terça-feira, 29 de agosto de 2017

CONSIDERAÇÕES DE ESCRITORES SOBRE O MAESTRO E COMPOSITOR SÃO-JOANENSE JOÃO DA MATTA


Por Francisco José dos Santos Braga



I.  INTRODUÇÃO




Durante a minha pesquisa exploratória para a produção do artigo "João da Matta, maestro e compositor são-joanense", publicado neste Blog de São João del-Rei em 18 de agosto de 2017, li diversos escritos - uns produzidos durante a vida (principalmente uma notícia publicada no jornal Arauto de Minas na edição de 11/10/1883), outros na época da morte e, finalmente, em maior quantidade, outros posteriores ao trespasse de nosso homenageado, especialmente por ocasião do 1º centenário da Cidade de São João del-Rei festejado em 1938 - que trazem as impressões de seus autores sobre os traços marcantes de João da Matta, sua vida e sua obra. Este trabalho visa compartilhar com meus leitores  dois desses "achados" nos periódicos antigos da Biblioteca Baptista Caetano de Almeida. Aqui serão meramente reproduzidos com a sua grafia original de época.

Também aqui se verá como o maestro negro João Francisco da Matta, de poucas posses e de vida errante, foi pranteado e homenageado pelos jornais da cidade e de Minas Gerais após sua morte na localidade de Serranos, em Aiuruoca, ficando evidenciado como seu nome era reverenciado em São João del-Rei e no meio musical. 

O grande envolvimento dos mulatos (especialmente mineiros) com a música fez com que o musicólogo teuto-uruguaio Francisco Curt Lange cunhasse a expressão “mulatismo cultural” associando-a à atividade musical no Brasil, principalmente em Minas Gerais. Esse termo associa a figura do mulato com música e brasilidade.

Durante o século XVIII e início do XIX, a contratação dos músicos no plano civil era feita pelo sistema de arrematação, por meio da qual o Senado da Câmara pagava pela música das festividades estatais e das celebrações religiosas que promovia. A música se beneficiava dos recursos públicos devido à instituição do regime do padroado, no qual o Rei acumulava as funções de chefe de Estado e da Igreja no Brasil. O sistema de arrematação desapareceu na segunda década do século XIX, o que, para José Maria Neves, provocou um desaquecimento na atividade musical. Considerava ainda que, enquanto vigorou o regime da arrematação, dentro do padroado, houve um grande surto de composições. Neste caso, o Senado da Câmara de São João del-Rei, por exemplo, encomendava as composições e os grupos musicais que eram contratados para as suas solenidades e festividades. ¹ Aluízio Viegas pensava diferente de Neves, no que se referia à Vila (e depois cidade) de São João del-Rei. O que se nota, segundo ele, foi a profusão de compositores no século XIX, ao contrário de outras vilas. A vida musical em São João del-Rei se intensificou na segunda metade do século XIX. Segundo ele, "(...) o calendário religioso amplia-se e as duas corporações compostas de coro e orquestra, sentem a necessidade de ampliar seus repertórios, num sentido competitivo de fornecer a melhor música a quem as contratasse". ²  Com isso, a atividade musical se tornou uma via que conferia prestígio aos melhores executantes e, principalmente, aos compositores. Daí, o crescente surto de composições em São João del-Rei no século XIX. 

É sabido que, em São João del-Rei, na época do Brasil Império e Brasil Colônia, a organização social se achava muito estratificada com base na cor de sua população e as corporações musicais e irmandades de São João del-Rei espelhavam essa situação. A Lira Sanjoanense, fundada em 1776 por Mestre José Joaquim de Miranda, avô do compositor Pe. José Maria Xavier, era integrada por "rapaduras (membros negros, negros forros, pardos, etc.), ao passo que a Orquestra Ribeiro Bastos, fundada em 1840 por Mestre (Francisco José das) Chagas e concorrendo com a Lira Sanjoanense, era integrada por "coalhadas" (membros oriundos da elite branca). Também as irmandades religiosas são-joanenses se dividiam entre aquelas que faziam contratos com a Orquestra Lira Sanjoanense (Irmandades da Nossa Senhora da Boa Morte dos Homens Pardos, de Nossa Senhora do Rosário e de Nossa Senhora das Mercês) e as outras que mantinham contrato com a Orquestra Ribeiro Bastos (Irmandade do Santíssimo Sacramento, Ordens Terceiras de Nossa Senhora do Carmo e de São Francisco de Assis). Claro que não havia uma regra rígida para essa estratificação. Comumente a música, a pintura, a escultura e outras artes possibilitavam a ascensão social de negros e pardos através do prestígio alcançado nas profissões citadas. No caso da música, pela qual o negro mostrava especial pendor e jeito, constata-se que houve um grande envolvimento dos mulatos com a música em Minas Gerais, através da qual muitos deles alcançavam a glória por sua musicalidade inata, como foi o caso de Martiniano Ribeiro Bastos, que não só se tornou regente como até foi enterrado no cemitério de São Francisco de Assis. 

Quem me despertou a curiosidade de conhecer melhor a vida de João da Matta foi o saudoso maestro Ademar Campos Filho, o "Ademarzinho", de Prados, compositor, regente de orquestra, instrutor, regente de coral e professor de música, atividades que ele desempenhava simultaneamente “com o pé nas costas”. Na década de 90, passei a frequentar a casa de meu amigo e a sede da Lira Ceciliana, banda de música pradense. Toda Quarta-feira Santa, lá estava eu para apreciar a execução única da Visitação de Dores, de Manuel Dias de Oliveira, e de uma marcha fúnebre que era tão popular da autoria de João da Matta no interior da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, chamada carinhosamente pelos pradenses como marcha “João da Matta”, desconhecida por mim até aquela época. Em verdade conhecia desde minha adolescência o famoso Stabat Mater de João da Matta, porque todo ano era e é executado pela orquestra Ribeiro Bastos na Sexta-feira Santa na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar de São João del-Rei, na Adoração da Cruz durante a Solene Ação Litúrgica.

O objetivo deste trabalho é ampliar o debate salutar sobre o genial João Francisco da Matta, trazendo a lume o que já existe escrito sobre ele e, ao mesmo tempo, contando com o compartilhamento de novas informações e produções do compositor são-joanense ainda desconhecidas, porventura existentes nas cidades que ele percorreu em sua profissão de tropeiro.
 


II.  ARTIGOS PRODUZIDOS SOBRE JOÃO DA MATTA




1) Artigo intitulado JOÃO DA MATA



Por Alvino Ferrari



No momento histórico em que a veneranda cidade de S. João del-Rei vai comemorar o seu primeiro centenário, nesse instante em que tudo vibra uníssono cantando o hino magnífico da celebração, é justo que todos os cidadãos se manifestem no sentido do maior esplendor dos festejos grandiosos projetados.



Identificando-me com esse movimento sadio de patriotismo, lembro, data venia, quem de direito, a oportunidade de considerar-se o nome do inspirado compositor sacro João da Mata, uma das glórias da arte mineira, falecido há perto de trinta anos, em Serranos e oriundo de São João del-Rei.



Não tentarei uma biografia do modesto músico são-joanense, já porque, melhor que eu, o dr. José Garcia da Fonseca Sobrinho lhe traçou o perfil de artista, de maneira magistral, quando do seu passamento.



O que me leva a lançar estas linhas é o fato de, dias atrás, em atividades cinegéticas em Serranos, o “paraíso dos caçadores”, haver deparado com o jazigo de João da Mata, ao lado da Igreja Matriz dessa localidade, túmulo raso e modesto, sub umbra palmarum, pois lhe monta guarda uma palmeira solitária batida pelo vento, esguia e agitada como a imaginação do artista que ela relembra...



Contaram-me algumas pessoas da localidade, que parece haver uma verba governamental para a creação de uma herma a João da Mata, afim de perguntar-lhe a sagrada imaginação estética.



Tal monumento, que assinalaria a sua morada eterna, contribuiria ainda para o embelezamento da principal praça de Serranos.



Apelo, por isso mesmo, para o elevado senso de administrador do digno Prefeito do município de Aiuruoca – farmº Artur Milward de Azevedo, no sentido de providenciar, associado ao seu colega distintíssimo, o prefeito de São João – Dr. Antônio Viegas, para que sejam consubstanciadas no bronze eterno as linhas fisionômicas do grande musicista de côr.



Certo estou de que os srs. dr. Viegas e farmº Milward de Azevedo praticariam um soberbo ato de justiça, embalsamado pela gratidão mineira.



Fonte: O CORREIO, Ano XIII, nº 619, edição de 7 de setembro de 1938, p. 2.


2) Artigo intitulado MAESTRO E COMPOSITOR JOÃO FRANCISCO DA MATA – GLÓRIA DA CULTURA MUSICAL SANJOANENSE


Por Sebastião de Oliveira Cintra – do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais



A 04-06-1909 faleceu em Serrados, então município de Serranos o maestro sanjoanense João Francisco da Mata. Ao inspirado compositor conterrâneo dedicou o escritor Eduardo Frieiro, membro da Academia Mineira de Letras, as linhas seguintes:

São João e Lavras disputam a honra de haver dado o berço a João da Mata, preto de notável merecimento, na opinião de seus coetâneos, que o celebraram principalmente como compositor sacro, embora escrevesse de preferência música leve. Ao tempo da presidência Melo Viana, o escritor Gustavo Pena ventilou pela imprensa a idéia de se erigir em Belo Horizonte um monumento a João da Mata. Tal monumento, ao nosso ver, não consagraria unicamente aquele músico genealógico e humilde, mas valeria também como um preito de reconhecimento a todos os negros que trabalharam pela cultura musical mineira. A idéia, parece, esteve a ponto de concretizar-se. Veio outro governo, e não se pensou mais nela.


Esclarecemos que Dr. Fernando Melo Viana presidiu Minas Gerais de 22-12-1924 a 07-09-1926. 

Dr. Augusto Viegas, figurante de meu livro Galeria das Personalidades Notáveis de São João del-Rei, na 3ª edição – 1969 – de seu primoroso livro Notícia de São João del-Rei, informa, laconicamente, que o maestro João da Mata nasceu em Oliveira-MG. O conceituado historiador Luiz Gonzaga da Fonseca, autor da valiosa obra História de Oliveira, editada com sucesso em 1961, não endossa a opinião do preclaro Dr. Augusto Viegas. Afirma que o padre sanjoanense José Teodoro Brasileiro, - “então moço e idealista, procurou atrair para Oliveira uma centelha da cultura sanjoanense, trazendo de lá músicos e educadores: Maestro João da Mata, Maestro Marcos dos Passos, Professor Francisco de Paula Brasileiro e sua esposa a Mestra Ambrosina Brasileiro”. Diz, ainda, o Prof. Luiz Gonzaga da Fonseca, págs. 371 e 372 do citado livro: “Maestro João da Mata. João Francisco da Mata era pobre, preto e plebeu, percorrendo os três PPP que José do Patrocínio atribuía a si mesmo. Mas era um gênio esse esmolambado João da Mata que percorria as ruas de Oliveira, bebendo a sua cachacinha e espargindo à flux as suas magníficas composições musicais. Se estala a Abolição da Escravatura, brota-lhe do cérebro o Hino da Liberdade. Se vem o 15 de Novembro de 1889, rabisca João da Mata um Hino Republicano, para concorrer com os maiores compositores do país. Em Oliveira, fez ele muita música bonita que, reunida, constituiria uma boa contribuição ao patrimônio musical do Brasil”. A mesma obra estampa clichê, no qual colocou-se a legenda: “Estudo para um busto do grande compositor João da Mata, feito pelo artista oliveirense Francisco Virote. João da Mata compôs um Hino à República, além de dezenas de outras composições.” O citado estudo encontra-se no Museu Bárbara Eliodora.


A 08-05-1888 chegava à cidade de Oliveira, vindo de São João del-Rei, o bispo-mártir Dom Macedo Costa, que se fazia acompanhar do cônego Francisco de Paula da Rocha Nunan, Vigário de São João del-Rei. Foi triunfal a entrada de Dom Macedo na referida localidade, quando uma corporação musical executava um ECCE SACERDOS MAGNUS, musicado, a propósito, em Oliveira, pelo maestro João Francisco da Mata. Os bispos D. Macedo e D. Vital foram protagonistas da questão epíscopo-maçônica.


Também Juiz de Fora soube valorizar o talento de João da Mata. No livro de Albino Esteves – “O Teatro em Juiz de Fora” (Tip. do Faro, Juiz de Fora, 1910) foi transcrita a crônica de Gustavo Pena, sobre o famoso filho de São João del-Rei, que realizara no Teatro Novelli, em Juiz de Fora, um concerto musical. Vejamos as palavras do cronista: 
propositalmente omito o qualificativo ilustre, embora seja minha crença íntima que bem pouca gente merece-o tanto. João da Mata, se não encarnasse o que o gênio tem de mais singular, de mais esquisitão, de mais fora do comezinho e do trivial, teria um nome tão prestigioso no mundo musical como o de Carlos Gomes e de Mesquita. Há, talvez, 17 anos ouviu o escritor destas linhas este juízo a respeito do maestro mineiro, pronunciado pelo imortal autor do ‘Guarani’
Que esplêndido talento tão desaproveitado... Se vocês querem, eu vou pedir ao imperador que lhe conceda uma pensão, para ir seguir o curso no Conservatório de Milão.
E acrescentava, com franqueza escoimada de falsa modéstia
“assim como encontrei quem me amparasse, quando não passava de um pianista acaipirado, desejo também por minha vez ser útil aos que ainda lutam na obscuridade”.


O escritor e poeta Bento Ernesto Júnior, membro da Academia Mineira de Letras, exímio musicista, compunha partituras muito apreciadas para as festas, em São João del-Rei, de N. Srª da Conceição, das Mercês e do Mês de Maria. No harmônio das igrejas locais executava peças de compositores sanjoanenses. No periódico A Tribuna nº 1268, em edição especial de 40 páginas, publicou o artigo “A Música em São João del-Rei”. Daremos do mesmo o trecho sobre João da Mata: 


A justiça da história, conjugada com uma grande e sincera saudade, leva o escritor dessas notas singelas sobre a música em São João del-Rei, e encerra a lista acima, tão deficiente à míngua de informes na ocasião, nela inscrevendo o nome de João da Mata, um desses deserdados da fortuna, destinados, na vida, a só palmilhar abrolhos, ao qual a providência, pelo mais assombroso dos contrastes, deu, a fulgurar-lhe na alma desditosa a ofuscante radiação do mais assombroso talento artístico. João da Mata é uma figura singularíssima nos reinos de Euterpe.  Queda-se profundamente surpreso iniciado nos mistérios da arte encantadora, em ouvindo as composições que emanaram de sua inspiração de escol, verdadeiramente portentosa, admiravelmente original. Que emoção avassaladora não causam os trechos que ele traçou, despreocupadamente, indiferente, de todo, aos aplausos das multidões, trechos que são o reflexo nítido de uma alma lírica aninhada em arcabouço tão em contraste com a beleza, a radiosidade, a graça e a correção que a musa de João da Mata sabia imprimir ao seus estupendos trabalhos.


O pobre negro, em a noite de sua desgraça, teve um farto raio de luz a iluminar-lhe a personalidade humilde na grande admiração que por toda parte se lhe dedicava e a consagração invulgar da mais rutilante glória da música brasileira – o grande, o imortal Carlos Gomes, que proclamou João da Mata uma das mais admiráveis organizações musicais, que lhe fora dado conhecer”.


A 11-10-1883 publicou o Arauto de Minas:

Acha-se nesta cidade, de passagem para Mar de Espanha, onde pretende dar alguns concertos, o nosso inteligente conterrâneo, João Francisco da Mata, insigne professor de música e hábil afinador de piano. O nosso maestro, retirando-se da cidade de Oliveira, trouxe honrosos atestados de autoridades e pessoas altamente colocadas, asseverando ter sido irrepreensível o seu procedimento naquele lugar”.


Em A Pátria Mineira, jornal fundado e dirigido pelo professor Sebastião Rodrigues Sette e Câmara, edição de 03-10-1880, João Francisco da Mata anuncia a venda de diversas coleções de músicas (marchas, dobrados, polcas, modinhas e hinos patrióticos), frisando sua condição de sanjoanense: “Espero que os meus bons conterrâneos me favoreçam, comprando-me algumas músicas, visto ser o seu produto para auxiliar a minha viagem à corte, onde vou publicar uma artinha musical e diversas composições minhas”.


A 31-03-1889 procedeu-se a bênção solene do Estandarte da Sociedade Lira S. Joanense, trabalho de Luiz Batista Lopes. Constam do mesmo os nomes dos diretores da entidade e de alguns compositores mineiros, entre os quais o de João Francisco da Mata.


O periódico A Opinião, nº 7, de 31-07-1909, publicou o seguinte, sob o título João da Mata. A propósito do nosso saudoso conterrâneo, maestro João da Mata, considerado um dos distintos discípulos, do seu tempo, do notável professor sanjoanense Martiniano Ribeiro Bastos, escreveu Francisco Lins, no Jornal do Comércio, de Juiz de Fora, na sua apreciada e brilhante seção O DIA:

Poucas e frias homenagens tem a nossa imprensa rendido a João da Mata, o negro genial recentemente falecido em um deserto recanto de Minas, creio que em Distrito de Aiuruoca, plantada ao pé de longínqua ramificação da Mantiqueira. Entretanto, esse negro pertenceu ao número dos bons engenhos, que, segundo uma frase de Latino Coelho, ‘popularizam na Terra de Santa Cruz’. Foi um simples, um rústico, porém na sua cabeça brilhou o diadema soberbo com que a providência, de longe em longe, assinala alguns seres humanos, elevando-os, tornando-os semelhantes aos seres divinos. Houvesse João da Matta nascido em outro meio e o seu nome houvera chegado aos píncaros da fama. Pode-se compará-lo a um diamante lançado em um muladar, ignorado, desprezado por jamais haver sofrido a ventura de chegar às mãos de um lapidário. Nasceu para a glória, porém caprichosamente o coagiu a viver nas sombras a ignorância, o egoísmo, a estupidez, de que se viu cercado durante toda a existência.


O seu nome, com certeza, estaria hoje ao lado dos grandes nomes que, pela música, ascenderam à celebridade, si um pouquinho cultivado o seu peregrino espírito. As composições inúmeras que deixou, todas cheias de inspiração, francamente reveladoras de gênio constituem uma prova de meu asserto. João da Mata atravessou a vida no Sertão de Minas sempre viajando, muitas vezes a pé, pobremente. Contam-se episódios impressivos das suas longas e penosas excursões, pelos quais se vê quanto era ele despretensioso e bom, quanto era extraordinário o seu engenho. Ainda agora leio em uma folha Fluminense: “uma feita, João da Mata chegou a uma vila do Triângulo Mineiro, a zona pastoril por excelência, em Minas, como capataz de boiada. Encostada a boiada no pasto, João da Mata saiu e correu o povoado. E, em dado momento, se lhe deparou uma casa, onde um grupo da roça ensaiava uma missa. João da Matta encostou-se à janela, ao lado de fora, a ouvir o ensaio; mas não se pôde conter se que, em dado momento, aventurasse uma corrigenda sobre a maneira de tocar. Os músicos não receberam de bom grado a observação daquele tropeiro, mestiço e rude na aparência, que se permitia criticar o que executavam eles. Responderam com rispidez que não se metesse com aquilo que não entendia; mas o intruso insistiu e disse-lhes que sabia mais do que eles, porque a música era sua e a estavam estropiando. Os outros riram-se e disseram que a missa era de João da Matta. E o tropeiro retrucou: ‘Pois João da Mata sou eu’. Não acreditaram, supuseram que era um farçola ousado que se queria divertir; repeliram-no; mas João da Mata, para provar a identidade, pediu um dos violinos, e, tendo-o obtido a custo, executou diante dos outros, surpresos, a sua missa como devia ser executada. Todos lhe conheciam as produções, sem conjectura que era aquele o autor”.


Cena interessante, essa! Nela, a figura do notável artista se apresenta, cheia de humildade e cheia de grandeza. Reverenciar a memória de João da Mata, continuou o ilustre professor Francisco Lins, é um dever nosso.


Outro dia, os homens de cor, em Juiz de Fora, realizaram festas em homenagem a Monteiro Lopes, um vivo que triunfa. Por que não se lembram de homenagens render também a João da Mata, o assinalado morto, criminosamente imerso no olvido?


Francisco Lins (1866-1933), autor do artigo supra, exerceu o Magistério, o Jornalismo e publicou vários livros de poesia. Pertencia à Academia Mineira de Letras.


"Almirante" – Henrique Foréis Domingues (1908-1980) –, na sua notável “História do Rio pela música”, cita João Francisco da Mata como companheiro, na cidade do Rio de Janeiro,  dos precursores do samba no Brasil. "Almirante" organizou, abnegadamente, importante arquivo pioneiro da Música Popular Brasileira.


A Lei Municipal nº 436, de 26-02-1924, deu o nome de João da Mata à rua do Progresso, situada no bairro do Bonfim.


A memória de nosso talentoso conterrâneo maestro, compositor e instrumentalista João Francisco da Mata alcançou, indubitavelmente, renome privilegiado na história da música em São João del-Rei.

Fonte: TRIBUNA SANJOANENSE, edição de 14/11/1995, Ano XXVII, nº 824, p. 2.




III.  NOTAS  EXPLICATIVAS



¹  NEVES, José Maria. Situação e problemática da música mineira contemporânea. SEMINÁRIO SOBRE CULTURA MINEIRA, Belo Horizonte: CECMG, 1980, p. 95, apud COELHO, Eduardo Lara:  Coalhadas e rapaduras: estratégias de inserção social e sociabilidades de músicos negros – São João del-Rei, século XIX, p. 33.

²  VIEGAS, Aluízio José. Música em São João del-Rei de 1717 a 1900. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, São João del-Rei, nº V, 1987, p. 53-65.




IV.  BIBLIOGRAFIA 




BRAGA, F.J.S.:  João da Matta, maestro e compositor são-joanense, in http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2017/08/joao-da-matta-maestro-e-compositor-sao.html

CINTRA, Sebastião de Oliveira: Maestro e compositor João Francisco da Mata – Glória da Cultura Musical Sanjoanense. São João del-Rei: TRIBUNA SANJOANENSE, edição de 14/11/1995, Ano XXVII, nº 824, p. 2.

FERRARI, Alvino: João da Mata. São João del-Rei: O CORREIO, Ano XIII, nº 619, edição de 7 de setembro de 1938, p. 2.

NEVES, José Maria. Situação e problemática da música mineira contemporânea. SEMINÁRIO SOBRE CULTURA MINEIRA, Belo Horizonte: CECMG, 1980, p. 95, apud COELHO, Eduardo Lara:  Coalhadas e rapaduras: estratégias de inserção social e sociabilidades de músicos negros – São João del-Rei, século XIX, p. 33.

VIEGAS, Aluízio José. Música em São João del-Rei de 1717 a 1900. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, São João del-Rei, nº V, 1987, p. 53-65.
 

terça-feira, 22 de agosto de 2017

TIRADENTES EM SETE LAGOAS


Por Márcio Vicente Silveira Santos

Livro "Tiradentes em Sete Lagoas", 2010, de autoria do jornalista, advogado, escritor e historiador Márcio Vicente Silveira Santos, Sete Lagoas: Tip. Kosmos, 245 p.

O que pode esperar o leitor da leitura do livro "Tiradentes em Sete Lagoas", subtítulo "Um mergulho na História que inscreve a Cidade (de Sete Lagoas) no cenário da Inconfidência Mineira"? Nas p. 5-10 do livro pode-se ler quais as razões do livro: 
"PRIMEIRA
Antes de qualquer justificativa, uma necessária e indispensável explicação: aqui o leitor não vai encontrar uma tese acadêmica. Este também não é um compêndio escolar. A obra pretende ser apenas um livro-reportagem sobre fato histórico determinado: a permanência de Tiradentes em Sete Lagoas nos anos de 1780 e 1781, período em que foi comandante do Quartel do Sertão.
Se não é possível esgotar-se a pesquisa em torno de um acontecimento elevado à categoria de história, o corte temporal que este livro explora também permanecia em penumbra: até então, estava ele fora dos limites fixados para o enredo da Inconfidência, e nem despertava maior atenção dos cronistas militares, porque nele a principal figura Tiradentes ainda não teria alcançado a estatura de um miliciano de prestígio.
SEGUNDA
A presença de Tiradentes em Sete Lagoas pouco conhecida, não convenientemente valorizada ou simplesmente deixada em segundo plano pelos historiadores de um modo geral (o foco maior é sobre o "inconfidente", embora haja algumas obras sobre o "militar") também não foi mais extensamente relatada e documentada pelos que se dispuseram a escrever a história local. Sem registro, a memória do fato acabou diluída em informações imprecisas ou ainda é pulverizada em interpretações não conclusivas: "Tiradentes passou por Sete Lagoas", "Tiradentes pernoitou no Casarão", "Tiradentes veio a Sete Lagoas batizar um filho do comandante do Destacamento"...
Alguns exemplos:
Em 1780, o Alferes de Cavalaria Joaquim José da Silva Xavier, o grande Tiradentes, passou por Sete Lagoas rumo ao Norte da Capitania, através das picadas que o braço bandeirante desbravara na imensa mataria.
Fernandino Júnior, in "Revivendo a História de Sete Lagoas"; artigo na revista Acaiaca, Belo Horizonte, agosto de 1954, p. 33.
Em 1775 instalava-se o Quartel Geral do povoado, poderosa praça de armas, sede do destacamento policial. Em 1780, hospedava-se nesse quartel o Alferes de Cavalaria Joaquim José da Silva Xavier - o Tiradentes - que se fazia acompanhar de poderosa escolta, rumo ao Norte da Capitania...
Joaquim Dias Drummond: O passado compassado de Sete Lagoas, edição da Prefeitura, 1977, p. 16.
Para a 6ª companhia desse Regimento (de Cavalaria) foi admitido, no posto de Alferes, a 1º de dezembro de 1775, Joaquim José da Silva Xavier. Desde então, o Alferes passou a receber variadas comissões, algumas bem arriscadas. (...) Nos anos de 1780 e 1781, foi o Comandante das Sete Lagoas.
Waldemar de Almeida Barbosa: Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais, Belo Horizonte: Editora Saterb, 1971, p. 498.
... em 2 de junho de 1780, Tiradentes era o comandante do Quartel de Sete Lagoas, encarregado de guardar o Registro instalado naquela localidade mineira.
Dimas Perrin: Inconfidência Mineira - Causas e Consequências, Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1985, p. 126.
As companhias do Regimento de Cavalaria Regular de Minas, enviadas para o reforço defensivo do Rio de Janeiro, em 1777, voltaram à Capitania em setembro de 1779. Tiradentes, que fez parte daquele socorro tornado necessário pelas guerras do Sul, foi então nomeado para comandante do Destacamento do Sertão, sediado em Sete Lagoas, porta de entrada do médio São Francisco.
Tarquínio J.B. Oliveira: Um banqueiro na Inconfidência, edição da ESAF-Centro de Estudos do Ciclo do Ouro, Ouro Preto: Casa dos Contos, 1979, p. 62.
... em 1780, no primeiro semestre, está Tiradentes em Sete Lagoas, Minas Gerais, como comandante do Destacamento local, encarregado da guarda do Registro ali instalado, porta de entrada do Vale Médio do Rio São Francisco.
Márcio Jardim: A Inconfidência Mineira - Uma síntese factual, Rio de Janeiro: Editora Bibliex, 1989, p. 69.
Tomadas no contexto da História Mineira e mesmo se avaliadas como pouco representativas do todo que se quer evidenciar essas referências testemunham a importância do fato. E qualquer esforço que se empreenda para sua ampliação e documentação assim o entendemos será uma contribuição. É nessa linha que o presente trabalho deverá ser medido.
TERCEIRA
Em 1966, tivemos a oportunidade de acompanhar o escritor Jovelino Lanza em visitas ao Arquivo Público Mineiro, em Belo Horizonte, em busca de informações gerais que o auxiliassem na composição de sua História de Sete Lagoas, publicada em 1967, ano do Centenário do Município. Foi uma experiência estimulante, que mais serviu de aprendizado ao discípulo do que resultou em auxílio ao mestre. (O escritor, que ultrapassava sempre os limites da generosidade, mencionou essa "ajuda" na dedicatória da obra, provocando grande emoção em seu jovem admirador e eventual colaborador).
O trabalho de Jovelino Lanza não só registra o fato, afirmativamente - "Nos anos de 1780 e 1781, o Alferes Joaquim José da Silva Xavier - o Tiradentes - era o ativo e destemido comandante do Quartel das Sete Lagoas..." (História de Sete Lagoas: Belo Horizonte: Editora Sion, 1967, p. 88), como trancreve recibos firmados pelo Alferes, quando no comando da guarnição militar. O mestre chegou mesmo a sugerir ao discípulo que mergulhasse no tema, buscasse novos documentos e elaborasse uma monografia evidenciando o significativo acontecimento histórico. Entretanto, dificuldades evidentes e afazeres imediatos desviaram-no da decisão de aceitar o desafio.
Este trabalho é, portanto, além de homenagem à memória do historiador, o resgate de um compromisso nunca formalizado, mas virtualmente aceito, embora o autor tenha a convicção de que aqui apenas giza alguns caminhos novos, que poderão ser percorridos por quem dotado de maior engenho e melhor arte.
QUARTA
Embora este trabalho não adote as normas da pesquisa acadêmica é essencialmente um exercício jornalístico o autor tem presente que, como ensina João Camilo de Oliveira Torres (História de Minas Gerais, Belo Horizonte: Editora Lemi, 1980, vol. II, p. 39), "o historiador deve falar relativamente pouco: a documentação sempre dirá a última palavra. Naturalmente ele (e esta é a sua missão) selecionará os documentos, dará a sua interpretação, apresentará a sua maneira de ver os fatos."
A pesquisa procurou, portanto, aprofundar as buscas empreendidas por Jovelino Lanza, identificar suas fontes e coligir documentos outros que permitissem dar consistência e comprovação aos fatos, aceitando o ponto de vista dos mestres da teoria da História segundo o qual testis unus, testis nullus. É evidente que as fontes primárias são escassas e que este trabalho, pelas circunstâncias inarredáveis, versa matéria inédita. Valemo-nos da documentação sob a guarda do Arquivo Público Mineiro, da coleção de manuscritos da Casa dos Contos (Ouro Preto) e de buscas realizadas nos vários acervos da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro). Empreendeu-se, também, o exame de extensa bibliografia existente nas bibliotecas do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Fundação Amílcar Martins e Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa.
Antecipando outras conclusões mas esse é o arco principal da pesquisa pode-se afirmar, documentalmente, que Tiradentes esteve no efetivo comando do Quartel das Sete Lagoas no período compreendido entre 22 de abril de 1780 e 23 de junho de 1781. A fixação dessas datas, evidentemente, contraria as que foram indicadas por grandes autores da História de Minas. Não há aqui, entretanto, o escopo de corrigir ou contestar informações testemunhadas por respeitáveis historiadores, mas, apenas, o de contribuir com a indicação de fontes e documentos que podem trazer mais luz ao tema.
QUINTA (e talvez principal)
Este trabalho sem maior pretensão alimenta, porém, uma ousadia: a de levar aos meios acadêmicos (que têm o ferramental teórico e certamente o compromisso tácito) proposta para o início de um debate, que se imagina permanente, em torno da presença de Tiradentes no sertão. O fundamento para essa necessária e inadiável prática de cultura e de cidadania é por demais relevante: inquestionavelmente, o fato histórico insere Sete Lagoas no cenário do movimento político-militar que notabiliza Minas Gerais a Inconfidência.
Sete Lagoas, 21 de abril de 2010.
Márcio Vicente Silveira Santos

Colaborador: MÁRCIO VICENTE SILVEIRA SANTOS














O historiador, escritor e jornalista MÁRCIO VICENTE SILVEIRA SANTOS autorizou o gerente deste blog a publicar, a título de sua Apresentação aos leitores, o relatório da Comissão do IHG de São João del-Rei que recomendou a sua admissão no Quadro de Sócios Correspondentes do sodalício são-joanense, aprovado por unanimidade pela assembleia reunida em 6 de agosto de 2017, tendo em vista a análise fidedigna dos elementos biobibliográficos apresentados pelo candidato, atendendo o que dispõe o estatuto da Casa de Fábio Nelson Guimarães, a saber:

Ilmo. Sr. 
José Cláudio Henriques
DD. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei
Nesta

Prezado Presidente,

Em atendimento à Indicação de Vossa Senhoria, datada de 2 de julho de 2017, temos a informar que, obedecendo às disposições estatutárias que regem este Sodalício, a Comissão por nós constituída pelos confrades Francisco José dos Santos Braga, José Carlos Hernández Prieto e Murilo de Souza Cabral, examinou o currículo e a documentação fornecida pelo historiador, escritor e jornalista MÁRCIO VICENTE DA SILVEIRA SANTOS, que, a pedido de Vossa Senhoria, encaminhou a este Instituto em 20 de junho de 2017, colocando ao mesmo tempo o seu nome e currículo sob análise deste Instituto, visando pertencer ao nosso Quadro de Sócios Correspondentes.



Pelo seu currículo, colhemos informações de que o interessado é natural  de Traíras, distrito de Cordisburgo, hoje município de Santana de Pirapama. Na década de 1950, transferiu-se definitivamente para Sete Lagoas. Na década de 1960, participou ativamente de um grupo de poesia de vanguarda – o VIX – que realizou várias exposições de poemas em Sete Lagoas, Oliveira e Belo Horizonte e publicou dois livros de poemas. Também Márcio Vicente liderou um grupo de jovens que, em 19 de dezembro de 1964, fundou o “Clube de Letras de Sete Lagoas”. Integravam o grupo inicial do Clube de Letras, além de Márcio Vicente, João Carlos de Andrade, Geraldo José de Paula Moura, Ronaldo Gonçalves, Waldir Rodrigues Rocha, Edson Ferreira de Jesus, Fernando Holmes de Lima, Geraldo Elísio M. Lopes e Evaldo Lopes de Alencar. Tal iniciativa, nascida em um cenário de tensão e insegurança proporcionado pela Ditadura Militar nos idos de 1964, surgiu da intenção de unir jovens na busca da valorização da cultura e movimentação das ações culturais da cidade, tendo ganhado a simpatia e o apoio de lideranças locais e conseguido mudar os rumos da cultura sete-lagoana. Segundo Mariza da Conceição Pereira, ex-presidente do Clube de Letras e atual assistente do departamento infanto-juvenil do Clube, nos 48 anos de sua existência, o Clube de Letras lutou para criar a universidade, a Casa da Cultura, a Biblioteca Municipal. Também atuou pela reedificação do coreto da praça Tiradentes, para a reativação do Museu Histórico e para a revitalização do Centro Cultural Nhô Quim Drummond. São ações que contam muito da história cultural de Sete Lagoas e contribuíram para a cultura de outras cidades. Ainda de acordo com Mariza, outros movimentos surgiram através do Clube de Letras, como a Associação Sete-lagoana de Letras e a União Brasileira de Trovadores.  Na mesma década, Márcio Vicente ocupou importantes cargos no Banco Agrimisa (chefe da Carteira de Descontos da Matriz e gerente de agência). No período de 1971 a 1981 residiu em Belo Horizonte, prestando serviços a agências de publicidade. Obteve sua graduação de bacharel em Direito pelo UNIFEMM-Centro Universitário de Sete Lagoas em 1990. No período de 1989 a 1997, trabalhou para o “Diário de Comércio”, de Belo Horizonte, como responsável por sua sucursal em Sete Lagoas. Em retorno a Sete Lagoas, ingressou como funcionário da Prefeitura de Sete Lagoas mediante concurso público e foi diretor de Departamentos, tendo exercido, por três vezes, o cargo de Secretário Municipal. Como presidente da Fundação Histórica e Artística de Sete Lagoas, trabalhou no projeto de tombamento do Solar dos Chassim-Drummond, nele instalando o Centro Cultural Nhô-Quim Drummond. Nas duas últimas administrações municipais, participou da equipe que trabalhou no projeto de tombamento da Estação Ferroviária de Silva Xavier e no projeto de instalação, nesse local, do “Memorial Tiradentes” (2009-2012) e foi nomeado Secretário de Cultura e Comunicação Social e presidente do Conselho Municipal do Patrimônio  Cultural (2013-2016).



Sobre o “Memorial Tiradentes”, dedicado ao Alferes no distrito de Silva Xavier (que tem essa denominação em homenagem ao militar), é sabido que na condição de Secretário Municipal de Cultura (2013-2016), teve a oportunidade de trabalhar na proposta de tombamento da Estação do Distrito de Silva Xavier e na elaboração de seu projeto de restauro, mas essa obra ainda não foi executada. A situação atual é que a planta do edifício já está pronta, sendo possuidor de um bom acervo documental; apesar de seus esforços, o “Memorial Tiradentes” ainda é projeto, para cuja execução e implementação vai apoiar a Prefeitura em busca dos recursos financeiros. 



Tem larga experiência no jornalismo, podendo ser citados os seguintes órgãos para os quais trabalhou: “O Jornal do Centro de Minas”, “A Notícia”, “A Gazeta”, “Hoje-Jornal da Cidade”, revista “Fatoral” e foi também fundador e diretor de Jornalismo da ETV-TV Educativa de Sete Lagoas. Hoje é colaborador do jornal “Tribuna”. Além disso, participou da fundação de vários jornais, dois dos quais ainda circulam: “O Jornal do Centro de Minas” e “Hoje-Jornal da Cidade”.



Participou com brilhantismo do Seminário promovido por este Instituto intitulado “Meandros da Inconfidência Mineira”, pronunciando palestra sobre “a presença e a missão do Alferes em Sete Lagoas”  em 13 de novembro de 2015, com a qual trouxe informações inéditas sobre a presença do Alferes, no período de 22 de abril de 1780 a 23 de junho de 1781, como comandante do Quartel do Sertão, no Registro “das Sete Lagoas”. Segundo ele, Sete Lagoas foi importante entreposto comercial da Capitania de Minas Gerais no século XVIII, por onde trafegavam caravanas de negociantes, fazendeiros e tropeiros que faziam a ligação entre os “sertões” e as áreas de mineração. Essa intensa movimentação motivou a instalação de um Registro para cobrança dos impostos devidos à Coroa, o que aconteceu em 1762. Com essas pesquisas que consignou em livro de sua autoria, intitulado “Tiradentes em Sete Lagoas” lançado em 2010, inscreveu a cidade de Sete Lagoas no cenário da Conjuração Mineira. Fruto de sua pesquisa, ficaram evidenciadas e documentadas quatro missões desempenhadas pelo “Alferes Comandante” no sertão, a saber: 1) defesa e segurança; 2) cobrança de impostos; 3) combate ao contrabando; 4) abertura de uma picada entre Sete Lagoas e Paracatu (pp. 99-113 do livro).



Com a repercussão dessa iniciativa de inscrição de Sete Lagoas no cenário da Conjuração Mineira logrou algumas honrarias, tendo sido agraciado com a “Comenda da Liberdade e Cidadania”, conferida conjuntamente pelos Municípios de Ritápolis, São João del-Rei e Tiradentes; a “Ordem dos Cavaleiros da Inconfidência Mineira”, em Ouro Preto e a “Medalha Alferes Tiradentes-Mérito Cultural”, do Instituto Tiradentes.



A par disso, o livro foi bem acolhido por pesquisadores da história mineira, cabendo destacar os historiadores Oiliam José e Angelo Carrara, além do escritor Márcio Jardim.



Animado com a boa repercussão do livro e em busca de adesão mais efetiva para o seu projeto do “Memorial Tiradentes”, escreveu, em 12 de abril de 2017, uma carta aos Comandantes Militares de Sete Lagoas, na qual aduziu razões de interesse histórico e turístico justificando o porquê da instalação em Sete Lagoas de um Memorial dedicado ao Alferes de Cavalaria Joaquim José da Silva Xavier. Cópia do mesmo documento foi encaminhado a dirigentes de alguns de nossos principais organismos de Preservação da Memória Histórica (aqui incluído o nosso IHG) e a personalidades que, de alguma forma, se alinham em defesa do projeto de criação, em Sete Lagoas, de um memorial dedicado ao Alferes.



Já tem um novo livro pronto a lançar em novembro, quando Sete Lagoas vai completar 150 anos de sua emancipação: “Sete Lagoas, século XVIII: O Registro e as Estradas Reais”. A obra vem complementar o livro anterior, “Tiradentes em Sete Lagoas”, o que lhe exigiu visitas a centros de documentação, tais como a Casa dos Contos, em Ouro Preto; o Arquivo Público Mineiro e o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, em Belo Horizonte; a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, além de consultas a arquivos particulares em outras cidades.



Além desses dois trabalhos, publicou outros quatro abordando temática histórica:

- “Origens do Casarão” (pesquisa sobre o Solar dos Chassim-Drummond, sobrado do século XVIII que está na Praça Tiradentes e é hoje o Centro Cultural Nhô-Quim Drummond), obra publicada em cerca de 40 artigos semanais no “Hoje-Jornal da Cidade”, em 1980;

- “100 Anos de Imprensa em Sete Lagoas”, publicada em capítulos semanais no “Hoje-Jornal da Cidade” e, no mesmo ano (1994), apareceu em livro patrocinado pela Prefeitura;

- “Dr. Márcio Paulino: Uma História Biográfica (1997);

- “Nossa Terra. Nossa Gente”, história de Sete Lagoas (em fascículos) (2002).



Além desses, participou de diversas antologias e publicou também duas plaquetes (“Amostra” (1965) e “Nhô-Quim-Apontamentos para a Biografia de Joaquim Dias Drummond” (1991)), um livro de poemas (“Pedra Sobre Pedra”, 1ª edição 1966, 2ª edição comemorativa 2006), um livro de cronipoemas (“Sal & Pedra” 1990), um livro de contos (“Debaixo da Magnólia” 1992), um livro-reportagem (“Coragem pra Mudar-Anatomia de uma Campanha Política” 2004) e, finalmente, um livro de crônicas e discursos (“Prezados Amigos” 2009).



Foi agraciado com vários títulos honoríficos, diversos diplomas de mérito literocultural e jornalístico e medalhas por reconhecimento de mérito.



Participa de várias Casas de Cultura, cabendo destacar as seguintes: Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais (sócio efetivo, desde 1969), Academia Sete-Lagoana de Letras (sócio fundador, desde 1985), Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (sócio correspondente, desde 1995) e Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa (sócio efetivo, desde 2008). Pertencer ao Quadro de Sócios Correspondentes do IHG de São João del-Rei, será para Márcio Vicente da Silveira Santos um pequeno acréscimo ao riquíssimo e vasto currículo de uma vida inteira dedicada a escrever, desde tenra idade, em jornais, publicando livros memoráveis. Foi político atuante em Sete Lagoas, presidente de fundação, com projeto de tombamentos de grande alcance histórico com acervos documentais dignos de visitações. Não parou por aí na sua brilhante caminhada, galgando degrau por degrau, não desistindo nunca de ser um sonhador buscando novas realizações. É um ser incansável inovador e uma pessoa de uma visão histórica digna de louvores. Continua escrevendo, o que ele faz com maestria, percorrendo as estradas de Minas, passando pelos caminhos desbravados por Tiradentes nos seus périplos por Minas Gerais.



Diante do exposto, esta Comissão emite o parecer favorável a que se acolha a indicação do historiador, escritor e jornalista MÁRCIO VICENTE DA SILVEIRA SANTOS de pertencer ao Quadro de Sócios Correspondentes deste Instituto, ao mesmo tempo que reconhece seus elevados predicados historiográficos e literários. Será um prazer tê-lo conosco e levá-lo a caminhar pelas ruas históricas da cidade onde os sinos falam ao coração da gente.

São João del-Rei, 6 de agosto de 2017.

Ass. Francisco José dos Santos Braga, José Carlos Hernández Prieto e Murilo de Souza Cabral