LÊDO IVO (✰ Maceió, 1924 - ✞ Sevilha, Espanha, 2012). Poeta, romancista, contista, cronista, jornalista e ensaísta. Em 1940, transfere-se para o Recife e, influenciado pelo ambiente intelectual da cidade, publica poemas e artigos na imprensa local. Três anos mais tarde, muda-se para o Rio de Janeiro, e estuda na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Passa a trabalhar na imprensa carioca como jornalista profissional, colaborando com textos literários e reportagens. Em 1944, publica seus primeiros poemas no livro As Imaginações. À obra de estreia se seguiria intensa produção poética, com Ode e Elegia, de 1945, e Ode ao Crepúsculo, do ano seguinte, além de muitos outros, até Finisterra, de 1972. Seu primeiro romance, As Alianças, foi publicado em 1947. Os anos subsequentes vêem sua obra literária ganhar corpo com o lançamento de poesias, romances, contos, crônicas e ensaios.
Nas suas crônicas, em geral aparece o protagonista Teseu do Carmo (este nome ecumênico, pagão e cristão), o alter ego de Lêdo Ivo, sósia que criou, para falar de si mesmo na terceira pessoa e até para criticar-se ao atingi-lo, às vezes, com sua ironia. Na pele de Teseu do Carmo, declara sua perplexidade em face da vida e dos acontecimentos.
Em 1949, forma-se em direito, mas não exerce a profissão de advogado, preferindo a carreira jornalística e de literato. Foi com Ninho de cobras, de 1973, traduzido para várias línguas, que Lêdo Ivo conquistou notoriedade como romancista. É eleito em 1986 para ocupar a cadeira número 10 da Academia Brasileira de Letras - ABL e no seu ingresso foi saudado por Dom Marcos Barbosa em célebre Resposta ao seu Discurso de imortal. Em 2004 é lançada a primeira edição de suas obras completas, com seis décadas de poesia e prosa.
Para os críticos e historiadores literários, Ivo filia-se à terceira geração do modernismo ou pós-moderna que vai de 1945 a 1980 (conhecida por Geração de 1945, à qual pertencem ainda João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles, com evidente preocupação com a linguagem e o retorno a sensos estéticos anteriores à fase experimental do movimento desencadeado pela Semana de 1922 e representada por autores preocupados em buscar uma nova expressão literária, por meio da experimentação e inovações estéticas, temáticas e linguísticas, do que resultaram mais intimistas sua poesia e sua prosa urbana e regionalista).
Em 2006, doa seu arquivo pessoal, reunindo correspondências, manuscritos, recortes de jornais e fotografias, ao Instituto Moreira Salles - IMS, de São Paulo. Merece destaque a correspondência do autor, que reúne cartas que lhe foram enviadas pelas personalidades mais importantes de sua geração. Em 2007, o IMS publicou E agora adeus, seleção dessas cartas.
Cronologicamente, com o título de Calima foi sua última obra de poemas editada inicialmente em solo espanhol pela Vaso Roto Ediciones que ganhou versão em português com o título de Mormaço pouco depois da morte do autor (Rio de Janeiro: Contracapa, 2013). A morte, a “indesejada das gentes”, conforme famosa expressão de Manuel Bandeira, entendida como dissolução inarredável da natureza humana, é a temática principal dos poemas de Mormaço, de Lêdo Ivo. A visão do sujeito poético é desalentadora e irredutível, desde as reminiscências poéticas que remetem à terra natal (Alagoas) até as passagens pela Europa e Estados Unidos, atravessando toda a trajetória pessoal de longos 70 anos de ininterrupta e intensa carreira literária.
A publicação de um livro fora de seu país natal sugere uma enormidade de questionamentos, que vão desde a inexpressiva presença do poeta alagoano no cenário acadêmico até a posição do autor no cenário editorial e literário brasileiro, pautada por seu tom cáustico na crítica e nos comentários, às vezes reiterativo e mordaz em relação ao cânone modernista brasileiro e seus influxos, isto é, à literatura que se sente tributária da Semana de 1922.
Janela aberta
A multiplicidade, uma das seis propostas de Italo Calvino para o milênio, parece ter sido a grande marca da atividade literária de Lêdo Ivo, cujos “versos longos”, mais abundantes nos primeiros dez anos de escrita, continuariam ocorrentes, porém convivendo com formas curtas, medidas ou não, do sonetilho ao haicai, e até os aforismos espalhados em obras de enquadramento difícil (memorialismo? ensaísmo?), como O aluno relapso e Confissões de um poeta.
É essa variedade formal que se vê em seu último volume de poesia, Mormaço, publicado originalmente na Espanha, aonde Lêdo Ivo ia com freqüência nos últimos anos, conhecendo ali uma recepção literária mais intensa e entusiasmada que no Brasil. Em solo espanhol o poeta partiu para o desconhecido, deixando inacabada a última viagem, o que talvez agradasse (ou agrade) à sua consciência, já que celebra a incompletude no primeiro poema de Mormaço:
O dia inacabado
Um comentário:
Prezad@,
Nestas minhas férias natalinas de 2021, dirigi-me a um sebo paulistano com o sugestivo nome de Mania de Cultura e ali vasculhava um acervo de livros raros, quando me deparei com a crônica O BESOURO entre as páginas de determinado livro. Fora escrita por LÊDO IVO e, na condição de um simples recorte, publicada em jornal não identificado, em 9 de novembro de 1963.Fiquei imaginando a razão de ter topado com tal raridade. Seria coincidência ou destino que levou o recorte às minhas mãos, sem meu consentimento?
Como ainda não consegui atinar com a solução para este enigma, não pretendo incomodar o leitor com minhas indagações. Vai abaixo minha sugestão de leitura da referida crônica neste fim de ano recluso:
Minha breve análise da vida e obra de LÊDO IVO
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2021/12/colaborador-ledo-ivo.html
Crônica O BESOURO de Lêdo Ivo
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2021/12/colaborador-ledo-ivo.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
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