Por ROGÉRIO MEDEIROS GARCIA DE LIMA *
Sou nascido em Minas Gerais.
Se concordarmos com Alceu Amoroso Lima, todo mineiro é romancista, contista e piadista de nascença:
“Mais do que isso — é contador de histórias, de casos verídicos, de situações pitorescas e estranhas. Com aquele sense of humour, tão típico do mineiro, sabe ele ver sempre o lado cômico ou ridículo das coisas. De modo que, a todo propósito, tem sempre um exemplo a dar, um caso a contar. (...) A naturalidade do mineiro, a sua ausência de “pose”, o seu desajeitamento, fornecem amplo material para essa antologia natural de contos anônimos, de onde os verdadeiros escritores vão tirar os elementos para suas obras. Os romancistas e contistas mineiros são apenas vocações particulares de uma grande inclinação geral do seu povo.”
Ingressei no universo das redes sociais em 2014.
Primeiro, criei uma conta no Facebook; posteriormente, no Instagram.
Foi muito bom reencontrar parentes, amigas e amigos.
Com alguns, não falava havia anos — inclusive os residentes em estados ou países distantes.
Percebi, contudo, o volume de postagens fúteis ou agressivas no ambiente virtual.
A agressividade, especialmente, subiu de tom aos poucos.
A ponto de promover discursos de ódio no Brasil e mundo afora.
Eu refletia: em meio a futilidades e ódios, haverá espaço para a leveza?
As redes sociais comportariam pitadas de literatura?
Poderiam ser veículos propagadores da cultura e da fraternidade?
Penso que sim.
Comecei então a veicular, nas minhas contas, pétalas literárias.
Em forma de reminiscências, narrativas, gracejos e poesia.
Prosa e verso.
Prosa, sobretudo.
De poeta tenho só boas intenções...
Uma “mini-literatura” adequada aos limites espaciais e temporais da web.
A internet é o território da concisão e ligeireza.
Passei a me adestrar na produção de posts concisos e de leitura rápida.
Todavia, de conteúdo reflexivo — mesmo quando cômicos ou irônicos.
Textos à moda de Fernando Sabino, um gênio da crônica já citado aqui. Trabalhosos para escrever, mas de simples assimilação. Levam à crença de que foram facilmente escritos.
Novas tecnologias não dispensam a leitura de obras clássicas, apontou o filósofo francês Roger-Pol Droit. Mesmo os mais eficientes técnicos, empresários ou gestores, precisam ler os clássicos. Ler as tragédias de Sófocles, a moral de Epicuro ou as estratégias da Guerra do Peloponeso, tanto quanto ou mais do que estudam a trigonometria e o cálculo diferencial.
Um mundo sem romances será incivilizado, bárbaro, órfão de sensibilidade, pobre de palavra e ignorante.
Um mundo privado do espírito.
Um mundo composto por uma humanidade resignada de robôs, que abdicaram da liberdade.
Busco transmitir importante mensagem aos usuários das redes sociais: se bem usadas, elas propagarão a paz, cordialidade, encantamento e cultura.
Reuni neste livro algumas postagens selecionadas.
Com o devido burilamento, mas sem alteração essencial dos conteúdos.
Agradeço aos leitores e leitoras pela paciência de me acompanhar até aqui.
Vamos em frente: doravante o caminho será menos tortuoso.
* Rogério Medeiros Garcia de Lima, natural de São João del-Rei/MG, é bacharel e doutor em Direito Administrativo pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Magistrado de carreira há 35 anos, é desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais em 2008. Professor, conferencista e escritor. Autor de várias obras de Direito, ocasionalmente publica livros alheios ao mundo jurídico.
NOTAS EXPLICATIVAS
¹ N.T.: O livro de sua autoria a que o autor se refere é Redes Sociais em Prosa e Verso, Belo Horizonte: Del Rey, 2024, 314 p.
² DROIT, Roger-Pol. Voltar a Ler os Clássicos, Lisboa: Temas e Debates/Círculo de Leitores, tradução de Pedro Vidal, 2011, pp. 19-20
³ LLOSA, Mario Vargas. Em defesa do romance, Revista Piauí, edição nº 37, outubro de 2009, Questões Literárias. Disponível em https://piaui.folha.uol.com.br/materia/em-defesa-do-romance/. Acesso em 06/12/2020.
9 comentários:
Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Prezad@,
O Blog de São João del-Rei tem o prazer de reproduzir PORQUE ESCREVI ESTE LIVRO, capítulo do livro REDES SOCIAIS EM PROSA E VERSO da autoria de Rogério Medeiros Garcia de Lima.
Por sugestão e incentivo de familiares, amigos e seguidores das redes sociais, o autor foi "intimado" a escrever esse livro com suas postagens no Facebook e Instagram. Assim nasceu o seu livro. Segundo Rogério, o livro transmite importante mensagem aos usuários das redes sociais: se bem usada, a web dissemina amizade, cultura, paz e poesia. A reunião cronológica das postagens condiz melhor com o desenrolar da existência, é o que pensa o autor.
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2025/02/porque-escrevi-este-livro.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
Raquel Naveira (membro da Academia Matogrossense de Letras e, como poetisa publicou, entre outras obras, Jardim Fechado, antologia poética em comemoração aos seus 30 anos dedicados à poesia) disse...
Interessante processo de um livro híbrido nascido das redes sociais.
Comprovação de que a Literatura caminha por diferentes suportes e sempre sobrevive, caro Sr. Francisco Braga.
Abraço fraterno,
Raquel Naveira
Paulo José de Oliveira (presidente da AFL-Academia Formiguense de Letras e do CLMM-Clube Literário Marconi Montoli) disse...
Bem peculiar este!!! Maravilha!!! Gratidão, meu caro!
Att.,
Paulo José de Oliveira
Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...
Caro professor Braga
Excelente! As chamadas "Redes Sociais " exigem de nós exatamente essa atitude: refletirmos e avaliarmos nosso papel nesses novos meios de comunicação, massificados e utilizados de forma tão desatenta.
Saudações.
Cupertino
Obrigado Braga.
Vamos cobrar do autor um exemplar da obra que, pela amostragem já se revela interessante. Se estiver disponível nas livrarias, vamos adquirir. Se estiver disponível para download na internet vai funcionar também.
Nosso abraço ao blog e ao nosso ilustre conterrâneo que, por força da profissão, conheço muito bem de nome. E eu poderia dizer "de vista e de chapéu". Minas agradece e faz festa para o "surgimento" desse livro, obra com certeza, interessante, e sem dúvida, bem trabalhada. Mais uma pérola para o colar de nossa galeria de escritores, pérola que vem para confirmar a nossa tradição de escritores que respeitam o vernáculo e, também por isso, enriquecer o idioma. (Geraldo Reis: O Ser Sensível)
Geraldo Reis (poeta, membro da Academia Marianense de Letras e gerente do Blog O Ser Sensível) disse...
Obrigado Braga.
Vamos cobrar do autor um exemplar... Se estiver disponível nas livrarias, adquirir. Se estiver disponível para download vai funcionar também.
Nosso abraço ao blog e ao festejado autor.
Napoleão Valadares (romancista, contista e cronista brasileiro, nascido em Arinos-MG, pertence à Academia Brasiliense de Letras, ANE, IHGDF, Academia de Letras do Brasil e à Academia de Letras, Ciências e Artes de São Francisco) disse...
Napoleão Valadares (romancista, contista e cronista brasileiro, nascido em Arinos-MG, pertence à Academia Brasiliense de Letras, ANE, IHGDF, Academia de Letras do Brasil e à Academia de Letras, Ciências e Artes de São Francisco) disse...
Caro Braga.
Sempre agradecido por tudo o que você me envia.
Gostaria de observar que na capa do livro de Rogério deve estar:
POR QUE ESCREVI ESTE LIVRO
(POR QUE SEPARADO).
Abraço.
Napoleão Valadares
Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) respondeu...
Prezado Dr. Napoleão Valadares,
Obrigado pelo comentário.
De fato, tanto o artigo que transcrevi, quanto outro cujo título é "Por que gosto de escrever", conservam o "por que".
Mas observe que não há pergunta; há uma explicação, perfeitamente perceptível no texto que seguiu ao título.
Não se justifica em ambos os casos manter a pergunta.
A conjunção causal "porque" se justifica.
Também consultei o célebre título de "Porque me ufano do meu país" de Afonso Celso, livro de 1900, que encontrei assim escrito.
Abraço do Braga
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