Por JOSÉ CIMINO *
Estive a pensar: O que seria de mim não fossem os livros.
Livros: desde aqueles da minha alfabetização, desde o livrinho do catecismo que me preparou para a “primeira comunhão”, até os grossos volumes do curso universitário. Em especial, vem-me à memória a Gramática Expositiva de Eduardo Carlos Pereira, na qual estudei a estrutura linguística e lógica do nosso idioma. Pedagogo e educador nato, além de conhecer profundamente a complexa língua portuguesa, Eduardo Carlos Pereira exemplificava as regras gramaticais, com provérbios, ditos populares e citações extraídas de autores clássicos da nossa herança literária, com o objetivo de possibilitar, ao estudante, internalizar valores morais, éticos e de patriotismo, além de, pouco a pouco, ir despertando, nele, o interesse pela literatura. Nos quatro anos de ginásio e nos três do curso clássico tive o privilégio de estudar português com o grande Mestre mineiro de Poços de Caldas. Sua gramática, ao longo de sete anos de estudo e manuseio, foi um dos livros que muito contribuiu para me plasmar o espírito e a personalidade. De tal modo esse livro me influenciou que, de certo modo, está no DNA da minha formação intelectual.
A gramática é a lógica revelada da língua, sem a qual não se consegue pensar, falar e escrever corretamente. Essa lógica, uma vez assimilada, contagia de logicidade todas as outras atividades intelectuais do estudante. É a base e o ponto de partida para a aventura na direção de estudos e pesquisas em todas as áreas do saber humano. Eis porque, ergo loas aos tempos, nada retrógrados, em que me foi possível estudar a gramática portuguesa com professores altamente qualificados.
“O tempora, o mores”, que tempos, que costumes, aqueles! ¹
A gramática deu-me uma forma mentis ², instrumentou-me o espírito para pensar, falar e escrever de modo ordenado e lógico.
Então indago: Que seria de mim sem a Gramática Expositiva de Eduardo Carlos Pereira? Com certeza, eu seria um “outro” e não aquele que, hoje, eu sou. E estendo a todos os livros que li e estudei o inefável papel na construção do EU QUE HOJE EU SOU. Tem que ser néscio e ter cérebro de batráquio para proibir o estudo da gramática nas escolas brasileiras. Lamentável sinal de decadência.
II. NOTAS EXPLICATIVAS pelo gerente do Blog
¹ Excerto da 1ª Catilinária, discurso que Marco Túlio Cícero proferiu contra L. Catilina no Senado Romano em 63 a.C., que se encontra no 2º parágrafo do exórdio. Foram 4 as Catilinárias: a primeira e a última foram dirigidas ao Senado Romano; as outras duas foram proferidas diretamente ao povo romano. Todas as quatro foram compostas para denunciar explicitamente Lúcio Sérgio Catilina no contexto da Segunda Conspiração Catilinária.
² A forma mentis é um conceito latino utilizado principalmente na filosofia e na psicologia e que se refere ao modo como a mente opera.
III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAGA, Francisco José dos Santos: Conspiração contra a República Romana (65-63 a.C.), publicada em tradução integral no Blog do Braga em 11/04/2016.
PEREIRA, Eduardo Carlos: Gramática Expositiva, São Paulo: Weiszflog Irmãos & Co., 1907, 370 p.
6 comentários:
Prezad@,
O Blog de São João del-Rei pode se vangloriar de excelentes colaborações que tem recebido, especialmente aquelas vindas da pena do colaborador Prof. JOSÉ CIMINO, filósofo-poeta residente em Barbacena, onde dirige a AMEF-Academia Mantiqueira de Estudos Filosóficos e a ABROL-Academia Brasileira Rotária de Letras-MG Leste, além de participar como membro efetivo da ABL-Academia Barbacenense de Letras. Este é o caso do seu texto O LIVRO EM MINHA VIDA, em que defende a utilização da gramática na educação infanto-juvenil em oposição aos que propugnam a sua retirada do currículo escolar.
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2024/02/o-livro-em-minha-vida.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
José Cimino é excelente!
Obrigado pelo encaminhamento!
Heitor
Concordo plenamente com o Professor Cimino sobre o valor do estudo da Gramática.
Vejo com tristeza o quanto tem sido desprezado o ensino da Língua Portuguesa nas escolas.
Abraço fraterno, caro Francisco Braga.
Raquel Naveira
Francisco, leio regularmente seu Blog, para alegria minha. Fiquei muito alegre com a notícia relativa ao CIMINO.
Caro professor Braga
Excelente texto! Frente à necessária "massificação" do ensino, a retirada da gramática nas práticas pedagógicas é meia desgraça. A desgraça completa é que não existe mais quem a saiba e, portanto, a saiba ensinar.
Cumprimentos,
Cupertino
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