Por Eça de Queiroz
Introdução por Francisco José dos Santos Braga
Miantonomah (1863) - Crédito: https://en.wikipedia.org/wiki/USS_Miantonomoh_(1863) |
I. INTRODUÇÃO
Inicialmente e de forma resumida, vejamos algo sobre o personagem-título do conto, Miantonomah. Aparentemente o nome do navio, ancorado no porto de Lisboa em fins de 1862, homenageava a memória de um cacique com este nome do povo Narragansett, indígenas da Nova Inglaterra, que se associou a seu tio Canonicus na governança da tribo e a quem sucedeu em 1636. Em 1632, viajou em companhia de sua esposa a Boston para visitar o governador John Winthrop. Voltou a Boston em 1636 para provar sua lealdade aos colonos, já que estava sendo acusado de traição. No ano seguinte, na guerra contra a tribo Pequot, ajudou os colonos, quando cerca de 700 Pequots foram ou mortos ou capturados, e, neste caso, foram levados como escravos às Índias Ocidentais. Os que restaram foram obrigados a abandonar suas terras e viver em outras áreas. Em 1638, assinou pelos Narragansetts um tratado tripartite (entre sua tribo, os colonos e os índios Mohegans), que dispunha sobre uma paz perpétua entre as partes e o controle para Miantonomah de mais de um terço da área e do povo Pequot restante. Contudo, continuou um conflito com os Mohegans a respeito do controle do povo Pequot e sua terra. Miantonomah tentou organizar outras tribos ao longo da região da Nova Inglaterra numa união contra os colonos. O conflito com os Mohegans resultou numa guerra em 1643. Miantonomah invadiu o território dos Mohegans, mas foi derrotado e aprisionado em Norwich. Miantonomah sugeriu uma aliança contra os colonos ao cacique Uncas dos Mohegans. Em vez disso, Uncas conduziu o prisioneiro a Hartford para seu julgamento. O tribunal sugeriu que o réu Miantonomah deveria ser morto, embora admitisse que não tinha autoridade para fazê-lo. Ele foi levado de volta a Norwich, onde foi assassinado com uma machadinha pelo irmão de Uncas.
Extraído do livro “Prosas bárbaras” de Eça de Queiroz, “O Miantonomah” é um texto crítico do autor português que descreve o navio de guerra americano ancorado em Lisboa, o qual serviu de base para sua reflexão sobre os Estados Unidos. O navio foi um sucesso de público, aberto que esteve à visitação. E serviu de metáfora da potência norte-americana.
O destino dos Estados Unidos, em 2 de dezembro de 1866, data em que foi publicado o conto “O Miantonomah” na Gazeta de Portugal, era, de certa forma, ainda obscuro, mesmo para as mentes mais brilhantes, mas não para Eça de Queiroz. Era presidente daquele país ainda engatinhando, Andrew Johnson, que mandou construir o encouraçado USS Miantonomah com a missão de levar uma mensagem de saudações ao czar russo Alexandre II, o qual logo no ano seguinte venderia o Alaska pela soma irrisória de US$ 7,2 milhões à nação americana. A meu ver, no conto “O Miantonomah”, Eça de Queiroz disseca o organismo constituinte da América, de forma crítica, fazendo comparações entre o navio do personagem-título e o país que o produziu.
Será que Eça já antevia então o que se tornaria futuramente esta, de certa forma, ainda inexpressiva nação, recém-emersa de uma guerra civil que afetou diretamente sua economia e sua população? Ele pôde, com sua capacidade analítica, dissecar os aspectos constituintes da grande nação que, segundo ele, apresentava de forma ambígua um determinismo, mediante o qual os acontecimentos futuros, com base nos fatos de então, eram previsíveis. Tais acontecimentos constatados hoje terão sido mera coincidência ou estamos diante de um dom profético do contista português?
O texto eciano admitiria hoje uma expansão. A meu ver, não só a América está representada no navio Miantonomah. A meu ver, a mesma metáfora também cabe à China, cujo principal objetivo é alçar-se a primeira potência mundial através de investimentos massivos em inovação e desenvolvimento tecnológico. Socialista e economicamente liberal, esse país copiou os valores americanos e impôs-se por sua superioridade tecnológica.
Seu ideal de conquista, nos moldes americanos e com o apoio incondicional desde o presidente Richard Nixon até o presente, já lhe rende a colocação de segunda maior economia do mundo, valendo-se de mão de obra barata e infraestrutura em rápida expansão, fatores que lhe deram o título de “fábrica do mundo”.
II. TEXTO DO CONTO: “O MIANTONOMAH”
Há duzentos anos uns poucos de calvinistas exilados fretaram um barco na Holanda úmida e úbere, e sob o equinócio e os grandes ventos, miseráveis, austeros, levando uma Bíblia, partiram para as bandas da América.
Duzentos anos depois, estes homens que tinham ido solitários, num barco apodrecido das maresias, derramaram uma esquadra épica pelo Mediterrâneo, pelo Pacífico, pelo mar das Índias, pelo Atlântico, pelos mares do Norte.
Aquela colônia de desterrados, que choravam de frio, esfomeados, rotos, que dormiam às umidades do ar numa capa esfarrapada, é hoje a América do Norte — os Estados Unidos.
América do Norte significa trabalho, fé, heroísmo, indústria, capital, força e matéria.
Ultimamente via eu o Miantonomah, sinistro e negro caçador de esquadras: é toda a imagem da América — frio, sereno, contente, material, e cheio de fogos, destronados, de maquinismos, de forças e de fulminações.
É o que amedronta naquele navio — a frieza na força.
Ele representa a consciência soberba da força e da indústria, e os grandes orgulhos do cálculo: despreza as iras e as hostilidades dos elementos: ele tem de atravessar o Pacífico, o oceano Índico, o Mediterrâneo, os grandes desvairamentos da água, os ventos imensos, os equinócios, as trombas, as correntes, os rochedos bruscamente aparecidos, os nevoeiros infames, os magnetismos, as eletricidades, toda a vil populaça das tempestades: então todos os navios se preparam — bordagens, velames, mastreações, complicações e resistências de forças, toda a combinação astuciosa de lonas e calabres que transforma as hostilidades em auxílios; ele, o Miantonomah, contenta-se com uma tábua rasa.
Em tempo de luta precavêem-se os almirantes e os cabos de guerra: um formigueiro de morteiros, de bombas, de obuses: metralhas, machadas, o arsenal reluzente das abordagens; a ele basta-lhe uma muralha de ferro.
O vento é temido: nas vastas solidões azuis ele é o lobo sinistro que anda rondando e uivando, à caça dos navios: ele acalenta o mar, massa inerte e salgada; ele faz com a água estranhas núpcias ferozes; extermina, cantando com alegrias bárbaras, esfarrapa as nuvens, persegue e esguedelha as chuvas, assobiando contente; em alguns mares do Norte, quando ele sopra as estrelas têm maior tremor: mas o grande horror do vento é que ataca com o peso, com a violência, com a força, com a compressão combinada e defende-se com o esvaecimento.
O Miantonomah é assim: ataca serenamente, com violências enormes, com fulminações trágicas e defende-se com a impassibilidade e quase com o esvaecimento.
Na luta das esquadras, no meio das descargas, das trovoadas flamejantes, entre semelhanças abrasadas, os terríveis pendões do fogo, e os fantasmas do fumo, e as efervescências da água - ele passa, solta a sua fulminação enorme, despedaça, esmigalha, dispersa e continua lento, frio, impassível, mudo, tenebroso, coberto de ferro.
Ele não receia o mar: os outros navios erguem amuradas imensas para conter o encrespamento da onda: forram-nas de cobre, erriçam-nas de pregaria. O Miantonomah não: ele julga a demência do mar um prejuízo; corta a amurada e fica com o convés raso, ao rés da água: satisfaz a velha curiosidade da vaga: e por misericórdia dá-lhe hospitalidade: e para que o mar tenha alguma coisa a desfazer, a triturar, a roer — dá-lhe por compaixão uma varanda de hastes de ferro enferrujado, e pedaços de corda podre. E o mar entra, desesperado, mugindo, e lambe o chão do navio americano: em baixo nas camas, agasalhados e preguiçosos, os marinheiros dizem: “Lá anda o mar a varrer e a lavar o tombadilho.” E com efeito o velho oceano dos dilúvios faz humildemente o serviço dos últimos grumetes.
Em cima, na superfície da água, há o vento, as espumas, os nevoeiros, as chuvas, as trombas; ele, aborrecido, afasta-se deste bando miserável e vai investigar o fundo das águas, as vegetações fantásticas, a região dos corais, as cavernas enceládicas, as purezas infinitas da transparência, todo aquele antigo ideal feroz de que os velhos mareantes falavam benzendo-se com terror religioso: com a quilha de ferro enorme ele brutaliza aquelas virgindades do mar: em baixo a tripulação nada sabe das tempestades: em vão ruge o mar e torce-se; e desencadeia o jogo fulminante das ondas, e espanca o convés do navio com o ruído de mil carros de batalha; os marinheiros em baixo riem, cantam, baloiçam-se, pulem os aços dos maquinismos, cachimbam, lêem a Bíblia — serenos.
Como não há mastreação, nem velame, nem cordagens, nem toda a amontoarão confusa de calabres e de lonas — o tombadilho aberto é cheio de ar e de luz: e durante as viagens, é uma pousada das algas, das conchas, das aves do mar e dos granizos.
Dentro são as máquinas, as forças, os motores trabalham solitários com vozes, impaciências, preguiças, friamente; como as fatalidade da matéria. Ao atravessar os espaços obscuros vê-se o frio luzir dos aços e os cobres luminosos; depois são as fogueiras flamejantes, que dão a vida aos maquinismos — vermelhas como corações sobrenaturais: o ar é descido por máquinas de respiração, pulmões terríveis; e um vento geral, fecundo, benéfico, escorre constantemente por todo o negro bojo: fazem-se assim livremente temperaturas: frios mordentes, calores pesados e frescuras das manhãs do Sul: nas suas viagens pelo mundo aquele navio desmente quando quer os climas e as temperaturas: os marinheiros passam silenciosos, limpos, rosados, graves: alguns lêem.
Ora, sobre aquele negro navio, sobre os maquinismos frios, aquelas farás pavorosas, aquelas fogueiras terríveis, no convés entre as negras torres, ao livre ar, ao livre sol, alegre, glorioso, gordo, esvoaçando na sua gaiola — canta um canário.
Tal é o Miantonomah, navio de guerra da América do Norte.
Nós entrevemos a América como uma oficina sombria e resplandecente, perdida ao longe nos mares, cheia de vozes, de coloridos, de forças, de cintilações.
Entrevemo-la assim [a América, os EUA]: movimentos imensos de capital; adoração exclusiva e única do deus Dólar; superabundância de vida; exageração de meios; violenta predominação do individualismo; grande senso prático; atmosfera pesada de positivismos estéreis; uma febre quase dolorosa do movimento industrial; aproveitamento avaro de todas as forças; extremo desprezo pelos territórios; preocupação exclusiva do útil e do econômico; doutrinas de uma filosofia e uma moral egoísta e mercantil; todo o pensamento repassado dessa influência; uma fria liberdade de costumes; uma seriedade artificial e brusca; dominação terrível da burguesia; movimentos, construções, maquinismos, fábricas, colonizações, exportações colossais, forças extremas, acumulação imensa de indústrias, esquadras terríveis, uma estranha derramação de jornais, de panfletos, de gazetas, de revistas, um luxo excessivo; e por fim um profundo tédio pelo vazio que deixa na alma as adorações do deus Dólar: depois a mesma temperatura e a mesma geologia da Europa. Assim entrevemos a América, ao longe, como uma estação entre a Europa e a Ásia, aberta ao Atlântico e ao Pacífico, com uma bela costa de navegação cheia de enseadas, molhada de grandes lagos, com os seus grandes rios que escorrem entre as terras, as culturas, as fábricas, as plantações, os engenhos, levados pomposamente pelo Mississipi para o golfo do México; e depois uma Natureza vigorosa, fecunda, eleita, desaparecendo entre as indústrias, os fumos das fábricas, as construções, os maquinismos, todas as complicações mercantis da América — como uma pouca de erva de uma campina fértil que desaparece sob uma amontoação nervosa de homens.
A vida da América do Norte é quase um paroxismo.
Isto é decididamente uma grande força, uma vida enorme, superabundante. Mas será vital, fecundo, cheio de futuro?
Todos os dias dizem à Europa: “Olhai para os Estados Unidos, lá está o ideal liberal, democrático, e, sobretudo, a grande questão, o ideal econômico”.
Mas a América consagra a doutrina egoísta e mercantil de Monroe, pela qual uma nacionalidade se encolhe na sua geografia e na sua vitalidade, longe das outras pátrias; esquece as suas antigas tradições democráticas e as idéias gerais para se perder no movimento das indústrias e das mercancias; alia-se com a Rússia; a raça saxônia vai desconhecendo os grandes lados do seu destino, enrodilha-se estreitamente nos egoísmos políticos e nas preocupações mercantis, cisma conquistas e extensões de territórios, subordina o elemento grandioso e divino ao elemento positivo e egoísta, e a grande figura sideral do Direito às fábricas, que fumegam negramente, nos arredores de Goetring. Isto dizem muitos.
Uma das inferioridades da América é a falta de ciências filosóficas, de ciências históricas e de ciências sociais.
A nação que não tem sábios, grandes críticos, analisadores, filósofos, reconstruidores, ásperos buscadores do ideal, não pode pesar muito no mundo político, como não pode pesar muito no mundo moral.
Enquanto a superioridade foi daqueles que batalhavam, que lançavam grandes massas de cavalarias, que apareciam reluzentes entre as metralhas, o Oriente dominou, trigueiro e resplandecente. Quando a superioridade foi daqueles que pensavam, que descobriam sistemas, civilizações, que estudavam a Terra, os astros, o homem, e faziam a geologia, a astronomia, a filosofia, o Oriente caiu, miserável e rasteiro.
Há, sobretudo, na América um profundo desleixo nas ciências históricas. Inferioridade. As ciências históricas são a base fecunda das ciências sociais.
É a superioridade da Europa: sob a mesma aparência de febre industrial há uma geração forte, grave, ideal, que está construindo a nova humanidade sobre o direito, a razão e a justiça.
O nosso mundo europeu é também uma estranha amontoação de contrastes e de destinos; é uma época esta anormal em que se encontram todas as eflorescências fecundas e todas as velhas podridões; políticas superficiais; grandes fanatismos; e ao mesmo tempo um desafogo das livres consciências, expurgação dos velhos ritos, e a alma moderna ligada na sua moral e na sua justiça às almas primitivas com exclusão da Idade Média; políticas pacíficas e transigentes, e um espírito de guerra surdo, aceso e flamejante; territórios violentos e conquistados, e a aniquilação pela política, pela história e pela filosofia dos conquistadores e dos heróis: nem são as influências monárquicas, nem é o individualismo; nem é o humanitarismo, nem são os políticos egoístas, não é a importância das individualidades, nem a importância dos territórios; é uma confusão horrível de mundos, e, em cima, triunfal e soberba, está a indústria, entre as músicas dos metais, as arquiteturas das Bolsas, reluzente, cintilante, colorida, sonora, enquanto no vento passa o seu sonho eterno que são fortunas, impérios, festas, empresas, parques, serralhos.
Ora em baixo [na Europa], sob a confusão, sereno, fecundo, forte, justo, bom, livre, move-se um germe, um novo mundo econômico.
Este germe é que a América não tem, creio eu. Mas vê-se que todos a apontam como o ideal econômico que é necessário que os pensadores meditem, e todos os que no vazio fecundo das filosofias riscam as sociedades.
Ora toda a América econômica se explica por esta palavra — feudalismo industrial.
Diz-se, na América há um constante aumento de tráfico, de receitas, de riquezas: não há aumento; há deslocação, deslocação em proveito da alta finança — com detrimento das pequenas indústrias produtoras.
Logo que na ordem econômica não haja um balanço exato de forças, de produção, de salários, de trabalhos, de benefícios, de impostos, haverá uma aristocracia financeira, que cresce, reluz, engorda, incha, e ao mesmo tempo uma democracia de produtores que emagrece, definha e dissipa-se nos proletariados: e como o equilíbrio não cessa, não cessam estas terríveis desuniformidades.
Mas o grande mal da predominância exclusiva da indústria é este: o trabalho pela repugnância que excita, pela absorção completa de toda a vitalidade física, pela aniquilação e quebrantamento da seiva material, pela liberdade em que deixa as faculdades de concepção — por isso mesmo sobreexcita o espírito, estende os ideais, abre grandes vazios na alma, complica as precisões, torna insuportável a pobreza: nas grandes democracias industriais onde as posições são obtidas pela perseverança, conquistadas pela habilidade, onde há mil motores - a ambição, a inveja, a esperança, o desejo, o cérebro aquece-se, espiritualiza-se, cria sonhos, ambições, necessidades impossíveis: o querer chegar torna-se uma verdadeira doença de alma: exageram-se os meios: e toda a seiva moral se altera e se deforma.
É o que vai acontecendo na América: debaixo da frieza aparente, move-se todo um mundo terrível de desejos, de desesperanças, de vontades violentas, de aspirações nevrálgicas.
Depois, como no meio das indústrias ruidosas e absorvedoras muitas amarguras ficam por adoçar, muitas angústias por serenar, muitas fomes por matar, muitas ignorâncias por alumiar, tudo isso se ergue terrível no meio da febre da vida social, e torna-a mais perigosa. Londres dá hoje o aspecto desta luta.
De maneira que o trabalho incessante, enorme, irrita e exagera o desejo das riquezas; aferventa o cérebro, sobreexcita a sensibilidade, a população cresce, a concorrência é áspera, as necessidades descomedidas, infinitas as complicações econômicas, e aí está sempre entre riscos a vida social. Entre riscos, porque a luta dos interesses, a guerra das classes, o assalto das propriedades e por fim as revoluções políticas.
E todavia a liberdade da América parece tão serena, tão confiada, tão assente, tão satisfeita!
No entanto há muita força fecunda nos Estados Unidos! Ainda há pouco deram o exemplo glorioso de uma nação que deixa os seus positivismos, a sua indústria, os seus egoísmos, o seu profundo interesse, e arma exércitos, esquadras, dissipa milhões, e vai bater-se por uma ideia, por uma abstração, por um princípio, pela justiça.
O Sul quis corrigir a liberdade pela escravatura; desune-se; o escravo que trabalhe, que cultive, que produza, que sue, que morra sob a força metálica, baça e sinistra do clima e do Sol. Pois bem. A América do Norte quer a liberdade, o amor das raças, e bate-se pela liberdade, pela legalidade, pela união, pelo princípio, pela metafísica! E dispersa os exércitos da Virgínia!
Eram estas as coisas que me lembravam há dias, no Tejo, estando a ver o Miantonomah, navio dos Estados Unidos em viagem pelo Sul, comandante Beaumont, fundeado no nosso Tejo.
Um comentário:
Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Prezad@,
Extraído do livro “Prosas bárbaras”, “O Miantonomah” é um texto crítico de Eça de Queiroz que descreve o navio de guerra americano ancorado em Lisboa, o qual serviu de base para sua reflexão sobre os Estados Unidos. O navio foi um sucesso de público, aberto que esteve à visitação. E serviu de metáfora da potência norte-americana.
Eça se aproveita do aspecto feroz do encouraçado e da popularidade atingida, para construir um texto estranho, mas de grande impacto crítico. Primeiro, Eça gasta parágrafos e parágrafos numa interminável descrição daquele navio: compara-o com os barcos a vela, mostra-o numa relação anímica com o mar e os elementos, transforma-o num ser emblemático; tudo para chegar à seguinte alegoria: “Tal é o Miantonomah, navio de guerra da América do Norte. Nós entrevemos a América como uma oficina sombria e resplandecente, perdida ao longe nos mares, cheia de vozes, de coloridos, de forças, de cintilações”.
A partir daí, nessa linguagem extravagante à qual me referi, Eça faz uma síntese dos Estados Unidos.
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Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
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