sexta-feira, 30 de julho de 2021

PRIMAVERA È TORNATA


Por Francisco José dos Santos Braga 
 

 
 
Tenho o prazer de apresentar neste post o trabalho de Licurgo Leão Silveira, regendo o Coral Nossa Senhora de Fátima (1966-1989) de Divinópolis, numa época favorável ao desenvolvimento do canto coral polifônico. Registro a participação da menina cantora Rute Pardini neste coral desde a sua infância até a juventude. Reproduzo aqui as palavras do próprio regente sobre a canção "Primavera è tornata": 
"Essa canção foi inserida na Coletânea de Cânticos intitulada JUVENILIA (p. 170-2), elaborada pelos Salesianos de Dom Bosco, de quem, com muito orgulho, fui aluno. Foi executada no Festival de Corais de Divinópolis de 1973 ou 1974; não me recordo mais com precisão da data. Nessa época o Coral Nossa Senhora de Fátima contava com cerca de 50 meninas cantoras; a maior parte delas tinha entre 7 e 14 anos de idade. 
É uma canção de difícil execução para coral infanto-juvenil: tem uma extensão muito grande (são duas oitavas completas); há vários acordes dissonantes; começa com um acorde de sétima menor com a terça no baixo... (para quem gosta de detalhes). 
Quando mostrei essa canção para as crianças e falei do trabalho que teríamos, elas se dispuseram a se empenhar para a sua apresentação. Foram vários meses de ensaios fazendo (cantando) escalas e mais escalas até alcançarmos o nosso objetivo. Na primeira voz, quase todas as meninas, cerca de 25, tinham menos de 12 anos de idade. Ouvindo com atenção, é possível perceber através do timbre das vozes. A gravação, que só foi transformada em CD após cerca de 30 anos, foi feita nos mesmos moldes das anteriores. A sonoridade fica melhor quando ouvida com volume mais baixo."
Primavera è tornata – 3 vozes iguais 
Compositor: Virgilio Aru (1881-1950)
(Edit. Edizioni Carrara, Bérgamo, Itália)  
 
Clique no link: https://youtu.be/fjuJZPJz5VU  👈
 
Letra
O primavera che natura in fiori; 
o rondinella che festosa ritorni: 
inebria la giovinezza e i cuori. (BIS) 
 
(Inebria la giovinezza e i cuori! la, la) 
 
Trad.:
Ó primavera que és natureza em flores;
ó pequena andorinha que festiva voltas:
inebria a juventude e os corações. (BIS)
 
(Inebria a juventude e os corações! la, la)

quinta-feira, 22 de julho de 2021

CAFÉ COM PROSA ESTÁ TRISTE


Por Francisco José dos Santos Braga 
A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais. Epicuro



Motorista Rômulo Braga Vieira e o casal Luiz Miranda de Resende e Lourdinha de Souza

  
Entre Rios de Minas, cidade que está distante de São João del-Rei 69 km por estrada, brilhou no cenário nacional no final do século passado e início do atual, quando um de seus filhos, CARLOS Mário da Silva VELLOSO, foi ministro do Tribunal Federal de Recursos, ministro nomeado e presidente do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. Só a título de curiosidade, esse ilustre cidadão de Entre Rios de Minas que nasceu em 19 de janeiro de 1936, filho do então promotor de justiça Achilles Teixeira Velloso e de Dª Maria Olga da Silva Velloso, concluiu com aproveitamento o curso ginasial no Colégio Santo Antônio de São João del-Rei, em regime de internato. Esse educandário dirigido por freis holandeses e professores de excelência comprovada se destacou como um dos mais bem aparelhados do interior de Minas Gerais com laboratórios de Química e de Biologia à disposição do corpo discente, excelentes acomodações e rigoroso acompanhamento do ensino das disciplinas obrigatórias. 
 
Mas agora, tomando nova direção para não falar apenas de amenidades, embora a notícia tenha a ver com Entre Rios de Minas, devo confessar que ela não é tão agradável quanto indicava o parágrafo que abre esta matéria. 
 
Levando em conta o carinho para conosco do proprietário do restaurante Café com Prosa, um dos mais tradicionais das rodovias de Minas Gerais e localizado às margens da Rodovia MG-383 Km 38,5, em Castro, distrito de Entre Rios de Minas, a meio caminho entre São João del-Rei e Belo Horizonte, não posso deixar de noticiar com pesar que deixaram o nosso convívio no dia 20/07/2021, de forma trágica num acidente automobilístico, quando sua caminhonete "blazer" trafegava na BR-040 na altura de Itabirito, o empresário Luiz Miranda de Resende e sua esposa Lourdinha de Souza, bem como seu motorista Rômulo Braga Vieira. O proprietário Luiz Miranda tinha sempre um dedinho de prosa conosco, aproximando-se sorridente de nossa mesa e sempre demonstrando alegria com nossa presença, solícito e bem-humorado, na busca de reduzir a distância imposta pelo respeito natural entre proprietário e cliente. Diante do ocorrido, darei a seguir a todos os admiradores de Luiz Miranda algumas informações que certamente aumentarão a sua admiração pelo nosso amigo. 
 
Luiz Miranda trabalhou durante vários anos em Itabira, ocasião em que atuou como chefe de segurança da Vale por muito tempo e se tornou bastante conhecido na cidade. Entre 1997 e 2000, foi prefeito de Entre Rios de Minas, o que levou a Prefeitura a emitir uma nota de pesar, destacando o "caráter visionário" do ex-prefeito e declarando luto oficial de três dias por seu falecimento. Foi também presidente da AMALPA-Associação dos Municípios da Microrregião do Alto Paraopeba no ano de 2000, quando esta realizou projetos de engenharia e de topografia em Entre Rios de Minas. Consta ainda que é proprietário e fundador da rádio Ouro. 
 
Luiz Miranda era também organizador das famosas Festas da Colheita (patrimônio imaterial de Entre Rios de Minas), que ocorrem no último final de semana de julho e tradicionalmente incluem cavalgada, torneio leiteiro, concurso de marcha, rodeio, exposição de equinos e bovinos, shows, desfile, missa campal, dentre outros. Infelizmente, pela 1ª vez, após 60 anos ininterruptos, no ano de 2020 não foi realizada a Festa da Colheita devido à pandemia. Para essa tradição não ficar na saudade, a Secretaria de Cultura de Entre Rios de Minas preparou uma homenagem por meio de um vídeo com depoimentos de várias pessoas que abrilhantam a Festa. Participaram com seus depoimentos do vídeo de 2020 os seguintes protagonistas: Adauto Gonçalves (fotógrafo da festa desde 1983), Zé Bernardinho (do Desfile de Carros de Boi), Roberto José Lima (produtor rural de Pedra Negra), Pe. Ildeu da Cruz Sílvio e Pe. Jackson de Souza Braga, respectivamente pároco e vigário da Paróquia N. Sra. das Brotas (celebração eucarística), José Sérgio Hermógenes (domador de equinos), Francisco Freitas (peão de rodeio), André Oliveira, o "Vovô" (guia turístico), Gabriel Marzano e Émerson Fonseca (músicos). 
 

segunda-feira, 19 de julho de 2021

PARTE O IMORTAL JORNALISTA EDUARDO DE ARAÚJO BRITO...


Por Francisco José dos Santos Braga 
  
A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais. Epicuro

 

A morte, nossa "companheira inseparável" em conhecido soneto, "Versos Íntimos", de Augusto dos Anjos (de 1912), já ceifou quatro imortais da nossa Casa das Letras neste ano de 2021: o reverendo Pe. Ramiro José Gregório, vigário da Paróquia da Catedral Basílica do Pilar, diretor da Fundação Memorial Dom Lucas Moreira Neves e mestre em liturgia pela Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma (ocupante da cadeira 32), deixou-nos em 17/04; Dr. Alair Coêlho de Resende, letrado resende-costense com ressaibos de historiador, orador oficial da Academia de Letras durante anos (cadeira 2), em 26/04; Maria Aparecida de Souza Coelho, ex-secretária (cadeira 14), em 10/05; e Eduardo de Araújo Brito, editor e proprietário do jornal Tribuna Sanjoanense (cadeira 22), em 18/07. Em último adeus a esses Imortais temos pranteado sentidas lágrimas e entoado nossos cantos fúnebres, enquanto os sinos badalavam sua despedida deste mundo. Mas hoje gostaria de falar sobre a passagem do jornalista Eduardo Brito. Estamos ainda estupefatos com a notícia de que ele morreu vitimado por infarto fulminante na tarde de ontem, deixando em nosso peito imorredoura saudade.
 
Eduardo de Araújo Brito - Crédito: Antonio Silva
 
Assisti, através de "live" naturalmente, à sua apologia de ADENOR SIMÕES COELHO, patrono da Cadeira nº 22 que estava ocupando, o qual, da mesma forma que o expositor, foi redator responsável pelo jornal "Ponte da Cadeia" até sua morte em 12/06/1970. Além disso, Adenor foi um dos vinte sócios-fundadores do IHG de São João del-Rei, o qual assinou a Ata de Posse em 1º de março de 1970. ¹
Embora eu tenha pouca coisa a comentar sobre meu saudoso confrade devido a nossa escassa convivência, tenho o dever de dizer que não tive tempo de agradecer-lhe, mesmo virtualmente, na próxima reunião da nossa Academia, a publicação em 16/07/2021, em sua folha de grande capilaridade empresarial na Região das Vertentes, de meu "texto apresentado em homenagem ao Patrono do ano de 2021 do IHG de São João del-Rei, Sebastião de Oliveira Cintra, na reunião de 04/07/2021" (subtítulo). Com o título "Sebastião de Oliveira Cintra por ele mesmo, na minha visão", devo reconhecer que este foi um texto extenso, cobrindo o espaço de toda a página nº 3 do periódico Tribuna Sanjoanense. Disse-me a filha do meu homenageado, Profª Dra. Ana Maria de Oliveira Cintra, que se ocupou de fazer o contato com o diretor da Tribuna Sanjoanense para fins de publicação, ter ficado impressionada, não só com a rapidez que a matéria saiu, mas também com o cuidado com que Eduardo Brito reservou toda uma página do meio de uma única edição para a minha homenagem a seu saudoso pai. Comunicou-lhe o diretor do periódico que haveria o perigo de o leitor perder a conexão, caso dividisse o artigo em duas edições. Ficamos ambos maravilhados com o carinho dispensado ao texto pelo diretor do jornal Tribuna Sanjoanense, que, deixando-nos enlutados, partiu na data de ontem. 
 
Jornal Tribuna Sanjoanense, edição de 28/06 a 13/07/2021, Ano LII nº 1.501, p. 3.
 
Mesmo impossibilitado, pela força do destino, de externar meu agradecimento de viva voz, com atraso — é certo — mas com enorme sentimento de gratidão, aqui penhoradamente agradeço o empenho que Eduardo Brito colocou no seu projeto editorial de divulgar a figura do sócio-fundador do IHG, Sebastião de Oliveira Cintra, a pedido de sua filha. 
 
 

II. AGRADECIMENTO
 

Agradeço carinhosamente à minha esposa Rute Pardini suas fotos bem como a sua edição e formatação para fins deste post. 
 


III. NOTA EXPLICATIVA 
 
 
¹  Eduardo Brito utilizou em sua Defesa do Patrono um texto saboroso de Adenor que eu havia publicado no Blog de São João del-Rei em 20/09/2016, intitulado Meu Tipo Inesquecível, acompanhado de um elogio fúnebre em homenagem a Adenor que lhe foi prestada por outro órgão da imprensa, o jornal "Minas Gerais", quatro dias após seu falecimento (16/06/1970). Ambas as matérias localizei no acervo do saudoso historiador Fábio Nelson Guimarães, prefeito de São João del-Rei, ao qual dei ampla divulgação.  
 
 

 

quarta-feira, 14 de julho de 2021

GENTIL VALE


Por Rosalvo Gonçalves Pinto 

 
 
Crônica publicada originalmente no Jornal das Lajes, coluna Causos e Cousas, em 12 de novembro de 2010. 
Gentil Ursino Vale - Crédito: Flávio Ramos, Presidente da ADL
    
Se existe um resende-costense que amou ao extremo sua cidade natal, este com certeza terá sido o Gentil Ursino Vale. Tendo se casado, em 1948, com uma moça de Passa Tempo, ele tentou, junto às autoridades e políticos locais da época, a transferência de sua mulher, professora primária, para Resende Costa. Não conseguiu, tendo que mudar-se para aquela cidade. Em uma de suas obras ele se queixa amargamente: “Resende Costa foi madrasta para com este filho, que a ama demais e que nunca a esqueceu”. 
 
Filho de Francisco Rodrigues Vale (Chico Cassiano, 1873-1927) e de Zita Agripina dos Reis (falecida em 1949), Gentil nasceu na Lavra, cercanias de Resende Costa. Teve uma infância um tanto atribulada, por problemas familiares. Com a morte de seu pai em 1927, Da. Zita se casou novamente em 1929 com o coletor estadual Joaquim de Melo. Com as naturais dificuldades de aceitação de um novo casamento, os filhos do casal se dispersaram e Gentil foi morar com seu irmão Onésimo, em Cel. Xavier Chaves. Em fins de 1930 voltou a morar com a mãe, em Resende Costa. Em 1934 foi estudar no Caraça, onde permaneceu até 1937. No ano seguinte, apresentou-se como voluntário ao 11º. Regimento de Infantaria de São João del-Rei. Em 1942 deixou o exército e foi trabalhar na Fábrica de Armas do Exército em Itajubá. Em 1948, casou-se em Passa Tempo com Maria Imaculada Faleiro (falecida em 1979), tendo tido com ela 11 filhos. Morou em Passa Tempo até 1956, trabalhando na agência local da Estatística, quando foi transferido para a agência de Divinópolis, como chefe da mesma. 
 
Enquanto esteve morando em Resende Costa, ele se destacou pela dedicação à cultura e à arte. Amante das letras e do teatro, com certeza uma herança da primorosa formação recebida no renomado educandário do Caraça. Gentil foi um dos protagonistas dos tempos áureos do teatro em Resende Costa nas décadas de 30 a 50. E lembrar esses tempos é lembrar os nomes do Agenor Gomes de Souza (avô do Agenorzinho Gomes) e do José Ramos. Sob a direção do Gentil foram encenadas as peças “Compra-se um marido”, comédia de José Wanderley; “O homem que nasceu duas vezes”, do Oduvaldo Viana, um dos maiores teatrólogos do Brasil; “Pertinho do céu”, de Mário Lago; “Deus lhe pague”, de Juraci Camargo; “A ditadora” e “A cigana me enganou”, de Paulo de Magalhães, entre outras. Essas peças eram levadas, sempre bem recebidas, às cidades vizinhas de Prados, Ritápolis e Dores de Campos. 
 
Vivendo em Divinópolis, dedicou-se à atividade do magistério de Língua Portuguesa e à arte de escrever. “Confidências do agreste” (1982), “Lamento da Terra Verde e outros contos” (1986) e “Clara fonte” (1990) foram algumas de suas produções em crônicas e contos. Destacou-se também como memorialista. A produção de suas memórias pessoais teve como objetivo, segundo ele, “tentar construir a perenidade para pessoas e coisas de minha terra”. Essas memórias compõem o trio “Escavações no tempo” (1984), “Ecos de ontem” (1989) e “Visões perdidas” (1991), nas quais ele recupera fatos, curiosidades, festas, costumes, personalidades de destaque e a vida simples e folclórica de inúmeros resende-costenses. “São lembranças que teimam em não morrer em mim”, lembra o escritor, abrindo “Escavações no tempo”. Poucos escreveram tanto sobre Resende Costa como ele, colocando-se ao lado do Prof. José Augusto de Resende, do Prof. Antônio de Lara Resende e do Mons. Nelson Rodrigues Ferreira. 
 
Foi, em 1961, um dos fundadores da Academia Divinopolitana de Letras, da qual foi o primeiro presidente. Tendo sido indicado para integrar a Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, de Belo Horizonte, tomou posse, excepcionalmente e para sua alegria, em Resende Costa, em 1984. Escolheu como patrono o Dr. José Vilela da Costa Pinto, médico e político por mais de 30 anos em Resende Costa, da qual foi prefeito na década de 40. Sua posse foi patrocinada e prestigiada, além da Academia que o acolhia, pela Paróquia Nossa Senhora da Penha (Pe. Nelson Rodrigues Ferreira) e pela Prefeitura Municipal (Prefeito Gilberto Pinto) e homenageado pela Associação Cultural Movimento Raízes, ainda atuante àquela época. 
 
Gentil abre sua obra “Visões perdidas” mais uma vez lembrando-se de sua terra natal. 
Que o passado de minha saudosa e amada Resende Costa, em determinada etapa de sua vida, continue vivo e atual para os que hoje lá respiram seus ares vivificantes e para os que ainda hão de vir, sucedendo-se no tempo”. 
E, confirmando ainda uma vez seu acendrado amor: 
São páginas de saudades, escritas com as tintas do coração”. 
(Agradeço ao Tomás da Tereza (o “Chefe”) a sugestão de escrever sobre a figura do Gentil Vale. “Era uma pessoa que amava muito nossa terra”, justificava-me o Tomás. E ele tinha razão).
 

 

II. AGRADECIMENTO
 

Agradeço carinhosamente à minha esposa Rute Pardini suas fotos bem como a sua edição e formatação para fins deste post.

Colaborador: ROSALVO GONÇALVES PINTO

 

Crédito: Academia de Letras de SJDR
ROSALVO GONÇALVES PINTO nasceu em Resende Costa, MG, em 1942. Paralelamente ao bacharelado em Filosofia (1961), licenciou-se em Letras Anglo-germânicas pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del-Rei (1962). Licenciou-se também em Teologia pelo "Studium Theologicum de Córdoba, adscrito a la Pontificia Universidad Católica de Argentina (1969)". Fez o curso de especialização em Linguística na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Realizou seu mestrado, na mesma área, na Universidade de Brasília-UnB (1991). Trabalhou por dez anos no projeto de criação e consolidação do ensino superior em Governador Valadares, como professor, chefe de departamento e diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, participando do processo de implantação da Universidade do Vale do Rio Doce (Univale), da qual foi vice-reitor. Transferindo-se para Brasília, integrou o Centro de Desenvolvimento de Apoio Técnico à Educação (CEDATE), do Ministério da Educação, atuando na área de projetos técnicos de infraestrutura das redes de escolas técnicas e de universidades federais, executando projetos financiados pelo BIRD e BID, e por acordos com a França, a Alemanha Oriental e a Hungria. Foi, por concurso, professor do Departamento de Linguística da UnB. Também por concurso público de provas e títulos foi, por nove anos, consultor legislativo do Senado da República. Fixando-se em Belo Horizonte foi, por seleção de experiência e títulos, professor de Línguística da PUC Minas. Atualmente é professor voluntário-colaborador na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (FALE/UFMG). É sócio-diretor de redação do Jornal das Lajes de Resende Costa, MG, desde 2003, no qual escreve regulamente como colunista (crônicas). É membro efetivo da Cadeira nº 13, patroneada por Manuel Inácio da Silva Alvarenga, da Academia de Letras de São João del-Rei. Dentre vários livros que escreveu, destaca-se: Os Inconfidentes José de Rezende Costa (pai e filho) e o Arraial da Lage (2014), 2ª edição, Coleção Lageana, Resende Costa: AMIRCO, 488 p.



1ª orelha (da capa)


 


sábado, 10 de julho de 2021

A PRESENÇA DA MORTE NA POESIA

 
Crônica do  Acadêmico Prof. Sebastião de Oliveira Cintra, publicada no Anuário 1982 da ABL-Academia Barbacenense de Letras, p. 78-80.
(São João del-Rei - 1918-2003)


  

Embora tema desagradável, a morte sempre esteve presente nas produções literárias de vários poetas. Não alimentamos pretensão de estudar o assunto com profundidade, tarefa impossível em crônica de reduzidas proporções. De António Joaquim de Castro Feijó, português que nasceu em 1862, o poema intitulado "Pálida e Loira": 

Morreu. Deitada no caixão estreito, 
Pálida e loira, muito loira e fria, 
O seu lábio tristíssimo sorria 
Como num sonho virginal desfeito. 
 
Lírio que murcha ao despontar do dia 
Foi descansar no derradeiro leito, 
As mãos de neve erguidas sobre o peito, 
Pálida e loira, muito loira e fria... 
 
Tinha a cor da rainha das baladas 
E das monjas antigas maceradas, 
No pequenino esquife em que dormia... 
 
Levou-a a Morte em sua garra adunca! 
E eu nunca mais pude esquecê-la, nunca! 
Pálida e loira, muito loira e fria... 
 
Num livro antigo encontrei anotação manuscrita, que define sentimentos fúnebres: "A melancolia é como o pálido goivo despencado de uma grinalda mortuária". A expressão "Inês é morta", de uso freqüente, exprime fatos comuns de conhecimento geral. João Batista Gomes em "Nova Castro" estampou em verso: "Morreu Inês mais bela do que as flores..." 
 
Jorge Rodrigues publicou no periódico sanjoanense "O Domingo", edição de fevereiro de 1886, o soneto "Virgem Mártir", dedicado a Raimundo Corrêa, autor do soneto antológico "As Pombas", que imortalizou o verso - "Raia sanguínea e fresca a madrugada". Escreveu Jorge, tão cedo arrebatado da vida: 
 
Naquela enxerga fria e abandonada 
O seu último sonho - ei-la dormindo; 
Pálida virgem, órfã, desgraçada, 
Que vivendo a sofrer - morreu sorrindo. 
 
Bela! Inda vê-se no semblante lindo 
Uns traços de beleza desbotada; 
— E a luz da mocidade, s'extinguindo, 
Beija-lhe ainda a fronte descorada... 
 
Moça, formosa e pura, não tivera 
Nem um raio de amor, loura quimera 
Que nos conforta, quando a dor consome...
 
Tímida, sempre às tentações fugia. 
Trabalhando — a cismar — cansou... e um dia 
Embora honrada, sucumbiu... de fome!
 
O poeta sanjoanense Modesto Antônio de Paiva em seu livro "Noites de Insônia", publicado em 1892, escreveu o poema "A Morte de Jorge Rodrigues", cujos versos finais transcrevemos: 
 
Ei-lo dormindo o sono derradeiro, 
À sombra dos ciprestes funerais! 
Findou-se para sempre o cancioneiro 
Dos festivos e alegres madrigais. 
 
Por isso a viração, que passa agora 
Tão tristemente geme no arvoredo!... 
E nunca mais o sabiá de outrora 
Veio cantar no bosque e no vargedo! 
 
Modesto também dedicou versos ao comendador Custódio de Almeida Magalhães que perdera uma filha. Daremos um trecho de "A Morte da Eponina": 
 
Deixem que durma tranqüila 
Sobre seu leito de argila 
O doce sono final! 
 
Pois quando um anjo adormece 
— Uma açucena floresce 
No jardim celestial! 
 
Machado de Assis escreveu soneto quando da morte da esposa Carolina, iniciado com o quarteto seguinte: 
 
Querida, ao pé do leito derradeiro 
Em que descansas dessa longa vida, 
Aqui venho e virei, pobre querida, 
Trazer-te o coração do companheiro. 
 
Também Álvares de Azevedo escreveu os seguintes versos tristes: 
 
Si eu morresse amanhã, viria ao menos 
Fechar meus olhos minha triste irmã; 
Minha mãe de saudades morreria, 
Si eu morresse amanhã! 
 
Completaremos nosso singelo trabalho com a transcrição do poema de Olavo Bilac 
 
"In Extremis": 
 
Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia 
Assim! de um sol assim! Tu, desgrenhada e fria, 
Fria! postos nos meus os teus olhos molhados, 
E apertando nos teus os meus dedos gelados... 
 
E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera 
Toda azul no esplendor do fim da primavera! 
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento. 
Ninhos cantando. Em flor a terra toda. O vento 
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo... 
 
E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto e este medo... 
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte, 
A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte... 
 
Eu, com o frio a crescer no coração, — tão cheio 
De ti, até no horror do derradeiro anseio! 
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente, 
A boca que beijava a tua boca ardente, 
 
A boca que foi tua! E eu morrendo! E eu morrendo 
Vendo-te o sol, e vendo o céu, e vendo 
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida, 
A delícia da vida, a delícia da vida!

 

II. AGRADECIMENTOS
 

À Acadêmica Profª Drª Ângela Maria Rodrigues Laguardia, membro efetivo da ABL-Academia Barbacenense de Letras, ocupante da Cadeira nº 1, patroneada pelo Padre-Mestre José Joaquim Correia de Almeida, o pronto envio do material constante do Anuário 1980 de nosso Sodalício, através de fotocópias, que me facilitaram enormemente o trabalho.
Agradeço carinhosamente à minha esposa Rute Pardini suas fotos bem como a sua edição e formatação para fins deste post.
 


 
III. BIBLIOGRAFIA


ACADEMIA BARBACENENSE DE LETRAS: Anuário 1982, 1982, 130 p.




sexta-feira, 2 de julho de 2021

DISCURSO DE POSSE DO ACADÊMICO SEBASTIÃO DE OLIVEIRA CINTRA NA ACADEMIA BARBACENENSE DE LETRAS

 
Discurso pronunciado no dia 12 de outubro de 1980, em magna sessão da Academia Barbacenense de Letras, pelo Acadêmico Sebastião de Oliveira Cintra 

 


(São João del-Rei - 1918-2003)

 
 

Sinto-me deveras feliz ao tomar posse nesta egrégia Casa da Cultura da Cidade das Rosas, na honrosa qualidade de sócio correspondente. 

A distinção da escolha dos nobres Confrades visou, acima de tudo, homenagear a minha terra natal, pois, mero cronologista de S. João del-Rei, jamais vislumbrei méritos literários em meus trabalhos. Engrandecido com o galardão da imortalidade acadêmica da Nobre e Muito Leal Cidade de Barbacena, coroamento intelectual na vida de despretensioso escriba interiorano, avultam as responsabilidades do amante deste importante Sodalício Cultural, que em apenas três anos de funcionamento comprovou extraordinária vitalidade, em profícuas realizações de que todos nos orgulhamos. 

Sobejam-me razões para querer bem à Barbacena e à Academia Barbacenense de Letras, afirmação que não se escuda em protocolares gestos de amabilidade. 

No exercício da Vice-Presidência da Academia de Letras de S. João del-Rei, da qual sou um dos fundadores, experimentei os mais agradáveis momentos da vida acadêmica quando cooperei com entusiasmo para que ingressassem na Arcádia do berço natal da poetisa Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira vultos da envergadura intelectual de um Prof. Plínio Tostes de Alvarenga, de um poeta de sublime inspiração como o Ten. Sidnei Cunha e de um destemido jornalista, justo orgulho desta comuna, como Marinho Luiz da Rocha. As três aquisições engrandecem sobremaneira a Academia de Letras de S. João del-Rei. 

Os sanjoanenses cultivamos a memória do poeta satírico Padre-Mestre José Joaquim Correia de Almeida, Patrono da Cadeira nº 1 da Academia Barbacenense de Letras, ilustrada pelo culto Acadêmico Prof. Plínio Tostes de Alvarenga. O Padre-Mestre, que encontrou glorificação em todo o Brasil e em Portugal, mercê de sua apreciável bagagem poética, vinculou-se a S. João del-Rei, tanto por seus troncos familiares, como pela afeição sempre demonstrada por tudo que se relacionava com a terra de seus avoengos. Manteve cordial amizade com o Padre-Musicista José Maria Xavier, uma das glórias da música sacra de Minas Gerais. A sanjoanense Dª Bárbara Marcelina, mãe do Pe. Correia, casou-se com o Adv. Fernando José de Almeida. Era filha do Sarg. Mor José Joaquim Correia, que faleceu em São João del-Rei, onde viveu mais de 60 anos, a 11 de maio de 1837, viúvo de Francisca Antônia de Paula, falecida em São João a 5 de outubro de 1791. Cavaleiro Professo na Ordem de Cristo, era filho de Antônio Francisco da Costa e de Izabel Maria de Jesus, nascido e batizado na Corte do Rio de Janeiro, na Freguesia da Candelária. Dª Jesuína Cândida de Paula, irmã de Bárbara, foi batizada a 4 de janeiro de 1789, na Matriz do Pilar, de São João del-Rei. Casou-se com João Pereira Pimentel, o último Cap. Mor da Vila de São João del-Rei. São pais do Prof. Aureliano Pereira Correia Pimentel, filólogo, poliglota, naturalista e Patrono da Cadeira nº 29 da Academia Mineira de Letras. Conquistou em concurso público a cátedra de Português do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. O Prof. Pimentel era parente do Padre-Mestre José Joaquim Correia de Almeida. 

As mais simpáticas coincidências irmanam as duas cidades vizinhas. 

O bisavô do Prof. Plínio Tostes de Alvarenga, o Major Francisco José de Alvarenga, líder inconteste da Revolução Liberal de 1842, atuou na vida política, social e econômica de São João del-Rei, onde se casou com Elisa Leopoldina Pinto de Almeida, falecida a 24 de março de 1886. Dos filhos do casal citamos o ilustre Prof. Guilherme Guilhobaldo de Almeida Alvarenga, sanjoanense nato, musicista e compositor, nascido a 30 de março de 1846, avô do nosso querido Presidente Prof. Plínio Tostes de Alvarenga. 

Enviei documentação ao confrade do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Dr. Henrique Furtado Portugal, comprovando que o Côn. Francisco Fabiano de Assis Caixeta, que paroquiou Rio Preto de 1872 a 1899, nascido e batizado em Barbacena, em 1837, foi republicano histórico, tendo colaborado na imprensa de São João del-Rei. 

Barbacena e S. João del-Rei palmilharam os mesmos caminhos no curso da História do Brasil. Nas dramáticas peripécias da Inconfidência Mineira, na Revolução Liberal de 1842, nas lutas pela manutenção da Independência, nos movimentos abolicionistas e republicanos, as duas cidades, pelo patriotismo de seus filhos, comungaram nos mais nobres ideais.

Em cima: Padre-Mestre José Joaquim Correia de Almeida / Em baixo: Emblema da ABL "Finis coronat opus" = O fim coroa a obra
  
 

O emblema da Academia Barbacenense de Letras presta homenagem a um filho de São João del-Rei, simbolizado pelo braço erguido do imortal mineiro massacrado pelos tiranos que infelicitavam o Brasil. A escolha evidencia os propósitos norteadores dos ilustres membros da Casa da Cultura de Barbacena, cristalizados em incoercível vocação de engrandecer-se sempre, na predestinação histórica de participação, ativa e altiva, nos fundamentais acontecimentos da nacionalidade. 

O Alferes Tiradentes resplandeceu-se na História de Barbacena, revelando sangue frio, probidade e coragem na perseguição aos salteadores que, por volta de 1783, infestavam o Caminho Novo, no Alto da Serra, roubando e chacinando os habitantes da região e os viajantes. Quando o Cel. José Ayres Gomes, mais tarde inconfidente que pagaria com o desterro seu amor à Liberdade Pátria, recebeu, por parte de Dom Rodrigo José de Menezes, Governador da Capitania, a arriscada missão de desbaratar a terrível horda de malfeitores, Joaquim José da Silva Xavier foi o auxiliar valente e dedicado que o proprietário da Histórica Fazenda da Borda do Campo encontrou para dar cabal desempenho às ordens recebidas. 

Tiradentes, filho de São João del-Rei, Patrono Cívico da Nação, contribuiu para que a tranquilidade voltasse a imperar nas imediações desta localidade, o que, independentemente de sua preponderância na Inconfidência Mineira, projeta seu nome nas páginas históricas da Nobre e Muito Leal Cidade de Barbacena. 

Vencidos os chacinadores do Caminho Novo, o antigo arraial, situado em posição geográfica que lhe favorecia as comunicações com os maiores centros comerciais daquela época, progrediu com rapidez, o que lhe valeu, por ato do Visconde de Barbacena, de triste memória nos anais da Conjuração Mineira, em 1791, a sua elevação à categoria de Vila. No dia 14 de setembro de 1791 a Câmara da Vila de Barbacena enviou carta à Câmara de São João del-Rei, na qual declara: "O novo Senado respeitará sempre a antiga Câmara de São João del-Rei". Esclarece, ainda, o documento: "Tal é a confiança devida a esse nobre Senado que nós ousamos, ainda, conferir com vossas mercês a arrecadação do Subsídio Literário, e outros quaisquer Direitos que a fidelidade de vassalos obriga a zelar reciprocamente". Assinaram a carta os seguintes membros do Senado da Câmara de Barbacena: José de Souza Barreto, Domingos Antônio de Azevedo, Domingos Dias Pereira e Joaquim Rodrigues de Araújo. Em 1827 a Câmara de São João del-Rei mandou celebrar solenes exéquias pelo falecimento da Imperatriz Leopoldina, tendo convidado para proferir a oração fúnebre o Revmo. Padre Antônio Marques de Sampaio, vigário da Freguesia de Barbacena. 

Barbacena e São João figuraram, nobre e gloriosamente, na arrancada pela libertação da Pátria, identificando-se, mais uma vez, com elevados sentimentos; entrelaçaram, aqui e lá, anseios de sacudir o jugo lusitano que espoliava e humilhava nosso povo. 

Barbacenenses, ou nascidos nas imediações de Barbacena, foram Dr. Domingos Vidal Barbosa Lage, Cel. Francisco Antônio de Oliveira Lopes, Pe. José Lopes de Oliveira, Cel. José Ayres Gomes e Pe. Manoel Rodrigues Costa, Inconfidentes que sofreram duras condenações, pelo crime de lutarem por um Brasil próspero e soberano. 

No Movimento Liberal de 1842 agigantaram-se as acendradas virtudes cívicas dos habitantes desta encantadora Barbacena. A gloriosa jornada de um pugilo de bravos invade minha alma de acentuada empolgação patriótica, quando se recorda que levanto minha voz neste Palácio da Revolução Liberal, relicário de tradições de bravura e desprendimento do povo barbacenense. 

Ao agradecer ao Confrade Ten. Sidnei Cunha as cativantes palavras com que se referiu à minha pessoa, repassadas de exagerados encômios, fruto de sua incomensurável bondade, faço minhas as expressões do saudoso mestre da antiga Faculdade Nacional de Medicina, Prof. Raul David de Sanson, próprias para quem ostenta na cabeça a floração dos cabelos brancos: 

A melhor recompensa é aquela que suaviza o fim da jornada e permanece em nosso coração”. 

Obrigado, amigos! Obrigado, Barbacena!

 

II. AGRADECIMENTOS
 

À Acadêmica Profª Drª Ângela Maria Rodrigues Laguardia, membro efetivo da ABL-Academia Barbacenense de Letras, ocupante da Cadeira nº 1, patroneada pelo Padre-Mestre José Joaquim Correia de Almeida, o pronto envio do material constante do Anuário 1980 de nosso Sodalício, através de fotocópias, que me facilitaram enormemente o trabalho.
Agradeço carinhosamente à minha esposa Rute Pardini suas fotos bem como a sua edição e formatação para fins deste post.
 

 


III. BIBLIOGRAFIA


ACADEMIA BARBACENENSE DE LETRAS: Anuário 1980, 1980, p. 59-62.