- Artigo
publicado originalmente na Revista de Cultura Vozes, ano LXXXVI,
janeiro-fevereiro 1992, p. 80-91, nº 1, por ocasião do Bicentenário da
Morte do Tiradentes, o qual deu origem a um discurso do Senador Alfredo
Campos (PMDB-MG) em Plenário (11/03/1992) e a um opúsculo intitulado
"Tiradentes, Cidadão Sanjoanense (uma contribuição ao restabelecimento
da verdade histórica acerca do local de nascimento do Tiradentes)",
editado pela Gráfica do Senado.
O quarto a reconhecer a cidadania sanjoanense do Tiradentes foi Canabrava Barreiros nascido em Curvelo-MG, que em 1976 nos brindou com o excelente estudo "As Vilas Del Rei e a Cidadania de Tiradentes", que faz parte da coleção Documentos Brasileiros (nº 172), onde, a partir da página 104, usque ad finem, o eminente técnico em cartografia firma o seguinte entendimento:
"a) Tiradentes nasceu na Fazenda do Pombal, no termo da Vila de São João del-Rei, isso em 1746.Ou seja, aqui Canabrava Barreiros afirma categoricamente que o povoado onde se localiza a Fazenda do Pombal jamais deixou de estar juridicamente vinculado a São João del-Rei, mesmo após a correição de 17/12/1755, feita pelo ouvidor-geral da Comarca.
b) Foi batizado na Capela de São Sebastião do Rio Abaixo, freguesia de N. S. do Pilar da vila de São João del-Rei.
c) Aos 9 anos de idade, em 1755, a área onde nasceu passou, em virtude de correição do Ouvidor da Comarca do Rio das Mortes, à jurisdição da Vila de São José del-Rei (atual Tiradentes).
d) Cinco anos depois, em 1760, uma irmã de Tiradentes e seu marido assinaram requerimento dizendo-se moradores do Rio Abaixo, na 'Freguesia de N. S. do Pilar da vila de São João del-Rei'.
e) O próprio Tiradentes informa, na primeira inquirição, em 22 de maio de 1789, ser 'NATURAL DO POMBAL, TERMO DA VILA DE SÃO JOÃO D'EL REY'.
f) Finalmente, em 238 anos de relacionamento comprovado, de Santa Rita do Rio Abaixo com as duas vilas del-rei, 30 anos foram sob a jurisdição de São José (atual Tiradentes), 29 anos não suficientemente comprovados, e 238 anos sob a jurisdição da vila de São João del-Rei".

À vista farta documentação trazida a lume pela respeitada autoridade em cartografia, parece que a disputa sobre a cidadania do Tiradentes perde sua razão de ser, permitindo-me pleitear que a comemoração oficial do bicentenário da morte de Tiradentes se realize na sua terra natal. Tradicionalmente, o Governo Estadual de Minas Gerais, em 21 de abril, transfere a capital para Ouro Preto, pois foi principalmente aí, na antiga Vila Rica, que o Alferes fez sua pregação revolucionária e onde, após ter sido enforcado e esquartejado no Rio de Janeiro, teve sua cabeça exposta à execração pública, dentro de uma gaiola de ferro, no alto de um poste erguido no centro da praça principal, entre o palácio do governo e a cadeia pública, "para escarmento dos povos".
Como sanjoanense nato, admirador de seu zelo pela tradição e cultor de sua cultura, que através dos anos tem inscrito nos fastos da história vultos famosos como o Tiradentes, Bárbara Eleodora Guilhermina da Silveira (esposa do inconfidente Alvarenga Peixoto), o poeta - membro da Arcádia Mineira - Manuel Inácio de Alvarenga, o compositor Padre José Maria Xavier, o historiador Basílio de Magalhães (um dos mais ilustres e cultos filhos adotivos de São João del-Rei), o ex-Presidente Tancredo Neves e o atual Procurador Geral da República, Aristides Junqueira Alvarenga, para citar apenas alguns; portanto, identificando-me com os destinos desta terra, é que venho reivindicar às Autoridades competentes - o IHGB, o SBPC, a Secretaria de Cultura do Estado de Minas e demais entidades culturais brasileiras - e especialmente ao Vice-Presidente da República, mineiro, Itamar Franco, se dignem restabelecer a verdade histórica, tributando a São João del-Rei a homenagem de ter sido o berço do Tiradentes, através de reconhecimento oficial, por ocasião dos festejos do bicentenário de sua morte.
Continua...

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