Por Luciana Muniz (BN) e Rodrigo Bozzetti (IMS), historiadores; Daniel Arruda(IMS), designer
2 – Conde d'Eu (1842-1922) – príncipe do Brasil por seu casamento com a princesa Isabel.
3 – Não identificada.
4 – Possivelmente o Marechal Hermes Ernesto da Fonseca (1824-1891) – político e militar brasileiro, irmão do general Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil, e pai do futuro presidente do Brasil, Hermes Rodrigues da Fonseca.
5 – Machado de Assis (1839-1908).
6 – Possivelmente José de Miranda da Silva Reis, marechal de campo e Barão Miranda Reis (1824-1903) – foi ajudante de campo e camarista do imperador Pedro II e participou da Guerra do Paraguai. Exerceu importantes cargos, dentre eles foi ministro do Superior Tribunal Militar e dirigiu a Escola Superior de Guerra e o Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro.
7 – Possivelmente José do Patrocínio (1854-1905) – escritor e jornalista, uma das maiores figuras do movimento abolicionista. Na foto está segurando a mão de seu filho primogênito, que ao fim da missa foi beijado pela princesa Isabel.
8 – Jornalista (?) não identificado.
9 – Possivelmente José Ferreira de Souza Araujo, conhecido como Ferreira Araujo (1848-1900) – um dos mais importantes jornalistas da época, foi diretor da Gazeta de Notícias e sob o pseudônimo Lulu Sênior escreveu as muito populares colunas Macaquinhos no Sótão, Balas de Estalo e Apanhados. Foi o vice-diretor da Comissão Central da Imprensa Fluminense, formada para organizar e programar os festejos em torno da Abolição.
10 – Thomaz José Coelho de Almeida (1838-1895) – ministro da Guerra, integrante do Gabinete de 10 de março de 1888.
11 – Rodrigo Silva (1833-1889) – ministro dos Negócios da Agricultura e interino dos Negócios Estrangeiros, integrante do Gabinete de 10 de março de 1888.
12 – José Fernandes da Costa Pereira Junior (1833-1899) – ministro do Império, integrante do Gabinete de 10 de março de 1888.
13 – João Alfredo Correia de Oliveira (1835-1919) – presidente do Conselho de Ministros do Gabinete de 10 de março de 1888, em substituição ao Barão de Cotegipe.
Observações:
1) A outra dama presente no palanque da Princesa Isabel é Maria Amanda de Paranaguá Dória, Baronesa de Loreto (1849-1931) – dama do Paço e amiga íntima da princesa Isabel.
2) À esquerda da fotografia, estão vários padres diante do altar, que ainda não conseguimos identificar. Dentre eles, segundo a imprensa da época, estariam o celebrante da missa, padre Cassiano Coriolano Collona, capelão do Exército e um dos fundadores da Confederação Abolicionista, criada em 19 de fevereiro de 1888; o padre-mestre Escobar de Araújo, vigário de São Cristóvão; os padres Castelo Branco, Telêmaco de Souza Velho e o padre José Alves Martins do Loreto (1845-1893), redator e sócio proprietário do jornal O Apóstolo.
O missal usado na cerimônia, em veludo carmezin, tinha a seguinte inscrição: “13 de maio de 1888 – Esse missal foi o que serviu na missa campal, celebrada em 17 de maio de 1888, no campo de S. Cristóvão, em ação de graças pela promulgação da lei que extinguiu a escravidão no Brasil”. O missal e a campainha utilizados foram, assim como a garrafa de vinho Lacryma Christi, doados. Segundo a imprensa da época, formavam as alas do altar as ordens terceiras de São Francisco de Paula, de São Francisco da Penitência e de Nossa Senhora do Carmo, além das irmandades de São Cristóvão e do Rosário com seus galões e candelabros. Estandartes de associações e de escolas podem ser vistos na foto.
A importância dos jornais do Rio de Janeiro no processo da Abolição da Escravatura fica evidenciada na missa campal por dois fatos: antes do início da cerimônia, o ministro da Guerra, Thomaz José Coelho de Almeida (identificado na foto – número 10), “ergueu um viva à imprensa nacional”; e, representando a imprensa, o jornalista Fernando Mendes de Almeida (identificado na foto – número 16, vestindo uma toga) ajudou na celebração da missa campal.
A missa campal do dia 17 de maio de 1888 foi um dos festejos pela Abolição da Escravatura organizada pela Comissão Central da Imprensa Fluminense. Possivelmente, seus integrantes estão identificados na foto usando uma faixa na qual podemos ler a palavra imprensa.
3) Um pouco mais da história dos festejos pela Abolição da Escravatura no Brasil promovidos pela imprensa
No dia 12 de de maio de 1888, quatro dias após a apresentação na Câmara pelo ministro Rodrigo Silva (identificado na foto – número 11) do projeto para o fim da escravidão no Brasil, representantes dos periódicos Jornal do Commercio, Cidade do Rio, Diário de Notícias, Revista Illustrada, A Epoca, Gazeta da Tarde, Novidades, Apóstolo e Gazeta de Notícias decidiram promover festejos populares para celebrar a iminente promulgação da Lei Áurea. Reuniram-se com colegas de outros jornais no Clube de Esgrima e Tiro, localizado na rua São Francisco de Paula, n°22, e formaram a Comissão Central da Imprensa Fluminense (Gazeta de Notícias, edição de 13 de maio de 1888). José do Patrocínio, representando o jornal O Paiz, participou do encontro.
No dia seguinte, 14 de maio, em uma segunda reunião realizada no Clube de Esgrima e Tiro, foi nomeada a diretoria da Comissão Central da Imprensa Fluminense. Foi formada pelos redatores-chefes dos principais jornais: João Carlos de Souza Ferreira, do Jornal do Commercio, na direção; José Ferreira de Souza Araujo, da Gazeta de Notícias, na vice-diretoria; e como primeiro e segundo secretários Demerval da Fonseca, da Gazeta de Notícias; e Fernando Mendes de Almeida, do Diário de Notícias, respectivamente. A tesouraria ficou a cargo de Henrique Villeneuve, do Jornal do Commercio; e de Artur Azevedo, da A Estação. As festas promovidas pela Comissão começaram com a missa campal no dia 17 e terminaram no dia 20 com a queima de fogos de artifício em diversos pontos da cidade (Gazeta de Notícias, edição de 15 de maio de 1888). Mais um baile foi programado para o dia 19 à noite, na praça da Aclamação, atual Campo de Santana.
A fim de envolver toda a população do Rio de Janeiro nos festejos, a Comissão Central da Imprensa Fluminense publicou pedidos nos jornais para que todos os moradores da cidade se empenhassem na iluminação e na ornamentação das ruas e para que os estabelecimentos comerciais fechassem durante as festas. Convocou também mestres de obras para a construção de coretos e arquibancadas. Comerciantes doaram dinheiro para a realização das festas. O Sport Club pôs à disposição da comissão a arrecadação do páreo 13 de maio de 1888 e artistas se encarregaram dos fogos de artifício. O importante cenógrafo Frederico de Barros ofereceu seus serviços à comissão. Enfim, toda a cidade participou da celebração da Lei Áurea.
Além de organizar os festejos, a Comissão Central da Imprensa Fluminense decidiu publicar um jornal especial, intitulado A Imprensa Fluminense, que foi o único a ser distribuído no dia 21 de maio de 1888.
Essas comemorações promovidas pela imprensa fluminense, e as fotografias de Antônio Luiz Ferreira sobre os vários eventos em torno do mais importante acontecimento histórico no Brasil, após a proclamação da Independência, são fundamentais para a formação da memória da Abolição da Escravatura. A euforia e o entusiasmo dos brasileiros, mostrados tanto nas festas como nas fotos de Ferreira, e também os textos publicados nos jornais da época podem ser interpretados como um contraponto a tão longa duração do regime escravocrata no país.
II. AGRADECIMENTO
O gerente do Blog de São João del-Rei agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos utilizadas neste trabalho.
III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
10 comentários:
Excelente trabalho!
Lindas as fotografias da população carioca. A cidade é realmente muito bonita, não é mesmo? Obrigado por mais este rico e-mail.
POIS É, A ESQUERDALHA MENOSPREZA A ABOLIÇÃO.
CULTUA ZUMBI, PORQUE ERA NEGRO E GAY.
O BRASIL NÃO É UM PAÍS SÉRIO (DE GAULLE)
ABS
Não é mesmo, mas a França é um país sério? Durante a ocupação nazista de seu território, os franceses entregavam seus compatriotas judeus aos nazistas. Isso é de um país sério? E a Alemanha... é um país sério, depois do episódio inacreditável do nazismo? A Rússia, por sua vez, é um país sério? E por aí vai....
Grato, Francisco.
Seguem uns poemas em publicação recente.
Abraços,
Anderson
Caro professor Braga!
Fascinante foto, vinda ao grande público há relativamente pouco tempo! Daí talvez a dificuldade dos próprios especialistas atuais em precisar certas figuras no séquito central da Princesa. Excelentes e interessantes notas sobre aquele momento tão importante da vida política e social do Brasil.
Saudações!
Cupertino
Beleza! Perde mto por não ser a cores. Pensando bem, fosse a cores, estaria mais depreciado.
Bom Dia, Francisco e Rute. Ação de graças bem merecida. Já estava passando a hora de abolir a escravatura! Viva Cristo, o libertador da humanidade!! Paz e Bem!! f. Joel.
Francisco, muito interessante. Três meses depois, em agosto de 1888, aportava no ES meus bisavós, PIETRO NOÈ SOSSAI E ELENA CALIMAN, acompanhados de 6 filhos, de 11 a 2 anos de idade. Vieram substituir a mão de obra escrava, como milhares de imigrantes. Hoje, esse casal, que teve mais quatro filhos após chegar ao Brasil (um deles é meu avô), gerou uma descendência hoje estimada em 10 mil almas.
Muito interessante.
Abraço
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