Antiguidades roubadas, vendidas ilegalmente e mais tarde recuperadas têm um santuário na Itália, o 'Museo Dell'Arte Salvata' (Museu de Arte Resgatada), instalado nas Termas de Diocleciano, no centro de Roma, e que conta a história das obras expostas.
1) ANÚNCIO DE PROVIDÊNCIAS A SEREM TOMADAS PARA A RECUPERAÇÃO DO PATRIMÔNIO ITALIANO SAQUEADO
ROMA, 6 ABR 2022 (ANSA) - O governo da Itália anunciou nesta quarta-feira (6) que vai abrir um museu dedicado exclusivamente a obras de arte recuperadas, ou seja, peças que foram danificadas, furtadas, vendidas ou exportadas ilegalmente, mas que acabaram "salvas" pela polícia.
Segundo o ministro italiano da Cultura, Dario Franceschini, o museu ficará na capital Roma e a ideia já está em "estágio avançado". "Estamos trabalhando nisso e vamos dizer a data [de abertura] e o local daqui a alguns dias. A ideia é ter um lugar onde as obras recuperadas pela polícia sejam expostas antes de ser restituídas. Será um museu da arte salva", explicou.
O anúncio foi feito durante a devolução para a Prefeitura de Siena de uma pintura do século 15 de autoria do artista renascentista Sano Di Pietro (1405-1481) e que foi restituída recentemente pela Alemanha.
De acordo com o governo italiano, a primeira exposição do novo museu será voltada a peças artísticas recém-recuperadas dos Estados Unidos, incluindo itens arqueológicos de várias civilizações.
"Quando houver novas recuperações, as obras em exposição voltarão para seu lugar de origem, e nós apresentaremos as novas peças", contou o general Roberto Riccardi, comandante da divisão de tutela do patrimônio cultural da Arma dos Carabineiros, a polícia militar da Itália.
"A ideia é ter uma estrutura onde apresentar permanentemente o resgate da arte em suas diversas formas: as investigações, as devoluções por meio da diplomacia cultural, a descoberta entre escombros deixados por terremotos e até as recuperações após grandes restaurações. Dostoiévski dizia que a beleza salvaria o mundo. Nós queremos ser o mundo que salva a beleza", acrescentou Riccardi.
Recentemente, o governo italiano também instituiu uma força-tarefa destinada a proteger patrimônios culturais ameaçados por conflitos armados e fenômenos naturais ao redor do mundo.
As intervenções no exterior poderão ser ativadas a pedido de um ou mais países e a convite da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), desde que sejam respeitadas condições de segurança. (ANSA).
2) ANÚNCIO DA CRIAÇÃO DO MUSEU EM ROMA E DA APRESENTAÇÃO DAS OBRAS JÁ RECUPERADAS EM EXPOSIÇÕES TEMÁTICAS (30/05/2024)
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| Museo Dell'Arte Salvata, em Roma |
Os painéis junto a cada obra relatam como foram saqueadas durante escavações clandestinas de cemitérios etruscos ao norte de Roma e na região de Puglia, e a forma como foram levadas ilegalmente da Itália, através de redes de antiquários, bem como a sua venda a colecionadores estrangeiros.
Alguns destes objetos "foram vendidos ou doados a grandes museus americanos", explica o diretor deste museu, o arqueólogo francês Stéphane Verger.
Há anos, a Itália iniciou procedimentos jurídicos e diplomáticos para recuperá-las. O êxito mais recente foi a recuperação de três estátuas de terracota que representam "Orfeu e as sereias", que o Museu Getty de Los Angeles aceitou devolver ao país em 2022, após reconhecer que provinham de "escavações ilegais".
De volta "a casa", o trio está no Museo Dell'Arte Salvata em uma exposição de terracotas italianas.
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| 3 estátuas de terracota italiana |
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| Exposição de terracotas italianas |
O museu quer apresentar as obras recuperadas em exposições temáticas. "Os objetos não permanecerão aqui", explica Verger. "Depois de serem expostos durante um tempo serão repatriados aos museus italianos, que os teriam expostos se não tivessem sido vendidos ilegalmente", indica.
Museo Dell'Arte Salvata: diretor do museu, Stéphane Verger - Créditos: AFP
Saqueadores de túmulos
"As escavações clandestinas tiveram consequências muito negativas para o conhecimento das culturas antigas", lamenta Verger.
No caso das necrópoles (cemitérios milenares), especialmente as que foram alvos dos famosos "tombaroli" (saqueadores de túmulos), um objeto roubado é uma perda por si só; mas o facto de ignorar as circunstâncias exatas do seu descobrimento altera irremediavelmente os conhecimentos que poderiam ter sido extraídos dele.
O museu está fechado temporariamente por obras já que Roma se prepara para o Jubileu de 2025, ano declarado santo pelo papa Francisco, durante o qual são esperados milhões de católicos na cidade eterna.
O estado transitório faz ecoar a maneira como foi concebido: em movimento perpétuo. Em cada exposição, o museu deve mudar de formato para valorizar as antiguidades que acolhe.
E ainda há muito o que ser feito. No início de maio, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos decidiu a favor da Itália uma disputa contra o Museu Getty sobre a propriedade do "Atleta di Fano", esplêndida estátua de bronze exposta nos Estados Unidos.
A estátua do século IV a.C., descoberta há 60 anos no Mar Adriático por pescadores italianos na costa de Fano, foi vendida imediatamente e mudou várias vezes de mãos antes que a Itália pudesse exercer o seu direito de preferência.
A obra, que representa um atleta nu (o príncipe macedónio Demétrio Poliórcetes, segundo alguns), reapareceu no mercado de arte em 1974 e foi adquirida em Munique pelo Museu J. Paul Getty por 3,9 milhões de dólares.
Este é apenas um exemplo do emblemático destino das peças saqueadas no território italiano, berço de muitas civilizações ainda repleta de tesouros a serem descobertos.
Onde fica o Museo Dell'Arte Salvata? Via Giuseppe Romita, 8 - Roma
Vídeo no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=aBpLRESnp0E&t=2s 👈
6 comentários:
Prezad@,
Inaugurado em junho de 2022, nas Termas de Diocleciano, o Museo Dell'Arte Salvata , anexo ao Museu Nazionale Romano, em Roma, se dedica à tarefa inusitada de expor antiguidades "recuperadas".
Os objetos saqueados que fazem parte das exposições foram retirados de túmulos ou em guerras para serem vendidos ilegalmente. Junto de cada item, há uma explicação de como ele foi furtado, retirado da Itália e parou nas mãos de donos de antiquários, colecionadores estrangeiros ou em acervos de museus.
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2024/07/sabia-que-este-museu-italiano-apresenta.html 👈
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
Amigo,
Que beleza!
Sou aficionado pelo mundo greco-romano.
Outro dia estive com a viúva do Dr. Roque Camelo, falamos muito bem do amigo.
Abs.
Rogério
Braga, amigo
Excelente.
O Vaticano poderia começar a devolver a agulha de Cleópatra, da praça principal, roubada do Egito; além disso, coloca até hoje a cruz de Constantino, a encimar o troféu roubado.
Hitler, por sua vez, foi o maior ladrão de peças artísticas dos judeus, durante a Segunda Guerra. O ladrão foi Martin Bormann.
Gentili
Caro professor Braga
Um tema tão fascinante quanto polêmico; as incontáveis obras de arte, os inúmeros objetos de civilizações passadas, seus destinos variáveis e incertos nos fazem pensar no patrimônio que restará do nosso próprio mundo de hoje, tão farto de vestígios para os próximos milênios.
Cumprimentos pela publicação. Muito agradecido,
Cupertino
Meu prezado amigo FJSBRAGA, foi para mim, uma alegria enorme saber da instalação deste novo museu buscando resgatar tesouros arqueológicos que foram surrupiados da Itália por diversas pessoas e por diversas maneiras. Agora, pouco a pouco aquelas peças de imenso valor cultural retornarão ao seu berço de origem.
Abs do Lucio Flávio Baioneta
Tema excelente, amigo!
Hilma Ranauro
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