sábado, 13 de janeiro de 2018

Colaborador: PADRE GODINHO


Por Francisco José dos Santos Braga





PADRE Antônio de Oliveira GODINHO nasceu em 23 de janeiro de 1920, em Carmo da Cachoeira, Minas Gerais, filho de José Godinho Chagas e Albertina de Oliveira Godinho. Sacerdote e professor universitário, doutor em Filosofia, Teologia e Direito pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. 

Iniciou sua vida pública em São Paulo, como deputado estadual, exercendo seu mandato de 1959 a 1963, pela UDN. Em 1960, participou como orador sacro do programa da Semana Santa de São João del-Rei, a convite do Pe. Almir de Rezende Aquino, pároco da então Matriz de Nossa Senhora do Pilar. ¹ Em seguida, foi eleito deputado federal para dois mandatos (1963 a 1967, e 1967 a 1971, sendo neste último eleito numa coligação da UDN com o PDC e o PRT). Como deputado federal destacou-se pela eloquência e erudição. Entre seus magníficos discursos na Câmara dos Deputados, destaca-se o que proferiu no dia 26 de novembro de 1963 para registrar nos Anais o sentimento de consternação que assolara o mundo com o assassinato do 35º Presidente dos Estados Unidos John Fitzgerald Kennedy, ocorrido em Dallas, Texas, quatro dias antes. ² Como parlamentar atuante que foi, desempenhou várias missões, cabendo ressaltar a sua missão de Observador Parlamentar à 45ª Conferência da Organização Internacional do Trabalho, em Genebra, em 1964. Não chegou a terminar seu terceiro mandato, pois no dia 7 de fevereiro de 1969, teve seu mandato cassado e os direitos políticos suspensos por 10 anos.

Ocupou a cadeira de nº 32 patroneada por Mário Antônio de Magalhães Gomes, da Academia Sul-Mineira de Letras, sediada em Campanha-MG.

Para sobreviver, Padre Godinho traduziu para o português, sob diversos pseudônimos, obras da literatura italiana, entre elas, de Pier Paolo Pasolini, Alberto Moravia e Giovanni Guareschi. Já havia traduzido do latim, em 1962, a Encíclica Mater et Magistra











































Recuperando seus direitos políticos em 1979, após a extinção do bipartidarismo, em 29 de novembro daquele ano, e consequente formulação partidária, filiou-se ao PTB. 

Nos anos 80 passa a ser mais conhecido pela opinião pública devido ao seu ingresso na equipe de comentaristas do telejornal vespertino Record em Notícias (1973-1990), chamado popularmente de "Jornal da Tosse".

De suas obras, cabe destacar um livro de memórias "Todas as Manhãs são Azuis: Reminiscências" (1991), cobrindo os tempos da infância e da juventude, até os dias difíceis da II Guerra Mundial, que passou na Roma ocupada pelos nazistas alemães. Com exceção dos capítulos I (intitulado "Infância") e II ("Seminário Menor"), o capítulo III, intitulado "Roma", vai da página 69 à de nº 166 e é dedicado à sua vida na capital italiana (desde novembro de 1936 a novembro de 1945, época coincidente com a queda do Estado Novo), sendo o capítulo IV intitulado "O Padre" constituído de suas crenças particulares a respeito de seu múnus sacerdotal.
Livro de Pe. Godinho com prefácio do jornalista Luiz Fernando Mercadante e desenho de capa de Maria Luiza Campelo

Publicou também "Catolicismo, comunismo e outros assuntos" (1947).

Em 1979, recém-nomeado diretor do Museu de Arte Sacra de São Paulo, ficou responsável por integrar o edifício histórico e o acervo, eliminando paredes, liberando espaços e redistribuindo peças e obras. Aí estão representados grandes pintores, ourives e escultores brasileiros, tais como, na sala dos mestres beneditinos, os ceramistas freis Agostinho da Piedade (Santo Amaro) e Agostinho de Jesus (Nossa Senhora dos Prazeres e Nossa Senhora da Purificação), Aleijadinho (Nossa Senhora das Dores e Sant'Ana Mestra, ambas em madeira), Mestre Valentim (Anjo, em madeira). Há ainda espaços destinados à ourivesaria religiosa (jóias, cálices, adereços, etc.), aos textos históricos sobre a criação da diocese de São Paulo e ao mobiliário da sacristia convivem com as salas dedicadas aos santeiros populares, às "paulistinhas" — pequenas imagens populares de barro, típicas de São Paulo — e às imagens do Divino, versão local dos modelos eruditos. O acervo do museu conta ainda com pinturas do baiano Capinam (1791-1874) e de Benedito Calixto (1853-1927). Em 1983 publicou o livro "Museu de Arte Sacra de São Paulo".
Placa de comemoração do restauro total do Museu de Arte Sacra de São Paulo (18/12/1980) em homenagem à visita de Sua Santidade João Paulo II ao Brasil

Quando os santos dos altares da Capela da PUC acompanharam as freiras carmelitas que saíram de Perdizes e foram para o Jabaquara, Pe. Godinho convidou o artista José Tudon Puyeo, em 1958, a esculpir as imagens de São Tomás de Aquino e Santa Teresinha para o altar principal; o Sagrado Coração de Jesus e São José, para os altares laterais. ³

Consta também que Pe. Godinho é o autor de um poema, em comemoração dos 100 anos da criação da Freguesia da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (hoje Carmo da Cachoeira), hoje transformado em Hino do Sesquicentenário por adaptação feita por Jovâne, Jobinho e Tiãozinho. 

Faleceu em São Paulo, em 17 de outubro de 1992.


Concordo com o jornalista Luiz Fernando Mercadante, que prefaciou "Todas as Manhãs são Azuis: Reminiscências" em 1988, sob o título Uma verdadeira Catedral
"Antônio de Oliveira Godinho — arquiteto da palavra — construiu, pedra a pedra, página a página, este belo livro, verdadeira catedral.  
Catedral barroca, penetrei este livro ainda na virgindade dos originais, em uma noite e madrugada sacramentais. (...)  
E o que fora meu privilégio por uma noite, dias, semanas e meses, torna-se, hoje, democraticamente, pintura, afresco, escultura, música ao alcance de todos.

5 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Tenho o prazer de apresentar o 5º trabalho de pesquisa sobre a vida e obra de Padre Godinho. No Blog do Braga foram publicados os quatro anteriores.

No presente trabalho, será examinado um texto de PADRE GODINHO contendo suas impressões sobre a sua estada em Roma. Sua chegada à Cidade Eterna se deu em 27 de novembro de 1936 e sua despedida foi em outubro de 1945, ou seja, esteve numa posição privilegiada durante a Grande Guerra, como estudante do Pontifício Colégio Pio-Brasileiro, uma bela construção situada no início da Via Aurelia Nova, onde realizou seus estudos de Filosofia, Teologia e Direito Canônico, e principalmente como tradutor de documentos pontifícios para o português do Brasil. A travessia do Atlântico durou 22 dias, de modo que o navio aportou no Rio de Janeiro numa manhã de novembro de 1945, totalizando 9 anos de ausência de sua terra natal. Sua estada em Roma permitiu-lhe ser testemunha ocular da Grande Guerra e das relações complexas da Igreja com o Duce, os nazistas e os comunistas. Suas reminiscências desta época estão no livro "TODAS AS MONTANHAS SÃO AZUIS", onde ele não se absteve de tratar de assuntos polêmicos e delicados do ponto de vista da Igreja e de dar sua opinião sincera sobre tudo o que presenciara em Roma.
O seu livro ficou publicado em 1991 e Padre Godinho faleceu em 17/10/1992, ou seja, não teve tempo suficiente para trabalhar na divulgação da sua última obra.

Sobre o colaborador Padre Godinho (biografia a meus cuidados)
http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2018/01/colaborador.html

Sobre o texto (extraído de "Todas as Montanhas São Azuis")
http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2018/01/todas-as-montanhas-sao-azuis_13.html

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei

Rute Pardini (cantora lírica, soprano) disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Rute Pardini (cantora lírica, soprano) disse...

Querido, que maravilha de texto! Que narrativa fiel aos fatos!
Me vi colada na leitura do início ao fim.
Sempre que surge assunto sobre o Papa Pio XII e ouço algum comentário desairoso sobre ele, sinto-me constrangida por não saber como defendê-lo.
Mas agora eu vi e aprendi, ao ler essa narrativa de padre Godinho! Que nobreza, que alma clemente desse Papa ao acolher tantos perseguidos, bem debaixo das barbas do Nazismo, abrindo a porta do Vaticano aos refugiados. Quanto me emociona saber que esse mesmo Papa, que tantos criticam, deu instruções a padres, monges, freiras, cardeais e bispos italianos para salvar milhares de vidas judias.
Confirmo meu sentimento de respeito e toda a obediência ao querido Pio XII.
E que experiência curiosa do Padre Godinho, hein?, ao salvar um velho judeu refugiado de um campo de concentração fascista!
Que adrenalina ler e reviver os apuros passados por ele e seus colegas nos corredores da escola do Vaticano, enfrentando com coragem amarelada, mas, ainda assim, coragem. Pensavam: somos nós a salvar todo o Vaticano ou eles a nos matar!...
Parabéns, meu amor! Termino a leitura de seu artigo com um misto de emoção e sensação de ter vivido aquele apuro no corredor da escola, junto com o Padre Godinho!
Te amo, querido Francisco!

Dr. Mário Pellegrini Cupello (escritor, pesquisador, presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, e sócio correspondente do IHG e Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Caro amigo Braga

Com muito gosto li o trecho do livro do Padre Godinho – publicado em seu Blog – falando sobre suas reminiscências vividas na Itália, durante a guerra que se instalou na Europa.

Exatamente por esse motivo meu pai e meus tios deixaram a Itália, no início do século XX, para virem morar definitivamente no Brasil, em meio ao caos que se instalou na Europa, com fortes reflexos sobre a Itália, que se viu envolvida em uma enorme crise econômica e social, como consequência de uma guerra que a deixou em estado lastimável.

Li todo o texto do Pe. Gocinho e apreciei a riqueza de detalhes com que ele descreveu os horrores da guerra: ele como testemunha ocular dos fatos.

Agradeço-lhe pelo envio.

Abraços, Mario.

Danilo Carlos Gomes (cronista, escritor e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal e da Academia Brasiliense de Letras) disse...

Prezado mestre Francisco Braga, meu abraço marianense. Gostei muito de seu blog sobre o famoso Padre Godinho. Não o conheci pessoalmente. Ele era amigo de meu tio padre, Padre Antônio Firmino Motta. Amigo da minha família materna, Motta. Amigo do meu tio Francisco de Paula Motta. Os dois trabalharam, em São Paulo, com o Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, que era primo do meu avô Pedro Teixeira da Motta Júnior (nascido em Ouro Preto). Nós chamávamos o Cardeal de Dom Carlos. Ele almoçava na casa de meus pais, quando ia a Mariana; eu era menino. Certamente ele, na véspera ou no dia seguinte, almoçava com o Arcebispo Dom Helvécio de Oliveira. Dom Carlos era um diplomata e estudou Direito em Olinda; chegou a ser Vereador em Caeté.
Mas voltemos ao Padre Godinho. Ele me mandou o livro "Todas as montanhas são azuis": delicioso. Não sei onde anda. Escrevi sobre ele, no "Estado de Minas". Gostei muito do livro. Padre Godinho era brilhante. Político e escritor. Amigo do Padre Pedro Maciel Vidigal, de Calambau, MG (atual Presidente Bernardes). Padre Vidigal nos dizia: Eu não moro em Presidente Bernardes, eu moro em Calambau, onde nasci. Ele era ferrenho inimigo político de Arthur Bernardes. Odiavam-se. Fui a Calambau, nos 95 anos do sacerdote, já viúvo (foi a Roma, pedir Pio XII para se casar, com moça de Nova Era, acho que ex-freira). Ele nos dizia: Continuo padre, da ordem de Melquisedeque: "Sacerdos in aeternum." Vou procurar o livro do Padre Godinho na Estante Virtual, o sebo de nossos dias. Obrigado pelos belos textos. O Padre Godinho (100 anos em 2020) merece essa sua bonita homenagem. Abraço do Danilo Gomes.