Por João Guimarães Rosa
Cordisburgo
era pequenina terra sertaneja, trás montanhas, no meio de Minas Gerais. Só
quase lugar, mas tão de repente bonito: lá se desencerra a Gruta do Maquiné,
milmaravilha, a das Fadas; e o próprio campo, com vasqueiros cochos de sal ao
gado bravo, entre gentis morros ou sob o demais de estrelas, falava-se antes:
“os pastos da Vista Alegre". Santo, um "Padre Mestre", o Padre
João de Santo Antônio, que recorria atarefado a região como missionário
voluntário, além de trazer ao raro povo das grotas toda sorte de assistência e
ajuda, esbarrou ali, para realumbrar-se e conceber o que tenha talvez sido seu
único gesto desengajado, gratuito. Tomando da inspiração da paisagem a loci
opportunitas, declarou-se a erguer ao Sagrado Coração de Jesus um templo
naquele mistério geográfico. Fê-lo e fez-se o arraial, a que o fundador chamou
"O Burgo do Coração". Só quase coração – pois onde chuva e sol e o
claro do ar e o enquadro cedo revelam ser o espaço do mundo primeiro que tudo
aberto ao supra-ordenado: influem, quando menos, uma noção mágica do universo.
Mas, por
"Cordisburgo", igual, verve no sério-lúdico de instantes, me tratava,
ele, chefe e o amigo meu, João Neves da Fontoura. - "Vamos ver o que
diz Cordisburgo..." - com o riso arroucado, quente, dirigindo-se nem
reto a mim, senão feito a escrutar sua presente sempre cidade natal, "no
coração do Rio Grande do Sul". Provinciano - no justo traço
psicológico e moral, que não no social e político - buscasse, aqueles
momentos, uma reinsuflação de lá, entre o aconselhamento. Dessa Cachoeira, que
o formou, que ele constante amou, a que como Prefeito prestou devotado e
afincado anos de vida, refazendo-a, e pronunciando-se ainda filho devedor, dela
orgulhoso; como, pensando "rio-grandensemente", diz ser o Rio Grande
"orgulhosamente província". Ribeiro Couto, saudoso mais hoje conosco,
e que a ponto co-adotara o hipocorístico, de Belgrado vem vez me telegrafava:
"Pouso Alto se embandeira e toca os sinos em honra de Cordisburgo".
João Neves, porém, nosso Embaixador e Chanceler - requerendo o interior e
a província, onde firma residir ainda "a força do Brasil, especialmente
nos maiores Estados", reclamando seu trato como necessário para quem
aspire a exercer qualquer notória influência, imputando às metrópoles levarem
"ao diletantismo, à superficialidade, ao epicurismo", e professando
nada conhecer "que melhor exprima a vontade do povo em geral do que o povo
municipal", - entendíamos juntos, do modo, o País entrançado e uno,
nosso primordial encontro seriam resvés íntimos efeitos regionais. Para Paris,
escreveu-me: "Vi uma fotografia da entrega de credenciais do Carlinhos.
Nela você aparece no fundo ostentando uma gravata de listas vivas, que tanto
pode ser fabricação do Sulka, como comprada no armarinho da Main Street de
Cordisburgo”. Via-me lento e desacostumado mineiro capiau, indeformado, ou
o-quê, segundo seu avaliar, xará e caçula companheiro no sentir de homem
lá-de-fora ou lá-de-dentro; isso nos concertava. Às quandas, equivocava-se e
dava-me “Barbacena" - a sagaz e espiritual, onde, em tempos diversos,
ambos residíramos gratamente, e tão-então não menos um nosso "lugar
geométrico". Por mim, frequente respondia-lhe topando topônimos. -
"Cachoeira concorda?" - se bem que, no comum, o chamasse de
"Ministro". Escuto-o: - "E agora? Que há com
Cordisburgo?"
- Muito,
Ministro. Muita coisa...
De fim a
fundo. Digo, conto o que de João Neves da Fontoura, por afortunada aproximação,
me foi dado colher - o transordinário na experiência humana ordinária,
ideia e impressão, singelo testemunho simples, do ato ao fato – na memória mais
sentida. Para tanto, terei de à-pauta citar-me. Embora. No que refiro,
sub-refiro-me. Não para a seus ombros aprontar minha biografia, isto é, retocar
minha caricatura. Não eu, mas mim. Inábil redutor, secundarum partium,
comparsa, mera pessoa de alusão, e há de haver que necessária. O espelho não
porfia brilhar nem ser; mas, por de-fim, para usação, bem tem de relustrar-se.
Direi.
Dele
devo, por exemplo, datar o que recebi, com mãos menores. Da valia intelectual e
dos rastros de cumprida vida pública - sua vasta capacidade inquieta, sua
folha de batalhas, seus breves postos em poder e frementes empenhos de antagonista,
seu inteiro atuar na política brasileira, tantas horas decisivo, tensa sua
figura histórica - discorrem e esclarecerão, a olhos gerais, os anais,
arquivos, livros, esplêndida informação autobiográfica. Esse o metal já
amoedado - não permitido a alguma espécie de desaparecimento e
esquecimento. Duvidemos, isto, dos que o não souberam compreender; a traça não
pode com a alfazema. Tenho, sim, muito pouco, um tantésimo, um quantésimo. O
que devo portar por fé.
Nem o que
queria atinjo. Como redemonstrar a grandeza individual de um homem, mérito
longuíssimo, sua humanidade profunda: passar do João Neves relativo ao João
Neves absoluto? Sua perene lembrança - me reobriga. O afeto propõe fortes
e miúdas reminiscências. Por essa mesma proximidade, tanto e muito me escapa;
fino, estranho, inacabado, é sempre o destino da gente.
Vai para
40 anos; e era momento de juventude. Súbito, o povo guardava brado e gesto, um
começo de começo. Foi a 5 de agosto de 1929. Aparecia para o Brasil, deste
tamanho, um nome - o do destravador, servo dá palavra e de prender fogo.
(João - que nem os Crisólogos, Crisóstomos, donde ouro qual tal: Fons
Aurea, Fonte áuria, Fontoura; alvo - Neves - em nitidez). Davam os
jornais, eco centelhar de fragmentos, sua fala na Câmara, de três horas,
discurso-suma de toda uma esquipada: "... Vamos para o prélio aceso das
urnas, e quiçá para o prélio sangrento das armas." Vocava "uma crença
nas forças imortais do espírito de renovação." Reportava-nos os da altiva
marca meridional, de rajadas, rasgos, verticalidade e ímpeto, robusta evolução
cívica: ... "os rio-grandenses, que traçaram as fronteiras da Pátria a
ponta de lança e pata de cavalo..." - o gaúcho de brio e cerne ao ar
livre. Trazia a Paraíba, valente em entono em sonância, "até às montanhas
de Minas Gerais. Minas pacífica, Minas vitoriosa!" Tomamo-lo a tento. Ele
ardia. Ia, no entreassomo, mas no eito do arremesso:
"Sonhava nesta geração bastarda
Glórias. . . e liberdade!
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O gênio das pelejas parecia..."
- o de ÁLVARES DE AZEVEDO, no "Pedro Ivo". Mas, de quem, então:
Glórias. . . e liberdade!
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O gênio das pelejas parecia..."
- o de ÁLVARES DE AZEVEDO, no "Pedro Ivo". Mas, de quem, então:
"A fronte envolta em folha de loureiro
Não a escondamos, não!"
Não a escondamos, não!"
Na
convibração, no momento, comportávamos, nós outros, seja ou não, sobeja
exaltação e fantasia. Seduzia-nos assim entanto, imantados, o pregador, o
Orador por antonomásia - que acudira das assembleias de sua terra,
politizada e parlamentária, sobressaído em quanto âmbito de acústicas e toda
sorte de embates, medalhado já de fulgor e forma, desde as pugnas de estudante
senhor da tribuna. Vinha-se mais de ouvi-lo, frente às artes-mágicas do fatual
e retendo-o daí como haraldo de um futuro em faces limpas. Seu discurso -
seus discursos "liberais" - rota de obrigação - trem e
incessar de lumes. Neles podia-se experimentar não apenas a comensura de
facúndia e talento: mas coragem, de cor, ânimo, de alma. Tive-o, imediato,
antes que outro incorporando em si o movimento que arrancava. Todo o mais
adiante foi confirmação. Graças por este sóbrio meu não desacerto.
Seguiu-se,
meses altibaixos, o comando do líder, causa avançadora daquelas jornadas, que
tangeram o remate da Primeira República. Reconhece-se e unânime refere-se que
João Neves da Fontoura - promotor da inteligência com Minas e, a todo e
próprio risco e quase rituar mística significação, com Minas firmador do pacto
da Aliança - susteve e alentou, inarredado, infatigável, insobrossoso, o
rojão da campanha até à revolução e o triunfo. Dele foi a representação em
relevo. Dele se retraiu - modo algum por machuque em melindre, frustração
ressentida ou rancor de ambição, sei-quê; senão por drástico realismo conforme
desconfiado desencanto, - sempre operário todavia tentando servir a uma
então impossível congraça ou enquistando-se na vigilância mais lúcida. Dele não
desmentiu ao conspirar a pronta reconstitucionalização de um Brasil renovado na
ordem democrática - e a sustentar, verbo, o glório São Paulo de 1932, para
onde arriscara-se a abrir o arco, num mixe aviãozinho de aluguel, em expediente
dramático qual leal declaração de firmeza e vivo audaz como labareda metáfora.
Nem o denegriu, já depois no exílio, publicando-se desabusado acusador; menos
ainda, mais tarde, ao repor-se com o Governo, porquanto flui, outro-e-outro, o
rio humano, certo se no álveo do árduo de propósitos, e: quem pensa no Brasil,
e no povo do Brasil, vezes quantas rebeija pedras e santos. Notável esse
mirável João Neves. Voltava, em 35, remanente líder, à Câmara, da Minoria, de
novo facho e voz.
Esta era
uma vontade, frágil alta força.
"Orador,
foi dos maiores senão o maior, do nosso tempo" - consigna Afonso
Arinos de Melo Franco. Depõe: "João Neves da Fontoura... oriundo dos mais
ilustres troncos sulinos... o fulgurante paladino de 1930... o mosqueteiro
gaúcho... contou com um incomparável instrumento: a sua verdadeira e magnífica
eloquência. João Neves chegara dos pagos com fama de temível orador. A
brilhante campanha oratória de João Neves por esse tempo, que transformou,
afinal, a oposição em revolução, não encontra talvez nada superior, e pouco haverá
de comparável, em toda a história parlamentar do Brasil. Quantas vezes o vi e
outras tantas o admirei."
Por mim
escutei-o sempre com alegria alertada. Ver era vê-lo partir a falar, sem manhas
de virtuose que soberbas de ás, vezos nem rompante: cumprindo apenas correto
informar o recado, propor sua pleita, dar conta. Ele, que meditava e redigia os
discursos, drede botava-os sob contido arranjo, alinhando tópicos reflexivos,
conceitual o pensamento, lisa correntia a linguagem, lhano o teor cogente.
Lidos, pegavam logo disciplinada periodicidade e velocidade uniforme: nanja
boleações, arrastos, retóricas ou vocais surpresas; por-pouco nenhum ornato.
Sérias serenas as feições, também ele não se prometia em porte e aspecto;
retreito de gestos, não mimava a jogo. A voz, antes desbrilhada, só insistência
e volume, forjando-se hirta ou adensada se entornando, dados foscos subtons,
tocava as frases num andamento ascendente quase invariado, sequência de
pontuais cortes e simétricas modulações, homofônicas.
Então. E,
em instante, brusco ou gradual, baixavam-lhe outras veras, estalo, faculdade,
fôlego, expediam-se-Ihe por volta anjos novos da guarda, caboclos, gênio,
verbigênio, apolínica chispa, o "duende", o "daimon"?
Erguia-se e erguia-nos, por comoção e impacto, raptura. Ereto - mínimo
vulto, mais mente e menos matéria - maludo e esmarte agora, ao ápice e às
ordens, no tinir do metal, centro de círculos até que em fecho enfim o circuito
único encantatório, por efluxo também invariável -: daquela presença e
intensidade anímica. Induzia, convencia; impressionava, quando não, encostando
em respeito adversários, e nos sem-jeito os emparedadamente insensíveis. Isto:
isto é, sabeis, o orador, o fluido e o halo. O que responde igual, mas
circumpatia e nimbo espúrios, a outras dicções, que não menos sojigam e
enfeitiçam - a pítica, a hipnótica, pseuda e só-Iabiosa, a elemental ou
animal, mesmo a vesânica. Não a dele. Sua palavra era lavada forra do ideal
sobre o contingente.
Assim
aqui, assim lá, nas alienas e internacionais reuniões. Ao abrir,
inesquecivelmente, a IX Interamericana, de Bogotá, por lembrar. Ou, na
Conferência da Paz, em Paris, quando acorçoados o espiávamos assumir a tribuna,
do mundo, convocado pelos "grandes", Bevin, Bidault, Molotov, que
alternados ali presidiam: - "I call upon the Representative of
Brazil, Mr. da Fontoura..." - "Je donne Ia parole au Premier
Délégué du Brésil, Monsieur Da Fontoura..." - "Imiéiet slóvo
Pêrvyi Brazílhskii Delegat Gospodin da Fontoura..." Ah, Ministro! Como
cabe tanta coisa nos meus olhos?
Dessa
oratória e eloquência - quais o mérito e crédito, o mando, o móbil? De
onde fura a fonte? Diga-se: valor. O altamente impessoal, quer dizer, o
personalissimamente profundo. Da cauta, recolhida verdade do sentimento -
era o que se externava - veemência ética, a sinceridade mais descoberta e
em fé. Tão a fio mormente seu raciocínio, tanto mais a emoção legal certeira.
Tenência. Integro, falava com uma autoridade; a de quem sabe ser vedor puro e
por vezes pasmo da própria e movida grandeza. Retitude permeio e a fim, enraiz
de convicção, sem regateio ou preço. Devoção à diáfana carne moral dos
princípios. Mas à base então - a angústia pelo bem comum, a paixão da
Pátria. Esse, dado a ver, o segredo do orador João Neves da Fontoura. Alma
exercida, disse. E coração. Coração, é indispensável; todos sentimos por quê. O
dever, mesmo, vem dele. Entanto que dever e pudor compelem-no a pelejar oculto.
Volto.
Vai para 30 anos. Vim aqui, por causa de um prêmio, tinha de fazer discurso,
cheguei tímido e cedo. Dei no saguão com grupo de acadêmicos. Deles, um, talvez
não o mais próximo, endireitou para mim. ("Um acaso? Uma
coincidência?" - ele é quem indaga, noutra ocasião e por diferente
passo, em um de seus livros: "Melhor é acreditar que uma harmonia secreta
domina..." - conclui.) Encontrávamo-nos, primeira vez. Dispôs: -
"Vai o poeta tomar chá conosco." Subimos, me apresentou aos pares, de
mim curou todo o tempo. (Lembro-me: Adelmar Tavares, afável, glosava-me o
"... nome certo para poeta..." -; guardei, tudo quanto há com nomes
me apanha.) Em 29 de junho de 1937. E, a 12, ele, João Neves, tivera posse,
apresentando sobre Coelho Neto estudo crítico abarcador, com achados,
perdurável por substância e senso. "Assim, terçando motivo rigorosamente
literário, vós - o expoente, - provais quanto merecem e têm direito,
as individualidades da vossa esmerada categoria, ao convívio acadêmico,
selecionador e acertado" - saúda-o Fernando Magalhães.
(Expoente - e máximo - de um gênero; contudo como aspado
"expoente" inajeitadamente quem-sabe se balanceasse, usando por vezes
intitular modo curto a entidade: "Academia Brasileira"; e entretanto,
já pois ainda antes das "MEMÓRIAS", pondo rancho arriba nas Letras do
país.) E estava, eu disse, em sua doce lua com a Academia? (Mas, se sempre
esteve, melenluarado e dos mais, tais querer e apreço prestava à Casa...) Me
lembro - tributava jovial reverência ao mestre Antônio Austregésilo,
outrora seu médico. Relembro, mais, Ataulfo, Roquette, Múcio, Alceu...? E eu
enxergava o tido herói - aquém Ì nas aparências: corriqueiro, trêfego
prazenteiro, leve, leviano que qual? Mais lembro! Tudo o que era, a olhos
cheios, uma coisa - caseira, desusada, despercebida: bondade. O que ele
endereçou, a uns e outros, natural e ágil, toda a vida. Não adamantino: barro.
Mas do melhor humano. Sua real simpatia humana, ativa, principal. Ele era bom.
Será que faz ainda sentido a palavra?
Semanas
mais, deu-se-nos nova minúcia - senha ou casualidade?
(E
ajuntemos delas, que é como a vida se faz.) Tudo o que, aliás, tutameias
peripécias, se passava nas ocasiões tão avulso, cabível sem antecedência nem
consequência, que pôde me parecer até enganoso, fora de esquema, lapsos de
improbabilidade; só no futuro iriam assentar nexo. Foi, foi que eu vinha
distraído pela Avenida e sem rumor esbarrou à beira de mim um carro, alguém
cordial falando-me: - "Aonde vai o poeta?" Era, claro, João
Neves. Me fizeram subir - ele estava com Olegário Mariano e, por estúrdio
que se tenha, jamais me acontecera convocação do jeito! - levaram-me a
casa. No caminho... bem: - “Você um dia será também acadêmico" -
sisudo emitiu. - “Mas, mais tarde..." - retomou-se. Mesmo muito
mais tarde (disto não sei se riu, do analógico) comentei: - “Na terceira
vez, o sr. me içou foi a chefe de seu Gabinete..." E é episódio a contar;
tanto dele revela.
Vem de
mais de 20 anos. João Neves, até lá, percorrera muito, incluso nos espaços
diplomáticos: membro da Delegação do Brasil à II Reunião de Consulta dos
Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, em Havana;
Embaixador em Missão Especial a Cuba e ao Panamá; e Embaixador do Brasil em
Portugal. Eu, de mim eu andara por Alemanha e Colômbia, e agora, na Secretaria
de Estado, tomava conta do Serviço de Documentação, valha dito, em taipa no meu
hipogeu. Soube, vago, que João Neves da Fontoura ia ser o Ministro das Relações
Exteriores. E - vede que homem. Vai, vai, um dia, o, saudosíssimo,
Embaixador Orlando Leite Ribeiro, Chefe do Departamento de Administração, Chefe
meu, me mostrou (- "Sabe de quem é esta letra?") tira de papel com o
meu nome. Era uma escolha, acontecia meio algébrica, despessoal, certo modo
abstrata. Escutai-me.
Em
dadivada página das "Memórias", das que me honram maior e comove-me,
põe ele o fato - de outra margem. E: "Rosa é um dos meus mais novos
amigos. (...) Quando tive de escolher o chefe do meu gabinete, no Governo
Dutra, inclinei-me por ele, por força da chamada 'dupla vista'. (...) Dou muita
importância às pequenas coisas; mais do que às grandes." Já em artigo, num
semanário, ele publicara: "Para a chefia do gabinete convidei o então 1º
Secretário João Guimarães Rosa. Não o conhecia bem, mas, num lampejo ocasional,
ele me apareceu como a pessoa de que precisava junto de mim."
Então
explico. Nada quase corre simples, nesses casos, depois tremeiam-se lembranças
e contralembranças; e há que, se o destino quer e faz, aplica luxo de lances,
ataca por linhas simultâneas - disto sei recheados exemplos. O que ele
grava nas "Memórias", certo a certo, deu-se. Mas houve mais, confluência,
e eis aqui João Neves reavulta. Se bem que conhecedor de funcionários à altura
no Itamaraty, ele, jogando seguro, pediu a Leite Ribeiro indicações (e, com um
e outro, confirmei comprovada essa conversa). Encomendava: "alguém que,
chefe de gabinete, não se ensaiasse 'eminência parda' ou 'ministrinho'
arrogando-se a ministrança..." Leite Ribeiro apontou diversos. "Mas:
'... e que entrasse para a chefia com atitude de espírito igual à de quem
sai..." Vindo ora a mim a vez, atentai para o que João Neves por cima
perguntou. - "É de que Estado?" - "Minas." -
"Fico com ele!" Assim considerava a minha mátria pátria, à qual
devesse também pelo sangue, por sua avó materna. A ela se reconhece unido e
grato: "Visitando muitas vezes Minas, aí por volta de 1929 e 1930, e
falando ao povo em comícios apaixonados, nunca deixei de meditar sobre os
insondáveis juízos da Providência: eu tinha ido dez anos antes àquela bendita
terra buscar um pouco de saúde..." Prezava não tão-só "a doçura
daqueles ares de montanha"; mas própria a gente: - "Vocês,
mineiros, são diferentes de todo-o-mundo..." – repetia; apreciava mesmo
"as tragédias mudas da política mineira." Assaz confalasse o mote de
COELHO NETO: "A terra venerável de Minas, terra de abundância e de
hospitalidade, fértil e amável como o doce e generoso país quenanita..."
E, pois, dela nunca poderia ser dito duvidador ou menos amigo.
Desoferecido
foi que fiquei, peado quase. A um mestre achei de pedir conselho, ao Embaixador
Leão Velloso, o Ministro que deixava a pasta. - "Que fazer para ser
um chefe de gabinete?" Ele, coloidalmente bondoso e dono de curtida
sabedoria, não à-toa vivera anos na China. Ainda assim primeiro se pasmou, um
átimo. Acudiu-me, porém com fino sorriso adequado: - "Sempre trate de
não chegar depois dos outros. E de mais não precisa, quem é capaz de fazer essa
pergunta..." Nem tanto. Desde cedo, apenas, também eu aprendera que
"o sábio fia-se menos da solércia e ciência humanas que das operações do
Tao". Muito junto do braseiro, gente há às vezes que não se aquece
direito, mas corre risco de sapecar a roupa. Eu gosto do amarelo. Talvez enfim
nunca pudesse ter sido chefe de gabinete, de ninguém; salvante mesmo só de um
João Neves da Fontoura.
Não que
para preposto caçasse ele homem de capim, anódino, esmorecido; estimava ao
invés a franca contestação e resistência. Disso intuí nota, ligeiro. Contava eu
aprender primeiro suas querências e movimentos: assunta-se o leopardo é de
dentro da jaula. Mal me deu tempo. Mandara a despacho um decreto, sem que eu o
visse; o que, em si, importava nada. Apenas, esse ato - e era,
menina-dos-olhos, o que criou o "Curso de Preparação à Carreira de
Diplomata", uma das conquistas institucionais da administração Dutra e da
gestão Neves da Fontoura - suprimia, de golpe, os concursos diretos,
deixando penivelmente por baixo os candidatos do interior, dos Estados. Vim
estouvado opor-me; riscou-se o quadro a corisco, feito raspar de garrotes em
escaramuça. Desfechou-me: - "Alguém de Barbacena ou
Cordisburgo?" - "Ou de Cachoeira, por exemplo..." -
tive de repontar. - "Isso nunca acontece!" - ele revirou.
"Aconteceu comigo..." - pus ponto. Digo, pontuou ele, sussurrado
só, numa de suas reações rapidíssimas: - "Talvez não seja mesmo
democrático..." Solilóquio peremptório. O Ministro pediu de volta o
decreto, para modificação; manteve o concurso de provas, excepcional e paralelo
ao Curso, inventou bolsas de recurso aos estudantes desprovidos.
Sei,
nesse entestar ficamos de verdade ligados. Descobrindo também que ele era, por
constância e excelência, o democrata. Creio não ter encontrado outro assim
inerentemente autêntico. Ideal, espírito, sentir democrático,
possuíam-no - como respirada quantidade, fundamento e arraigo, sua
característica. Por aí sofria, pensava, acertava ou se enganava, persistia.
Escarafunchai-lhe a vida, e verificareis. Ralavam-no a engulho quaisquer
conotações de regimes superados. Chegou a mandar proceder a original escrutínio
no Itamaraty, a respeito de mudança de horário. Seu conviver demonstrava,
porejante, a ingente crença. A mim, a quem o conceito da soberania do povo
suscitava ainda visos meu tanto teóricos, ensinou-me que ela tem outrossim
carne e canseiras, tarimba e pão, consolação; mas, principalmente, certeza
criadora.
E
esse - revolucionário, o removedor, exemplar de cultura e humanidade, dado
ao esforço progressivo e aberto a quanto de construtivo, visando
permanentemente ao bem da comunidade, admitindo a coexistência honesta das
ideologias - desatentou na temática da transformação social, dela se
desavisou ou dessentiu-a, a grau de merecer tacha e pecha, não andou com o
tempo?" "A idade que vivemos é a da cooperação
niveladora" - proferiu. Repetia-me citação: "Vivemos no seio de
uma grande injustiça..." Detestava toda sorte de usurpação, não toleraria
o mínimo retrocesso, o rejeito de nenhuma das duras e graduais aquisições nesse
plano, no qual somente não colocava a urgência como um optativo categórico.
Temesse, há de ser, qualquer sôfrega dissolução do genuíno no aleatório, receava
o destabocamento, caos, a má ordem. De feita, apostrofou-me: - "Você
pensa que a gente vive no Céu?!" Desde menino destinado, e desde a
adolescência entrado à lida partidária, e por uma carreira de seis decênios na
estacada, prisioneiro de cívicos intuitos - confez-se aos despóticos
valores políticos da ação em superfície, sem pausa para esfriar-se do tumulto e
da força adquirida - incicatrizado investindo sempre o imediato - e
portador de um alarme.
João
Neves vinha à direção dos negócios sabendo o aranzel do ofício. Dominara
encargos e responsabilidades de sua missão e enorme experiência diplomática, de
1943 a 1945, em Lisboa, neutra, posto crucial pelo entrejogo de meias manobras,
pressões, urgidas decisões ponderosas. Comandante, agora, e por duas vezes,
desestreitado e no cluso, deu-se à faina de nossas relações internacionais: de
maneira forra, lúcida, objetiva, sutil, decente e oportuna. Sei que, a pensar e
realizar, ele se adiantava em toda iniciativa e dignificava qualquer rotina.
Documentado está o que pôde, conservado nos rascunhos e registros. Apenas, o
meu Itamaraty, mansão de equilíbrio e mourejo, fiel e febril, muito mais do que
fora se crê, e também uma Casa hierárquica, timbra seus assuntos - não por
cavilosidade, culpas, má-fé, senão rigor de precaução essencial, moderação
co-harmonizadora e universal regra específica de estilo - pelo selo de
"secretos", "confidenciais" ou "reservados". Do
que ele fez, sem subservir ou omitir-se, sem falsimilhanças, me penetro. Disto
não darei parte; nem serei quem deixe de deixá-lo sub rosa. Mas aqui inscrevo,
como premissa honrada e sustentada, a que, a 1o de fevereiro de 1951, em
discurso de posse, foi seu juramento: "Convém tornar explícito que, na
condução da política externa, o Governo - acima de tudo - velará para
que aos interesses fundamentais do Brasil não se sobreponham, em quaisquer
circunstâncias, interesses alheios."
Reevoco-o:
vejo que trabalha, trabalha, à mão-cheia entusiasmada, no retângulo-arena de
seu gabinete. Solto lépido, serviçal que nem jovem secretário-de-embaixada, e a
todo tempo impartível da exata dignidade, e da amenidade de irmão da gente,
ingênita gentileza. Fazia conta do bem-estar e das necessidades ainda que de
servidores infimífimos. Manipulador agudo do concreto, descia, prático, a
sugerir meios e aconselhar-nos na execução das tarefas; e eu me envergonhava da
minha entorpecedora e distanciadora precisão do absoluto, nas ocasiões em que,
enrolado ele mesmo a debater tropel de assuntos, em reuniões, tomava instante
para passar-me expeditivos bilhetes de auxílio, - solícito espontâneo,
valedor constante, servidor de seus servidores. Difícil de quadrar-se a
tolhedores métodos, aparentemente um absorvedor individualista, lia tudo, tudo
capturava e examinava, produzia e orientava, sem cessar, ditava com proba
avidez. Arremetia grandes olhos a qualquer problema, não enjeitando a farinha
por grossa nem o angu por duro, jamais avaro de si. Nunca o vi bocejar; se
estremunhava era como despertado gato. Seguro de modos trastando exercitado
autodomínio, inimigo de ênfases, dramaticidade ou imponência, nem com ensombrar
meio rosto se traía, ou só em quebrado de segundo, no semicerrar o cenho;
quando indicado, ensurdecia-se um pouquinho mais, polidamente. Temi, vez, que,
devido a raso descoincidir de índoles e vistas, estivesse-o menos socorrendo
que estorvando, e o interpelei: - "Ministro, como é que o sr. me
suporta?" (Nessa manhã, de seguida, espalhara eu alguns de seus projetos,
tendo-me como isolador ou mau condutor contra as descargas de bateria
poderosa.) Retrucou-me: - "Porque nós nos completamos... Você é a
minha consciência mineira..." Por certo assim ministrava-me sua natural
generosidade, propinado automático agrado de político; vede, porém, que na
tirada predominava pico do sense of humour, absolutamente
indispensável e uma de suas riquezas. Senhor na indubiedade, sem intricantes
vacilações, destorcido era que puxava pelos mais complexos fatos; nem se
furtando de abrir janela ao vento. Discorria-os a fino e gume ardor inteligente,
seja sobre a tábua da justa medida e bom senso. Sabia esperar, conquanto
suponho achasse que esperar é dar-se em hipoteca. Nada desandava, entretanto,
nem desconchavando mesmo a quem não afeito a esse ritmo e velocidade de
espírito. Inteligência que ao auge resplêndida se exercia, quando no aperreio
do arrocho e já a horas de estalar, sem beirada o prazo. Dele então se
inesperava: faísca, a inédita ideia, terminante, ou a útil definição, saltada
acima, brasa. Ainda mais se em contenda. Parece mesmo que, para com toda a
eficácia fixar-se a escogitar coisa do correr comum, primeiro carecesse ele de
atribuir-lhe sentido adverso hostil, para acometida e de vencida.
"Mas
meu signo era claramente o da luta" - vem descobre. Decerto. Seu era
o signo do Escorpião, sob cujo influxo hoje transpiramos, campo-de-força de
Marte. Scorpio reparte a seus filhos, com senso extra dos deveres e força de
vontade tremenda, a pugnacidade decidida, intrepidez, gosto da rusga e da
guerra. Fazem aos punhados inimigos. São políticos perigosos. O sujeito do
Escorpião desfaz no risco, não alui por temor nenhum, defende-se atacando,
nutre-se do conflito, dele extrai renovada substância ao contrário de despender
energia nervosa, resiste até à morte. João Neves, a gente encontrava-o amofinado,
perrengue, pessimista, e já se sabe: embaraçava-o a apatia dos entreatos
pacíficos, atolava-se na tranquilidade. Ele não via o sol nos belos brejos,
horizontais. Depois, a gente voltava, e eis ora o homem sem achaquilhos e o
acessório, são, alegre esportivamente, suas forças todas enfeixadas. Pois
então, é que de novo em patriótica briga - era o realizar-se e
renitir - o entrevero! Disso deixa conhecimento: "a poesia da
peleja", "o sabor agradável dos embates". Define-se? "Por
uma longa experiência, estou convencido de que a consciência do perigo e a
certeza de vencê-lo influem uma grande paz nos espíritos atribulados." Daí
mais sua filosofia, ou, melhor, Weltanschauung, resoluta cosmovisão, que era já
a de Jó, de Uz. Diz: "Toda segurança é aparente, todo bem-estar
terrivelmente interino." "A escolha e a luta são nossas inseparáveis
companheiras." Portanto; "andava sempre, como se diz, com sete
sentidos". "A vida é uma perpétua emboscada." Só que com ainda
escorpiônica sensatez, mas nada de supérfluas cautelas; e humano não é sinônimo
de paradoxal? Refrega durante e em avante, sim, desembuçado respeito pelo
contendor. Nem o estúrdio potencial de ódio do Escorpião podia com sua não
menos inata magnanimidade.
Então -
e ele e Vargas? E ante Aranha? A dúvida pertine e o ponto pertence, cortando
aqui desconversa, porquanto dentre bando e numeroso escol - os brasileiros
grandes do Rio Grande - plano adiante inscritos na mesma moldura: tríade
que em conjunto giro insólito a História nos trouxe. Impende a pergunta.
Resposta, Deus sabe, só sou contador. Vínhamos, por exemplo, de visitar Oswaldo
Aranha - feérico de talento, brilho, genialidade, uai, e daquele total
conseguido esculpir-se em ser - e Neves pauteou: "Você estava
extasiado, empolgado..." Mas vi e já advertira em que não menos cedia ele
à cordial fascinação. - "Sagarana (sic sempre), cuida disto para o
João..." - telefonava-me Aranha alguma vez. Prezavam-se e queriam-se,
alta, gauchamente; a despeito de quaisquer despiques, queixas, rixas, unia-os a
verdade da amizade. Getúlio Vargas, muito falávamos a seu respeito, compondo
uma nossa tese de controvérsia. Meu interesse, sincero, pela imensa e imedida
individualidade de Vargas, motivava-se também no querer achar, em sã hipótese,
se era por dom congênito, ou de maneira adquirida mediante estudo e
adestramento, que ele praticava o wu wei -
"não-interferência", a norma da fecunda inação e repassado
não-esforço de intuição - passivo agente a servir-se das excessivas forças
em torno e delas recebendo tudo pois "por acréscimo". -
"Enigma nenhum, apenas um fatalista de sorte..." - encurtava
João Neves, experimentando fácil dissuadir-me. Mas, apto ele mesmo ao mistério,
sensível às cósmicas correntes, à anima mundi antiga, teria de hesitar, de vez
em quase, também a memória cobradora beliscando-o. - "De fato, o
Getúlio dá estranhezas, nunca ofegou ou tiritou, nem se lastimava de frio ou
calor, que nós outros todos padecíamos, nada parecia
mortificá-lo..." - concedia-me, assim, pequenas observações. Logo,
porém, sacudia-se daquilo. Fazia pouco de minha admiração-esimpatia por Vargas,
sem com ela se agastar. Diferença fundamental de temperamentos em
contraste - o ousado opugnador sem coleios e o elaborador expectante do
contempo - de incerto modo inconciliava-os: por um lado insofrido
espenejar-se contra visco, de outra banda quieto apartar-se de picadas. Voltas
e contravoltas de longo acontecer, as vãs vicissitudes, fizeram o resto. Ou
injunções de foro íntimo, públicas concepções diversas. Aproximações,
afastamentos, reaproximações, como termos periódicos, patenteiam nada de outro
que uma forma do "kaempfende Liebe", de afeto combatente. Demais, não
se pisaram nem cuspiram nos ponchos, haveriam de entender-se, dia ou dia, em
fim; já não pelo hábito caroável e em tradição cavalheiresca, mas por
vinculação predeterminada e obedecida, acima de dessemelhanças ou revergências
no obscuro e ambíguo das causas transitórias. Lembremo-nos sempre do que ainda
não houve. Retirou-lhes a tragédia a extensão dessa substância amorfa e escolhedora -
o tempo. Esta horária vida não nos deixa encerrar parágrafos, quanto mais
terminar capítulos. Entanto que, como viável esteira do próprio tempo, só nos
resta, a nós, cegos rastreadores, o desconjuntado flou de uma má montagem.
Recordo: "As coisas estão amarradinhas é em Deus" - entimema
único que punha em acordo minhas Vovó Chiquinha, de Traíras, no Rio das Velhas,
e Vovó Graciana, de um povoado do Paredão do Urucuia.
Mesmo em
meio de política.
Salteai-o
nos tomos de crônica comentada - "Borges de Medeiros e seu
Tempo" e "A Aliança Liberal e a Revolução de 1930" - em que
João Neves da Fontoura nos estende texto digno de estadista sarado, de marca.
Asseado depoimento, razoado a rigor de cunho positivo, nas formas da lógica; entrediz-nos
entanto, quando por zelo explanador ou afã de interpretação, o titubear do
autor, testemunha ou personagem, frente ao desconforme improviso dos casos e
rente ao ultrapropósito de acontecimentos. Tal quer-se transparente para
objetividade e acurácia - e a transparência pressupõe fundo
luminoso - tão logo tem de citar os "altos juízos", os
"desígnios" da Providência, seu "império", o
"papel" que ela lhe distribui. Alega antecipações, não pode
"desviar o pensamento de certas forças imponderáveis", reitera menção
de outroversas coincidências numerológicas. Duvida enfim do plano empírico:
"Sonhos ou realidade? Será que a gente vê mesmo, com exatidão, as pessoas
e as coisas?" Nem estamos em Alexandria ou Ásia, mas soletrando verídico
relato de um americano latino, de ideias ordenadas.
Supersticioso,
sim; é claro. Superstição não preconceito, o ilusório; antes quase poesia.
Percepção e arejo, defensivo psíquico automatismo, uma respiração cutânea do
espírito, talvez. Soubesse que poesia é remédio contra sufocação. (Acompanhei-o,
primeira sexta-feira, aos franciscanos, achávamos benigno gesto sob
apaziguadoras signas de ensalmo. Não empreendia longa viagem, sem à última
folga visitar igreja, mas assim mobilizava-se era para o que der e vier do
agir. De outra levada, voltávamos de Petrópolis, rodamos ao outeiro de São
Bento, aplicaram-nos os monges a bênção de São Brás, 3 de fevereiro, acesas as
velas cruzadas, era como em remoto em meu Cordisburgo sobre o Ribeirão-da-Onça,
a gente reentrava a intacta confiança e infância.) Sabe-se disto - que
justo os rijos fazedores, de maneira calada ou confessada têm de ser no
particular susceptíveis ao mais, captem os cantos de todos os galos. Tudo, pela
metade, é verdade. Os extremos já de si sempre se tocam, antes que tese e
antítese se proponham.
Mas, esse
tom intuicional, aquela atmosfera passada de eflúvios, compertencem ao que se
espera de currículo descrito por homem público? Talvez não; tanto nuamente são
mesmo é da vida.
Salvo
dissermos ainda do individido discernis entre obrigação e vocação, tendência e
necessidade. João Neves foi político por encaminhamento, determinismo ambiente,
renovados ditames; não por vício. Melhor, por recorrente ecologia pessoal como
inevitável campo de ação, a metade estática do fadário - seu dharma.
Estou-lhe no eco: afirma que em política sempre caminhou e subiu dando as
costas aos mais entretidos desejos, até mesmo aos propósitos mais fincados.
Dela diz ter sido, "talvez hereditariamente", sua
"fatalidade". Vê, nela litigando, a imposta relatividade que a
macula - bem em intenção, mal necessário. Aí dá-se outra medida de sua
nobreza e rareza. De fato.
Surpreendi-o,
amiúde, no vivo. Uma vez, por exemplo, descansávamos, especulando disso e
daquilo, chegou-se a confronto entre o político e o artista. Precipitei-me a
grado de argumentos e exercício. Neves, repartido absorto, externou-se então em
frases muito planas, não dissertava, recordava. Falou das obras que pudera
promover na Cachoeira, de tanto que no Brasil precisava de urgente ser feito,
imaginava humildes enormes realizações. De ato, entendi. O que ele pretendia e
perseguia era a política substantiva, seu discreto cívico exercício e
trabalhosa consecução, sacrifícios pelo cabedal coletivo, a concreta causa do
povo: culto aprendido, desde quando contemplava famoso manifesto de Júlio de
Castilhos, impresso em cetim branco, num quadro no escritório do Pai - que
ele acompanhava, a cavalo, em suas idas de Chefe local do município. Colocava-a
alta, mas na escala dos deveres, sem refugar nem reter seus aspectos
subalternos.
Provável
porém daí também decorram as constantes negativas que o embaraçaram na falácia
das situações vitoriosas: um sobrevir de empecilhos "between the cup and
the lips", entre a colher e a boca perdendo-se a sopa, e o obstinado
opor-se da perfídia imanente às coisas, "die Tuecke des Objekts".
Cabia-lhe, nas campanhas, "receber os primeiros e os últimos golpes",
entanto que, "na hora das honrarias e dos postos", sofrer as
"injustiças e preterições" - diz.
Tenho que
o onerasse o handicap de excessiva sensibilidade, com a mobilidade, mercurial,
conseqüente; mais alguma incontida impaciência de idealista. Faltavam-lhe, além
da gana irracional que em vontade-de-poder se revela, blindagens grossas,
densidade epidérmica, o quanto de macicez para o desempenho do calibanato. Da
sensibilidade e inteligência tem-se sempre de pagar ingrato preço.
Por
contra, que formidável campeador, quando na oposição, aquelas mesmas aparentes
limitações o faziam, com destaque dado e conquistado! O que se pensava dispersivo,
plástico e fragmentário, resolvia-se em flexibilidade presta, multiplicados
meios e órgãos de movimento e ataque. A fartura de antenas sensitivas provia-o
de incomparável tino, quase adivinhador. Funcionavam-lhe engenhadas as
imaginosas aspirações, vezesmente, sem relaxe; tanto quanto jogando-o ao
arranque de superação a própria experiência de reveses. Tremendo, ei-lo,
contendor duro, conspirador sério, conferindo força de persuasão e evidência
convincente, inchante fermento; pequeno polegar, malasarte, malino não maligno
nem maquiavelhaco, mutuca - como Sócrates de si mesmo na
"Apologia" diz-se "a mutuca de Atenas" - ou melhor na
pressa não reta das abelhas em voo, à mão-de-deus-padre de táticas inseguras e
certeiros desatinos, fogo em todas as frentes, não lhe importando perda de
chumbo ou pólvora. Espetáculo! Franzino a performar seus trabalhos-de-hércules.
E, aqui, estamos no vértice do incontestável. Contai-os.
Revede, a
etapas, o que dele guarda lasca e garra, e dívida à eficácia de sua impulsão sustentada
exata, à ponta extrema. Recitem-se, 29/30, Aliança e Revolução; 32 a Epopeia da
gente Paulista, que remeteu inadiável em prumo o Brasil; a vitória, 1945, da
candidatura Dutra, por ele alevantada (e recusara filar em mãos a sua, própria,
com manilha e trunfo, posta por Vargas); a campanha mesma pró-Vargas, 1950. Mas
meramente marcos de geodésica, ou, devo, digo, rebojos que mexem à flor de
correnteza estrênua. Drede detendo-me de algum juízo entre o quer-que de
homólogo ou díspar, aí, eventos e causas. Quem julga? Apreendeu já alguém,
sobre o fluxo dos fenômenos e dar-se de valores instantâneos, a ortografia das
tortas linhas altas? Seja sim obediente então a intenção - em que quanta
composta coisa se insere, coalesce e coere. Teste-se, no mais severo balanço,
sem encarecimento, de João Neves da Fontoura: não um bélico tumultueiro,
lansquenete, buscador de vantagens ou construtor de revanches. Só o servidor
enxuto. Sete-capotes, rompe-gibão, tranca-porteiras, angico-branco, ouricuri
que a queimada lambe e poupa, quebra-machado, tamboril-bravo. Até ao final,
montou guarda.
Mas,
política, tempo e modo, mudavam em antes não visto acelerar-se, ultrapassante,
enquanto que a idade pegava-o já com meio frias meias mãos; tanto o viver vai
maior e mais ligeiro que a gente. - "A vida é uma série crescente de
restrições" - falava-me. Rejeitara ainda ser Ministro do Exterior do
Governo Kubitschek. Na lonjura as trépitas festas de orador - e a
diminuição auditiva (dizia-se ele um "hipoacúsico") toda maneira
tolher-lhe-ia a tribuna polêmica. Embora, à altura, procurado sempre para
opinião e conselho, irradiador, prezada mais sua presença condutora. Então
entrou à imprensa que nem a outra paliçada. Formou de jornalista, dos
pontualmente mais atuantes, em artigos e editoriais, coraçonados, escorridos,
acertantes, de destopeteada bravura. Das coleções de O Globo, por mencionar,
estariam de desentranhar-se, desses, volume e volume.
E
envelhecia bem; isto é, tomava posse do passado. O passado também é urgente.
Abriu-o em todas as páginas. Escreveu as "MEMÓRIAS". Narração e
demonstração. O lutador conta - descreve as passagens de próprias guerras,
fama devida... - perfila-se. Máxime. Não era homem de não prosseguir, ao
sol-entrar, quando a lembrança cria exemplo. Fez grande, importante livro.
Tirando-o de cadernos, maços de documentos, tanto quanto do tutano da memória,
mesma, objetiva e afetiva, recuo montante. Mais de sua arte de rever e
aviventar, forte honestíssima. Fiel às amizades e às inimizades; leal, acima, à
verdade, perceba-se. Ivan Lins refere como João Neves fiou-lhe a ler os
originais e tomou em rigorosa atenção todas as retificações; procedeu também
assim com outros, igualmente íntegros e fidedignos. Quis ser justo, daí o
escrúpulo e cuidados para com os fatos. Vereis que pôde falar, em desaparato,
do muito que foi, "a contragosto, e o imenso que não quis ser".
Seu ethos - o da era, que começa, dos comportamentos a
descoberto - é o roteiro esforçado da fé e a dinâmica da humildade. A de
homem culto: o que sabe pensar. Por outra parte, são as "Memórias"
livro de que se honrará a nossa cultura. Relede-lo. Jamais enfara; cativa e
gratifica, a cada volta; com ele se convive. Tudo põe e repõe, desenredado,
simplificado, pormiudamente humano, com tacto e lisura, tanto bastante. João
Neves nele confessa-se, espontâneo e discreto, desimpedido e comedido, como um
recibo de entendimento, como o clamor de um cochicho. Vem franquear, a quantos,
um fundo de consciência, o centro de sua personalidade. Ele mesmo -
transretratado. Direi, escreveu-o para o Juízo Final, como todo livro deveria
ser escrito.
Seu
fervor literário, aliás, se extravasava sempre. Lido, lia em dia, fazendo das
leituras a um tempo húmus para a mente e estímulo às ideias que povoavam-lhe
aqueles retidos "territórios íntimos". Dividia-os, entanto, prazeroso
pleno conversador, nos entremeios da ação, lembro-o de novo: quaisquer vezes,
quando a gente corria - "Allons-y!" - estradas de
Flandres e Holanda, ou passeando sós longo-praias de Ipanema e Leblon, ou
tomando chá à beira do Marne, qual se sob sombra de um plátano à borda do
Ilissos, quer debaixo de caraíba ou umbu, vendo a covilha ou a chapada.
Nem
esqueço, em Bogotá, quando a multidão, mó milhares, estourou nas ruas sua
alucinação, tanto o medonho esbregue de uma boiada brava. Saqueava-se,
incendiava-se, matava-se etc. Três dias, sem policiamento, sem restos de
segurança, o Governo mesmo encantoado em palácio. Éramos, bloqueados em vivenda
num bairro aristocrático, cinco brasileiros, e penso que nem um revólver.
Recorro a notas: "12.IV.48 - 22 hs. 55'. Tiros. Apagamos a luz." Mas,
o que, com João Neves, por sua calma instigação, então discorríamos, a rodo,
eram matérias paregóricas: paleontologia, filosofia, literatura; ou lembrava
tropelias brilhantes de seu Sul, citava o saudoso nosso Dr. Glicério Alves,
nobre tipo humano, do melhor gaúcho e amigo. E, todavia foi sua determinada e
ativa decisão um dos ponderáveis motivos por que a IX Conferência se manteve na
capital andina, adiante e a cabo.
Sua
contenção derivava do bom gosto, essa forma ameníssima de renúncia; imolava-se,
diário diuturno, com naturalidade. Daí a gentileza de espírito e elegância de
maneiras - econômico de corpo mas nãonadamente mesquinho, petulante ou
cosquilhoso - jamais vulgar nem em desclasse. E a permanente galanteria:
portava-se com sua netinha Fátima como se perante uma lady ou um flirte. E no
neto Joãozinho já visse futuro o adulto, seu continuador em renome, renhir,
responsabilidades. Sob o afoito combativo, a gente acertava mais, sempre, a
tranquila sabedoria do medimento: sophrosyne. Não punha contra si
em movimento os mecanismos da Nêmesis. Era quase como um menino que ele pedia
alguma coisa à vida. Compreensivo, notava-se pela benevolência e de-sobra
tolerância - "Ninguém muda ninguém..." - não julgava. Usava e
dava a esperança. Imortal é o que é do sofrido e espírito; tudo, abaixo daí, é
póstumo. As coisas que ele me disse não se afastam com o tempo.
E
expande-se: "... cada alma vai sentindo, na descida do caminho, a ânsia de
se devotar a deveres mais altos do que as paixões públicas." Tem-se então,
imediato, avançando dos grandes fundos, outra extraordinária personalidade,
Arthur da Silva Bernardes, que faleceu súbito, em meio à lida lúcida, mas
deixando, como por toque de preconhecimento, num derradeiro bilhete: "O
fim do homem é Deus, para o qual devemos, preferentemente, viver. Eu, porém,
vivi mais para a Pátria, esquecendo-me d'Ele" - pedindo ainda aos
amigos, correligionários, e aos de boa-vontade, que com orações o ajudassem a
resgatar aquela falta.
João
Neves, tão perto o termo, comentávamos, suas filhas e eu, temas desses, de
realidade e transcendência; porque agradava-lhe escutar, ainda que não tomando
parte. Até que falou: - "A vida .é inimiga da fé..." -
apenas; ei-Io, ladeira pós ladeira, sem querer fim de estrada. Descobrisse,
como Plotino, que "a ação é um enfraquecimento da contemplação"; e
assim Camus, que "viver é o contrário de amar." Não que a fé seja
inimiga da vida. Mas, o que o homem é, depois de tudo, é a soma das vezes em
que pôde dominar, em si mesmo, a natureza. Sobre o incompleto feitio que a
existência lhe impôs, a forma que ele tentou dar ao próprio e dorido rascunho.
Talvez,
também, o recado melhor, dele ouvi, quase in extremis: -
"Gosto de você mais pelo que você é, do que pelo que você fez por
mim..." Posso calá-lo? Não, porque sincero sei: exata estaria, sim, a
recíproca, tanto a ele eu tivesse dito. E porque deve ser esta a comprovação
certa de toda verdadeira amizade - impreterida a justiça, na medida
afetuosa. Acredito. Nem creio destoante ou mal assentado, numa solene
inauguração de acadêmico, sem nota de despondência, algum conteúdo de
testamento. Giremos a perspectiva.
Ainda
talvez mais que eu, ele vos agradeceria minha presença aqui, aonde desejei vir
– para o ver "claro e quieto" que Machado de Assis inculca. Só não
cismando, há-de-o, que em sua mesma vereda, a subseguir, orgulhoso e transido,
o elenco destes que ganharam vida difícil, trabalharam sem repouso e hora por
hora renderam-se à intimação interna - escolha ou chamado. Eles, Neves da
Fontoura, Álvares de Azevedo, o que morreu moço, poento de poesia. Coelho Neto,
amoroso pastor da turbamulta das palavras. Tenho-os comigo. Pois não
descendemos dos mortos?
Deferidos,
entretanto, à simpatia dos vivos. Vós. Demais que vindo-me o bom modo de vosso
agasalho pela palavra de um a mim bem próximo, admirado e querido, malungo,
autorizado. Afonso Arinos de Melo Franco -: capaz para pretender-se
"mineiro, totalmente", por estirpe e por espécie, "das Gerais e
dos Gerais"; idôneo de declarar que tudo o que sente de mais espontâneo e
natural no seu espírito "tende a considerar intelectualmente e mesmo
literariamente a vida"; autor de A Alma do Tempo, que fundo releio, para
alongamento e consolo, um dos livros maiores do pensar e sentir brasileiros;
originário dessa Paracatu - grande e memoriosa entre chapadões sertões -,
e cuja estranha notícia, trazida por vaqueiros, boiadeiros, tropeiros, desde a
meninice enriquecia-me a imaginação, qual outrotanta maravilhosa Tombuctu, a
depois do Saara, sobrenomeada "a Rainha das Areias". Dele temo e
alegra-me ouvir afirmações de doador muito entusiasmado; já que arriscado e
conturbante é a gente se tirar das solidões fortificadas. Trar-me-á, igual,
simbólico, vosso primeiro abraço, o escritor sem falsas e amigo sem falha:
Josué Montello. Cumulo-me.
Nem
aguentaria dobrar mais momentos, nesta festa aniversária - dele, a
octogésima, que seria hoje, no plano terreno. Tanto tempo a esperei, e fiz que
esperásseis. Relevai-me.
Foi há
mais de quatro anos, a recém. Vésper luzindo, ele cumprira. De repente, morreu:
que é quando um homem vem inteiro pronto de suas próprias profundezas. Morreu,
com modéstia. Se passou para o lado claro, fora e acima de suave ramerrão e
terríveis balbúrdias.
Mas -
o que é um pormenor de ausência. Faz diferença? “Choras os que não devias
chorar. O homem desperto nem pelos mortos nem pelos vivos se
enluta" - Krishna instrui Arjuna, no Bhágavad Gita. A gente morre é
para provar que viveu. Só o epitáfio é fórmula lapidar. Elogio que vale, em si,
perfeito único, sumário: JOÃO NEVES DA FONTOURA.
FonteAlegremo-nos,
suspensas ingentes lâmpadas. E: "Sobe a luz sobre o justo e dá-se ao teso
coração alegria!" - desfere então o salmo. As pessoas não morrem, ficam
encantadas.
Soprem-se
as oitenta velinhas.
Mais eu
murmure e diga, ante macios morros e fortes gerais estrelas, verde o mugibundo
buriti, buriti, e a sempre-viva-dos-gerais que miúdo viça e enfeita: O mundo é
mágico.
- Ministro,
está aqui CORDISBURGO.
16/11/1967
9 comentários:
Em 1957, GR candidatou-se pela primeira vez a imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) e obteve apenas 10 votos, apesar de ser autor consagrado, tendo até então lançado os seguintes grandes livros de contos: “Sagarana” (1946) e “Corpo de Baile”, além do romance “Grande Sertão: Veredas” (1956). Em maio de 1963, candidatou-se pela segunda vez a membro da ABL, na vaga deixada por João Neves da Fontoura. A eleição deu-se a 8 de agosto e desta vez GR foi eleito por unanimidade. Temendo ser tomado por forte emoção, protelou o quanto pôde a cerimônia de posse por quatro anos. Costumava dizer que, empossado, morreria em seguida.
Quando finalmente decidiu tomar posse na Academia Brasileira de Letras, ocorrida na noite de 16 de novembro de 1967, foi recebido por Afonso Arinos de Melo Franco. Em seu discurso, GR afirmou, como se prenunciasse a própria morte: “… a gente morre é para provar que viveu.” Quando se ouve a gravação do discurso de Guimarães Rosa, nota-se, claramente, ao seu final, sua voz embargada pela emoção: é como se chorasse por dentro. É possível que o novo acadêmico tivesse plena consciência de que chegara sua hora e sua vez. Com efeito, três dias após a posse, em 19 de novembro, ele morria subitamente em seu apartamento em Copacabana, sozinho (a esposa fora à missa naquele domingo), mal tendo tempo de chamar por socorro. Assim desapareceu GR prematuramente aos 59 anos de idade, vítima de enfarte fulminante, no ápice de sua carreira literária. No ocaso daquele 19 de novembro, GR ficou para sempre encantado, tornou-se um mito, talvez o mais duradouro da literatura brasileira.
Tenho, portanto, o prazer de hospedar no Blog de São João del-Rei essa peça magistral de oratória rosiana, quando comemoramos o 110º aniversário do nascimento do grande poeta, contista e romancista mineiro.
Sobre a posse de Guimarães Rosa na ABL
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2018/10/colaborador-joao-guimaraes-rosa.html
Discurso de posse
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2018/10/discurso-de-posse-de-joao-guimaraes.html
Abraço cordial,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
Obrigado, Francisco.
Anderson
OS BIÓGRAFOS DIZEM QUE ELE TINHA UMA PREMONIÇÃO DE QUE MORRERIA APÓS A POSSE.
"AS PESSOAS NÃO MORREM, FICAM ENCANTADAS".
GRANDE GUIMARÃES ROSA!
VAMOS RESGATAR ESSE BRASIL DE GUIMARÃES DA ESTUPIDEZ MÓRBIDA...
ABS.
Prezado Braga,
Nunca tinha lido o discurso de posse de Guimarães Rosa. Briilhante: deu nova vida aos discursos da ABL. Imagino o espanto dos velhos acadêmicos. Se você conseguir um tempinho, dê uma espiada no meu “O Pequeno Sertão de Tutameia”, já pubicado em revistas. Abraço do Gilberto
Um texto precioso, confrade Braga. Grato pelo envio e registro. Fernando Teixeira
Que triste história de João Guimarães Rosa.
Tenha um ótimo dia abençoado.
Abraços,
Alan
Caro amigo Braga
Mais uma vez agradecemos ao ilustre amigo e Maestro pelo privilégio de recebermos peças literárias como esta: o Discurso de Posse de Guimarães Rosa ao ingressar na ABL.
Compulsamos rapidamente as primeiras letras do discurso, bem ao interessante estilo de GR, e leremos em seguida o seu inteiro teor, com muito gosto.
Cordial abraço,
Dos amigos Mario e Beth.
Caro professor Braga.
Um discurso que mereceria toda uma explicação, de tão intrincado que é. Parabéns pela sua publicação.
Muito grato.
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