segunda-feira, 29 de março de 2021

EM 2019 SÃO JOÃO DEL-REI COMEMOROU O BICENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO SEU FILHO ILUSTRE: PADRE JOSÉ MARIA XAVIER (1819-2019)


Por Francisco José dos Santos Braga

 
No ano de 2019, São João del-Rei comemorou o bicentenário de nascimento de seu filho Pe. José Maria Xavier (⭐︎ 23/08/1819 22/01/1887), patrono do Conservatório Estadual de Música que leva o seu nome em sua terra natal e patrono da Cadeira nº 12 da Academia Brasileira de Música, cujo fundador foi Octavio Bevilacqua em 1945, depois sucedido pelo musicólogo são-joanense José Maria Neves (⭐︎ São João del-Rei, 20/08/1943 ✞ Rio de Janeiro, 27/11/2002) e atualmente ocupada pelo Acadêmico John Neschling. 
 
Naquele ano do bicentenário do Pe. José Maria Xavier, o coro e Orquestra Lira Sanjoanense e o Coro de Câmara do CEM-Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier realizaram em 24 de fevereiro um primeiro concerto, sob a regência do Prof. Modesto Flávio Fonseca, na igreja de Nossa Senhora do Rosário com o seguinte repertório: Missa para o dia 15 de Agosto, Responsório nº 5 das Matinas da Assunção e Hino a Nossa Senhora do Rosário "Dei Genitricem Rosarii". 
 
Através da ASCOM-Assessoria de Comunicação, a UFSJ anunciou o Concerto Comemorativo em honra ao Padre-Mestre José Maria Xavier com toda a pompa e circunstância.

Com a mesma motivação, a Irmandade do Bom Senhor Jesus dos Passos mandou celebrar em 30/03, no sábado da Festa de Passos, santa Missa por alma do Pe. José Maria Xavier. 
 
O CEM-Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier, cujo diretor é Mauro André dos Santos, celebrou os 200 anos de seu patrono com a 13ª edição da Semana do Patrono, com uma programação intensa que se estendeu do dia 18 a 25 de agosto. 
 
Folder da Semana do Patrono promovida pelo Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier

 
 
Mereceu destaque a programação do dia 22 (de agosto), véspera de sua morte, uma parceria do Conservatório com o Instituto Histórico e Geográfico local, no Pátio da Biblioteca Municipal, quando foram realizadas palestras, apresentações musicais e teatrais, além do lançamento de um selo comemorativo referente aos "200 anos do insigne Mestre da Música de São João del-Rei".  A ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) participou com um carimbo postal comemorativo, usado durante certo período na agência de São João del-Rei, despertando o interesse do mundo filatélico.
 
Selo comemorativo referente aos 200º aniversário do Padre-Mestre são-joanense

 
Aproveitando o ensejo, finalizo este artigo com uma descrição, feita por [BISPO, 1971], das comemorações são-joanenses pelo 150º aniversário de Pe. José Maria Xavier, portanto há 50 anos atrás, quando teve a participação de três corporações são-joanenses, além do Conservatório: 
"(...) O ano de 1969 foi marcado pelas comemorações do 150º aniversário do compositor são-joanense Padre José Maria Xavier. As homenagens foram preparadas pela Sociedade de Concertos Sinfônicos, pela Orquestra Lyra Sanjoanense e pela Orquestra Ribeiro Bastos. O Concerto nº 204, comemorativo, realizou-se no Conservatório Estadual de Música, no sábado, 23 de agosto de 1969. Foi aberto com um soneto de Maria do Carmo Hilário. A primeira parte constou da apresentação de obras instrumentais do Pe. José Maria Xavier: Minueto em ré, 1852; Ofertório para cordas, 1875; Valsa, 1868; Minueto, 1865; Les Bacchantes de Pietro Generali, em orquestração de J.M. Xavier. Após palavras do orador Mozart Novais, o coral e orquestra, sob a regência de Pedro de Souza, apresentou o invitatório, o segundo e o sexto responsório das Matinas do Natal, o Gradual para Quinta-Feira Santa e o Kyrie e o Cum Sancto Spiritu da Missa da Assunção de Nossa Senhora. Um texto comemorativo de José Américo da Costa, impresso no programa do concerto, ofereceu alguns dados principais da biografia do compositor, os títulos de suas principais composições e expressou o significado desse músico para a cidade, salientando sobretudo a religiosidade de sua obra, "porque belas e condizentes com a apurada mística de nossa gente. (...)" 
 
 
 

II.  AGRADECIMENTOS  

 

Gostaria de agradecer à minha amada esposa Rute Pardini Braga, por sua indispensável colaboração ao formatar as imagens deste trabalho editorial. Gostaria ainda de agradecer ao Diretor do Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier, Mauro André Santos, e ao Prof. Anthony Claret Moura Nery, por terem-se colocado à minha disposição todas as vezes que precisei recorrer a suas informações e esclarecimentos.
 
 
 
III. BIBLIOGRAFIA
 
 
 
BISPO, Antonio Alexandre: São João del-Rei e sua tradição musical (1971), complementado por seu Relatório das viagens de pesquisas e encontros em São João del-Rei, 1970.  
 
 
BRAGA, F.J.S.: Há 2 séculos nascia o benemérito Padre-Maestro José Maria Xavier (⭐︎ 1819 ✞ 1887).  
 

sábado, 27 de março de 2021

A ESCALADA DO POETA GERSON VALLE


Por Anderson Braga Horta
 
Gerson Valle é escritor de muitas facetas, cuja carreira literária começou pela poesia, com a edição, em 1982, de Confetes de Muitos Carnavais. Mas não se resume à ficção e à poesia a sua obra, ensaísta de mérito que é, com uma diversidade de trabalhos esparsos em periódicos, à espera do livro Dentro da Mata Densa
Sobre esse poliédrico trabalho têm-se manifestado elogiosamente escritores como Camilo Mota, Enéas Athanázio, Fernando Py, Joanyr de Oliveira, João Carlos Taveira, Luís Augusto Cassas, Olga Savary, Reynaldo Valinho Alvarez. Reúno aqui esses dados, que se oferecem mais completos e pormenorizados na bibliografia do autor, para dar ideia do espírito humanístico de Gerson Valle, de seu ecumenismo, que a poesia deste livro canaliza em renovados moldes. 
Explico-me, para não dar azo a mal-entendidos. Dentro da Mata Densa, quinta realização do poeta, não rompe com os anteriores; pelo contrário, harmoniza-se com eles, em termos de arte poemática, de filosofia e de estética. E os coroa e suplanta, cúmulo que é, pelo menos por ora, de uma escalada poética em que o humano – que não exclui um olhar, talvez místico, para o preter-humano – dá o tom e sustenta a nota. 
Em breve comentário que esbocei para uma projetada reunião dos quatro primeiros livros de poemas, assinalo alguns procedimentos formais, como a construção musicalíssima do hendecassílabo, a convivência de setissílabos, octossílabos, decassílabos, dodecassílabos com o verso livre e com o poema em prosa, as combinações versiprosísticas, o uso do recurso palavra-puxa-palavra, a prática do soneto, a presença da quadrinha, do metapoema, da alusão literária, etc. Assinalo também algumas mudanças de modo, como a intromissão, sempre bem resolvida, da pena do pensador e da voz do narrador. Uma característica da apresentação de todos os cinco livros aponta para aquela direção, por mim há pouco insinuada, de um caminhar para o preter-humano: eles se compõem invariavelmente de sete partes, cada qual – com uma ou duas variações, talvez – integrada por sete poemas. Sete: número de ressonâncias bíblicas, número apocalíptico, número cabalístico – o número da perfeição! 
Tematicamente, seus poemas vão da evocação da natureza, com os elementos e os elementais – e a manifestação de uma acentuada consciência ecológica, de uma integração com a natureza, de comunhão com o universo –, para o clima lírico-amoroso, o erotismo, os problemas urbanos, a crise planetária. A propósito, particularmente, de encantamento ante as belezas naturais e de preocupação com a degradação ambiental, recolho confissão exarada em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Poesia – Casa de Raul de Leoni, de Petrópolis, em setembro de 2007: 
“O primeiro poema de que me lembro, que me marcou e que li para algumas pessoas, chamava-se ‘Crepúsculo no Arpoador’. Eu devia ter uns doze ou treze anos, e a natureza estava presente com a sensação com que ela me agitava interiormente, desde o título. .... Confesso que tenho medo de lá retornar, e encontrar tudo sujo, abandonado, como tudo parece estar-se deteriorando em meu amado Rio de Janeiro.” 
Não se trata, entretanto, de uma poesia ingênua, e sim, conforme disse e repito, de uma poesia de pensamento (mas de um pensar que incorpora o sentir), sempre e sempre interessada nos problemas do homem, suas misérias, suas lutas, seu destino cósmico, no anseio de paz que palpita no coração dos humildes. Retomo a palavra do poeta, no referido discurso: 
“O sentimento poético esboçado por escrito em forma intuitiva levou-me à curiosidade pela Poesia nos livros, sobretudo dos modernistas, que me encantaram. (...) E não era só a obra integral de García Lorca que eu comprara e sempre relia. Integrais também eram as edições das obras de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Jorge de Lima, Mário de Andrade, Paul Verlaine, Arthur Rimbaud, Guillaume Appolinaire, Luís de Camões, T. S. Eliot, etc. Na época ainda eram importantes os suplementos literários dos periódicos. E, a par dos poetas do passado e mestres das últimas gerações, eu acompanhava o que se fazia de vanguarda.”

Tudo isso marcado, continuava, como continuo a dizer, pela onipresença da música, já nos ritmos, já nos temas, ora na forma de citações musicais, ora na de poemas postos em pauta por compositores notáveis, presença essa que envolve numa aura superior as suas permanentes intenções humanísticas. Neste passo, valho-me novamente do depoimento de nosso aedo, num trecho elucidativo de alguns aspectos de seu processo de criação: 

“Confesso que a minha primeira paixão artística foi a música. A ideia de poesia estava em mim, em meu namoro com a natureza e tudo que me cerca, como já observei. Mas, ao pensar primeiro nesta relação poética com o mundo através de uma forma, foi a música que primeiro me apareceu. E quando decidi não mais estudar música, após os primeiros passos dados na adolescência, e voltar minha emoção artística para a poesia, esta me saía como se fosse composta de sons melódicos e rítmicos. Até hoje, confesso, muitas vezes acordo com versos e mais versos me atormentando, onde o ritmo e a melodia das palavras parecem-me mais importantes que seus significados. Às vezes eu tenho de me concentrar e organizar um significado para aproveitar o som das palavras...” 
Palavras que devem ser temperadas com outras do próprio Gerson, ao salientar como, no amadurecimento de sua arte, 
“as questões ambientais se tornam mais agressivas e a reflexão sobre o mundo de hoje aparece de maneira a procurar dar um pouco mais de sentido à Poesia, que nos tempos atuais, nos excessos das metáforas e influências surrealistas, afastaram tanto o público de seu convívio, apresentando-se como uma alienação completa, algo que perdeu todo elemento concreto de ligação com a realidade”. 
Alienação – prossegue – com que 
“a Poesia se faz abertamente inútil neste mundo, abrindo margem a ser esquecida”, 
para concluir, incisivo: 
“Eu integro o grupo de autores que ainda considera o lirismo como um significado imanente do ser humano, e, assim, de fundamental importância para o equilíbrio de nossa integridade passada tanto no plano do cotidiano como da transcendência (...) o poeta não veste sapatos trocados como um idiota, nem se dirige assobiando para um precipício.” 
Apresentadas as considerações do poeta sobre o próprio fazer, gostaria de convocar agora as de um de seus ilustres críticos, o também poeta e tradutor Fernando Py, a respeito de sua poesia anterior, no discurso com que o recebe na Casa de Raul de Leoni. Comentando os dois primeiros volumes de poesia de Gerson Valle, Confetes de Muitos Carnavais e Passagem dos Anos, diz o autor de Antiuniverso que eles “mostram um poeta de muita sensibilidade”, capaz de “captar os ‘estados de alma’ em ocasiões próprias”, mas pondera que o “maior domínio da expressão e da técnica do verso” viria com o terceiro livro, Aparições, de 2001. Sobre esse e o seguinte, diz mais: 
“Aí, sim, temos um poeta amadurecido, já senhor da técnica e do seu instrumental expressivo, pois os dezesseis anos que passou sem publicar lhe valeram como um período de formação definitiva, importante para a sua poesia daí para a frente. Em Aparições, Gerson Valle se faz notável pela capacidade de extrair poesia de toda e qualquer circunstância. A isto soma-se o seu grande sentido rítmico e melódico do verso – já visível nos livros anteriores, mas sem a mesma força poética –, o senso perfeito de valorização da palavra, com boa adequação e combinação de prosa e verso. 
É curioso assinalar que todos os seus volumes de poesia estruturam-se em sete partes de sete poemas cada. No quarto livro, Vozes trazidas pelos ventos (2005), tal estrutura é mais ostensiva e as partes são denominadas “Livros”, referindo-se cada qual a um tema. Assim, os sete poemas de cada parte possuem coesão maior, visto estarem referidos ao tema que rege cada parte do volume. Contudo, a sétima parte, “Do livro das lendas”, abrange apenas um texto, um dos melhores do livro, o belo poema em prosa “Árvores geminadas”, que recria com desenvoltura e filosofia uma lenda indígena. Note-se que vários poemas seus já foram traduzidos para o francês, o alemão (na Áustria) e o italiano.” 
Permita-se-me alguma variação em torno do que tenho exposto. Um dos traços que desejo apontar na poesia de Valle é a sua genuinidade. Ele não pretende criar nenhum movimento literário, não se arvora em fundador de nenhuma corrente, não faz preceder seus poemas de eruditas e especiosas artes-poéticas – não é a isso que me refiro; quero dizer que, sob sua aparência de simplicidade – dessa bandeiriana simplicidade que oculta um vasto conhecimento dos meandros de sua arte –, se pode perceber nessa poesia uma face peculiar, uma dicção sui generis, um conjunto de qualidades (talvez não facilmente discrimináveis) que a tornam distinta e fazem o poeta, lida uma recolta, de pronto reconhecível nas subsequentes. É esse um traço comum a toda a sua obra poemática, de modo que, do primeiro ao presente volume, e apesar da visível depuração e ascensão qualitativa, se consegue estremar uma identidade. Em suma, é poesia que tem uma cara e um caráter. 
 
 
E estamos no degrau sétimo, “Ciclo de Minhas Aparições”. “O Segredo de Zeus” e “Dentro da Mata Densa” me parecem os seus poemas-chave. Aquele diz da necessidade do obscuro, do mistério... a necessidade de imaginar, de descobrir, de criar: 
Se algum dia abrir-se a caixa 
e dela pular a magia 
– nossos mistérios não resolvidos – 
meus passos passarão 
para o expurgo dos exílios. 
Lá estava minha canção preparada 
a não ser senão a esquecida. 
Sua aparição me confunde, 
me deixa sem mim. 
Necessidade – interpreto – de não saber o todo, isto é, de não o iluminarmos com o claro sol de nossa ciência, todavia enganoso, e assim nos furtarmos à sedução do que não logramos ver. O outro, “Dentro da Mata Densa”: o todo no íntimo, a percepção do cosmo na densa mata do mistério humano – que é, afinal, o objeto desta grande construção poética. Pelo menos assim o quero ver, lembrando que o poema dá o título ao livro. Autopsicanálise e metapoética. E cosmogonia – o poeta como inventor de um universo. Ou de universos. 
Com os distinguir, a esses dois poemas, não excluo os demais. “Dúvidas da vida”, por exemplo, é aturada meditação sobre o ser e o fazer poético: “o conhecimento do poeta / não nos traz a luta interna / de todas as palavras recusadas”. 
Do mesmo modo “Luz Exponencial do Firmamento”: “Não são teus os segredos de Zeus, / poeta caminhante pelo caos de teu cosmo inventado.” / .... “Minha sombra também dança comigo.” // .... “a sua [do poeta] maestria / faz de tudo poesia”. Entre os mistérios de que se cogita, eleva-se o mistério da poesia, do poeta capaz de “encontrar o firmamento / na abertura de sua alma plena” e que “inteiro se integra / na luz exponencial do firmamento”. 
Em “A Despedida”, finalmente, o desconhecido, a morte, a renovação dos ciclos. 
 
 
E voltamos ao início – “A Escalada”. Sumariemo-la poema por poema (com a ótica de uma interpretação pessoal, que não se pretende definitiva). 
Abre-a esplendidamente “Coro Grego” – a partida para o Desconhecido, combatendo amarras e conformismo. 
“A Caminhada” – outro relevante poema, figura a marcha do andarilho sob o comando “das vísceras”.
“Ao Lado das Iaras e Sacis” – os refrigérios da Natureza, amenizando os rigores da marcha. “O verde alegra o espírito das matas”. 
“Momentos do Medo” – a dúvida: vale a pena a busca, a caminhada? 
“A Estrada” – soneto dialético: recuar para fortalecer-se, parar para tomar fôlego; depois, já sem temor, “ver a estrada e partir”. 
“Trágico Triunfo de Sixtus Beckmesser” – ainda o andarilho, agora artista, poeta, mas sempre o homem, contra “o trágico triunfo dos modismos destrutivos”. 
Enfim, o “Velho Alpinista”, no topo da escalada – a conquista de si mesmo. 
 
Com este livro, Gerson Valle – o poeta e o homem – prossegue a própria ascensão, transcendendo os passos anteriores, atingindo um novo patamar, – que, por sua vez, será superado – símbolo da eterna busca do ser, no encalço de sua meta luminosa e obscura. A escalada: poética, humana e pessoal. 
Sendo este o seu quinto volume de versos, é de esperar venha por aí mais poesia, até pelo menos o livro sétimo, coerentemente com a heptatomia dos até agora publicados. Mas esperamos que o poeta rompa então essa coerência e ultrapasse, para gáudio de seus leitores, a magia do número sete.

sábado, 20 de março de 2021

MEDICINA E SEUS NOVOS RUMOS PÓS-PANDÊMICOS


Por José Carlos Gentili
Correspondência ao estimado Doutor Antônio Paulo Filomeno, apreciador das tainhas de Laguna, da antiga Província de Santa Catarina, cuja capital foi Destêrro, hoje Florianópolis (publicada originalmente no Blog Ponto de Vista gerenciado por Nelson Hermógenes de Medeiros Freire)

 
Meu cardiologista, como dizemos nós míseros moribundos clientes cardiovasculares! 
Sua costumeira generosidade e seu senso humanitário não foram compreendidos por alguns de seus pares, mais preocupados com o vil metal e esquecidos do alcance do juramento de Hipócrates. 
 
Recebi sua inquietante mensagem e dei-lhe resposta metafórica, aguardando paz e reflexão. Agora, na mansidão do trato justo e perfeito, digo-lhe, pela via do gênero epistolar, desde os tempos colegiais no vetusto educandário tedesco o centenário Deutscher Hilfsverein , quando se aprendia caligrafia e português culto e que o Tempo é o senhor das ações. 
E, por falar na Grécia Antiga, devo dizer-lhe que desde cedo absorvi as reflexões aristotélicas, que tratam da catarse efetiva purificação filosófica. 
Saber ouvir e guardar silêncio é exercício da maior magnitude a integrar o universo infinitesimal da amizade sincera. 
Quando você ouve os clamores e as vicissitudes do próximo, e guarda-os no escrínio da quietude, você presta dois ambivalentes serviços: o primeiro, permitir que as descargas emocionais se esvaiam pelo para-raios daquele que ouve, numa espécie de polo de “descarrego”; o segundo, torná-lo receptivo à reflexão para retorno ao equilíbrio comportamental. 
Num dos meus livros José Carlos Gentili, um cidadão do mundo , que é a primeira fotoautobiografia do país, secundada pela obra de Clarice Lispector, inicio com um meu aforisma, assim: “CULTIVO AMIGOS E POESIA, QUE MANTÊM VIVAS AS NOSSAS ILUSÕES”. 
Nos ritos de passagem, as ilusões são as últimas emanações a deixarem nossa alma! 
Os oragos helenos sempre exerceram esta função neuro-terapêutica, quando as pitonisas em seus oráculos, após ouvir as ansiedades dos viandantes, proporcionavam orientações que, muitas vezes, tornaram-se, com o passar do tempo, inequívocas predições. O Oráculo de Delfos, na época de uma pandemia, orientou a exumação dos cadáveres e o sepultamento na ilha próxima de Reneia. 
 
Agora, meu caro amigo, após o processo catártico, você examinará a questão sob outro prisma, verificando que a estratégia comanda as ações na busca de atingimento de objetivos. 
Acompanha-se seu belíssimo projeto, oportunidade em que lhe ofereço a edição na Revista Científica e Cultural – RCC, distribuindo-a a gregos e troianos, em português, espanhol e inglês, afim de que suas ideias sejam divulgadas, erga omnes, como diziam os latinos. 
A telemedicina avança a passos largos com o desenvolvimento da inteligência artificial, deixando estratificados aqueles médicos consolidados em estruturas arcaicas, corporativistas, associativas, alienadas dos princípios basilares da fraternidade, oportunidade em que reavivo a Carta aos Filipenses, de seu homônimo Paulo, apóstolo do Rabi. 
Esta pandemia tem mensurado espíritos na órbita do servir ao próximo. 
O Tempo dirá!


Colaborador: JOSÉ CARLOS GENTILI

 

JOSÉ CARLOS GENTILI, porto-alegrense, nascido a 30 de maio de 1940, pioneiro de Brasília, advogado, jornalista, empresário, historiador, romancista, conferencista e poeta. 

Tem mais de trinta obras publicadas, entre as quais Tempos de Versos (1983); Galo do Apocalipse (1985); Vôo Sideral (1991); Izabel Maria – Duqueza de Goyaz (1995); Quintal do Universo (1996); Um Quarto de Hora (1998); Patrimônio da Capela (2000); Agonia da Solidão (2002); Vastidão do Nada (2005); A Igreja e os Escravos (2006); Fiat Lux – Villa do Acarape, Precursora da Liberdade (2008); Estelo do Mipibu (2009); Orígen de las Almas (2009); José Carlos Gentili - Um cidadão do mundo (2010); Academia de Letras de Brasília: trinta anos de fundação (1982/2012) (coautoria com Romildo Teixeira de Azevedo e Tarcízio Dinoá Medeiros – 2012); Lagoa dos Cavalos (2012); Orígen de las Almas (2ª. ed., 2013); Universo do Verso (2015); A Infernização do Hífen (2015). E, ainda: Cultura de Alpendre; Aldeia do Bispo; Bolsa de Pastor; Terras de Lava; Os Bicentenários da Inconfidência Mineira e da Revolução Francesa. Na área jurídica, publicou Os Bancos de Dados na Sociedade de Consumo e o Código de Defesa do Consumidor (2008). 

Também deu a lume poesias, ensaios e ficção em obras coletivas – da Academia de Letras de Brasília: Quintal do Universo; Galo Apocalíptico e A gala do Galo, in Galos da Academia. Coletânea (2013); Literatura e Insularidade: Registros Literários em Mendoza e Brasília, in Pan-americanismo Literário. Encontro Brasília-Mendoza (2013); Brazil – Que Paiz é Este, in Coletânea 2013; Arte de Furtar, in Coletânea 2014; Educação de um Povo: Transcendência Intelectual, in Coletânea 2015; – de outra entidade: O Nascimento, in Bar do Escritor – Tomo IV (2013). 

Fez curso de inglês na Georgetown University. É diplomado pela International Police Academy (Washington, USA) e pela Border Patrol (Texas, USA). Tem estudos em Economia e em Matemática Superior pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Curso de Direito em Brasília e Anápolis, onde, aliás, exerceu magistério superior. 

Ingressou na Academia de Letras de Brasília em 10 de outubro de 1989. Foi seu Diretor-financeiro por dezessete anos e seu Presidente por oito anos. 

Por seus relevantes serviços, em Assembleia Geral Ordinária, realizada a 30 de junho de 2016, foi-lhe dado o título honorífico de Presidente de Honra Perpétuo da Academia de Letras de Brasília. 

Integra a Academia das Ciências de Lisboa, como correspondente brasileiro; é Membro Patrono da Associação Internacional dos Colóquios de Lusofonia, com sede em São Miguel, nos Açores; e faz parte do Conselho-Geral do Museu da Língua Portuguesa de Bragança. 

Faz parte dos quadros, também, das seguintes outras entidades culturais – em Brasília: Casa do Poeta; Associação Nacional dos Escritores; Centro de Estudos Linguísticos da Língua Portuguesa; Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal; – em Natal: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. 

Foi o criador e o primeiro presidente da Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal; e, também, presidente do Clube dos Pioneiros de Brasília. 

É verbete no Dicionário de Escritores de Brasília, de Napoleão Valadares (2012). 

E se autodefine como Apaixonado pela Capital da Esperança, pela Cultura e pela Educação!

Fonte: http://acleb.blogspot.com.br

terça-feira, 2 de março de 2021

Colaboradora: GABRIELA ZVER

GABRIELA ZVER nasceu em Lendava, Eslovênia em 1972. Graduou-se em 1996 na Faculdade de Educação da Universidade de Maribor nas línguas e literaturas eslovena e húngara. Em seguida, continuou seus estudos universitários em nível de pós-graduação e obteve o grau de Mestre em Ciências Literárias em 2004 na mesma Faculdade. 

Desde 1995 ensina esloveno (língua e literatura) na Escola Secundária Bilíngue de Lendava. Ela foi mentora de um dos jornais da escola, cuidou do clube de tradução e conduziu algumas noites literárias com os alunos; também trabalhou com alunos em projetos internacionais relacionados à cooperação com escolas ao redor do mundo (Global Teenager Project) e Children's Rights, nos quais tentou introduzir a atenção plena na lição (Mindfulness). 

Adora arte em geral: a cada dois anos, anuncia um concurso para alunos de doodles artísticos relacionados a escritores e suas obras. 

Escreveu artigos sobre experiência pedagógica em várias revistas profissionais. Alguns desses artigos também foram publicados em seu blog Življenje je potovanje ou Life is a Journey (https://poti-pisav-g-zver.blogspot.com/

Já como estudante, ela se dedicou à tradução literária e com as suas traduções de Endre Kukorelly (escritor húngaro) recebeu o Prêmio Internacional de Literatura Vilenica, seguido pela tradução de seu livro A Memória-part, em húngaro (Obrežje spomina, em esloveno). Também fez a tradução de um livro sobre a criação do famoso artista gráfico de Lendava, István Gálics (autor: István Hagymás), duas peças de rádio e muitos trechos de obras de autores húngaros contemporâneos. As traduções foram publicadas em revistas literárias eslovenas de renome. 

Nas horas vagas, cantou ativamente por 20 anos em dois coros de câmara, também laureados em competições internacionais. 

Gosta de fotografia e viagens e escreve travelogues (publicações em revistas e online como um blog: https://gabriela-zver-travel.blogspot.com/).