segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

FREI ORLANDO EM "O PORVIR", JORNAL DOS ALUNOS DO GINÁSIO SANTO ANTÔNIO


I.  INTRODUÇÃO, por Francisco José dos Santos Braga


Tenho a honra de ser um dos felizes destinatários da mensagem diária intitulada "Evangelho Quotidiano", fruto da diligência do são-joanense Capitão José Lourenço Parreira. Hoje, particularmente, escreveu uma mensagem muito propícia a respeito da efeméride referente à data de 13 de fevereiro, que trago à apreciação do meu leitor: 
 
"Celebra-se, no dia de hoje, o Dia do Serviço de Assistência Religiosa do Exército. Escolheu-se esta data porque foi no dia 13 de fevereiro de 1913 que nasceu FREI ORLANDO, o Patrono do SAREx.

Como bem sabemos, Frei Orlando foi um padre franciscano, que, após ordenado, foi trabalhar na cidade mineira de São João del-Rei.

Nessa histórica cidade encontra-se o Regimento de Tiradentes que lutou na II Guerra Mundial, na Itália.

Frei Orlando foi para a guerra como Capelão desse Regimento. Faleceu, vítima de disparo acidental de fuzil de um italiano da Resistência anti-nazista.

A mais completa biografia de Frei Orlando foi escrita pelo Tenente Gentil Palhares que, também, foi lutar na Itália, na II Guerra Mundial.

A CANÇÃO DO SAREx tem letra do Coronel Capelão Euclides J. da Silva e 1º Ten Cláudio José Kirst. A música é de autoria do Capitão Regente Benigno Parreira. Este é afilhado de Crisma do Ten Gentil Palhares. Também o Capitão Benigno Parreira nasceu num dia 13 de fevereiro e, atualmente, é um dos Maestros da Orquestra Lira Sanjoanense, a mais antiga orquestra das Américas e a segunda mais antiga do mundo."

              CANÇÃO DO SAREx

Ide por toda a parte, aos homens ensinai,
Pelo Evangelho, meu rebanho congregai.
É a voz do Mestre e Senhor no caminho
Aos pastores d'almas na caserna ordenando.

Orlando, o Frei, concretizou o mando
Com sua vida pelos outros derramada
Destemido foi ao Mestre respondendo
Exemplo lídimo aos capelães legando.

Ide, junto aos Soldados,
Minha mensagem salvífica levai.
Aos militares e famílias,
Minha Palavra anunciai.

Capelães militares, integrantes do SAREx
Dos pátrios rincões distantes vêm servir.
Eis na nossa Força a meta traçada.
Dedicação total, graça por Deus doada. 


Tomo a liberdade de parabenizar o SAREx e o autor da melodia do seu belo hino acima citado, pelo transcurso de mais um ano de existência profícua em prol da Pátria brasileira. 

Lembro que será respeitada a grafia de todos os textos utilizados neste trabalho.


II.  TEXTO DE FREI ORLANDO SOBRE FUTEBOL, ESTAMPADO NO JORNAL "O PORVIR", PUBLICAÇÃO DOS ALUMNOS DO GYMNASIO SANTO ANTONIO 
 

A edição nº 276 do jornal O PORVIR, tendo como Diretor o Prof. Domingos Horta, noticia a chegada de Frei Orlando ao Ginásio Santo Antônio para atuar na direção espiritual dos alunos, no artigo intitulado "Frei Orlando A. da Silva", conforme transcrevo abaixo: 

FREI ORLANDO A. DA SILVA 
"Acha-se entre nós e aquí passará a residir o Rvmo. Pe. Frei Orlando Álvares da Silva, que veio exercer o cargo de diretor espiritual dos nossos educandos. 
Frei Orlando, que é o primeiro sacerdote brasileiro da Província Franciscana Holandesa, descende de ilustre família de Abaeté, neste Estado. 
Na direção espiritual dos nossos alunos, o jovem sacerdote terá campo vasto para por em relevo os seus predicados de apóstolo, de filho de S. Francisco, contribuindo, assim, para o engrandecimento desta Casa. 
Seja benvindo o ilustre sacerdote! 

Fonte: O PORVIR, São João del-Rei, Ano XVI, Edição nº 276 de 17 de outubro de 1938, p. 3.


Já na próxima edição do jornal O PORVIR, que apareceu a 23/10/1938, uma semana depois da notícia de sua chegada ao Ginásio Santo Antônio, Frei Orlando escreveu um artigo com o título "Heróis", numa edição especial em que se homenageava Frei Rufino Peters, Diretor.

HERÓIS

Toda a cidade estava em grande reboliço. Homens, mulheres, rapazes e moças andavam em lufa-lufa em direção à estação local. Um bando de moleques maltrapilhos brigavam pelas varetas dos inúmeros foguetes que estouravam nos ares límpidos daquela cidade altaneira. O jazz-band "A voz do sabiá" executava uma marcha de célebre compositor, enquanto a turbamulta, pouco se incomodando com as regras da música, guinchava com toda a força: 
"Ipe, ipe, hurra! 
O Vasco tomou uma surra!!"  
Outros quase rebentavam os bofes improvisando a letra para uma melodia qualquer: 
"Tomou, João! 
Tomou, Negrão! 
E o Pavão 
É campeão!!" 

Santa Cruz! que zueira infernal!

Um roceiro, em pé, na esquina do Bar do Ponto, não poude deixar de exclamar de si para si: 
— Que forrobodó danado!" 
Todo esse barulho em honra dos valentes craques do Pavão Foot-ball Club (abreviado P.F.C.),  que voltavam vitoriosos do interestadual do Rio.

E não era para menos a alegria dos cidadãos de X. O próprio Rio de Janeiro estava vencido pela fôrça insuperavel do P.F.C.!!

Agora era o Dr. Pernalta que lhes dirigia "singelas" palavras, exprimindo-lhes os sentimentos de todos os seus concidadãos. Rábula que era, sabia perfeitamente expressar-se: 
"Eis aí, minhas senhoras e meus senhores, a glória da nossa terra: este grupo de valentes lutadores pela honra de X, os quais demonstraram aos olhos incrédulos da Capital Federal o quanto pode o povo forte e ordeiro das Altaneiras. Sim, não resta dúvida, são heróis verdadeiros, grandes beneméritos de todo o Estado, estes onze batalhadores invenciveis..."
 Heróis... Beneméritos... Vejamos.

O primeiro da direita, com uma brecha na cabeça e um arranhão no rosto, mostra que não é brinquedo na linha do centro.

O seguinte tem uma denúncia na delegacia municipal e espera-se terminar a festa para... fazê-lo descansar em lugar seguro!

O terceiro com o narizinho arrebitado, vermelho como uma romã, não é de hoje que conhece a força do mata-bicho.

O primeiro da segunda fileira, à esquerda, é da categoria daqueles, cujas palavras e ações devem ficar longe de um bom cristão.

E o orador continuava o seu panegírico: 
"Meus senhores e senhoras, eis a flor da nossa juventude, o exemplo dos nossos filhos..." 

Quase não podia continuar porque, a cada passo, era interrompido por uma salva de palmas e vivas sem fim. A multidão parecia enlouquecida.


✯    ✯



Atrás daquele bando de tarados, passava, andando calmamente, um frade de longas barbas, com os olhos fundos onde se lia a expressão de grande cansaço.

A molecada ri. Um grupo de rapazes caçoa. Chovem os epupos. Ouve-se alguem gritar bem alto:

" Segura ferro que isola."

Outro marmanjão, querendo fazer-se de engraçado, pergunta às crianças: 

"Vocês querem aquela viuva para vocês?"

Um outro apanha uma laranja podre que estava ao longo do passeio e joga-a na cabeça do frade.

Era um missionário que trabalhara dez anos na cristianização e civilização dos índios Chavantes do Tocantins. Enfraquecido pelas inúmeras privações do seu duro trabalho, viera ele recuperar suas forças em um hospital da cidade, para depois continuar a sua obra civilizadora.

Assim honram os homens os heróis da civilização, os beneméritos da Pátria.

    Fr. Orlando

Fonte: O PORVIR, São João del-Rei, Ano XVI, Edição nº 277 de 23 de outubro de 1938, p. 2. 


III.  AGRADECIMENTOS 


Agradeço ao são-joanense Capitão José Lourenço Parreira, no geral, pelo belo trabalho de apostolado que desenvolve com muita dedicação e, no particular, pelo envio da belíssima efeméride para a data de 13 de fevereiro; agradeço ainda ao saudoso são-joanense Luiz Antônio Ferreira, o "Irmão" (⭐︎ 2/2/1949 ✞ 5/3/2015), o fornecimento das duas matérias em edições de "O PORVIR", aqui transcritas.