar as vocações, abrir novos aspirantados. Foi assim que Dom Orlando Chaves iniciou inteligentemente, como inspetor, essa cruzada admirável de ver aumentada a quantidade de aspirantes e clérigos da inspetoria do Sul, longo desdobrada em duas. Feita a propaganda para o aumento das vocações, era necessário construir novos aspirantados. Aconselhado por Dom Helvécio, salesiano e arcebispo de Mariana, escolheu o inspetor a cidade de São João del-Rei para lá colocar um novo aspirantado, tendo em vista que todos os anos se reuniam lá, na casa do saudoso cooperador Sr. José do Nascimento Teixeira, grupos de meninos que eram depois levados para Lavrinhas. Julgou-se de bom alvitre encurtar esse caminho. Como era preciso, quanto antes, escolher um padre trabalhador, disposto ao sacrifícios e inflamado de zelo pelas vocações, a escolha recaiu sobre Pe. Francisco. Foi assim que chegou a essa cidade, a 19 de dezembro de 1939, Pe. Francisco Gonçalves, trazendo consigo, para ajudá-lo, um moço aspirante, Aldo Maia. A casa destinada ao aspirantado era o velho edifício do Liceu de Artes e Ofícios, da Avenida Leite de Castro. Para funcionar provisoriamente o colégio, Dom Helvécio cedeu aos salesianos o uso desse prédio, pertencente à Mitra da Arquidiocese Marianense. Tendo ficado o casarão abandonado por algum tempo, precisava agora de sérias reformas e adaptações. Para a reforma do prédio, os cooperadores, os amigos da obra salesiana desta cidade e a prefeitura municipal se incumbiram generosamente da reforma e adaptação do prédio. Os trabalhos se iniciaram logo, contribuindo com o seu auxílio o padre diocesano, vigário da Paróquia de São João Bosco, Cônego Francisco Tortoriello, que se mostrou bom amigo de Pe. Francisco e dos salesianos. No início de fevereiro de 1940 * já o Pe. Francisco transferia para lá sua residência e alguns aspirantes começaram a chegar. Vieram também ajudá-lo nesta obra o clérigo Emílio Pedro e o irmão coadjutor Sr. Antônio Firmiano Santana: aquele assistiria e daria aula aos meninos, enquanto este tomaria conta da dispensa, cozinha e horta. Um grande reforço enviou também Dom Helvécio na pessoa do seu secretário, Pe. Sidrac Valarino, salesiano.
Essas são ligeiras anotações ou breve resumo da biografia de Pe. Francisco Gonçalves até sua vinda para São João del-Rei. [MENDES, idem, 7] menciona que “em sete anos que viveu em São João del-Rei, angariou tantas simpatias e amizades que, depois de morto, foram 18.000 os que lhe foram levar o último adeus no cemitério!” Isso aconteceu no dia 23 de julho de 1947.
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Uma das últimas fotografias de Pe. Francisco Gonçalves - Crédito: encarte entre as pp. 134 e 135 do livro de Pe. Ralfy Mendes |
³ Pe. Fernando Henning foi um salesiano que dirigiu o antigo “Patronato”
no Bengo. Este benfeitor das obras salesianas em São João del-Rei é lembrado com a denominação de um logradouro em São Gonçalo de Amarante,
distrito da cidade.
⁴ Segundo [MENDES, idem, 80], Pe. Sidrac Valarino “prestou um grande auxílio ao incipiente aspirantado, não só como confessor dos meninos, como também nos trabalhos que empreendeu para canalizar as águas do terreno e fazer os pátios para os alunos”.
⁵ Pe. Ralfy Mendes, S.D.B., nasceu no dia 11 de julho de 1917 em Campo dos Goytacazes-RJ e faleceu na mesma cidade, sendo seu corpo sepultado em Comendador Venâncio-RJ em 04/03/2008.
Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, Pe. Ralfy Mendes de Almeida, S.D.B., foi ordenado padre em dezembro de 1950. Foi atuar na cidade mineira de São João del-Rei, onde ajudou a criar a Faculdade Dom Bosco de Filosofia Ciências e Letras. Em São Paulo, foi membro da Editora Salesiana tendo fundado, em 1977, a “Revista de Catequese” que dirigiu por 12 anos. Formou-se em Pedagogia pela Universidade Pontifícia Salesiana, em Roma. Lecionou catequética no Instituto Teológico Pio XI. Foi assessor de catequese na CNBB, e também membro do Departamento de Catequese do CELAM e do Conselho Internacional de Catequese em Roma. Faleceu aos 90 anos de idade no Hospital Álvaro Alvim, em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro.
Sua atuação na música popular se deu quando na década de 1960, foi um dos diretores do grupo vocal Os Pequenos Cantores da Guanabara para o qual compôs ainda inúmeras músicas. Em 1962, o LP “Vozes da Cidade Maravilhosa”, o primeiro lançado pelo grupo Os Pequenos Cantores da Guanabara incluiu as suas composições “Sonhei”, “Favela diferente” e “Ok”, todas composições solo, além de “Bem-te-vi”, com o Padre M. Albuquerque. No mesmo ano, visando as festas natalinas o grupo lançou o LP “Feliz Natal” com a Orquestra de Paulo Monteiro de Souza, interpretando 12 temas clássicos da festa da cristandade, incluindo duas composições suas: “Árvore de Natal” e “Estrelinha cintilante”. Em 1963, teve duas marchas incluídas na coletânea “Chegou a folia! – Os sucessos do carnaval de 1963” da gravadora Philips com a interpretação do grupo Os Pequenos Cantores da Guanabara: “Bebê chorão” e “O trombone do Ferdinando”. Em 1964, o grupo lançou o LP “Lotação para a lua” com a interpretação da música titulo de sua autoria, tendo composto também para este LP as músicas “Guanabara linda”, “Ave Maria dos estudantes”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Pingente da Central”, “Andorinhas” e “Se eu fosse um peixinho”. Teve quinze músicas gravadas pelo grupo Os Pequenos Cantores da Guanabara, incluindo valsas, canções de Natal e até mesmo marchas carnavalescas.
Sua atuação na música popular se deu quando na década de 1960, foi um dos diretores do grupo vocal Os Pequenos Cantores da Guanabara para o qual compôs ainda inúmeras músicas. Em 1962, o LP “Vozes da Cidade Maravilhosa”, o primeiro lançado pelo grupo Os Pequenos Cantores da Guanabara incluiu as suas composições “Sonhei”, “Favela diferente” e “Ok”, todas composições solo, além de “Bem-te-vi”, com o Padre M. Albuquerque. No mesmo ano, visando as festas natalinas o grupo lançou o LP “Feliz Natal” com a Orquestra de Paulo Monteiro de Souza, interpretando 12 temas clássicos da festa da cristandade, incluindo duas composições suas: “Árvore de Natal” e “Estrelinha cintilante”. Em 1963, teve duas marchas incluídas na coletânea “Chegou a folia! – Os sucessos do carnaval de 1963” da gravadora Philips com a interpretação do grupo Os Pequenos Cantores da Guanabara: “Bebê chorão” e “O trombone do Ferdinando”. Em 1964, o grupo lançou o LP “Lotação para a lua” com a interpretação da música titulo de sua autoria, tendo composto também para este LP as músicas “Guanabara linda”, “Ave Maria dos estudantes”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Pingente da Central”, “Andorinhas” e “Se eu fosse um peixinho”. Teve quinze músicas gravadas pelo grupo Os Pequenos Cantores da Guanabara, incluindo valsas, canções de Natal e até mesmo marchas carnavalescas.
⁶ De 19 de dezembro até 27 de janeiro, consta que eles ficaram 4 dias hospedados em casa de Cel. José do Nascimento Teixeira, e pouco mais de um mês no Albergue Santo Antônio, dirigido pelas beneméritas Irmãs Carmelitas Terceiras Regulares, situado nas vizinhanças do Colégio São João. Exatamente “no dia 28 de janeiro de1940 começam a habitar no colégio o Pe. Francisco Gonçalves, o coadjutor Aldo Maia, o clérigo José Teixeira e os três primeiros alunos que se internaram: três irmãos João, Adolfo e Silvério Carvalho Ribeiro.
No dia 31 de janeiro de 1940, o colégio é inaugurado oficialmente, às 7h 30 min, com Missa festiva de São João Bosco na Matriz provisória de São João Bosco, celebrada pelo Exmo. e Revmo. Dom Serafim Jardim, arcebispo de Diamantina, convidado para os atos inaugurais. À Missa seguiu-se a bênção do edifício pelo mesmo arcebispo. Na entrada da capelinha cortou a fita inaugural o Exmo. Sr. Dr. Antônio das Chagas Viegas, Prefeito Municipal de São João del-Rei, proferindo uma alocução sobre a obra salesiana e as esperanças da nova fundação. Assistiram à Missa e ao ato da inauguração as autoridades locais, os cooperadores da cidade e grande número de amigos e convidados.” (Texto extraído de escritos particulares do saudoso Pe. Francisco Gonçalves)
IV. AGRADECIMENTO
O
gerente do Blog agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga pela
formatação do registro fotográfico utilizado neste trabalho.
V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAGA, Francisco J.S.: FDB-FACULDADE DOM BOSCO DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS, publicado no Blog do Braga em 17/05/2022
_____________________: FORMATURAS SOLENES, PARANINFOS E ORADORES NA FDB-FACULDADE DOM BOSCO DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS, publicado no Blog do Braga em 27/05/2025
_____________________: Meu mestre inesquecível Padre Luiz Zver, SDB > > > 1ª Parte, publicado no Blog do Braga em 12/03/2010
MENDES, Pe. Ralfy: AMOR... ALEGRIA... SACRIFÍCIO. UMA FLOR SALESIANA DO BRASIL: Vida do P. Francisco Gonçalves, Belo Horizonte: III Série: Leituras Edificantes, vol. 1, 1951, 259 p.
Link: https://dicionariompb.com.br/artista/padre-ralfy-mendes/
Link: https://dicionariompb.com.br/artista/padre-ralfy-mendes/
ZVER, Gabriela: LUIZ ZVER – Natural de Dokležovje, ligado espiritual, intelectual e profundamente ao Brasil, mas também a Lendava (1913–2005), publicado no Blog do Braga em 02/03/2021
Um comentário:
Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Prezad@,
Na presente matéria no Blog utilizo dois textos que considero úteis para dar a perfeita ideia da evolução da obra salesiana em São João del-Rei durante o período que vai de 1936 a 1986, quando foi encerrada. Os padres salesianos venderam o patrimônio físico do Colégio Dom Bosco e da FDB-Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras ao Governo brasileiro, uma vez que o projeto de criação da instituição federal (FUNREI) havia sido aprovado em dezembro de 1986. Entretanto, a presença salesiana de 50 anos de intensa atividade permanece no coração e na mente de todos os que absorvemos nesta fonte do saber.
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2025/06/colina-helvetica-em-sao-joao-del-rei.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
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