Por José Antônio de Ávila Sacramento *

O 11º Regimento Legalista de Infantaria, da cidade mineira de São João d’El-Rey, contribuiu com suas tropas para combater as forças paulistas. Foi nessa ocasião que uma mulher chamada Ana Pereira da Silva alistou-se como voluntária nas fileiras do Regimento, fazendo-se passar por homem; clandestinamente, mas com muita garra, participou dos combates, especialmente aqueles que foram travados na Estação Barão Ataliba Nogueira (inaugurada em 1891, atualmente descaracterizada, a estação fica no município de Itapira-SP e faz parte da Estrada de Ferro Mogiana).
Ana Pereira da Silva, posteriormente apelidada "Cianinha", nasceu em 16 de agosto de 1907, no município de Abaeté-MG e casou-se com Ozório Lourenço de Lima, passando a assinar Ana Pereira Lima (Cartório de S. João del-Rei - Livro 11, Fl. 194 v, termo 123, de 28.12.1922).
Em face da sua coragem e bravura recebeu louvor registrado no Boletim Interno nº 258 do 11º BI, datado de 10 de outubro de 1932, referenciando a sua maneira de agir em combate, com acentuado destemor. Foi ferida em combate, na cabeça, por um estilhaço de granada de avião; ao ser socorrida é que descobriram que ela era do sexo feminino.
Sobre ataques aéreos na dita Revolução, cabe registrar que o inventor do avião, o mineiro Alberto Santos Dumont, suicidou-se em 23 de julho de 1932, deprimido pelo que considerou um mau uso da sua invenção, especialmente por causa dos bombardeios aéreos efetuados nas cidades paulistas, no Campo de Marte e no Forte de Itaipu, fato que ocasionou muitas mortes durante a Revolução de 1932. Com o controle emocional abalado, Santos Dumont recolheu-se ao seu quarto, no Hotel de La Plage, em Guarujá, fechou-se no banheiro, amarrou duas gravatas no cano do chuveiro e enforcou-se.
"Cianinha", já viúva do subtenente Osório Lourenço de Lima, faleceu aos 83 anos, em 13 de agosto de 1991, na cidade de Barroso-MG, vítima de parada respiratória e pneumonia. Não deixou filhos e nem parentes; era muito reservada e por isso não tinha amigos; viveu os últimos momentos da sua vida internada em um asilo. Depois da morte dela, ao demolirem a casa de sua propriedade, foi encontrada uma boa quantidade de munição escondida no imóvel.
No dia 08 de março de 2004, data dedicada ao Dia Internacional da Mulher, o comandante do 11º BI Mth, coronel Jorge da Conceição, prestou a homenagem da Unidade Militar às mulheres. Naquela oportunidade o comando militar do Regimento recebeu a todas com a oferta de botões de rosas; logo após, em cerimônia cívica, o comandante inaugurou, na sala do Acervo Histórico do Batalhão, o memorial dedicado a Ana Pereira Lima. A tradicional Banda de Música do Regimento, com a afinação de sempre, abrilhantou o evento.
E por falar da trajetória de uma mulher, creio que é importante registrar as atuais presenças de representantes do sexo feminino no seio da Unidade Militar de São João del-Rei; a primeira que integrou o contingente do 11º BI Mth foi a primeiro-tenente mato-grossense (da cidade de Cáceres) Alessandra Garcia de Oliveira Fernandes, que naquela solenidade apresentou publicamente o resultado das suas pesquisas biográficas referentes a "Cianinha".
Será que a praticamente desconhecida saga de Ana Pereira Lima não é um bom enredo para um livro histórico, um precioso roteiro para um filme ou, ainda, um interessante tema para a gravação de uma minissérie?
