quinta-feira, 18 de julho de 2019

CENTENÁRIO DE GERTRUDES NÓBREGA DA CÂMARA TORRES ("DONA TUDINHA")


Por MARCELO Nóbrega da CÂMARA Torres *

1919-2019
CENTENÁRIO DE GERTRUDES NÓBREGA DA CÂMARA TORRES 
"Dona Tudinha"
(☆ Caicó, RN, 16/6/1919-✞ 18/6/1989)
Educadora atuante em importantes ações sociais, culturais, políticas e de filantropia



Ontem, 16 de junho de 2019, celebramos os 100 anos de nascimento de Gertrudes Nóbrega da Câmara Torres, Dona Tudinha, minha inesquecível mãe, mestra, amiga, luz que continua a iluminar e guiar os meus passos. E, amanhã, 18 de junho, o calendário marca os trinta anos do seu falecimento.

Nascida em Caicó, RN, em 1919, era filha de Joaquim Gorgônio da Nóbrega, patriarca de grande prole, comerciante e fazendeiro; e de Senhorinha Araújo da Nóbrega. Descendia de tradicionais e ilustres famílias, potiguar e paraibana, os Pais de Bulhões e os Nóbrega pelo lado paterno, e os Aladim e os Araújo pelo lado materno. Seu pai pertencia à Família de Santo Antônio de Lisboa (ou de Pádua), o franciscano, “o santo casamenteiro”, que, na vida civil de Portugal se chamava Fernando de Bulhões. Pelo lado materno, pertencia à mesma família de Dom Eugênio de Araújo Sales, Cardeal Emérito do Rio de Janeiro. 

Tudinha fez os primeiros estudos em Caicó, onde conhece o seu primeiro e único amor, José Augusto da Câmara Torres, o menino magro, notável, ágil, bem articulado nos gestos e nas palavras, mais baixo que ela, orador dos grandes eventos no colégio e, no município, representante da mocidade, e que, aos doze anos funda e dirige o jornal O Ideal da Juventude. O jornal ultrapassa o território escolar e tem circulação em toda a cidade. Tudinha, primeira aluna da mesma turma de José Augusto, é a secretária do jornal já no seu terceiro número. 

Na capital do Rio Grande do Norte, Tudinha cursa o Ginasial e se forma pela sua legendária Escola Normal de Natal, onde é aluna do professor Luís da Câmara Cascudo, que viria a se tornar um dos maiores e mais produtivos intelectuais brasileiros do Século XX. Em 1941, José Augusto, então acadêmico de Direito, jornalista profissional e professor, radicado em Niterói desde os catorze anos de idade, vai a Caicó contrair núpcias com Tudinha, a primeira namorada, sua colega do Grupo Escolar Senador Guerra. 

José Augusto e Tudinha vão morar em Niterói, onde ela é aprovada no Concurso de Ingresso ao Magistério Público Estadual, sendo uma das primeiras classificadas. Nasce a sua primeira filha, Marta em 1943, quando, também, José Augusto se forma em Direito. Neste mesmo ano, a família transfere-se para Angra dos Reis, onde José Augusto, Técnico de Educação, assume a Inspetoria Estadual de Ensino, que compreende além daquele município, Paraty, Mangaratiba e Rio Claro, e começa a advogar. A Dona Tudinha leciona, ininterruptamente, no Grupo Escolar Lopes Trovão, por onze anos, formando gerações de angrenses. Em Angra, nascem mais cinco filhos do casal. 

Em 1956, a família vai se fixar em Niterói, onde José Augusto já cumpria, desde o ano anterior, o primeiro dos seus quatro mandatos sucessivos como Deputado Estadual na Assembleia Legislativa. Nessa cidade nascem mais dois filhos do casal. Na Capital fluminense, a professora é lotada no Departamento de Ensino Médio, da Secretaria Estadual de Educação e Cultura, onde fiscaliza as Escolas Normais, de formação de professores. Em seguida, trabalha no Conselho Estadual de Educação, onde se aposenta na década de 1970. 

Mulher inteligente, culta e criativa, de personalidade marcante e atitudes admiráveis, generosa e solidária, de singular bom humor, cidadã participativa da vida social, comunitária e cultural nas cidades de Angra dos Reis e Niterói, onde viveu no Estado do Rio de Janeiro - só e com José Augusto, atuou em importantes ações sociais, culturais, políticas e de filantropia. Em Niterói, concebeu e fundou a Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes de Audição – APADA, núcleo original da instituição, hoje de âmbito nacional. 

Desde o casamento, até a sua partida em 1989, a Dona Tudinha foi sempre a mãe extremosa, dedicada, de oito filhos, a companheira fiel, corajosa, abnegada e sempre presente ao lado do marido, o educador, advogado e político, Doutor Câmara Torres, sua secretária, datilógrafa, que registrava e revisava as suas petições judiciais e propostas legislativas, inspiradora e conselheira cotidiana de todas as horas, alegres, amargas, felizes e doridas. 

Anos após o seu falecimento, a Câmara Municipal de Niterói promulgou lei dando o seu nome a uma rua na Região Oceânica do município, em homenagem à sua memória. 

Se você conheceu ou conviveu com a Dona Tudinha sinta-se um privilegiado por ter recebido um bom e edificante exemplo de vida, amor e trabalho. 

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* Marcelo Nóbrega da Câmara Torres (✰ Angra dos Reis, 1950) é jornalista, escritor, editor e consultor cultural, autor de seis livros e de centenas de ensaios e artigos nas áreas da Criação, Administração e Crítica Cultural, Literatura, Humor, Artes, Ciências Sociais, História, Política, Estética e Direito. Membro Titular da Classe de Letras da Academia Fluminense de Letras, onde ocupa a Cadeira nº 37, patronímica de RAUL POMPEIA, desde 21/06/2018.

8 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

O Blog de São João del-Rei se orgulha de divulgar mais este trabalho de seu colaborador, Dr. MARCELO NÓBREGA DA CÂMARA TORRES, o qual se lerá aqui. Trata-se de um texto escrito em memória de sua saudosa mãe "Dona Tudinha" (1919-1989), como carinhosamente era tratada Gertrudes Nóbrega da Câmara Torres, em homenagem ao centenário de seu nascimento, colocando em destaque seu exemplo de dedicação e devotamento à obra de seu marido José Augusto da Câmara Torres, tendo o casal desenvolvido uma memorável parceria por toda a vida, embora ela não tenha se descuidado de sua missão de mãe extremosa, de sua carreira de educadora e de sua atuação em importantes ações sociais, culturais, políticas e de filantropia.

https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2019/07/centenario-de-gertrudes-nobrega-da.html

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (professor universitário, presidente do TRE/MG, escritor e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Muito bom!
Meu bisavô materno, Joaquim Estanislau de Medeiros era de Caicó/RN. Mudou-se para Santa Luzia/PB, onde nasceram os filhos, inclusive meu avô João Maurício de Medeiros.
Os Medeiros e os Nóbregas são muito próximos no SERTÃO DO SERIDÓ.

Dr. Mário Pellegrini Cupello (escritor, pesquisador, presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, e sócio correspondente do IHG e Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Caro amigo Braga

Agradecemos pela gentileza do envio deste documento memorial sobre D. Tudinha, uma senhora à frente de seu tempo!

Abraços, de Mario e Beth.

Anderson Braga Horta (poeta, escritor, ex-presidente da ANE-Associação Nacional de Escritores e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal) disse...

Grato, Francisco.

Abraço amigo de

Anderson

RODRIGO da costa Lima disse...

Minha vó Maria Eliza da Silva Lima foi criada por senhora Esperidiana , nascida em Caico , ela foi amiga da professora Gertrudes, ela a chamava de Tudinha , ela também tinha uma madrinha chamada Diva , esposa do senador Dinarte Marin’s

carlacamaratorres@gmail.com disse...

Muito feliz em saber a história completa de minha avó. Convivi com ela na minha infância, lembro do colo dela e como era carinhosa. Hoje leciono no curso normal, seguindo um pouco sua trajetória. Tenho Saudade, admiração e orgulho de ser sua neta. Ela foi uma das fundadoras da associação de Surdos e com uma filha surda, o que prova sua dedicação e amor, tanto em relação a educação e quanto na interação de sua filha com a sociedade.

Carla da Câmara Torres disse...

Agradecendo também ao meu tio Marcelo por compartilhar conosco toda a linda história.

Francine do Prado disse...

Estava conversando com minha vó, sobre assuntos de comida e ela me disse que aprendeu a cozinhar com uma senhora que também trabalhava com eles. Minha vó na época tinha 14 anos e chegou a conhecer todos os filhos de Dona Tudinha, até a última filha a Cláudia.
Minha vó ficou até emocionada depois que lhe mostrei sobre as fotos e documentos.