quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Carta de frei Orlando, direto do "front", na Itália

Por Francisco José dos Santos Braga






I.  INTRODUÇÃO






Folheando a revista O Santuário de S. Antônio, dirigida por Frei Osório da Silva Santos o.f.m. e publicada em Divinópolis-MG, Ano 18, nº 6, ano de 1945, p. 86-91, deparei-me com três matérias a respeito de frei Orlando, uma de seu próprio punho e as outras, de pessoas que o admiravam.
Primeiro, com o título Cartas da Itália, subtítulo Natal no "front", uma carta de frei Orlando descrevendo seu último Natal neste mundo, em fins de 1944. Essa carta se reveste de suma importância, já que no dia 20 de fevereiro de 1945 entregaria sua vida nas mãos do Salvador, portanto escrita quase "in extremis". ¹
Imediatamente após essa transcrição da carta do "front", escrita por frei Orlando logo depois do Natal de 1944, pode-se ler um texto intitulado "Frei Orlando", da autoria do então Sargento Gentil Palhares, com a seguinte anotação após o título: (Copiado d' "O Cruzeiro do Sul", publicação do Serviço Especial da F.E.B. — Itália,  8 de abril de 1945).
Por fim, transcrevo um texto da autoria de Clementina Anchieta do Prado, da cidade de (São João) Nepomuceno, com curiosas referências a uma carta escrita por frei Orlando quando estava ainda na Vila Militar, datada de 19/09/1944.

Portanto, neste último mês do ano de 2013, em que celebramos o Centenário de Nascimento do Capitão Capelão Frei Orlando, tenho o prazer de brindar os leitores do Blog de São João del-Rei com esses textos raros, que localizei e que são reproduzidos neste espaço, respeitando a sua ortografia.

Lembro que o Blog de São João del-Rei, anteriormente, no intuito de prestar homenagem ao Centenário de Nascimento de Frei Orlando, contribuiu para a divulgação dos feitos, da vida e da obra desse herói religioso mineiro, através da reprodução de um longo artigo intitulado Centenário de Nascimento do Capitão Capelão Frei Orlando (1913-2013), com base em estudos realizados pelo Historiador Militar Cláudio Skora Rosty publicados na Revista Verde-Oliva, Ano XL, nº 219, abril de 2013, p. 6-21.

Para situar o leitor que ainda não conhece a biografia de frei Orlando, em rápidas pinceladas vou apresentar os principais fatos de sua vida, a saber: frei Orlando nasceu em Morada Nova de Minas em 13 de fevereiro de 1913 (seu nome de batismo era Antônio Álvares da Silva); fez o curso primário em Abaeté; em 5 de janeiro de 1925 ingressou no Colégio Seráfico de Divinópolis (Seminário Menor), tendo terminado seus estudos na Holanda (1931-1935); regressou ao Brasil para ser ordenado sacerdote franciscano no Santuário de Santo Antônio de Divinópolis em 24 de outubro de 1937; em dezembro de 1938 foi nomeado professor de Português e História Geral no Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei; alistou-se voluntariamente e foi nomeado Capelão Militar do 11º Regimento de Infantaria (Regimento Tiradentes) através do Decreto nº 6.535, de 26 de maio de 1944 e Portaria nº 6.785, de 13 de julho de 1944; juntou-se na manhã de 20 de julho de 1944 ao 11º R.I. que se achava acantonado nos barracões do Morro Capistrano, na Vila Militar do Rio de Janeiro; com os "pracinhas", em 22 de setembro de 1944, a bordo do navio General Meigs seguiu para a Itália, onde viveu menos de cinco meses, por ter sido vítima de um disparo acidental do fuzil de um sargento da resistência italiana em 20 de fevereiro de 1945, nas proximidades da cidade de Bombiana, na véspera da conquista de Monte Castelo.

Esta Introdução, Agradecimentos e Notas ao texto são de minha autoria.



II.  CARTAS DA ITÁLIA (NATAL NO "FRONT")


O futuro costuma trazer-nos sempre novas surpresas. Assim nunca pensei passar um dia de Natal nas circunstâncias em que o passei no ano findo. Em outros anos quantas festas, quantas alegrias vinham unir-se ao júbilo do coração cristão, neste dia tão precioso para tôda a humanidade!
Neste ano restou-me apenas a grande consolação de me encontrar no meio dos soldados brasileiros combatentes na primeira linha, servindo de intermediário das graças divinas que os devem ter fortalecido no meio de tantas lutas e sacrifícios.
Foi assim que ali pelas 6 horas da tarde — já escuro e frio — que deixei o meu ponto de partida para ir a uma das companhias do meu batalhão. Escolhi aquela que mais perto se encontrava do inimigo.
Era véspera de Natal. As montanhas e as planícies cobriam-se de um vasto lençol de branquíssima neve. Não resta dúvida que os panoramas visto à luz do dia, são belíssimos. A neve forma caprichosamente as mais diferentes figuras nos galhos e nas copas das árvores, sôbre os tetos das casas e nas encostas das montanhas. Entretanto, para quem sobe pelas veredas abrigadas das vistas do inimigo, especialmente naquela hora em que empreendi a subida, tudo perde a poesia do inverno europeu, e, oh, quanto se deseja aquêle calor amigo, e aquela lua clara do Brasil...
O caminho era difícil. Subida íngreme, por uma vereda coberta de mais de 20 cm de neve. Na frente ia o guia, atrás dêle o capelão, com o bornal carregado de todos os objetos necessários para a celebração da missa. Íamos silenciosos, ouvindo apenas o barulho da neve sob os nossos pés: Tchap... tchap... tchap...
Em outros lugares onde o vento depositara mais neve, tornava-se dificílima a ascensão da serra. Em outros, por onde o trânsito fora maior, formaram-se verdadeiros escorregadouros. Foi num dêsses que vi o meu guia espichar-se de comprido no solo... Em um outro, mais acima, fui eu, o capelão, que lhe seguiu o exemplo... Estávamos 1 x 1 !
Paramos por três vêzes na subida da serra. O suor corria-me pelas costas. O coração palpitava forte. Parecíamos duas máquinas de guerra, cujo motor trabalha forçadamente...
Depois de uma hora e meia, chegamos finalmente ao comando da companhia. O capitão esperava-me.
— Bem, capelão — vamos descansar um pouco, enquanto mando reunir os homens "disponíveis". O senhor compreende que não podem vir todos. O tedesco é perigoso, mesmo na véspera do Natal...
Assentei-me junto à lareira da casa. Ali vi uns poucos soldados, e o pessoal que ainda restava na casa. Uma velha, uma senhora mãe de duas crianças, e uma outra que se refugiou naquela casa. Ali por perto havia ainda outras pessoas, que não quiseram ou não puderam abandonar suas moradias.
Ali pelas oito e meia comecei a atender as confissões. E enquanto passavam os minutos, iam passando pelos meus dedos as contas do têrço, marcando as confissões: 15, 20, 30, 50... 65, e mais algumas de civis que havia muito tempo não assistiam à missa, 82 confissões.
Às 11,30 fui preparar o altar, em companhia de um cabo e um tenente.
Onde celebrar a missa? O único lugar onde cabia aquela turma tôda era o depósito de feno!
E assim colocamos o altar bem no alto, em cima do feno, amarrado em fardos quadrados.
Ao lado do monte do feno, estava a estrebaria. Umas dez vacas dormiam ali sossegadamente!
Em cima do feno, ao redor do altar, se colocaram os soldados, e os civis vizinhos, que estavam radiantes de poder assistir à missa de Natal.
Impressionou-me profundamente tudo aquilo. A luz só podia ser as duas velas da missa. Os homens entravam em pequenos grupos de três a cinco, ràpidamente, como alguém que pretende fazer uma ação maldosa.
E no meio do silêncio, ouvia-se apenas as vacas, que, talvez aproveitando a claridade tênue das velas resolveram a comer um pouco...
À meia noite comecei a missa. "Introibo ad altare Dei..." Ouvi o barulho da assistência que se ajoelhava sôbre o feno.
Estava iniciado o meu Natal no "front". Ali na nossa frente, bem pertinho, talvez menos de 300 metros, estavam os terríveis alemães. Não sei se êles também têm seu capelão que naquela hora devia começar também sua missa do galo. Sei apenas que os nossos soldados brasileiros rezavam com devoção e fervor "Gloria in excelsis Deo et in terra pax hominibus..."
Que contraste! Na terra paz aos homens... Só via ao redor de mim homens de farda, e no meio do feno caixotes de granada...
Na hora da prática ² falei aos soldados sôbre aquêle contraste. Li para êles o Evangelho da missa. E mostrei-lhes que o anjo não dissera só paz aos homens, mas acrescentou: de boa vontade!
Sim, houvessem os homens boa vontade, não estaríamos ali, naquele frio, sob aquêles tetos nevados!
Boa vontade, é oposto de ambição. Pois ambição política, territorial, racial, social, enfim a ambição sob seus múltiplos aspetos, é a causa desta guerra!
E os soldados ouviam-me atentos.
Terminei falando naquêles outros dias de Natal felizes, que passávamos juntos dos nossos na Pátria distante! Que diferença!
E aquêles homens que não temem a morte, e que se não curvam diante do perigo, muitos dêles, eu vi baixar a cabeça e limpar lágrimas indiscretas de saudade e de emoção...
Terminada a solenidade, novamente aos grupos, êles desapareceram na escuridão.
Estava terminada a minha noite de Natal. Um Natal sem presépio; um Natal sem cânticos; um Natal sem árvore de Natal e sem presentes.
Era o Natal cheio de saudades, do soldado brasileiro na primeira linha de frente...
frei Orlando Álvares
Capelão da F.E.B.
(† 20 de fev. de 1945)
Itália, 2-1-45 


III.  FREI ORLANDO
(Copiado d' "O Cruzeiro do Sul",  publicação do Serviço Especial da F.E.B. - Itália, 8 de abril de 1945).

Justamente no dia em que rejubilávamos com o sucesso das nossas armas sôbre o Monte Castelo, ecoava, dolorosamente, a notícia do trágico desenlace do nosso Capelão Frei Orlando (Antônio Álvares da Silva). A esta hora muitos dos que se dão ao manejo da pena e do vernáculo, estarão, sem dúvida, cantando bem alto os méritos daquele que em vida, soube ser o amigo de todos, o bom conselheiro, que animava e encorajava sempre.
Há, em o nosso querido Brasil, uma cidadezinha, engastada nas montanhas de Minas, que tem — não se sabe por que artes — o condão de atrair a seu regaço aqueles que, por quaisquer circunstâncias, batem às suas portas. É uma bela e histórica cidade, onde a religião faz parte de sua vida e os templos de pedra dizem da Fé de seu povo: os sinos têm a magia que encanta o forasteiro e falam e choram e gemem e soluçam! Foi a essa cidade, que acode pelo nome de São João del-Rei que, em 1937, aportou o jovem Frei Orlando, afim de integrar a comunidade dos franciscanos, ali sediada. Espírito esmoler, comunicativo, figura impressionante e simpática, o jovem franciscano não tardou se fizesse amigo de todos, angariando a estima de que era merecedor.
São João del-Rei viu no novo franciscano um enviado de Deus que, chamando ao Seu Reino em 1925 a Frei Cândido, legava à cidade, na falta dêste último, o coração boníssimo de Frei Orlando. E, desde então, o seu peregrinar pela histórica cidade foi um rosário de bênçãos, de sacrifícios e de luta em prol dos necessitados e, não raro, era vê-lo, de porta em porta, pedindo donativos com que socorresse os pobres. Auxiliado por diversas pessoas amigas, onde se destacam as famílias Nascimento, Teixeira e Viegas, fundou, em boa hora, a "Sopa dos pobres", que, na Praça do Rosário ³, acolhia, diàriamente a centenas de velhos e crianças, afim de lhes matar a fome. Qualquer caso angustioso que traziam ao seu conhecimento, não media sacrifícios e se empenhava, logo, para saná-lo, moral ou materialmente. Era o Pai dos Pobres e o bem que lhes fazia, era muitas vêzes anônimo, sem alarde ou ostentação. Contam, a seu respeito que, certa vez, necessitando de um saco de arroz para a sua obra benemérita da Praça do Rosário e, como não sabia a que porta bater, procurou um amigo, na rua da Prata, afim de consultá-lo sôbre como adquirir o gênero em questão. Na residência dêsse amigo, que era médico, achava-se, a negócio, o representante dos comprimidos "Melhoral". Frei Orlando entrou no assunto e o médico dando certa importância citou outros nomes capazes de auxiliá-lo. Porém, o Pai dos Pobres não se deu por satisfeito e, dando uma daquelas gargalhadas que o caracterizavam, bateu no ombro do representante dos comprimidos e disse-lhe: "Que tal se eu fizer uma propagandazinha do seu produto, amanhã, à hora da missa, em trôco do saco de arroz?" e riu gostosamente! O viajante ficou perplexo! Não acreditava naquilo, não era possível que êle, Frei Orlando, tivesse coragem para tanto, mas aceitava o trato e compareceria à igreja. No dia seguinte, num domingo cheio de sol, o templo estava repleto de fiéis. À hora da prática costumeira, Frei Orlando subiu ao púlpito, persignou-se, limpou os óculos e sorriu brandamente. Em meio ao assunto do dia, não se sabe como, ante a admiração dos que o ouviam, saiu com a história do Melhoral, numa referência suave, atraente, salpicada de humorismo. O povo, que bem o conhecia, percebeu que qualquer coisa se passava e, se entreolhando, abafava a bôca para não rir. Mas Frei Orlando não os deixou interrogando o caso. Terminada a prática, disse: "Com o Evangelho de hoje a Sopa dos Pobres ganhou um saco de arroz." Frei Orlando era assim...
Frei Orlando e a sua Sopa dos Pobres em São João del-Rei


Como ministro de Deus, São João del-Rei vai chorá-lo pelos anos em fora. À notícia de sua morte os sinos do templo franciscano, que êle tanto amava, dobrarão a finados; o Ginásio, de que êle foi lente emérito, hasteará a nossa bandeira; o povo chorá-lo-á sem consôlo; os pobres erguerão, sem dúvida, os olhos ao Criador como que perguntando-lhe aflitos: "Ó Deus, por que nos roubaste o nosso Pai na terra?"
E a dor será imensa, o pesar incalculável!
Êstes serão os clamores de que conheceu Frei Orlando como sacerdote.
Como soldado, foi outro apóstolo incansável e a nossa história futura irá dizer bem alto do seu valor, intrepidez, desprendimento, estoicismo e abnegação!
Reverenciemos a sua memória!
Sargento Gentil Palhares



IV.  À saudosa memória de Frei Orlando

"E os soldados, de pé, rezavam...
Ave Maria... rogai por nós, pecadores..."

Mais um herói que tomba no teatro da guerra! Mais um inocente que, por amor à Pátria e seus irmãos soldados, sacrificou sua vida nos campos da luta.
Choro a perda de frei Orlando como amigo e protetor de meu filho, como amigo e protetor dos soldados do 11 R. I. Choro com seus irmãos, com os sanjoanenses e com o clero brasileiro que perde uma jóia de inestimável valor! Minhas rudes palavras não podem, nem de leve, dar uma vaga reminiscência da vida dêsse ilustre Sacerdote, que foi um sábio, um justo, um herói e o verdadeiro Brasileiro. Êle, seguindo os ensinamentos do Divino Mestre, deixou tudo para servir a Deus e à Pátria. Tenho uma carta de Frei Orlando, datada de 19-9-944 da Vila Militar, em resposta a que lhe havia escrito. Entre os trechos belíssimos que ela contém vou citar alguns que me calam no fundo d'alma: 
"A graça de Deus proteja tanto o João como a sua família.
Quem dá no momento um filho à Pátria, o dá também a Deus.
Minha boa senhora, a guerra está agonizando! Talvez nem entremos em combate."
Sim, Frei Orlando, e na agonia, a guerra ceifou a sua vida tão preciosa! Roubou dos nossos queridos soldados brasileiros do 11 R.I. o pai carinhoso, abnegado, que certamente muito os consolaria longe da Pátria e do lar.
Num outro trecho disse êle: "Recomenda-me em suas orações e da minha parte prometo-lhe primeiro cuidar especialmente do João e também lembrar-me da senhora em minhas orações."
Quanta abnegação! Quanto confôrto nestas frases para um coração de mãe, ferido pela separação do filho que vai para a guerra! Isto é sublime e admirável... porque nós, as mães dos expedicionários, raramente encontramos corações generosos que assim se nos dirijam. Nas noites de insônia, na agonia da saudade, relendo essa carta confortadora, sentia-me aliviada porque sabia que junto ao Gingim estava Frei Orlando. Agora que tudo ressoa um hino de saudade, e que os soldados perderam o maior amigo que perdeu a vida no fragor da luta... com os lábios trêmulos e o coração comovido, faço uma prece para a alma de Frei Orlando e suplico-lhe que continue em espírito, ao lado dos soldados que tanto êle amou. Releio ainda um outro trecho de sua carta: 
"Alegremo-nos com os sofrimentos na esperança de uma Pátria mais abençoada de Deus."
Lá no céu, na Pátria celeste, peça a Deus que se compadeça de nossos corações de mães — dando a paz ao mundo e o regresso de nossos filhos aos nossos lares. Frei Orlando, as suas cartas no "Santuário de S. Antônio" são belíssimas, e nelas refletem a grandeza de sua alma! As suas fotografias trazem sempre o sorriso da bondade e da ternura.
Entre as muitas cartas que escreveu, vou citar aquêle trecho em que disse:
"Onde estão os patriotas que apedrejaram as casas, caluniaram os padres como partidários nazistas?" A culpa dêsses imprudentes, pagou com o seu sangue inocente nos campos de batalhas.
Ao terminar minhas referências do saudoso Frei Orlando, que faço com alma genuflexa de gratidão, volto o meu pensamento à frase que serve de epígrafe a estas linhas, copiada de uma carta sua de 3l-8-44: "E os soldados de pé rezavam... Ave Maria... rogai por nós, pecadores...".
Isto, porém, foi no primeiro acampamento de Frei Orlando, com os soldados do 11 R.I.; tendo como igreja a praia banhada pelas águas do mar, a cúpula — o firmamento cheio de estrêlas.
Mães brasileiras! Na hora solene da Ave Maria, de joelhos, com fervor, rezemos uma Ave Maria pelas almas dos soldados expedicionários mortos em campo de batalha, pela vida dos prisioneiros nas garras dos nazistas e pela alma de Frei Orlando, e pedindo-lhe: Rogai por nós pecadores...
Nepomuceno, 19 de março de 1945.
Clementina Anchieta do Prado ⁴



V.  AGRADECIMENTOS


Gostaria de registrar meu agradecimento sincero ao pesquisador Prof. Evandro de Almeida Coelho por haver preservado em seu acervo a referida Revista Santuário de Santo Antônio, e principalmente por cedê-la a este autor, para que milhares de leitores pudessem também partilhar dessa memória nacional e coletiva. O Brasil é que ganha com esse gesto generoso do nobre pesquisador são-joanense.
Ao historiador Silvério Parada agradeço o envio da fotografia da Sopa dos Pobres.
Ao pesquisador, escritor e músico Aluízio José Viegas, meu reconhecimento pela valiosa contribuição esclarecendo sobre a exata localização da Sopa dos Pobres.


VI.  Notas de Francisco José dos Santos Braga


¹  A locução latina "in extremis" significa "em caso extremo, nos últimos momentos da vida".

²  Homilia.

³  Como não fui contemporâneo de Frei Orlando, indaguei do pesquisador, escritor e músico Aluízio José Viegas a respeito da exata localização da "Sopa dos Pobres", referida no texto de Gentil Palhares, como estando na Praça ou Largo do Rosário (atual Praça Embaixador Gastão da Cunha). Recebi um e-mail com o seguinte comentário do pesquisador Viegas em 3 de dezembro de 2013, ricamente emoldurado por muitas informações complementares, que transcrevo para júbilo meu e dos meus leitores: 
"No Largo do Rosário, a Sopa dos Pobres organizada pelo Frei Orlando, funcionou onde hoje é a casa residencial do Fábio Pereira de Andrade e Flora Aechmea.

Eu me lembro perfeitamente.

A foto que está estampada no seu trabalho "Centenário de Nascimento do Capitão Capelão Frei Orlando (1913-2013)" é a primeira construção feita nos fundos do início da Rua da Prata, fundos da casa do Dr. Thales Nascimento.

No mesmo lugar, depois, foi construída uma sala maior e uma das responsáveis e que muito ajudava era a Carmelita Jorge Abdala, irmã do Padre José Jorge Abdala, isto já na década de 1950 e tantos, pois houve continuidade do movimento, nos mesmos moldes que Frei Orlando iniciara a obra. 

Foi tão intenso o movimento que se construiu um prédio próximo à ponte do Athletic Club, antes de entrar propriamente no bairro de Matosinhos. Na parte superior desse prédio morou longos anos o Benito Mussolini Grassi de Lellis , que pagava um aluguel irrisório ao Movimento da já então chamada "Sopa dos Pobres Frei Orlando".

Ainda me lembro de carroça indo buscar periodicamente os ossos que se usava para fazer o caldo da sopa, aproveitando-se o tutano. O ossos eram levados para se fazer farinha de osso utilizada como adubo fertilizante, vendida na 11ª Circunscrição Agropecuária, onde meu pai trabalhava. O fabricante da farinha era o Mário Rodrigues Silva, que tinha fábrica para tal no final de Matosinhos.
"
Portanto, segundo a abalizada informação de Aluízio Viegas, a Sopa funcionou inicialmente na primeira casa no topo direito do Beco da Romeira (hoje Rua João Pequeno), onde na minha infância funcionava a Alfaiataria do Lelé, e na casa contígua.

O nome de D. Clementina Anchieta do Prado foi citado quando o site "Nepomuceno" estampou um elogio à personalidade do Prefeito Alberto Corrêa Lima, o "Zinho". Segundo o referido site, D. Clementina era professora na Escola Estadual "Cel. Joaquim Ribeiro" em Nepomuceno, quando aquele frequentou seu curso primário.
Fonte: http://www.nepomuceno.com.br/home.php?way=personalidades&pagina=include.php&pagina2=personalidades/Alberto_Corr%EAa_Lima,_Zinho_(1916)

* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, Academia Divinopolitana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico do DF, Academia Taguatinguense de Letras e Academia Barbacenense de Letras. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...