RIO HOMENAGEIA MÚSICO E COMPOSITOR NEWTON MENDONÇA

Por MARCELO Nóbrega da CÂMARA Torres *

 

Newton Mendonça (✰ Caxambi, 1927 ✞ Rio de Janeiro, 1960)

 

A pista de 25 metros de extensão sobre o Jardim de Alah, ligando as Avenidas Epitácio Pessoa, em Ipanema, e General San Martin, no Leblon, foi nomeada PONTE MÚSICO NEWTON MENDONÇA, uma homenagem da cidade do Rio de Janeiro, ao músico e compositor carioca Newton Mendonça (1927-1960), através do Decreto 59.483, de 5.8.2024, do Prefeito Eduardo Paes. O pianista Newton Mendonça, com Tom Jobim, formou a parceria mais importante da Bossa Nova, que criou os hinos da estética, as matrizes do estilo, as mais famosas canções que revolucionaram a Música Brasileira nos anos 1950, tornando-se hits internacionais: Desafinado, a música-manifesto da Bossa Nova; Samba de uma nota só, a música-símbolo; os clássicos Meditação, Discussão, Foi a noite, Caminhos cruzados, Só saudade, Domingo azul do mar, entre outros. 

 

Das sete músicas de Tom Jobim com mais de três milhões de execuções no mundo, três são resultado de apenas sete anos com Newton Mendonça: Desafinado, Samba de uma nota só e Meditação. A homenagem de Eduardo Paes à memória de Newton Mendonça, é comemorada pela classe artística do País, especialmente pela Cultura Carioca, e foi formalmente solicitada ao Prefeito pelos músicos e compositores da Bossa Nova, Roberto Menescal e Marcos Valle, únicos contemporâneos de Newton em atividade; o jornalista e biógrafo de Newton Mendonça, Marcelo Câmara, e contou com o apoio da empresária Ana Beatriz Lontra Jobim, viúva de Tom Jobim, e do jornalista Roberto D’Ávila. A Prefeitura deve anunciar em breve a data da cerimônia de inauguração das placas indicativa e de celebração da PONTE MÚSICO NEWTON MENDONÇA, a exemplo do que aconteceu em 2021, com a homenagem ao Arquiteto Paulo Casé, que dá nome à ponte sobre o Jardim de Alah, em sentido contrário, do Leblon para Ipanema. 

 

Nascido no Caxambi em 14/02/1927, pobre, órfão na adolescência, introvertido e reservado, viveu a infância entre o Rio, Maranhão, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, pois o pai era militar. Aos treze anos retorna ao Rio. De formação erudita e popular, quase toda autodidata, já tocando violino e gaita, ingressa no Colégio Militar, começa a estudar piano e vai morar em Ipanema, onde conhece Tom Jobim, nascido na Tijuca e com a mesma idade, surgindo uma sólida amizade e produtiva parceria musical, da qual resultaram quinze composições, treze delas gravadas. Numa quitinete da Rua Prudente de Morais, em Ipanema, Newton Mendonça, “o mais ipanemense dos artistas brasileiros”, compôs grande parte da sua preciosa obra e viveu os últimos anos de vida, antes de se mudar para Vila Isabel, onde faleceu em 22/11/1960, vítima do terceiro infarto. Não chegou a ver o sucesso da Bossa Nova, o êxito de suas composições, delas nada usufruindo. Não conheceu o prestígio e a fama, permanecendo quase sempre esquecido, oculto e injustiçado. 

 

O Decreto do Prefeito Eduardo Paes se apresenta “como um ato histórico, de justiça, muito esperado, que deve ser aplaudido por todos. Chega sessenta e quatro anos após a morte do compositor” e “é um reconhecimento, uma gratidão e uma homenagem do Poder Público e dos cariocas a um grande artista”. Newton Mendonça é o compositor exclusivo, sem parceria, de dezenove canções revolucionárias para a época, nos anos 1950, como Você morreu pra mim, Verdadeiro amor, Seu amor, você, Canção do azul, Nuvem, O mar apagou, Canção do pescador (vencedora do primeiro festival de MPB de âmbito nacional, em 1960), e Quero você, principal tema da trilha do filme Os desafinados, de Walter Lima Júnior, lançado em 2008. 

 

Concluo finalmente, dizendo que, para mim, Newton Mendonça, ao lado de Johnny Alf, Tom Jobim e Carlos Lyra, formam, na década de 1950, os pilares composicionais da Bossa Nova, inventada por João Gilberto. Newton foi muito alto e longe na estruturação das canções, na excelência melódica, no ineditismo e riqueza harmônica da Bossa Nova. Verdadeiramente, fez vanguarda.

 

* Jornalista e escritor, autor da única biografia de Newton Mendonça, intitulada Caminhos cruzados - a vida e a música de Newton Mendonça (Mauad, 2001)